Nascida há 42 anos em Barcelos, Isabelle Oliveira foi levada em bebé para França. Hoje, preside ao Instituto do Mundo Lusófono, um órgão criado em 2015, para promover a lusofonia além-fronteiras.
Mas que lusofonia?
Foto: Adelino Meireles/Global Imagens
E o que Isabelle Oliveira disse acerca da Língua Portuguesa pode ser ouvido neste link:
E o que há a dizer sobre o que se acabou de ouvir?
Há a dizer que a Língua Portuguesa está, de facto, em decadência, em Portugal, e apenas em Portugal, desde que foi imposto, à revelia dos Portugueses, o ilegal, o imoral, o inconstitucional, o inútil, o fraudulento AO90, assente na grafia brasileira, e o que se escreve hoje, é simplesmente uma mixordice que não tem paralelo no mundo, porque nem é brasileiro, nem português.
Antes disto, a Língua Portuguesa gozava de muito boa saúde, em Portugal, que é o que mais nos interessa (mas também nos países africanos de expressão portuguesa). O Brasil está fora desta apreciação, porque criou uma linguagem própria, distanciada do Português usado pelos restantes países ditos lusófonos.
Nenhum português está interessado em que se escreva e fale incorreCtamente a sua Língua Materna, por milhões de pessoas. Esta matemática não interessa a Portugal.
Reponha-se a grafia portuguesa, regressemos à NOSSA Língua Portuguesa, e ela renascerá das cinzas, da escuridão, da vergonhosa imposição do estrangeirismo que ninguém pediu: o AO90, assente basicamente na grafia que os Brasileiros começaram a usar a partir de 1943, a mesma que aprendi, quando comecei a ler e a escrever, numa escola brasileira, aos seis anos de idade.
A decadência não está na Língua, está nos políticos que, ignorantemente, querem, porque querem, que a Língua Portuguesa desapareça do mapa. Hoje mesmo, li algures, na Internet, que quando o dito "Português do Brasil" passar a designar-se Língua Brasileira, o que é tão certo como eu estar aqui a escrever isto, em Portugal, falar-se-á e escrever-se-á o "português brasileiro". Assim mesmo.
E nisto está toda a decadência da Língua Portuguesa.
Aliás a Língua Portuguesa desapareceu da Internet.
Não interessa fundar institutos de Português, se é para ensinar o "brasileiro”, porque a Língua defendida pelo AO90, não é e jamais será a Portuguesa.
Isabel A. Ferreira
“Para para pensar!”
Este foi o apelo feito por Rui Rocha, no Blogue «Delito de Opinião», no ano de 2012, que pode ser consultado neste link:
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/4641494.html
ao tal amigo defensor do Acordo Ortográfico.
Recupero este texto, porque todos os textos escritos, desde então, infelizmente, continuam bastante actuais, o que demonstra apenas que os nossos governantes, quais avestruzes, de cabeças enfiadas na areia, continuam a fazer ouvidos de mercador aos inúmeros apelos à racionalidade e bom senso, estados absolutamente ausentes dos palácios de Belém e de São Bento.
Mas o que sobressai neste texto, para além do apelo do Rui Rocha, são dois extraordinários e elucidativos comentários, que aqui transcrevo, para que neles reflictamos. E quando acabarmos de reflectir, podemos ir comer um sorvete com pudim, como a imagem sugere…
As passagens a negrito são da minha responsabilidade, e denotam a minha mais veemente concordância com o que está escrito, se bem que subscreva tudo o resto.
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De Jota a 31.07.2012 às 18:21
Este pequeno comentário ao Apelo do Rui Rocha encerra a vacuidade da defesa deste AO. Enfim, denota profundidade dos argumentos. Acho-o particularmente ilustrativo quanto à suposta pseudo-intelectualidade superior dos acordistas, em oposição às restantes massas ignaras, retrógradas e avessas à modernidade, que não atingem a bondade da mítica ideia de uniformização da língua.
Vamos, então, por partes e reciclando algumas opiniões expressas noutros contextos (vou tentar ser simultaneamente sintético e o mais exaustivo possível):
1) Argumento jurídico.
O AO não está em vigor e é preciso dizê-lo com esta simplicidade. É do Direito (eu diria do Direito mais básico), da hierarquia das leis, que uma Resolução da Assembleia ou do Conselho de Ministros não revoga um Decreto-Lei. Um Decreto-Lei é vinculativo, ao passo que uma RCM é uma mera recomendação (eu diria é a opinião do governo em relação ao assumpto recomendado).
Por conseguinte, uma RCM não tem força legal para revogar um Decreto-Lei, e por isso o AO45 continua em vigor. Adicionalmente e a título ilustrativo, uma RCM não se aplica às relações entre privados, um Decreto-Lei é universal.
2) A suposta unificação da língua.
Então a unificação ortográfica não foi feita com AO45? Não percebo. Se já estava feita, validada e assinada por todos, por que razão é necessário voltar a fazer outra suposta unificação. E já agora se é para fazermos um exercício de fé quanto à bondade do AO90, em que página está a suposta evolução natural da língua, quando é que vão ser corrigidas as alterações dos erros e deficiências existentes e por quem?
3) O prestígio internacional.
Quem é que aprende uma língua por causa de 1 acordo ortográfico? E em que país é que se vai “adotar” o português como língua oficial? A Ucrânia, a Guiné Equatorial? Quantos milhões vão subitamente sentir a necessidade de aprender português?
Ou então dizer que a língua se vai subitamente “projetar-se” a nível internacional. Sem comentários.
4) Aspectos técnico-linguísticos.
Aproveito para referir uns quantos números (de acordo com o ILTEC): palavras inventadas por AO90, cerca de 4.000 (letivo, receção, aspeto, espetador,...), palavras que não fazem qualquer sentido em português, cerca de 6.000 (teto, reto, tátil, tato, corretor,...[já agora com é que se lê teto? têto, této ou t'to], grafemas com facultatividades em português, cerca de 200 (láct, lát, ...), palavras com dupla grafia, cerca de 60.000 em 240.000.
E não me venham com a conversa que a ortografia não é a língua e que não há qq impacto na prosódia e na fala, e tudo fica na mesma e bláh, bláh,… demonstrem-no com base em estudos linguísticos sérios, tou cansado de pseudo-opiniões. Dou os seguintes exemplos: corruto, sutil, indenização, alumno, columna, himno, fleugma…
5) Outro assunto que não percebo
Por que raio é que Presidente da República tem 4 grafias diferentes?
6) O desacordo do acordo do desacordo do acordo.
Qual é a necessidade de acordar o desacordo ou, em alternativa, em desacordar simplesmente? Entre estarmos todos em desacordo com o Brasil, ou acordarmos todos que termos opiniões diferentes e cada um ir à sua vidinha, onde é que está a diferença? No exercício fascizante deste acordo ortográfico feito por lunáticos (aqui, peço por favor que consultem as actas da comissão técnica), baseado em mentiras (onde estão os estudos scientíficos referidos no preâmbulo) e inventado polìticamente pelo Dr. Santana Lopes. É isto que vamos deixar aos nossos netos?
7) A inutilidade objectiva do acordo.
Desde a assinatura do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta Portugal/Brasil, o estado português aceita a ortografia brasileira em qualquer documento, logo qualquer um pode escrever legalmente com a sua grafia de origem em Portugal, de forma irrestrita e abrangente. Para quê inventar uma nova ortografia?? Para gastar dinheiro??
8) O carácter racista, xenófobo e neo-colonial do acordo.
Onde estão as variantes africanas? Onde está a norma culta de Madina do Boé? Acho particularmente estranho o ILTEC não registar nenhuma variante africana… Enfim, mais comentários para quê…
9) A ilegitimidade do Estado.
A ilegitimidade do Estado em andar a brincar à ortografia. Se o Estado não sabe gerir finanças públicas, vai saber gerir ortográfica ou a língua? Para que serve este exercício fascizante e quanto custa? É que, muito claramente, enformar a ortografia por decreto não é uma função de Estado.
É ilegítimo ao Estado, a qualquer estado, andar a brincar à ortografia. Eu, pessoalmente, não quero ser obrigado a isso, eu quero escrever em português correcto. Não quero que os meus impostos sirvam para universalizar políticas objectivamente medíocres.
10) A aritmética da coisa.
O francês teve a última pequena alteração ortográfica no séc. XVII (formulada, na sua quase globalidade por Voltaire). O inglês (mesmo na variante norte-americana) ficou estabilizado na década de 30 do séc. XIX.
Se transportássemos isto para a realidade brasileira, significava que o Brasil ainda usava a ortografia da independência. E já lá vão 6 ortografias brasileiras, 4 desde 1907. Em Portugal, se contar o A090 também são 5 (3 desde 1911), se não me enganei nas contas.
Ou seja, em média, desde final do séc. XIX, de 25 em 25 anos, há uma reforma política ortográfica, ou uma alteração legislativa ou um novo AO. O que é que justifica esta fúria estatizante de alterar por lei o português?
11) O argumento das homógrafas e das homófonas, i.e., a famosa “sede [é,ê] da sede[é,ê] de poder”
O argumento só reforça que a baboseira não é de agora. Lá por que é antiga (sobretudo pelo Decreto-Lei n.º 32/73 de 6 de Fevereiro), não quer dizer que deixe de ser uma baboseira. É o que dá quando os políticos portugueses e brasileiros pensam que a ortografia deve enformar os ideais políticos mais mirabolantes e estapafúrdios. Isso ou então por se julgarem mais “espertos” do que o povo ignaro. Ou por tratarem o povo com tal.
12) A evolução natural da língua
Dizer que o AO90 é a evolução natural da língua, é de rebolar (não sei se é esse o argumento). Há 100 anos que a língua é esculpida à pedrada e a pontapé por políticos e por decreto, o que de natural não tem nada. Acho até um exercício bastante fascizante.
13) A projecção do nacionalismo brasileiro em detrimento da afirmação portuguesa
Serão razões genuínas ou então quando um brasileiro defende apaixonadamente a sua ortografia, está a defender exactamente o quê? A visão das juntas militares e dos fascistas brasileiros que fizeram aprovar a ortografia brasileira de 1943?
Ou então defende a génese os casos de casos de corrupção e de compadrio político que, primeiro aprovou e depois chumbou o AO45. É este o substrato da cultura linguística brasileira que considera aviltante escrever “acção” ou “adopção”? Ou será apenas o desejo do Brasil ser o “roceiro” universal do português, o que curiosamente é caso único no mundo? Ou é por essa razão que a CPLP faz actas em 2 línguas?
Nunca percebi a razão deste desconforto, ou será sobranceria, ou chauvinismo nacionalista?
É para acomodar isto que estamos a truncar e abastardar a língua? Enfim, se calhar é outra coisa, mas que não entendo, não entendo… mesmo.
Fonte: “Prontuário da língua portuguesa” de Manuel dos Santos Alves, 1993 da Universitária Editora, Anexo VIII [o Dr. Salazar, enquanto Presidente do Conselho de Ministros, relatou, na correspondência trocada com o Ministro da Justiça, Antunes Varela, casos de corrupção e de compadrio político que, primeiro, aprovou e, depois, chumbou o AO45]
14) Fernando Pessoa
Por último, como dizia o Fernando Pessoa, a ortografia portuguesa é uma discussão política, condicionada e sustentada por pessoas abjectas (sobretudo, políticos e amanuenses) às quais nutria “asco”.
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O outro comentário, é o de c., que responde a Jota:
De c. a 01.08.2012 às 03:16
Caro Jota,
Não podia estar mais de acordo consigo. Há, no entanto, algo que convém esclarecer quanto à resolução do conselho de ministros. SE o acordo tivesse sido assinado e ratificado por todos os intervenientes (bem com o chamado "2º protocolo modificativo"), vigorava na ordem jurídica internacional e, por força do artº 8º, 1 da CRP, em Portugal, seria um normativo legal com a mesma força do DL de 1945, que revogaria, expressa ou implicitamente.
Acontece, porém, que NÃO ESTÁ EM VIGOR na ordem jurídica internacional QUALQUER ACORDO porque o 2º protocolo não foi ratificado - como devia - por todos os países intervenientes e, por isso, para o acordo produzir efeitos, mantêm-se a obrigatoriedade de ratificação por todos - o que, como é sabido, não se verificou.
Assim, a "resolução" não pode produzir quaisquer efeitos e os que produz são ilegais, por desrespeitarem a legislação em vigor, que é a de 1945.
Dito isto,
O que se passa é a negação total do estado de direito, do que deve ser um estado de direito moderno.
Bem ao invés, o estado português está a cometer um crime de aculturação de proporções stalinistas ou nazis, tentando modificar a ortografia de dezenas de milhares de palavras, facto inédito na história do mundo e que deve ser denunciado externamente.
Para se ter uma noção da loucura, o acordo ortográfico do castelhano muda 9 - nove - ou 10 - dez - palavras (sic) e é facultativo, por respeito para com os utilizadores...
O espanto é que estes bandalhos continuam a não querer prestar contas e o silêncio imposto é total, sendo de registar respostas imbecis como a do ministro Crato.
Como já terá percebido, o «acordo», uma imposição brasileira, tem em Portugal o apoio das diversas obediências maçónicas - que o vêem como completando a obra maçónica de 1911.
Dizer acordistas é dizer, quase a 100%, maçónico e como tudo tem a sua conveniência, percebemos a influência de uma sociedade secreta num estado supostamente "de direito", e que se nota das instituições à imprensa, das empresas às universidade etc... e dos seus representantes no governo (o digno Relvas, por exemplo, venerável e com grandes ligações aos veneráveis do Brasil).
Neste ponto, é a total subversão da democracia - com muita gente a fingir que não percebe.
Algumas notas:
Sobre a estabilização da ortografia inglesa: o inglês começou a estabilizar desde a publicação da King James Biblia e de alguns dicionários, isto é, desde o séc. XVII.
A data que refere de 1830 é da resolução dos jornais norte-americanos em adoptarem todos uma mesma ortografia.
Sobre a evolução da língua: a evolução da ortografia consiste na sua... estabilização. Quanto mais culto um país, melhor e mais segura o acesso à norma e menor a existência de erros e variantes. O que muda e muito é o léxico, como qualquer um de nós sabe, não a ortografia.
Quanto à "suposta pseudo-intelectualidade superior dos acordistas" é difícil de supor, quando os grandes nomes da Cultura Portuguesa estão entre os adversários do acordo! Lembremos o Manifesto, que de Victorino Magalhães Godinho a Maria Filomena Molder, reunia o que de melhor Portugal teve e tem.
Nem podia ser de outro modo! A ideia de "ortografias ciêntifíca" é que está datada - e de há muito, do séc. XIX - um subproduto do positivismo francês, que teve grande influência nos republicanos do Brasil e de Portugal.
O mesmo governo que mandou amputar a ortografia em que escreveu Eça foi o mesmo que mandou medir o crânio de padres em busca da bossa da criminalidade... Eram as teorias positivistas de Lombroso, a par com as da ortografia...
O acordismo não tem nada de superior. Bem pelo contrário, é um exemplo triste da iliteracia e falta de sofisticação, mais, da miséria intelectual da nossa classe política.
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Não posso estar mais de acordo com tudo o que aqui foi dito.
Obrigada, por mais esta excelente lição desacordista.
Os acordistas nunca chegaram, nem nunca chegarão a esta qualidade argumentativa.
Só argumentam com o PH (que passou a ser o símbolo dos ignorantes) e com a treta dos Velhos do Restelo, na sua interpretação mais aparolada.
Só não entendo por que Marcelo Rebelo de Sousa, que dizem ser muito inteligente, constitucionalista e professor universitário com muitos pergaminhos, ainda não conseguiu encaixar a ilegalidade, a inconstitucionalidade e a absoluta inutilidade do AO90.
Isabel A. Ferreira
Mais um admirável texto de Manuel Matos Monteiro, onde o AO90 e a sua irracional aplicação estão na berlinda.
Manuel Matos Monteiro *
«O Acordo e a sua aplicação encarregaram-se de aniquilar os seus apregoados objectivos. A impossível unificação traduziu-se no acentuar das diferenças ortográficas entre o português de Portugal e o português do Brasil.
— Vais comprar um carro novo?
— Vou. O meu carro para sempre.
Guarde bem a ideia do diálogo.
Leia agora:
— Vais comprar um carro novo?
— Vou. O meu carro pára sempre.
Neste jornal, Francisco Miguel Valada, em 1 de Dezembro de 2018, apresentou dois exemplos que falam por si. Vejamos. “Bloqueio nos fundos da UE pára projecto de milhões na área do regadio” (um título deste jornal) — é evidente que “Bloqueio nos fundos da UE para projecto de milhões na área do regadio” será lido de outra forma. Tão evidente, que os jornais, as revistas, os canais televisivos que adoptaram o Acordo continuam a pôr abundantemente o acento no “pára” quando querem desmanchar a ambiguidade ou até a leitura errónea. Faz lembrar Ricardo Araújo Pereira: “Pode-se fazer, mas é proibido.” O outro exemplo vem de Saramago (Cadernos de Lanzarote II): “Ninguém pára para o socorrer.” Com o Acordo, ficará a parecer gralha ou gaguez: “Ninguém para para o socorrer.”
E já que falamos do Nobel da Literatura e do Acordo, mergulhemos em Bob Dylan traduzido (Canções — Volume I).
(Deixemos de lado o merecimento ou desmerecimento do Nobel, quando a poesia tem uma percentagem escassíssima na lista dos galardoados. Dylan será certamente um poeta maior do que Cummings, Herberto Helder, Auden. E terá até dado um contributo à literatura que, por exemplo, Tolstói, Joyce, Borges, Proust, Fitzgerald, Nabokov, Conrad, Virginia Woolf, Lawrence Durrell não deram.)
Oh, a Primeira Guerra Mundial, rapazes
Desperdiçou a sua sorte
A razão para a luta
[…][1]
Imagine que era uma edição acordizada. Imagine que no original estava “A razão pára a luta”. Ficaria igual à fiel tradução do que Dylan realmente escreveu: The reason for fighting.
Alguém consegue explicar porque desaparece obrigatoriamente o acento de “pára”, enquanto se preservam os acentos de “pôr” e “pôde” e se decreta — pasme-se — a facultatividade do acento de “dêmos”? Ninguém.
Camilo Castelo Branco, em O Santo da Montanha: “Já que morreu a serpente, demos duas cabriolas; que, medrosos de seus olhos, nada até ora fizemos.”
Sem tirar o acento e como Camilo escreveu: “Já que morreu a serpente, dêmos duas cabriolas; que, medrosos de seus olhos, nada até ora fizemos.”
Alguém consegue explicar a vantagem da facultatividade do acento em “dêmos”?, em “lavámos”, “jogámos”, “ganhámos”, “trocámos”? Ninguém.
Que ornamento ortográfico é este que só serve para confundir o tempo pretérito com o tempo presente e até futuro? “Não ganhamos” poderá ser, com o Acordo, “não ganhamos” (no presente), “não ganhamos” (opinião sobre algo que se realizará futuramente, passe a redundância) ou… “não ganhámos” (no passado).
Que ganha a Língua Portuguesa com isto?
Que ganha a Língua Portuguesa por “descaracterizámos” (no pretérito perfeito) passar a dispor de um cardápio de quatro ortografias: “descaracterizámos”, “descaraterizámos”, “descaracterizamos” e “descaraterizamos”?
Alguém consegue explicar a razão que presidiu a estas decisões? Ninguém.
Não tendo sido aprovado o Acordo de 1986 (que pretendia abolir os acentos das palavras graves e esdrúxulas), o Novo Acordo — o de 1990… porque porque será que, em 2019, ainda se fala tanto do dito?, será pelos seus inexcedíveis méritos? — lá condescendeu que se mantivessem acentos nas palavras graves e esdrúxulas: “análise (s.[2])/analise (v.[3]), fábrica (s.)/fabrica (v.), secretária (s.)/secretaria (s. ou v.), vária (s.)/varia (v.), etc., casos que, apesar de dirimíveis pelo contexto sintáctico [eis o Acordo a não seguir o Acordo], levantariam por vezes algumas dúvidas e constituiriam sempre problema para o tratamento informatizado do léxico”.
No caso do “pára”, porém, o acento desaparece, porque “tratando-se de pares cujos elementos pertencem a classes gramaticais diferentes, o contexto permite distinguir claramente tais homógrafas”. Mas esperem lá, os exemplos de “análise/analise”, “fábrica/fabrica”, “secretária/secretaria [que pode ser forma verbal], “vária/varia” não pertencem também a classes gramaticais diferentes?! E o “para” que é “pára” não levanta “por vezes algumas dúvidas”?! Continuando nesta lógica de manicómio: e “pôde”, que é palavra grave e tem uma frequência muito menor na escrita do que “pára”/”para”, porque manteve o acento para não se confundir com “pode”?
Tudo isto serviu para internacionalizar a Língua Portuguesa? Quem é tão tolo que possa acreditar nisso? Tudo isto serviu apenas para a abandalhar.
O Acordo e a sua aplicação encarregaram-se de aniquilar os seus apregoados objectivos. A impossível unificação traduziu-se no acentuar das diferenças ortográficas entre o português de Portugal e o português do Brasil, com a criação de palavras num laboratório exclusivo para o português de Portugal, porque os Brasileiros pronunciam muitas consoantes etimológicas que nós não pronunciamos; na destruição dos vestígios do nosso património cultural e no consequente afastamento ante as línguas que preservaram as raízes etimológicas; numa proliferação diária e omnipresente de erros em falsas “consoantes mudas” (nasceram milhões de “contatos”); num português falado que vai fabricando pronúncias inauditas com o fechamento de vogais (revelou-se que, afinal, era bem mais fácil ensinar que “recepção” se escrevia com p do que ensinar que “receção” se deve ler “recéção” e não “recessão”, como por aí crescentemente se vai dizendo).
Continuemos a exigir dos políticos discussão e acção quanto ao Acordo. Não esqueçamos, porém, a arma essencial: a resistência de cada indivíduo e instituição: não adoPtar o Acordo. É o combate de quem rejeita que a estupidez vingue sobre a inteligência.
[1] Agradeço ao professor João Esperança Barroca o envio da fotografia da página do livro.
[2] Substantivo.
[3] Verbo.
* Autor, jornalista, formador e revisor
Fonte:
Um excelente texto, publicado por Pedro Correia, no Blogue «Delito de Opinião», em 19 de Fevereiro de 2019, que destrói o AO90
«Certas luminárias contemporâneas que pretendem fazer ironia com as orthographias antigas da língua portuguesa -- aludindo por vezes a autores que publicaram há pouco mais de cem anos -- estão, no fundo, a produzir argumentos contra o "acordo ortográfico" e não a favor. Ao contrário do que supunham.
É incompreensível que um inglês leia Walter Scott, Charles Dickens ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac, Flaubert ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós ou Valle-Inclán e um norte-americano em relação a Herman Meville ou Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queiroz já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa -- somam-se quatro no último século -- constituem um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada em exclusivo à comunidade científica. Isto se ambicionássemos reproduzir os modelos implantados em nações com um índice de alfabetização muito mais sedimentado do que o nosso.
Cada mudança de regime, desde a queda da Monarquia, produziu pelo menos uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, muito pelo contrário.
Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias -- como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a mais recente, que separou famílias lexicais produzindo aberrações como "os egiptólogos que trabalham no Egito [sic] são quase todos egípcios" ou "a principal característica dos portugueses é terem um forte caráter [sic]".
Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós, impulsionada pela globalização em curso. Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator" [sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão.
Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" como o que Cavaco Silva pôs em marcha como primeiro-ministro, em 1990, e que José Sócrates, também como chefe do Governo, mandou aplicar nas escolas e repartições públicas, dezoito anos mais tarde. Ambos exorbitando dos seus poderes, ambos sem imaginarem que estariam a produzir novas legiões de analfabetos funcionais.»
Pedro Correia
Fonte:
Este é o título de um artigo publicado ontem, na Página Plataforma, e que pode ser consultado neste link:
facto que originou uma troca de impressões entre um cavalheiro e eu. É essa troca de impressões (e algo mais) que aqui transcrevo, porque penso que devemos aproveitar todas as deixas para defender a Língua Portuguesa dos que a querem destruir.
Ministro da Cultura e Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente.
Orlando Almeida/Global Imagens
A propósito desta proposta do Ministro da Cultura de Cabo Verde, deixei no texto o seguinte comentário:
Isabel A. Ferreira (comentou):
Todos os países ditos lusófonos terão as suas línguas oficiais locais, e a Língua Portuguesa ou passa a língua estrangeira ou então desaparece, nesses países.
Então para quê estar a arruinar a Língua Portuguesa, em Portugal, com a adoPção do Acordo Ortográfico de 1990, que não passa do abrasileiramento da língua, que no Brasil passará a ser a Língua Brasileira?
Qual o interesse de estrangeirar o Português, da Família Indo-Europeia? Com que finalidade? Com que obscuros desígnios?
Acabem com esta vergonhosa ingerência no Património Cultural Imaterial de Portugal. Que cada país fique com a sua Língua, com a sua Cultura. Não será mais inteligente?
Força! As ex-colónias portuguesas merecem ser completamente independentes. Concordo que pugnem pelos seus dialectos e os transformem em Línguas Oficiais.
***
E o cavalheiro Luís Oliveira retorquiu deste modo:
Luís Oliveira (comentou):
Quando isso acontecer, será o caminho para o desaparecimento da lingua portuguesa em qualquer país que fale português.. E o crioulo só vai atrapalhar mais o desenvolvimento dos respetivos países além de tb ter os dias contados... No Brasil, pela imensidão de gente que fala português, será onde estará mais tempo o português... Mais que em Portugal que acabará abafado pelo espanhol e inglês... Separar o português nos países que falam português, dará mais margem para o espanhol inglês dominar no mundo e estes agradecem... Os proximos séc. serão de imposições de linguas mais faladas no mundo e as linguas com menos de 20 milhões de falantes irá ser museu já em 100 anos! Não queiras estragar tudo com ideias estupidas...
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Como não sou de me calar quando um cavalheiro investe contra a minha pessoa deste modo elegante, e com um português de alguidar rachado, respondi-lhe o seguinte:
Isabel A. Ferreira (comentou):
Luís Oliveira desculpe, mas ideias enviesadas tem o senhor que, pelo que se vê, desconhece a história das línguas no mundo, e tem uma visão muito distorcida da questão das línguas.
Enquanto houver PORTUGAL e PORTUGUESES jamais a Língua Portuguesa desaparecerá do mundo. JAMAIS. (Não esquecer que a Língua Portuguesa é Património Cultural Imaterial de Portugal). E isto é o que interessa. Não interessa para nada os MILHÕES, quando esses milhões se afastaram da Língua Portuguesa e criaram uma outra língua. Contudo, se os "luíses oliveiras" e os "augustos santos silvas" e os "antónios costas" e os "marcelos rebelos de sousas", que deixaram de ser portugueses, continuarem a predominar sobre os PORTUGUESES, e se Portugal se transformar no quintal dos estrangeiros (estamos perto disso) ora então teremos a invasão do mandarim, do brasileiro, do castelhano, do inglês, do francês e sabe-se lá de que mais línguas.
O Crioulo Cabo-Verdiano (de origem portuguesa), bem como os restantes dialectos cabo-verdianos já são falados há muito, em Cabo Verde. O Português tenderá a ser uma língua estrangeira. E os Cabo-Verdianos fazem muito bem. Há que cortar o cordão umbilical com o ex-colonizador.
Nos restantes países, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe (onde o Francês predomina), Timor-Leste, os povos falam os seus dialectos, e embora a Língua Portuguesa ainda seja língua oficial, ela é falada apenas por uma minoria, porque o que predomina são os muitos dialectos desses povos.
E o que interessa a Portugal que o Português tenha de ser a língua mais falada no mundo? Nada. Porque jamais será. Porque os milhões de brasileiros substituirão o vocábulo "portuguesa" por "brasileira". E fazem muito bem.
E nós, Portugueses, poucos, mas bons, continuaremos a preservar o nosso Património Linguístico.
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Num outro comentário, uma outra visão, sobre a mesma questão, a qual não deixa de ser real:
VC Rodrigues (comentou):
Os paises ex-colónias portuguesas só têm interesse no relacionamento com Portugal enquanto tiram algum proveito disso. Quando um presidente ou primeiro-ministro vai a um destes paises a viagem fica maioritáriamente centrada, na perspectiva dos políticos daqueles povos, na questão da facilitação dos vistos para imigrar para Portugal (e Europa) e na facilitação da obtenção cidadania portuguesa para os seus cidadãos. E os portugueses lá lhes vão dando sempre o que eles querem em troca de umas promessas de negócios para as empresas dos amigos dos políticos. Agora apróximação cultural, "familiar", etc., é tudo conversa da treta e eles sabem-no bem. O que até se compreende porque apenas no final do sec. XIX e no sec. XX (ao todo não mais de 100 anos) é que estivemos lá verdadeiramente e com ocupação efectiva dos territórios. Durante este tempo os indigenas maioritáriamente não eram mais do que simples empregados miseráveis ou trabalhadores em troca de alimentação apenas (quase escravos). A aproximação entre povos com relacionamentos no passado assim é uma fantasia. Em Angola por exemplo a maioria destesta-nos. E em Moçambique parece estar a despertar o antiportuguesismo. E grande parte dos que imigraram para Portugal não querem saber de se integrar, não querem ser portugueses ou apenas o são por oportunismo e muitos pisgam-se logo que podem para a Europa (veja-se o caso do cabo-verdianos que por via de Portugal invadiram a Holanda).
***
Entretanto, um outro comentário surgiu e deixou-me estupefacta:
André Filipe (comentou):
Eles que adoptem o idioma que quiserem, a partir do momento que não querem a língua portuguesa, Portugal deveria cortar relações de vez com os paises lusófonos que de lusófonos teem cada vez menos.
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Não poderia deixar sem resposta este desvario do André Filipe:
Isabel A. Ferreira (comentou):
André Filipe, desculpe, não concordo consigo. As ex-colónias portuguesas, hoje, são países livres e soberanos, e têm todo o direito de escolherem a língua que bem entenderem.
Não querem o Português? Estão no seu direito. Mas isso não deve ser motivo para se cortar relações. Muito pelo contrário, devemos cultivar as boas relações com esses povos, como mantemos com outros. E a Língua não deve servir nem para UNIR nem para DESUNIR. Cada um deve ficar com a sua, porque na diversidade é que está toda a riqueza das relações. Nada há mais interessante e frutuoso do que a união de povos através da diversidade que cada um apresenta.
A minha Língua é a Língua Portuguesa. Mas amo conhecer a língua de outros povos. Isto faz parte do nosso enriquecimento cultural. Vou adorar aprender o Crioulo Cabo-Verdiano e acrescentá-lo ao rol das línguas estrangeiras que domino.
Isabel A. Ferreira
Como (suponho que pelo menos os que subscreveram este Movimento) devem saber, o MPLP nasceu da necessidade de internacionalizar a luta contra o AO90, e contou com um núcleo inicial de 61 subscritores que, entretanto, aumentou para 90, com a entrada de mais 29 membros (e a lista não está encerrada, pois quem pretender fazer parte do Movimento, basta mandar o nome e o e-mail).
Esse núcleo inicial do MPLP, já farto de ver a Língua Portuguesa espezinhada, decidiu encetar a sua primeira acção: enviar uma carta à Directora-Geral da UNESCO, Audrey AZOULAY, em 7 de Setembro de 2018, apresentando uma queixa contra o Estado Português, pela violação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (CSPCI), por Portugal, Estado-Membro; e, por arrasto, dar conta da violação da Constituição da República Portuguesa (CRP), e da violação da Convenção de Viena de 23 de Maio de 1969, pelo AO90; e da violação da Convenção Ortográfica Luso-Brasileira (COLB) de 10 de Agosto de 1945, aprovada pelo Decreto-Lei Nº 35/228 de 8 de Dezembro de 1945, tudo isto assente numa bem elaborada fundamentação jurídica.
A carta pode ser recordada neste link.
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/movimento-em-prol-da-lingua-portuguesa-147014
Suponho que também saibam que o MPLP tem dois coordenadores: o Francisco João da Silva, mentor da ideia de se criar este Movimento e escrever a carta, e eu, Isabel A. Ferreira, que concordei com as duas coisas. E porque tenho este Blogue, e duas páginas no Facebook, fiquei com a incumbência de ser uma espécie de porta-voz do MPLP, mas qualquer outro membro pode e deve dizer coisas, fazer coisas, e usar o Blogue para divulgação. Como sabem.
Eu digo coisas. Eu faço coisas. Eu divulgo as coisas (nem todas, obviamente, porque no meio disto tudo, há espiões, e o segredo é a alma do negócio, e nem tudo pode vir a público, por enquanto, mas a seu tempo virá. Estejam descansados.
Também quero crer que os restantes 89 membros do MPLP, interessados que estão em que o AO90 seja abolido da face do planeta Terra, devem estar a fazer a sua parte, isto é, a realizar acções, individualmente, junto do povo, junto dos governantes, fazendo movimentar a engrenagem (que não pode parar), tal como eu estou a fazer.
Como também devem saber, quando se apresenta uma queixa a uma autoridade ou a um Organismo como a UNESCO, e devido à complexidade da questão, as coisas demoram. Portanto, estamos a aguardar o parecer do COMITÉ INTER-GOVERNAMENTAL, que deverá tomar uma decisão, pois isso está previsto na própria Convenção para a Salvaguarda do Patrimómio Cultural e Imaterial da UNESCO (CSPCI), da qual Portugal é um Estado Signatário, e logo que haja fumo branco, obviamente e imediatamente comunicar-vos-ei através do Blogue.
Penso também que, os 89 membros do MPLP, sendo anti-acordistas convictos (não me incluo aqui porque é pública a minha posição nesta matéria) e pretendendo andarem informados do que se vai passando, estão a seguir tudo o que se publica neste Blogue e todas as informações nele veiculadas. Estão a passar palavra e a acrescentar palavras ao que por aqui se vai dizendo e fazendo.
Posto isto, devo dizer que se algum dos 89 membros do MPLP quiser sair do Movimento, as portas estão abertas, e basta que me comuniquem essa intenção.
Quanto a mim, enquanto coordenadora do Movimento, garanto-vos que estou a fazer tudo o que está ao meu alcance, baseada em factos e não em impressões ou ideias pessoais, para que possamos levar a água ao nosso moinho.
Isto não é fácil. Não é.
Mas lutar por uma causa nunca foi fácil, e, ou nós estamos dispostos a dar tudo por tudo, ou então é melhor calçar as pantufas e ficar a ver o que as televisões, vendidas ao Poder, oferecem: futebol, novelas, crimes e deprimentes reality shows, com o único propósito de afastar o povo do essencial.
Isabel A. Ferreira
E como se vence esta guerra, se já foram travadas algumas batalhas, sem atingir os inimigos que, apesar de não serem fortes, nem inteligentes, nem terem a razão do lado deles, usam a táctica do silêncio e ocultam os seus despropósitos, nos subterrâneos mais inacessíveis dos Palácios de Belém e de São Bento?
Não, não é com um ataque aos Palácios, com bombas ou granadas incendiárias, porque isso não seria nada civilizado, e sendo eu uma discípula de Mahatma Gandhi, jamais aconselharia tal violência para atingir uma tão nobre finalidade: a de restituir a Portugal, a Língua Portuguesa, na sua forma culta, íntegra e europeia.
Já se fez quase, quase tudo. Já se disse quase, quase tudo. Mas, ainda assim, os governantes fazem-se de cegos, surdos e mudos e, antidemocraticamente, acham que o povo não merece respostas.
Contudo a Justiça acabará por vencer.
… quando me desespero, lembro-me de que, ao longo da História, os caminhos da verdade e do amor sempre venceram. Tem havido tiranos e assassinos (neste caso, da Língua Portuguesa) e, por algum tempo, eles podem parecer invencíveis, mas no final, são sempre derrubados. E eu penso nisto. Sempre. E aguardo, com grande esperança, a queda de todos os que estão a contribuir para um país de faz-de-conta, chamado PORTUGAL.
Mahatma Gandhi é o meu Mestre. Tenho-o como fonte de inspiração para as minhas lutas, sejam elas de que natureza forem. Gandhi foi pioneiro e praticou o princípio da Satyagraha - resistência à tirania através da desobediência civil não-violenta (em massa, em relação às leis injustas e às injustiças.
Em Portugal, nos tempos que correm, a desobediência civil não-violenta, até pode acontecer esporadicamente, mas não em massa, porque o povo português anda anestesiado, desinformado, alienado, com uma visão que apenas chega ao próprio umbigo. Já não se fazem padeiras de Aljubarrota ou Nunos Álvares Pereiras. Quem se interessa se Portugal se afunda; se Portugal tem a taxa mais alta de analfabetismo da Europa; se Portugal é um país cheio de políticos, banqueiros e empresários corruptos e vigaristas; se Portugal vendeu a alma ao diabo? Se vendeu a sua Língua Oficial? Quem se interessa?
Eu falarei apenas por mim: eu interesso-me. Por isso luto, e não esmoreço. E resisto. E insisto. Não desisto. Procuro lembrar-me dos ensinamentos de Mahatma Gandhi, e pôr em prática alguns dos seus preceitos para que o mundo possa mudar. E o primeiro desses preceitos é que eu devo ser a mudança que quero ver no mundo. Sei que sou uma insignificante gota de água. E daí? se basta uma gota de água para fazer transbordar um copo cheio de água?
Aprendi com Gandhi que a ideia do “olho por olho” torna o mundo inteiro cego.
Aprendi também com ele que nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. E é isso que me move, nesta luta contra os "todo-poderosos" acordistas que, apesar de serem poucos, ignorantes e maus dão as cartas, se bem que viciadas, neste jogo sujo da negociata da Língua. Por vezes, isto acontece: dura, mas não perdura.
Também sei que quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de homem (no meu caso, de mulher) obedecer a leis injustas, nenhuma tirania pode escravizá-lo (escravizar-me), diz-nos Mahatma Gandhi.
Gandhi dizia que não devemos perder a fé na Humanidade. A Humanidade é um oceano, e se algumas gotas do oceano estiverem sujas, o oceano não ficará sujo; dizia ele que a diferença entre o que fazemos e o que somos capazes de fazer é suficiente para resolver a maioria dos problemas do mundo.
Contudo, sem acção, não vamos a lugar nenhum, é que um grama de prática vale mais do que toneladas de pregação, dizia o sábio Gandhi.
É bem verdade. Hoje, 19 de Fevereiro de 2019, eu e um outro elemento do MPLP (Movimento Em Prol da Língua Portuguesa - que continua activo, para que se conste) estivemos numa acção, no Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim. O que fizemos, bem calculado, poderia ter pesado um grama, mas o essencial foi feito. Todos os restantes elementos do MPLP (cerca de uma centena) foram convidados. Mas decidiram não ver, não ouvir, não ler. É que ver, ouvir e ler dá muito trabalho. É mais fácil andar pelo Facebook a pôr “gostos” e “não-gostos” e a dizer “de fato não gosto do pato” … Enfim… Gandhi tinha razão: sem acção, não vamos a lado nenhum.
Mas eu não esmoreço. Não desisto. Persisto. E, como eu, um núcleo de desacordistas activistas, que fazem o trabalho de sapa.
Porque primeiro eles ignoram-te, depois eles riem-se de ti, depois eles combatem-te, depois tu vences.
Venceremos!
Devemos ser persistentes. Com o tempo, a oposição ao nosso redor desaparecerá.
O sucesso de qualquer luta é a persistência, em massa. Dizia Gandhi.
Mas onde está a massa, neste nosso país com um povo que diz não, apenas uma vez, e depois põe-se à janela a ver passar a banda?
Onde estão todas estas vozes que já disseram não ao AO90, e estão emudecidas (salvo raras excepções)?
Sejam congruentes, sejam autênticos, sejam os vossos verdadeiros EUS. Dizia Gandhi. E dizia mais. Dizia que a felicidade é quando o que tu pensas, o que tu dizes e o que tu fazes estão em harmonia.
É isto que nos faz crescer e evoluir.
Não, não desistirei de defender a minha Língua Materna. O meu mais precioso instrumento de trabalho, que os desinformados e ignorantes, por opção, os servilistas, os escravos do Poder, os comodistas e os acomodados estão a tentar destruir, por desconhecerem o poder e a magia das palavras, quando escritas com todo os seus atavios.
Quando me desespero, lembro-me de que, ao longo da História, os caminhos da verdade e do amor sempre venceram. Tem havido tiranos e assassinos (da Língua Portuguesa) e, por algum tempo, eles podem parecer invencíveis, mas no final, são sempre derrubados. Penso nisto. Sempre. Tal como o meu Mestre Ghandi pensava.
E penso também numa frase de Miguel de Cervantes, que viu os seus carrascos serem castigados: «Deus suporta os maus, mas não eternamente».
E é nestes dois pilares do Saber, que deposito todas as minhas esperanças de ver a minha Língua Materna devolvida ao meu País.
Isabel A. Ferreira
A CPLP é uma comunidade constituída por Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste. O que unia estes países era a Língua Portuguesa mais ou menos uniformizada na sua essência e diversificada na sua especificidade, à excepção do Brasil, que criou uma outra língua, distanciando-se do Português, na fonética, na ortografia, na sintaxe, no léxico, na acentuação e até na semântica.
A dada altura, foi introduzida nesta comunidade de países de Língua Portuguesa, a Guiné-Equatorial, que não fala Português, mas passou a integrar (à pressão e, entre outros, por interesses económicos) a Língua Portuguesa (que ninguém fala) nas línguas oficiais do país, a Castelhana e a Francesa, apenas para se entranhar na CPLP.
E Portugal, um país que se diz democrático, permitiu unir-se por laços fantasmas, a um país que vive numa terrível ditadura militar, e cujo presidente foi apontado pela revista Forbes como o oitavo governante mais rico do mundo, apesar do seu país ser considerado um dos mais pobres da Terra, e onde se usa o canibalismo como arma psicológica de guerra.
Depois temos Cabo Verde, um país aparentemente lusófono, mas onde a maioria do povo nunca deixou de falar os seus dialectos, nomeadamente o Crioulo Cabo-Verdiano, uma língua crioula, de base lexical portuguesa. Como os restantes outros países ditos lusófonos, Cabo Verde aderiu ao AO90, com bastantes benefícios para a mais importante editora local: a do escritor Germano Almeida.
No entanto, em 2017, a Língua Portuguesa passou a ser ensinada em Cabo Verde como segunda língua (língua estrangeira) e o Crioulo Cabo-Verdiano passou a ser a língua oficial de Cabo Verde. Pela lógica das coisas, Cabo Verde está fora da lusofonia.
No entanto o chefe do Estado cabo-verdiano, José Carlos Fonseca, preside a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
É bem verdade que a CPLP não gira apenas ao redor da Língua Portuguesa, gira essencialmente ao redor de negócios, onde, no entanto, também está incluída a negociata da Língua, através da qual uns tantos mercenários enchem os bolsos.
Nesta negociata do AO90, que está a destruir a Língua Portuguesa, em Portugal, e apenas em Portugal, não colaboraram Angola, Moçambique, Guiné Bissau e Timor Leste. E embora São Tomé e Príncipe tivesse assinado o dito, e dito que aderiu, na verdade, naquele País, a língua mais falada e utilizada é a Língua Francesa, e percebe-se bem porquê: os seus vizinhos não são Portugueses. São Franceses.
Dito isto, que espécie de Comunidade de Países de Língua Portuguesa é a CPLP? Terá razão de existir? Há quem diga que não. E eu sou uma delas.
Portugal é um país territorialmente pequeno, mas já teve uma ALMA GRANDE. Agora não tem mais. E mais pequeno fica, quando se verga aos interesses dos estrangeiros, porque não tenhamos dúvidas: todos estes países (à excepção da Guiné-Equatorial, que nem sequer é para aqui chamada) são nossos irmãos. São. Mas até entre irmãos deve reinar a máxima: amigos, amigos, negócios à parte, para que o caldo não se entorne. Mas todos eles são fundamentalmente países estrangeiros, livres e autónomos. Com culturas próprias, riquíssimas, bastante diversificadas, incluindo as variantes linguísticas. Algo que cada país deve preservar para si próprio.
E todos, à excePção de Portugal, estão a preservar as suas culturas e a tratar da vida deles.
Portugal é o único que se está nas tintas para a sua Cultura, para a sua Língua e para a sua Identidade.
E eu, como cidadã portuguesa LIVRE, envergonho-me dos governantes que actualmente desgovernam Portugal, sem espinha dorsal. No futuro serão recordados como aqueles que optaram pelo lado errado da História. E isto é muito triste.
Isabel A. Ferreira
«Isso é tão insano que quem vê de fora deve pensar que é anedota ou que somos um país de retardados mentais», diz C. Paulo Freitas.
Concordo plenamente. As coisas chegaram a um ponto tal, que só mesmo atrasados mentais (não confundir com deficientes mentais) continuam a manter esta insanidade ortográfica.
Na questão da Língua (mas não só), Portugal é o rebotalho do mundo, porquanto jamais nenhum país (em 193) transformou a sua Língua Materna, numa língua esfarrapada.
Fonte:
No Programa «O Último Apaga a Luz» - Episódio de 01 de Fevereiro na RTP3, a propósito da Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, que procura a revogação imediata da Resolução da Assembleia da República (que não faz lei) que determinou a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, a escritora Inês Pedrosa salienta que «O Acordo Ortográfico é uma aberração científica e sempre foi muito criticado por vários pareceres de especialistas. Não uniformiza, cria maior distância entre Portugal e Brasil e impossibilita que percebamos a lógica da língua. Além disso, nunca foi ratificado por todos os países da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Ou seja, não temos acordo nenhum.»
E que não temos acordo nenhum já o Brasil o disse, em 11 de Janeiro de 2019, na Rádio Câmara, da Câmara dos Deputados - Palácio do Congresso Nacional (Brasília):
Só os governantes portugueses, cegos por alguma luminosidade obscura, não conseguem ver o óbvio, e insistem no erro.
E o erro custará bastante caro a Portugal, além de o lançar no caos linguístico e no desprestígio, ou seja, na perda de influência, de autoridade e de identidade.
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