«Podíamos estar a celebrar oito variantes ortográficas, mas em vez disso vamos somando erros.» (Nuno Pacheco)
Por Nuno Pacheco
«Mesmo confinados, não nos faltam datas para comemorar. Primeiro foi a Páscoa, depois o 25 de Abril, na sexta-feira será o 1.º de Maio, domingo o Dia da Mãe e na próxima terça-feira, dia 5, o Dia Mundial da Língua Portuguesa, essa outra mãe que nos calhou. Como de costume, vão tecer-se louvores ao Camões (não a Luís Vaz, mas àquele que despudoradamente usa o seu nome), brandir-se mapas e números, organizar-se saraus e discursos, agora forçosamente virtuais.
Mas nada disso pode ocultar algo que não é propriamente penúria, até porque a língua vai resistindo a tudo (fome, privações, maus tratos) e há por aí muita gente de todas as idades a falá-la e a escrevê-la com conhecimento, criatividade e brio; mas é um estado de ignorância e desleixo, muito pouco saudável, que a vai apoucando e corroendo até roçar o analfabetismo.
Nos mais diferentes meios (jornais, revistas, televisão, livros, Internet), a aplicação acéfala do chamado Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO90) continua a dar coisas como (e todas elas estão documentadas, com origens e datas) “artefatos” por artefactos, “estupefato” por estupefacto, “impato” por impacto, “impatante” por impactante, “pato” por pacto, “ojetivo” por objectivo, “corruto” por corrupto, “convição” por convicção, “execto”, “excepo” e “exeto” por excepto, “exeção” ou “excessão” por excepção, “inteletual” por intelectual (a mais recente prova desta imbecilidade foi estampada no oficialíssimo Diário da República n.º 72/2020, Série II de 13/4/2020, no Aviso n.º 6075/2020), para já não falar na aplicação a Portugal, contra as indicações do próprio AO90, da norma escrita brasileira, escrevendo-se e até dizendo-se “fato” por facto, “contato” por contacto, “seção” por secção ou “conosco” por connosco, isto apesar de a rubrica Bom Português da RTP garantir que é “connosco” que se escreve em Portugal.
Se bem se lembram, o AO90 gabava-se de conseguir “unificar ortograficamente cerca de 98% do vocabulário geral da língua”, segundo a nota explicativa que o acompanhava. Só que tal frase ignorava um pequeno pormenor: mesmo que fosse possível unificá-lo graficamente, o vocabulário difere no uso e no sentido não só em Portugal e no Brasil (onde as diferenças neste campo são enormes) mas também nos países que começaram a moldar a língua ao seu jeito. Se a unificação ortográfica é, já de si, uma quimera retrógrada – porque línguas como o inglês, o francês ou o espanhol admitem tantas variantes ortográficas nacionais quantos os países que as usam –, a unificação vocabular é uma tolice sem nexo. Nisto, o brasileiro Evanildo Bechara, um dos bonzos do AO90, foi claro, numa entrevista que deu ao Expresso em 2012. Disse ele: “Não tem sentido uniformizarmos o vocabulário comum e os portugueses chamarem à capital da Rússia Moscovo e o Brasil chamar Moscou.” Mas chamam e escrevem, ainda hoje. Ao mesmo tempo, Bechara disse este disparate: “Em qualquer área em que seja usada, tanto no Brasil, como em Portugal ou na África, a língua portuguesa será grafada de uma só maneira. Isso significa que um livro editado em português pode correr todos esses países, porque a ortografia é a mesma.”
Não, não é a mesma, há o facto-fato, bebé-bebê, contacto-contato, amnistia-anistia, secção-seção, libertar-liberar, casino-cassino, registo-registro, planear-planejar, além das mil e uma palavras que no Brasil e em Portugal querem dizer coisas diferentes. Isso chama-se evolução. A língua foi crescendo e modificando-se consoante a cultura dos seus utilizadores. Ora isto, em lugar de ser usado como trunfo e sinal de riqueza, é aplainado por um capricho retrógrado e infame. Sim, podíamos estar a celebrar o facto, historicamente merecido, de termos neste Dia Mundial da Língua Portuguesa oito variantes vocabulares e ortográficas, que juntas fariam ainda mais forte o idioma no seu todo. Porém, na miséria que nos coube, vamos passar esse dia a ouvir discursos inflamados e a ler novos erros fomentados por um acordo que se transformou numa descabelada caça às consoantes. Seguindo a sugestão de “escrever como se fala”, ainda iremos ler “runiões”, “tamos”, “competividade”, “óvio”, “curdenação”, “mnistro” ou “custume”. É só esperar.
Na madrugada do 25 de Abril de 1974 houve um discurso decisivo para conquistar as tropas em Santarém. Foi feito por Salgueiro Maia e ele resumiu-o assim no seu livro Capitão de Abril (Editorial Notícias, 1997, pág. 87): “Declarei que havia várias modalidades de Estados: os liberais, os sociais-democratas, os socialistas, etc., mas nenhum pior do que o Estado a que chegáramos, pelo que urgia acabar com ele.” Pois também na língua portuguesa, espalhada por vários Estados e neles enraizada, há o estado indecoroso a que chegámos. Acabemos com ele.
Aliás, há um precedente vindo de dentro. Quando se acede ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e se tenta entrar no dito Vocabulário Ortográfico Comum (VOC), recebe-se esta mensagem de alarme: “Este site não é seguro. Isto poderá significar que alguém está a tentar enganá-lo ou a roubar qualquer informação que envie para o servidor. Deve fechar este site imediatamente.” É isso, fechem-no. E festejemos a rica diversidade desta língua que nos é comum.»
Fonte:
(Porque em tempo de pandemia a Língua Portuguesa continua a ser atacada, também impiedosamente)…
Começarei por citar o já falecido Embaixador Carlos Fernandes que, na sua qualidade de Professor de Direitos Internacionais (Público e Privado), apresentou três estudos, três textos lapidares, reunidos em livro, demonstrando que a ortografia em vigor em Portugal é a de 1945. Em primeiro lugar, por não ter sido juridicamente revogada, em segundo lugar porque o processo de entrada em vigor do AO de 1990, não tendo o governo cumprido os passos processuais, que a sua aprovação implicava, é como se legalmente não existisse.
«Estes três estudos (porque incluímos neles a própria Nota Introdutória), em vez de serem análises frias ou mornas, são bem quentes, isto é, propositadamente provocadoras de discussão real, invectivando os adversários a vir à luta sabática, linguística e jurídica, a fim de clarificar, quanto antes e definitivamente, uma questão/situação, quer de facto quer jurídica, em que se está abusivamente mutilando a língua portuguesa, perante a passividade colaborante dos seus utilizadores, com a agravante de neles estarem incluídos Professores e Tribunais, não estando estes vinculados ao cumprimento da RCM 8/2011, de 25 de Janeiro, mesmo que ela fosse legal, que não é. A isto, quando eu estudei Direito, chamava-se ditadura.»
in Nota de rodapé, pág. 13, do livro «O Acordo Ortográfico de 1990 Não está em Vigor – Prepotências do Governo de José Sócrates e do Presidente Cavaco Silva» - Embaixador Carlos Fernandes, publicado pela Editora Guerra & Paz, em 2016.
Vamos aos factos.
Atente-se na transcrição da legenda do “ex-voto” (placa ou outro objecto que os crentes católicos oferecem a Deus, a Nossa Senhora ou a algum santo e que depositam num lugar de culto ao cumprirem um voto ou uma promessa) em que o devoto escreveu o seguinte: «M[ilagre] que fez N. Sr da Lapa a Aurelio Coelho Sernancelhe, q andando em sima de uma Amoreira sua molher, caiu abaixo ficou emperigo de vida, elle com grande afelição impelorou o socorro de N.S. logo conheceu milhoras no anno de 1892.»
in «Por Amor à Língua Portuguesa – Ensaio genealógico-filológico, científico-limguístico e pedagógico-didáctico, sisando a superação crítica do actual Acordo Ortográfico/1990» - Livro da autoria do ilustre filólogo em Humanidades Clássicas, Fernando Paulo Baptista, publicado em 2014, pelas Edições Piaget.
Facto: não precisamos de recuar ao ano de 1892. Basta dar uma volta pelas redes sociais, e pela Internet, YouTube, etc., para comprovarmos que este tipo de linguagem, condizente com a filosofia acordista: escrever como se fala, está bastamente disseminado por aí.
Facto: nunca nenhum adversário acordista (incluindo o mui ilustre constitucionalista Marcelo Rebelo de Sousa) veio a público rebater uma linha sequer do que o Professor de Direitos Internacionais, Embaixador Carlos Fernandes, e do que o filólogo Fernando Paulo Baptista, escreveram nos seus livros (já aqui referidos), ou o que o insigne Linguista António Emiliano escreveu nos seus artigos anti-AO90: clicar no seguinte link onde eles se encontram à disposição dos leitores:
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/antonio-emiliano/467/pagina/1
ou o que Nuno Pacheco, redactor principal do Jornal Público, denunciou nos seus artigos, e que atira por terra o AO90:
ou ainda nos inúmeros artigos de abalizados linguistas, professores, entre outros especialistas, publicados neste meu Blogue.
Nunca, ninguém, por exemplo, veio rechaçar o que eu própria tenho aqui publicado, e até podiam vir apodar-me de grande mentirosa e ignorante, se eu estivesse a dizer mentiras ou fosse uma refinada apedeuta.
Mas não! Os que se atrevem a contestar-nos tocam o samba de uma nota só: chamam-nos velhos do Restelo, e que o AO90 é uma grafia moderna, a grafia do futuro, fazendo parte do português contemporâneo (esta é de rir!) calcado da grafia brasileira, porque os brasileiros são milhões, então há que seguir os milhões, e porque farmácia já não se escreve pharmacia, como se estes sejam argumentos racionais que possam justificar a mutilação de uma das mais antigas Línguas europeias, com mais de 800 anos de história, apenas porque um punhado de gente pouco esclarecida assim o quer.
Facto: a tese já enunciada, do Embaixador Carlos Fernandes, a qual o constitucionalista Marcelo Rebelo de Sousa nunca contestou, e poderia fazê-lo, até como presidente da República que, frequentemente, é acusado de não estar a cumprir a Constituição, nesta matéria, não tem poder de ser ultrapassada por esta outra que diz que no que respeita a Acordos Internacionais subscritos por Portugal, predomina o princípio da prevalência, ou, pelo menos, da preferência aplicativa, do Direito Internacional face ao direito interno, que se aplica também ao Decreto que institui o AO45, e faz com que este seja tacitamente revogado (revogação de facto). Porém, o facto é que o AO90 é uma fraude, um negócio entre políticos e editores sem escrúpulos
Consultar este link, que conta a história deste negócio:
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-negocio-do-acordo-ortografico-172469
Assim sendo, nenhum tribunal, imparcial e honesto, poderá dar ganho de causa a algo que está assente numa trapaça. Logo, a tese de que o que está em vigor em Portugal, de iure, ou seja, pela lei, pelo direito, é a da ortografia fixada pela Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945. O AO/90 não está em vigor em nenhum Estado.
O facto de se dizer que o AO90 não está em vigor, não implica que cruzemos os braços e deixemos que o AO90 siga o seu caminho. Não! Isto significa que temos de OUSAR e USAR o nosso direito à resistência, à objecção de consciência, ou mesmo à desobediência civil, incluindo os Professores, que são coagidos a ensinar a Língua Materna “incurrêtâmente” aos seus alunos, e isso representa uma enorme violência e violação ao Código de Ética dos Professores.
No ano lectivo de 1973/74, ainda como Bacharel, comecei a dar aulas na Escola Secundária Frei João de Vila do Conde, portanto em plena ditadura, e recusei-me a dar uma lição de História (também leccionava Português) que falava dos grandes feitos de António Oliveira Salazar, e das maravilhas do Regime. Disse aos alunos que aquilo era mentira e não era para se estudar. Dei-lhes a versão dos factos históricos reais, até porque os vivenciei, em Coimbra, no ano tórrido de 1969, e risquei com um X as páginas dessa matéria, uns quinze dias antes de acontecer o “25 de Abril”. Um dos meus alunos era filho de um agente da PIDE. Mas ainda assim ousei não distorcer a História, por ir contra a minha consciência ética, a minha formação moral de docente. Não, podia enganar os meus alunos. Eu era uma Professora livre, não um pau-mandado da ditadura.
Como disse e muito bem o Embaixador Carlos Fernandes, quando estudou Direito: [à imposição do AO90 nas escolas] chama-se ditadura, tal como era ditadura eu ter de ensinar a História deturpada. O que mudou em relação a este tipo de imposições?
Então, ou nós ousamos, ou nós perdemos a nossa dignidade, a nossa consciência ética, a nossa personalidade, e passamos a ser um mero pau-mandado. Mas para ter esta ousadia, é preciso ser um espírito livre e não ter medo de enfrentar os tiranos, e das ameaças de processos disciplinares ou represálias, ou de enfrentar os tribunais. Nenhum mortal tem o poder de amarfanhar a nossa consciência, se nós não permitirmos.
Por falar em tribunais: as incongruências do AO90, já denunciadas publicamente por uns e por outros, com apresentação de documentos válidos, já deveriam ter sido investigadas pela Procuradoria-Geral da República, uma vez que os políticos não têm o direito de lançar um País e um Povo para um colossal caos ortográfico, e se ande a enganar os estudantes portugueses, e a obrigar professores menos ousados a ensinar um arremedo de língua, sob ameaças e chantagens, com algo que é manifestamente ilegal e inconstitucional, conforme os pareceres jurídicos de abalizados especialistas na matéria.
Não é pelo facto de políticos pouco esclarecidos, atados à política do quero, posso e mando, estarem ditatorialmente a impor a um Povo a grafia de um país estrangeiro que esse Povo tem de curvar-se aos ditames ditatoriais actuais, como se curvava ao ditador-mor do Estado Novo.
Citando o Embaixador Carlos Fernandes, num artigo intitulado «O “Acordo Ortográfico” de 1990 não está em vigor» (mais abaixo referenciado): «Portanto, reiteramos, como a ortografia de 1945 não está revogada, e só o pode ser por lei ou decreto-lei, terá de sê-lo para deixar de vigorar, e, como o AO/90 não está, nem, a meu ver, pode estar em vigor, legalmente, em nenhum dos seus Estados signatários, é a ortografia de 1945 a única a vigorar, actualmente, em Portugal.»
Posto isto, se eu estivesse a dar aulas, hoje, não tinha a menor dúvida: como o AO90 não está em vigor, e é uma fraude (comprovada na documentação reunida na investigação jornalística que aqui é referida,) não serve os interesses de Portugal (porquanto impõe uma grafia estrangeira) e está a ser imposto sob ameaças e chantagens, não é obrigatório adoptar a ortografia estabelecida pelo AO90. Eu não a aplicaria, com toda a certeza.
O que é preciso é ousar. Não ter medo de bichos-papões. Não ceder às ameaças. Querem processar-nos? Processem. Que tribunal ousaria condenar um Professor que apenas quer cumprir o dever de ensinar os seus alunos a escreverem correCtamente a Língua Oficial do seu País?
Para complementar o que aqui se disse, sugiro a consulta destes links (mas há muitos mais) com muita informação a este respeito:
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-ao90-nao-esta-em-vigor-em-estado-214336
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-acordo-ortografico-e-um-livro-para-210221
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-imposicao-do-acordo-ortografico-de-186154
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-ao90-esta-em-vigor-onde-224660
https://arautosdelrei.org/nao-e-qacordoq-nem-e-qortograficoq/
Isabel A. Ferreira
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Clicar no link para ver a Parte I:
(Porque em tempo de pandemia a Língua Portuguesa continua a ser atacada, também impiedosamente).
De um Professor (com pê maiúsculo, porque os há com pê minúsculo) do Ensino Secundário, recebi um e-mail onde, quase em desespero, declara que tem sido, consecutivamente, admoestado e ameaçado por escrever de acordo com a grafia portuguesa de 1945, que ainda está em vigor, porque o Decreto n.º 35 228, de 8 de Dezembro de 1945, alterado pelo Decreto-Lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro, que tornou obrigatória essa ortografia, em Portugal, de acordo com os juristas, livres e de elevado gabarito (e não feitos à pressão, seguidistas e servilistas), não foi revogado, e apenas uma Lei, e nada mais do que uma Lei, pode revogá-lo, além de o Acordo Ortográfico de 1990 não estar em vigor, em parte alguma, ser ilegal e inconstitucional, conforme mais adiante se verá.
Contudo, os governantes e acordistas, pouco esclarecidos, apoiados num mero despacho (Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, que não faz lei) acham que sim.
Os Juristas, livres e de elevado gabarito, consideram que não.
E entre uns e outros, a quem devemos dar mais crédito: a quem sabe da matéria, e não tem segundas intenções, ou a quem nada sabe da matéria e tem segundas, terceiras e quartas intenções, na aplicação de um acordo, que resulta do maior desacordo jamais visto à face da Terra?
Nestes livros (verdadeiras bíblias de quem escreve e quer estar a par da ilegalidade e inconstituconalidade do AO90) de leitura absolutamente obrigatória, está tudo o que há a saber sobre a Língua Portuguesa e o fraudulento AO90. O mal está em que nem políticos, nem professores são adeptos da leitura, se fossem, os primeiros já teriam chegado à conclusão de que o AO90 foi um monumental erro, daí que a atitude mais inteligente a tomar seja atirá-lo ao caixote do lixo, urgentemente; os segundos saberiam que não são obrigados a aceitar uma fraude, por não existir lei alguma que os obrigue a ser cúmplices de uma fraude.
O Coordenador de Grupo deste Professor (repare-se na construção frásica) diz-lhe que «todos os instrumentos de trabalho utilizados têm que estar no acordo ortográfico aprovado pelo estado português em 2009, situação que já lhe foi comunicada no inicio deste ano, e não está a cumprir…»
Vejamos: numa busca pela Internet, à pergunta é obrigatório adoptar a nova ortografia estabelecida pelo AO90 encontramos esta maravilha, no portal AP/Portugal – Tech Language Solutions, escrito em mixordês (uma vez que mistura o AO90, como a grafia portuguesa que corrijo entre parêntesis, para que não se julgue que o correCto é escrever “incurrêtâmente” a grafia que, em termos legais, não é obrigatória adoptar:
«O novo Acordo Ortográfico não é obrigatório em termos legais, uma vez que ao utilizar a grafia antiga [antiga?] não se incorre num ato (aCto) ilegal, à exceção (excePção) do que acontece com os documentos oficiais, que terão de obedecer às regras da nova ortografia. No entanto, visto que a nova ortografia está a ser implementada como única forma correta (correCta) na comunicação social e no ensino escolar, a sua aprendizagem e aplicação serão meios para uma melhor compreensão de documentos e comunicação de informação [?] mesmo a nível profissional, visto que a ortografia antiga [antiga?] vai ser considerada errada (ou seja, a correCta grafia portuguesa de 1945, que está em vigor, é que vai ser considerada errada?).
Para ajudar na adaptação às novas regras há um período de transição de seis anos, que começou em Janeiro de 2009 e termina em 2015, onde a ortografia antiga [?] ainda é aceitável, mas já circulam textos e documentos com a nova grafia, o que facilita a familiarização com as alterações do novo Acordo Ortográfico.»
Vide: https://www.apportugal.com/novo-acordo-ortografico/perguntas-frequentes/
Esmiuçando o que acabámos de ler: o AO90 não é obrigatório em termos legais, porque é uma fraude, e não existe lei alguma que a tal obrigue. À excePção dos documentos oficiais.
Porém (e aqui é que se fez jogo sujo para tornear a fraude e conseguir o desejado, ou seja, disseminar a ortografia fraudulenta, porque uma vez disseminada, [acham os acordistas] já não poderá voltar-se atrás [como se enganam!]), tratou-se de a disseminar apressadamente na comunicação social (cúmplice deste jogo) e no ensino escolar como única forma “currêtâ”, acenando aos professores com um despacho ministerial, como se este tivesse valor de Lei. E os mais incautos acreditaram. Os mais informados e conscientes do absurdo da aplicação de uma grafia incoerente, assente numa manifesta ignorância, questionaram-se, rebelaram-se, recusaram-se a escrever e alguns (sei eu) a ensinarem tão “incurrêta” grafia, completamente desenraizada da origem greco-latina da nossa bela Língua.
Por conseguinte, tendo em conta que:
lei: é um preceito ou regra estabelecida por direito;
resolução: é uma decisão; desígnio; deliberação; propósito;
despacho: é uma resolução de autoridade superior sobre pretensões…
pode afirmar-se que a Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011 constituiu um mero despacho sobre a pretensão de impor, de forçar os Portugueses, nomeadamente os organismos públicos e escolas, áreas onde impera uma subserviência assente no medo de represálias, despedimentos e processos disciplinares (e a isto chama-se chantagem e acto ditatorial), a aplicar uma ortografia deturpada que nada tem a ver com a Língua Portuguesa.
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011 determina a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no sistema educativo no ano lectivo de 2011-2012 e, a partir de 1 de Janeiro de 2012, ao Governo e a todos os serviços, organismos e entidades na dependência do Governo, bem como à publicação do Diário da República.
Vide: https://dre.pt/pesquisa/-/search/280944/details/maximized
Nas escolas, não se trata de determinar o uso ou o não-uso de roupa interior, no interior do recinto escolar. Trata-se de determinar a aplicação de uma grafia deturpada, e isso nem por decreto presidencial seria aceitável, quanto mais por mero despacho ministerial! Desobedecer a uma tal determinação não pode ser taxado como crime, sendo a Língua o pilar da Cultura e da Identidade de um Povo. Qualquer cidadão tem o dever de rejeitar esta imposição.
Determinar significa decidir, ordenar. Não significa decretar como o enunciado no Decreto n.º 35 228, de 8 de Dezembro de 1945: «Usando da faculdade conferida pelo n.º 3.° do artigo 109.° da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo o seguinte (…) Paços do Governo da República, 8 de Dezembro de 1945. — ANTÓNIO ÓSCAR DE FRAGOSO CARMONA — António de Oliveira Salazar — José Caeiro da Mata.
Neste link encontram o texto deste decreto:
http://www.priberam.pt/docs/AcOrtog45_73.pdf
Daqui se depreende que algo só se torna obrigatório, através de um decreto assinado por um Presidente da República. Estou errada?
Existe o Decreto do Presidente da República nº 43/91, de 23 de Agosto, assinado em 4 de Agosto de 1991, pelo Presidente da República Mário Soares, em que ele decreta que o Acordo Ortográfico de 1990 fica ratificado…
Vide: https://dre.pt/application/dir/pdf1s/1991/08/193A00/43704388.pdf
Disse-nos o já falecido Embaixador Carlos Fernandes, Professor de Direitos Internacionais (Privado e Público):
«Como todos os iniciados em Direito sabem, a nossa Constituição impõe que se legisle, exclusivamente, por lei ou decreto-lei, no continente (v. artigo 112.º, números 1 e 5). Isto diz-nos que não se pode legislar por resoluções, sejam do Governo, da Assembleia da República ou do Presidente da República. Mas foi o que, inconstitucionalmente, o Governo de José Sócrates fez, legislando, através da RCM n.º 8/2011, para impor, nos domínios governamentais (que não no Estado português), o AO/90, com vocabulário ortográfico, não comum, que o próprio Governo mandara elaborar (isto, mesmo se fosse legal, só vincularia o Governo, não o Estado português, sendo necessário fazer notar esta diferença essencial, porque o público, em geral, não a conhece).
Vide:
Qual a Lei ou Decreto-lei que decretou a obrigação de os Portugueses, incluindo os Professores, nomeadamente os de Português, que é os que têm mais responsabilidade na propagação da mixórdia ortográfica entre os alunos, aplicarem o deturpado AO90 que, conforme escreveu o Embaixador Carlos Fernandes, num artigo publicado em 2016, no Jornal Público, na sua qualidade de Professor de Direitos Internacionais (Público e Privado) «O AO /90, que não está, de jure, em vigor em Estado nenhum dos seus sete signatários, é, a meu ver, um aborto ortográfico, e, como tal, de deitar ao lixo o mais depressa possível, já que é evidente que está provocando, efectivamente, o caos linguístico em Portugal, sendo de observar que o Português, agora, já não é só de Portugal e do Brasil, mas também de mais sete Estados soberanos que o adoptaram como língua oficial. É, por isso, de esperar que o novo Presidente da República, [Marcelo Rebelo de Sousa] muito abalizado e ilustre constitucionalista, agora (depois da posse), garante da constitucionalidade da acção governativa, suspenda, imediatamente, a aplicação abstrusa do abstruso AO/90 nos Serviços presidenciais.»
Vide:
Pois como veio a verificar-se, Marcelo Rebelo de Sousa não só não suspendeu coisa nenhuma, em nome da constitucionalidade, nem em nome do senso comum, nem sequer em nome da racionalidade, como vergonhosamente assina decretos escritos em mixordês, misturando uma grafia inventada pela loucura do que não se lê, não se escreve, (ex.: exceto) com a grafia de uma ex-colónia portuguesa (ex.: excePto ou objeto) e ainda com a grafia portuguesa (em vigor) (ex.: acção). Ele, que é o Presidente da República Portuguesa. Tenho dúvidas se Marcelo não será o PR também do Brasil, por afinidade. Não foi ele que considerou Jair Bolsonaro um irmão?
Na segunda parte deste texto, demonstrar-se-á por que não é obrigatória a aplicação do AO90, e ninguém pode ser penalizado (ainda que seja ameaçado com represálias, tribunais, despedimentos, processos disciplinares), porque se um Professor quiser abrir um processo contra quem o obrigar a ensinar ou a escrever segundo a cartilha brasileira, esse alguém terá de apresentar a Lei pela qual se rege, para exigir a aplicação abstrusa do abstruso AO/90. Porque a justificação chapa cinco, que o MNE anda por aí a divulgar, não tem fundamento jurídico.
Isabel A. Ferreira
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Clicar no link para ver a Parte II:
Nota prévia: todos os que me conhecem sabem que sou apartidária (deste facto provém a minha liberdade), mas não sou apolítica, daí que absorva de cada partido político apenas o que cada um apresenta de melhor, porque todos eles, da esquerda à direita, têm coisas boas, coisas menos boas e coisas muito más. Foi com base nesta minha posição que me propus a fazer uma análise marginal à sessão solene, que hoje teve lugar no Parlamento, comemorativa do 46º aniversário do 25 de Abril.
Os que me conhecem, também sabem que nada tenho contra os cidadãos que são pais e cônjuges, e decidem ir para a política. Como sou muito exigente e quero o melhor para o meu País, exijo que os políticos sejam tão bons na política, como são bons pais e cônjuges. O que nem sempre acontece, e então sou severa para os políticos que não fazem política com Dignidade e Honestidade. Contra os pais e cônjuges que eles são, nada tenho.
Foto: Tiago Petinga - Lusa
Bem, a primeira observação que me ocorre fazer é a seguinte: muito democraticamente, hoje, no dia em que se celebra as tão propagadas Democracia e Liberdade, que os Capitães de Abril nos proporcionaram, a Deputada Joacine Katar Moreira, eleita por uma determinada fatia do Povo Português, foi impedida de usar a palavra. Não houve uma alminha sequer que, a exemplo de outras ocasiões, abrisse uma excePção, para que a deputada Joacine, no dia em que se celebra a Liberdade e a Democracia, pudesse dizer de sua justiça. Não é para aqui chamado o facto de ela já não pertencer a um partido político. O que aqui interessa é que hoje, no dia em que se comemora a Liberdade e a Democracia em Portugal, uma deputada da Nação, eleita pelo Povo, muito democraticamente, na Casa que se diz da Democracia, que é também a Casa do Povo, foi impedida de usar a palavra. E isto tem um nome: atitude ditatorial.
O primeiro convidado a chegar foi o ex-presidente Ramalho Eanes, de cravo na lapela. Nem todos trouxeram cravos. E estão no seu direito. Ninguém veio com máscaras, para o Parlamento. Parece que abriram o teCto do hemiciclo de São Bento, para não parecer um recinto fechado, e não ser obrigatório o uso de máscaras, como o é para o comum dos mortais portugueses, em recintos fechados.
Apenas o Director Nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP), superintendente Manuel Magina da Silva, chegou a São Bento com a sua viseira, como é da boa prática. Mas retirou-a, quando se sentou na Galeria, e verificou (digo eu) que era o único.
Nas Galerias estavam apenas 14 convidados, entre eles Ramalho Eanes, D. Manuel Clemente e um representante da Associação 25 de Abril. Nem todos mos convidados que aceitaram ir, foram.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, chegou sem cravo. Lá dentro deram-lhe um cravo, e foi com ele na mão que entrou no hemiciclo, mas logo o pousou algures, e nunca mais foi visto com ele.
A distância entre as pessoas, enquanto estiveram sentadas, foi respeitada. Enquanto estiveram de pé, foi ao molhe, em amenas cavaqueiras, sem máscaras ou luvas. É assim mesmo. Isto para demonstrar que o coronavírus não quer nada com o Parlamento Português. Não entra ali, porque Ferro Rodrigues não permite tal ousadia.
Depois de ouvido o Hino Nacional, o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, fez um discurso a cair de velho e pobre, começando pelo uso da tal linguagem inclusiva, que anda por aí a ser divulgada como se fosse algo muito moderneiro, mas nada, nada, mesmo nada erudita, e que ora é, ora não é: começou com Portugueses e Portuguesas, como se os Portugueses não representassem UM POVO, onde estão incluídas as mulheres. Até porque, mais adiante e por variadas vezes, Ferro Rodrigues referiu Portugal e os Portugueses, deixando de fora as portuguesas, e os cidadãos do mundo inteiro, excluindo as cidadãs, e isso não se faz… E isto é algo que me provoca urticária, de tão virulento que é.
Enfim, abriu o discurso evocando o vírus, que impediu uma celebração com todos; fez-se um minuto de silêncio pelos mortos da Covid-19, e o resto foi mais do mesmo.
Seguiram-se os discursos dos representantes do Povo, por ordem crescente de representação, na Assembleia da República, à excePção, como já foi referido, daquele povo representado pela deputada Joacine Katar Moreira.
Primeiro foi João Cotrim Figueiredo, do partido Iniciativa Liberal, que, sem cravo na lapela, fez um discurso diferente, com algo novo a dizer: leu a carta que escreveu ao seu filho, nascido há 18 anos, precisamente no dia 25 de Abril. Uma bela carta, a um filho a quem se pede que lute pelo futuro, pela liberdade, por um mundo melhor do que aquele que ele, como pai, não foi capaz de lhe deixar. Gostei bastante deste discurso, que não sendo político, foi humano.
Seguiu-se André Ventura do Chega, também sem cravo, e que fez um discurso assente em verdades, e as verdades não são de direita, nem de esquerda. As verdades são apenas verdades, e quando são verdades a que o Povo está atento, estes discursos têm um poder que os velhos discursos, ditos e reditos, já não têm.
Abram os olhos! Acordem para a realidade. A verdadeira Democracia não tem donos. São precisas novas políticas e um 25 de Abril renovado, de outro modo, os sonhos sonhados naquele 25 de Abril de 1974 serão engolidos e o pesadelo regressará, se já não regressou.
Seguiu-se José Luís Ferreira, do PEV, com cravo na lapela. Ele disse que para trás ficou um povo triste e um país a cheirar ao mofo. Será que, na realidade, esse país ficou para trás? Não me parece. Penso que José Luís Ferreira dourou demasiado uma pílula amarelada, já gasta pelo tempo, e louvou o SNS, que antes do coronavírus era um autêntico caos. Hoje só não é caos porque milhares de pessoas, por medo, deixaram de procurar o SNS. E o esforço brutal que todo o pessoal médico e paramédico está a fazer nos hospitais, com poucos meios e protecção individual, é de louvar. São eles os verdadeiros heróis disto tudo. Vamos ver o que se seguirá á pandemia.
Veio depois, Inês Sousa Real, do PAN, com um cravo na mão, e se não fosse aquele distintas e distintos convidados (então e as convidadas?) e aquele todas e todos no final, como se Todos não significasse HUMANIDADE, onde estão incluídos eles e elas, eu teria aplaudido o discurso. Abordou as questões do ambiente e do desprezo pelos animais, que mancham a democracia portuguesa. Lembrou aqueles que hoje, não puderam celebrar o 25 de Abril porque estão confinados ou mortos à conta da Covid-19. Não são estas cerimónias que garantem a Democracia. Pois não. Mas também não é com o modismo da linguagem inclusiva, que resolverão o problema das mulheres. Não é através desta linguagem apoucada que elas se integrarão na sociedade, no trabalho, nos cargos, na vida. É apenas com atitudes. As palavras em nada servirão.
Telmo Correia, falou pelo CDS, sem cravo, e apresentou um discurso coerente, com o qual concordei, porque ali não entrou política, mas bom senso. O facto de 110.228 pessoas estarem contra estas celebrações, não foi uma questão ideológica, porque não foi, mas tão-só uma questão ontológica. E os que se empenharam em celebrar a Liberdade e a Democracia, não respeitaram o que se exigiu ao Povo. O Parlamento deve respeitar os Portugueses, e este é um mau exemplo. Telmo Correia fez um discurso de protesto, com o qual tive de concordar, porque o meu conceito de Democracia engloba a vontade do Povo, quando ele se manifesta contra as imposições ditatoriais de quem, por eles, foram eleitos.
Veja-se esta imagem. Correram duas petições: uma, contra a celebração do 25 de Abril por motivos óbvios; outra, a favor, por motivos que poderiam ser adiados, porque, afinal, esta data não foi celebrada por quatro vezes, e nenhuma esteve ligada a uma pandemia desta dimensão. É bem certo que o promotor da petição contra, não fez chegar o documento ao Parlamento, e fiou-se não facto de que bastava os parlamentares visualizarem a petição para decidirem fazer a vontade de 110. 228 portugueses, porque isso seria um acto democrático, pois uma boa fatia do Povo Português assim o desejava. Mas isso não serviu de nada. Como poderia, num regime ditatorial, disfarçado de democracia?
E como hoje, se celebra a Democracia e a Liberdade, os parlamentares entenderam que eles também tinham a liberdade de fazerem o que muito bem entendessem, não respeitando o que o Bom Senso de milhares de portugueses ditou, nem sequer, as recomendações sanitárias.
Seguiu-se Jerónimo de Sousa, do PCP, com cravo à lapela, o velho guerreiro, e o deputado mais antigo da AR, o qual considerou que o 25 de Abril não seria apagado sem a celebração no Parlamento. Não, não seria. O seu discurso foi coerente como sempre foi. Aliás, devo dizer que admiro a honestidade deste senhor, mas nem sempre concordo com ele, porque falha, por exemplo, quando apoia o lobby troglodita, a pensar nos votos. Falou do Povo, e o povo é quem mais ordena, mas desta vez, não ordenou coisa nenhuma. Um discurso quase igual aos que sempre proferiu.
Moisés Ferreira, do Bloco de Esquerda, também com cravo na lapela, fez um discurso morno, não acrescentando nada de novo a esta celebração; aliás como Rui Rio (sem cravo) pelo PSD e Ana Catarina Mendes (com cravo) pelo PS. Três discursos iguais a si próprios, que nada nos disseram de novo, a não ser palavras de circunstância, que todos estamos cansados de ouvir.
Fechou a cerimónia Marcelo Rebelo de Sousa, que perdeu o cravo. O seu discurso centrou-se na preocupação de justificar esta celebração, e pouco mais. Foi mais um discurso, apenas. Uma desilusão.
Para terminar, uma curiosidade: a Itália, também comemora, precisamente hoje, o 25 de Abril dos italianos, para eles hoje, foi dia de celebrar a LIBERDADE, os 75 anos (não os 46, como nós) da libertação do nazi-fascismo. E celebraram esta data, cantando à janela e às varandas o "Bella Ciao", entre outros hinos.
Um belo exemplo, de como celebrar em conjunto, uma tão importante data, e como ouvi dizer a um velho guerreiro italiano: «Hoje não é dia de celebrar a Liberdade, mas de combater o inimigo que nos tirou a liberdade.»
Mas nem todos têm esta lucidez e sabedoria.
Isabel A. Ferreira
Os governantes pós-25 de Abril mataram a Revolução dos Cravos. Os sucessivos governos, desde então, sufocaram-na com as cordas da corrupção, das vigarices, da roubalheira, do desgoverno, das falsidades, do desleixo, de condutas terceiro-mundistas, de imposições ditatoriais.
E os cravos de Abril murcharam.
Portugal desconstruiu-se e, hoje, vive num caos (ainda mais acentuado com a invasão vírica), pendurado no abismo, por um fio de teia de aranha. É a chacota do mundo, que lhe finge amizade, por mero interesse, algo que a cegueira mental não permite vislumbrar.
É urgente uma mudança.
É urgente uma nova Revolução, desta vez, a sério. Sem cravos, sem armas, sem ilusões vãs.
É urgente uma Revolução inteligente, que devolva a Portugal a Dignidade e a Identidade perdidas.
Já não somos Portugal.
Em 25 de Abril de 1974, um grupo de ousados Capitães, que já estão na História como os Capitães de Abril, abriram uma porta para um futuro que se esperava promissor, sem correntes, sem pides, sem o regime opressivo do Estado Novo, sem mentiras, sem qualquer vestígio do passado, sem censura. Os Capitães de Abril abriram uma porta para as tão ansiadas Democracia e Liberdade.
Mas o Poder é uma célula cancerígena corrosiva, que ataca quem ambiciona o Poder apenas pelo Poder. E depressa a ilusão da Democracia e da Liberdade foi abafada pela ganância e pela incompetência dos que iam jurando, por uma honra que neles não habitava, cumprir a missão que lhes era confiada.
E Portugal, que se abriu para o futuro, em Abril de 1974, tem vindo a regredir a olhos vistos, e Abril ainda não se cumpriu.
O Povo que, por essa altura, estava unido e pensava que jamais seria vencido, foi sub-repticiamente sendo enganado e alienado pelas manobras de diversão que, entretanto, os governantes foram promovendo, com a ajuda de uma comunicação social servilista, até à alienação total.
Foi-se desenvolvendo a política do pão e circo, uma política que nasceu no Império Romano, e que consistia no modo como os imperadores romanos lidavam com o Povo, para mantê-lo subjugado à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. A designação panem et circenses, no original em Latim, tem origem na Sátira X de Juvenal, humorista e poeta romano que, no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse pelos assuntos políticos, e só se preocupava com o pão para a boca (hoje, dinheiro no bolso) e com o divertimento.
Os tempos são outros, mas a política romana mantém-se, e o Povo só sai às ruas por motivos ligados ao vil metal. Os bolsos mais ou menos cheios e o futebol, as novelas, os reality shows de má catadura, mantêm o Povo amansado, alienado, distante do que é essencial, cego aos jogos políticos que se jogam em São Bento, e nos vão afastando da evolução.
E com esta política, acolitada pelo mais poderoso veículo de comunicação social, a televisão, instalou-se de tal modo no País, que o Povo acabou por ser vencido, sem se dar conta, por um Poder fantasiado de uma “democracia”, que esconde uma prepotência pior do que a de Oliveira Salazar, porque esse, ao menos, fazia as coisas às claras, e sabíamos com que contar.
Sim, podemos dizer que muitas coisas mudaram, depois de 25 de Abril de 1974.
Por exemplo, podemos votar livremente e escolher quem queremos que nos desgoverne.
Porém, de que serve o voto livre, se a maioria dos votantes não faz a mínima ideia do que faz, porque não é esclarecida? O padre da freguesia diz na missa: votem naqueles, e eles votam naqueles, sem saberem que aqueles vão para o Governo gerir os interesses dos lobbies e não os interesses do Povo, os interesses do País. Por isso, Portugal é, hoje, o paraíso de povos de várias nacionalidades, que aqui se abancam, podem e mandam e têm mais privilégios do que os Portugueses, e os portuguesinhos aceitam isto passivamente, servilmente, humildemente, parvamente, achando que o que é estrangeiro é que é bom, é que é moderno, é que é bué fixe.
Para complicar ainda mais as coisas, o Zé Povinho é adepto dos partidos políticos, como se os partidos políticos fossem o clube de futebol dele, portanto, vota nas cores dos partidos da sua predilecção, ainda que os candidatos possam ser incompetentes, corruptos, mentirosos e vigaristas. Mas esta parte não interessa ao Povo.
E isto não tem nada a ver com Democracia, mas com cegueira mental, ignorância, alienação, seguidismo.
As Democracias só funcionam plenamente quando o Povo é maioritariamente esclarecido, informado, instruído, pensante, dotado de espírito crítico. E não estou a referir-me aos canudos, porque os canudos só dão conhecimento específico em determinadas matérias. Um analfabeto pode ser muito mais esclarecido e informado e educado e pensante e dotado de espírito crítico do que muitos doutores, que por aí andam de gravata ao peito, sendo a gravata a sua única medalha de mérito.
Em Democracia, os governantes são meros serviçais do Povo, que lhes paga o salário chorudo que ganham, para (des)governarem o País.
Em Democracia, os governantes, sendo nossos serviçais, têm o dever de responder às questões que o Povo lhes coloca, por escrito ou oralmente. Ora acontece que os governantes remetem-se ao silêncio, desprezando os apelos do Povo. Ignorando o Povo. E este desprezo não faz parte da Democracia que, se for verdadeira, o Povo é que é o detentor do Poder.
Daí a pergunta: o 25 de Abril entregou-nos uma Democracia a sério?
Os cravos de Abril murcharam, e Portugal não avançou para o futuro. Está prisioneiro de políticas retrógradas e de políticos (salvo raras excepções) incompetentes, corruptos, vigaristas, sem honra e sem brio, numa vergonhosa subserviência aos estrangeiros.
O Portugal hodierno limita-se a Lisboa, Porto, (e vá lá) Coimbra e ao Algarve, onde quem manda são os estrangeiros. O resto é território terceiro-mundista, nomeadamente o interior do País, onde ainda se vive sem água encanada, sem electricidade, onde ainda se passa fome, na maior miséria. Ao abandono total.
Eis o que temos para celebrar na passagem dos 46 anos (já dos 45 foi mais do mesmo) do 25 de Abril (que os servilistas grafam “25 de abril”):
- Um país, onde ainda se continua a viver em pobreza extrema, com crianças e idosos a passarem fome.
- Um país, que continua a ter a maior taxa de analfabetismo da Europa.
- Um país dos que menos gasta na Saúde, com um Serviço Nacional de Saúde caótico, onde falta quase tudo, e o aumento da Tuberculose diz do subdesenvolvimento, do retrocesso e da miséria que ainda persistem por aí.
- Um país que empurra para o estrangeiro os seus jovens mais habilitados: enfermeiros, médicos, engenheiros, investigadores, artistas.
- Um país com o terceiro pior crescimento económico da Europa.
- Um país com a 3ª maior dívida pública da União Europeia.
- Um país cheio de desigualdades sociais, onde os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.
- Um país cheio de banqueiros e outros que tais ladrões.
- Um país cheio de berardos a jogar ao gato e ao rato com o dinheiro do Povo.
- Um país onde a Justiça ainda é extremamente cara, desigual, lenta e injusta.
- Um país que promove a violência contra animais não-humanos, o que por sua vez gera a violência contra os seres humanos.
- Um país com um elevado índice de violência doméstica.
- Um país com um elevadíssimo número de crianças e jovens em risco.
- Um país que atira crianças para arenas de tortura de animais, e permite que sejam iniciadas em práticas violentas e cruéis, roubando-lhes um desenvolvimento normal e saudável, o que constitui um crime de lesa-infância.
- Um país cheio de grupos e grupelhos de trabalho, de secretários, de secretários de secretários, de assessores, de secretários de assessores, de comissões, de subcomissões, que não servem absolutamente para nada, a não ser para ganharem salários descondizentes com os serviços que (não) prestam; e com ex-presidentes da República com gabinetes e mordomias.
- Um país que descura a sua Flora e a sua Fauna, mantendo uma e outra ao abandono e à mercê de criminosos impuníveis.
- Um país que mantém as Forças de Segurança instaladas em edifícios a caírem de podres, e com falta de quase tudo.
- Um país onde ainda existem Escolas com instalações terceiro-mundistas, sem as mínimas condições para serem consideradas um lugar de aprendizagem; e com tribunais, como o de Monsanto, que parece um galinheiro ao abandono.
- Um país onde as prisões são lugares de diversão, com direito a vídeos publicáveis no Facebook.
- Um país cheio de leis e leizinhas retrógradas, que não servem para nada, a não ser para servir lobbies dos mais hediondos, e proteger criminosos impuníveis.
- Um país que não promove a Cultura Culta, e para o qual apenas a cultura inculta conta, e é assegurada, contra tudo e contra todos.
- Um país, cujo Sistema de Ensino é dos mais caóticos, desde a implantação da República, com a agravante de se estar a enganar as crianças com a obrigatoriedade da aprendizagem de uma ortografia que não é a portuguesa, a da Língua Materna delas, estando-se a incorrer num crime de lesa-infância.
- Um país, que tinha uma Língua Culta e Europeia, e hoje tem um arremedo de língua, uma inconcebível mixórdia ortográfica, imposta ditatorialmente por políticos pouco ou nada esclarecidos e servilistas, que estão a fabricar, conscientemente, os futuros analfabetos funcionais, e a promover a iliteracia. E já sou poucos os que escrevem correctamente a sua Língua Materna.
- Um país onde, parvamente, se começou a dizer “olá a todos e a todas, amigos e amigas, portugueses e portuguesas”.
- Um país, com um presidente beijoqueiro e viciado em selfies, e um primeiro-ministro que não tem capacidade para ver o visível, muito menos o invisível, que qualquer cego, de nascença, vê à primeira vista.
- Um país, que em 2018/2019 foi marcado por uma constante contestação social, com o número mais elevado de sempre de greves em todos os sectores da sociedade portuguesa, número que continuaria a aumentar no corrente ano não fosse a invasão invisível do coronavírus.
- Enfim, um País que perdeu o rumo, e faz de conta que é um país. E amanhã, contra tudo e contra todos, e violando o Estado de Emergência em que Portugal está mergulhado, os governantes irão dar um mau exemplo ao País, com a ilusão de que estarão a celebrar o 25 de Abril, que ainda não se cumpriu inteiramente.
Enquanto tudo isto (e muito mais, que agora não me ocorre) não sair da lista do que não se quer para um País de Primeiro Mundo, evoluído e civilizado, o que há para comemorar neste 25 de Abril?
Há o facto de eu poder escrever este texto, sem ir parar ao Campo de Concentração do Tarrafal, o campo da morte lenta, para onde os médicos iam assinar certidões de óbito e não curar, criado pelo Estado Novo, na ilha de Santiago, Cabo Verde, num lugar ironicamente chamado de Chão Bom, de muito má memória.
Isabel A. Ferreira
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Para complementar este texto, leia-se este outro, da autoria de Manuel Damas, publicado no Facebook, em 24 de Abril do ano passado, mas que poderia ter sido escrito hoje, e faço minhas todas as palavras que Manuel Damas escreveu.
45 anos depois...
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2332540223434593&set=a.133659383322699&type=3&theater
"A Cultura assusta muito. É coisa apavorante para os ditadores. Um Povo que lê (bons livros) nunca será um povo de escravos» (António Lobo Antunes)
https://
Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3362702717092073&set=a.102726493089728&type=3&theater
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Hoje é o #diamundialdolivro e vamos celebrar ao longo do dia com a voz dos nossos autores e editores!
Acompanhe-nos por aqui e pelo Facebook das nossas chancelas: Companhia das Letras Portugal, Alfaguara Portugal, Editora Objectiva, Nuvem de Tinta, Suma de Letras Portugal, Arena Editora.
Um bom dia do livro para todos!
#PenguinRandomHouse #FicoemCasaaLer
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O Principezinho é um livro que já quase toda a gente leu. Lembram-se da palavra chave desse livro? Cativar! Não “cativar” à maneira de Mário Centeno, o senhor ministro que me desculpe, mas cativar seduzindo, encantando. Há no livro, como na raposa, que pede ao Principezinho que a cative, a mesma exigência: o livro quer que fiquemos a olhar para ele, a contemplá-lo, e quer que tenhamos tempo para o fazer. O prazer de olhar longamente e sermos nós donos do nosso tempo são características de civilização. De civilização avançada, uma civilização que saboreia, que frui, que se deleita.
Hoje, Dia Mundial do Livro, é esse tempo dos deuses que devemos usar. Usem-no, os meus caros leitores, para afagar as capas tão bonitas destes dez clássicos que aqui, navegando na nossa colecção de Clássicos, vos oferecemos. Virem depois a página e deixem-se levar pela torrente de sensações, pelos mundos que se colam a cada página, pelos dramas intensos, pela doce ironia, pelos conflitos pícaros. Um livro são páginas e palavras. Mas que transubstanciação é essa que converte essas palavras, que seriam só água corrente, no mais exaltante dos vinhos, como no milagre das Bodas de Caná? Que paixão se solta do papel e das páginas que nos sabe aos beijos da boca da amada no Cântico dos Cânticos?
Cinco clássicos das literaturas de língua portuguesa, cinco das literaturas russa, inglesa, francesa e americana. Estes são os livros com que hoje, Dia Mundial do Livro, e nos dias que se seguem, celebramos o mistério e a paixão do livro. Quase lhos oferecemos, mas tem ainda assim de os comprar. Porque comprar livros é um acto de civilização com que o leitor cativa cada autor.
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Na página do Facebook Português de Facto encontram muitas sugestões de bons livros escritos em BOM Português:
https://www.facebook.com/portuguesdefacto/photos/a.789300531156489/1574763905943477/?type=1&theater
Porque há que celebrar os Livros escritos com afeCto pela Língua Portuguesa.
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Como levar à falência as editoras que se vergaram ao AO90?
(Sim, porque esta é a pena que elas merecem por terem cometido um linguicídio)
Andar pelo Facebook a passar o tempo, gostando e desgostando das publicações anti-AO90, que por lá se propagam, em várias páginas, não leva a lado nenhum.
É preciso mais acção e menos conversa.
O que pode ser feito?
Podemos levar à FALÊNCIA as editoras que se vergaram ao AO90, com olhos esbugalhados a pensar nos €€€€€€€€€ que podiam meter ao bolso. E este é UM dos caminhos para acabar com a mixórdia que se ensina nas Escolas portuguesas e se anda a escrever por aí, ignorantemente.
Sabemos que o acordo ortográfico não abriu o mercado brasileiro ao livro português, nem vice-versa, aliás como já era de esperar (e não vou sequer entrar nos pormenores que justificam este falhanço, porque só os muito ingénuos acreditaram em tal abertura).
Um destes dias, tive na mão um livro para crianças intitulado Diário de um Banana, da Booksmile, onde se lia Edição em Português (venda interdita no Brasil). Estando o livro escrito à brasileira, por que a sua venda é interdita no Brasil? Isto é algo que gostaria de saber e vou averiguar.
Achou-se (se tivessem pensado, não chegariam a esta conclusão) achou-se que ao estabelecer uma ortografia "unificada" (o que foi um falhanço total, porque absolutamente inviável) o AO90 iria facilitar a circulação do livro português no Brasil (uma vez que no Brasil não se entende o nosso Português). E este foi um dos argumentos usados a favor da aplicação do acordo, cujo tiro saiu pela culatra.
Porém, como achar que o acordo unificaria a ortografia do Brasil e de Portugal foi um erro de cálculo incalculável, essa ilusão deu com os burros n’água, tanto que a LeYa, que foi logo in$talar-$e no Brasil, a achar que ia encher os bol$o$, já de lá saiu. E agora marca-se passo, por que nem livros portugueses entram no Brasil, nem livros brasileiros entram em Portugal (no Correntes D'Escritas 2020, só havia uma autora brasileira).
O AO90 foi (é) um daqueles erros apenas cometidos por quem só viu (vê) $$$$$$$$$ diante dos olhos. E como sempre ouvi dizer: quem tudo quer, tudo perde.
A aplicação do AO90 é ilegal e inconstitucional, dizem os juristas de alto gabarito.
O AO90 não unificou coisa nenhuma, e jamais unificará, a não ser que o Brasil ceda e adoPte a Língua Portuguesa, de faCto, porque é o único país da dita lusofonia, que não a escreve e fala na íntegra, e que Portugal mande o AO90 às malvas e regresse à racionalidade.
E como os maiores vendilhões da Língua Portuguesa são as editoras que andam por aí a vender gato por lebre, ou seja, a chamar portuguesa a uma grafia abrasileirada, há que levá-las à falência e obrigá-las a publicar livros e manuais escolares e dicionários em Português correCto, se quiserem que os Portugueses, que não se renderam a este modismo acordista, a esta fraude, a este negócio dos mais sujos de que há memória em Portugal, comecem a comprar-lhes livros.
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Sugestão de Miguel F.:
«Uma forma adicional de dar força à falência dessas editoras, seria por exemplo no ínicio dos anos escolares, ser comprado apenas UM ÚNICO exemplar de cada manual escolar e distribuí-lo digitalmente (fazer scans, criar um pdf e enviar por email) por todas as famílias e estudantes do país.
Conseguem imaginar o IMPACTO NEGATIVO que teriam essas editoras (acordistas, fraudulentas e traidoras da língua)?»
Se isto não for ilegal, é uma excelente ideia!
Análise jurídica a esta ideia:
«Supostamente será ilegal segundo a protecção de direitos de autor (?), mas por outro lado também o DESacordo é ilegal e usam-no impunemente.»
A dedução lógica da lei é que supostas "obras" que usam uma ortografia claramente ilegal não poderão ser consideradas obras, não estando por isso protegidas por direitos de autor. E assim sendo, deixa de ser ilegal a sua reprodução.
Na pior das hipóteses, e já que o governo e a justiça portugueses funcionam tão pobremente que deixam algo tão obsceno como o DESacordo continuar a ser inconstitucional e ilegalmente impingido aos portugueses, certamente não será difícil alguém publicar esses pdfs online e partilhá-los sob anonimato, uma vez que quem usar esses pdfs (famílias e estudantes) não poderão ser criminalizados pois não foram eles quem reproduziram tais "obras" cheias de erros.»
Pois aqui aqui fica a sugestão, porque já chega de tanta mixórdia ortográfica, que anda disseminada por aí, como um vírus, que não mata gente, mas mata a Língua Portuguesa.
Isabel A. Ferreira
OPINIÃO ACORDO ORTOGRÁFICO
«Vital Moreira decidiu sair da caverna ortográfica, em que (julgava eu) prudentemente se escondera há uns anos, para vir a terreiro atacar Nuno Pacheco, a propósito do artigo Enquanto combatemos o novo coronavírus, o velho “ortogravírus” não pára (PÚBLICO, 16/4/2020). Com um pequeno texto no Causa Nossa, um blogue colectivo no qual só o antigo eurodeputado escreve, Vital Moreira voltou a dar mostras de falta de rigor em matéria ortográfica.» (Francisco Miguel Valada)
Texto: Francisco Miguel Valada
«Não conheço o artigo científico que serve de base a esta afirmação peremptória e grave do ex-eurodeputado. Fico a aguardar, serenamente, as referências de Vital Moreira. Obviamente, esperarei sentado.»
—Dios se lo perdone —dijo Sancho—. Dejárame en mi rincón, sin acordarse de mí, porque quien las sabe las tañe, y bien se está San Pedro en Roma.
Miguel de Cervantes Saavedra
Vital Moreira decidiu sair da caverna ortográfica, em que (julgava eu) prudentemente se escondera há uns anos, para vir a terreiro atacar Nuno Pacheco, a propósito do artigo Enquanto combatemos o novo coronavírus, o velho “ortogravírus” não pára (PÚBLICO, 16/4/2020). Com um pequeno texto no Causa Nossa, um blogue colectivo no qual só o antigo eurodeputado escreve, Vital Moreira voltou a dar mostras de falta de rigor em matéria ortográfica. Lembremo-nos da pergunta há uns anos feita à Comissão Europeia pelo ex-eurodeputado (PÚBLICO, 11/8/2012): “se e quando pretende a Comissão adotar [sic] nos textos oficiais a grafia resultante do mencionado Acordo?”. No início dessa pergunta, Vital Moreira indicava que o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) (chamando-lhe “novo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa”) entrara em vigor em Janeiro de 2009.
Quem, em algum momento da vida, efectivamente se debruçou sobre esta matéria sabe que Janeiro de 2009 não é data de entrada em vigor de coisíssima nenhuma ortográfica. Na contestadíssima Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011 (Diário da República, 25/1/2011), é 13 de Maio de 2009 a data indicada para a entrada em vigor do AO90 em Portugal. Curiosamente, Vital Moreira viria posteriormente a actualizar a pergunta à Comissão Europeia, mas mantendo intacto o erro na data. Isto é, o ex-eurodeputado pronunciou-se sobre a entrada em vigor do AO90 sem saber quando é que este de facto (alegadamente) entrara em vigor.
Vital Moreira confessa admiração pela “pequena tribu [sic] de opositores ao Acordo Ortográfico, os quais, passados mais de dez anos sobre a sua vigência e a sua aplicação generalizada – o que o torna irreversivel [sic] –, continuam a pugnar pelo regresso à antiga ortografia, com a mesma convicção com que os sebastianistas esperavam o regresso de D. Sebastião”. Quanto a mim, confesso a minha estupefacção, não tanto nem pela alegada dimensão da ‘tribu’, nem pela irreversibilidade desencantada sabe-se lá onde, mas por ver, no penúltimo parágrafo do texto do ex-eurodeputado, a grafia lêem em vez de *leem. Passados os tais “mais de dez anos” sobre a “vigência” e “aplicação generalizada”, esperava-se mais qualidade ortográfica de quem, com tanta autoridade auto-atribuída, vem defendendo o AO90 desde 1990 (PÚBLICO, 18/12/2007) e dando a impressão de escrever segundo as regras do AO90. Curiosamente, ao percorrer o índice onomástico da obra Demanda da Ortografia Portuguesa, organizada por Inês Duarte, Ivo Castro e Isabel Leiria, reparo que o ex-eurodeputado, apesar das abundantes intervenções sobre o AO90 do nosso descontentamento, nunca interveio, pelo menos de forma notória, acerca do AO86 do cágado sem acento.
Há dez anos, precisamente neste jornal, de indicador apontado à rejeição do AO90 pela excelente direcção do PÚBLICO, Vital Moreira manifestava-se preocupado com “o estabelecimento de uma confusão duradoura em matéria ortográfica” (PÚBLICO, 5/1/2010). Curiosamente, com lêem, um tesouro da melhor ortografia portuguesa disponível (a de 1945), o ex-eurodeputado vem, ele próprio, tornar-se foco de “confusão duradoura em matéria ortográfica”. Com lêem, o antigo professor catedrático de Direito vem provar que, ao contrário da garantia de Paulo Feytor Pinto, o AO90, afinal de contas, não se aprende em meia hora. Passados os tais “mais de dez anos sobre a sua vigência e a sua aplicação generalizada”, Vital Moreira continua sem dominar o AO90. Se um professor catedrático jubilado de Direito Constitucional, frequentemente atento a este assunto, não aprendeu as regras do AO90 em dez anos, imagine-se o tempo que não demorará um cidadão comum. Querer adoptar, efectivamente, não é poder.
O ataque mais feroz de Vital Moreira a Nuno Pacheco diz respeito à denúncia das infecções e dos infectados no Brasil e em Portugal antes do AO90 e das infecções e dos infectados que se mantêm no Brasil com o AO90, mas que se transformam em *infeções e *infetados em Portugal com o AO90. O ex-eurodeputado aproveita o Causa Nossa (aliás, tendo em conta o carácter unipessoal da causa, sugiro que altere o nome para Causa Minha) para criar uma doutrina, segundo a qual “a ortografia não deve servir para esconder artificialmente reais diferenças de dicção”. Terão passado ao lado de Vital Moreira quer as expressões “unidade essencial da língua portuguesa” e “contra a desagregação ortográfica da língua portuguesa” da Nota Explicativa do AO90, quer os estudos já por mim aqui indicados de linguistas sobre o valor grafémico das consoantes cê e pê (PÚBLICO, 15/3/2015), quer, em geral, as conclusões dos estudos mais recentes sobre este assunto, bem resumidas por Bentolila, quando lembra o papel já desempenhado pelo alfabeto fonético internacional para quem deseja vectores de correspondência entre letra e som (PÚBLICO, 1/12/2018).
Todavia, em meu entender, o mais importante trecho deste texto é o último parágrafo. Segundo o antigo eurodeputado, a eliminação do cê de infectar, activo, respectivo ou efectivo “facilita a aprendizagem do português europeu pelos estrangeiros que estudam a nossa Língua”. E isto encontra-se realçado a amarelo no texto de Vital Moreira, para não haver dúvidas acerca da importância da coisa. Não conheço o artigo científico que serve de base a esta afirmação peremptória e grave do ex-eurodeputado. Provavelmente, houve algum estudo através do qual se descobriu a melhoria da aprendizagem do português europeu por falantes de outras línguas, devido à supressão dos cês e dos pês não pronunciados. Fico a aguardar, serenamente, as referências de Vital Moreira. Obviamente, esperarei sentado.
Autor de “Demanda, Deriva, Desastre: Os Três Dês do Acordo Ortográfico” (Textiverso, 2009)
Fonte:
É exactamente assim que se deve LER as palavras adulteradas pelo Acordo Ortográgfico de 1990.
Eu também "âdôtu" esse modo de ler, sempre que me deparo com o modismo acordista.
Sugiro a todos os desacordistas a fazer o mesmo, quando estão em público.
É o que também sugiro aos meus netos, para que não façam deles umas crianças desprovidas de neurónios, porque neurónios é o que não lhes falta.
Amiudadas vezes troco impressões, via e-mail, sobre a questão do AO90, com pessoas que têm coisas para dizer ou para perguntar. Quando o assunto é do interesse público, costumo divulgá-lo.
É o caso do texto que hoje aqui transcrevo, com a devida autorização da autora, e a minha resposta.
Atentem na frase da imagem. Eis algo que os acordistas, do alto da sua falta de Saber, não sabem: cada palavra tem uma história, e sem história as palavras não são palavras, mas simples amontoados de letras desenraizadas. Tudo e todos têm uma origem, têm uma história. É essa origem que valida a existência de tudo e de todos. A Língua Portuguesa é uma das Línguas mais ricas do mundo, e os acordistas pretendem empobrecê-la e despojá-la da sua riqueza e de toda a sua beleza atacando-a com o AO90. E vamos deixar que isto aconteça?
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Cara Isabel,
Tudo isto é muito confuso para mim. Tive dois filhos em ensino doméstico e ensinei-os a ler, vendo as dificuldades que encontraram nalgumas palavras que não faziam sentido, como baptismo. Sinceramente, algumas palavras podiam ser alteradas, para facilitar a aprendizagem tanto dos iniciantes crianças como dos estrangeiros, mas é tudo muito complexo. Pharmácia um dia teve que passar a ser farmácia e penso que foi um bom dia.
Confesso que não sou absolutamente contra a alteração de uma ou outra palavra, mas o acordo em si é uma aberração! E infelizmente o meu Word está com o novo acordo e não o consigo definir para sem acordo, tenho que ver se resolvo isso.
Outra coisa que me aterroriza, mas não acovarda, é o facto de o Inglês andar a saltar em cima do Português. Resistir e escrever e falar Português é crucial.
A nossa língua é lindíssima!
Estou muito preocupada com este caso do acordo, assim como o Letria escreve com o AO, muitos o fazem. Agora que os estudantes são penalizados por escreverem à moda antiga. É muito mais complexo e urgente do que se possa imaginar, eu acho. Quanto mais tempo passar, pior.
Convinha precisamente aproveitar a crise para tocar para a frente o assunto, com reuniões online, sei lá, tudo o que fosse possível.
Os escritores deviam debater mais, independentemente do Governo ou Parlamento.
Os meus livros ainda são só ensaios, mais para os amigos e conhecidos. Serão 365 contos de Portugal Intemporal, em volumes de 19, para ir fazendo.
E uma das questões que me faz estar a editar só 100 exemplares é precisamente o acordo, pois quero rever todos os textos antes de editar maior quantidade.
Fico ao dispor, dentro das minhas possibilidades.
Por uma Língua com Personalidade, Independência e Raiz!
F. M.
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Cara F. M.,
Compreendo a sua confusão, mas se o Português fosse ensinado com cabeça, tronco e membros, como devia, a confusão desapareceria. Hoje em dia, ele é ensinado apenas com os membros inferiores.
Existe uma “coisa” chamada Gramática, que é o estudo e tratado dos factos de uma língua e das leis que a regem; é um livro em que se encontram expostas as regras da linguagem, e que hoje em dia não está a ser considerado, porque se nas escolas ensinassem a Gramática, as confusões desapareceriam.
A Língua é uma Ciência muito completa, tal como a Matemática ou a História. E se os estudantes soubessem que existe uma parte da Gramática que trata da origem e formação das palavras, que se chama Etimologia, saberiam que a palavra baPtismo tem aquele Pê, porque o seu étimo, ou seja, o vocábulo que lhe deu origem é baPtismus (do Latim), originário do grego βάπτισμós. A nossa Língua tem origem na Família Indo-Europeia, que passou ao Itálico, e deste, ao Latim, de onde são originárias as Línguas românicas, como o Português, o Castelhano, o Catalão, o Francês, o Provençal, o Italiano, o Romeno, entre outras línguas de menor importância. Está tudo explicadinho na GRAMÁTICA. Todas estas Línguas têm uma história tal como a Língua Portuguesa, mas ao contrário da Portuguesa, essa história é mantida e estudada, para que se possa compreender as palavras.
E é esta aprendizagem que faz falta, em Portugal. BaPtismo, sem o pê, não tem qualquer significado. É um amontoado de letras sem origem alguma. Todos nós SOMOS alguém porque temos uma origem no Pai e na Mãe. As palavras são a mesma coisa.
E não se pode pegar numa Língua e desfazê-la, apenas porque políticos pouco ou nada esclarecidos assim o querem.
Não me venha falar de “facilitar a aprendizagem das crianças ou dos estrangeiros” porque está a passar um testado de idiotas às nossas crianças e aos estrangeiros (veja o Inglês, o Alemão, o Polaco), línguas com bastantes consoantes que NÃO se lêem, mas escrevem-se, e sem elas a linguagem fica mais complicada, ao contrário do que diz. As crianças alemãs, inglesas e polacas entre outras, aprendem as suas complicadas Línguas Maternas, e nunca foi preciso SIMPLIFICAR coisa nenhuma, ou fazerem acordos para facilitar a aprendizagem das crianças e muito menos dos estrangeiros. A aprendizagem de uma língua também é feita visualmente, com muita leitura. Ao escrevermos “batismo” (lê-se obrigatoriamente “bâtismu”) se soubermos a história da palavra, imediatamente vemos que falta ali alguma coisa, além de aquele pê ter uma função diacrítica, ou seja, uma função de sinal gráfico, que abre a vogal que o antecede. Centenas de gerações antes de nós aprenderam a Língua deste modo. E nós também a aprendemos. Por que não agora? A pergunta é: ficaram todos muito mais estúpidos?
No caso de Pharmacia, é preciso saber o alfabeto latino. Sabendo-se o alfabeto latino, que é o nosso, ficamos a saber que o PH (fonema grego) tem o som da nossa letra F. Então, se no NOSSO alfabeto, temos uma letra que corresponde a esse som, passemos a grafar o F, em vez do PH (grego), não se alterando a pronúncia, como se altera em “batismo”. E pela grafia de 45, só se suprimiram as consoantes sem função diacrítica, e que não alteravam a pronúncia das palavras, como por exemplo em ella/elle, que passou a ela/ele.
Não é necessário alterar coisa nenhuma, porque o AO90 é a maior estupidez que já existiu à face da Terra. Única no mundo linguístico.
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O problema com o seu Word resolve-se muito facilmente: é só instalar o Corrector Ortográfico anterior ao AO90.
Deste modo:
1 - Abra uma página de Word
2 - Vá ao FILE
3 - Clica em OPTIONS
4 – Aqui, clica em PROOFING
e aparece um quadro que tem de ficar igual a este (que é o meu com o corrector na pré-reforma:
Para quem usar o WinWord em português, apenas necessita de ir à caixa que indica "Modos de português de Portugal:" e escolher Pré-acordo. (Informação de João Moreira)
Nunca mais terá problemas. Quando escrever batismo, a palavra aparecerá com um risquinho vermelho por baixo, e é só corrigir. Os acentos são corrigidos, quase todos, automaticamente, e em algumas palavras como em acção, se a escrever sem o cê, o corrector corrige automaticamente também.
Diz que outra coisa que me aterroriza, mas não acovarda, é o facto de o Inglês andar a saltar em cima do Português. Resistir e escrever e falar Português é crucial. Pior é o brasileiro, porque o Inglês é uma língua universal, e uma língua ÍNTEGRA. Mas sim, é crucial falar e escrever Português, sem qualquer dúvida, porque a nossa Língua, como diz e muito bem, é lindíssima, e o AO90 só veio desfeá-la.
Os estudantes, por lei, NÃO PODEM ser penalizados por escreverem, não à moda antiga, mas por escreverem a sua Língua Materna correCtamente. Não há lei nenhuma que possa penalizá-los. É só terem a coragem de dizer NÃO e pedir a lei que os obriga a escrever incorreCtamente a Língua deles. Como essa lei não existe, não são obrigados a escrever incorretamente (incurrêtâment’).
Eu estou a fazer a minha parte. Não desisto. Já lancei reptos a professores e a escritores, no meu Blogue. Se todos colaborassem isto acabava em dois tempos.
Sejam ensaios ou outra coisa, jamais escreva os seus livros em acordês, pois estará a prestar um mau serviço a Portugal, à Língua Portuguesa e a si própria, à sua alma portuguesa.
Estarei sempre ao seu dispor.
Por uma Língua com Personalidade, Independência e Raiz! (gostei deste seu grito).
Isabel A. Ferreira
As ditaduras e os ditadores derrubam-se, para que a vida siga o seu rumo natural. Até a de Salazar foi derrubada!
Também a Língua Portuguesa que, presentemente está nas mãos de ditadores (socialistas) que se acham os donos desse Património Cultural, que é de todos os Portugueses, regressará às suas raízes, nobres e europeias, porque a pequena tribO (com ó) de opositores ao Acordo Ortográfico, na qual me incluo, continuará a pugnar, não pelo regresso à antiga ortografia, porque não existe “antiga ortografia”, mas pela preservação da grafia portuguesa de 1945, ainda em vigor, pelo Decreto 35.228, de 8 de Dezembro de 1945, e ligeiramente (mal) alterada pelo decreto-lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro, uma vez que esse decreto não foi revogado, e, por conseguinte, não permitiremos que a ditadura ortográfica seja irreversível, porque (até) Deus (que é Deus) suporta os maus, mas não eternamente (citando Miguel de Cervantes).
Vem isto a propósito de um inacreditável artigo publicado por Vital Moreira, professor universitário, jurisconsulto e político português, afecto ao Partido Socialista (só podia ser!), no seu Blogue Causa Nossa, sob o título Pobre Língua (15): Sebastianismo ortográfico (mais abaixo assinalado).
É este inconcebível artigo que me proponho a esmiuçar.
Imagem enviada via Messenger (Facebook)
(Antes de prosseguir, devo lembrar ao Dr. Vital Moreira que a Língua Portuguesa é uma das Línguas mais ricas do mundo, e se ficou pobre isso deve-se unicamente a uma tribO de predadores ignorantes que a atacaram com o AO90, despojando-a da sua riqueza e de toda a sua beleza).
A quem serve o Professor Vital Moreira?
Porque não acredito que um professor universitário, ainda que da área do Direito, se prestasse a escrever tantos disparates, num só texto, a não a ser a pedido dos tais ditadores, que mantêm a Língua Portuguesa cativa nos calabouços do Poder.
Ou, na pior das hipóteses, se está verdadeiramente crente que AO90 é excelente para facilitar a aprendizagem da nossa Língua aos estrangeiros, deveria, no mínimo, ter dado uma vista de olhos pelas Gramáticas das Línguas nobres europeias, nas quais a nossa Língua se inclui, para não fazer a má figura que fez ao escrever o que escreveu. Se eu, que sou ignorantíssima a Física Quântica, me metesse a falar de moléculas, átomos, electrões, protões, e partículas sub-atómicas, faria a mesmíssima figura. Porque cada macaco (quer-se) no seu galho.
No seu artigo, Vital Moreira começou por dizer isto:
1 - Confesso que não deixo de admirar a pequena tribu de opositores ao Acordo Ortográfico, os quais, passados mais de dez anos sobre a sua vigência e a sua aplicação generalizada - o que o torna irreversivel -, continuam a pugnar pelo regresso à antiga ortografia, com a mesma convicção com que os sebastianistas esperavam o regresso de D. Sebastião.
O caso é tanto mais de admirar, quanto eles insistem sem desfalecimento num pequeno menu de argumentos, em geral de uma enorme fragilidade, como se deduz de mais uma peça de um dos seus mais empenhados ativistas, Nuno Pacheco, ontem no Público, um dos poucos periódicos que se mantém fiel à antiga ortografia.
***
Senhor professor Vital Moreira, a pequena tribO de opositores ao Acordo Ortográfico, que não é assim tão pequena quanto julga, continua aCtiva na defesa da Língua Portuguesa, passados que são mais de dez anos de ignorância, também aCtiva, na aplicação do AO90 (não com espírito sebastianista, uma vez que a nossa luta não assenta em ilusões, mas em certezas) porque uma outra tribO, esta sim, pequena em número e em Saber, arrasta servilmente os seus grilhões, numa vergonhosa subserviência aos senhores de uma ex-colónia.
O senhor professor Vital Moreira diz que passados mais de dez anos sobre a sua vigência e a sua aplicação generalizada ele (o AO90) torna-se irreversível. Está totalmente enganado. Os erros, quando têm reparação (e o AO90 tem reparação) jamais são irreversíveis. Muito pelo contrário. Irreversível, só a morte, ou a perda de uma perna, num acidente. Até podemos usar uma prótese, mas não é a mesma coisa.
Portanto, o regresso à grafia portuguesa, a original, com pai e mãe bem definidos, não só é possível, mas urgente e desejável por todos os portugueses minimamente instruídos. Não é preciso ser-se doutor. A minha colaboradora doméstica, que tem apenas a 4ª classe, anterior ao AO90, escreve muito mais correCtamente, sem dar erros (e não me refiro às palavras mutiladas pelo acordo, que ela não usa) do que os cronistas subservientes a políticos pouco esclarecidos, os quais nada sabem de Língua Portuguesa e muito menos das regras das Línguas cultas do mundo.
O nosso “menu de argumentos” só é frágil para aqueles que não fazem a mínima ideia do que é a Estrutura de uma Língua, do que é a Fonética, a Fonologia, a Ortografia, o Léxico, a Etimologia, a Morfologia, a Sintaxe, a Semântica, enfim, nada sabem da Origem e da Evolução do Português. E pior, nem se dão ao trabalho de querer saber, para poderem falar ou escrever sobre o assunto, com conhecimentos.
O senhor professor Vital Moreira acha que os nossos argumentos são frágeis. Serão? E os dos acordistas, que assentam numa falta de conhecimentos de pasmar? E tal desconhecimento transparece no seguinte parágrafo:
2 - O argumento tem a ver desta vez com a grafia dos termos infetar e derivados (infeção, infetado, etc.) no Portugûes europeu, depois do Acordo, quando no Brasil - que também subscreveu o Acordo (e noutros países de Língua Portuguesa que o não ratificaram ainda) - os mesmos termos se escrevem com um c adicional (infectar, infecção, etc.).
O que o autor não diz, propositadamente para criar a confusão, é que no Brasil essas palavras se escrevem com o tal c porque assim se pronunciam, sendo esse um dos vários casos da diferença de pronúncia das mesmas palavras nos dois lados do Atlântico (facto e fato, contacto e contato, perceção e percepção, etc.).
Ora, uma das mais-valias do Acordo Ortográfico, sem prejuízo da tendencial uniformização da ortografia, consiste justamente em assinalar essas diferenças incontornáveis entre as duas versões da Língua. A ortografia não deve servir para esconder artificialmente reais diferenças de dicção, nem a Língua comum ganha nada com isso.»
***
Jamais a oralidade pode servir de bitola para a escrita, por um motivo muito simples: cada pessoa tem um modo peculiar de falar. E se cada um escrevesse como fala, teríamos uma babel de disparates, que ninguém se entenderia. (Vide: o que diz José Leite de Vasconcelos, na imagem). O argumento dos acordistas: o que não se pronuncia não se escreve é de uma ignorância tal, que ultrapassa todos os limites do razoável.
Além disso a escrita, ao contrário da oralidade, é o pilar da Cultura de um Povo, porque fixa o pensamento desse Povo. Por isso, não pode ser escrita à vontade dos fregueses, ainda por cima de fregueses mal informados.
O senhor professor Vital Moreira será um Homem, ou simplesmente um omem? Pela sua teoria, uma vez que o H não se lê, não se escreve, logo, será um omem, não pertence à espécie Homo Sapiens Sapiens. Pertencerá então à espécie omo, aquele que lava mais branco?
Escrever infeção, infetado, infecioso, perceção, exceção, aspeto (lê-se tudo com as vogais fechadas, e quem não lê assim, além de escrever incorreCtamente, pronuncia mal as palavras) demonstra uma monumental ignorância da Estrutura de uma Língua, seja ela a Portuguesa (que das grandes Línguas europeias é a que tem menos consoantes não-pronunciadas) ou quaisquer outras (veja-se a Alemã e a Inglesa, por exemplo).
E o professor Vital Moreira termina, dizendo esta inacreditável coisa:
3 - O mesmo se diga do facto de várias outras línguas (Castelhano, Francês, Inglês, etc.) usarem igualmente o dito c nas palavras correspondentes: só que também em todas elas o c é pronunciado. Curiosamente, o autor regista o caso italiano, que não usa o dito c, escrevendo-se infezione, infettare, infetto, justamente porque é assim que se pronunciam. Ou seja, nos exemplos do autor, o tal c escreve-se lá onde se pronuncia, mas não onde não se pronuncia - o que, portanto, não abona a sua tese...
Outra das vantagens do Acordo está justamente em registar para os estudantes estrangeiros as diferenças fonéticas e gráficas entre Português europeu e outras línguas próximas. Já se imaginou o problema de um aluno estrangeiro de Português, em Portugal, ao pronunciar a palavra infetar, se ela se escrevesse com c, como querem os sebastianistas ortográficos? Ou, já agora, as palavras ativo, respetivo, efetivo, etc., se escritas com c, à moda antiga, julgando que elas se lêem da mesma maneira que na sua própria língua?
Na verdade, ao eliminar esse e outros arcaísmos da ortografia portuguesa, o Acordo Ortográfico também veio facilitar a aprendizagem do português europeu pelos estrangeiros que estudam a nossa Língua.
Este parágrafo é um autêntico valha-me Deus! Neste parágrafo, o desconhecimento continua, no que respeita às consoantes não-pronunciadas, até nas restantes Línguas. Por exemplo, no Inglês thought (lê-se THôt) quantas consoantes não se lêem, mas escrevem-se? E porquê?
E quando refere as palavras italianas infeZione, infeTTare, infeTTo, saberá o Dr. Vital a razão de ser daquele Z e TT. Com toda a certeza não sabe, se soubesse não se meteria por tais atalhos.
O Dr. Vital Moreira diz que os argumentos da tribO de opositores ao AO90 são frágeis (que grande mentira!), mas os dos acordistas são de bradar aos céus!
E destrói-se uma Língua nobre e europeia por isto: registar para os estudantes estrangeiros as diferenças fonéticas e gráficas entre Português europeu e outras línguas próximas. Já se imaginou o problema de um aluno estrangeiro de Português, em Portugal, ao pronunciar a palavra infetar, se ela se escrevesse com c????
O que é isto????
Há séculos que os estrangeiros lêem a palavra infeCtar, com aquele cê não-pronunciado, por que haveriam os hodiernos de não saberem? Não estará a passar um atestado de estúpidos aos estrangeiros nossos contemporâneos?
Alguma vez os Ingleses, os Alemães, os Espanhóis, os Franceses, os Polacos, os Italianos andaram a mutilar as Línguas deles para facilitar a aprendizagem ddas Língias deles aos estrangeiros?
Não posso acreditar que um professor universitário tenha de repetir os disparates que os acordistas andam a espalhar por aí, como se todos os Portugueses fossem uns colossais ignorantes! Não acredito.
Isto é de um servilismo de bradar aos céus!
E chamar às consoantes não-pronunciadas da Língua Portuguesa arcaísmos é algo espantoso! E só perdoável (?) num jurisconsulto, que até pode saber muito de Leis, mas não sabe nada de Letras.
O que vale é que a tribO de opositores ao AO90 não tem mentalidade servilista, e tal como os estrangeiros não facilitam a vida a ninguém no que respeita à aprendizagem da Língua deles, nós também não temos de mutilar a nossa Língua para lhes facilitar a aprendizagem do Português, porque este é o argumento mais estúpido alguma vez produzido, para justificar a destruição de uma Língua.
As Línguas, qualquer Língua, têm raízes, origem, família, e não podemos desembaraçarmo-nos desta circunstância, apenas porque uma pequena tribO de acordistas servilistas decide facilitar a vida a si próprios e aos estrangeiros.
Há séculos que os estrangeiros e os Portugueses aprendem Português, e há-os que escrevem, lêem e falam a nossa Língua na perfeição.
Foi preciso uns inabilitados intelectuais aparecerem, em pleno século XXI, para acharem que todos os outros também são estúpidos ao ponto de não conseguirem escrever os cês e os pês, que não se lêem.
Conclusão: o professor Vital Moreira será incapaz de aprender a escrever as consoantes que não se lêem, no Inglês ou no Alemão, por exemplo?
Será necessário pedir aos Ingleses e Alemães que mutilem as suas palavras para que os estrangeiros, nomeadamente os portugueses, pouco dotados intelectualmente, possam escrever as suas Línguas?
Apetece-me acabar isto com um auf Wiedersehen, que pelo que li, nenhum acordista seria capaz de escrever.
Isabel A. Ferreira
Link para o artigo de Vital Moreira:
Link para o artigo de Nuno Pacheco que, esse sim, sabe o que diz:
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