O que espero para 2025?
Embora não interesse a ninguém, vou dizer o que penso, porque é algo que ainda posso fazer, neste meu lugar de luta.
Espero que uma luz radiante passe nos céus de Portugal e ilumine todos aqueles que têm nas suas mãos a solução para os graves problemas que estão a arruinar o nosso desditoso pedaço de terra, à beira-mar plantado, há quase 900 anos, e que más políticas e a falta delas estão a fazer desaparecer do mapa da Península Ibérica.
E isto não é uma hipérbole. Um exagero.
É apenas o sentimento de alguém que quando olha, vê a realidade, não a escamoteando para parecer que somos um povo europeu civilizado, quando parte da população portuguesa e os decisores políticos nem sequer sabe falar e escrever correctamente.
Isto pode parecer um facto de pouca monta, mas não é.
É algo que nos retira o direito de sermos um Povo com identidade própria, culto, civilizado, instruído, senhor da sua História, da sua Cultura, da sua própria Língua, das mais antigas da Europa.
Sem este direito protegido, por quem de direito, nada somos como Povo.
Regresso em Janeiro.
Até lá, Boas Festas e o meu muito obrigada a todos os que por aqui passam...
Isabel A. Ferreira
(Imagem retirada da Internet)
Foi com enorme estupefacção que li o artigo Os nossos direitos, o nosso futuro, já, publicado no passado dia 11 de Dezembro, no Jornal Público, da autoria de Maria Lúcia Amaral, a actual Provedora de Justiça de Portugal.
Os Portugueses têm o direito humano à sua Língua Materna, grafada correCtamente, conforme o Decreto 35.228, de 8 de Dezembro de 1945, que fixou a grafia da Língua Portuguesa, o qual entrou em vigor em 01 de Janeiro de 1946, e que continua vigente, em Portugal, porque aquele decreto não foi revogado, até aos dias de hoje.
O Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes apresentou, há umas semanas, uma Queixa/Exposição à Senhora Provedora, sobre a questão da Língua Portuguesa e da aplicação ilegal do AO90, e aguardamos que nos responda, de acordo com a legislação em vigor.
Pelas crianças portuguesas, “o futuro dos direitos [delas] é agora”, e elas têm o direito de escrever correCtamente a sua Língua Materna -- o Português.
Não esquecer que a linguagem grafada, segundo o ilegal e inconstitucional AO90, não pertence a Portugal, nem aos Portugueses, daí que tomei a liberdade de marcar como erro ortográfico, no texto da Senhora Provedora, os vocábulos onde faltam as consoantes com função diacrítica, (à excepção de adoção, que sem o PÊ tem outro significado) que pertencem exclusivamente ao léxico brasileiro.
Isabel A. Ferreira
Maria Lúcia Amaral
Os nossos direitos, o nosso futuro, já
Por Maria Lúcia Amaral
«O Provedor de Justiça lançará, em 2025, ano em que se celebra o 50.º aniversário da sua instituição, o concurso “O futuro dos direitos é agora”, aberto às crianças e jovens de todo o país.
Comemorou-se ontem o Dia Internacional dos Direitos Humanos, uma data que marca a adoção [no Português vigente adoPção], da Declaração Universal dos Direitos Humanos pelas Nações Unidas em 1948, e à qual o Provedor de Justiça se associa.
Os direitos humanos são um assunto de todos nós, um assunto de todos os dias. Basta sair à rua ou ver as notícias para constatar que, volvidos 76 anos, há ainda um caminho a percorrer para os cumprir plenamente, em Portugal e no mundo. A pobreza, a exclusão social, a desigualdade, a discriminação e a violência continuam a afetar [no Português vigente afeCtar] muitíssimas pessoas independentemente da sua circunstância e condição.
É, pois, fundamental comemorar este dia. Um dia em que celebramos os direitos humanos e os progressos alcançados, que são muitos, é certo, mas, mais que tudo, em que refletimos [no Português vigente refleCtimos], com o ímpeto de agir já, sobre os desafios que ainda permanecem, que nos deixam um futuro por concretizar.
“Os nossos direitos, o nosso futuro, já” é o nome da campanha promovida pelas Nações Unidas para evidenciar o impacto concreto dos direitos humanos, destacando exemplos de sucesso e soluções práticas nas questões globais mais relevantes. Esta iniciativa convoca uma mobilização coletiva[no Português vigente coleCtiva] para proteger os direitos de todos, individuais e coletivos [no Português vigente coleCtivos], como uma resposta essencial para construir um futuro mais justo, equitativo e promissor.
Invoca compromissos que temos de tirar do papel e transpor para as vidas das pessoas e das comunidades, passando da aspiração à realização dos direitos humanos. São compromissos que nos vinculam a todos, uma responsabilidade individual e coletiva [no Português vigente coleCtiva ] que nos une enquanto seres humanos, indissociável da dignidade que a todos é devida simplesmente por serem.
Porque realizar os direitos humanos é uma responsabilidade de todos, e os desafios da sua plena concretização persistem, precisamos então do renovado compromisso de todos, dos decisores públicos à sociedade civil, dos cidadãos às escolas. Uma responsabilidade partilhada também pelo Provedor de Justiça, que tem no seu ADN, por definição constitucional, a promoção e a proteção [no Português vigente proteCção] dos direitos fundamentais, e a quem todos podem recorrer.
Comentários ao texto de Maria Lúcia Amaral, no Jornal Público:
“Os nossos direitos, o nosso futuro, já.” Escolho este título, tomando-o de empréstimo, porque proteger os direitos humanos é proteger o presente e o futuro. Para tal, a educação – em si mesmo um direito humano – é fundamental, começando desde cedo a inculcar nas nossas crianças e jovens a consciência dos direitos humanos, e transmitindo-lhes valores elementares, como a solidariedade, a justiça, a igualdade. Esta é também, uma vez mais, uma responsabilidade de todos, das escolas, das famílias, das comunidades, mas também do Provedor de Justiça.
É com este espírito que o Provedor de Justiça lançará, em 2025, ano em que se celebra o 50.º aniversário da sua instituição, o concurso “O futuro dos direitos é agora”, convidando as crianças e jovens de todo o país a refletir criativamente sobre as questões de direitos humanos mais prementes do seu dia-a-dia, as quais se poderão materializar no formato que melhor as represente. Estas obras serão depois reunidas em exposição na sede do Provedor de Justiça, alargando a reflexão a todos que nos queiram visitar.
Pois, creio, todos nós, independentemente de quem somos ou de onde vimos, queremos “os nossos direitos, o nosso futuro, já”.»
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
in https://www.publico.pt/2024/12/11/opiniao/opiniao/direitos-futuro-ja-2115165
Também li que na Educação: os indicadores pioram e o país encolhe os ombros; que o Declínio das competências dos adultos portugueses começa logo aos 25 anos; que segundo as Tendências em Estudos Internacionais de Matemática e Ciências - TIMSS: alunos do 4.º e do 8.º anos com pior desempenho a Matemática face a 2019; que de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, PISA 2022: queda “sem precedentes” nas médias dos alunos da OCDE. Portugal acompanha trambolhão; li «Ortografia, mudança, progresso e um suave analfabetismo»; e também li que este é O triste retrato do nosso atraso.
E que atraso monumental!!
O Ensino em Portugal está em franca decadência, há anos consecutivos, posso até afirmar que a decadência começou logo no pós-25 de Abril, quando quiseram reformar o ensino, e, por exemplo, acabaram com o estudo da História e puseram os professores a inventar sobre matérias para entreter os alunos do segundo e terceiro ciclos com: vestuário, habitação e alimentação. Sem rede, sem apoio, sem manuais. A disciplina, o respeito devido aos professores dentro da sala de aula e fora dela, eram nulos. Os alunos podiam fazer o que bem entendessem. E viva a liberdade! Até jogar à bola, dentro da sala de aula, podiam! Podiam até dar palmadinhas no traseiro das professoras mais novas, e nada lhes acontecer. Não podia mandar-se o aluno malcriado porta fora. Era proibido passar faltas de castigo ao aluno que não se comportasse bem nas aulas. E vejam até onde chegou esta política: hoje, não só os alunos batem nos professores, como, por vezes são também os pais dos alunos a vier à escola bater nos professores.
O sistema de ensino começou a inventar novos métodos, menos exigentes, para não sobrecarregarem os alunos, coitadinhos, que com a revolução dos cravos os decisores políticos da altura acharam que ficariam muito menos aptos e mais imbecis do que todas as gerações que existiram desde a fundação de Portugal. E hoje, é o que vemos: de tanto quererem tomá-los por imbecis, muitos já estão a tomar-lhe o gosto.
Foi esta decadência que me levou a abandonar o Ensino, iniciado no ano lectivo de 1973/74; 1974/75 e abandonado em 1975/76.
Ou havia disciplina e matéria culta para ensinar aos alunos, ou a gerações dali em diante iriam tornar-se analfabetas funcionais. E eu não quis participar nesta decadência, ser cúmplice da ignorância que se instalou nas escolas. E tinha de se ter pachorra para aguentar os desmandos dos políticos, que andavam à deriva sem saber o que fazer com tanta liberdade.
Podiam tê-la usado para tirar o país da miséria educacional, cultural e social que então caracterizava a nossa sociedade, mas não, devagar, devagarinho, puseram Portugal na cauda da Europa, nos sectores mais primordiais de uma sociedade civilizada.
E agora, eis que chegámos ao ponto de universitários, já com os seus canudos na mão, NÃO conseguirem escrever um relatório médico, escolar, empresarial, político, etc., num Português correCto e escorreito. Além dos conhecimentos adquiridos, era o mínimo que poderiam fazer, para merecerem louvores.
A Cultura Geral actual dos Portugueses, que passaram pelas escolas e universidades, hoje em dia, é uma miséria franciscana. Os manuais escolares são elaborados de uma forma tão básica, como se os alunos fossem todos muitos estúpidos. Uma vergonha!
A Língua de um Povo é o PILAR em que assenta todo o Ensino, o Saber e a Cultura de um Povo. E o que fizeram com ela? Injectaram-lhe um vírus, que dá pelo nome científico de AO90, que a deformou de um modo horrendo, e apesar de haver cura para este mal, os decisores políticos recusam-se, peremptoriamente, a usá-lo.
O porquê desta atitude irracional não é desconhecido, faz parte de uma maquinação, tão mal engendrada, que deixou o rabo de fora, tal como o gato escondido. A intenção não pode ser mais irracional e desastrosa, e está nas mãos dos Portugueses PENSANTES (que ainda os há) exigir dos decisores políticos que governem Portugal, usando a cabeça que têm em cima dos ombros, e não com a cabeça do dedo mindinho do pé.
É que, como diz Voltaire:
Isabel A. Ferreira
Um texto todo feito com ditados populares: magnífico!
Por Mafalda Sarai
É uma expressão portuguesa, com certeza.
— Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja.
— Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote.
— Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei riscar este assunto do mapa, mas eu sou uma troca-tintas, uma vira casacas e vou voltar à vaca fria.
— Andava eu a brincar aqui com os meus botões, a chorar sobre o leite derramado, com bicho carpinteiro e macaquinhos na cabeça, quando decidi procurar uma agulha no palheiro.
— Eu sei, eu não bato bem da bola, mas sentia-me pior que uma lesma e tinha uma pedra no sapato.
— O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar os cabelos.
— Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta.
— Mas eu, que sou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei o arquivo a eito.
— Acontece que, uma vez, em conversa com um amigo ele disse-me «Tiras-me do sério» e eu, sem papas na língua, respondi «Se te tiro do sério, deixo-te a rir, é isso?».
— Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões «Esquece Mafalda, escreves belissimamente, mas não conheces nem 1/4 das expressões portuguesas.»
— Só faltou trepar paredes.
— É preciso ter lata! O primeiro milho é dos pardais.
— Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo d´água e trinta por uma linha.
— Fiz vista grossa, mas depressa disse Ó tio! Ó tio! Abri-lhe o coração, o jogo e os olhos na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos is.
— Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar.
— Era um trocadilho. Pão, pão, queijo, queijo.
— Rebeubéu, pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear o Camões.
— Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames.
— Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda.
— Posso até ser uma cabeça de alho chocho e andar sempre com a cabeça nas nuvens, mas não ia meter o rabo entre as pernas nem que a vaca tossisse.
— Pus a cabeça em água e fiquei a pensar na morte da bezerra.
— Caí das nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não fosse bater as botas.
— Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos atadas e baixei a bola.
— Engoli o sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e dei-lhe troco com o intuito de descalçar a bota.
— Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isto já são muitos anos a virar frangos e pus as barbas de molho.
— Uma mão lava à outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas tintas, à sombra da bananeira.
— Não deu uma mãozinha nem deixou comprar gato por lebre.
— Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife.
— Pus mãos à obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla.
— Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco da velha. Claro que dei com o nariz na porta, o gato comeu-lhe e língua e saiu com pés de lã.
— Água pela barba! Devia aproveitar a boleia antes de ficar para tia de pedra e cal onde Judas perdeu as botas.
— É que isto pode estar giro e estar fixe, mas não me apetece segurar a vela com dor de corno e dor de cotovelo só porque não conheço 1/4 das expressões portuguesas.
Por: Mafalda Sarai.
Partilhado por: «O SALOIO» – Mafra | 26/06/2024.
in: https://www.facebook.com/@OSaloio/
Texto magnífico, publicado no jornal Público, no passado dia 05 de Dezembro, o qual foi-me enviado pelo autor, António Jacinto Pascoal, via-e-mail, e que aqui reproduzo com a sua autorização. (Isabel A. Ferreira)
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«O Acordo Ortográfico de 1990 (que não chegou, efectivamente, a sê-lo) procura unificar (nem há como camuflar a pretensão deliciosamente fascizante) vertentes que, naturalmente, tendem a afastar-se. Ou seja, ao AO90, para ser bom, só lhe faltam as qualidades…» (António Jacinto Pascoal)
«A língua e o sofá: o paraíso beatífico do acordo ortográfico»,
Por António Jacinto Pascoal (*)
Podemos fazer o que quisermos da língua, compará-la mesmo a um sofá, escarafunchar nela e estragá-la. Vamos lá a ver: alguém há por aí que estranhe o valor meramente instrumental da língua, como o do sofá de sala, servindo o conforto pessoal e o interesse pragmático do repouso? Descansar na língua (atente-se na poeticidade da expressão) assemelha-se, em registo idílico, ao primeiro olhar crítico (assim lhe chamou Eduardo Lourenço) do Criador, ao sexto dia, de pantufas no seu sofá e a olhar a Criação: concluiu que era bom. Reservou, então, o sétimo para o pleno remanso. É uma visão graciosa e singela da coisa. Está muito bem. As pessoas vão de mãos dadas e entendem-se. Um mundo perfeito. Se não fosse curto e indigente.
Num recente artigo de António Guerreiro (PÚBLICO, 22 de Novembro), e a propósito de Elon Musk, chama-se a atenção para o controlo da linguagem e a perspectiva instrumental que dela tem o magnata: a linguagem humana, como a entendemos, tornar-se-á obsoleta, poderá ser agregada a um sistema cibernético de inteligência artificial reduzido a funções básicas como a informação factual, cumprimento de regras, transmissão de ordens. Serão tempos em que a ficção científica deixará de ser ficção. Sabemos como as palavras são importantes e o modo como, sem termos disso plena consciência, transportamos prescrições ideológicas de raízes profundas, mesmo quando (e por isso também) elas são revisionistas e tendem à desafecção ideológica.
Há quatro anos, e a propósito do cinquentenário do general de Gaulle, Macron referiu-se-lhe como herói da resiliência francesa, mitigada assim a conotação político-imagética da resistência ao nazismo e ao fascismo. Hoje, em Portugal, os conceitos de racismo e xenofobia transmutam-se, pela palavra, em nacionalismo e proteccionismo, e o termo fascismo, na boca de muitos e em culto de programada naturalidade, alija, esconjurando-a, a carga depreciativa de outros tempos. Na esfera da linguagem, assiste-se à despolitização e dessincalização numa desvitalizada res publica, emancipada de enquadramentos colectivos transcendentes, pelo que os trabalhadores passam a colaboradores e o próprio trabalho, sob novas práticas organizacionais, espartilha-se na execução operacional e na gestão de informação e definição de objectivos, nesta nova relação ambígua entre indivíduo e sociedade. E, em boa parte do mundo, o vocábulo genocídio, conforme o perpetrador, assume ou não significação. Portanto, as palavras contam. Mas não somente como significados; contam ainda como significantes, tanto no plano do objecto sonoro como no da imagem visual gráfica. Esta última, a representação da “palavra”.
Quando pensamos em palavras, a sua materialidade percepciona-se melhor na escrita, porque é aí que elas se decompõem em morfemas, sendo mais prático, no plano da grafia, assinalar os efeitos fonéticos, a entoação, a força clítica por acção de consoantes ou vogais finais, mas também os valores semânticos de prefixos e sufixos (o valor avaliativo, o sentido pejorativo ou afectivo, e, portanto, também sociológico e ideológico). Mulherengo, por exemplo, será adjectivo capturado (e em vias de extinção) pelas novas vigilâncias da polícia de costumes da língua. Resumindo: as gramáticas e os dicionários são utensílios fundamentais, preservam práticas, registam admissões dialectais e sociolectais, estimulam a observação de regras (tanto para a língua-padrão como para falares e dialectos) e favorecem a elegância e a riqueza linguística. José Castro Pinto afirmou que “quem diz que um dia acabará a Gramática (como já ouvimos dizer) é porque ainda não compreendeu o que é uma Gramática”.
Isto nasce a propósito da ligeireza com que Isabela Figueiredo afirmou recentemente (Expresso on line, 14 de Novembro) que, no seu entender, não há para a língua regras, desde que todos nos entendamos. Segundo a escritora, “proteger a língua de maus-tratos é uma tarefa inglória”. Mas a ser assim, não importa desfigurar a língua, não importa permitir os termos “chulos” e os “vulgarismos” fora de contexto (imagine-se plasmados na Constituição) ou incluir cultismos em prosa popular, não importa ceder aos erros de concordância, não importa confundir – por inépcia – normas de variantes distintas do Português. Nada importa. Diria eu que não importa sequer haver gramáticas ou dicionários. E provavelmente filólogos e revisores e, entretanto, professores de língua. Que significa isto? Significa, suponho, que, quanto a si, se eu escrever “Azarmas ius barõins acinaladus” ou “Quero que tu lês e compreendes este texto”, não vai daí mal ao mundo, porque todos nos entendemos.
Nós, que nos opusemos ao Acordo Ortográfico de 1990, apelidados já de velhos do Restelo, Alencares, analfabetos do século XXI, velhotes obcecados, puristas da língua que tomam antiácidos, etc. (acrescentemos “autistas”, “neuróticos”, “casmurros”), e prontos para novos apodos, temos, pelo menos, duas coisas claras. Uma: as línguas são por natureza conservadoras – as suas mudanças raramente se produzem internamente, mas como resultado de tensões e pressões linguísticas externas ou produzidas por artificialismos, como os de reformas ortográficas que possam condicionar a modulação das palavras, o que, traduzido, liquida o argumento da vivacidade estuante das línguas (esse lugar-comum do organismo vivo). Imagine-se uma comunidade isolada do mundo, proceda-se a um estudo diacrónico da língua dos seus falantes e veja-se o que mudou ao longo de séculos. Duas: o Acordo Ortográfico de 1990 (que não chegou, efectivamente, a sê-lo) procura unificar (nem há como camuflar a pretensão deliciosamente fascizante) vertentes que, naturalmente, tendem a afastar-se. Ou seja, ao AO90, para ser bom, só lhe faltam as qualidades…
Nunca me imaginei um eugenista da língua com aspirações a higienismo militante. Leio, não raramente deliciado, Clarice Lispector, Luandino Vieira (angolano, que deveis saber português nascido de cá), Rui Knopfli, José Craveirinha, Corsino Fortes, Vasco Cabral, Alda do Espírito Santo, Fernando Sylvan. O que estranho, então, na posição de Isabela Figueiredo é a sua ambivalência em ser permissiva (ao ponto de ambicionar “estragar” a língua como quem estafa o sofá) e, logo depois, intransigente, quando se trata de deixar cada vertente do Português trilhar o seu caminho sem a rédea curta de um “acordo” ortográfico. Mas tudo isto vinha apenas a propósito de palavras.
E as minhas palavras, claro, dirigem-se àqueles que forem capazes de as entender. Ou quiserem, de facto, entendê-las.
António Jacinto Pascoal
(*) António Jacinto Pascoal (n. 1967, Coimbra) estreou-se em 1991, com Pátria ou Amor (Prémio da Associação Académica de Coimbra). Ensaísta, contista, poeta e fotógrafo. Editou nove livros de poesia, entre os quais As Palavras da Tribo (2005), Cello Concerto (2006) e Mover-se o Fogo (2018). Em 2018, publicou a colectânea de ficção narrativa Os Joelhos do Meu Pai e Outros Contos. No mesmo ano, editou o seu primeiro álbum fotográfico, Banda Euterpe: a Visão do Som e em 2019 co-realizou, com Inês Galocha Pascoal, o documentário Alunos. Em 2024, foi agraciado com menção pela associação polaca Arendi, em torno da poética de Herbert, e com a edição de dois contos, no prémio Luís Vilaça. Traduziu poemas de Violeta Parra e Ingibjörg Haraldsdóttir, além de uma peça para teatro de Gabriel García Márquez. Poemas seus estão traduzidos e editados em Inglês e Finlandês. É colaborador no jornal Público desde 2009, nas revistas Colóquio/Letras, Eufeme Magazine e Devir e, durante mais de uma década, encenou peças de teatro em escolas básicas e secundárias, entre as quais A Casa de Bernarda Alba de Federico García Lorca, Um Eléctrico Chamado Desejo de Tennessee Williams, John Gabriel Borkman de Henrik Ibsen e O Punho de Bernardo Santareno.
Portugal inteiro já ouviu falar ou de ter lido sobre a existência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que se mantém e se deseja saudável, pois à excepção da Guiné Equatorial – país non grato, porque mantém o não respeito pelos Direitos Humanos e porque mantém a pena de morte – são países, também à excepção da Guiné Equatorial, que antes de Abril de 1974, viviam sob administração portuguesa, e agora independentes.
Esta Comunidade, a CPLP, começou como razão e força da sua criação, o desenvolvimento mútuo, a partilha da Língua Portuguesa, da Cultura e o grande interesse pela afirmação da democracia. Como é evidente e normal, através desse caminhar, entre outros, tem-se avançado em interesses económicos, sociais, culturais e até já se pensa que a CPLP tem como estratégia futura a livre circulação de pessoas e bens entre si, o que é qualquer coisa de grandioso!
Sendo que, a partilha da Língua e Cultura, são, têm sido, o forte destas comunidades que falam Português, o enciclopedista brasileiro-libanês, Antônio Houaiss, engendrou o chamado Acordo Ortográfico há mais de 30 anos, que nem Angola nem Moçambique aderiram a tal acordo até aos dias de hoje. O Acordo Ortográfico (AO) deve dizer-se – nunca foi bem aceite por todos os países que falam Português e o Brasil só em 01 de Janeiro de 2016 (creio), pôs o AO em uso (assim disseram), contra a vontade dos brasileiros, sobretudo da intelectualidade do grande Brasil.
É de salientar que, em devido tempo, Vasco Graça Moura, grande escritor e político no activo, de então, condenou acerrimamente o Acordo Ortográfico/1990, classificando-o como “uma espécie de supermercado de palavras sem qualquer base ou razão que o justificasse”.
Apesar de várias alterações que o AO foi sofrendo desde 1990, não foi subscrito por todos os países como pressuposto é, e nem a Lei de 1945 que aprovou a Língua Portuguesa com bases científicas foi revogada. Logo, este AO usado à revelia por uns e ostracizado por outros – porque não tem como base verdade e realidade – confunde o povo, desprotege-o e prejudica-o, porque não está em vigor em todos os Estados signatários.
Os brasileiros sempre se firmaram no seu “brasileirês” e marimbam-se para o rigor do Português, excepto, claro está, a sua (deles) intelectualidade que defende e usa a Língua Portuguesa, na sua versão simplificada pelo Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943.
Para os brasileiros o “facto” (acontecimento) será sempre o “fato”, porque ao nosso “fato” (calça e casaco) eles chamam-lhe “terno”, que para nós é ternura ou carta de jogar, entre outras. Claro que podiam ser citadas centenas e centenas de palavras que foram alteradas nesse semimorto AO que anarquiza os órgãos da Comunicação Social, Estabelecimentos de Ensino e faz dele o tal “supermercado” de palavras”.
Como atrás se afirma, os brasileiros cultos, como Escritores, Músicos, Críticos literários, Colunistas, etc. criticam o AO e recusam-se a usá-lo. Walnice Nogueira Galvão, escritora e crítica literária é peremptória:
«Quando sai uma reforma dessas, jogam-se no lixo todos os livros didácticos, para fabricar e vender tudo de novo. É uma reforma supérflua e inútil, provavelmente interesseira. Nunca vi ninguém fazer isso com o Inglês, por exemplo, que é cheio de consoantes e vogais que ninguém pronuncia e nem por isso é preciso fazer reformas ortográficas periódicas.»
Hélio Schwartsman, filósofo e colunista deu um grande berro, porque é muito lido e ouvido no seu Brasil ao afirmar:
«Línguas são como organismos vivos: nascem, crescem e morrem. Fazem-no independentemente de leis e decretos. E, até onde me lembro, jamais deleguei a nenhum parlamentar ou governante poderes para regular o meu quinhão do contracto social linguístico que vigora entre falantes de um idioma. Se dependesse de mim, o acordo ortográfico seria denunciado e todos poderíamos seguir escrevendo sem a interferência de burocratas de pouco tino».
Pessoalmente entendo que esta reforma ortográfica não enriquece nem favorece absolutamente nada a Língua Portuguesa e, como a escritora referida escreveu, alguém tem enriquecido com ela. Serei enquanto for possível, radicalmente contra estas regras “gramatiqueiras” de rabiscadores que querem que o facto passe a calça e casaco.
Artur Soares – Escritor – Braga, Portugal)
(Março de 2016)
(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990).
«A aplicação do Acordo Ortográfico não levará apenas ao caos no ensino nos oito países. Levará a que a língua portuguesa se cubra de ridículo no plano internacional. […] Mesmo sem se abordar a questão dos interesses políticos, económicos ou geoestratégicos em jogo, qualquer leigo verifica que o acordo não traz qualquer solução inteligente. Não traz qualquer utilidade ou mais-valia. Enferma de muitos vícios e, a entrar em vigor, será altamente pernicioso nos mais variados planos.»
Vasco Graça Moura, Escritor
«Custa ver Angola mais sensata do que Portugal num caso como o Acordo Ortográfico. Muito pouca gente quis este acordo. Na verdade, quem quis este acordo foram duas classes profissionais portuguesas que agiram por interesse próprio: a classe dos editores, que maravilha ter que [sic] substituir os dicionários e os livros escolares todos, e meia dúzia de académicos que tiveram aquele sonho clássico do intelectual, que é legislar.»
Pedro Mexia, Escritor e Crítico Literário
«Por vezes, parece que entramos em contradição. Há o caso do recente Acordo Ortográfico: enquanto criador angolano que aprendeu português em Portugal, custa-me um pouco entender porque estive tanto tempo a aprender algo que agora se altera com o que me parece ser uma única preocupação, de negócio. Claro que a ideia de lusofonia é importante para mim, mas não me revejo em tudo o que se faz em nome dessa ideia.»
Paulo Flores, Músico angolano
Fazendo uma breve incursão por alguns órgãos da Comunicação Social, como é habitual, deparamos com o arsenal do costume. Assim, vejamos:
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume, continua a morar a ortografia do costume, aquela que ninguém pediu. Será que pode ser alvo de uma acção de despejo? Repare ainda neste último excerto onde nos surge a palavra aspecto, que mantém esta grafia no Brasil, enquanto em Portugal, com o AO90, se escreve, agora, aspeto. Ainda se lembra de ouvir dizer que o AO90 vinha unificar as diferentes variantes do Português? Aqui, unificou tanto que ficou diferente o que era igual. Ele há coisas!
Ah, a RTP vai continuando a ter umas louváveis recaídas, acertando quando erra.
Ah, a febre de amputar consoantes vai-se estendendo. Por serem menos fervorosos, serão meros adetos?
Ah, Vasco Graça Moura, dez anos após a sua morte, continua carregado de razão.
Ah, a omnipresença dos contatos continua, continua…
João Esperança Barroca
No passado dia 29 de Novembro de 2024, Ana Cristina Leonardo publicou no Jornal Público uma crónica intitulada Outras guerras: a vitória dos “espetadores” que me deixou perplexa, logo no parágrafo em destaque no topo do texto: «Embora me custe, devo reconhecer que a batalha do Acordo Ortográfico foi perdida, um “espetáculo” triste onde venceram os “espetadores”.»
A Ana Cristina Leonardo é uma excelente prosadora. E o artigo está bastante bom, sob o ponto de vista literário.
Porém, Ana Cristina Leonardo aceita, publicamente, que a batalha contra o AO90 está perdida, e isso são violinos para os ouvidos dos acordistas, que não sabem, mas ainda não triunfaram, porque os trunfos maiores estão do lado dos desacordistas.
Não devemos, jamais, dar-nos por vencidos, neste combate entre o Saber e o Não-Saber, o qual ainda não terminou. Baixar as armas (leia-se as palavras) é admitir que não temos capacidade de vencer a mediocridade, ou seja, é admitir que o não-saber tem mais força do que o Saber.
Quem é que venceu o quê? Os espetadores (isp’tâdôr’s)? E quem são esses isp’tâdôr’s? Serão aqueles que andam por aí feitos analfabetos a falar e a escrever mal a Língua que desconhecem, sem ter a mínima noção da figura de urso que andam a fazer?
É dever dos que pugnam pelo Saber, contrariar essa ideia de derrota, e lutar pela vitória, porque apenas a vitória interessa a Portugal, e seja o que for que a cronista pensa que os espetadores venceram, é apenas uma miragem, no deserto cultural por onde os acordistas vagueiam...
Do que li, quanto ao Vómito, foi uma cacetadinha ao de leve.
Penso que anda por aí muita gente com medo de dizer o que realmente pensa acerca dos novilinguistas, que dizem e escrevem o que bem lhes dá na real gana, e vão espalhando a nova doutrina retrógrada, sob o olhar indiferente dos adeptos do que não presta, ou seja, dos não-pensantes.
Pelo que vemos, os decisores políticos estão-se nas tintas para o que os desacordistas pensam, dizem ou criticam. A força desses decisores políticos está precisamente na fraqueza e no medo dos que se dizem desacordistas, mas não são capazes de dizer as verdades em voz alta, por cobardia, por medo, ou outra qualquer coisa menos nobre.
O texto da Ana Cristina Leonardo entristeceu-me.
Isabel A. Ferreira
***
Do texto de Ana Cristina Leonardo, publicado no Público, destaco dois comentários, que me chamaram a atenção:
Para tal:
Alea jacta est.
Esta é uma célebre locução latina que significa «os dados estão lançados» ou “a sorte está lançada", atribuída por Suetónio a Júlio César, quando este se preparava para atravessar o rio Rubicão, contrariando as ordens do Senado.
Esta frase aplica-se quando se toma uma decisão enérgica e grave, geralmente irreversível, depois de se ter hesitado muito.
Mas há ocasiões na vida em que os grandes guerreiros têm de tomar decisões assim: enérgicas, graves, irreversíveis, para que as coisas possam avançar.
É este o nosso caso.
Ontem, e depois de muita ponderação, o Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes decidiu enviar à Provedoria de Justiça uma Queixa/Exposição acerca da inconstitucionalidade e ilegalidade do acordo ortográfico de 1990 (AO90) e da RCM N.º 8/2011, sob a total indiferença do Presidente da República e dos Poderes Executivo, Legislativo e Judicial
Imagem: Internet
Agora, é esperar que a Lei se sobreponha à arbitrariedade dos decisores políticos.
A Professora Maria José Abranches uma grande defensora da Língua Portuguesa, recorda, e muito bem, que «hoje celebramos o 1º. de Dezembro de 1640, Dia da Restauração da Independência de Portugal. Sejamos dignos da nossa História e restauremos também a independência da NOSSA Língua!»
Obviamente que as celebrações oficiais do “1º de Dezembro” pecam por uma gigantesca HIPOCRISIA, pois os políticos portugueses celebram o dia em que Portugal se libertou da Dinastia Filipina, que durou 60 anos, mas mantêm-se subjugados aos milhões, que eles consideram donos da Língua, que, no entanto, é de Portugal, estando dependentes de um país estrangeiro, fazendo perigar a nossa identidade e independência linguística.
Não há coerência alguma nesta celebração da independência de Portugal, quando Portugal está dependente, linguisticamente, de um país estrangeiro.
É preciso que todos tenham conhecimento desta vergonha, algo nunca visto, em tempo algum, em país nenhum do Mundo e arredores.
Um cidadão português, perante esta vergonha desabafou: «Sou completamente contra o AO90, não só pela sua inconstitucionalidade, como também pelas autênticas aberrações linguísticas que contém».
É que nem todos, em Portugal, são seres rastejantes.
Perguntaram-me, a propósito do despropósito dos decisores políticos portugueses terem substituído a escorreita grafia portuguesa, por uma grafia truncada:
– Como foi isto possível?
Foi possível, porque para os nossos decisores políticos, que falam e escrevem tão defeituosamente, a língua é para ser comida, estufada com ervilhas. Não conhecem outra.
Porém:
«Enquanto há Língua, há Esperança»
conforme o vaticinou Vasco Graça Moura, grande defensor da nossa Língua, contra a imposição do, a todos os títulos, indefensável AO90, de acordo com Maria José Abranches.
A Esperança existe e persiste, sim, porque desde que o Mundo é Mundo a estupidez, que é filha da ignorância, e a mediocridade, que é a coisa daninha que germina ao redor da estupidez e da ignorância, nunca criaram raízes nas sociedades humanas civilizadas.
Pelo que me toca, tenho esperança de que a sociedade portuguesa possa vir a evoluir e a civilizar-se, abandonando atitudes retrógradas, como as que tomou em relação ao AO90, que põem Portugal na cauda da Europa em quase tudo.
Embora Portugal tenha um território pequeno -- «tudo vale a pena se a alma não é pequena» (Fernando Pessoa) -- Portugal tem uma alma grande nos defensores da sua História, da sua Cultura, da sua Língua, por isso, continuaremos a defender a independência da NOSSA Língua, até que ela seja restaurada, tal como foi restaurada a independência de Portugal, neste 1º de Dezembro, no já longínquo ano de 1640, se bem que, as gentes de antanho eram arrojadas e não se deixavam tomar por lorpas, como as de hoje.
Isabel A. Ferreira
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