Terça-feira, 13 de Março de 2018

AO CUIDADO DOS PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA E DOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO

 

Se os professores se unissem contra o AO90, como se unem por outros motivos, não estaríamos a viver esta tragédia linguística, que está a afectar os alunos portugueses, obrigados a aprender a grafia brasileira e a rejeitar a grafia portuguesa.

 

GRAMÁTICA.png

 

Texto de Luís Filipe Pimentel Costa

 

«Não haveria ditadores se não tivessem quem os siga.

 

O principal responsável é o homem bom e cumpridor das legalidades que denuncia o vizinho, levando a que seja torturado e eventualmente morto.

 

Os principais responsáveis são os soldados que vêem buscar o vizinho denunciado pelo delator.

 

O principal responsável é o sargento que interroga o vizinho denunciado.

 

O principal responsável é o cabo que tortura o vizinho denunciado, "apenas" cumprindo ordens.

 

São mais responsáveis que os generais sentados nas suas poltronas, apenas a cagar ordens.

 

Estes generais só são mais responsáveis que o ditador que, do alto do seu púlpito dança sobre a cabeça dos generais, sem os quais se despenharia e seria encerrado num manicómio.

 

Responsáveis são os professores que se dizem contra o acordo ortográfico e todos os dias violentam os alunos, ensinando-os e obrigando-os a escrever errado.

 

Imagine-se todos estes professores ... dezenas? centenas? dezenas de centenas? Imagine-se todos estes professores a recusarem-se a violentar os alunos na sua cidadania. Imagine-se TODOS estes professores a formarem uma associação que se manifestasse nos meios de comunicação social, que se manifestasse no ministério que deveria ser da Educação.

 

Terão os seus porquês, as suas justificações, mas o facto é que são responsáveis, dos principais responsáveis pela manutenção e propagação do porcalhês que segue o acordo ortográfico de 1990.

 

Como os professores, também os encarregados de educação que se dizem contra o acordo ortográfico de 1990. Imagine-se todos estes encarregados de educação, TODOS, a recusarem que os seus educandos sejam violentados na sua cidadania e obrigados a escrever errado. Imagine-se TODOS estes encarregados de educação a OBRIGAREM, a EXIGIREM que os seus educandos, não sendo, como não são funcionários públicos, não sejam violentados na sua cidadania e OBRIGADOS a escrever ERRADO.

 

Mais me preocupa o silêncio dos bons que voltam a cabeça para o lado, do que as atrocidades dos maus.

 

O importante é reconhecermos os nossos erros. O importante é, reconhecendo os nossos erros, dispormo-nos e esforçarmo-nos a não os repetir. Importante também é transmitirmos aos outros o conhecimento dos nossos erros, numa tentativa de que os outros os não façam.

 

Afinal de contas, todos nós somos humanos, e como tal erramos. Se não errássemos seriamos deuses.

 

Para mim o importante é falar/escrever o que penso, como vejo as questões, sem procurar seguidores, sem procurar gostos, nas minhas publicações e nos meus comentários.

 

Luís Filipe Pimentel Costa»

 

Fonte:

https://www.facebook.com/groups/escritoressemacordo/permalink/1248011418654576/

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:24

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar

QUE AO MENOS O INÚTIL AO90 SIRVA PARA A CHACOTA!

 

É que com a “fome” que a ignorância provoca, aumenta o apetite por consoantes   absolutamente necessárias, para que os vocábulos tenham sentido...

 

Os “obesos” acordistas andam por aí…

 

AO1.JPG

AOBESIDADE.JPG

 

 

tags:
publicado por Isabel A. Ferreira às 11:28

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Segunda-feira, 12 de Março de 2018

Nem em acordês, nem em brasileiro, nem em Português…

 

Que vergonha!

 

Tudo o que é demais é moléstia.

E o que está a passar-se  em Portugal com a Língua Oficial, a PORTUGUESA, e mais nenhuma, é um atentado ao bom senso, ao senso comum, à lucidez e à inteligência dos portugueses.

Portugal está no caminho do retrocesso. A olhos vistos.

Aparoladamente.

 

E se não existe a palavra aparoladamente, inventei-a eu, mas não a mutilei.

 

 

UNIVERSIDADE.png

 

Fonte da imagem:

https://www.facebook.com/TradutoresContraAO90/photos/a.212426635525679.35361.199515723483437/1441552279279769/?type=3&theater&ifg=1

ANGOLA.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:11

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar

«SURDOS DOS OLHOS, CEGOS DOS OUVIDOS»

 

Faz bem à alma ler textos escritos com lucidez e num Português escorreito.

Obrigada, Nuno Pacheco.

Possam eles, os governantes e seus acólitos, entendê-los (aos textos)…

 

NUNO.jpg

Nuno Pacheco

 

Chamaram ao livro O Nervo Ótico. Ou seja: a senhora vê com os olhos mas regista o que vê com um “nervo” auditivo.

 

 A escritora argentina María Gaínza (nascida em Buenos Aires, em 1975) estreou-se na novela com uma obra a que deu o nome de El Nervio Óptico. O livro, lançado em 2014, não teve ainda edição no Brasil; mas, se a tivesse, chamar-se-ia O Nervo Óptico. Editado em Portugal, pela D. Quixote, puseram na capa a fotografia de uma sala de museu com uma senhora a olhar para uma parede com quadros e este título em letras garrafais: O Nervo Ótico. Ou seja: a senhora vê com os olhos mas, pelo título, regista o que vê com um “nervo” auditivo. Consulte-se o dicionário Priberam brasileiro, numa edição recente, e o que lá vem é isto: “ótico adj. 1. Relativo ou pertencente ao ouvido. 2. Diz-se do medicamento que se emprega contra doenças do ouvido.” Nenhuma dúvida. E com P? “óptico [ót] adj. 1. Relativo à óptica ou à visão. = OCULAR, VISUAL (…).” [Portugal] Grafia de ótico antes do Acordo Ortográfico de 1990.” Para os brasileiros parece não haver aqui dúvidas quanto à escrita ou quanto à fala. Repare-se que escrevem “óptico” e, à frente, indicam que se deve ler “ót”, “ótico”, não “ópt”, “óptico”. Ora, se bem se lembram, um dos mais fortes argumentos para banir as ditas “consoantes mudas” em Portugal era que não se liam; e “o que não se lê não se escreve.” Verdade? Mentira. O “óptico” brasileiro prova-o de forma categórica: não lêem o P mas escrevem-no. Porque entendem que não se pode ser surdo dos olhos e cego dos ouvidos.

 

Ou pode? Em Portugal pode. Com o acordo ortográfico (AO), a palavra é a mesma, ouvidos e olhos tudo misturado, numa lamentável miscelânea pós-cubista que nada deve à arte. “Óptico” ou “ótico”? Vai-se aos vocabulários oficiais do acordismo (os do IILP) e lá está: nos vocabulários nacionais de Portugal, Cabo Verde, Timor-Leste e Moçambique (até neste, que nem ratificou o AO), ao inserirmos a palavra “óptica” recebemos por resposta: “A forma óptica não se encontra atestada neste vocabulário”. Mas está no do Brasil; neste e no chamado “vocabulário comum”, que mistura tudo sem critério só para fingir que há unificação na escrita.

 

 

Há alguma vantagem neste inominável disparate, que ainda por cima foi inventado aqui, para consumo interno e para imposição colonial a terceiros pelas áfricas e orientes? Nenhuma vantagem. Um exemplo: os ingleses pronunciam “no” e “know” da mesma exacta maneira, tal como “night” e “knight”, ou “right” e “wright”. Imaginam alguém a sugerir que tais palavras passem a ser escritas da mesma forma porque têm o mesmíssimo som? Não, loucos desses só existem por cá. O que se passa com “óptico” e “ótico”, ou “acto” e “ato” é similar: lêem-se da mesma maneira mas são palavras diferentes, com raízes diferentes e sentidos diferentes. Custa muito entender coisa tão simples?

 

Hoje é Dia da Mulher e provavelmente esta crónica devia falar de outras coisas. Mas já que o livro aqui citado (devido ao assassinato do seu título) foi escrito por uma mulher, juntemos-lhe textos recentes de duas escritoras, ambos a propósito. No Expresso de 3 de Março, numa crónica intitulada “Ninguém para o AO (lê-se à vontade do freguês)”, escreveu Ana Cristina Leonardo: “Continuamos a não conseguir distinguir ‘óptica’ (vista) de ‘ótica’ (audição), palavras que se tornaram homónimas em nome da uniformização da língua, mas só em Portugal, já que no Brasil a distinção se mantém e também em nome da uniformização da língua. Confused?” Não, que ideia, é tudo claro como água! No dia anterior, 2 de Março, já Alexandra Lucas Coelho escrevera, no Sapo24, um texto revoltado e notável, intitulado “Este país partido ao meio pela própria língua. Um pequeno excerto: “Supostamente este acordo era para aproximar os países de língua portuguesa. Mas o que separa os países de língua portuguesa são muitas outras coisas, muitas delas de facto políticas, muitas delas de facto incómodas, muitas delas de facto sistematicamente ignoradas, ou menosprezadas, enquanto um acordo totalmente desnecessário, supostamente a bem da lusofonia, nos mói o juízo há 28 anos.”

 

Diz-se que água mole em pedra dura… O resto já sabem. Mas não há água, mole ou dura, que lave tais misérias e nos deixe definitivamente em paz. Só mesmo uma enorme vaga, temível como as da Nazaré, será capaz de arredar tanto disparate do nosso quotidiano, deixando a língua viver e respirar como lhe compete. Tardará muito? Talvez não.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:35

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Domingo, 11 de Março de 2018

Um livro cuja leitura recomendamos aos governantes e aos "outros", urgentemente...

 

Este livro foi publicado em 2016, e nele está tudo o que há a saber sobre a ilegalidade da aplicação deste “acordo”, nomeadamente nas Escolas Portuguesas, onde o drama maior se desenrola, pois obriga-se as crianças e jovens a descartar a própria Língua Materna e a grafar as palavras segundo a cartilha brasileira, induzindo-as em erro, quando a função do Ensino é dar ao Futuro um Futuro assente na verdade e não na mentira.

 

AO90.png

 

Apesar de o livro estar para a Língua Portuguesa como a Bíblia, a Tora e o Corão estão para os Cristãos, Judeus e Muçulmanos, os governantes portugueses, incluindo o presidente da República, ignoraram-no pura e simplesmente, como se ignorou os pareceres desfavoráveis ao AO90 de 25 dos 27 membros da Academia das Ciências de Lisboa.

 

E isto é algo completamente irracional. Inconcebível. Inacreditável, num país que se diz democrático.

 

Não temos nada contra quem opta pela ignorância, desde que essa ignorância não prejudique a Nação.

 

Ora existem N provas de que a esmagadora maioria dos portugueses, incluindo os seus mais insignes intelectuais, se opõem a este “acordo”, não porque sejam velhos do Restelo, como os acordistas tanto gostam de atirar à cara, como se pessoas de trinta ou menos anos fossem “velhos”, ou porque são contrários a mudanças, e atiram com a oposição de Fernando Pessoa à reforma ortográfica de 1945, e com o PH de pharmácia, mas F de Fernando, como se isso constituísse argumentos válidos para a aplicação de um “acordo” não assente nas Ciências da Linguagem, como foi o de 1945, e já tinha sido o de 1911, mas por vontade de uns vendidos à ignorância e mais algumas coisinhas impróprias de gente honesta…

 

A esmagadora maioria dos Portugueses opõe-se a este “acordo” por ele ser uma fraude, por ele ser ilegal, por ele ser inútil, por ser inviável, por ele ser péssimo, por ele ser idiota, por ele estar eivado de um desconhecimento profundo da Língua, e por estar a tentar impor-nos a grafia brasileira com uma intenção obscura.

 

Se o AO90 fosse bom, se sugerisse evolução não estaríamos, há tantos anos, a combatê-lo.

 

Seria irracional atirar ao lixo algo bom, útil e viável… CorreCto?

 

Mas o senhor Embaixador Carlos Fernandes explica de um modo politicamente, juridicamente e linguisticamente correcto o motivo pelo qual os governantes portugueses devem atirar ao lixo este ilegal, inútil, inviável e idiota acordo ortográfico.

 

Até porque, e segundo o senhor Embaixador:

 

«O Governo de Sócrates, com, na minha opinião, uma inepta e anfibológica ministra da Cultura, exibindo um voluntarioso e completo desrespeito pela legalidade, no propósito de, sem se perceber porquê, pôr urgentemente em vigor o mau texto acordado em 1990, levou à prática de uma série de ilegalidades lesivas da nossa ortografia, que, como a língua é do Povo, e não dele, do Presidente da República, ou de qualquer outro político, mais ou menos duradouro ou mais ou menos culto, envergonham qualquer pessoa de bom senso, e respeitadora do Estado de Direito, como teoricamente é o nosso».

 

E não pense o senhor presidente da República Portuguesa, que tem mantido um vergonhoso e esclarecedor silêncio sobre esta matéria, que sairá politicamente ileso desta tentativa de destruição da identidade linguística de Portugal.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:46

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar

«Língua de Papel»

 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 848 (Cabo Verde) de 28 de Fevereiro de 2018

 

https://expressodasilhas.cv/opiniao/2018/03/06/lingua-de-papel/56891

 

Os Crioulos de Cabo Verde mostram-se cada vez mais vigorosos, procurando o seu "espaço" - artigo de Eurídice Monteiro, no qual esta investigadora e docente universitária cabo-verdiana aborda os Crioulos de Cabo Verde, num texto escrito em Língua Portuguesa.

 

Recorde-se que o Crioulo Cabo-verdiano passou para "língua primeira" no sistema de ensino, relegando a Língua Portuguesa para "língua segunda", ou seja para "língua estrangeira". No que fizeram muito bem.

 

Enche-nos a alma ler um texto num Português escorreito.

 

EURIDICE.jpg

 

Por Eurídice Monteiro

​ ​

6 Mar 2018

 

«Para a valorização do multilinguismo e da diversidade linguística e cultural dos povos, assistimos à comemoração, a 21 de Fevereiro, do Dia Internacional das Línguas Maternas, por expediente da UNESCO e com o apadrinhamento das Nações Unidas.

 

Não é segredo que, particularmente no mundo moderno ocidental, desde o longínquo século dezasseis e em especial com a intensificação dos processos de   globalização cultural, política, financeira e económica em curso, as línguas do poder e do saber científico têm estado relacionadas com a expansão imperial. É por esta razão que, nas emergentes sociedades crioulas, como a nossa, fruto do colonialismo europeu no além-mar e com pouco mais de quinhentos anos de história, a situação linguística caracteriza-se, ainda nos dias da actualidade, pela coexistência hierarquizada entre uma língua europeia oficial e uma língua local (ou várias línguas locais).   

 

É ainda mais profundo esse fosso quando se vislumbra que as línguas coloniais, consideradas – desde a revolução científica de Copérnico, Galileu e Newton – como línguas científicas e veículo do saber moderno, continuam a ser adoptadas como veículo, por excelência, de difusão da literacia. Daí o carácter subalterno que muitas línguas maternas ainda detêm, por as línguas coloniais e o sentido colonial do poder as terem relegado a um estatuto ideológico inferior. Constata-se que um dos fenómenos que tem permitido a perpetuação desta situação de subalternidade das línguas maternas é talvez a inexistência de escrita e a acentuada força da oralidade, fenómenos que são descartados do quadro de legitimação de conhecimento da modernidade ocidental.

 

Tomando, em parte, estas asserções podemos entender melhor o que tem acontecido com as duas línguas em Cabo Verde. Proliferam-se, hoje, estudos sociais, culturais e linguísticos em torno do crioulo cabo-verdiano ou da língua caboverdiana, destacando-se, pelo menos desde princípios do século vinte ao início do terceiro milénio, a contribuição de uma multiplicidade de renomados estudiosos nacionais e estrangeiros (Adolpho Coelho, António de Paula Brito, Baltasar Lopes da Silva, Dulce Almada Duarte, Armando Napoleão Rodrigues Fernandes, Donaldo Macedo, Deirdre Meintel, António Carreira, Dulce Fanha Pereira, Manuel Veiga, Nicolas Quint, Jürgen Lang, Marlyse Baptista, Itzel Salas Barrena, Adelaide Monteiro, Dominika Swolkien, entre outros mais ou menos conhecidos).

 

Admite-se que, não obstante as excepções, a língua cabo-verdiana tem sido confinada ao domínio do privado, tratada como uma língua materna, de comunicação na família, da oralidade, das situações informais de comunicação e, já agora, da comunicação instantânea nas redes sociais; ao passo que a língua portuguesa – que, contrariamente à primeira, é uma língua estandardizada de há séculos – tem sido remetida para o domínio público, sendo a língua oficial e do ensino formal, da escrita, dos meios de comunicação social, das relações internacionais e das demais situações formais de comunicação. Tornou-se uma verdade corriqueira reconhecer que a língua cabo-verdiana é, por excelência, uma língua da oralidade, enquanto a escrita se afigura quase restrita à língua portuguesa.

 

A distribuição do espaço destinado a cada uma revela a interiorização das dicotomias impostas pelo discurso colonial. Por outras palavras, apesar do uso informal (oral) da língua cabo-verdiana tenha sido sempre indexado, antes e depois da independência,  um forte sentido de solidariedade identitária e, em certos contextos, de resistência cultural em Cabo Verde e na diáspora, este uso é menos valorizado ou inclusive indesejado nos contextos públicos, mormente na administração, na educação, na comunicação social e nas relações externas.

 

Kwame Appiah não ignora a persistência do estatuto oficial das línguas coloniais nos territórios africanos outrora colonizados pelos países europeus, chamando a atenção para o facto dessas línguas europeias, portanto estrangeiras, cujo domínio antes havia marcado uma elite colonial, tenham-se transformado em marcas de status nas sociedades ex-colonizadas, preciosas demais para serem abandonadas pela classe que doravante herdou o Estado colonial. Isto é tanto mais sintomático na concepção de MyersScotton, que chega a identificar o que designa por elite closure, ou seja, retrata a estratégia de demarcação do acesso a uma elite, pela via da fluência da eurofonia (língua oficial). Na mesma linha, Étienne Balibar refere que “L’héritage du colonialisme est en réalité une combinaison fluctuante d’extériorisation continuée et d’exclusion intérieure.”(***) Em boa medida, isto ajuda a compreender as disparidades no investimento e na valorização das línguas.

 

Em Cabo Verde, ao contrário do que aconteceu com muitas línguas em outros contextos de enfrentamento, que foram completamente assimiladas por línguas socialmente dominantes ou deixarem de ter falantes, a língua materna resistiu. Constata-se que, cada vez que uma língua se extingue, desaparece com ela a memória cultural do grupo a que pertencia, de maneira que a afirmação das línguas locais, em certa medida, constitui um instrumento fundamental para a valorização dos conhecimentos do povo que a pratica. Posto isso, e se é verdade que a afirmação da língua cabo-verdiana potencializa a revitalização dos saberes catalogados como tradicionais, não é menos verdade que tais saberes deram também grandes impulsos para que a língua cabo-verdiana, para além de ter resistido, reclame um novo estatuto, o de língua oficial, em paridade com a língua portuguesa. Ou seja, o seu reconhecimento nas situações formais de comunicação e o seu desenvolvimento na comunicação escrita, até torná-la, quem sabe talvez um dia, também uma língua de papel, o que ela ainda não é.»

 

(***) «O legado do colonialismo é realmente uma combinação flutuante de exteriorização contínua e de exclusão interna.»

EM PORTUGAL.png

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:05

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Sábado, 10 de Março de 2018

É urgente não emudecer o afe(C)to português!

 

Nenhuma outra língua tem tão profunda leveza como a Língua Portuguesa.

 

Não permitiremos que a destruam por mera ignorância…

 

Deliciem-se com este belíssimo poema…primorosamente escrito na nossa bela língua.

 

28235578_1529833110398811_5096170732236274112_o[1]

 

Inês Lourenço

citada por António Barahona

in RASPAR O FUNDO DA GAVETA E ENFUNAR UMA GÁVEA, com capa de Luís Henriques, Lisboa, Averno, 2011

 

Fonte:

https://www.facebook.com/149524458429690/photos/a.149549668427169.26345.149524458429690/1529833110398811/?type=3&theater

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:07

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Sexta-feira, 9 de Março de 2018

Vamos lá a ver se os acordistas entendem esta explicação que se daria a um aluno da escola básica

 

PENSAR.png

 

Na palavra pré-1945, chronographo, que pós-1945 se grafa cronógrafo (pessoa que escreve crónicas) o que mudou? Mudou apenas a grafia, com a supressão do H (que não fez falta alguma) a substituição do PH pelo F (som e letra existente no alafabeto latino/português) e a acentuação da sílaba tónica, sem, contudo, modificar a pronúncia e o significado da palavra.

 

Exemplo:

 

Na palavra coacção (acção ou resultado de coagir) que os brasileiros e agora os portugueses seguidistas, ou seja, aqueles que seguem ou são defensores incondicionais de uma ideia ou teoria, sem nunca se questionarem ou fazerem juízos de valor, escrevem “coação”, o que mudou?

 

Mudou tudo: a grafia, a pronúncia e o significado.

 

Grafia: eliminou-se o que, embora não se pronuncie, tem uma função diacrítica, ou seja, tem a função de um sinal gráfico (acentos, til, cedilha).

 

Pronúncia: neste caso o Cê, que não se pronuncia, tem a função de um acento agudo, e abre o A “cuáção”. Ora, se lhe retiramos o , a palavra “coação” passa a ler-se “cuâção”, se quisermos ser gramaticalmente honestos.

 

Significado: logo, a supressão do leva-nos para a palavra coação (cuâção) que significa acção ou resultado de coar, de filtrar um líquido ou um qualquer preparado, um qualquer produto obtido de uma manipulação química ou farmacêutica, ou mesmo uma filtragem linguística.

 

Exemplo: «Malaca Casteleiro, andou a fazer uma coação à Língua Portuguesa, e impingiu aos Portugueses o resultado dessa coação, ou seja, palavras coadas, numa grafia despida de sentido real e de estética (porque as palavras não são apenas som, são também imagem), deixando no coador as consoantes, que até podem não ser pronunciadas, mas não são mudas, porque falam da Morfologia das Palavras, ou seja, da parte da Gramática que trata da forma e dos processos de formação das palavras.»

 

E esta coação, este acto de coar as palavras do léxico português,  é algo que me intriga no Malaca Casteleiro. E das duas uma: ou ele, apesar de se dizer linguista, não é linguista (teria tirado o curso à Relvas?), ou andou mel a pingar no charco…

 

Nota: a explicação dada para a palavra coacção serve para todas as outras palavras "coadas" pelo AO90, ou seja, as palavras às quais foram suprimidas as consoantes não pronunciadas, mas com função diacrítica, mudando a grafia, a pronúncia e o significado delas.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:52

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Quinta-feira, 8 de Março de 2018

Pérolas linguísticas nos canais de televisão

 

E nem tudo tem a ver com o caos gerado pelo AO90, mas com uma descomunal falta de Saber…

 

RTP, o grupo chama-se "Peste & Sida"...

 

E como estamos em Portugal, secção é seCção, até porque se lê o ; e como ainda continuamos em Portugal, arquitecto é arquiteCto, apesar de não se ler o . Porquê? Porque em Portugal a palavra arquiteto (ârquitêtu) leva-nos para umas grandes tetas, no masculino, até porque no Dicionário Infopédia, teto (têtu) é um sinónimo de teta: mama; órgão mamário das fêmeas de alguns mamíferos; úbere; teto (têtu) Podem ir lá consultar.

 

No Brasil, sim, escreve-se seção e arquiteto - lê-se s’ção e arquitêto - de acordo com as regras gramaticais da Língua Portuguesa.

 

PESTICIDA.png

Fonte da imagem:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210320908612428&set=gm.2079639865613851&type=3&theater&ifg=1

 

RTP.png

 ***

E na TVI o “desiquilíbrio” é total.

 

É que nem em Português, nem em Inglês se acerta…

O que será merchandisin? Uma gralha? Ou isto será aplicação do papa-letras AO90, em vocábulos ingleses?

 

TVI-1.png

Fonte da imagem:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10155498349488333&set=g.1658684367709405&type=1&theater&ifg=1

 

TVI -2.png

Fonte da imagem:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10155498349488333&set=gm.2079621838948987&type=3&theater&ifg=1

 

***

Bem… A SIC não pode dizer que chamar primeiro-ministro ao presidente da República foi gralha... Por que não foi.

 

Isto é uma imperdoável falta de tudo: de atenção, de conhecimento, de profissionalismo, uma autêntica balda…

 

MARCELO MINISTRO.png

Fonte da imagem:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10212870085082219&set=g.1658684367709405&type=1&theater&ifg=1

 

E esta?

O teclado falhou? Quem estava a escrever estaria com os copos?

Isto é inadmissível num órgão de informação.

 

SICNOTICIAS.png

Fonte da imagem:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10156319636239880&set=g.1658684367709405&type=1&theater&ifg=1

 

***

E na CMTV, que também aderiu à ortografia brasileira, aquele “projêto” que prevê que oscônjugues” … em que tempo verbal? 

 

CONJUGUES.jpg

Fonte da imagem

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1582971198404733&set=g.1658684367709405&type=1&theater&ifg=1

 

***

E não só de brasileirices os nossos canais estão cheios, mas também de um desconhecimento (ou será desleixo?) da Gramática.

 

CMTV.png

Fonte da imagem:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10155394852153472&set=g.1658684367709405&type=1&theater&ifg=1

 

***

Isto é uma pequeníssima amostra do que vai por aí...

 

Estas situações são imperdoáveis e inadmissíveis em qualquer circunstância, mas muito menos em canais de televisão, os maiores difusores da cultura ou da incultura, conforme o caso.

 

Nos tempos que correm, a difusão está mais para a incultura linguística, uma autêntica calamidade, no nosso país.

 

Todos os órgãos de comunicação, já contactados a este respeito da vergonhosa aplicação do AO90, dizem-nos isto, à laia de treta de cassete: o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) foi tornado oficial em 2010 e obrigatório em todos os organismos do Estado.

 

Por conseguinte, devemos concluir então que todos os jornais, revistas e canais de televisão que adotaram (âdutáram) a ortografia brasileira são organismos do Estado. Certo? Ou devemos dizer lacaios do Estado?  

 

Só os organismos do Estado, em princípio, deveriam seguir, apenas por obediência cega e acrítica ao Poder, esse tal VOP, mais VOB (Vocabulário Ortográfico do Brasileiro) do que VOP, porque não existe lei alguma que os obrigue (e muitos são os que desobedeceram) a escrever à moda brasileira.

 

Isto foi o que sempre desconfiámos: os órgãos de comunicação social são manipulados pelo Estado. Mas são os próprios que confirmam ser organismos do Estado…  Ou não?

 

Haja ao menos profissionalismo e brio profissional.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:04

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Quarta-feira, 7 de Março de 2018

Recessão da Língua Portuguesa só em Portugal

 

Facto: o AO90 em vez de unificar, desunificou. Em vez de simplificar, complicou. Em vez de dizer ao que vem, diz ao que vai...

E andamos nisto.

 

Ninguém se entende, e a Língua Portuguesa transformou-se no patoá do gentio, sendo que o gentio é o grupo restrito de quem acha que uma resolução do conselho de ministros tem valor de lei.

 

Os acordistas engoliram uma cassete, e por mais que lhes mostremos, por A+B, a monumental ignorância deles, no que ao AO90 diz respeito, não querem saber disso para nada, porque a treta da cassete cristalizou-lhes cérebro.

 

Fincam o pé na recessão e chamam-lhe evolução.

 

Veja-se esta pérola da estupidez que circula na Internet, com o aval do governo português…

 

 

RECEPCAO.png

 

Origem da imagem:

https://www.facebook.com/TradutoresContraAO90/photos/a.212426635525679.35361.199515723483437/890547341046935/?type=3&theater#

 

Se procura “receção” (português europeu) o lugar onde se recebem pessoas, veja recePção (português brasileiro).

 

Receção” português europeu?? Português europeu??

 

RecePção? Português brasileiro?? Português brasileiro??

 

Mas é que nem aqui, nem na China, nem na Cochinchina… nem sequer no Brasil...

 

Isto é um insulto à Língua Portuguesa. Aos Portugueses. A Portugal. Ao Latim. Às línguas latinas, indo-europeias, uma grande família linguística à qual a Língua Portuguesa pertence, enfim, isto é do domínio da decadência cultural e da inversão dos papéis históricos, representados por Portugal e Brasil.

 

E não vamos permitir que isto ande por aí a circular como se fosse verdade. Porque não é.

 

A palavra “receção” significa o mesmo que "anacreto", ou seja, não significa absolutamente nada. É um monstrinho ortográfico fabricado pela ignorância entranhada nos “fabricantes” do AO90. “Receção” e “anacreto” são dois amontoados de letras que se juntaram num casamento que não deu certo, por incompatibilidade de modos e feitios.

 

A palavra RECEPÇÃO pertence ao léxico da Língua Portuguesa, culta e europeia. Ponto. Do latim recepcio, e isto nada tem a ver com o Brasil. Absolutamente nada.

 

O que se passa é que no Brasil pronunciava-se o P, em percePção, aquando da apresentação do Formulário Ortográfico de 1943, sendo este um conjunto de instruções estabelecido pela Academia Brasileira de Letras para a organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa do mesmo ano. É este documento, com as alterações introduzidas pela Lei (não por uma resolução de ministros) 5.765 de 18 de Dezembro de 1971, que regula a grafia do Português no Brasil, tendo sido incorporado pelo Acordo Ortográfico de 1990, e modificado apenas em alguma acentuação e hifenização. Este incorporado são os Brasileiros que dizem. Não sou eu. (Ver Wikipédia).

 

A Base IV deste Formulário diz o seguinte: consoantes mudas: extinção completa de quaisquer consoantes que não se proferissem, ressalvadas as palavras que tivessem variantes com letras pronunciadas ou não. (?)

 

Ora acontece que nas palavras percePção e recePção e restantes vocábulos desta família, e em aspeCto, espeCtador e em algumas mais, as consoantes e pronunciavam-se, logo, safaram-se da extinção completa.

 

Em mais nenhum país lusófono se escreve “receção” e muito menos “recessão” por RECEPÇÃO. Em nenhum, excePto em Portugal, a caminho de ser o menos lusófono dos oito países ainda ditos lusófonos.

 

(Um aparte: sendo a lusofonia um resquício do tempo colonial, não se entende como o Brasil, que tanta aversão tem à colonização portuguesa, algo bastamente comprovado, permite encaixar-se nesta designação).

 

O seguidismo deste modismo, ou seja, deste idiotismo de linguagem, por parte dos portuguesinhos é insultuoso e não abona nada a favor de Portugal. E isto com o aval do incompetente governo português, que não defende a Língua Oficial de Portugal - a Língua Portuguesa, na sua versão culta e europeia - ao contrário de todos os outros países da Europa e do mundo que, ciosamente, afectivamente, reverentemente preservam as suas línguas maternas, como se fossem deusas.

 

Veja-se no que dá ser mais papista do que o papa

 

Esta vergonhosa recessão da língua, só mesmo no Portugal dos pequeninos…

 

RECESSÃO.png

 

Origem da imagem:

https://www.facebook.com/TradutoresContraAO90/photos/a.212426635525679.35361.199515723483437/890570781044591/?type=3&theater#

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:43

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar

.mais sobre mim

.pesquisar neste blog

 

.Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
15
16
17
18
19
20
22
23
24
26
27
28
29
30
31

.posts recentes

. «Se quisesse, o Governo p...

. Lídia Jorge defendeu, em...

. «Língua portuguesa e inte...

. «A beleza das palavras», ...

. Legislativas 2024: nenhum...

. Em Defesa da Ortografia (...

. AO90: «Uma causa “fratura...

. «O Brasil se quiser ser u...

. (...) «E a campanha eleit...

. A propósito do artigo ...

.arquivos

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

.Acordo Ortográfico

A autora deste Blogue não adopta o “Acordo Ortográfico de 1990”, por recusar ser cúmplice de uma fraude comprovada.

. «Português de Facto» - Facebook

Uma página onde podem encontrar sugestões de livros em Português correCto, permanentemente aCtualizada. https://www.facebook.com/portuguesdefacto

.Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt

. Comentários

1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.

.Os textos assinados por Isabel A. Ferreira, autora deste Blogue, têm ©.

Agradeço a todos os que difundem os meus artigos que indiquem a fonte e os links dos mesmos.

.ACORDO ZERO

ACORDO ZERO é uma iniciativa independente de incentivo à rejeição do Acordo Ortográfico de 1990, alojada no Facebook. Eu aderi ao ACORDO ZERO. Sugiro que também adiram.
blogs SAPO