Segunda-feira, 14 de Outubro de 2024

Quando existem “professores” que dizem: «Este AO90 foi um erro, mas já tem muitos anos e não é de todo possível voltar atrás», só podemos pensar que é melhor irem procurar emprego numa actividade onde não precisem de usar a massa-cinzenta

 

A aplicação do AO90 só foi impingida ao sistema educativo no ano lectivo de 2011/12, através da Resolução do Conselho de Ministros (RCM) n.º 8/2011 e a partir de 01 de Janeiro de 2012, ao Governo e a todos os serviços, organismos e entidades na dependência do Governo, bem como à publicação do Diário da República. Era José Sócrates primeiro-ministro de Portugal.

Portanto, a aplicação da mixórdia ortográfica em que se transformou a disciplina de “Português”, nas escolas portuguesas, NÃO tem muuuuitos anos.  Tem apenas 12 (DOZE) anos.

Quase 800 anos tinha a Língua Portuguesa, estudada nas nossas escolas, desde o tempo de Dom Diniz, quando políticos ignorantes decidiram substituir uma pedra preciosa (a grafia portuguesa) por um pau de carvão (a grafia acordista).

 

Daí que dizer que «este AO90 foi um erro, mas já tem muitos anos e não é de todo possível voltar atrás» é de quem não faz a mínima ideia do que está a dizer.

Desobediêmcia Civil.png

 

A propósito disto, ocorre-me citar Henry David Thoreau (um sábio norte-americano) que, em 1849, escreveu o ensaio «Desobediência Civil», onde defende que NÃO devemos permitir que os governos controlem a nossa consciência e muito menos que nos tornem agentes de injustiça. Para Thoreau, a desobediência civil é uma forma de luta legítima e pacífica contra a opressão e os atropelos a que estão sujeitos os mais fracos.

E Henry David Thoreau questiona:

«As leis injustas existem. Devemos contentar-nos com obedecer-lhes ou devemos esforçar-nos por as emendar?»

A segunda opção é a opção racional.

Contudo, no caso da injustiça provocada pelo AO90 não se põe a questão de uma lei injusta, porque NÃO existe nem uma lei injusta, nem uma lei justa,  o que existe é uma ORDEM parva. Mas a teoria de Toureau serve também para ordens parvas.

O que faz falta aos professores é muita LEITURA das obras e artigos que se têm escrito sobre esta matéria.  Leiam, e ficarão a saber o quanto estão errados, por terem escolhido o caminho mais fácil. 

Desobediência Civil.png

 

A falta de discernimento desses professores (felizmente há raras e honrosas excePções) quando dizem, «pois, é, este AO90 foi um erro, mas já tem muitos anos e não é de todo possível voltar atrás agora», é de uma dimensão gigantesca. Quando o acordo ortográfico foi adoptado pelas escolas, em Setembro de 2011, alguém se lembrou de dizer «pois é, o AO90 não pode ser adoptado, porque a Língua Portuguesa já tem perto de 800 anos, e já não é possível voltar atrás, não é possível introduzir uma nova linguagem, ainda por cima MUTILADA e completamente DESCONCHAVADA, até porque milhares de gerações e alunos já a aprenderam, e não é de todo possível voltar atrás».

 

Isto é o que deveriam ter dito os tais professores, e não aceitarem servil e cegamente uma RCM, que não tem valor de lei, e é apenas uma recomendação (e deviam saber isto). Se uma RCM recomendasse que se atirarem-se todos para debaixo de um combóio, atirar-se-iam, apenas por recomendação de uma RCM? Contudo, ainda que a RCM tivesse valor de lei, existe uma ferramenta chamada desobediência civil, que nos dá o direito de desobedecer a leis parvas e injustas, quando está em causa algo como o património identitário do País.

Ou esses professores consideram que os alunos são tão idiotas, que não conseguem voltar atrás, e aprender o que é certo, sabendo que foram vítimas de uma parvoíce, de um erro ignorante e gigantesco?

 

Errar é humano, mas corrigir o erro é um DEVER, ainda mais humano.

 

Os professores deviam saber que as crianças e os jovens têm uma capacidade enorme de aprender e desaprender, num ápice, tudo e mais alguma coisa, porque o cérebro deles ainda tem muito espaço para a aprendizagem. O cérebro humano é como um disco de computador. Os professores NÃO têm o direito de bitolar a inteligência das crianças e dos jovens pela desinteligência e incapacidade dos adultos, perante o incorreto (incurrêtu), para dar lugar ao correCto (currétu). Os milhares de alunos, que escreviam correCtamente o Português em 2011, não tiveram de começar a escrevê-lo “incurrêtamente”, de um momento para o outro? E aprenderam-no ou não o aprenderam, ainda que muito mal, até porque nem os professores souberam aplicar o AO90, por lhe desconhecerem o conteúdo, e o que ensinam por aí é um vergonhoso e miserável Mixordês.  


É inadmissível que se ouça professores a dizer que é de todo impossível voltar atrás com o AO90, quando o AO90 além de ser ilegal e inconstitucional, NÃO é coisa que se ensine às crianças e aos jovens portugueses, mas também aos estrangeiros, que pensam que estão a aprender Português, mas estão a levar com uma mixórdia ortográfica, sem pés, nem cabeça.

 

E isto configura um crime de lesa-aprendizes da Língua.

 

Também ouvi alguém a dizer que «se a língua está em “perpétua evolução”, também a ortografia, sua serva, deve obedecer à mesma deriva». O autor desta infeliz frase é um grandessíssimo ignorante que desconhece que a evolução de uma Língua se avalia pela fixação da sua ortografia, que foi o que aconteceu a todas as Línguas cultas europeias. Ninguém andou, por aí, a fazer acordos com ninguém, a não ser os dois países do mundo com mais ignorantes por metro quadrado: Brasil e Portugal. E quando se diz fixar a ortografia é fazê-la evoluir desde o seu nível básico, até ao nível mais erudito.

 

A Língua é como uma pedra preciosa no seu estado bruto: só depois de lapidada é transformada numa bela jóia, de valor incalculável. Todas as Línguas evoluíram, foram lapidadas, acrescentaram-se-lhe vocábulos novos, foram sendo actualizadas, que não é sinónimo de mutiladas. Uma Língua NÃO evolui quando reduzem as palavras, já lapidadas, à sua forma mais bruta, mais básica. A isto chama-se decadência, indigência, retrocesso. O AO90 fez recuar a Língua Portuguesa para o seu estado mais bruto. 

Escravos.png

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:55

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