«O Acordo Ortográfico é uma aberração. É estúpido e não deixa pensar» (Maria do Carmo Vieira).
Ontem, no espaço de comentário do Jornal das 8, da TVI, Miguel Sousa Tavares analisou os 10 anos em que Portugal se viu atrofiado pelo Acordo Ortográfico de 1990, imposto a quase toda a Administração Pública, às publicações no Diário da República, bem como a todo o sistema de ensino (público, particular e cooperativo) pela Resolução do Conselho de Ministros (RCM) nº 8/2011 (ilegal e inconstitucional) e NÃO por decreto, conforme referiu o jornalista Pedro Pinto, porque a RCM não tem validade de lei. Tem a natureza jurídica de um regulamento administrativo, e um regulamento ou uma RCM não são decretos. (***)
Professora Maria do Carmo Vieira, em entrevista á TVI
Ver vídeo da entrevista aqui:
https://www.facebook.com/watch/?v=469570420450454
A entrevistada foi a Professora Maria do Carmo Vieira, numa altura em que se conclui que Portugal poderá ser o único país a usar a grafia imposta aos Portugueses em 2009. Maria do Carmo Vieira é uma grande defensora da Língua Portuguesa, que pediu a reforma antecipada, como recusa ao ensino de disparates aos seus alunos; e Miguel Sousa Tavares (anti-acordista) fez de Advogado do Diabo, uma vez que nenhum acordista teve a coragem e a hombridade de dar a cara e ir ao programa defender o que, ficou ontem bem claro, é indefensável, até porque, se fosse defensável, pelo menos um acordistazinho teria aceitado o convite, e dito de sua justiça.
O MPLP (Movimento em Prol da Língua Portuguesa) congratula-se com esta iniciativa da TVI, esperando que ela sirva para esclarecer os menos esclarecidos deputados, que ainda não se aperceberam de que insistir no erro, é muiiiiito insano.
Porém, por falta de tempo ou por simples esquecimento, ficaram por dizer algumas coisas importantes, e outras foram mal esclarecidas.
Para Miguel Sousa Tavares, assumidamente contra o Acordo Ortográfico, sobretudo desde 1991, (e para todos os defensores da Língua Portuguesa) a assinatura de acordo com outros países, no Brasil, que veio a definir o novo acordo «é um dos maiores casos de abuso cometidos na nossa democracia», e Portugal poderá ser o único país a usar o acordo ortográfico.
Uma maravilha! Não é? Parvamente sós. Como sempre.
«Todos teremos a ganhar com o não destroçar a Língua Portuguesa», afirmou Maria do Carmo Vieira, admitindo que o Acordo Ortográfico «é estúpido e não deixa pensar». Nesta entrevista, Maria do Carmo Vieira refere ainda que só não vê isto quem não ama verdadeiramente a Língua Portuguesa, que é o caso dos envolvidos nesta farsa.
Miguel Sousa Tavares afirmou, numa declaração de interesses, antes de continuar para a entrevista conjunta, com Pedro Pinto, a Maria do Carmo Vieira, que «cinco senhores, que não tinham nada que fazer, queriam ir ao Brasil à Academia das Ciências, precisavam de um pretexto, e o pretexto foi fazer um Acordo Ortográfico com o Brasil, que o Brasil não tinha pedido e impingiram-nos isso à força».
Não foi bem assim, Miguel Sousa Tavares.
Segundo uma investigação do Jornal O DIABO, publicada em 05/12/2015, sob o título O Negócio do Acordo Ortográfico que pode ser consulta na íntegra neste link:
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-negocio-do-acordo-ortografico-172469
diz-se que «O projecto (AO90), nascido da cabeça do intelectual esquerdista brasileiro Antônio Houaiss, foi desde o início um empreendimento com fins lucrativos, apoiado por uma poderosa máquina política e comercial com ramificações em Portugal.
Portanto não foram cinco servilistas que quiseram ir ao Brasil, mas sim, o Brasil, através de Antônio Houaiss é que chamou os servilistas portugueses, para a tal negociata. E Portugal, na mais profunda demonstração da sua vocação para a subserviência, aceitou o negócio, sem pestanejar.
O texto do Jornal SÁBADO mostra, preto no branco, a negociata (mais do que negócio) do AO90, que conduziu à decadência da Língua Portuguesa, apenas porque uns tantos “intelectais” (o termo é mesmo este) mercenários decidiram pôr sete países (Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde (que adoptou o Crioulo Cabo-Verdiano como Língua Oficial, e a Língua Portuguesa como língua estrangeira, assim é que é Miguel) São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), que mantinham uma ortografia normalizada, clara e escorreita, a grafar à brasileira. Daí que Cabo Verde tenha adoptado o Crioulo Cabo-Verdiano como Língua Oficial, e a Língua Portuguesa como língua estrangeira (assim é que é Miguel).
E, se bem que nada tenhamos contra a grafia brasileira (e que isto fique bem claro) que pertence unicamente ao Brasil e aos Brasileiros, e faz parte da norma linguística da Língua (oriunda da Língua Portuguesa) que os políticos brasileiros escolheram para o Brasil, não podemos aceitá-la como nossa, porque além de não ser nossa, retira Portugal do seu contexto Europeu, uma vez que a Língua de um Povo é a sua identidade, e nós não somos brasileiros.
Maria do Carmo Vieira referiu, e muito bem, que a ortografia é uma norma, e não pode ser decretada. Poderia ter acrescentado, aquando da alusão do Miguel em relação às consoantes mudas, que elas, lá por não se lerem, têm uma função diacrítica, e ainda que haja uma geração de crianças, que foram enganadas e lhe impingiram o AO90, e a escrever incorreCtamente a sua Língua Materna, elas, se vão para a escola, é para APRENDER. Logo, se se disser a essas crianças (como eu já disse) que andaram a ser enganadas, e que a partir de agora irão aprender a escrever correCtamente o Português, a Língua delas, que é para isso que estão na escola, e se lhes perguntar qual das grafias preferem, elas dirão em coro, que preferem aprender a Língua Portuguesa com todas as letrinhas nos respeCtivos lugares, porque é a Língua delas. Porque, como disse e muito bem, Maria do Carmo Vieira, que AMA a Língua Portuguesa, aprender correCtamente a nossa Língua ajuda a pensar.
Ora aqui é que está o grande problema: aos governantes portugueses não interessa um povo que saiba pensar, por isso obrigam as crianças a escreverem "incorrêtamente", para que não venham a ser adultos PENSANTES, mais difíceis de serem subservientes.
Os coordenadores do MPLP
Isabel A. Ferreira
Francisco João Da Silva
(***) Para mais informação sobre a inconstitucionalidade e a ilegalidade da RCM nº 8/2011, sugerimos a leitura dos textos inseridos nos seguintes links:
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/comunicado-no-2-do-movimento-em-178490
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/comunicado-do-movimento-em-prol-da-176592
Para os menos informados, aqui também deixamos a sugestão de dois livros absolutamente imprescindíveis, para se compreender a ABERRAÇÃO do AO90, de que falou a professora Maria do Carmo Vieira, porque hoje, só é ignorante quem quer, e o ignorante optativo é o pior dos ignorantes:
- O Acordo Ortográfico de 1990 Não Está em Vigor – Prepotência do Governo de José Sócrates e do Presidente Cavaco Silva, do Embaixador Carlos Fernandes (Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa – Guerra e Paz Editores
- Por Amor à Língua Portuguesa – Ensaio genealógico-filológico, científico-linguístico e pedagógico-didáctico, visando a superação crítica do actual Acordo Ortográfico / 1990, de Fernando Paulo Baptista (Filólogo em Humanidades Clássicas pela Universidade de Coimbra) – Edições PIAGET
Um texto de Hélio Alves, oportuno e assertivo.
«E não adianta dizer: “mas eu só quero unificar a minha grafia!”. Resposta: “Unifica, sim, mas só naquilo que nós mandamos!”
É a democracia. É festejar o 25 de Abril. É o Portugal moderno que continua a não passar duma terra estrangeira e desconhecida onde há (alguma) gente que ainda fala muito bem português.»
Por Hélio Alves
«Estava eu, há muitos anos, numa paragem de autocarro (lá, tem outro nome) na cidade do Recife, Pernambuco, e fiz uma pergunta qualquer sobre o transporte a uma senhora de certa idade, de vestido e trato fino, que também esperava autocarro. Ela respondeu-me amavelmente, e depois não resistiu a dizer-me: “Fala muito bem português!”. Eu sorri, e repliquei: “Obrigado, mas é natural: eu sou de Portugal”. Então, com ar de quem não estava satisfeita, disse-me ela assim: “Mas fala muito bem!”. Esta história é verídica; a memória não me deixa garantir que se passou exactamente assim, mas foi evidente que a minha referência a Portugal não a fez pensar na coincidência de ela falar uma língua chamada português. Para ela, a palavra Portugal representava uma terra estrangeira, algures no planeta, algures, talvez até, no próprio Brasil. Eu podia ter dito Cangostas de Cima, mas, além de Cangostas ficar com óptima reputação pela soberba dicção dos seus habitantes, o resultado seria idêntico.
Vem isto a propósito do facto de o chamado “acordo ortográfico de 1990” estar cada vez mais pelos cabelos politicamente. Do ponto de vista linguístico, não há nada que o salve. Resta o acordo politico, isto é, o facto de vários países terem subscrito esta luminária típica da inteligência e cultura dum Santana Lopes. Países que, no fim das contas, não são os 8 da praxe, mas apenas 3 (o amigo não ouviu falar do Segundo Protocolo Modificativo? Pois informe-se).
Vale a pena ignorar a burrada? Valeria, se não se desse o caso de o dito “acordo” ser obrigatório nas escolas portuguesas. Os professores têm de ensinar aquela coisa incompetente, que repugna à ciência e até à mera sensatez, senão podem ser penalizados na carreira. Os alunos têm de fazer sentido duma coisa que não faz sentido, ou seja, decorar um punhado de palavras que sabem que se escrevem assim segundo o “acordo”, e rezar para que não tenham de escrever outras que desconhecem.
Os exemplos do politicamente insuportável são aos montes. Segundo o “acordo”, um brasileiro pode escrever “perspectiva” e “retrospectivo”, mas um português não pode. O português quer escrever assim, mas não deixam. Será que os brasileiros sabem que o português, ao escrever essas palavras como eles, é penalizado nos exames escolares? Pois é, do jardim de infância à tese de doutoramento, se escrever como brasileiro, toma lá que já levaste! A nota baixa. Imaginem um português que responde em Portugal a um exame sobre perspectiva, essa inovação fundamental da Modernidade: tantas as vezes que escrever “à brasileira”, tantas em que lhe baixam a nota. E não adianta dizer: “mas eu só quero unificar a minha grafia!”. Resposta: “Unifica, sim, mas só naquilo que nós mandamos!”»
É a democracia. É festejar o 25 de Abril. É o Portugal moderno que continua a não passar duma terra estrangeira e desconhecida onde há (alguma) gente que ainda fala muito bem português.
Fonte:
https://www.facebook.com/helio.alves.7946/posts/2311284348891866
Começando pela posição da Sociedade Portuguesa de Autores, que continua a não utilizar as regras do Acordo Ortográfico, que são mais desregras do que regras, e seguindo com a opinião de alguns cidadãos, que se opõem a esta invasão linguística, que dá pelo nome de Acordo Ortográfico de 1990, que nenhum país de expressão portuguesa, à excepção de Portugal, está disposto a concordar. Daí não haver razão nenhuma para continuar com esta farsa.
«Os livreiros têm de ser chamados à pedra; o Santos Silva merece um enxovalho público; o Marcelo agacha-se; quanto ao PS, tem de ser desafiado a não vilipendiar mais a Língua Portuguesa.» (M. Figueiredo, via e-mail.)
Não podia estar mais de acordo, M. Figueiredo. Os livreiros deviam ir à falência, como pena do crime de lesa-língua; Santos Silva, o kapo de serviço, para a destruição da Língua Portuguesa, terá o seu enxovalho, no momento certo; Marcelo ficará para a História com a alcunha de Marcelo Rebelo de Sousa, o Subserviente; o Partido Socialista será perpetuado na lista do maior predador da Língua Portuguesa, e espero que seja penalizado nas eleições que se aproximam. (Isabel A. Ferreira)
«Agora que a petição foi entregue e o Brasil está a discutir a possível desvinculação do AO90, é que os acordistas se lembraram todos de escrever artigos a defender o dito cujo! Devem estar a tremer porque afinal o plano de desprezar a opinião pública sobre esta matéria não resultou como eles esperavam. Ignorantes.» (M. Castro, no Facebook).
E como ignorantes que são, o que andam por aí a defender só prova essa ignorância, que brevemente terão de engolir com sorrisinhos amarelos. (Isabel A. Ferreira)
«O argumento de que iria ser difícil retornar ao Português de Portugal é uma falácia. Em toda a Administração Pública seria necessário que o corrector ortográfico fosse actualizado. Com este passo, a grafia e a acentuação entrariam, facilmente, no hábito dos utilizadores, pois, quem ainda escreve à mão, em pouco ou nada adaptou o (des)acordo ortográfico.» (J. Moreira, Blogue O Lugar da Língua Portuguesa)
Exacto, caro J. Moreira. Esse é um “desargumento”. Claro que é uma falácia, como tudo o que anda ao redor do AO90. Bastava o corrector ortográfico, na Administração Pública, ser como o meu, que é um caça-acordês e repõe as consoantes mudas, a acentuação e a hifenização correCtamente, para que as coisas normalizassem.
Mas também não acredito que os funcionários públicos não conseguissem tornar a escrever “direCtor” em vez de “diretor”, ou “recePção” em vez de “receção”, se passaram a maior parte da vida deles a escrever com os cês e os pês nos respectivos lugares, e a acentuar “pára”, do verbo parar, e a hifenizar fim-de-semana (um nome masculino que se dividiu em três palavras diferentes: substantivo masculino + preposição + substantivo feminino), e deixou de ser fim-de-semana (período que decorre desde a noite de sexta-feira a domingo à noite) para poder ser o final de uma qualquer semana, que pode começar a uma quinta-feira, num ciclo de sete dias, mas enfim, quem engendrou este acordo, ou nada sabia da Língua ou, se sabia, estava com a “ganza”.
Quem escreve à mão, escreverá à portuguesa. Isto de dizer que o AO90 está implantadíssimo é outra falácia. Cada vez aparecem mais publicações em BOM PORTUGUÊS, e por esse Portugal afora há muito, mas muito povo que nem sabe o que é o “acordo”.
Os acordistas, quando falam do acordo, só se enterram, a eles e ao acordo. E ainda bem que assim é. A ignorância optativa nada constrói, e um país não avança quando anda a navegar no nada. Por isso, não percamos a esperança. O AO90 não tem qualquer hipótese de futuro.
Isabel A. Ferreira
Ler o que Sua Excelência disse é uma coisa. Ouvir é outra.
«Lá vem a Nau Catrineta, que tem muito que contar, ouvi agora senhores uma história de pasmar»…
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa (ou deverei dizer República Luso-Brasileira?) dá uma entrevista no Palácio de Belém, usando um sotaquezinho brasileiro, e diz ele: «Estou a fazer um enorme esforço para não falar à brasileira». Mas falou.
(Ver vídeo mais abaixo).
Sim, senhor Presidente da República Portuguesa, deve ficar preocupado, preocupadíssimo, porque são muitos os Portugueses que, depois do que ouviram, na entrevista que deu ao jornalista brasileiro Pedro Bial, ficaram surpreendidos, decePcionados, estarrecidos, arrepiados, horrorizados, tristes, com a subserviência do Chefe de Estado Português a um país que, apesar de irmão, é estrangeiro. Ficará para a História com dois cognomes: «Celinho das Selfies" e Dom Marcelo Rebelo de Sousa, o Subserviente.
Repare-se nas construções frásicas: meu irmão, meu avô, meus filhos, meu pai, minha campanha, de minha conta. Já não diz o meu irmão, o meu avô, os meus filhos, o meu pai, a minha campanha, da minha conta… (surripia os artigos, como fazem os Brasileiros).
E na fonética: prôfêssor, dêlirante, ôlhando, rêcandidátura, dêcido, considêrá, pôndêrá, Vêrão, Brásiu, eu me lembro, me levou, êducáção, subêsêcretário de estado, meu estilo é diferente, as duas comunidades se descobriram, uma relação muito formau, me adaptei, está acompanhando (usa os gerúndios).
O que é isto?
Este não é o Português Europeu. O Português do meu País. Não é o Português que o Chefe de Estado Português deva usar, quando está a representar Portugal, como Chefe de Estado Português.
Isto é inadmissível. Muito mau, senhor presidente. Não faça esforço. Já se espalhou. Está no Palácio de Belém, como Presidente da República, não como avô, ou pai, ou amigo dos brasileiros. Nem sequer está no Brasil. Também não está num "café" a bater um papo com um amigo brasileiro, ou com os netos.
Estava a dar uma entrevista no Palácio de Belém, como Presidente da República Portuguesa, a uma estação de televisão brasileira.
Pedro Bial não prescindiu da Língua dele, para entrevistar o PR português. Porém, o PR português prescindiu da sua Língua para dar a entrevista. Quanta subserviência!
Agora entende-se porque se remete ao silêncio, na questão do AO90, e despreza a opinião pública portuguesa, e não responde, como é de seu DEVER, às cartas que lhe escrevemos, a este respeito.
Não surpreende que a sua popularidade esteja a cair vertiginosamente. É que nem todos, em Portugal, são bajuladores.
Ao ouvir esta entrevista, senti vergonha do Chefe de Estado do meu País. E, inegavelmente, Marcelo Rebelo de Sousa não representa Portugal, nem milhares de Portugueses, que pensam como eu. Não me representa.
Isabel A. Ferreira
Um interessante texto, de Zé Morgado, no Blogue Atenta Inquietude, para reflectir o AO90.
Origem da imagem: https://acasadevidro.files.wordpress.com/2015/03/f-pessoa.jpg
Por Zé Morgado
Segundo o Expresso, a Assembleia da República irá dentro de algum tempo apreciar um conjunto de recomendações de alterações no Acordo Ortográfico de 1990, o acordo do nosso descontentamento. As recomendações foram elaboradas por um grupo de trabalho constituído pelo Parlamento. Será ainda apreciado um projecto de lei decorrente de uma petição subscrita por mais de 20.000 cidadãos que exigem a sua revogação.
Enquanto for possível reverter a situação criada pelo AO90 vale a pena insistir, importa que não nos resignemos. É uma questão de cidadania, de defesa da Cultura e da Língua Portuguesa.
É importante recordar que apenas Portugal, S. Tomé e Príncipe, Brasil e Cabo Verde procederam à ratificação. Em 2018 a Academia Angolana de Letras solicitou ao Governo angolano que o Acordo Ortográfico de 1990 não seja ratificado e há uma semana a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados do Parlamento do Brasil aprovou um requerimento de audiência pública para que seja debatida a revogação do AO ao que parece por indicação do Presidente Bolsonaro o que será porventura umas raríssimas ideias positivas vindas da figura.
Como tantas vezes tenho escrito, desculpem a insistência e não inovar, entendo, evidentemente, que as línguas são estruturas vivas, em mutação, pelo que requerem ajustamentos, por exemplo, a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras, o que não me parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como norma.
Mas o que se fez foi transformar a Língua Portuguesa numa confusão impossível de concertar dadas as diferenças entre o Português falado pelos diferentes países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Há dias, em vários órgãos de comunicação social encontrava-se um título onde se lia “Para brisas de Realidade Aumentada para tornar os carros mais seguros”. Como? A frase faz sentido em Português? O que são “brisas de realidade aumentada” e o que têm a ver com a segurança dos carros? Ah, afinal é pára-brisas. E não podia continuar a ser?
A ideia da impossível harmonização não colhe e não é um problema. Basta atentar no inglês ou no castelhano em tantos países que têm estas línguas com língua oficial sem necessidade de um “acordo”.
O que na verdade se verifica, existem exemplos extraordinários, é a transformação da Língua Portuguesa numa mixórdia abastardada. Por coincidência, ontem assinalou-se o Dia da Língua Portuguesa, talvez fosse boa ideia protegê-la.
Como tenho escrito e repito, vou continuar a escrever assim, “desacordadamente”.
***
Comentário:
CM disse...
As línguas serão "estruturas vivas", como dia, e a criação de novas palavras é um facto. Já quanto à necessidade da mudança da grafia das palavras, convirá reflectir...
O inglês não necessitou de mudanças e o francês teve uma há 250 anos.
Os alemães mudaram algumas grafias mas o resultado foi o aparecimento de sequências de três consoantes iguais...
A grande reforma do espanhol, exceptuadas as mudanças de hifenização, mudou 10 ou 15 palavras (sic) sendo que uma delas foi Qatar, que a reforma propõe que se escreva em espanhol, Catar... Propõe, porque como afirmava uma ilustre linguista e académica de número da Real Academia de Espanha, não se pode mudar a ortografia numa democracia, motivo pelo qual todas as mudanças são meramente indicativas.
"Reformas" como a de 1911, nenhuma democracia a teve.
Uma outra questão, num país onde o mito do progresso tem tanto sucesso, consistirá em verificar o que é "evolução": a evolução consiste na passagem de um estado inferior a outro superior e mais complexo... Na ortografia, consiste na estabilização da mesma - o que exige uma escolarização de qualidade e universal - acompanhada de hábitos de leitura e de escrita. Portugal é um dos países com maior analfabetismo na Europa e a taxa de decréscimo nos últimos 40 anos é menor que a mesma taxa dos 40 anos anteriores à década de 70 do século passado.
Quanto à iniciativa - tudo o que seja acabar com o acordo é bom, mas em Portugal rege o princípio da prevalência da lei internacional, pelo que o acordo - que legalmente não está em vigor em lado nenhum! - o acordo, dizia-se, mesmo apenas assinado, não pode ser modificado sem ser por ratificação unânime de todos os signatários do mesmo!
Conviria que Portugal deixasse de viver, no que ao estado de direito diz respeito, no país das maravilhas.
Rever? Rever o quê? O que há para rever no AO90?
Bem, se me disserem que é para repor todas as consoantes mudas que o AO90 surripiou, e dar o dito pelo não dito no que respeita à acentuação e hifenização mal-amanhadas, alinhavadas à pressa, o que provocou mais caos do que ordem na escrita, se é para repor a grafia da Língua Portuguesa, então será uma medida inteligente.
Tudo o resto será uma tentativa de colar cacos.
Imagem reconstituída daqui: https://medium.com/@pedrograca13/kintsugi-4d16a67040b5
Se é para colar os cacos deixados pela imposição ilegal do AO90, a pergunta é: o que andou a fazer o Grupo de Trabalho criado pelo Parlamento para “estudar” (ou fazer-de-conta que ia estudar?) a aplicação das novas regras (desregradas) para a Língua Portuguesa (que é como quem diz, o modo de grafar à brasileira) para chegar à conclusão de que é preciso “rever” e não eliminar urgentemente o aborto ortográfico antes que faça mais mossa do que já fez?
É óbvio que ninguém quer uma revisão, porque uma revisão seria admitir que o AO90 tem alguma ponta por onde se lhe pegue. O que não é verdade. Até o Brasil quer a REVOGAÇÃO. Por que há-de Portugal pretender rever o que os outros países estão a descartar?
Porém o que mais me chamou a atenção nesta notícia, que pode ser lida mais abaixo, foi o que disse o assessor cultural do presidente da República, Pedro Mexia:
Lê-se:
«Mas, afinal, o que está em cima da mesa? Não é provável que a revogação do acordo aconteça em Portugal. Apesar da frontal discordância perante o AO, o escritor e assessor cultural do Presidente da República, Pedro Mexia, reconhece que seria “problemático” anular o acordo, depois de este ter sido aplicado na Administração Pública e nas escolas — “foi dado um passo maior do que as pernas e até alguns dos maiores defensores estão a assumir que foram feitos erros e disparates».
Como disse, Pedro Mexia? O maior disparate é dizer que seria “problemático” anular o acordo. Isto é passar um atestado de incapacidade intelectual a todos os que cegamente ou servilmente começaram a escrever incorreCtamente a Língua, que passaram anos a escrever correCtamente, antes de a imposição forçada da grafia brasileira.
Neste grupo dos incapazes de tornar a escrever como sempre escreveram, não estão incluidos as crianças e os jovens, porque estes têm capacidade para aprenderem e desaprenderem tudo e mais alguma coisa, sem o menor problema. Os adultos, que fazem parte da administração pública, não terão a capacidade de tornar a escrever como sempre escreveram? Serão assim tão inscientes? Isso não serve de desculpa, não é um argumento racional, para que se mantenha o erro, enquanto nos restantes países o AO90 está a ser rechaçado.
Não há problemática nenhuma, Pedro Mexia, o que há é má-vontade. Voltar atrás vai dar algum trabalho, mas não é impossível. Impossível é manter os Portugueses e os funcionários públicos a escrever a mixórdia ortográfica criada pela aplicação do AO90, a exemplo do primeiro-ministro de Portugal e da comunicação social servilista, que nem à brasileira, nem à portuguesa, o que escrevem é à balda.
Veja-se aqui um bom exemplo da mixórdia ortográfica gerada pelo AO90, por parte de quem tinha o DEVER de falar e escrever correCtamente a Língua do país, do qual é primeiro-ministro, e no seu Tweeter, dá uma no cravo outra na ferradura, à baldex (para usar uma linguagem muito na moda).
(Imagem recebida via-email)
Não é da racionalidade destruir uma Língua, e ficar parvamente sós, apenas porque se acha que uns poucos já não são capazes de voltar a escrever correCtamente, o que levaram anos a aprender. Mas que raciocínio mais retorcido será este? É assim tão mais difícil desaprender o que em menos de dez anos aprenderam? Não posso aceitar esta premissa sem perplexidade.
Quanto às crianças, nas escolas, não haverá o mínimo problema. Se não houve para mim, que com a maior facilidade, aprendi e desaprendi a escrever e a falar ora à brasileira, ora à portuguesa, durante a minha infância, adolescência e juventude, sempre que me deslocava daqui para lá, e de lá para cá, e não sou nenhum supercérebro, não haverá o mínimo problema com as crianças e jovens de hoje. Isto é algo que pode ser comprovado pelas Ciências da Mente, porque o cérebro dos mais jovens está mais disponível para a aprendizagem, do que os cérebros menos jovens.
Portanto, o “argumento” ah! o acordo já foi aplicado e é “problemático” voltar atrás é um não-argumento.
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Regressemos à notícia assinada por
Alexandra Carita e Christiana Martins
Nota: os trechos e os comentários a negrito são da minha responsabilidade.
Parlamento revê (des)Acordo Ortográfico
«Grupo de trabalho constituído pelo Parlamento recomenda alterações. PS é o único partido que não quer mexidas. Uma década depois de entrar em vigor, o acordo pode voltar à estaca zero.
(O PS lá terá razões que a racionalidade desconhece).
Dez anos depois de ter sido aprovado, em Maio de 2009, o Acordo Ortográfico (AO) deverá agora ser alterado. É isso que defende o grupo de trabalho criado pelo Parlamento para estudar a aplicação das novas regras para a Língua Portuguesa. A recomendação consta do relatório final que será entregue nas próximas semanas. Mas o polémico tratado pode mesmo vir a ser revogado, como exige um projecto-de-lei que resulta de uma petição assinada por mais de 20 mil pessoas e que deu entrada no mês passado na Assembleia da República. Tudo isto numa altura em que, no Brasil, a discussão sobre a revogação do AO está na ordem do dia e em que Cabo Verde está prestes a declarar o crioulo como língua oficial. A reviravolta, esperada por tantos ao longo da última década, pode mesmo acontecer. O Governo está contra.
(Ao Governo, estando enterrado nesta negociata obscura até ao pescoço, não convém mexer nela, para que a verdade não venha ao de cima.)
Os partidos não são consensuais na análise ao AO e prepara-se um esgrimir de opiniões. PSD, CDS, PCP e Bloco de Esquerda querem alterar ou mesmo revogar o documento. O PS é o único que quer que tudo fique como está. A Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) é o mais radical dos documentos a ser alvo de votação em plenário: pretende a “suspensão” por “prazo indeterminado” com vista a serem “elaborados estudos complementares que atestem a sua viabilidade económica, o seu impacto social e a sua adequação ao contexto histórico, nacional e patrimonial em que se insere”. As 20 mil assinaturas entregues conseguiram o registo de um projecto-de-lei e aguarda-se a definição da data da votação no hemiciclo, que deverá ocorrer ainda nesta legislatura.
Os signatários exigem a revogação da Resolução da Assembleia da República que aprova o segundo protocolo modificativo do AO, no qual se decidiu que a sua ratificação por apenas três dos então sete países de língua oficial portuguesa (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, e, mais tarde, um oitavo chamado Timor-Leste) era o bastante para que o documento entrasse em vigor (ver texto em baixo).
Mais: o projecto-de-lei designa ainda a ortografia anterior ao AO, vigente até 31 de Dezembro de 2009 e nunca revogada, como aquela a utilizar no presente. Maria do Carmo Vieira, membro da comissão representativa da ILC, defende que “não se trata de um braço-de-ferro, mas sim de uma luta pela inteligência, pelo carácter científico e pelo patriotismo”. “Aperfeiçoar o que é medíocre e está errado não me parece válido”, conclui.
Os deputados terão duas oportunidades para reflectir. O relatório conclusivo da “Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990” será apresentado na Comissão de Cultura nas próximas semanas e a sua votação parece ser mais fácil, bastando a iniciativa legislativa de um deputado ou grupo parlamentar para chegar a plenário.
O que querem os partidos
“No entendimento do grupo de trabalho, o AO carece, no mínimo, de ser aperfeiçoado”, afirma José Carlos Barros, deputado do PSD, coordenador do grupo de trabalho e relator do relatório final. “É evidente que a unificação ortográfica não se conseguiu. Na prática, o que está a acontecer é que Portugal está a aplicar o AO à força por uma resolução do Conselho de Ministros”, continua o deputado. Para o PSD, o Acordo foi um passo “não ponderado”. Na mesma linha está a deputada centrista Teresa Caeiro: “Não conheço ninguém que se reveja no AO”. O documento, afirma a representante do CDS-PP no grupo de trabalho, “foi absolutamente precipitado e levado a cabo por meia dúzia de académicos, que conseguiram levar em frente uma decisão que ninguém exigia”. Teresa Caeiro acredita que “mais vale reverter o erro do que perpetuá-lo” e defende, por isso, a revogação do Acordo. “O meu desejo é que se tenha a honestidade e a humildade para parar e rever o AO.”
O PCP, pela voz de Ana Mesquita, garante que as incongruências na aplicação do tratado são gritantes. “É a boa altura para se fazer a discussão sobre o AO e arranjar uma saída elegante do imbróglio em que estamos metidos”.
A tendência de voto do Bloco de Esquerda parece ir no mesmo sentido. Luís Monteiro assinala que existem críticas a fazer ao AO e tem muitas reservas em alguns pontos. O bloquista considera “pertinente uma iniciativa legislativa sobre o acordo e apoia a sua discussão em plenário”. “O AO pode ser melhorado”, diz, advertindo, no entanto, que a posição do BE é contra a revogação.
(Como é que algo que é rejeitado por milhares de escreventes, e que já ficou provado que é um aborto ortográfico, pode ser melhorado? Não pode melhorar-se algo que não é passível de ser melhorado. É como tentar dessalgar um arroz de ervilhas salgado, ou tornar sã uma fruta podre).
Sozinho, aparece o Partido Socialista. Diogo Leão, o deputado que acompanhou as reuniões do grupo de trabalho, diz, que “o PS não tem qualquer iniciativa em vista”. Para o partido do Governo, o acordo está em vigor e o “Estado respeita-o, as novas gerações já foram educadas com a nova ortografia e toda a Administração Pública o utiliza”. “Sendo assim, não temos motivos para o questionar”, conclui Diogo Leão.
(Bem, o PS com este modo de pensar, passa um atestado de estupidez não só aos Portugueses, como às novas gerações e principalmente à administração pública, que passou vários e compridos anos a grafar à portuguesa, e uns poucos a grafar à brasileira, e agora já não se lembra o que aprendeu na infância. Isto até pode acontecer a quem tem cérebros mirrados, mas não a quem tem cérebros activos, que é o caso das novas gerações. E há que ter em contra que é IRRACIONAL manter um erro, assente num argumento também tão IRRACIONAL).
Ao Expresso, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, diz que “os sistemas de ensino, editorial, jurídico e científico estão hoje sintonizados e a concertação político-diplomática com os outros países de língua portuguesa nesta matéria é ainda significativa”. Por isso, conclui o ministro que tutela o Acordo Ortográfico, “não se afigura a necessidade ou a oportunidade de, no momento, efectuar uma reversão”.
(O que diz o kapo de serviço para a destruição da Língua Portuguesa é uma redonda mentira. Ninguém está sintonizado em nenhum dos sistemas referidos, e muito menos existe concertação político-diplomática com os outros países. Zero concertação. Mas esta é a função de um kapo, que todos nós esperamos que seja afastado da próxima governação, para que a racionalidade regresse a Portugal.)
No entanto, feitas as contas, se o PS ficar isolado na votação do relatório conclusivo do grupo de trabalho, o AO será mesmo revisto e discutido com os votos do PSD, CDS, PCP e BE. O PAN não teve assento neste grupo de trabalho.
Cúmplices de Bolsonaro
Questionado pelo Expresso na viagem à China, o Presidente da República remete o desafio de alterar a situação para os políticos: “Estive em Moçambique há três anos e dizia-se que ia haver uma posição; em Angola iam tomar uma posição; no Brasil, periodicamente diz-se o mesmo, mas depois não é tomada posição nenhuma. Desde o início do meu mandato que me falam nisso [revogação] e o que tenho visto é que, quer em Portugal quer nos outros países, é uma matéria recorrentemente tratada, mas não há nenhuma iniciativa política. Mesmo no Parlamento não há”.
(O senhor presidente anda muito distraído e tão focado na sua pessoa que não está a par do que se passa ao seu redor. Acorde, senhor Presidente! Existe um país chamado Portugal, do qual é o presidente. Esqueceu-se? A Constituição da República Portuguesa não está a ser respeitada. Portugal violou várias convenções e o senhor não tem conhecimento disto? E ainda diz que não há nenhuma iniciativa política, quando devia pressionar o Governo para que revogue o AO90, que está a destruir a nossa identidade?)
Enquanto chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa diz que não pode formular juízos. Ainda assim, mantém as críticas que fez no passado. Em 2016, Marcelo, em declarações polémicas ao Expresso, referindo-se à não-ratificação do acordo por Angola e Moçambique, abriu a porta a uma revisão da vigência do AO. “Não é claro que o objectivo diplomático esteja a ser atingido e, caso estes países decidam não o adoptar, impõe-se uma reflexão sobre a matéria, que é de competência governamental, mas o Presidente não deixará de sublinhar a utilidade e necessidade de reflexão se se verificar que o objectivo primeiro não é atingido.”
(Enquanto Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa formula juízos de tudo e mais alguma coisa, excePto da Língua Portuguesa, que ele, como Chefe de Estado, devia defender e não defende).
Até hoje, passados três anos, nem Angola nem Moçambique ratificaram o tratado. E agora é o Brasil que ameaça sair. Há uma semana, em Brasília, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou um requerimento de audiência pública para que seja debatida a revogação do AO.
No documento a que o Expresso teve acesso, o deputado Jaziel Pereira de Sousa, do Partido da República, uma das siglas de direita, afirma que o pedido vem na sequência de um desejo do Presidente Jair Bolsonaro. Ainda antes deste requerimento oficial, Filipe Martins, assessor especial de Bolsonaro para Assuntos Internacionais, publicou no Twitter a intenção do Governo. “Depois de nos livrarmos do horário de Verão, temos de nos livrar da tomada de três pinos, das urnas eletrónicas e do acordo ortográfico.”
Em Portugal, um dos principais rostos da defesa do Acordo Ortográfico, Carlos Reis, professor da Universidade de Coimbra, diz que não existe uma estratégia para a língua portuguesa em nenhum dos países enquanto “o discurso político se limitar a declarações de circunstância, sem conteúdo nem propósito de continuidade”. E deixa um alerta aos partidos portugueses que discordam do acordo: “Resta saber se acabarão por se descobrir cúmplices inesperados de Jair Bolsonaro.”
O que vai mudar
Mas, afinal, o que está em cima da mesa? Não é provável que a revogação do acordo aconteça em Portugal. Apesar da frontal discordância perante o AO, o escritor e assessor cultural do Presidente da República, Pedro Mexia, reconhece que seria “problemático” anular o acordo, depois de este ter sido aplicado na Administração Pública e nas escolas — “foi dado um passo maior do que as pernas e até alguns dos maiores defensores estão a assumir que foram feitos erros e disparates”.
(Pedro Mexia é assessor do presidente. E quem é assessor do presidente, normalmente diz ámen.)
É precisamente para corrigir alguns desses erros que o grupo de trabalho constituído pelo Parlamento propõe o aperfeiçoamento do AO. Na base está o documento “Sugestões para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, entregue na AR em 2017, pela Academia de Ciências de Lisboa, o órgão consultivo do Governo no que respeita à língua portuguesa. Os três pontos-chave que determinam as alterações ao Acordo prendem-se com a acentuação gráfica, as sequências consonânticas e o emprego do hífen. Nada mais nada menos do que as regras que mais confusão têm gerado na escrita pós-AO. Exemplos multiplicam-se, mas vejam-se os mais comuns. O presente do indicativo da 3ª pessoa do singular do verbo parar (que, com o acordo, passou a escrever-se “para”) voltará a ter acento (“pára”), deixando de se confundir com a proposição para; no caso das consonantes mudas, voltam a ser escritas em algumas palavras para não gerar ambiguidade, como acontece com recessão (económica) e receção (de hotel); finalmente, no que respeita à hifenização, palavras com sentido único como faz-de-conta recuperam o hífen, bem como as palavras com formas reduzidas, afro-brasileiro ou euro-asiático.
(Aqui falta dizer que a acentuação e a hifenização são importantes para Brasil e para Portugal, porém para os Portugueses, além da hifenização e da acentuação há a grafia brasileira mutilada, que NÃO pertence à Língua Portuguesa, e essa tem de ser eliminada. A grafia brasileira é do Brasil. Não é de Portugal. As consoantes MUDAS têm de ser devolvidas à Língua Portuguesa. A revogação do AO90, para o Brasil, reduz-se apenas à acentuação e à hifenização, porque as consoantes mudas, lá, continuarão a ser suprimidas, tal como são desde 1943. Para Portugal a revogação do AO90 inclui a hifenização, a acentuação e a GRAFIA. Não esquecer deste pormenor importante: a grafia portuguesa tem de ser devolvida a Portugal).
Para quem pensa que as alterações poderão ser uma catástrofe para a economia livreira, João Alvim, presidente da APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros), desdramatiza: “O AO tem de evoluir e melhorar, muitas regras têm de ser analisadas, repensadas. Se tivermos de fazer alterações onde é necessário, fá-lo-emos progressivamente”. Mas não deixa de anunciar o pior, caso se tenha que alterar tudo, o que obrigaria a uma revisão completa dos livros técnicos, de ensino, manuais e livros de referência. “Nem quero pensar nisso”, diz João Alvim.
(Assim como se atirou ao lixo, os livros e os manuais correCtamente escritos, assim se atirará ao lixo os livros e manuais incorreCtamente escritos. As editoras deviam ser penalizadas pela ganância que tiveram, na destruição da Língua, mirando lucros com os novos livros acordizados. Daí que a falência era a pena que deviam levar pelo crime de lesa-língua.)
Com Filipe Santos Costa
Dez anos de legalidade pouco ou nada clara
Dos oito Estados subscritores, só Portugal cumpriu o que estava assinado. Os outros ou nunca ratificaram, ou não cumprem, ou querem sair.
Se Jair Bolsonaro cumprir a intenção de revogar o Acordo Ortográfico (AO) no Brasil, a ideia de uma língua transatlântica ficaria esvaziada em cerca de 220 dos mais de 250 milhões de falantes de Português. Mas esta hipótese é apenas o mais recente problema numa longa história de percalços num projecto que beneficia a fonética em detrimento da ortografia e começou a ser concebido no fim dos anos 80 e ainda hoje não tem aplicação plena. Amanhã comemora-se o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura e a 13 de Maio passam dez anos da efectiva entrada em vigor do AO, mas pouco há para comemorar.
Além da proposta brasileira, esta semana, o secretário executivo da CPLP em deslocação a Luanda reuniu-se com a ministra da Educação de Angola para discutir o acordo. Questionada pelo Expresso, a CPLP não esclareceu o conteúdo da reunião. Sabe-se, contudo, que Angola, juntamente com Moçambique, nunca ratificou o AO, mantendo muitas reticências à sua aplicação. Mas, mesmo quanto aos países que o terão ratificado, como São Tomé e Príncipe, o cumprimento prático do AO é questionável.
(São Tomé e Príncipe está-se nas tintas para o AO90. A língua dominante é o Francês.)
Tudo começou em Janeiro de 1990, quando Pedro Santana Lopes foi nomeado secretário de Estado da Cultura por Cavaco Silva com duas incumbências fundamentais: concluir o Centro Cultural de Belém e fazer o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Em apenas uma semana daquele ano, delegações dos sete Estados — Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe — aprovaram os contornos do AO na Academia de Ciências em Lisboa. Em Maio de 1991, o tratado foi aprovado pelo Parlamento português, com votos favoráveis do PSD, CDS; o PS dividiu-se e o PCP absteve-se; e o então Presidente, Mário Soares, ratificou a decisão.
O primeiro protocolo modificativo surgiu em 1998 e o sentido originário do AO começou a ruir, com a supressão da exigência da entrada em vigor simultânea nos sete Estados subscritores. A AR aprovou as alterações e Jorge Sampaio ratificou-as em 2000. Em 2004, os chefes de Estado e de Governo da CPLP decidiram que, passados 24 anos da assinatura formal, era melhor era baixar a fasquia, tendo em conta que o acordo ainda não havia entrado em vigor por não ter sido ratificado por todas as partes contratantes. Assim, para vigorar, o AO necessitaria “apenas” que três Estados depositassem a ratificação no Ministério dos Negócios Estrangeiros português. Mas continua por esclarecer se tal critério foi cumprido e, se foi, se não está manchado por alguma ilegalidade processual.
A ratificação expressa aconteceu apenas em Portugal e Cabo Verde. São Tomé terá finalizado o processo de ratificação em 2006, mas não é conhecido o depósito da ratificação. Questionado pelo Expresso, o MNE português afirma apenas que o AO “encontra-se em vigor em Portugal e também no Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe”. E que “Guiné-Bissau e Timor-Leste terminaram os respectivos processos internos de aprovação, embora ainda não tenham procedido ao depósito”.
(O kapo de serviço tem um discurso chapa 5, onde a mentira impera. Além de estar a prestar um péssimo serviço a Portugal está a enganar os Portugueses).
No Brasil, os problemas vêm de trás. O Congresso aprovou o tratado inicial em 1995, que não foi promulgado pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2008, o “Diário Oficial” — equivalente do “Diário da República” — referia que quaisquer alterações ao AO teriam de ser alvo de intervenção do Congresso, mas o protocolo modificativo de 2004 só terá sido promulgado em 2008 por Lula da Silva sem discussão prévia na Câmara.
Christiana Martins
NOTA: transcrição integral de notícia e “caixa” publicadas no Expresso de 04 de Maio de 2019. Texto convertido para Português.
Fonte:
Ágórá si pêrrcébi pôrrquê Márcélu ândá tão cáládjinhu à prôpósitu du àcordô ôrrtôgráficô dji 1990.
Em entrevista a Pedro Bial, apresentador de televisão, jornalista, escritor, cineasta e poeta brasileiro, o nosso (?) presidente da República disse o seguinte (e reparem bem na construção frásica): "Não imagina, a esquerda portuguesa me ia comendo vivo", relata, explicando que utilizou essa expressão não por os dois pensarem o mesmo, mas porque brasileiros e portugueses são "povos irmãos".
Irrmãos gêmeos? Mônôzigóticos?
Contudo, isto não é tudo.
Naturalmente, o que vemos nesta imagem é uma brincadeirinha, que pode ser consultada no link mais abaixo. De qualquer modo é uma brincadeirinha assente em algo que transparece para a opinião pública, devido à postura que o presidente da República Portuguesa faz questão de ostentar, em relação a tudo o que é brasileiro, incluindo a Língua, principalemnte a Língua, da qual, sabemos, gosta pra burro e, pelo que vemos, também fala pra burro.. (*)
Origem da imagem:
http://www.penultima-hora.com/marcelo-rebelo-sousa-mostra-disponivel-presidente-do-brasil-part-time/
Nesta entrevista a Pedro Bial, pode ler-se: «Nesta conversa gravada há cerca de dois meses e meio, no Palácio de Belém, em Lisboa, o Presidente da República fala pausadamente, com um leve sotaque brasileiro, e recorda o seu breve encontro com o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em Janeiro, em Brasília, à saída do qual "até disse que tinha sido um encontro entre irmãos".»
Uns irmãos que antes da eleição caminhavam um para cada lado.
Muitos de nós temos irmãos a viver há anos no Brasil, e que falam Brasileiro (ou se preferirem, para não ferir os ouvidos dos que acham que tudu seri um (como dizia alguém que conheci) falam à moda brasileira, e quando nos juntamos, cada um fala à moda de cada um, e não à moda um do outro. Ou vão dizer-me que começamos a falar à brasileira, e eles à portuguesa, para demonstrarmos que somos irmãos de verdade?
Dizem-me: «Ah! Mas Marcelo Rebelo de Sousa estava apenas a ser gentil com o Bial, para que ele pudesse perceber o que o presidente estava a dizer!»
Não, não foi isso, porque o Bial não é daqueles que não percebem o que os Portugueses falam (penso eu, não conheço pessoalmente o Bial, mas pelo que sei dele, não é desses).
Então o que aconteceu? Que subserviência é esta?
Até concebia que Marcelo, como cidadão Marcelo, pudesse brazucar, assim como alguns Brasileiros portugam quando falam connosco, brincando aos irmãos.
Porém, Marcelo Rebelo de Sousa estava no Palácio de Belém, na qualidade de Presidente da República Portuguesa, a dar uma entrevista, e deu-a falando com um leve sotaque brasileiro. A troco de quê? Da irmandade luso-brasileira? Daquela subserviência que explica o silêncio a que Marcelo se remeteu, no que respeita ao desacordo que o acordo ortográfico gerou entre os países de expressão portuguesa?
Mas isto não é tudo. Diz a notícia: «Enquadra assim a sua intervenção: «Meu estilo é estar próximo das pessoas e, nesse sentido, eu interfiro, porque há um evento, há um drama, há uma tragédia, eu estou lá. E isso às vezes é um pouco incómodo para outros protagonistas políticos, é verdade".
Pois! Meu estilo, à brasileira. O PR já não diz o meu estilo, à portuguesa. Falta pouco para ele se dirigir aos Portugueses, do modo seguinte, para estar mais próximo dos irmãos e restante família:
«Quirido povo pôrrtugueis! Não estou brincando, não. Estou só fálando cômo nossos irrmãos brásilêirus, párá qui elis sáibam qui nós gôstâmus muito du módo dji fálá dêlis. Párá eu, fálá assim, é um prázê». (Atenção isto é uma simples transcrição fonética!)
Não estou a ver o presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, a fâláre à tugâ pârâ âgrâdáre ao irmão purtugâ, numa entrevista a um jornalista português, ainda que a brincar. Não estou.
Também não estou a ver a Senhora May a deixar o seu peculiar british accent e empregar o american accent para agradar ao senhor Trump, em entrevistas a jornalistas norte-americanos, ainda que a brincar.
Mas, o nosso PR é assim: dado a agradar a todos, excePto a quem deve: aos Portugueses que têm espírito crítico. Porém, sempre ouvi dizer que irmãos, irmãos, línguas à parte.
A citada entrevista pode ser lida, na íntegra, aqui:
(*) Pra burro – expressão brasileira, que já ouvimos Marcelo utilizar numa conversa informal, captada pelo jornalista Victor Moura-Pinto, no programa “Seis Por Meia Dúzia”, a qual significa muito, em grande quantidade ou em alto grau, e que eu também, por vezes, uso, no seio familiar.
Isabel A. Ferreira
Em nome da Língua Portuguesa, que lamento estar em muito maus lençóis, e a escorrer para o cano de esgoto, qual líquido fétido, partilho este texto de Manuel Matos Monteiro, que muito nos conta.
Manuel Matos Monteiro - Autor, jornalista, formador e revisor
«Como se fala e escreve hodiernamente — do triunfo do portinglês e do ubíquo “tipo”
O Português já não pede uma opinião, um comentário, uma apreciação — agora debita incessantemente: “Dá-me o teu feedback.”
A malta já não combina encontrar-se num determinado lugar, local, sítio. A malta, tipo, combina num spot. Tipo, é mais cool. Num spot, o mood é outro.
Elas sonham com o estrelato k-pop — porque as japonesas também podem ser “assim tão cool” .
Os trabalhadores independentes ou por conta própria parecem ter desaparecido — restam freelancers.
Acabaram-se as rábulas — há sketches. Tipo, já não está na moda. Que digo?! Já não é trendy.
O “público-alvo” é para totós. O target vassourou-o, tornando-nos mais cosmopolitas. Qual público-alvo, qual mercado-alvo, quais destinatários. Mesmo quando alguém tem um determinado objectivo, não raro, diz que tem um determinado target. “O meu target para este ano é vender tipo quinze casas. E ‘tou cá com um feeling de que ainda chego tipo às vinte.”
Os desportistas não têm um bom ou mau desempenho, começam a não ter sequer uma boa ou má exibição; têm crescentemente uma boa ou má performance. Sucede o mesmo com os músicos nos concertos — qual boa ou má actuação... tipo boa ou má performance. Até os políticos nos debates e as próprias empresas são avaliados pela sua performance. Verdadeiramente importante é que os políticos e os trabalhadores (tipo, “os activos”) das empresas tenham skills e know-how, de modo que haja um boom no output e os CEO, tipo, evitem os downsizings, ou que, pelo menos, tipo, haja um delay nos downsizings e o staff se vá mantendo. [1]
Trabalho “a tempo inteiro” e “a tempo parcial”? Part-time e full-time, caramba.
A sobredosagem (de medicamentos, de informação, de futebol, de tudo) morreu. É oficial. Hoje, só há lugar para a overdose.
Já ninguém age com discrição ou procura passar despercebido ou é desprovido de magnetismo: cabe tudo no grande e impreciso chapéu do low-profile.
Os especialistas e os peritos tendem a ser substituídos pelos experts.
Prospectos? Folhetos? Panfletos? Desdobráveis? (Que não significam exactamente o mesmo.) Flyers!
Boletins informativos? Newsletters!
Padrão? Modelo? Norma? Nível? Standard, standard, standard, standard. Até já usamos “estandardizar” com naturalidade, ora essa.
À boca da baliza, alguém falha uma oportunidade? Claro que não. Falha ou desperdiça a chance (oriunda do francês, mas largamente disseminada por via do inglês).
Contratação externa? Recrutamento externo? Externalização? Subcontratação (de serviços)? Outsourcing e "mai" nada!
Oficinas, oficinas de formação, oficinas experimentais, seminários, formações, sessões de trabalho, cursos, cursos práticos — tudo isso para quê? Workshops, senhores!
Pagamentos em dinheiro (vivo)? Pagamentos em numerário? Pagamentos em cash!
Já ouviu falar da ilicitude das vendas com prejuízo? Ah, ah, ah. (Hoje, terá de ser em inglês: ha ha ha ou lol lol lol — ou uma série de bonecos a rir.) Que é isso? Dumping. Ah!, em inglês nos entendemos.
“Ei” — que é isso? (Uma forma de chamar, cumprimentar, mas que também pode ser usada com os sentidos de “Alto lá!”, “Alto aí!”, “Tem calma”, “Sossega”.) Só admissível (e reconhecível?) em inglês: hey. “Ups?” Só em inglês também: oops.
Piratas informáticos? Hackers, por favor.
Passatempos? Hobbies!
Senhas? Passwords!
Aspecto? Visual? Aparência? Imagem? Look!
Disposição? Configuração? Formato? Estrutura? Desenho? Modelo? Esquema? Esquisso? Esboço? Bosquejo? Rascunho? Layout e draft dispensam essas e muitas outras. Há matizes quanto ao significado de ambas? Who cares?
Hiato? Fosso? Pára, pára: gap.
Subestimado, sobrestimado, subvalorizado, sobrevalorizado — quem é tão tolo que ainda caia numa dessas? Underrated e overrated.
“Autofotografia”? “Autofoto”, que tem menos sílabas? NUNCA. Mas estão dicionarizadas. Whatever, selfies forever.
Mentalidade, pensamento, lógica, raciocínio? Ainda não deu conta do mindset? Vá-se actualizando... vá, tipo, fazendo uns updates.
[1] Citando Ricardo Araújo Pereira, da crónica “Anestesia Linguística”, da Visão, “[toda a gente se sente] habilitada a contestar os despedimentos impostos por um patrão, mas ninguém se atreva a criticar um downsizing determinado por um CEO”.
Fonte:
Hoje, em Portugal, são muitos aqueles que não sabem escrever correCtamente a sua Língua Materna. Desde o menino da escola primária, aos que podem e (des)mandam no Parlamento Português. Contudo, existem muitos mais a escrever como deve ser.
E anda por aí o Instituto Camões a vender gato por lebre e a dizer que “Há um crescimento generalizado da Língua Portuguesa em diferentes latitudes», e isto não corresponde à verdade. A verdade é que andam por aí a chamar Português, a uma linguagem que se grafa à brasileira, distanciada da matriz greco-latina, de que o Português europeu é originário, e, portanto, já deixou de ser portuguesa.
Origem da imagem: https://twitter.com/100penemcabeca
A língua que se grafa por aí, promovida pelo inúteis Instituto Camões e Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), entre outras entidades e governantes, presidente da República e ministro português dos Negócios DOS Estrangeiros incluídos, que estão ao serviço da Brasilidade, é exclusivamente brasileira, à excepção dos hífens e acentos que, com o AO90, são comuns a ambos os países: Brasil e Portugal, e algumas palavras, que no Brasil se grafam correCtamente, e em Portugal grafam-se à parvo, como receção, exceto, aspeto, espetador (por espeCtador), ótico (por óPtico) enfim, uma parvoíce inacreditável.
O ministro dos Negócios DOS Estrangeiros, Augusto Santos Silva (uma espécie de kapo de serviço, para a Destruição Total da Língua Portuguesa (DTLP), apontado para continuar o "trabalho" de aniquilar a Língua no próximo Governo, e esperemos que já lá não esteja, por ser o principal propagandista do maior desastre linguístico ocorrido em Portugal, e não deve continuar no (des)governo do País), afirmou ao Expresso que «os sistemas de ensino, editorial, jurídico e científico estão hoje sintonizados e a concertação político-diplomática com os outros países de língua portuguesa nesta matéria é ainda significativa. (...) não se afigura a necessidade ou a oportunidade de, no momento, efectuar uma reversão», o que não corresponde à verdade. Tudo isto é mentira, senhor ministro. Nada, nem ninguém está sintonizado, muito menos há concertação político-diplomática com os outros países de Língua Portuguesa, portanto afigura-se a necessidade urgente de seguir as pisadas de Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe (que se está nas tintas para o AO90) e agora o Brasil, e mandar às malvas o “acordo” mais desacordado de sempre.
A quem pretende enganar, senhor ministro Augusto Santos Silva?
A propósito do episódio protagonizado, há dias, pelos partidos de esquerda e de direita unidos, com o PS de fora, no que respeita à aprovação da contagem integral do tempo de serviço dos professores, ouviu-se Santos Silva referir-se a esta dita “coligação negativa” e ao que ela aprovou, que era algo ilegítimo, imoral e inconstitucional, esquecendo-se o senhor ministro de que ilegítima, imoral e inconstitucional é a imposição do AO90 em Portugal, que está a destruir a Língua Oficial dos Portugueses, e com isto ele, Santos Silva, não está nada, nada, nada preocupado, e a ilegitimidade, a imoralidade e a inconstitucionalidade aqui já é admissível? A governação é pautada, vergonhosamente, por dois pesos e duas medidas.
O Grupo de Trabalho constituído pelo Parlamento, para estudar a aplicação das novas regras para a Língua Portuguesa, recomenda alterações no AO90. O PS é o único partido que não quer que se mexa nisto, talvez porque mexer nisto implique algo que o PS tenta esconder, deixando, porrém, o rabo de fora.
Uma década depois de entrar em vigor, o acordo pode voltar à estaca zero? Devia ter voltado há muito. Desde o início que se sabe que o AO90 é um descomunal erro gráfico, uma aberração, um verdadeiro aborto, sem pés nem cabeça, mas, essencialmente, uma monumental fraude. Andaram todo este tempo a brincar ao quê?
O AO90 não tem qualquer futuro, e agora que o Brasil está em vias de o rasgar, o que restará para manter? Portanto, recomendar “alterações” é recomendar que se remende o que está absolutamente esburacado, falhado, em todos os sentidos e em todos os países. O AO90 tem de ser revogado, e quanto mais depressa melhor, porque o futuro é já amanhã, e o ontem foi um falhanço absoluto.
Passados dez anos de destruição da Língua Portuguesa, o AO90 não deve ser alterado. Deve ser rasgado. Simplesmente rasgado, porque o AO90, não tendo pés nem cabeça, é um enjeitado pela maioria dos países de expressão portuguesa, e como tal, inviável.
Por que haveria Portugal de ficar parvamente só a segurar ao colo este aborto ortográfico?
Isabel A. Ferreira
«No Brasil preparam-se para rasgar o Acordo Ortográfico de 1990.»
Um excelente texto de Sarin, no Blogue Nem Lixivia nem Limonada, para reflectirmos Brasil e Portugal, na senda dos desencontros, nomeadamente, dos linguísticos, há séculos.
No Brasil deturpa-se a História e a Língua comuns. Era a minha maior tristeza, quando por lá andei a estudar. E à Língua chamavam-lhe Portuguesa. E ainda chamam, apesar do fosso cavado pelo desportuguesamento da Língua, desde 1943.
E agora temos de levar com mais esta: "Portugal colonizador quer colonizar a Língua Portuguesa"? Já lá vão 187 anos, desde o Grito do Ipiranga, e o Brasil ainda não encontrou o seu próprio rumo, e Portugal ajuda à missa.
Tudo corria bem, até que alguém se lembrou de colonizar a Língua Portuguesa, e Portugal aceitou. Assim é que é.
(Isabel A. Ferreira)
"Fernando Pessoa", por Almada Negreiros
«Pátria e Língua desacordadas»
Por Sarin
«No Brasil preparam-se para rasgar o Acordo Ortográfico de 1990.
Podem mesmo mudar a língua e o português do Brasil passar a ser brasileiro. É uma opção política, embora não propriamente protagonizada por Bolsonaro. Talvez que a ênfase colocada nos símbolos pátrios a exacerbe, mas não é de sua autoria.
Na verdade, desde 1911 e do primeiro acordo ortográfico que a ideia estaria latente em algumas elites intelectuais e políticas. Mas, aparentemente, este AO90 reacendeu o debate inflamando-o até às cinzas.
Intriga-me a mecânica do processo: o acordo com que pretendiam harmonizar a escrita e consolidar uma língua vai acabar por criar duas línguas em países que durante duzentos anos se entenderam. Há quem ao AO90 chame Caixa de Pandora, para mim sempre se assemelhou a um boomerang.
Não tenho argumentos técnicos nem políticos para defender se deve ou não deve ser uma nova língua, e confesso que não me interessa desde que continue a perceber o que dizem e escrevem do lado de lá.
Gostaria também de dizer "desde que perceba o que sentem", mas... não percebo. De todo.
Sinto-me a viver outra dimensão perante alegações como "Portugal colonizador quer colonizar a Língua Portuguesa", perante outras acusações que vou ouvindo e que mais me parecem tentativas de branquear a sua brasileira vergonha por em duzentos anos de independência não terem estancado aquilo de que nos acusam. Branquear não no sentido de lavar, mas de colar aos portugueses brancos de Portugal. No caso, os males da História, presente passado e futuro.
Não peço desculpa por me ter reconciliado com a História do meu país, mesmo com aquelas passagens vergonhosas, e não foram poucas!, ou aquelas horríficas, das quais imagino apenas esboços sem vislumbre real do imensas que foram.
Mas no agora o verbo conjuga-se no presente, não no pretérito. E o pretérito que a uns foi ensinado mais-que-perfeito e a outros imperfeito não é mais do que pretérito, simples.
Não aceito que me cobrem no presente qualquer dos pretéritos vividos e sofridos pelos nossos ancestrais. Sim, os meus avós também foram colonizados, também foram expulsos dos seus lares, também foram escravos, também morreram na gleba. E foram arrancados das casas que reconstruíram tantas vezes para atravessarem os mares e morrerem longe destes seus. Por isso respeitemos os mortos. Onde quer que tenham caído.
E não me queiram condoída pelas vossas línguas indígenas: em plena campanha, o vosso presidente anunciou pretender reduzir o espaço onde algumas ainda se podem considerar nativas! Onde esteve a vossa preocupação? Onde está, quando os índios que não dizimámos continuam a cair às vossas próprias mãos?!
Portanto, lambam as feridas como as lamberam os meus avós, como eu lambo as minhas. E avancemos, porque a gramática não pára o relógio e os vivos precisam de atenção, não de cucos!
Podemos construir sociedades melhores se aceitarmos que não podemos refazer a nossa História comum. Mas que podemos e devemos aprender com ela.
Afinal, em português (pt) ou em português (br), em língua portuguesa ou em língua brasileira, futuro grafa-se, ainda, da mesma exacta maneira.
Fonte:
https://sarin-nemlixivianemlimonada.blogs.sapo.pt/patria-e-lingua-desacordadas-73919
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