Terça-feira, 20 de Dezembro de 2022

«A Obsolescência do Homem» - um texto de Günther Anders, para reflectirmos a decadência da sociedade portuguesa, sem tirar, nem pôr…

 

(Texto recebido via e-mail)

 

Em 1956, Günther Anders, filósofo e ensaísta alemão, de origem judaica, escreveu um texto onde reflecte o evoluir da decadência das sociedades humanas, e as palavras, que então escreveu, aplicam-se aos dias de hoje com uma precisão espantosa.

 

Nada mudou, entretanto. Nada melhorou. Pelo contrário, tudo foi ampliado ao máximo, e hoje, a nossa sociedade está afundada num estado de decadência cada vez mais evidente. 

 

Parece que o texto de Günther Anders foi escrito a pensar na sociedade portuguesa do ano de 2022, e isto é que torna o texto tão aliciante e muito actual.

 

Caros leitores, proponho este exercício analógico como reflexão, nesta época natalícia, que mais parece uma feira da ladra, pelos motivos mais óbvios…

 

Isabel A. Ferreira   

 

Günther+Anders.jpgGünther Anders

 

«Para abafar antecipadamente qualquer revolta, não se deve usar a violência. Métodos como os usados ​​por Hitler estão ultrapassados. Basta desenvolver um condicionamento colectivo tão poderoso que a própria ideia de revolta nem passará pela cabeça das pessoas. O ideal seria formatar os indivíduos desde o nascimento limitando as suas habilidades biológicas inatas...

 

Então, continuaríamos o processo de condicionamento, reduzindo drasticamente a educação para trazê-la de volta a uma forma de integração no mundo do trabalho. Um indivíduo sem instrução tem apenas um horizonte limitado de pensamento, e quanto mais os seus pensamentos estiverem confinados a preocupações materiais medíocres, menos ele poderá rebelar-se.

 

O acesso ao conhecimento deve ser cada vez mais difícil e elitista. O abismo entre as pessoas e a ciência deve ser ampliado. Todo o conteúdo subversivo deve ser removido das informações destinadas ao público em geral. Acima de tudo a filosofia não deve existir. Uma vez mais, há que usar a persuasão e não a violência directa: transmitir-se-á maciçamente, através da televisão, entretenimento imbecil, lisonjeando sempre o emocional, o instintivo. Vamos ocupar as mentes com o que é fútil e lúdico. É bom ocupar a mente com conversa fiada e música incessante, para evitar que a mente se interrogue, pense, reflicta.

 

A sexualidade estará no topo dos interesses humanos. Como anestesia social, não há nada melhor.

 

No geral, assegurar-nos em banir a importância da existência, transformar em escárnio tudo o que tem um valor elevado e manter um constante elogio à frivolidade; de modo que a euforia da publicidade, do consumo se tornem o padrão da felicidade humana e o modelo da liberdade.

 

Deste modo, o condicionamento produzirá tal integração, que o único medo (que será necessário manter) será o de ser excluído do sistema e, portanto, de não poder mais ter acesso às condições materiais necessárias para a felicidade.

 

O homem massificado, produzido dessa maneira, deve ser tratado como o que é: um bezerro, e deve ser vigiado de perto, como um rebanho deve ser. Tudo o que mitiga a sua lucidez é bom socialmente, e tudo o que pode despertá-la deve ser ridicularizado, sufocado e combatido. Qualquer doutrina que questione o sistema, primeiro, deve ser designada como subversiva e terrorista, e em seguida, aqueles que a apoiam devem ser tratados como tal.»   

 

- Günther Anders - "A obsolescência do homem" - 1956.

 

Fonte:

https://www.cosmydor.paris/journal-design-arts-nature-skincare/extract-gunther-anders-the-obsolescence-of-man

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:55

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Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2022

«Em Defesa da Ortografia (LIV)», por João Esperança Barroca

 

«Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa).»

Pedro Santana Lopes

 

«De facto, de que nos serve um acordo ortográfico que apenas os muito ignorantes servilistas portugueses aplicam?»

Isabel A. Ferreira, em 1 de Novembro de 2021, no blogue O Lugar da Língua Portuguesa

 

«Na forma de escrita, há muitas, muitas diferenças [entre o português de Portugal e o português do Brasil], e é por esse motivo que eu acho que não faz muito sentido um acordo ortográfico. Há muitas palavras que, mesmo com o acordo, se escrevem de forma diferente. Nós vamos continuar a divergir na língua.»

Pedro Almeida Vieira, escritor, jornalista e engenheiro biofísico

 

«O novo acordo ortográfico saiu da cabeça de um idiota que queria ficar para a história. Não faz o menor sentido. Discordo em absoluto.»

António Rocha Pinto, ex-candidato à Câmara Municipal de Santarém

 

(...)  Ah, acabou de sair o novo livro de Manuel Monteiro, O Mundo pelos Olhos da Língua.

 

Manuel Monteiro.jpg

 

(…)  

Como o leitor, certamente, já terá reparado, hoje, abordaremos os fatos que não são de vestir.

 

Uma breve pesquisa deu-nos a conhecer os seguintes espécimes: a) “Cônjuge ou pessoa com quem viva em união de fato”, Regulamento das Bolsas de Estudo do Ensino Superior do Município de Albufeira, de 28 de Setembro do corrente ano, publicado em Diário da República, em 17 de Outubro; b) “Todos sabem do valor que o Cris e todos nós damos ao fato de representar o nosso País.” (A Bola, 23-11-2022); c) “No entanto, ainda não é possível saber se o melhor desempenho cognitivo leva a mais jogar, ou se é o fato de jogar mais que melhora esse desempenho,” (Expresso, 25-10-2022); d) “De fato, as emissões médias anuais de gases de efeito estufa de 2010 a 2019 foram as mais altas da história da humanidade.” (Expresso, 13-10-2022); e) “Embora não seja possível calcular a data da introdução da ameixeira ‘Rainha Cláudia’ na região do Alto Alentejo, não restam dúvidas da origem francesa do material vegetal inicial, nem do fato da (sic) cultura se ter expandido a partir da zona de Elvas para as regiões vizinhas.” (Expresso, 14-10-2022); f) “Andy Burnham, prefeito da Grande Manchester, disse que era importante que todos os fatos fossem estabelecidos, mas acrescentou: ‘Com base no que vi, quero deixar claro que nunca é aceitável que manifestantes pacíficos sejam agredidos.’” (Expresso, 18-10-2022); g) “Mas os advogados de Trump argumentaram, no pedido ao Supremo Tribunal, que era essencial que especialista (sic) tivesse acesso aos registos classificados como ‘confidenciais’ para determinar se os documentos com marcações de confidencialidade são de fato classificados e, independentemente da classificação, se esses registos são registos pessoais ou registos presidenciais.” (Expresso, 11-10-2022, TSF, 13-10-2022, SIC Notícias, 13-10-2022); h) “Os dados de agosto revelam que o alojamento e restauração e os transportes são os setores com menores percentagem de empresas cumpridoras, apenas com 11,7% e 10,6%, receptivamente (sic), o que a consultora associa ao fato de terem sido dos mais atingidos pela pandemia.” (Expresso, 29-09-2022); i) “Na newsletter (sic) divulgada pela estrutura de missão Recuperar Portugal, o gestor da ‘bazuca’ destaca o fato de 17% do PRR já estar executado.” (Expresso, 30-09-2022); j) “Depois, saber como integrá-lo num plantel que Xavi Hernández tem sob construção — o fato de serem amigos pode ter algum peso — e ter de aceitar um papel secundário em função das escolhas do treinador.” (A Bola, 24-09-2022); k) “O fato de nenhum país de maioria muçulmana no Conselho ter feito qualquer menção ao relatório foi surpreendente, apesar de este denunciar ataques sistemáticos das autoridades chinesas a povos com esse credo, na região de Xinjiang, incluindo os uighures.” (Expresso, 13-09-2022); l) “O fato das pessoas estarem a falar de mim deixa-me feliz. Já joguei no Valência. Fui treinador no PSG e no Milan, dois clubes onde também joguei.” (O Jogo, 18-06-2022); m) “Compartilhamos totalmente essa preocupação e, de fato, as consequências seriam radicais, não apenas para os Estados Unidos, mas globalmente, continuou Dombrovskis.” (Sol, 08-06-2022); n) “E parece evidente que o argumento de que isso reduziria o acesso — uma vez que as urgências das especialidades estariam concentradas em menos locais — é falacioso e meramente retórico, dados os fatos das últimas semanas.“ (Expresso, 21-06-2022); o) “Outro motivo que torna o tema pertinente é o fato de que a transição ambiental deve ser necessariamente justa, logo, aplicável a todos os setores.” (Sol, 22-02-2022); p) “É um fato bastante contraditório que a ideologia fascista da máfia de Biletski tenha sido financiada pelo oligarca judeu Ihor Kolomoyskyi, que já foi auxiliado na sua actividade (sic) criminosa por ‘forças de segurança seleccionadas (sic) entre adeptoss (sic) dos oito clubes de futebol que ele e vários oligarcas menores possuem.” (Sol, 19-04-2022).

 

Depois desta pequena amostra (os leitores assinantes ainda têm direito a fatos suplementares), ilustrativa do caos a que se chegou, apetece perguntar: Se é assim na Comunicação Social (nos jornais ditos de referência), como será com os cidadãos comuns?

 

Pedro Correia, na série “Acordo Burrográfico”, no blogue Delito de Opinião, mostrou claramente a incoerência, a ilógica e a inconsistência do AO90. Em homenagem a essa excelente série, e satisfazendo a exigência de um amigo, aqui fica um pequeno texto da nossa autoria:

— Tenho cera nos ouvidos.

— Estás com um problema ótico, não é?

— Sim. Também tenho uma conjuntivite na vista direita.

— Estás com um problema ótico, não é?

— Já não percebo nada. Estás a brincar comigo?

— Não. Estou a brincar com a língua.

 

João Esperança Barroca

 

P.S.: Ah, acabou de sair o novo livro de Manuel Monteiro, O Mundo pelos Olhos da Língua.

 

 

FATO.jpg

FATO 1.png

Fato 3.jpg

As imagens que acompanham este escrito foram respigadas de páginas anti-AO do Facebook.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:11

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Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2022

Neste Natal compre ou ofereça livros publicados em Português correCto. Não dêem lucro aos mercenários e traidores da Nação portuguesa

 

Ao contrário do que propagam os acordistas, a Língua de Portugal continua VIVA. E não se iludam os que pensam que a Língua Portuguesa acabará com a geração que está a ser enganada, e a levar gato por lebre, pois não sendo uma geração de parvos, se nós não conseguirmos, será ela a RESGATAR a Língua que nos deixou o Rei Dom Diniz e que estudiosos da Língua fizeram evoluir, sem a castrar.

 

Só gente ignorante apoia e aceita servilmente a IGNORÂNCIA linguística acordista, introduzida em Portugal por políticos ignorantes e subservientes.

 

As edições em Português correCto continuam a brotar como cogumelos em dias chuvosos, porque, em Portugal, ainda existe gente PENSANTE.

 

O Grupo do Facebook «Português de FaCto» revela que a NOSSA Língua Portuguesa está bastante ACTIVA. Lá encontram muitas sugestões de livros publicados em Português correCto.

Para acederem ao Grupo e consultarem a lista de livros cliquem neste link:

https://www.facebook.com/pg/portuguesdefacto/posts/?ref=notif

 

Se na verdade são Portugueses e abominam o malparido AO90, por favor, NÃO comprem livros acordizados, porque estão a prestar um péssimo serviço à Cultura Portuguesa, e a dar lucro a mercenários e a apoiar os traidores da Nação Portuguesa.

 

Se fizerem esta pergunta: «A quem serve o AO90»? A resposta é óbvia: «Serve exclusivamente àqueles que se estão nas tintas para a Língua de Portugal, e querem vê-la destruída, para a SUBSTITUÍREM por uma VARIANTE dela própria, com objectivos dos mais torpes».

Na Europa e no restante mundo, existe um considerável número de Línguas Minoritárias, cujos povos NÃO sofrem de qualquer complexo de inferioridade, e preservam-nas como uma preciosidade do seu próprio Património Cultural.

 

Em Portugal, este nosso precioso Património Cultural está em perigo. Por isso, apelo a TODOS os Portugueses PENSANTES que REJEITEM os livros publicados em Português “incorreto” (lê-se “incurrêtu”) porque, em Portugal, tem de ser a sociedade civil a zelar pela História, pela Cultura e pela Língua portuguesas, uma vez que quem de direito - o presidente da República, o primeiro-ministro e restantes ministros e os deputados da Nação – está-se nas tintas para esse DEVER.

 

Aqui deixo sugestões, e não se esqueçam de consultar a o Grupo «Português de FaCto», no Facebook.

 

Isabel A. Ferreira

 

Livros reconmendados.png

BONS LIVROS  1.png

BONS LIVROS 2.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 12:16

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Terça-feira, 13 de Dezembro de 2022

No próximo dia 16 de Dezembro, Manuel M. Monteiro irá lançar mais um livro, na Língua de Portugal, com apresentação de Ricardo Araújo Pereira

 

Manuel M. Monteiro e Ricardo Araújo Pereira, dois cidadãos portugueses que pugnam pela preservação da Língua Portuguesa, em Portugal.

 

Desejo muito sucesso para mais este livro de Manuel Matos Monteiro, e espero que se aproveite o momento do lançamento para enviar aos governantes e à classe docente e a todos os que, subservientemente, se vergaram à ignorância, uma clara mensagem de repúdio ao AO90, responsável pelo CAOS que se vive nas escolas, com professores a impingirem uma vergonhosa mixórdia ortográfica, que o tal acordo mais desacordado do mundo originou. É que não conheço nenhum aluno, seja de que ciclo escolar for, que escreva escorreitamente a sua Língua Materna. Além dos disparates acordistas, há a outra parte, que demonstra um desleixo total pelo estudo da Língua.

O que andará a fazer o ministro da Educação? Para onde quer levar o Ensino, o ministro da Educação? Para que serve um ministro da Educação que DESPREZA o ensino da Língua de Portugal?

Manuel e Ricardo, aproveitem o momento para abanarem a estrutura do Ensino, mal assente no seu pilar: a Língua Materna dos Portugueses, para que o "edifício" caia, e possa erguer-se uma nova estrutura mais condizente com o SABER escrever e falar, e que rejeite, em absoluto, a ignorância que se instalou em Portugal.

Isabel A. Ferreira

 

Manuel Monteiro.png

 

Comentários a este texto no grupo do Facebook  NOVO MOVIMENTO CONTRA O AO90:

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publicado por Isabel A. Ferreira às 11:55

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Sexta-feira, 9 de Dezembro de 2022

Professores em greve, reivindicam uma escola pública com “qualidade”. Desconhecerão que só haverá QUALIDADE quando atirarem o putrefeito AO90 para o caixote do lixo?

 

Hoje, ao ver as notícias, ouvi que os “professores” estão em greve por tempo indeterminado. Reivindicação: querem uma escola pública de qualidade. Mas a que qualidade estarão a referir-se? A obras de melhoria nos edifícios escolares, uma vez que em muitos deles chove e faz frio e têm telhados de amianto?  Ou referem-se à qualidade da estrutura do instrumento mais precioso de um professor: a Língua Portuguesa, que transformaram numa mixórdia ortográfica, com a qual comunicam os saberes (?) aos alunos? E estes saem da escola sem saber GRAFAR a própria Língua Materna, e disso dão-se conta, porque estudam Línguas da mesma família da Língua Portuguesa, e como não são parvos, sabem que estão a grafar a sua Língua à brasileira?

 

Jamais haverá uma escola de qualidade SEM uma Língua de qualidade.


Por que insisto nesta tecla?

Porque a Língua é o PILAR do conhecimento. É a alma da escrita. É o instrumento que FIXA o Pensamento e a Cultura de um Povo.

E ao escreverem como escrevem (Deus me livre de tal choldraboldra!) estão à altura e um analfabeto funcional, que transmite um saber truncado e NÃO de um PROFESSOR que transmite SABER.



Envergonho-me desta classe docente desprestigiada (ou devo dizer indecente?) que não tem um pingo de brio profissional e só pensa nos bolsos. Devo ressalvar aqui as raras excePções que NÃO rastejam e sabem que têm o direito e o DEVER de comunicar com os alunos através da GRAFIA portuguesa, e não da mixordice em que a transformaram os ignorantes, e essas excePções NÃO são penalizadas, porque CUMPREM a lei vigente em Portugal.

 

Isabel A. Ferreira

 

IGNORÂNCIA.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:36

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Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2022

«“Igualdade” e #AO90, o todo e as partes» - ou a VERDADE que se quer esconder. Mas o rabo ficou de fora.

 

“Igualdade” e #AO90, o todo e as partes


Após a finalização do processo de aquisição ou atribuição de nacionalidade portuguesa, você poderá solicitar o seu cartão cidadão (“RG” português) e o passaporte português. Estes são documentos importantes para quem pretende viver em terras portuguesas ou viajar para fora do Espaço Schengen. O cartão cidadão está vigente desde 2010 e conta com um chip que armazena todos os dados pessoais do indivíduo, assim como o passaporte vermelho português.
 [nacionalidadeportuguesa.com.br]

 

Para que se entenda minimamente o processo de neo-colonização invertida, incluindo os diversos meios envolvidos na intoxicação da opinião pública e nos apoios políticos que suportam ideologicamente tal perversão da História, conviria ao menos atender a alguns pressupostos elementares.

 

Do ponto de vista dos brasileiros, em geral e em particular, a premissa básica reside numa espécie de silogismo — que seria absolutamente risível se não fosse miseravelmente triste:

  • Primeiro — Portugal “invadiu” o Brasil (que, por mero acaso, não existia na época) no ano da graça de 1500 e por ali se entreteve até 1822 “roubando o ouro brasileiro” e “escravizando” e “exterminando” os brasileiros.
  • Segundo — Portugal vive ainda hoje à custa do “ouro roubado ao Brasil”, ao que acresce a fortuna constituída pelos fundos provenientes da União Europeia.
  • Logo, portanto — o Brasil tem toda a legitimidade “histórica” não apenas para se vingar da exploração desenfreada a que os brasileiros “foram” sujeitos pelos tugas, como também para que Língua e Cultura do antigo colonizador sejam agora substituídas pelas do (coitadinho do) povo anteriormente colonizado.

Além da reposição da “justiça” histórica (com efeitos retroactivos) temos, por conseguinte, o dever de ficar para sempre gratos — há dívidas que jamais prescrevem porque nunca poderão ser liquidadas — pelo facto de o Brasil exportar para Portugal, quase integralmente grátis, além de jogadores de futebol e telenovelas, também o seu “fálá”, o seu “isscrêvê” e, de resto, todo o seu sambístico circo. Trata-se, segundo esta arrepiante lógica, de uma tomada de posse sumária, nada mais do que mera recuperação por perdas e danos, em simples exercício do seu deles direito natural.

 

Do programa oficial de ensino da disciplina de História do lado de lá:

 

《A colonização portuguesa no Brasil se efetivou a partir da exploração, povoamento, extermínio e conquista dos povos indígenas (povoadores) e das novas terras.》
《A colonização portuguesa no Brasil teve como principais características: civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar.》
《A partir de então, já sabemos de uma coisa, que o Brasil não foi descoberto pelos portugueses, pois afirmando isto, estaremos negligenciando a história dos indígenas (povoadores) que viviam há muito tempo neste território antes da chegada dos europeus.》[“Brasil Escola”]

Por amostras deste calibre poderá julgar alguém que não é normal a política “educativa” do Estado brasileiro servir o objectivo político de disseminar — desde o ensino básico — a lusofobia, levando os brasileiros a detestar o tuga, colonizador, “ladrão” e “imbéciu”?

 

E, já agora, aproveitando o ensejo de estarmos a falar de imbecis, mai-las suas alarvidades, seria avisado atendermos também àquilo que move alguns portugueses coniventes — ou, em rigor, detentores de passaporte português –, os brasileiristas empedernidos, os bajuladores, subservientes e lacaios, os pategos deslumbrados com o pretenso gigantismo do “país-continente”.

 

Evidentemente, o primeiro factor a considerar para explicar esse fenómeno inexplicável é o chamado complexo do colonizador. O qual só por si não explica grande coisa (pois, naturalmente, daí o termo “complexo”) mas contribui para que entendamos as reacções de coitadismo militante que resulta de um outro complexo decorrente do primeiro: o complexo de culpa. Sintetizando em extremo uma série de processos mentais… complexos, o cidadão de um país que foi em tempos potência colonial sente imensa culpa não apenas por isso mesmo, a priori, como ainda mais pelos putativos maus-tratos e violências que os seus antepassados terão exercido sobre o (coitadinho do) indigenato das colónias, e portanto cabe às gerações actuais expiar as culpas, sejam elas reais ou imaginárias, mas tendo de passar necessariamente por reais, dos seus maldosos, sanguinários antepassados. 

 

É certo, se bem que simultaneamente absurdo, que ainda hoje, para alguns portugueses, mesmo não tendo absolutamente coisa alguma a ver com qualquer das ex-colónias portuguesas (e, por maioria de razões, até porque já lá vão dois séculos de independência, quanto ao Brasil), o complexo de culpa implica um sentimento — apenas latente ou claramente expresso — da necessidade de uma punição, um correctivo urgente; a qual punição bem depressa trepará da esfera meramente pessoal para o plano colectivo. Ou seja, se o tuga “acha” que os brasileiros foram todos brutalmente violentados, salvo seja, pelo (maldito) colono dos séculos XVI a XIX, então todo o povo português deve “pagar” por isso — e pagar com língua de palmo, que nestas coisas terríveis não há cá borlas nem pechinchas.

 

Portanto, vá de “ceder”. E conceder. E ceder de novo. E as vezes e o que mais for preciso. Para pagar a “dívida” histórica não existem infelizmente empresas ou serviços especializados em cobranças difíceis, portanto o plano prestacional será para todo o sempre e a ele ninguém poderá escapar. “Nós” (ou seja, eles, mas, como sabemos, para eles, eles são “nós”), e isto já sem contar com os mercenários, vendidos, políticos, agentes, jornalistas e outros “intelectuais” por conta, temos obrigatoriamente de abrir mão de tudo — mas de tudo mesmo, sem a mais ínfima reserva, nem sequer a de carácter — e de “lhes” dar tudo aquilo que a “eles” apetecer.

 

Venha de lá então a CPLB, dado o “valor económico da língua“ brasileira, a ver se os “índios” se estabelecem em minas de Angola e de Moçambique, por exemplo, coitadinhos. E, de caminho, venha o #AO90, claro, porque a língua univérsáu é deles e afinal o Português é “muito complicado”, tem “letras a mais”, “só atrapalha”. Bom, e já agora venham de lá também o Acordo de Morbililidade e o Estatuto de Igualdade, pois claro, ao fim e ao cabo os “cara” têm carradas de razão, Portugal só vive de chular a UE, assim com’assim mais vale abrir-lhes de par em par a “porta dos fundos” para a União Europeia. 

 

Dos dois posts anteriores (1, 2) sobre o Tratado de Igualdade de Direitos, não consta uma única referência a esse Estatuto de Igualdade, expressa ou mesmo subentendida, que tenha alguma vez surgido na imprensa ou em qualquer outro meio de comunicação (rádio, televisão, Internet); não existe também, realce-se de novo, uma só menção àquele Tratado internacional em qualquer dos acordos subsequentes (#AO90, Acordo de Mobilidade, Estatuto de Igualdade etc.).  Realmente, é muito estranho tanto silêncio sobre um tema que fornece respaldo legal a todos os demais acordos entre os dois Estados.

 

Depois de muito pesquisar, encontrei apenas duas únicas excepções ao blackout geral de 22 anos; ambas no jornal “Público”, uma de Agosto de 2019 e a outra de Junho de 2022.

 

Mais de 3000 conseguiram esse estatuto em 2018, mais do que em qualquer outro ano da última década. Raros são os estudantes que dessa forma conseguem ter propinas mais baixas, mas há outros benefícios para quem chega a Portugal. A entrada crescente de brasileiros no ensino superior nacional está a provocar uma corrida ao Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres (EIDD) entre cidadãos dos dois países. No último ano, praticamente duplicou a concessão dessa prerrogativa, definida no Tratado de Porto Seguro de 2000. O Estatuto do Estudante Internacional, aprovado há cinco anos, atraiu mais alunos do Brasil, mas ao mesmo tempo obriga-os a pagar propinas mais altas. (…) [“Público”, 11.08.19]
Dados constam do mais recente Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo 2021, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), ao qual o PÚBLICO teve acesso. Estatuto de igualdade de direitos traz vantagens como um cartão praticamente igual ao cartão de cidadão português. No ano passado as concessões de estatuto de igualdade de direitos e deveres dadas a brasileiros aumentaram quase 40%. Em 2020, houve pouco mais de 7500 brasileiros que receberam aquele estatuto e, em 2021, chegaram aos 10.500. Proporcionalmente aos residentes brasileiros – que em 2021 passaram os 204 mil -, as concessões representam apenas 5%, mas a tendência de crescimento espelha as vantagens deste estatuto que quatro anos antes só foi concedido a 1736 cidadãos. (…) [“Público”, 23.06.22]

 

Os documentos de carácter legislativo acumulam-se e outro tanto sucede com outros tipos de registos, uns formais, outros nem por isso, mais as notícias, umas reais e outras meramente propagandísticas, com as inerentes e decorrentes consequências… práticas.

 

 

Até ver, a coisa vai correndo pelo melhor, tudo nos conformes, para os interesses geoestratégicos e económicos de uma das partes e para as contas bancárias de alguns traficantes da outra. Veremos então se Portugal já é de facto — porque jamais o será de direito — o 28.º estado brasileiro.

 

Talvez convenha, portanto, para facilitar o entendimento de uma questão com tudo para ser um problema, passar a referenciar sequencialmente a série de “posts” sobre este tema, o qual poderemos genericamente intitular como “O AO90 é um todo ou uma parte?”
 
 
 
1 — Abril, ano 2000: “Estatuto de Igualdade”
2 — Estatuto: 0.04714637346% de “igualdade”

Fonte:
https://apartado53.wordpress.com/2022/12/06/igualdade-e-ao90-o-todo-e-as-partes/?fbclid=IwAR26PZjRpC04bGx2GSuVM-sHkp_bknQLYZpfND4FwQ2cVbZQNkZYtyZynac
 
 
 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 18:21

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Segunda-feira, 5 de Dezembro de 2022

Carta enviada a Marcelo Rebelo de Sousa, por José Lucas (*). Assunto: «Acordo Ortográfico de 1990 – 2º Protocolo Modificativo de 2004»

 

Esta carta, com data de 2016, nunca mereceu uma resposta efectiva de MRS, como é do seu hábito. Apenas enviou um cartão a José Lucas com um mero “Bem-haja”, que significa um agradecimento.

Contudo, não era propriamente um “bem-haja” que José Lucas esperava do guardião da Constituição da República Portuguesa, mas uma resposta do PRESIDENTE a uma questão gravíssima, que compromete a identidade portuguesa.

 

Um PR não é só para andar por aí sempre a viajar, por tudo e por nada, ou a beijocar ou a selfar com o povo, algo que, todos sabem, faz para alimentar o seu narcisismo.

 

Um PR tem o DEVER de responder às questões que preocupam os cidadãos que lhe pagam o salário. É para SERVIR o Povo Português e Portugal que é eleito.

 

De modo que, em nome do José Lucas (que me enviou a carta e permitiu que eu aqui a reproduzisse, por ser do maior interesse da Nação, pois já BASTA de silêncios ruidosos e atitudes insanas), mas também em nome de uma infinidade de pessoas que conheço e que já escreveram ao PR sobre a mesma questão, e em meu próprio nome, que já lhe escrevi várias cartas abertas e privadas a falar no assunto, e NUNCA, nem eu nem os outros recebemos uma resposta, tornamos a insistir para que Marcelo Rebelo de Sousa, que  no seu discurso de vitória como Presidente da República, em 24-01-2016  disse que «é o povo quem mais ordena, e foi o povo que me quis dar a honra de me eleger Presidente da República de Portugal», tenha a HOMBRIDADE de nos responder e, de uma vez por todas, acabe com esta fantochada de obrigar um povo a grafar à brasileira, violando com isso, a Constituição da República Portuguesa, que jurou defender.

 

Nota: os excertos a negrito, na carta de José Lucas, são da responsabilidade da autora do Blogue.

 

 (*) José Lucas é Licenciado em Macroeconomia — ISEG M.B.A. — Mestrado em Gestão/Marketing – ISEG

 

Isabel A. Ferreira

 

PR.PNG

 

Carta enviada por José Lucas ao presidente da República Portuguesa

 

Exmo. Sr.

Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, Dr.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Palácio de Belém Calçada da Ajuda

1349-022 Lisboa

 

Lisboa, 2016-05-10

Assunto: ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 - 2º Protocolo Modificativo de 2004

 

Exmo. Presidente

Tomo desde já a inusitada liberdade de dirigir a V. Exa esta breve missiva porque, considero a situação em epígrafe de uma gravidade extrema, tanto para o Estado Português (sua afirmação interna e externa) como para a identidade da formação social portuguesa. Penitencio-me desde já por eventualmente comprometer espaço e tempo na sua mais do que preenchida agenda, mas, o articulista do Expresso de 2005-04-30 (jornal que eu leio religiosamente há 40 (quarenta) anos (comecei com o Mundo Diplomático), despertou em mim a necessidade de entrar em contacto com o único supremo magistrado da nação que se preocupou, desde há duas décadas a esta parte, com aquilo que nos distingue na nossa universalidade.

 

Sou um economista orgulhosamente formado pelo sistema educacional da República, retirado, de 65 anos de idade e, desde sempre estive contra o Acordo Ortográfico e ainda mais contra o seu 2º Protocolo Modificativo de 2004 que considero como sendo um atentado completamente irresponsável, imbuído de enorme reserva mental, produzido por uma casta de linguistas pouco mais do que medíocre, aplaudida por escritores de talento mediano e suportada por uma conveniência diplomática submissa e completamente obliteradora da língua de Camões, o qual eu considero um génio universal comparado a Cervantes ou a Shakespeare, ressalvando as devidas distâncias, uma vez que a difusão destes foi fruto de um trabalho executado desde sempre para defender a língua, o qual foi devidamente cimentado e fundido na Commonwealth e na América Hispânica pelos países dos autores atrás mencionados. Nós não fizemos esse trabalho, só apenas declarações de intenção, então COMECEM-NO JÁ e olvidem a opinião das "Edites Estrelas" convencidas da honorabilidade da sua sapiência na língua.

 

Não sou linguista, não detenho essa formação académica, apenas algumas centenas de milhar de horas de leitura na minha exígua biblioteca, cuja população é de aproximadamente 90% de documentos históricos mas, não obstante esse óbice tenho lido alguns depoimentos e assistido a alguns programas televisivos, com a comparência a despropósito de entidades brasileiras, (Prós e Contras RTP-I, na presença do saudoso professor Vasco Graça Moura com quem tive a honra e o privilégio de trocar impressões no CCB), nos quais sem qualquer base científico-linguística se exaltou as virtudes de semelhante desastre. É uma vergonha a anuência dos "media" televisivos para os quais não era suficiente a sucessão de erros nas "bandas" dos telejornais como ainda aderiram velozmente à "ortografia recente" tornando a difusão do noticiário um "documento oficial".

 

Malaca Casteleiro, o "spiritus recto”, um dos criadores do AO, referiu no Expresso de 2016-04-30 no caderno da Diplomacia que "o Presidente da República é obrigado a aplicar a nova ortografia nos documentos oficiais". Fiquei espantado com a atrevida loquacidade do "demiurgo". É evidente que esta postura não passa de uma prepotência verbal que, no meu modesto entender fere mais profundamente o Prof. Dr. do que o Presidente. Porquê? Porque no meu humilde ponto de vista pode-se criticar um membro do Estado, neste caso o seu representante mais lídimo pois a Constituição consagra a liberdade de expressão, mas, NÃO SE TENTA MESMO DO MODO MAIS ÍNFIMO, AINDA QUE INDIRECTAMENTE, ORDENAR A UM MESTRE. Como diria o grande poeta argentino de origem índia Atahualpa Yupanqui do alto da sua Bolívia de adopção: "BASTA"!

 

Pensando em Henry David Thoreau revisto-me de desobediência civil face ao meu modo de escrita, e como diria Hannah Arendt "a desobediência civil é uma forma de afirmação da democracia", não confundir com apelo à insurreição rigorosamente proibido e condenado pela Constituição da República.

 

Compreendo perfeitamente a intenção do "linguista" e do seu grupo de académicos apaniguados que decidiram conhecer o Brasil a expensas do erário público dando à luz o AO, de entrar na História, mas, a meu ver, só se for numa minúscula linha de rodapé com caracter 2, necessitando a propósito de uma potente lupa para a decifração do evento.

 

Mas, tentemos esmiuçar as origens desta situação. O AO assenta fundamentalmente numa construção ortográfica (quase total exclusão das consoantes mudas que, aliás algumas [a esmagadora maioria] vigoram no Brasil) totalmente favorável ao Brasil. É por si só um dislate de submissão a um país cuja língua não mais é do que uma deriva do português genuíno cujo desenvolvimento tem mais de oito séculos de História. Fui eu, luso, que ensinei os brasileiros a falar, então, porque demanda tal submeter-me-ia ao abrasileiramento da minha língua em vez de aportuguesar e evoluir a deriva brasileira? Que culpa tenho eu, luso, que os brasileiros não saibam trabalhar com as consoantes mudas? Se calhar tem dificuldades em agrupar as sílabas no fim da linha limitativa! Graças a Deus tenho uma fluência, falada escrita e de entendimento do Inglês muito, mas muito acima do conhecimento médio e, embora me identifique mais com a construção falada norte-americana (maioritariamente com o gerúndio e o complemento directo e mais simples nos verbos abreviados com a negação) não deixo de reconhecer que a esta língua tem o óbvio devir britânico e é lá que é correctamente expressada.

 

Esta construção ortográfica abstrusa não está em vigor em nenhum dos países signatários fruto da rejeição, (a meu ver, magnífica) de Angola e Moçambique (não me interessa que eles tenham outros problemas agora, o acordo é de 1990 e estes países não tinham os problemas que tem agora e nunca o ratificaram), e apenas vigora em Portugal como resultado de uma aviltante imposição ditatorial e inconstitucional do AO/90 e do 2º Protocolo Modificativo, obra do Conselho de Ministros na sua Resolução nº 08/2011 contrariando claramente o disposto no nº 1 do Art.º 112º da Constituição da República, ou seja, um atentado ao Estado de Direito.

 

Claro que isto é indiferente à maioria do povo português que "é de uma ignorância execrável e de um défice de conhecimento atroz" (Viriato Soromenho Marques), talvez como resultado da actuação de castas privilegiadas como juízes, professores (fundamentalmente do ensino secundário que é parte do curriculum escolar que está em causa), advogados, jornalistas de alguns órgãos informativos (vulgos pasquins), que tornam quase impossível o acto de defesa da língua, com um colaboracionismo doentio e uma passividade ignorante que impossibilitando qualquer tentativa de debate. Ora, o Conselho de Ministros (Passos Coelho) não tinha competência para legislar e o Presidente da República (Cavaco Silva) não podia promulgá-lo, já que o apelidado Novo Vocabulário Ortográfico Português foi construído por Portugal isoladamente e, não está em vigor em qualquer dos países signatários violando assim o AO/90 original, não existindo nenhum aviso do MNE português de que o Acordo entrou em vigor. Tal não passava de um despacho não normativo e não regulamentar sem qualquer fundamento científico que só pode ser imposto aos organismos dependentes do governo, nunca aos tribunais e à formação social portuguesa na sua expressão mais civil. Foi uma autêntica manifestação despótica ao nível de uma ditadura.

 

Não sou linguista, não tenho formação académica para isso, por tal V. Exa perdoar-me-á, mas, a total supressão das consoantes mudas, nomeadamente o c e o p, além de serem atentatórias porque não implicam uma evolução natural da construção ortográfica, fazem-me lembrar Aristófanes, grande dramaturgo grego contemporâneo e formado no esplendor do Século de Péricles e autor de "As Nuvens", "As Vespas" ou "Lisistrata". Ele afirmava que “a juventude... amadurece, a imaturidade... passa, a embriaguez... cura-se, a ignorância... educa-se, mas a estupidez... bem, essa é indelével e imutável para todo o sempre".

 

O Dr. Malaca Casteleiro e a sua "elite vanguardista de vão-de-escada" ajuízo eu que, ainda não perceberam que, quando alguém estrangeiro ouve falar português ou quer aprendê-lo não sabe nem pode adivinhar a pronúncia correcta de qualquer expressão escrita. Até o cidadão mais anónimo e desprovido de qualquer formação linguística como é o meu caso, sabe perfeitamente que as consoantes mudas "abrem" a vogal anterior com apenas algumas excepções, foi uma das grandes batalhas do Prof. Vasco Graça Moura. A extraordinária riqueza linguística implícita e constante na construção vocabular é perfeitamente esmagada pela modificação do conteúdo do AO/90. Será que Camilo Castelo Branco, autêntico milionário do universo vocabular (250 romances e contos em vinte anos) retornará em protesto? A Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945 é a única a vigorar em Portugal depois de 1 de Janeiro de 1946 e ainda não foi revogada apenas podendo sê-la por Lei emanada da Assembleia da República ou Decreto-Lei emanado do Presidente.

 

Ora esses dois documentos não existem.

 

A língua e o Estado não existem um sem o outro, eles são o retrato da soberania de um estado de direito num país soberano e independente, não podem ser alienados a gosto de conveniências pessoais e políticas. Qualquer tentativa de subversão deste princípio é um atentado à Constituição e ao Estado de Direito. Tal é fruto de um grupelho de portugueses políticos e civis, de vanguarda autoproclamada sem lhes ser nada encomendado, com interesses não concretamente divulgados e uma determinada noção de notoriedade serôdia, com algum interesse económico por detrás e que decidiram apelar a um "leader" (MC), manuseável e desejoso de afirmação pessoal, totalmente incapaz de medir as consequências das suas iniciativas a coberto de dois governos com uma vergonhosa passividade colaborante pensando talvez que o país teria algum benefício económico em desistir da sua centralidade na CPLP, mas isso é outra vertente que não cabe neste breve e humilde análise.

 

Não se procurou a opinião autorizada da Academia das Ciências para um acordo que não está em vigor a não ser em Portugal (Dilma pediu período de transição) desde há um quarto de século atrás. A posição dos políticos nesta vertente envergonha e revolta o mais tímido cidadão tanto mais que a idoneidade dos negociadores nacionais é um tanto ou quanto discutível e com um comportamento despadronizado de "compensações mútuas" no caso das consoantes mudas.

 

Malaca Casteleiro (a quem eu não reconheço nenhuma autoridade para a perpetração deste atentado) dirá que, (enviesado no meu ver), é uma evolução da língua, claro, "também o Diabo cita as Escrituras quando isso lhe convém" (O Mercador de Veneza, W. Shakespeare), pelo que é mais um disparate linguístico de conveniência político-económica. Aliás semelhante tentativa for efectuada em França em 1990 e a Academia das Ciências Francesa rejeitou plenamente esse desvario deixando a decisão a voto ou voto popular. Nem a Espanha nem a França, nem a Inglaterra tentaram alguma "saga" destas, pelo que foi necessário que a expoente “intelligentsia” portuguesa "desbravasse" este caminho. É qualquer coisa que escapa à compreensão mais primária. Miguel de Sousa Tavares é da mesma opinião e eu concordo plenamente com ele. E V. Exa não deve concordar, penso eu, com os "iluminados" que proclamam que este assunto não é da competência do Presidente da República, então de quem é senão do único órgão de soberania que é eleito pela vontade individual do cidadão sem interferência partidária?

 

Desvalorizou-se imenso a capacidade de aprendizagem das gerações mais novas. Estamos a "queimar" uma geração com esta anedótica iniciativa. As crianças aprendem tudo devido ao espírito aberto que possuem e da sua curiosidade natural, portanto, o argumento de que já escrevem e aprendem há cinco anos não colhe de forma nenhuma. Elas são perfeitamente capazes de voltar atrás e aprender o seu português específico, é inato. Criou-se uma confusão enorme no sistema educativo no qual até os alunos com já alguma responsabilidade estudantil são completamente contra. Poder-se-á argumentar que custa muito caro retornar atrás, porquê? Basta colocar 200 revisores a processar novamente os manuais escolares e retornar ao ponto de partida. Não é, de forma alguma, argumento que se aceite o custo do projecto. É uma questão de vontade política o Estado impõe e acabou-se. Solicito a V. Exa caso lhe seja possível e a sua agenda o permita, a visão do programa Opinião Pública da SIC Notícias em 2016-05-04 (171-100) no qual pode V. Exa ter uma percepção da forma como foi "aceite" ou não aceite este "Acordo Ortográfico". Até pessoas com um nível instrutivo normal manifestaram poderosamente a sua posição. Aliás como deve percepcionar todos os colunistas de "peso" do Expresso escrevem na antiga ortografia. Ao estarem a unificar a língua a favor do Brasil estão a destruir as especificidades do português europeu, do português asiático, do português africano e até do português brasileiro. Estão a aniquilar uma riqueza em diversidade, que é o que distingue a universalidade da nossa língua.

 

O AO/90 foi assinado pelos sete estados de língua oficial portuguesa, mas só foi ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde pelo que não está em vigor, logo não é consensual entre oito, então é necessária nova ratificação geral se querem atingir a maioria o que eu muito duvido, portanto, o tratado não tem validade internacional. Tive o privilégio, e espero voltar a ter, de trocar impressões com o Prof. Pacheco Pereira e sei perfeitamente a sua forma de pensar, só gostava de saber a do Prof. Eduardo Lourenço e do Prof. Viriato Soromenho Marques, isto só para parafrasear alguns vultos da cultura portuguesa, porque existem muitos mais, já que, de eminências pardas encontro-me um pouco enfastiado. O AO/90 não se inscreve na tipologia de um Tratado, não passa de uma Convenção medíocre que o Presidente da República (Cavaco Silva) ratificou de forma adiantada bem como dos dois Protocolos Modificativos sem nenhuma consulta popular que revelasse o parecer da formação social portuguesa. Mais uma vez desconfio da idoneidade e colaboracionismo dos juristas que aconselharam os deputados da Assembleia da República. Foi uma mediocridade elitista. Mas o mais penoso de aceitar é a pressa com que este aviltamento foi colocado no terreno. Não nos concerne absolutamente nada que o Brasil tenha denunciado a Convenção de 1945, ela vigora em Portugal pois o país não emitiu qualquer Lei ou Decreto-Lei que a revogue. A resolução do Conselho de Ministros 08/2011 é uma intrusão e uma imposição totalmente abusivas em termos legislativos num instrumento central do conhecimento da língua: os manuais escolares.

 

Ao desvirtuar totalmente este instrumento fundamentalíssimo para o desenvolvimento cultural e científico das gerações actuais e futuras incutindo-lhes a noção antipatriótica da submissão a uma conveniência estrangeira (será mesmo conveniência?), mais não fizeram do que confundir as mentes mais jovens que são o futuro do país. Mais ainda, este "acordo" criou um desacordo entre Portugal e os países de língua oficial portuguesa, saídos de um período colonial em relação ao previamente acordado já que o AO/90 proclamava unanimidade quanto à sua implantação, situação essa completamente perdida.

 

"Qui tacet consentire videtur" (quem cala, consente) mas, eu não permito perante mim próprio, perante a minha formação académica, perante o meu sentido patriótico e perante a minha escala valorativa, a anuência a tamanho atentado. Como se poderia adaptar de Oscar Wilde "Concordar com o pensamento dominante é um castigo, estar excluído dele é uma tragédia", cá por mim prefiro a tragédia. Num país de envelhecimento acelerado, demograficamente comprometido, com uma cultura geral de um nível de opacidade lamentável, este tema é fracturante, senão dos mais fracturantes e que actualmente parece ter caído num certo desinteresse por parte de um povo perfeitamente colonizado pelo telemóvel e pelo futebol, proletarizado por um modelo económico exteriormente imposto que mais parece uma punição luterana, obcecado com telenovelas e que está, logicamente pouco preocupado e interessado em defender a língua materna. Subscrevo totalmente a opinião de Rosário Andorinha da ANPROPORT, segundo o qual este "acordo" deve ser totalmente reformulado ou revogado. Sou adepto incondicional da segunda opção. Tenho um respeito enorme por Pedro Mexia, leio obrigatoriamente o seu artigo de opinião "Fraco Consolo", sei que a sua cultura literário-geral é qualquer coisa de admirável e inatingível, pelo menos para o que resta da minha existência, mas não concordo plenamente com ele quando afirma que o acordo pressupunha uma unanimidade internacional na CPLP e obedeceu a razões de política externa e de diplomacia. Perdoe-me, mas não concordo. Não existe nenhuma razão diplomática nem nenhuma conveniência que ponha em causa a língua original e ainda muito menos no caso do Brasil do qual só temos recebido iniciativas que prejudicaram e continuam a prejudicar altamente a economia portuguesa, vide TAP Manutenção, Portugal Telecom, Cimentos, etc. Mas não desejo entrar em considerações de opção de modelo económico nacional pois para isso, como defensor da escola keynesiana, tenho convicções empedernidas e altamente definidas bem como uma escala de valores imutável de como se deve levantar um país não cabendo nesta breve missiva.

 

Porque razão o embaixador do Brasil em Portugal esgrime em termos que considero panfletários no "Público" que o acordo está em vigor em Portugal, no Brasil e em Cabo Verde? Na minha humilde forma de visualizar o problema penso que este desiderato deve ser dirimido com vontade política. Portugal é a pátria da língua de Camões, não o Brasil, porquê? Aonde nasceu W. Shakespeare? Parece-me que foi em Stratford-upon-Avon, Inglaterra em 1564, não em Boston, nem em New York, nem em Sydney. Aonde nasceu Miguel Cervantes? Parece-me que foi em Alcalá de Henares, Espanha em 1547, não na Cidade do México, não em Santiago do Chile, não em La Paz, não em Montevideu, não em Buenos Aires. Parecem razões suficientes a um patriota. Temos de nos libertar definitivamente de qualquer tipo de submissão internacional ou ultimatos de espécie alguma baseados na dimensão do nosso território.

 

Portugal tem nove séculos de existência, é a nação mais velha da Europa, tinha já fronteiras definidas e uma unânime formação social com uma língua quando os Anglo-Saxónicos ainda se debatiam em tribos, a Espanha não mais era do que um somatório de regiões e a Itália Renascentista estava dividida entre as Repúblicas Venezianas, os Principados Romanos e as intervenções dos Imperadores Alemães apoiando ou desapoiando a flutuação papal.

 

Não sei qual é a posição oficial do Governo Português, mas sei que o Ministro dos Negócios Estrangeiros disse que o AO não era uma questão pertinente. Que entender de tudo isto? Será que António Costa não quer "magoar" a susceptibilidade dos brasileiros nem é capaz de chamar o seu ministro à responsabilidade? É que eu não quero saber absolutamente nada se o Dr. Augusto dos Santos Silva é um dos barões do PS! Para que precisamos nós do Brasil? Estamos outra vez com minimizações de personalidade que levam inevitavelmente a uma solução política? Não se desloca à Ásia ou Estados Unidos, mas fundamentalmente a Asia e não procura quem deseje instalar fábricas em Portugal. Porquê? Porque o país não é industrializado e tem de o ser, para que não se tenha de recorrer aos malabarismos orçamentais do "põe aqui, compensa acolá”, parecendo um tabuleiro de damas, mal comparado. Não ou só eu que proclamo esta iniciativa, mas sim o Prof. Medina Carreira que já afirmou mais do que uma vez porque não perguntamos nós aos outros como se faz? Se o Ministro das Finanças garantir estabilidade e competitividade fiscal de certeza que as empresas se instalam e podemos ostentar um contingente de exportações com suficiente valor acrescentado que nos permita fortalecer a Segurança Social e elevar o padrão de rendimento dos portugueses além de poder proporcionar a respectiva poupança nacional que conduza a um nível de investimento ininterrupto.

 

V. Exa perguntará e bem: mas o que tem a ver isto com o "Acordo Ortográfico"? Nada. Mas apenas pedir ao MNE que faça o seu trabalho em lugar de minimizar uma questão fracturante que até nem lhe diz respeito funcional, que se enfoque na diplomacia económica e se liberte das "pantufas" das Necessidades ou tem dúvidas quanto às suas funções? Se tem não pode estar no Governo.

 

Mas, voltando ao assunto desta missiva, penso fortemente que devido a polemicidade desta questão por demais fracturante, é que ela deve ser de imediato submetida a referendo nacional (***), para que de uma vez por todas certas entidades que vagueiam pela nossa praça não se arvorem em defensores e líderes do "reino" e lhes sejam devidamente assacados de todas as responsabilidades que provoquem qualquer equívoco sobre a identidade nacional da formação social portuguesa. Igualmente me decepcionei com as posições últimas assumidas por um dos meus mais admirados (até à data), colunistas do Expresso cujo nome eu não mencionarei por motivos éticos, mas que eu aconselharia a que se remetesse ao silêncio quando fala de V. Exa. ou então que brinque com o seu personagem inventado na revista do jornal, porque sempre transmite algum humor e boa disposição aos leitores e não se abalance em assuntos mais sérios que acentuam cada vez mais o seu desviacionismo para a corrente neoliberal.

 

Quanto aos apoiantes deste "Acordo Ortográfico" perdoe-me, mas socorro-me novamente do homem de Stratford, adaptando-o:

 

“Até as bestas mais ferozes tem de vez em quando um assomo de piedade, mas eu não tenho nenhuma perante os defensores deste acordo, logo, não sou nenhuma besta".

Ricardo III

William Shakespeare

Confio plenamente que V. Exa conduzirá este desiderato para o seu destino mais óbvio, já que o considero como o único e lídimo representante nacional capaz de defender com lealdade e eficácia aquilo que nos resta da nossa dignidade e identidade como formação social soberana e independente já que do Governo não espero grande efeito. BEM-HAJA.

 

Com os meus melhores cumprimentos, subscrevo-me,

De V. Exa

Atentamente

José Lucas

 

P.S. — O autor destas linhas escreve e sempre o fará na antiga ortografia.

 

***

 

(***) Um referendo sobre esta matéria, seria um desastre, porquanto ou a pergunta tinha de ser directa: «querem começar a escrever à brasileira?”, ou perguntar isto com muitos rococós (como é hábito, nos referendos, para baralhar o povo e obrigá-lo a votar naquilo que os governantes querem) a maioria do povo, que se está nas tintas para esta matéria, não saberia o que responder. Mas pior do que isto, seria a abstenção. Se nem para eleger os seus governantes, o povo sai à rua, contribuindo para índices de abstenção descomunais, chegando-se a eleger maiorias absolutas, com apenas dois milhões de votantes, em 10 milhões.

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:46

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Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2022

Três histórias que envolvem o ministro da Educação, a Associação de Professores de Português e Marcelo Rebelo de Sousa, contadas pela Professora Maria do Carmo Vieira

 

Do fingimento à mais profunda hipocrisia: três histórias recentes

 

Como se revela o fingimento, intimamente ligado à mais profunda hipocrisia e falta de respeito pelo Outro? São três as histórias que contarei a esse propósito.

 
 

Convencer, é estéril.[1]

Foi um grande avanço no meu conhecimento, quando, pela primeira vez, a pobreza se me revelou na ignomínia do trabalho mal pago.[2]

Não se liam os livros de uma ponta à outra; habitávamos entre as suas linhas.[3]

Walter Benjamin (1892, Berlim – 1940, Portbou)

 

Como se revela o fingimento, intimamente ligado à mais profunda hipocrisia e falta de respeito pelo Outro, situação a que também não é alheia a Cultura e o Saber? São três as histórias que contarei a esse propósito. A primeira tem como figura principal o Ministro da Educação, João Costa; a segunda, a Associação de Professores de Português (APP); e a terceira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

 

Foi a Reforma de 2003, cujo espírito perdura, e na qual o professor João Costa (Associação Portuguesa de Linguística – APL) interveio arduamente, em parceria com a APP, e depois no Ministério da Educação, que ditou o descrédito relativamente às Humanidades, situação que se tem vindo a prolongar até aos nossos dias, tendo dado azo ao esvaziamento de programas e à quase destruição das disciplinas de Filosofia, de Geografia, de História e obviamente de Português. João Costa, a par de muitos outros ministros da educação, tem sido efectivamente um fervoroso adepto do colapso das referidas matérias, mas agora tenta dar uma imagem contrária. Imitando, sem brilho, António Damásio que afirmou “A matemática e as ciências não fazem cidadãos”, na Conferência da Unesco, em Lisboa, (Março 2006), João Costa referiu no seu discurso que “As grandes conquistas da humanidade não se fizeram com cálculos financeiros”, aconselhando ainda, e fingidamente condoído, a “não deixarmos o mundo nas mãos de quem para tudo faz contas e de quem para tudo desumaniza”. Ter-se-á esquecido da perseguição que instaurou aos professores alterando o Regime de Mobilidade por Doença e das consequências daí advenientes? Nesse sentido, leia-se o artigo do Professor Santana Castilho (Público, 12/10/2022) e compreender-se-á o grau de hipocrisia de políticos como João Costa, numa actuação que apregoa invariavelmente os “direitos humanos” e o “bem público”.

 

No seu surpreendente discurso de dia 14 de Novembro p.p., repleto de frases vazias ou absurdas como a que transcrevemos – “A escolha das humanidades não precisa de justificação, da mesma maneira que a escolha pela poesia, pela literatura e pela arte não precisa de justificação” – lamentamos veementemente a triste sorte do Ensino entregue a gente deste calibre. Gente que pactuou com a sugestão de se retirar a Literatura dos programas de Português, tentando elevar a Linguística a matéria única e fazendo reinar o texto funcional; que pôs de parte, como sendo desmotivantes, os autores clássicos; que feriu o estudo dos que por conveniência tiveram de permanecer, somando-se decisões desastrosas como retirar da leitura de Os Lusíadas a “Dedicatória” porque, segundo colegas do Ministério, apoiando-se em argumentação APP, “os alunos faziam imensa confusão com o facto de Luís de Camões dedicar o poema ao rei D. Sebastião, narrando o poeta um evento acontecido no reinado de D. Manuel. Obrigá-los a decorar datas era desmotivante…” ou o episódio de “O Velho do Restelo” que, felizmente, grande número de professores continua a ler e a interpretar porque imprescindível para compreender o Humanismo, o mesmo Humanismo a que se refere o Ministro da Educação. Sem dúvida que é o Senhor Ministro “quem tem medo da democracia e da liberdade” e por isso também “dos escritores, dos poetas, da palavra e da arte”, palavras que igualmente proferiu no seu discurso. Explicar-lhe-ei mais em pormenor o porquê da minha afirmação.

 

Conhece certamente o teor dos exames ou das provas de aferição de Português, para adolescentes e crianças. Todos, sem excepção, superlativamente longos, repletos de páginas, a que se juntam diferentes textos para analisar, todos igualmente extensos, alguns dos quais com recurso a cruzinhas em que, por vezes, as várias hipóteses são puras ciladas. Junte-se-lhes uma avalancha estonteante de TLEBS e ainda a produção de textos. O senhor Ministro é contra os exames e eu sou a favor, mas eu sou totalmente crítica destas aberrações que impedem os alunos de tempo para pensar, de tempo para planear e organizar um texto escrito. A literatura e qualquer outra arte exige um diálogo com o que se lê, ouve ou olha e esse diálogo não pode ser impedido sob pena de se perder o contacto com o autor. Não será assim que se entusiasmará os alunos para a leitura e para a arte em geral. Na verdade, temos de “habitar” entre as linhas de um livro ou de uma pauta ou das cores. Porque adepto da rapidez, o senhor defende desde 2003 o funcional, se bem que inesperadamente na entrega deste prémio surja com um discurso enganador, mas tão facilmente desmontável. Dou-lhe conta de que não é com o funcional que “se formam cidadãos”, nem é com o funcional que se estimula a imaginação e a criatividade, sem as quais “não haveria evolução científica e tecnológica porque não haveria curiosidade”. (ainda António Damásio).

 

A segunda história incide sobre a Associação de Professores de Português (APP) e a iniciativa de levar a uma reunião do IAVE o que considera ser a penalização dos alunos brasileiros nos exames, pelo uso da sua variante do português. Sem querer entrar nesta questão, porque seria matéria para um artigo, e desconhecendo se no Brasil aceitam que os alunos portugueses escrevam segundo a norma portuguesa, questiono a APP a propósito da defesa da aberrante “unificação ortográfica” que o acordo de 1990 traria, permitindo que as várias lusofonias espalhadas pelo mundo finalmente “se entendessem”, como se anteriormente isso não acontecesse. Afinal, a APP terá de concluir, engolindo um imenso sapo, que o acordo trouxe apenas desentendimento, penalização e caos, evidenciando simultaneamente uma imensa falta de respeito pela “diversidade das diversas lusofonias como património de uma comunidade de estados soberanos unidos por uma raiz histórica comum […].”[4]

 

Por ironia do destino, a APP, desde sempre fiel aliada do Ministério da Educação, irá reencontrar um antigo colega de trabalho, o actual Ministro da Educação, João Costa, dado necessitar certamente do seu aval para a resolução do problema dos exames e dos alunos brasileiros. Dever-se-á salientar, no entanto, que a APP abraçou desde o início a imposição do acordo ortográfico, não tendo promovido um debate sério com os seus associados, que nas palavras da direcção eram metade a favor e metade contra. Além disso, promoveu inúmeras acções de formação para difusão e “ensino” do acordo ortográfico, dentro e fora do país, quando até julgara poder ser o mesmo compreendido “em algumas horas”. Já João Costa, enquanto sócio da APL e seu Presidente, acompanhou o parecer desfavorável da direcção, solicitado, em 2005, pelo Instituto Camões, e no qual se concluía: “1. Que seja de imediato suspenso o processo em curso, até uma reavaliação, em termos de política geral, linguística, cultural e educativa, das vantagens e custos da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990. 2. Que, a manter-se o texto actual do Acordo, Portugal não ratifique o Segundo Protocolo.” Este parecer, custará a acreditar, não foi divulgado pelo Instituto Camões (IC), e só em 2008 veio a público, porque a Direcção da APL em funções “manifestou a sua concordância com este parecer e, no exercício das suas competências enviou-o à Assembleia da República, por ocasião da Audição Parlamentar de 7 de Abril de 2008.” Mas será certo que a APP encontrará em João Costa um parceiro adequado, porque enquanto linguista já esqueceu o parecer da APL e a sua missão política não admite que recue na amnésia forçada.

 

A terceira e última história incide sobre o Mundial de Futebol, encharcado em corrupção, crueldade e aviltamento dos direitos humanos, situações que a comunicação social e os países ditos democráticos, entre os quais Portugal, têm vindo veementemente a criticar e a acusar. No entanto, por um qualquer golpe de magia, e porque na verdade está na sua natureza (justificaria o “escorpião”) são os mesmos (e não quero generalizar porque haverá honrosas excepções) que se enfureceram tanto contra esta e outras injustiças afins que agora, em tom grave e paternalista, anunciaram ir deslocar-se ao Qatar para assistir aos jogos de Portugal, com o argumento de irem representar o país. É preciso dizer-lhes que quem nos representa num estádio estrangeiro é a equipa, são os nossos jogadores. Prova-o o entusiasmo com que adeptos de diferentes continentes envergam camisolas do equipamento português, ou hasteiam bandeiras portuguesas, tendo como justificação “Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo!”. Não caiamos, pois, em patranhas: quando alguma figura institucional decide assistir a um jogo, fá-lo exclusivamente por prazer, pelo gosto que tem em ver jogar futebol e torcer pela sua equipa (e lembremos o rodopio de políticos em viagens pagas ao estrangeiro para assistir a jogos de futebol ou quem foi forçado a demitir-se, desvendado o irresistível charme que atrai o futebol à política e vice-versa).

 

A acentuar o “exotismo” do país, onde certamente estes “representantes da nação” nunca iriam, está o imperdível prazer da viagem na mira das inimagináveis boas-vindas que “a representação” lhes proporcionará. Eles têm disso consciência e eles são o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, almas provincianas em procura de destaque e de colecção de “selfies” e histórias para contar. Causam igualmente dó e alguma repulsa o teor das justificações apresentadas, colidindo estas com as de outros países que politicamente não estarão presentes neste Mundial. Nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos Silva e António Costa envergonham-nos. Digamos, usando as palavras de Séneca que “não são advogados à altura…

 

Talvez o único bem deste mundial possa surgir da diversidade de povos e culturas que aí se juntam, resultando numa alegria que alguns jovens qataris entrevistados directamente testemunharam. Também os gestos que se têm vindo a manifestar, nos estádios, sejam os das equipas iraniana, inglesa ou alemã, sejam os das equipas dinamarquesa e belga que a FIFA proibiu, terão seguramente um qualquer efeito benéfico porque o Outro é, na verdade, essencial para um despertar. Neste momento, o Qatar, e usarei de novo as palavras de Walter Benjamin, é como um “bairro de proprietários” que ignora a “existência dos outros”.

 


[1] In Rua de Sentido Único e Infância em Berlim por volta de 1900, com introdução de Susan Sontag. Lisboa, Relógio D’Água, pág. 40

[2] Idem, pág. 177

[3] Idem, pág. 23

[4] António Emiliano, O Fim da Ortografia. Lisboa, Guimarães Editores,2008.

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:13

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