Um delicioso e escorreito texto em Bom Português de A M Pires Cabral, publicado no Facebook.
Sou das que tenho o dedo no ar.
Acordistas, aprendam, em Bom Português...
Texto de A M Pires Cabral
«Em 2011 publiquei na imprensa regional a crónica infra. Hoje calhou emergir lá das insondáveis profundezas do computador. Reli-a. Achei-lhe alguma piada. E republico-a, sacudido o pó de 7 anos, em fé de que não me rendi nem me renderei jamais ao AO90. Quem concorda comigo e também se recusa à rendição, que ponha o dedo no ar.
A SEMIRRETA
O “Expresso”, um dos primeiros jornais portugueses a avalizar a vergonhosa almoeda da nossa língua, adoptando pressurosamente o assim-chamado Acordo Ortográfico, distribuiu há tempos um cadernozinho dedicado ao enxalmo. Folheando-o em busca de um norte para o uso do hífen, descobri coisas mirabolantes. Descobri por exemplo que se deve escrever ‘bem-falante’ e ‘bem-visto’, mas ‘benfazejo’ e ‘benfeito’. Descobri que se deve escrever ‘cor de laranja’ (sem hífenes), mas ‘cor-de-rosa’ (com hífenes).
Procurava eu encontrar alguma réstia de lógica nisto, quando me cai debaixo dos olhos a palavra ‘semirreta’. Dou-lhes a minha palavra de honra: poucas vezes me tenho rido tanto como com o estafermo da ‘semirreta’. Entre gargalhadas quase espasmódicas, tive de pôr de lado a brochura, mas o riso continuou a visitar-me ao longo de todo o dia. Mesmo à noite, já à boca de dormir, lembrou-me outra vez a ‘semirreta’ e rompi a rir desabaladamente, causando não pequena perplexidade a minha Mulher, que, por contágio, acabou por rir também.
‘Semirreta’!
Aqueles fulanos nem as pensam. Geram assim mostrengos do calibre da ‘semirreta’ e não lhes dói a consciência nem lhes dá rebate o bom-senso nem o bom-gosto. De qualquer modo estou-lhes agradecido, pois, acabrunhado como ando com tantas más notícias e prenúncios de notícias ainda piores, proporcionaram-me um dia de desopilação do fígado por interposta ‘semirreta’.
Mas estou se calhar a ser injusto. Não se ouvem já por todos os areópagos internacionais hossanas e bem-hajas pela unificação ortográfica do Português? Os participantes em fóruns e congressos dão graças a Deus porque já não ficam confundidos por em Portugal se escrever ‘actor’ e no Brasil ‘ator’. (Não obstante este grande e notável avanço, continua a haver quem não perceba por que é que em Portugal se escreve ‘receção’ e no Brasil ‘recepção’. Mas nada é perfeito, não é verdade? Lá chegaremos.)
Mas não se trata apenas de uma questão de prestígio internacional. A coisa tem também implicações económicas e financeiras. Consta mesmo que a Moody’s, a Fitch e a Standard and Poor’s ponderam já subir numa data de níveis (supõe-se que para o ansiado Triplo A: Ah! Ah! Ah!) a notação de Portugal, considerados os grandes benefícios para a redução do défice que se espera venham a resultar da aplicação do acordo.
Então, senhores acordo-cépticos: valeu ou não valeu a pena haver uns quantos sujeitos que queimaram as pestanas para nos dar de presente este primor do acordo?
E volta-me à ideia o enxovedo da ‘semirreta’. Céus! O que eles fizeram da «nossa portuguesa casta linguagem» de que falava, se não erro, Cruz e Silva!
A M Pires Cabral
(***) A palavrinha “semirreta”, lê-se “semirrêta”, e quem a ler “semirréta” estará a ler incorreCtamente. E então já serão duas patacoadas: a escrever e a pronunciar.
Origem da imagem: Internet
1.
Hoje tive de fazer uma ligação telefónica para o Brasil. As ligações telefónicas para o Brasil, hoje, não estão a correr bem. Ouvi uma voz feminina a dizer o seguinte, em Brasileiro:
“Dissculpi, nô mômêntu, não é pussívéu cômplêtárr à suá chámádá, têntchi nóvámêntchi máiss tárdji” (Isto é a transcrição fonética da conversa).
Logo a seguir ouvi a tradução portuguesa, numa voz feminina:
“Nu mumêntu â suâ châmádâ não póde sêr ifétuádâ, pur fâvor, desligue i tênte mais tárde.» (Esta é a transcrição fonética da tradução da fala brasileira).
2.
Tenho conhecimento de que estão a traduzir os nossos clássicos da Literatura para Brasileiro, porque, dizem-me, os Brasileiros não entendem Português.
3.
No Brasil dobram-se os filmes e as novelas portuguesas, e as entrevistas com Portugueses são legendadas.
Isabel A. Ferreira
Um exemplo de (des) “união” das ortografias portuguesa e brasileira que o AO90 veio acentuar.
Michel Temer, actual presidente do Brasil
«Michel Temer chegou hoje à cimeira do G20, na China, não como presidente interino, mas como presidente de fato», ouviu-se a jornalista anunciar.
Obviamente a jornalista portuguesa quis referir que Michel Temer, como um homem elegante que é, chegou de fato… e gravata, como mandam as boas regras do vestuário dos chefes de Estado.
É que em Portugal, os portugueses ainda vestem fatos. O que não significa que não venham a despi-los para passarem a andar cobertos por coisas feitas ou acontecimentos. Esperemos que tal nunca venha a acontecer, porque ficariam muito deselegantes.
Ora isto para dizer que os acordistas, como Carlos Reis, não têm a menor ideia do que dizem, quando dizem a idiotice que se lê nesta imagem:
Fonte da imagem:
Ai sim, senhor professor? Tem a certeza?
Com o acordo ortográfico de 1990 deixou-se de ter duas normas oficiais?
Muito nos conta, porque não é isso que vemos por aí…
Para deixar de haver duas normas oficiais da Língua Portuguesa, das duas, uma: ou os Portugueses, por exemplo, começam a substituir o acento agudo pelo acento circunflexo, e o nome do nosso primeiro-ministro passará a grafar-se Antônio Costa; ou começam os brasileiros a substituir o acento circunflexo pelo acento agudo, e começarão a andar de ónibus.
Um dos povos terá de abdicar destes pormenores, que não são poucos.
Ou os Portugueses começam a contatar os Brasileiros; ou os Brasileiros terão de contactar os Portugueses.
Ou os Portugueses começam a anistiar condenados políticos; ou os Brasileiros amnistiarão os condenados injustamente no Brasil.
Com esta barafunda, até os problemas dos olhos passaram a ser exclusivos dos ouvidos. É que anda para aí muita doença óptica a passar por ótica.
E estaríamos aqui até domingo à noite a dar exemplos.
Vamos lá a ver: se querem as duas vertentes da Língua Portuguesa, unificada, fiquemos com a vertente mais culta, porque não mutilada e desenraizada, que é a europeia, e os Brasileiros que passem a escrever correCtamente, sim, porque são eles que escrevem erradamente o Português. Nenhum outro povo lusófono mutilou a Língua como o povo Brasileiro mutilou. Mas têm todo o direito de a mutilar, só que não lhe chamem de Língua Portuguesa, porque não é.
Daí que se quiserem fazer fatos de factos, chamem-lhe Língua Brasileira.
Não me importo nada.
Isabel A. Ferreira
Pois gostámos muito de saber.
Pois se é o Povo quem mais ordena, por que motivo V. Exa. faz ouvidos de mercador aos milhares de portugueses que estão a lutar contra o acordo ortográfico de 1990, que ILEGALMENTE impõe a grafia brasileira a Portugal?
A notícia, grafada à brasileira, está neste link:
https://www.jn.pt/nacional/interior/marcelo-lembra-que-ainda-e-o-povo-quem-mais-ordena-9789885.html
E agora vai falar o Povo.
Ao seu jeito narcisista, selfies, beijinhos e abraços é o que o presidente da República Portuguesa (ou devo dizer a República DOS Bananas?) mais gosta de fazer, deixando de lado alguns dos deveres de Estado e a defesa da Constituição da República Portuguesa.
Com base nas declarações contidas na notícia acima referida, nós, como Povo que mais ordenamos, EXIGIMOS que V. Excelência cumpra o seu DEVER: respeite a Constituição da República Portuguesa, devolvendo a Portugal a grafia portuguesa.
E faço minhas as palavras do meu amigo Comandante Manuel Figueiredo, que melhor não podia expressar o sentimento e o desejo generalizados desse povo que mais ordena, num comentário publicado numa rede social:
«Sendo o Senhor Presidente da República um cidadão culto, inteligente, e, por profissão, um catedrático constitucionalista, cumpra o que o seu suposto amor à Pátria lhe impõe. Seja um Presidente que o povo - todo o povo - tenha gosto e honra em o respeitar de verdade. E tendo o Senhor Presidente, quando tomou posse do alto cargo que exerce, jurado cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, é meu dever - também como cidadão - exigir-lhe que defenda a Língua Portuguesa, dirigindo à Assembleia da República a obrigação de revogar a vergonhosa Resolução do Conselho de Ministros que "oficializa" o desacordo ortográfico também conhecido por AO90. Não podemos continuar a conviver com tamanha ignomínia! Quero ficar com a certeza, Senhor Presidente, que Vossa Excelência irá acatar este pedido. E se tenho a certeza, é porque eu, e milhões de portugueses como eu - o povo - somos quem mais ordena. Os meus mais respeitosos cumprimentos.»
E também as do meu amigo Fernando Alberto II:
«Sr. Presidente Marcelo, o Sr. parece que desconhece o valor das suas próprias palavras. Interpretando a nossa sagrada Língua vernácula de Portugal, o povo não pode acreditar no Sr. pois, sem querermos FOI-NOS IMPOSTO o "Pseudo Acordo Ortográfico, de 1990", que, além do mais, é ilegal e inconstitucional. Faça o favor, de fazer valer os seus poderes constitucionais revogando esta grande ILEGALIDADE.»
***
Pois aqui deixamos este pedido do Povo, desse Povo que o senhor diz que é quem mais ordena, e que aguarda, continua a aguardar uma resposta de V. Exa., pois já foram muitos os pedidos que lhe chegaram, neste sentido, e ainda não mereceram resposta alguma, por parte de V. Exa.. Em que ficamos? O Povo é quem mais ordena, ou isto é apenas para constar?
Isabel A. Ferreira
EXCELENTE ARGUMENTO!!! Vale a pena ler.
Por aqui se vê que o AO90 não tem qualquer possibilidade de dar certo em nenhum dos países ditos lusófonos…
Origem das imagens: Internet
***
De José Do Nascimento
«Eh Oena,
Nós aqui em Moçambique sabemos que os mulungos de Lisboa fizeram um acordo ortográfico com aquele tocolocha do Brasil que tem nome de peixe.
A minha resposta é: naila.
Os mulungos não pensem que chegam aqui e buissa saguate sem milando, porque pensam que o moçambicano é bongolo.
O moçambicano não é bongolo não; o moçambicano estiva xilande.
Essa bula bula de acordo ortográfico é como babalaza de chope: quando a gente acorda manguana, se vai ticumzar a mamana já não tem estaleca e nem sequer sabe onde é o xitombo, e a gente arranja timaca com a nossa família.
E como pode o mufana moçambicano falar com um madala? Em português, naturalmente. A língua portuguesa é de todos, incluindo o mulato, o balabasso e os baneanes.
Por exemplo: em Portugal dizem "autocarro" e está no dicionário; no Brasil falam "bus" e está no dicionário; aqui em Moçambique falamos "machimbombo" e não está no dicionário. Porquê?
O moçambicano é machimba? Machimba é aquele congoaca do Coelho que pensa que é chibante junto com o chiconhoca ministro da economia de Lisboa. O Coelho não pensa, só faz tchócótchá com o th'xouco dele e aquilo que sai é só matope.
Este acordo ortográfico é canganhiça, chicuembo chanhaca! Aqui na minha terra a gente fez uma banja e decidiu que não podemos aceitar.
Bayete Moçambique!
Hambanine.»
Assina: Ze Macaneta
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