Quarta-feira, 31 de Julho de 2019

Acordo Ortográfico de 1990 ou a Conspiração do Silêncio!

 

Há já vários dias, lemos uns comentários sobre um pequeno artigo publicado neste Blogue.

Ver aqui:

«CABO VERDE JÁ DEPOSITOU JUNTO DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS (MNE) O INSTRUMENTO DE DENÚNCIA DO PSEUDO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990? OU HÁ AINDA MAIS ALGO ESCONDIDO?»

 

Este artigo diz respeito à questão de CABO VERDE ter rejeitado a Língua Portuguesa, e ter declarado o CRIOULO CABO-VERDIANO língua oficial daquele arquipélago, desde o ano lectivo de 2017, o que levou a esta pergunta:

 

MNE.png

 

Para se compreender melhor o porquê desta pergunta, aconselhamos que se leia um artigo do Jornal Público, do dia 25 Julho de 2019, sob o título «O Acordo Ortográfico ainda é uma caixinha de surpresas».  

Ver aqui:

https://www.publico.pt/2019/07/25/culturaipsilon/opiniao/acordo-ortografico-caixinha-surpresas-1880995

 

Pergunta essa que levanta o que se afigura cada vez mais como uma bomba relógio, ou seja, a impossibilidade, até à data, de acesso e verificação da existência dos instrumentos de ratificação do pseudo-acordo ortográfico de 1990, depositados junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

 

Aconselhamos novamente a leitura do artigo do Público, já referido, e do qual citamos o seguinte:

«O bem-amado kaiser não teve tempo para responder (tão ocupado que andará) a um requerimento do coordenador e relator do Grupo de Trabalho para a Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, onde este requeria acesso aos instrumentos de ratificação do AO depositados à guarda do MNE, o seu ministério. Em trinta dias (prazo legal para o governo responder a requerimentos deste tipo), a resposta foi o silêncio

 

 Ora bem, aqui temos a palavra chave: SILÊNCIO

 

Aqui não se trata de teorias da conspiração, mas sim de uma verdadeira CONSPIRAÇÃO do SILÊNCIO!  E, segundo reza o ditado: «Quem cala consente», e nós acrescentaríamos «consente e esconde?»    

  

Senão examinemos, estes três exemplos, embora haja mais.

 

1)- O Supremo Tribunal Administrativo (STA) examina desde 2014 a inconstitucionalidade do acordo ortográfico (Processo 897/2014).

 

Este prazo (2014-2019 = 5 anos) não respeita a jurisprudência dos Tribunais Europeus que, relembram que as sentenças ou acórdãos devem ser tomados em “prazos razoáveis” e, consequentemente, condena os Estados implicados, cujas custas e multas são pagas com o dinheiro do erário público, e não pelos verdadeiros responsáveis.   

 

Até à data de hoje, nada se sabe (pelo menos, no que diz respeito ao MPLP – Movimento em Prol da Língua Portuguesa) quanto ao andamento do Processo Nº 897/2014 do STA. Porquê então este silêncio?

 

2)- A situação é grave para o Património Imaterial de Portugal, do qual a Língua é um elemento/vector essencial.

 

Sem entrar em demasiados pormenores técnico-jurídicos, é facto que a Resolução do Conselho de Ministros (RCM) Nº 8/2011 é meramente um despacho normativo sem força de Lei e viola o artigo 112º nº 7 da Constituição da Nação Portuguesa (CNP) e, por conseguinte, não pode ser obrigatória para ninguém, em Portugal.   

 

 O que é Lei é o Decreto-Lei Nº 35.229 de 8 de Dezembro 1945, o qual NUNCA foi revogado por outro Decreto-Lei e, consequentemente, o PORTUGUÊS EUROPEU continua, de facto, a ser a LÍNGUA OFICIAL da Nação Portuguesa (artigo 11-3º da CNP), a qual não pode ser alterada para uma grafia estrangeira (no caso a brasileira) oriunda, sem dúvida, do Português, e isto sem uma Revisão Constitucional, a qual nunca seria aprovada pelo Povo Português. 

 

Os Tratados Internacionais (como é o caso do AO1990), em qualquer Estado de Direito, NÃO podem entrar em vigor por simples Resoluções do Conselho de Ministros (RCM 8/2011), ou mesmo através de Resoluções da Assembleia da República, ou Decretos Presidenciais, sem a prévia existência de uma Lei ou de um Decreto-Lei (cf. nºs 1 2 e 7 do artigo 112º e artigo 3º, nº 3 da Constituição).

 

Por conseguinte, o governo de Sócrates, violou escandalosamente a Constituição de um Estado de Direito ao mandar aplicar o abstruso AO199O, através da RCM 8/2011, e deu-se mesmo ao luxo de declarar  que ela tem por base, não uma Lei ou Decreto-Lei, mas sim o disposto na alínea g) do artigo 199 da Constituição, o qual nada tem a ver, com Tratados Internacionais !   (Carlos Fernandes, o AO1990, não está em vigor, página 79).

 

Esta prepotência é apenas digna de uma República das Bananas, e jamais de um Estado de Direito Europeu.

 

Todos sabemos que o Presidente da República Portuguesa é o garante da Constituição.  A Constituição foi violada várias vezes e o Supremo Magistrado da Nação pratica um silêncio atroante, a este propósito.

 

Porquê este silêncioO que é que este silêncio pode esconder?

 

3)- Violação da Convenção da UNESCO de 2013, para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (CSPCI) e consequente queixa contra Portugal.

 

Por cartas datadas de 7 de Setembro de 2018, e 7 de Janeiro de 2019, o Movimento em Prol da Língua Portuguesa (MPLP) apresentou queixa junto da UNESCO por violação da CSPCI, por Portugal.

 

O MPLP recebeu uma resposta da UNESCO por carta datada de 22 Março de 2019: ver Comunicado nº 2 do MPLP neste link:

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/comunicado-no-2-do-movimento-em-178490

que necessitou de uma resposta dada a 10 de Abril de 2019 e na qual o MPLP   teve de especificar que a violação da CSPCI não se limitava apenas ao artigo 2, mas abrangia igualmente os artigos 14 (a) (III) e (b), 11 (a) e (b) e (12 e 13) e, para tal, forneceu toda a Fundamentação Jurídica aplicável.

 

A instrução desta queixa segue o seu curso. 

 

E esperamos receber, na devida altura, a decisão que será tomada pelo Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial de Portugal, em aplicação do artigo 7 da CSPCI.

 

No primeiro caso (cartas de 7 de Setembro 2018 e Janeiro 2019), a UNESCO demorou sete meses a responder. O silêncio foi longo, mas foi quebrado.

 

No segundo caso (carta de 10 de Abril 2019), já lá vão quase quatro meses. Desta vez, será que o silêncio vai demorar menos tempo? Mais tempo?  Não sabemos.  

 

Mas o MPLP pergunta, então, desde já, e publicamente, àqueles que impõem o silêncio cá dentro de Portugal se não se vão privar de tentar impor igualmente o silêncio lá fora (através de eventuais pressões políticas e diplomáticas)?

 

Não o sabemos igualmente. Pois compete à UNESCO decidir se aceita a existência também do silêncio lá fora, ou não!

 

Se esse silêncio se mantiver, o MPLP ver-se-á obrigado a perguntar directamente à Directora-Geral da UNESCO, qual a razão desse eventual silêncio.

 

Sejamos, no entanto, optimistas, neste e nos outros casos acima indicados, pois há pressentimentos que nos levam a pensar que há razões para esperar que a Matriz da Língua Portuguesa e o Património Cultural Imaterial de Portugal saiam vitoriosos.

 

Os coordenadores do MPLP

(Movimento em Prol da Língua Portuguesa)

Francisco João Da Silva

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:49

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Terça-feira, 30 de Julho de 2019

«Admirável Língua Nova (Parte XI)»

 

«Uma das poucas certezas que podemos ter na vida: quanto mais fontes acordizadas consultamos para saber a nova ortografia, mais confusos ficamos.» (Manuel Matos Monteiro)

 

Um admirável texto de Manuel Matos Monteiro que prova por A+B que o acordo ortográfico de 1990 não tem qualquer possibilidade de ter futuro, no Planeta Terra, a não ser num caixotinho de lixo em cima de um foguete que o atire para o espaço. Pode ser que lá, nesse espaço, encontre uns seres mais compatíveis com o não-ser que este malparido AO90 representa.

É que no Planeta Terra, apenas uns poucos alienígenas sofrem da incapacidade de pensar uma Língua como a Portuguesa, que pertence à grande Família Linguística Indo-Europeia, e não a um parente afastado, sul-americano.

 

E não, como já li, o Português Europeu não é uma variante europeia da Língua Portuguesa. É a própria Língua Portuguesa, a original. Variantes são os outros modos de falar e escrever o Português, nos restantes países ditos lusófonos. e que devem continuar variantes, porque essa variedade só enriquece o Português. O AO90 empobrece-a, esfarrapa-a até ao tutano.

 

Manel.jpg

 

Texto de Manuel Matos Monteiro

 

«Imagine que há um novo artefacto. Imagine que o Estado decreta que tal artefacto tem de ser usado nas escolas e nos organismos públicos, substituindo um artefacto anterior. Imagine que tal artefacto desata a provocar inúmeros acidentes diários. Imagine que, ao cabo de um decénio, não há melhorias. Imagine ainda que os manuais de instruções sobre o artefacto divergem quanto à interpretação do manual de instruções do próprio artefacto. Passa a haver dois grupos: os que dizem que tal engenhoca se revelou uma catástrofe por ser uma péssima ferramenta e os que defendem que os problemas com a engenhoca se devem apenas à má utilização.

 

Eis a situação em que estamos. O artefacto chama-se “Acordo Ortográfico de 1990”. António Guerreiro chamou-lhe “uma máquina de fomentar erros, de criar aberrações e instaurar o caos ortográfico”. Nuno Pacheco afirmou recentemente na Feira do Livro: “O Acordo [Ortográfico de 1990] não é uma coisa com erros — é um erro com coisas.”

 

Há pouco tempo, uma pessoa que trabalha com traduções técnicas contou-me que um cliente alemão questionou a empresa portuguesa: porque têm aqui na memória de palavras as mesmas palavras escritas de duas formas? Como explicar ao alemão que houve um instrumento criado para aumentar “o prestígio internacional” da nossa língua, tornando-a, porém, mais diferente das demais, e cuja aplicação diária continua a criar dificuldades, hipercorrecções, que os dicionários divergem quanto à aplicação desse instrumento e que os tradutores podem consultar diferentes dicionários, que há palavras agora de dupla grafia que podemos escrever em função de pronunciarmos… ou não? Como explicar-lhe que “descaracterizámos” pode ser escrito de quatro formas? — Com acento ou sem ele, com cê antes do tê ou sem ele.

 

Do Priberam:

 

conceptualmente / adv.
derivação de conceptual

 

con·cep·tu·al·men·te /èpt/ou /èt/
(conceptual + -mente)
advérbio
De modo conceptual.
• Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990: concetualmente.

 

con·cep·tu·al /èpt/ ou /èt/
adjectivo de dois géneros
1. Onde se efectua a concepção.
2. Da concepção ou a ela relativo.
3. Relativo a conceito (ex.: mudança conceptual). = CONCEITUAL
• Dupla grafia pelo Acordo Ortográfico de 1990: concetual.

 

"conceptualmente", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013 [consultado em 29-07-2019].

 

Porque tem “conceptual” dupla grafia e “concetualmente” [sic] não?!

 

Os dicionários, os manuais e os prontuários acordizados não se entendem quanto aos cês e pês que permanecem, desaparecem ou são facultativos (dupla grafia). (Entre muitos outros: “lacticínio”, “láctico”, “conectar”, “asséptico”, “séptico”, “espectro”, “estupefacção”, “tactear”, “táctica”, “tacto”, “apocalíptico”, “perfeccionismo” “veredicto”, “característica”, “espectador”, “telespectador”.) De igual modo, não se entendem quanto às locuções que perdem ou não os hífenes. Quanto à própria acentuação e uso da maiúscula, também há divergências na bibliografia explicativa do Acordo. (Se quiserem nomes e fontes, aqui estarei.) Uma das poucas certezas que podemos ter na vida: quanto mais fontes acordizadas consultamos para saber a nova ortografia, mais confusos ficamos.

 

Independentemente da bondade dos propósitos do artefacto (palavra que vai aparecendo sem o cê, como registam os Tradutores contra o Acordo Ortográfico), há factos (outra palavra que vai aparecendo constantemente mutilada) estrepitosos: prontuários, manuais e dicionários da mesma editora conseguem divergir quanto aos cês e pês em não poucas palavras, e quanto aos hífenes nas locuções. Dicionários da mesma editora conseguem divergir de ano para ano, em sucessivas actualizações. Em se tratando de dicionários de português e dicionários de português-inglês/inglês-português da mesma editora, também há diferenças na forma como aplicam o Acordo. No âmbito dos dicionários digitais, as divergências são inúmeras e há reformas ortográficas mensais – tira o cê, põe o cê, tira o pê, põe o pê.

 

O programa Bom Português ensina-nos, a propósito da palavra “acupunctura”, que se mantém ou se elimina o cê conforme se pronuncia ou não a consoante. O (excelente) Novo Prontuário Ortográfico, de José M. de Castro Pinto, só regista, porém, com cê. Que fazer? Deveremos seguir a recomendação do livro sobre o Acordo que o Expresso divulgou? Cada escrevente deverá, pois, optar pela grafia que lhe parecer mais correta.

 

Serão todos os que colaboraram na feitura de tais fontes ignaros e preguiçosos, por não conseguirem capsular a “pronúncia culta”? Ou será tudo isto apenas o corolário de não se poder erigir ortografia (a grafia correcta) escorada no critério mais escorregadio, nada científico e nada prático: o critério da pronúncia, um elemento superlativamente flutuante e indomável no espaço e no tempo, e até de indivíduo para indivíduo? Qualquer pessoa que tenha estudado ou reflectido sobre a língua saberá que a ortoépia (a pronúncia correcta) é um código muito mais difícil de definir e domar do que a ortografia (a grafia correcta). O critério da pronúncia, note-se, não foi apenas decretado para extirpar cês e pês: “É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português.”

 

O mais irónico é que, com o instrumento anterior, o registo das consoantes mudas era algo perfeitamente estável, quer na lexicografia, quer na escrita do dia-a-dia (a propósito: “dia-a-dia” com o significado de “quotidiano” — o Houaiss e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda continuam a grafá-la com hífenes, mas a maior parte das outras fontes tirou-lhe os hífenes). Alguém vira escrito “actor”, “directo”, “óptimo” sem cê e pê? Se era tão difícil aprender tais ortografias, como jura a Nota Explicativa do Acordo, por que raio nunca ninguém viu ou falou de tais erros? Como é que um instrumento que veio para simplificar e unificar só criou confusões e divisões?

 

Quanto aos hífenes nas locuções, como seria possível aplicar, sem arbitrariedade, uma “regra” que decreta que “não se emprega em geral o hífen, salvo nas exceções já consagradas pelo uso”? Como é que alguém enfia “fim-de-semana” no saco “em geral”, tirando-lhe os hífenes”, e “pé-de-meia” ou “arco-da-velha” “nas exce[p]ções já consagradas pelo uso”? Eis um segredo que desde 1990 ninguém se atreve a desvelar. Como é alguém pode ensinar, aprender, definir a lista das que cabem no grupo “em geral”? Tal como o critério da pronúncia para fixar ortografia redundou na salgalhada “o dicionário A diz estar certo o que o dicionário B diz estar errado”, também a ideia de “em geral” se eliminarem os hífenes redundou noutro caos.

 

Diz-nos a Infopédia:

 

pé de atleta ou pé-de-atleta?
Com o Acordo Ortográfico, a palavra pé de atleta escreve-se com ou sem hífenes?
A forma correta é pé de atleta.


O Acordo Ortográfico elimina o hífen da maioria das locuções.

 

E como distinguir a maioria da minoria? Explicá-lo é impossível. Resta assobiar para o lado, afirmar que nada é perfeito, dizer que há muitos erros além da ortografia, invocar uma frase tão útil como oca, que dá para legitimar tudo, mas que nada diz: “A língua evolui.” É este o estádio indigente de argumentação a que os acordistas chegaram.

 

Dizem-nos que grave, grave é as pessoas errarem quanto ao i/e, j/g, o/u, s/z, ch/x, mas isso é atirar poeira para os olhos, porque o Acordo não mexeu nisso. Quem errava antes erra igualmente agora. Demais, o ubíquo erro do há/à continua como dantes. Porque não tiraram o h do início das palavras, dado que não se pronuncia? Por razões etimológicas, claro, afirmam seriamente os acordistas. Mas a pronúncia aqui não se sobrepôs à etimologia? Porquê? Tão incoerente como manter o acento em “pôr” para se distinguir de “por”, mas tirá-lo de “pára” que fica tal qual “para” (um par que apresenta uma elevadíssima frequência textual).

 

Verificámos até agora como a lexicografia aplicou o Acordo, demonstrando que não há sequer unificação na forma como o Acordo é interpretado. Sucede ainda que, todos os dias, escritores, tradutores, jornalistas, políticos, escreventes que tentam seguir o Acordo só o seguem às fatias, misturando-o SEMPRE com o anterior, e tropeçando sempre em hipercorrecções: antes, não havia patos de estabilidade, patos com o Diabo (Caim, de Saramago) nem patos com Satanás (pobre Camilo, o que te fizeram), nem milhões de “contatos”, nem “fatos consumados” nem “uniões de fato” (olá, Diário da República). Um debate sobre o Acordo Ortográfico, organizado pela editora Objectiva, é anunciado pela Feira do Livro como sendo organizado pela editora “Objetiva”. Que melhor exemplo para exibir o caos em que vivemos? Caos esse que vai mutilando palavras, apresentando coisas inauditas: “abruto”, “inteletuais”, “núcias”, “mição”, “helicótero”. A lista é interminável e abarca preeminentes figuras, publicações e instituições.

 

Quando Baptista-Bastos morreu, a RTP produziu o título: “Morreu Batista Bastos aos 83 anos”. Sem pê e sem hífen. Consulte-se a página dos Tradutores contra o Acordo Ortográfico, o sítio Aventar, entre outros, e veja-se uma colecção que nos diz: a ortografia caminha para ser um objecto museológico. Algo ainda facilmente observável: por que razão quem resiste ao Acordo praticamente não erra naquilo em que o Acordo mexeu, enquanto quem o adoptou escreve uma mistela dos dois Acordos com um terceiro inexistente que o novo fomenta? O incansável professor João Esperança Barroca envia regularmente (por vezes, quatro, cinco mensagens de correio electrónico diárias) a um conjunto de pessoas (obrigado por me incluir, caso esteja a ler) exemplos quase diários de como o Acordo não é seguido por quem apregoa tê-lo adoptado: não há órgão de comunicação social que escape.

 

No artigo científico “Sobre as origens estruturais do português brasileiro: crioulização ou mudança natural?”, de Maria Pereira Scherre e Anthony J. Naro, leio a seguinte definição da conhecida Navalha de Occam: entre duas ou mais teorias com as mesmas consequências empíricas, deve preferir-se a que for menos elaborada ou mais simples. A pergunta é simples: é o artefacto que é mau ou são os jornalistas, tradutores, revisores, escreventes, lexicógrafos todos incompetentes e ignorantes? Creio que qualquer um concordará que a teoria mais mais simples seja: o Acordo é mau (e como a palavra peca por escassa..).

 

Se o acento do “pára” era desnecessário porquanto aferível pelo contexto, por que razão quem adopta o Acordo sente necessidade de o usar para desfazer ambiguidades? Títulos respigados pelo sítio Aventar: “Maquinista para comboio para salvar cão acorrentado à linha ferroviária” ou “Maquinista pára comboio para salvar cão acorrentado à linha ferroviária”?, “Vida nova para Casillas no FC Porto” ou “Vida nova pára Casillas no FC Porto”?, “Tribunal para despejos num dia em que uma morte trava uma vitória” ou “Tribunal pára despejos num dia em que uma morte trava uma vitória”?, “Uma legislatura perdida para a Educação” ou “Uma legislatura perdida pára a Educação”?, “Salvio para a história” ou “Salvio pára a história”?, “Mourinho para Portugal” ou “Mourinho pára Portugal”? 

 

Ainda recentemente, como demonstraram os Tradutores contra o Acordo Ortográfico, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, um homem culto, escreveu neste jornal um artigo — metade em português, metade em acordês. Porque insistem se falham sempre? Jornalistas, escritores, tradutores, universidades, reitores que acreditam ter adoptado o Acordo demonstram-nos, todos os dias (rigorosamente, todos os dias), a dificuldade que é aplicá-lo, misturando regras dos dois Acordos e fabricando uma caterva de hipercorrecções. A situação é ainda mais estrepitosa quanto aos políticos (incluindo os que o assinaram e os que não admitem sequer discuti-lo) — quando ensaiam a “nova ortografia”, exibem despudoradamente a omnipresente diferença entre proclamar que se segue o Acordo e segui-lo, além de mostrarem a sua infinita ignorância sobre o assunto cada vez que falam sobre ele. Citando Pacheco Pereira neste jornal: “Este é um dos casos em que fico populista e atiro em cima ‘deles’, os políticos.”

 

Mais ainda: porque começaram a aparecer fator issues, eletronic music sem cê?, meses escritos em inglês com minúscula? Porque só depois do Acordo apareceu isto? Porque nunca vira antes de o Acordo estar em vigor, enquanto revisor, escritores que usassem palavras das línguas mais faladas do mundo, do inglês, do espanhol, do francês, com pês e cês decepados que tais línguas preservaram? Porque só as encontrei pós-Acordo? Coitadas das crianças que aprendem a decepar consoantes que terão de aprender nas outras línguas…

 

Se temos uma ferida purulenta, pergunta Chomsky a propósito dos discursos de ódio, devemos ignorá-la, esperando que se resolva, ou olhar para ela e tentar perceber as suas causas para que as possamos extirpar? Podemos continuar todos os dias a dizer, como fazem os ditadores: o modelo é bom; se não funciona, é porque o povo é estúpido. Ou podemos ter a coragem de reverter um crime de leso-idioma.

 

(Continua.)

Autor, jornalista, formador e revisor

 

Fonte:

https://www.publico.pt/2019/07/29/culturaipsilon/opiniao/admiravel-lingua-nova-parte-xi-1881642?fbclid=IwAR2nEF8SpAWhkMEmVRjHftcQ9477IvsYZh9Ub6ihkaPciCljRSE86boGbH4

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:54

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Segunda-feira, 29 de Julho de 2019

Senhores governantes, como é possível reduzir a zero a aptidão das nossas crianças para a aprendizagem do nosso Português?

 

Recebi via e-mail (no SPAM) esta estranha mensagem:

র্যাংগস তোশিবা নিয়ে এলো বাম্পার গিফটে সুপার ঈদ অফার!

 

Como é óbvio, não entendi nada, mas fui investigar, porque achei lindíssimos e requintadíssimos estes caracteres, e fiquei curiosa para saber a que língua pertenciam (mais do que tentar traduzir a mensagem, que não me interessava nada). Descobri que pertencem à Língua Bengali - língua indo-ariana falada (e escrita) em Bangladesh e no estado indiano vizinho de Bengala Ocidental.

 

Partindo do princípio que as crianças de Bangladesh e de Bengala vão à escola aprender a ler e a escrever esta língua, que é a delas, pus-me a pensar, porque é que estas crianças conseguem escrever numa tal grafia, que convenhamos, é mais complicada (para nós) do que a grafia portuguesa (no desenho das letras) e as crianças portuguesas, no entender dos acordistas, não conseguem escrever na grafia portuguesa, com os respectivos cês e pês no devido lugar, bem como os acentos e os hífenes, tão mais simples do que a grafia Bengali, tendo sido “preciso” adoPtar a grafia brasileira, ainda mais simples, pois suprimiram os cês e os pês a um número indeterminado de vocábulos, porque como vão as crianças (ou devo dizer os adultos) saber que a palavra “direcCtor” é escrita com ?

 

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(Foto: Thinkstock/Gettyimages)

 

Qualquer pessoa, minimamente culta e inteligente e informada, sabe que as crianças, a partir dos quatro anos, têm bastante facilidade em aprender várias línguas e respectivas grafias, ao mesmo tempo.

 

Qualquer cidadão, minimamente informado, sabe que a capacidade das crianças para aprender línguas é elevadíssima, conseguindo aprender tantas línguas quantas as que lhes forem ensinadas, porque, as crianças, ao contrário dos acordistas, simplesmente possuem essa capacidade. O cérebro delas está preparado para absorver tudo o que lhes é dado a aprender. Não há, de facto, qualquer impedimento para as crianças portuguesas, relativamente à aprendizagem de várias línguas ao mesmo tempo, nem sequer de grafar uns simples pêzinhos e cêzinhos, uma vez que os grafam no Inglês, no Francês e no Castelhano, que também aprendem. Por que hão-de as crianças portuguesas ter capacidade para aprender o Inglês, o Francês ou o Castelhano, e não têm a mesma aptidão para aprender o nosso Português?

 

Partindo do princípio que a Língua Portuguesa é uma língua, e a Língua (cada vez mais reconhecida como) Brasileira é outra língua, por que não hão-de as nossas crianças aprender a sua própria Língua Materna, agora que já sabem a Brasileira?

 

Foi o que aconteceu comigo aos oito anos (não me canso de repetir): depois de ter aprendido o Brasileiro durante dois anos (dos seis aos oito) regressada a Portugal, aprendi a minha Língua Materna com muita facilidade e muita LEITURA, porque a aprendizagem de uma Língua passa também pela fixação visual: e o que era “setor” passou a ser “seCtor”, muito naturalmente. E de volta ao Brasil, como já sabia grafar à brasileira foi ainda mais fácil regressar ao Brasileiro.

 

Tenho amigos meus, que tiveram de sair de Portugal, para poderem ter uma vida de acordo com o que investiram na sua formação académica (e não andarem para aqui a ganhar cêntimos a vender pipocas, quando podem ganhar um bom ordenado, a trabalhar na profissão dos seus sonhos, e na qual investiram tempo e dinheiro) já com filhos, que iniciaram, em Portugal, a escolaridade (primeiros e segundos anos do ensino básico) e, num espaço de um ano, falam e escrevem correCtamente o Inglês, o Francês e o Alemão, além do “Brasileiro” que lhes foi ensinado em Portugal. Mas não sabem Português.


Então por que querem os acordistas transformá-las nas crianças mais estúpidas do mundo, quando se trata de aprender a Língua Materna delas - o nosso PORTUGUÊS? Deixemos o Brasileiro para os Brasileiros. E acabemos de vez com o AO90, que não serve nenhum país dito lusógrafo. Que se regresse à diversidade, porque a unificação das lusografias é uma miragem no deserto das ideias idiotas, que por aí se alastram.

 

Como é possível medir as aptidões intelectuais das crianças portuguesas, pela descomunal inaptidão intelectual dos acordistas, no que respeita à aprendizagem do nosso Português?

 

Um dos (des)argumentos que os acordistas apresentam, para sustentarem a irreversibilidade do AO90 é a de como vão agora as crianças, que já aprenderam a escrever segundo o AO90 (ou seja, à moda brasileira) aprender a reescrever correCtamente a sua Língua Materna? Muito simples: aprendendo com a maior facilidade, até porque já aprenderam o Inglês, o Francês ou o Castelhano, que lhes é ensinado, com uma vantagem de a Língua Materna delas ter a mesma etimologia dessas outras línguas.

 

Se querem argumentar e ser honestos, argumentem com a VERDADE, apesar de ela ser OBSCURA, porque os Portugueses têm o DIREITO de a saber, e os governantes o DEVER de a dizer (se bem que essa verdade não seja segredo para ninguém). 

 

Por que hão-de os acordistas portugueses apresentar tal parvoíce, como argumento, como se as nossas crianças fossem muiiiiiito, mas muiiiiiito estúpidas, as mais estúpidas crianças do mundo?

 

Em vez de exteriorizarem, deste modo idiota, o vosso analfabetismo funcional, que tal proporcionarem, às nossas crianças, um ensino de Língua Portuguesa de qualidade, base fundamental de uma mais racional aprendizagem de todas as restantes disciplinas, e alicerce primordial para uma comunicação de excelência.

 

Porque é triste, muito triste, lamentável e vergonhoso ler, ver e ouvir o nosso Português tão mal escrito e falado nas televisões, nos jornais, nas revistas e na boca dos governantes, dos políticos, dos jornalistas, dos que acham que escrever “incorrêtamente” é moderno.

 

Não é. O que se passa em Portugal, a este respeito, é um caso de um monumental retrocesso, único em todo o mundo, por se ter passado de cavalo para burro, algo que não passa na cabeça de ninguém, a não ser na cabeça de um acordista.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:27

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Sexta-feira, 26 de Julho de 2019

«Cabo Verde já depositou junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) o instrumento de denúncia do pseudo-Acordo Ortográfico de 1990? Ou há ainda mais algo escondido?»

 

«Pergunta: Cabo-Verde já depositou junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) o instrumento de denúncia do pseudo-Acordo Ortográfico 199O (AO1990) ao ter declarado oficialmente que a sua LÍNGUA OFICIAL é o CRIOULO CABO-VERDIANO? Ou nunca o fez? É que o AO1990 é, em termos de Direito Internacional, um TRATADO INTERNACIONAL e, como tal, é regido por normas muito sérias (tal como estipulado na Convenção de Viena!) e que não podem ser violadas impunemente!» (Francisco João DA SILVA)

 

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Texto de Francisco João DA SILVA

 

«Citação: «O bem-amado kaiser não teve tempo para responder (tão ocupado que andará) a um requerimento do coordenador e relator do Grupo de Trabalho para a Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, onde este requeria acesso aos instrumentos de ratificação do AO depositados à guarda do MNE, o seu ministério. Em trinta dias (prazo legal para o governo responder a requerimentos deste tipo), a resposta foi o silêncio.

 

Terá o bem-amado kaiser algo a esconder? É que se não tem, e se adora assim tanto a sua “dama” ortográfica, mostre-os. Ficávamos todos mais descansados por saber que, nesta tristíssima aventura, que nos conduziu a uma aberração sem nome, ao menos tinham sido cumpridas todas as regras do jogo. Ou será que não foram?

 

Ou será que afinal, ainda teremos outras surpresas na caixinha até agora fechada a sete chaves(Nuno Pacheco - 25 Julho 2019 – jornal Público)

 

Ver artigo completo aqui:

https://www.publico.pt/2019/07/25/culturaipsilon/opiniao/acordo-ortografico-caixinha-surpresas-1880995

 

****     

 

O PORTUGUÊS DEIXA DE SER LÍNGUA OFICIAL EM CABO VERDE – QUE FUTURO PARA TIMOR-LESTE

Lusofonia – Um apelo à CPLP – Defesa da Língua portuguesa

 

Por António Justo

 

«A língua materna em Cabo Verde é o crioulo de base lexical portuguesa com a semântica portuguesa do século XV-XVII. A língua oficial de Cabo Verde é o Português e a Língua nacional é o crioulo cabo-verdiano (Krioulo); o governo visa tornar o “Krioulo” também a língua oficial. O português passa a língua não materna.

 

O Governo de Cabo Verde anunciou a introdução do Português como língua não-materna “a partir do próximo ano lectivo. (2017 - abrir o link sublinhado).

 

O Português começará a ser ensinado como segunda língua já no ensino pré-escolar (4/5 anos)”, revela VOA (1). Esta decisão talvez tenha mais um fundamento pedagógico e de eficiência linguística na estatística do que político. O Krioulo tem várias variantes (2).

 

(…)

Ler artigo completo aqui:

https://antonio-justo.eu/?p=3987

 

Fonte:

https://www.facebook.com/groups/contraacordoortografico/permalink/2310637622355312/

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:47

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Quinta-feira, 25 de Julho de 2019

AO90 – Partido Socialista e Bloco de Esquerda comprometidos com a mediocridade e com a destruição da Língua, Identidade e Cultura Portuguesas

 

O título desta publicação é meu.

O texto (muito esclarecedor) que se segue é do Francisco Farinha.

Publico-o, lembrando aos milhares de Portugueses que combatem este crime de lesa-língua, conhecido por AO90, que o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda não merecem o nosso VOTO, porque NÃO SERVEM PORTUGAL.

Andam a brincar com coisas muito sérias, e essa brincadeira sair-lhes-á bastante cara.

O VOTO é uma excelente arma de combate.

 

RELATÓRIO.jpg

 

Texto de Francisco Farinha

 

«Dia 19 Julho, data não inocente por ser o último dia antes da AR encerrar para o seu período de férias, dois partidos inviabilizaram o relatório final para avaliar o impacto do AO90. De facto, e contrariamente ao que estaria já combinado entre todos os partidos, à última hora, PS e BE inviabilizaram o referido relatório, aparentemente porque o coordenador teve a ousadia de propor três recomendações no sentido de agilizar as conclusões do seu trabalho.

 

A meu ver, o coordenador limitou-se a apresentar o relatório com uma estrutura clássica: contexto, problema, recomendação, mas, os partidos já mencionados, não apreciaram esta proactividade do coordenador e consideraram-na um atrevimento político ao ponto de inviabilizaram a possibilidade de discussão do AO90, que, repito, era o que estava previsto.

 

No fundo, PS e BE, partidos que provavelmente serão o próximo governo deste País, estão já de acordo em relação ao futuro da nossa língua: o AO90 é para ficar e sobretudo não admitem qualquer discussão.

 

Deixo-vos com as famigeradas recomendações que o relatório propunha, que, não prevendo a hipótese de revogação, eram na minha opinião pessoal, recomendações lógicas e equilibradas face ao actual estado caótico em que se encontra a nossa língua. Infelizmente há quem não esteja de acordo em rever o acordo.

 

Assim, o Relator entende ser de recomendar:

 

1 - Que o Governo dê início a uma negociação político-diplomática entre as autoridades dos diversos Estados-membros com assento na CPLP, com vista à discussão da situação actual ao nível da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 e a ponderação das decisões mais adequadas neste domínio, incluindo a possibilidade e o interesse de se dar início a um processo de alteração ou aperfeiçoamento do actual Acordo ou à negociação de um novo Acordo Ortográfico.

 

2 - A criação de uma Comissão Científica para a Ortografia, sob eventual coordenação de entidades com responsabilidades legalmente atribuídas neste domínio, formada por personalidades representativas das comunidades académica, científica, literária e profissionais, para efeitos de acompanhamento de quaisquer desenvolvimentos de ordem política e diplomática relativos ao Acordo Ortográfico e apresentação, em conformidade, de propostas ao Governo e à Assembleia da República.

 

3 - A realização de estudos, envolvendo os serviços do Estado e as comunidades académica, científica, literária e profissionais, com vista à avaliação das implicações da aplicação do Acordo Ortográfico no sistema educativo, no mercado editorial e na imprensa, bem como ao nível da estabilidade ortográfica nos serviços públicos e nas publicações oficiais.

 

Palácio de São Bento, 19 de Julho de 2019.

O COORDENADOR DO GRUPO DE TRABALHO,

(José Carlos Barros)

 

Fonte:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10219283359904607&set=gm.2309013932517681&type=3&theater&ifg=1

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:07

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Governo Sombra critica Acordo Ortográfico e postura do Governo

 

(Recebido via e-mail)

 

«A propósito do relatório final do Grupo de Trabalho para a Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico.

A posição do Pedro Mexia é a "a revogação" do AO90, neste vídeo.

Não entendendo o PR, o medo que tem do dinossauro "Augusto Santos Silva", o guardião-mor do "monstro".» (A. M.)

 

Isto não é para entender A. M.. É para combater e VENCER!

E não haverá dinossauro algum que o impeça.

 

REMY.png

https://www.youtube.com/watch?v=jVP93qnYZX4

 

Juntarei a este vídeo uma outra crítica lúcida da minha amiga Idalete Giga, que subscrevo, palavra por palavra, a propósito do descalabro de texto publicado no Jornal Público, pela Lúcia Vaz Pedro, provavelmente ao serviço do dinossauro, texto que pode ser consultado neste link:

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/os-novos-analfabetos-do-seculo-xxi-sra-195068?tc=14066518863

 

Faço minhas as palavras de Idalete Giga:

 

«Depois de ler o estúpido, rancoroso e absurdo artigo da tal Lúcia Vaz Pedro (o Jornal Público agora aceita toda a espécie de lixo) que se diz professora de Português no Secundário, fiquei em estado de choque (!).

 

Como é que é possível que alguém escreva tanta asneira e insulte milhares de portugueses com tanto descaramento e revelando não só rancor, mas uma ignorância inacreditável (!).

 

Lúcia Vaz Pedro desconhece a Petição com mais de 20 mil assinaturas entregue na AR contra o AO. Desconhece a pouca vergonha que foi a origem do AO cozinhado por um grupo de traficantes da Língua Portuguesa para agradarem ao Brasil (!). Desconhece também os vários movimentos que se criaram contra o Aborto Ortográfico e que têm milhares de apoiantes. Desconhece a opinião de centenas de intelectuais brasileiros e portugueses contra o AO. Desconhece as obras que têm sido escritas apresentando verdadeiros argumentos científicos pondo de rastos o Linguicídio sendo a primeira da autoria de Vasco Graça Moura: "Acordo Ortográfico- A perspectiva do Desastre", seguida de muitas outras que a dita stôra devia ler. Também deve desconhecer o Latim (!!!!) etc., etc..

 

A conclusão a que chegou Cláudia Mealha no seu excelente comentário está correCtíssima: analfabeta é Lúcia Vaz Pedro. E eu acrescento: pobres alunos que têm como professora de português uma ANALFABETA que ainda por cima está convencida de que é dona da Língua Portuguesa (!).

 

Devia pedir desculpa publicamente aos milhares de portugueses que insultou.

QUE TRISTEZA (!!!).»

 

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:05

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Quarta-feira, 24 de Julho de 2019

«Os novos analfabetos do Século XXI», Sra. Lúcia Vaz Pedro, são obviamente os que não têm a capacidade intelectual para aprender Línguas

 

Não resisto a transcrever o texto que a acordista Lúcia Vaz Pedro publicou no Jornal Público, sob o título «Os Novos Analfabetos do Século XXI». Um texto incrível. E não resisto, não só porque é preciso divulgar a colossal pobreza argumentativa desta “professora” que achincalha a classe (pobres alunos!), mas especialmente pelo extraordinário comentário a este texto, publicado pela Cláudia Mealha, que diz tudo o que eu me apetecia dizer a este propósito.

 

Lúcia Vaz Pedro insulta os Portugueses, colocando-os ao nível dela, no que respeita à aprendizagem da Língua Portuguesa. Apenas um grupo muito restrito de portugueses (no qual ela se inclui) não consegue PENSAR a própria Língua, como os outros povos europeus conseguem pensar a deles.

 

Para demonstrar o quanto Lúcia Vaz Pedro está longe da Cultura Portuguesa, apresento aos leitores o Saber daqueles que representam os VERDADEIROS docentes.

 

Isabel A. Ferreira

 

Maria do Carmo Vieira.png

 

(Nota: os erros ortográficos cometidos por Lúcia Vaz Pedro vão assinalados, uma vez que é cidadã portuguesa (e não brasileira) e a ortografia em vigor em Portugal é a de 1945 (e não a de 1990), e este Blogue não pactua com ilegalidades).

 

«Os novos analfabetos do século XXI

 

Se esta minoria ensinasse Português, não se preocuparia tanto com a grafia, mas com as dificuldades que os alunos (e a sociedade em geral) revelam ao nível da compreensão escrita.

 

18 de Julho de 2019, 19:18

 

Há neologismos que se criam para determinadas realidades ou situações.

Na verdade, quando se fala de uma minoria “antiquada e lúgubre”, ao estilo de Tomás de Alencar de Os Maias de Eça de Queirós, empedernida numa grafia arcaica, desatualizada, que se recusa a aprender, que se reforma, para não o fazer (porque há professores que gostam de novidades, estudando para ensinar), que sente escangalhada a sua “catedral romântica”, parece ter lógica criar neologismos, agitando e evitando essa espécie de “analfabetização” que não quer compreender a evolução da nossa sagrada Língua Portuguesa.

 

Nesse debate, que não o foi, pois foi convocada toda uma plateia, excessivamente participativa, que “limpa os bigodes dos pingos de sopa”, houve alguém que quis falar, quis explicar, que se prontificou a esclarecer, a debater (porque da discussão nasce a luz) e foi sistematicamente interrompida, insultada por uma geração “romântica”, incapaz de aceitar que todos os “meninos e meninas LVP” deste país escrevem há quase uma década com a grafia que está em vigor. Esqueceu-se o AJP [António Jacinto Pascoal, no artigo “Acordo ortográfico? Revogar, claro!”, publicado em 16 de Julho de 2019] de referir que essa pessoa não se vitimou. Aceitou um desafio. Não se autoelogiou, credibilizou-se, porque nem o seu CV foi apresentado, como o dos dois outros intervenientes.

 

Helena Carvalhão Buescu.png

 

Esta minoria fala do que não pretende saber. Não aceita um estudo apresentado pelo Grupo de Trabalho para Acompanhamento da Aplicação do Acordo Ortográfico, no âmbito da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República. Se, em vez de fazer multiplicações sem sentido, aceitasse que com o AO convergiram cerca de 5,5 vezes mais formas do que as que divergiram, pois 1230 palavras que se escreviam de modo diferente passaram a escrever-se de forma igual e que apenas 221 divergem, aceitaria o sucesso da grafia em vigor. Mesmo no que diz respeito às sequências consonânticas analisadas o número de convergências é superior.

 

Se essa minoria aceitasse o VOCLP como uma garantia de que a norma ortográfica, legalmente aplicada em todos os oito países de Língua Portuguesa, é a mesma, dando lugar a um idêntico estatuto legal e permitindo, pela primeira vez, a participação e a contribuição de todos os países na gestão da língua, reunindo definitivamente as grafias avalizadas, então poderia, talvez, acompanhar a geração dos seus netos que não compreende a letra /p/ na palavra ótimo, nem o /c/ na palavra ação.

 

Mais: se esta minoria ensinasse Português, não se preocuparia tanto com a grafia, mas com as dificuldades que os alunos (e a sociedade em geral) revelam ao nível da compreensão escrita, devido à ausência de hábitos de leitura. Estaria preocupada não com os /c/ e o /p/ etimológicos, mas com a (in)capacidade de expressão escrita.

 

Mário Forjaz Secca.png

 

Relativamente ao /h/, ‘hoje’ ainda se escreve assim. Mas, utilizar o /h/ no verbo ‘haver’ seria mais ‘chic a valer’ se as pessoas soubessem conjugá-lo devidamente. Se assim fosse, poderíamos gritar ao mundo que dominamos a Língua Portuguesa, que ela surge correta e esbelta em textos coerentes, coesos e lógicos.

 

Talvez para esta minoria saudosista fosse preferível recuar à grafia anterior a 1911 e continuar a escrever agglutinar, alchimista, céllula, chapeo, chirurgia, damnificado, estylo, hombro, hibérico, immóvel, propheta, retrahir.

 

Quanto a mim, todo este saudosismo sem sentido e esta revolta que já aconteceu nos acordos anteriores, faz-me derramar lagrymas, como as de Teixeira de Pascoais, que, na revista A Águia, se lamentava de ter de chorar de outra forma, sem a harmonia do /y/, substituído pelo /i/.

 

Professora de Português e Francês no ensino secundário

 

in

https://www.publico.pt/2019/07/18/culturaipsilon/opiniao/novos-analfabetos-seculo-xxi-1880361?fbclid=IwAR3AdV14C8tV_w6tD9KVKQnMZPKwjUOa9P3mvrQ1lU-LJET3a5o-7Sg0x80

 

Comentário de Cláudia Mealha

22.07.2019 04:39

 

(Nota: as passagens a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)

 

"Cara Lúcia Vaz Pedro: tem de se acalmar, que ainda lhe dá uma coisa má! A avaliar pela forma como escreve, e pelo conteúdo, deu-lhe obviamente um chilique! Um texto cheio de fel, despeito e ressentimento, de imprecisões e mentiras! Claro que a senhora, como não tem defesa possível, como não tem argumentos passa à ofensa soez! Para além do mais, a sua pálida tentativa de ironia é tão pobrezinha, demonstra uma tão grande falta de profundidade e conhecimento, que é confrangedora!

 

Chamou-me, por arrasto, analfabeta empedernida e, ainda por cima, em minoria, se percebi bem -, pois a senhora expressa-se de uma forma confusa. Para já, minoria é a senhora e a meia dúzia de acólitos militantes deste AO imbecil. (Uma acólita que por aqui anda chama-lhe “sábios”! Hahahahahaha!) E, para defender este indefensável AO, vem a senhora inventar um problema inexistente nas crianças que começam a aprender a ler? Coitadinhas das criancinhas, tão “estúpidas” aos 6 anos que se lhes ensinarem 2 ou 3 línguas em simultâneo, aprendem todas e mais que venha, quanto mais a escrever “acção”, ou “Egipto”, ou “recepção”! Um pequeno aparte: digo-lhe, com sinceridade, que não há maior nojo do que a não-palavra “receção” - é de escangalhar a rir! E reto? É do melhor!!! E “ótica”? É para os ouvidos ou para os olhos? Barbaridades!!!!!!! O AO é também perigoso e destruidor! Perigoso para a língua, para a própria oralidade! A quantidade de gente que está a mudar a forma como fala por causa da mixórdia ignara desta novilíngua idiota e que já diz “contato”, “dirsão”, “âtor” “âtivo” , “corrêto” e tantas outras calinadas porque o cérebro, minha senhora, segue a ortografia, o que a aplicação irresponsável deste AO não teve em linha de conta.

 

E vem a senhora defender o indefensável por causa da ignorância das pessoas? O AO a nivelar por baixo, aplicado à força por causa da falta de hábitos de leitura das pessoas? E então? Foi desvirtuar-se uma língua inteira por causa das dificuldades das pessoas em vez de as ensinar, estimular, ser cada vez mais exigente para subir o nível de conhecimento geral da população? Agora com a ideologia do facilitismo do AO, como vale tudo, já podem escrever de qualquer maneira e com erros porque isto da ortografia não interessa nada, a fonética é que vale? Já se sentem melhor assim?

 

O AO é espécie de mezinha psicológica para o português assim um bocadinho ignorante, que não se dá ao trabalho de ler um livro por ano sequer? No meio do seu texto rancoroso, a senhora invoca os Maias a despropósito - quase que diria que foi o único livro que leu, se não soubesse que terá sido obrigada a ler mais uns quantos para chegar onde chegou. Deve-lhe ter custado um bocado, percebo, e agora tem a sua grande oportunidade de brilhar como portadora do estandarte da língua trapalhona, feita à medida para quem não gosta, cá está, de ler, de literatura, da Língua! Sagrada, sim, mas dispensamos a patente blasfémia da sua apropriação da sacralidade da mesma! Só se for para rir - de novo! Pois uma coisa lhe digo: analfabeta é a senhora!

 

Empedernida a teimar numa mudança desnecessária, ilógica, ridícula e basicamente ERRADA é a senhora! A senhora e todos os seus acólitos militantes do AO é que são a MINORIA, com um projecto político escondido e promovidos por políticos iletrados ou, no mínimo, desinteressados da literatura e da língua! Muito espertamente impuseram às escolas este AO desgraçado para agora, volvidos estes anos, vir dizer que é muito tarde para andar para trás! Ora tenha juízo e não nos mace mais com o argumento estafado das palavras arcaicas. Pois vê-se que ignora que há uma diferença de substância entre a grafia equivalente de, por exemplo, o “ph” e o “f”, ou o “ch” para o “q”, ou o uso indistinto do I ou do y, todos de leitura e oralidade equivalentes, e as barbaridades que este AO provocou ao cortar a eito consoantes mudas e a aglutinar palavras, entre outras iniquidades.

 

São coisas distintas e a reforma de 1941 e a anterior seguiram uma lógica que não tem NADA a ver com a lógica boçal do AO. Analfabetos do século XXI são, isso sim, as gerações vítimas do AO mixordês, mixordês este verdadeiramente lúgubre e detestável, que nada tem a ver com o futuro e tudo com o passado: uma ditadura reformista ideológica e totalitária! Vade retro!!"

 

1 Luciano de Queiroz.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:12

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Terça-feira, 23 de Julho de 2019

«A Língua oficial de Angola é o Português, mas não um Português qualquer, é o Português Europeu, mistura do Latim e Galaico-Português»

 

Mas os Angolanos fizeram mais, muito mais, pela Língua Portuguesa: além de manter as suas raízes GRECO-LATINAS, enriqueceram-na com os dialectos locais. É isto o que nos diz o vídeo mais abaixo publicado.

 

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E vieram os acordistas portugueses tentar destruir essa riqueza, empobrecendo-a substancialmente com o acordo mais desacordado de todos os tempos e de todos os povos.

 

E querem agora os deputados fazer alterações ao AO90? Aperfeiçoamentos? Um novo acordo? Para quê? Para só piorar o péssimo?

 

O caminho racional a seguir é a destruição total do AO90, porque não é possível recuperar um ABORTO.

 

O aborto ortográfico de 1990 não é remendável nem recomendável.

 

Só um povo muito ignorante e rico em pobreza mental, precisa de acordos ortográficos, e pior do que isso, precisa de remendar o roto.

 

Diz a lógica que não se deve mexer no que está BEM, no que é consensual, no que é razoável, no que serve a Razão. E o AO45 está bem, é consensual, é razoável, serve a Razão e não foi revogado. Portanto está ainda em vigor. E em vigor deve permanecer, e não precisa que os mentalmente incapacitados o destruam.

 

Não há possibilidade alguma de remendar o roto, sem que o roto continue desfeado.

 

Isto de querer alterar ou aperfeiçoar o AO90ou fazer um novo acordo  faz parte da COBARDIA política, não da VONTADE política!

 

O AO90 só tem uma serventia: o caixote do lixo.

 

Acordem, senhores deputados, senhores governantes, porque estão em vias de ficar para a História, como aqueles que tiveram oportunidade de se elevarem, e, por teimosia ou coisa pior (que me abstenho de referir), desceram a um nível abaixo de zero, e tramaram Portugal, os Portugueses destruindo a sua Identidade, ao desvirtuarem a Língua Portuguesa.

 

Ponham os olhos e os ouvidos no Saber de Angola.

 

Isabel A. Ferreira

 

Ver vídeo aqui:

https://www.facebook.com/HistoriaDeAngola/videos/845997772154128/?v=845997772154128

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:33

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Sexta-feira, 5 de Julho de 2019

Farei uma pausa, e, enquanto vou e venho, muita água irá passar debaixo da ponte

 

O Estado Português tem o dom de nos desgastar, por se recusar a incrementar a qualidade de vida que tem o dever de proporcionar a todos os cidadãos portugueses. Obriga-nos, com a sua política vazia, a “guerrear” e a estar permanentemente em alerta máximo.

 

Mas até um guerreiro merece uma pausa. Pousarei as minhas armas (as palavras) por breve tempo.

 

Durante esta pausa, muita água irá passar debaixo da ponte que liga as margens que nos desunem.

 

Deixo aos leitores matéria suficiente para reflexão, durante a minha ausência.

 

Quando regressar, quem sabe, a bomba já não terá rebentado.

 

Entretanto, no meu Paraíso privado, aguarda-me a Harmonia que proporciona mais-valias à minha existência. (Isabel A. Ferreira)

 

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publicado por Isabel A. Ferreira às 15:21

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Quinta-feira, 4 de Julho de 2019

«Os apátridas da Língua que nos governam»

 

«É como se estivéssemos condenados a escrever como se urrássemos em vez de falar.» (José Pacheco Pereira)

 

Mais um genial texto de José Pacheco Pereira, in Público, em 16/05/2015. Contudo, esta data bem pode ser a de hoje, 04/06/2019, porque os apátridas da Língua continuam a governar-nos (esperemos que por pouco tempo).

 

(Nota: os excertos a negrito e os sublinhados são da responsabilidade da autora do Blogue).

 

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Texto de José Pacheco Pereira

 

À memória do Vasco Graça Moura

 

«Não sei se são válidos ou não os argumentos jurídicos que discutem a data da aplicação efectiva do Acordo Ortográfico [AO], se nestes dias, ou em 2016. Isso não me interessa em particular, a não ser para registar a pressa suspeita em o aplicar contra tudo e contra todos. Mas uma coisa eu sei ao certo: é que o desprezo concreto do bem que ele pretende regular, a língua portuguesa, é evidente nessa mistura sinistra de inércia, indiferença e imposição burocrática com que se pretende obrigar os portugueses a escrever de uma forma cada vez mais abastardada.

 

Na sua intenção original, o Acordo pretendia ser um acto de política externa, uma forma de manter algum controlo sobre o português escrito pelo mundo todo, como forma de garantir uma réstia de influência portuguesa num conjunto de países que, cada vez mais, se afastam da centralidade portuguesa, em particular o Brasil. Se é um “acordo” é suposto que seja com alguém. No entanto, desse ponto de vista, o AO é um grande falhanço diplomático, visto que está neste momento em vigor apenas em Portugal, com promessas do Brasil e Cabo Verde, esquecimento em Moçambique, Guiné Bissau, S. Tomé e Timor-Leste, e recusa activa em Angola. Nalguns casos há protelamentos sucessivos, implementações adiadas e uma geral indiferença e má vontade. Para além disso, nenhuma implementação do AO, vagamente parecida com a pressão burocrática que tem sido feita em Portugal, existe em nenhum país, a começar por aquele que parecia ser o seu principal beneficiado, o Brasil. Ratificado ele foi, aplicado, não.

 

Mas com o mal ou a sorte (mais a sorte que o mal) dos outros podemos nós bem, mas ele revela o absurdo do zelo português num AO falhado e que nos isolará ainda mais. Onde os estragos serão mais significativos é em Portugal, para os portugueses, e para a sua língua. É que o Acordo Ortográfico não é matéria científica de linguistas nem, do meu ponto de vista, deve ser discutido nessa base, porque se trata de um acto cultural que não é técnico, e como acto cultural em que o Estado participa, é um acto político e as suas consequências são identitárias. Não me parece aliás que colha o historicismo habitual, como o daqueles que lembram que farmácia já se escreveu “pharmácia”, porque as circunstâncias políticas e nacionais da actualidade estão muito longe de ser comparáveis com as dos Acordos anteriores.

 

É um problema da nossa identidade como portugueses que está em causa, na forma como nos reconhecemos na nossa língua, na sua vida, na sua história e na sua proximidade das fontes vivas de onde nasceu: o latim. Não é irrelevante para o português e a sua pujança, a sua capacidade de manter laços com a sua origem no latim e assim comunicar com toda a riqueza do mundo romano e, por essa via, com o grego, ou seja, o mundo clássico onde nasceu a nossa cultura ocidental. Esta comunicação entre uma língua e a cultura que transporta é posta em causa quando a engenharia burocrática da língua a afasta da sua marca de origem, mesmo que essas marcas sejam “mudas” na fala, mas estão visíveis nas palavras. As palavras têm imagem e não apenas som, são vistas por nós e pela nossa cabeça, e essa imagem “antiga” puxa culturalmente para cima e não para baixo.

 

O AO é mais um passo no ataque generalizado que se faz hoje contra as humanidades, contra o saber clássico e dos clássicos, contra o melhor das nossas tradições. Não é por caso que ele colhe em políticos modernaços e ignorantes, neste e nos governos anteriores, que naturalmente são indiferentes a esse património que eles consideram caduco, ultrapassado e dispensável. Chegado aqui recordo-me sempre do “jovem” do Impulso Jovem aos saltos em cima do palco a dizer “ó meu isso não serve para nada”, sendo que o “isso” era a história. Esta é a gente do AO, e, como de costume, encontram sempre sábios professores ao seu lado, os mesmos que vêem as suas universidades a serem cortadas, em nome da “empregabilidade”, da investigação nas humanidades e em sectores como a física teórica e a matemática pura, teorias sem interesse para os negócios. “Ó meu, isso não interessa para nada!”.

 

Mas estamos em 2015 (2019) e hoje o português de Portugal está sitiado e numa situação defensiva. Não é no Brasil que o português está em risco, nem em Angola, Cabo Verde, Moçambique ou Timor. Aí os riscos do português são os riscos de sempre e vêm da extensão da colonização, da sua relação com as línguas autóctones, dos crioulos que gerou, e do modo como penetrou nas elites e no povo desses países, se é ou não a língua de cultura ou a língua da administração e do Estado. E não é certamente no Brasil que o português está na defensiva, bem pelo contrário, é no Brasil que o português está num momento particularmente criativo.

 

Quer se goste quer não, a locomotiva da língua portuguesa não é a academia portuguesa, mas a pujança do povo e da sociedade brasileira, a sua criatividade e dinamismo. E isso fará com que o português escrito no Brasil esteja sempre para lá de qualquer AO, como aliás aconteceu no passado e vai acontecer no futuro. É o mais fútil dos exercícios, até porque enquanto o tem um papel. Se abastardamos o português de Portugal, nem esse papel teremos, a não ser escrevermos um “brasileiro” mais pobre que não serve de exemplo a ninguém.

 

A vitalidade do nosso português está nos seus grandes escritores, Miranda, Camões, Bernardes, Vieira, Herculano, Camilo, Eça, todos conhecedores do seu Virgílio, do seu Horácio, do seu Ovídio, mesmo do seu escolar Tácito, César ou Salústio. Todos lidos, estimados e estudados no Brasil, que por eles faz muito mais do que nós alguma vez fizemos, por exemplo, com Machado de Assis. E é também por isso, que a maioria dos escritores portugueses contemporâneos recusa o AO, como quase toda a gente que está na escrita e vive pela escrita e é independente da burocracia do estado. Todos sabem que o português permite todas as rupturas criativas, dos simbolistas ao Sena dos Sonetos a Afrodite Anadiómena – “E, quando prolifarem as sangrárias,/ lambidonai tutílicos anárias,/ tão placitantos como o pedipeste”, – ao “U Omãi Qe Dava Pulus” de Nuno Bragança. Criativamente a nossa língua vernácula suporta e bem tudo, menos que seja institucionalizada com uma ortografia pobre e alheia à sua história.

 

O futuro do português como língua já está há muito fora do nosso alcance, mas o português que se fala e escreve em Portugal, desse ainda podemos cuidar. É que é em Portugal que o português está em risco, está na defensiva, e o AO é mais uma machadada nessa defesa de último baluarte. É em Portugal que um Big Brother invisível, que se chama sistema educativo, retira todos os anos centenas de palavras do português falado, afastando das escolas os nossos escritores do passado e substituindo-os por textos jornalísticos. É em Portugal que uma linguagem cada vez mais estereotipada domina os media, com a substituição dos argumentos pelos soundbites, matando qualquer forma mais racional e menos sensacional de conversação. É em Portugal que formas guturais de escrita, nos SMS e nos 140 caracteres do Twitter, enviados às centenas todos os dias por tudo que é adolescente, ou seja, também por muitos adultos, se associa à capacidade de escrever um texto, seja uma mera reclamação a uma descrição de viagem. É neste Portugal que, em vez de se puxar para cima, em nome da cultura e da sua complexidade, em nome da língua e da sua criatividade, em nome da conversação entre nós todos que é a democracia, se puxa para baixo não porque os povos o desejem, mas porque há umas elites que acham que a única pedagogia que existe é a facilidade.

 

E é neste Portugal que uma geração de apátridas da língua, todos muito destros em declamar que a “a nossa pátria é a língua portuguesa”, minimizam a nossa identidade e a nossa liberdade, que vem dessa coisa fundamental que é falar e escrever com a fluidez sonora do português, mas também com a complexidade da sua construção ortográfica. É como se estivéssemos condenados a escrever como se urrássemos em vez de falar.

 

Fonte:

https://estatuadesal.com/2015/05/17/os-apatridas-da-lingua-que-nos-governam/

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:28

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