O texto intitula-se «O nascimento do Brasil», publicado no jornal PÚBLICO Brasil, por Pierre Aderne, e que aqui transcrevo, seguindo as devidas regras dos Direitos de Autor.
Isabel A. Ferreira
26 de Fevereiro de 2025
Os “Zés” brasileiros que constroem o país e lutam pelo direito de existir. A população negra representa 57% dos cidadãos do Brasil.
Seu Zé era um menino pardo brasileiro, nascido em Cajazeiras, sertão paraíbano. Em 1959, deixou sua terra rumo ao Planalto Central quando tinha apenas 17 anos. Ouviu dizer que um "pau de arara" — caminhão com caçamba onde viajavam retirantes nordestinos — estava chegando para recrutar trabalhadores para a construção da nova capital do Brasil. Como era menor de idade, não podia se cadastrar para o trabalho, entretanto, resolveu que deixaria o sertão escondido naquele caminhão.
Pegou uma sacola plástica, na qual a mãe guardava as certidões de nascimento dele e dos irmãos. E, como era o caçula da família e analfabeto, procurou pela certidão que tivesse o papel mais bem conversado, que seria a sua. Vestido com um par de roupas, um par de sandálias de couro e os documentos no bolso, esperou o caminhão dar a partida para entrar clandestinamente na carroceria.
Bebeu apenas água durante cinco dias, oferecida pelos outros trabalhadores da travessia, pois não podia comer nas pensões do meio da estrada para não ser descoberto pelo motorista. Nas noites, dormia algumas horas nas paradas à beira da estrada, entre os pneus do caminhão, aproveitando a borracha ainda quente da rodagem. Já fraco e com muita fome, confidenciou ao recrutador que ali estava. Oito dias mais tarde, chegava ao barro vermelho do Cerrado, no centro do mapa do Brasil, para ajudar a construir Brasília.
Trabalhava 20 horas por dia numa oficina de carpintaria. Juntou dinheiro durante três anos, comprando o básico: roupas, sapatos, cobertas e mandando parte do salário para sua mãe, na Paraíba. Mudou-se, então, para um vilarejo no interior de Goiás, onde ainda vive, aos 82 anos, casado com a artesã Dona Nega.
Outros “Zés” brancos, pretos, pardos e índios ainda vivem nos arredores da capital. Candangos e seus descendentes que moram no entorno de Brasília, nas cidades satélites.
Ao conversar esta semana com a atriz e antropóloga Iara Pietricovski a respeito das chamadas pautas identitárias, “que não são identitárias", concordamos que, de fato, talvez tudo se traduza em lutas pelo reconhecimento, pelos direitos de existir, de serem aceitas como partes desta sociedade.
A população negra, que inclui pretos e pardos — pessoas que têm uma mistura de raças, principalmente, branca e negra, ou branca e indígena —, representa cerca de 57% dos cidadãos brasileiros.
Como diria o saudoso poeta brasiliense Tetê Catalão, os assuntos polêmicos são sempre mais bem resolvidos por meio da poesia. Termino, então, com este poema enviado hoje por mim para ser musicado pelo meu amado orixá Moacyr Luz.
«Eu já fui ticuna, cainguangue, macuxi
Já fui terena, Pataxó e Guarani
Minha língua era nagô e iorubá,
Kimbundu, Kikongo, Tupi
Baniwa, Baré, Zulu, Conguês
Depois, virei compositor
de um novo português
Desde que nasci, bato tambor
Quem chegou pintou minha pele de cal
por cima do ébano e do urucum
O baiano acha que eu vim de Portugal
O inglês pensa que eu nasci lá na Guiné
Meu idioma é a língua geral
no pé do pau Brasil onde plantei o meu axé
Sou diferente como foi Joãozinho Trinta
com capoeira não se brinca
Desde 21 de abril de 1500
só de samba já compus mais de 200
Nasci junto com o Brasil
e sou de lá em qualquer chão
Não tenho pai, não tenho mãe
Aprendi no berço quem posso chamar de irmão
Qual é sua graça?
Satisfação»
***
Comentários ao texto:
in: https://www.publico.pt/2025/02/26/publico-brasil/opiniao/nascimento-brasil-2123919
«… a aplicação do Acordo deixou a língua portuguesa em cacos. (E as coisas não melhoram por uma razão simples: o instrumento carece de fundamentação técnica.)»
Manuel Monteiro, autor, revisor e jornalista, in Por Amor à Língua e à Literatura, página 205
«O acordismo defende sistematicamente o Acordo sem conseguir uma coisa singela: apresentar motivos de defesa do que o Acordo introduz (ou mutila) na nossa língua. Há sempre desvios, tergiversação, evasivas, subterfúgios, tiros para todo o lado, mas nunca nada que tenha que ver com a redacção desse texto. Quem já leu e ouviu quilómetros de discussão em torno do assunto conhece muito bem o padrão:»
Manuel Monteiro, autor, revisor e jornalista, ibidem, página 207
«Os argumentos em favor da adopção do “novo acordo” só têm legitimidade se consubstanciarem respostas à pergunta: quais as vantagens do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO90) perante o anterior? Tudo o que não diga respeito à comparação entre os dois instrumentos é, por conseguinte, usando uma expressão popular do Brasil, conversa para boi dormir. Chavões como “uniformização”, “a língua evolui”, “simplificação” nada dizem e, se o dizem, mentem, porque não houve uniformização, porque a língua não caminhava para tais mudanças e porque a existência de regras lábeis não simplifica nada. O insulto também não conta: esta não é uma luta entre reaccionários e progressistas — é uma luta entre a estupidez e a inteligência. É inútil homogeneizar os seus críticos: trata-se de um grupo vasto e vário, porquanto abrange diferentes faixas etárias, diferentes ideologias políticas e filiações partidárias, diferentes classes sociais, diferentes países.»
Manuel Monteiro, autor, revisor e jornalista, ibidem, página 208
Após as citações em epígrafe, retiradas da excelente obra Por Amor à Língua e à Literatura, publicada pela editora Objectiva, vamos apresentar alguns exemplos da língua que vai circulando por aí, à boleia de alguns órgãos de comunicação social:
1 - «Estava a assistir ao jogo e pela experiência disse logo que devia tratar-se de cruzado anterior. Segue-se um processo cirúrgico complexo, uma rotura do cruzado anterior é sempre complexo (sic). Foram dois lances sozinhos, em que prenderam o pé na relva, normalmente a lesão do cruzado anterior surge num movimento de torção, sem contato, portanto, aquilo que lhes aconteceu acaba por ser normal neste tipo de situação, começou por dizer.»
A Bola, 09-02-2025.
Sem tacto, não é, caro leitor? Esta é uma das aberrações que veio para ficar. Pelo andar da carruagem, parece pouco provável que nos livremos dela
2 - «Em termos afetivos? É normal conhecer mais pessoas. Na estrada, está-se em contato com muita gente. Pessoas simpáticas, giras…não há que ser hipócrita. O segredo é não cair no deslumbramento. Vão aparecer pessoas novas todos os dias mas há muito tempo que a minha vida é assim. Na banda da adolescência, já tínhamos groupies (sic). Numa escala menor, já passei por isso. Não é por conhecer mais pessoas que me apaixono todos os dias. Quando estás bem em casa, não te deixas levar facilmente.»
Nascer do Sol, 21-04-2017.
Além do omnipresente contato, os termos afetivos fazem-nos pensar em aftas, não é?
3 - «Fernando Hierro foi apresentado na tarde desta quarta-feira como selecionador de Espanha, depois da saída abruta de Julen Lopetegui, que ontem tinha sido oficializado como treinador do Real Madrid para a próxima temporada. Uma tarefa ingrata, dado que a Roja irá estrear-se no Mundial daqui a dois dias frente a Portugal.»
Nascer do Sol, 13-06-2018.
Tendo em conta que o étimo latino é selectiōne, não se percebe o desaparecimento da consoante. Aqui para nós, um selecionador é muito menos competente que um seleccionador. Quanto ao termo abruta, é o exemplo inequívoco da febre de mutilar a língua, cortando consoantes a eito.
4 - «Irritada com a conduta de Julen Lopetegui, que assinou pelo Real Madrid à sua revelia, a Federação espanhola demitiu o ex-treinador do FC Porto e nomeou Fernando Hierro como seu substituto. Para as casas de apostas, serão os comandados de Fernando Santos os maiores beneficiados por esta decisão abruta.»
Nascer do Sol, 13-06-2018
Só pode ser de quem trata a língua à bruta! De quem deixa a língua em cacos!
Ah, a imagem que acompanha este escrito foi gentilmente cedida, já há vários anos, por Pedro Carlos, a quem agradecemos.
João Esperança Barroca
Não quis acreditar no que João Barros da Costa escreveu no seu comentário a este meu texto vaticinador:
comentários:
De João Barros da Costa a 21 de Fevereiro de 2025 às 10:53
O Primeiro-Ministro Luís Montenegro e o Presidente brasileiro Lula da Silva acordaram a contratação de docentes brasileiros de PORTUGUÊS para darem aulas no Ensino Básico (1º Ano de Escolaridade ao 4º Ano de Escolaridade)...
As crianças portuguesas vão passar a ter uma influência directa da língua brasileira nas escolas.
A alteração da grafia portuguesa do PORTUGUÊS primeiro.
A alteração da fala do PORTUGUÊS depois.
Aparentemente, a intenção dessas pessoas é a uniformização do PORTUGUÊS. A língua brasileira passará a ser a língua oficial de PORTUGAL.
Desde 25 de Abril de 1974 que o patriotismo é atacado.
Desde 25 de Abril de 1974 que o nacionalismo é atacado.
Fazem falta associações (legalmente constituídas) cujos fins
sejam defender PORTUGAL e os PORTUGUESES.
Nasci em Lisboa em 1961.
Vivi doze anos durante o "ESTADO NOVO".
Vivo há mais de cinquenta anos numa pseudo democracia.
As revoluções são cíclicas...
Cumprimentos.
João Barros da Costa
JOAO.BARROS.DA.COSTA@SAPO.PT
Isto a ser verdade é gravíssimo.
Andei a pesquisar e encontrei a confirmação no Observatório da Língua Portuguesa:
Portugal tem todo o interesse em recrutar professores brasileiros
Eis os argumentos para que Portugal ande de cócoras em relação ao Brasil:
Brasília 19 de Fevereiro de 2025:
«O primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou hoje que Portugal tem todo o interesse em recrutar professores brasileiros, referindo-se em particular ao ensino básico, e que o Governo está a tentar agilizar o reconhecimento de habitações em geral.
Luís Montenegro falava em conferência de imprensa conjunta com o Presidente Lula da Silva, no fim da 14.ª Cimeira Luso-Brasileira, no Palácio do Planalto, em Brasília, durante a qual foi questionado sobre os problemas que os imigrantes, em especial professores, enfrentam para conseguir exercer a sua profissão em Portugal.»
Requisito principal: os professores brasileiros devem aprender a Língua de Portugal, para exercerem a profissão, porém, apenas professores PORTUGUESES, dos quatro costados, devem leccionar o Português. É isto que se faz em qualquer parte do mundo.
Aqui não se diz que para que os professores brasileiros exerçam a sua profissão em Portugal primeiro DEVERIAM aprender PORTUGUÊS.
NÃO! Aqui insinua-se que irão ensinar brasileiro às nossas crianças, num desvio total do que DEVE ser feito. Do correCto.
Os professores portugueses, no Brasil, irão ensinar a Língua de PORTUGAL aos Brasileiros para poderem exercer a sua profissão, naquele país?
Os professores brasileiros, radicados em Londres, terão as mesmas regalias? Ensinarão brasileiro aos Ingleses, para poderem exercer a sua profissão em Inglaterra?
O que se passa em Portugal é gravíssimo.GRAVÍSSIMO!
Teremos de aceitar esta afronta?
É isto que os PAIS portugueses querem para os seus filhos?
Terminei o meu texto acima referido com este pressentimento: esperamos que esta visita dos representantes de Portugal ao Brasil não nos deixe envergonhados, perante o Mundo.
Pois, vergonha é o que sinto pelo que está a acontecer: os decisores políticos portugueses ENVERGONHAM Portugal com as suas políticas subservientes. A que estadoservilchegou Portugal!
Vamos ficar a assistir a este GENOCÍDIO LINGUÍSTICO sem fazer nada?
Isabel A. Ferreira
Marcelo Rebelo de Sousa está no Brasil com uma delegação de 11 ministros, à qual se juntará Luís Montenegro, para reforçar a cooperação entre os dois países, em áreas como a Cultura e a Educação, mas não só, como se isso fosse possível, tal o fosso cultural e educacional que existe entre Brasil e Portugal. Sei do que estou a falar.
E das duas uma: ou o Brasil cede à Cultura e Educação portuguesas, ou Portugal cede à Cultura e Educação brasileiras, sendo que pelo que temos visto do que está a passar-se relativamente à destruição da Língua de Portugal em favor da Variante Brasileira do Português, à qual indevidamente os brasileiros chamam Português e assinalam-na com a bandeira brasileira, retirando da Internet a Língua de Portugal, estamos mesmo a ver para que lado o tal reforço de cooperação irá prevalecer.
Há a expectativa de que sejam assinados acordos de cooperação nas áreas já referidas, mas também na saúde, economia, ciência, tecnologia, defesa, segurança, justiça, ambiente e comércio, durante a 14ª Cimeira Brasil-Portugal, que ocorrerá amanhã, dia 19 de Fevereiro.
Daqui poderíamos esperar que o bom senso prevalecesse e que os dois países cooperassem um com o outro SEM subserviência da parte portuguesa e SEM imposições colonialistas da parte brasileira, como até agora tem acontecido.
Podíamos esperar que não tendo dado certo a tentativa de acabar com a Língua de Portugal e implantar a Variante Brasileira do Português, sendo tal atitude contrária às boas relações que se querem entre dois países que são pai (Portugal) e filho (Brasil) que já tiveram uma história comum, interrompida pelo Grito do Ipiranga. É que a partir do momento em que o filho sai de casa devia seguir a sua vida independentemente do pai, não esquecendo, porém, o RESPEITO a ele devido.
E o que está a passar-se, o que vemos, ouvimos e lemos por aí, é um desrespeito dos mais profundos do filho em relação ao pai, como se não fosse a existência do pai, o filho jamais existiria, e este último só não é maior do que já é, se não estivesse agarrado às calças do pai.
Foto: António Cotrim - Lusa
A enviada especial da Antena 1 ao Brasil, Inês Ameixa, registou as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que classificou de especial e diferente a ligação entre os dois países, apesar de erros cometidos no passado.
Apesar de erros cometidos no passado????
Que erros? Não saberá o chefe de Estado de Portugal que o que se passou no passado nada tem a ver com erros, mas com hábitos e valores dessa época dos quais os Portugueses hodiernos não têm culpa alguma, para estarem a baixar as orelhas àquele que pretende ser o dono disto tudo, alegando esses erros para se impor e exigir reparos, que muito servilmente os políticos portugueses estão dispostos a pagar, envergonhadamente, sem um pingo de dignidade? Não podemos julgar a História pelos valores dos tempos contemporâneos. Devemos, isso sim, é aprender com o que de mau e mal se fez, nesse passado, para não ser repetido.
Isto é a prova da submissão dos liliputianos, que já foram grandes, mas amesquinharam-se, estando agora avassalados ao Grande Olho que os espreita e intimida.
Esperamos que esta visita dos representantes de Portugal ao Brasil não nos deixe envergonhados, perante o Mundo.
Isabel A. Ferreira
Fonte da notícia aqui, onde pode ouvir-se um excerto curto do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa.
O livro foi apresentado na 5ª edição do Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, no dia 16 de Fevereiro de 2006.
Foram muitas as pessoas que assistiram à apresentação do livro, com a presença da escritora.
No encerramento da Feira do Livro, onde o livro dedicado a Luísa estava à venda, informaram-me de ele tinha sido o best-seller desta 5ª edição. Fiquei feliz. Por ela. Por mim.
Todos os que, como eu, não têm padrinhos poderosos no mundo editorial, têm muita dificuldade em publicar o que quer que seja, ainda que digam, talvez hipocritamente, que «a sua obra tem muita qualidade, mas..», os motivos para a não-publicação da obra com qualidade, revestem-se de mentiras piedosas, que não convencem ninguém. A questão é: não há padrinhos, não há publicação.
Dos mil livros editados, na 1ª edição, ainda tenho vários exemplares. Portugal nunca foi um País de albergar muitos leitores. Ramiro Teixeira, crítico literário, disse-me que o meu livro sobre Luísa acompanharia o sucesso da obra da escritora ao longo dos tempos.
Luísa morreu em 15 de Fevereiro de 2015, fez ontem 10 anos, e nestes 10 anos nunca mais se ouviu falar de Luísa Dacosta.
Soube que a escritora ia ser homenageada na 26ª edição do Correntes d’Escritas, que está a decorrer na Póvoa de Varzim. Até que enfim!
Celebro hoje aquela que soube honrar e enriquecer a Língua Portuguesa, deixando aqui o Preâmbulo de «Luísa Dacosta – “no sonho, aliberdade”...», com a esperança de que quem segue o Correntes d’Escritas possa interessar-se pela obra desta que é um dos nomes maiores da criação literária portuguesa contemporânea.
PREÂMBULO
Luísa Dacosta nasceu em Vila Real de Trás-os-Montes, em 16 de Fevereiro de 1927, provavelmente num daqueles dias surpreendentes de Inverno que a fadou com o desassossego que distingue os seres marginais.
Depois de uma infância e de uma adolescência vividas em liberdade, rodeada de mimo, mas também de vivências que foram determinantes na construção da sua personalidade e que viriam, mais tarde, a ser perpetuadas na sua obra manifestamente autobiográfica, a jovem da província abalou para a capital, onde novas emoções, novas realidades, novos rumos, novas circunstâncias, dariam um novo sentido à sua existência. E quando, em 1944, iniciou a licenciatura em Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a jovem Luísa trazia já em si a força e a coragem que caracterizam a mulher transmontana, facto que, aliado a uma genuína e saudável rebeldia, dela fez um ser indomável, como os seres selvagens que habitam as alturas, daí a sua visão do mundo conter a dimensão dos grandes horizontes. Ao mesmo tempo, possui uma natureza frágil e dócil que, por vezes, permite enredá-la em redes tecidas por mãos misteriosas, ocultas entre a folhagem de bosques, por onde vagueia um tempo sem tempo. O tempo daquela que escreve.
Ora um tal ânimo não poderia ser desperdiçado numa vida feita de lugares-comuns, de banalidades, de insignificâncias. Autora de uma obra poderosa, assente em mitos que a habitaram, como o de Tristão e Isolda, Narciso, Ceres, Penélope, e nas suas próprias vivências, acrescida de inegável qualidade literária, registo fragmentário de instantes efémeros que marcam uma existência, com Luísa a realidade mais simples transforma-se num momento raro, feito de palavras que flutuam e dançam ao som de ventos que não sopram, vestem-se de roupagem nova, libertando-se, desse modo, da sua forma banal, transformando-se elas próprias, as palavras, em seres únicos, etéreos, eternos e encantatórios.
Com Luísa, a poesia brota de todas as coisas: «Pela janela vem ainda um vago perfume a rosas, mas sem aquela onda sufocante de seiva, de vida, que outrora abafava com seu peso a minha infância, dolorosa, de penetrar o segredo das coisas.» (in Na Água do Tempo – Diário, Quimera).
Com Luísa, os enredos são mágicos: «Penélope incansável, a madrugada destece a urdidura dos filtros da noite, apaga a magia das sombras, esfria as estrelas. Mas não cala o apelo mítico, que sobe dos abismos e se desgarra. Como um lamento de ave, ecoa. Paira sobre as águas. Chega até mim.» (in Morrer a Ocidente – Crónicas, Figueirinhas).
Com Luísa os sons humanizam-se: «Soltou-se, dos abismos, o búzio do vento. Que dor se esfarrapa e franja de encontro aos penedos? Que voz, dolorida, endoidada, cavalgando ondas e crinas de espuma, espraia desesperos e uiva pelas margens da noite? – Meu amor! Meu amor!» (in A-Ver-o-Mar – Crónicas, Figueirinhas).
Com Luísa, o sofrimento é sublimado: «Sombrios, como as raízes da noite, eram os seus cabelos. E os olhos, pesados de amargura, tinham o brilho, incansável, das estrelas. À janela da vida, esperava o amor, o único – sobre o qual o tempo não tem poder.» (in Corpo Recusado, Figueirinhas).
Algumas das principais obras de Luísa Dacosta foram escritas no seu moinho de A-Ver-o-Mar, um presente de amor e depois concha de solidão, onde, qual ave de arribação, «só ia de ano a ano» … E, naquele lugar, onde o silêncio e o mar se enlaçam e as gaivotas adormecem a cada entardecer, o moinho, de paredes brancas, foi berço de uma prosa poética, invulgar, porque imbuída dos segredos das águas e dos sons marinhos, e das toadas da terra, quase imperceptíveis, que as noites vazias tornaram reais. Quem lê A-Ver-o-Mar – Crónicas, não esquece a beleza com que as cenas mais banais do quotidiano das gentes locais são descritas: «A tarde feria-se de sombras, toldava-se dos fumos da ceia. Era chegada a hora em que tudo dói, magoa, sangra, quer seja uma ausência, uma luz, uma pedra.»
Além das obras referidas e ainda outras (que incluem o conto, o ensaio, a crítica) escritas para adultos, obras autobiográficas, que encerram o seu peculiar universo, nas quais, como se disse, os enredos são mágicos, os sons humanizados, o sofrimento sublimado, e as palavras, que dizem da recusa, da solidão, do sofrimento, da angústia, são colhidas como quem colhe flores em jardins secretos, habitados por ninfas, a autora, porque dedicou parte da sua vida ao ensino preparatório, escreveu também vários livros para crianças, e, desse modo, ficou do lado do sonho.
Antes de conhecer a Luísa Dacosta/Mulher, conheci a Luísa Dacosta/Menina, através dos livros que escreveu para os mais pequeninos, e tal como acontece às crianças, também me deixei seduzir com as histórias próprias da infância, onde, todavia, a realidade nunca está ausente. Mais tarde, descobri, nas crónicas de A-Ver-o-Mar, aquele apelo à inocência das mulheres da beira-mar, sofridas, as quais vivem vidas sem sonhos, (como poderá viver-se sem sonhos?...) e cujo destino se enrola nas águas do grande oceano, que lhes dá o sustento, mas também a morte dos seus homens. Foi a partir de então que comecei a render-me à força da narrativa de Luísa, límpida e ausente de lugares-comuns, e parti para a descoberta daquela que escreve como quem faz renda, arrancando da palavra/bilro novas sonâncias encantatórias, que em nós ficam ecoando como vozes longínquas. Escrita/pintura feita de palavras de água púrpura, rósea, anil, violeta que transforma os textos em recriadas aguarelas, e molda paisagens, seres, emoções, sentimentos…
Seguiu-se Morrer a Ocidente, onde a ficção se confunde com a realidade, continuando no domínio das crónicas com sabor a sal. E tal como aquele soldado que, longe da pátria, e a propósito do texto Na Respiração do Tempo, publicado n’ A Vida Mundial escreveu à autora: «... senti o apelo da água... é um renovar tão profundo beber a maresia, a que aqui, a 2000 km do mar, senti nítido o cheiro iodado da Apúlia, pela mão das suas palavras... ler quem tão bem entende o mar, é um murmúrio de livres águas, bem consolador neste quotidiano difícil... Reli há dias... é uma das coisas mais belas, mais íntimas e mais verdadeiras (porque me toca por dentro) que tenho sentido», também eu descobri naqueles textos pedacinhos do meu mundo feito de breves momentos felizes, onde o mar ocupa um lugar relevante (foi à beira-mar que nasci e passei parte da minha existência) e o seu cheiro a algas, as suas gaivotas, as suas águas cantando segredos, ali, naquelas palavras debruadas com os sonhos de Luísa.
Mas foi O Planeta Desconhecido e Romance Daquela que Fui Antes de Mim que mais me impressionou, enquanto leitora. Trata-se de uma obra trespassada de mágoa e de melancolia, se bem que ateada de palavras escritas com saber, que nos lançam no sublime enfeitado de caos, e dão-nos, nua e cruamente, a dimensão da realidade que somos e, sobretudo, para onde vamos, cativos de um tempo que nos desfigura o corpo e nos arrasta até à outra margem da vida. Um livro belo que celebra as emoções, mas também a palavra. Uma vez mais.
Quando é urgente fugir do mundo e da realidade, a leitura é o meu porto de abrigo, e são dois os mestres que me ajudam nessa fuga: Pablo Neruda e Luísa Dacosta.
Pablo leva-me «ao pé dos vulcões, junto aos ventisqueiros, entre os grandes lagos, ao fragrante, ao silencioso, ao emaranhado bosque chileno... onde afundo os meus pés na folhagem morta... e sinto o aroma selvagem do loureiro»... (in Confesso que Vivi).
Luísa «faz-me resistir à vida, ao desgaste do tempo, à morte do corpo, ao apagar das alegrias, ao vazio circundante, ao corte das raízes, à não publicação dos (também meus) sonhos a morrer na gaveta...» (in Na Água do Tempo).
É neste universo, entre a cadência da vida e a beleza das palavras, que se move Luísa Dacosta, sem dúvida, um dos nomes mais expressivos da Literatura Portuguesa Contemporânea. Contudo, devido, talvez, à sua recusa em enveredar pela vulgaridade e pelo mediático, conceitos tão entranhados na sociedade actual, cúmplices de uma gritante cegueira cultural, que, infelizmente, tanto valoriza e cultua a mediocridade, uma escritora de tal importância, inclusive, estudada nas universidades do nosso País e até no estrangeiro, não tem merecido, por parte dos media, o justo reconhecimento, nem a oportuna divulgação.
Disse-me, certa vez, um dos seus editores: «Os livros dela não se vendem». Como pode vender-se algo que não é adequadamente promovido? Como pode vender-se algo que não está ao alcance das pessoas? Como pode vender-se algo de que não se tem conhecimento? Em que livrarias estão os livros de Luísa Dacosta, para que as pessoas possam, ao menos, folheá-los? Em que Feiras do Livro estão os livros de Luísa Dacosta, para que as pessoas possam vê-los e, possivelmente, comprá-los?
Isto faz-me lembrar um episódio que me diz respeito, e que não resisto a contar. Quando publiquei o meu primeiro livro, levei dez exemplares para uma determinada livraria, dentro de um saco de plástico preto. Entreguei o saco ao livreiro e sugeri-lhe que ficasse com os livros e os vendesse à consignação. Acertámos tudo e deixei então o saco preto em cima do balcão. E saí. Passados uns meses (poucos) regressei à livraria para saber do “negócio”. E o livreiro disse-me: «Não vendi nada. Sabe…ninguém a conhece…». E eu perguntei onde estavam os livros. E o livreiro dirigiu-se a uma prateleira, escondida entre outras prateleiras, no recanto mais recôndito da livraria, atrás de uma pilha de livros, e de lá tirou o saco de plástico preto. O saco estava intacto, tal como eu o tinha ali deixado, com os meus livros todos lá dentro. Agora entendo, disse eu ao livreiro. Como pode vender-se algo que ninguém sabe que existe? Ninguém me conhece! Claro! Como pode alguém conhecer quem, para todos os efeitos, não existe à luz, ainda que fosca, de uma livraria, ainda que antiquada? Decidi então, desfazer logo ali o “negócio” e trazer comigo o saco preto, com os livros dentro.
Não estarão os livros de Luísa, também encerrados em sacos pretos, esquecidos nos recantos mais escondidos das livrarias? As palavras-chave para que um livro se venda são: promover, divulgar, mostrar…E o que não existe, passará a existir. E o que não se vende, talvez passe a vender-se. Não é assim que acontece com os autores que vendem, ainda que alguns não tenham a mínima qualidade literária? Se a má literatura se vende, por que não há-de vender-se a boa Literatura?
Dar a conhecer o universo da mulher/escritora, com o intuito de despertar os leitores para a sua obra, e de os acompanhar na descoberta do seu mundo, imensamente fértil em palavras delicadamente cerzidas, que são as suas, é o objectivo principal deste livro. Trata-se de um trabalho que, de modo algum, pretende ser académico ou erudito, crítico ou de análise linguística. É apenas um olhar, o meu olhar, despretensioso, de leitora e admiradora da escrita de Luísa Dacosta; a experiência de uma jornalista que segue o percurso literário da escritora desde 1984; uma abordagem pessoal, tendo também em conta o que vivi com a escritora, ao longo de vários anos, e o conhecimento do seu modo desassossegado de ser, e do seu pensamento irreverente.
A ideia não é a de analisar a sua obra sob o ponto de vista literário – para tal, há especialistas como Glória Padrão, José Augusto Seabra, Albano Martins, Paula Morão, Ramiro Teixeira, José António Gomes e Alzira Seixo, entre outros – embora, inevitavelmente, possa deambular, uma vez ou outra, e muito vagamente, por esse campo. O cerne de Luísa Dacosta – «no sonho, a liberdade...» é o de acolher o todo – quem escreve e o que escreve – numa visão meramente jornalística, mais próxima do leitor comum, colocando esta questão básica: quem é Luísa Dacosta? E partindo-se do pressuposto de que conhecendo-se aquela que escreve, melhor se compreende aquilo que escreve, atinge-se o âmago do meu objectivo: falar da obra de um dos nomes maiores da criação literária portuguesa contemporânea, dos seus motivos, e do que ao redor dessa obra se foi construindo.
Aliás, penso que todos os que gostam verdadeiramente de ler interessam-se por ler os livros daqueles de quem conhecem o pensamento, o modo de ser, de ver as coisas e de estar no mundo, conseguindo, desse modo, olhar com outros olhos a sua obra.
Partindo da infância, passando pela adolescência, pela juventude, pela publicação do primeiro livro até à actualidade, a minha ideia foi a de reunir numa só obra o saber da menina/mulher que escreve livros, por que os escreve, e como os escreve, aproveitando excertos das suas obras, para ir divagando sobre as coisas do seu universo, e aprofundar um pouco mais o seu pensamento, entremeando com alguns episódios que tive a oportunidade de vivenciar com a autora, procurando despertar o leitor comum para a obra desta que, à margem do mundo, é, sem dúvida, repito, uma das mais fascinantes escritoras portuguesas do século XX, pelo modo como usa a palavra.
Penso que a análise puramente literária da obra de um escritor interessará, talvez, prioritariamente aos estudiosos de Literatura, por isso, a ideia foi realizar um trabalho que conquiste os muito cultos, mas também, e essencialmente, os menos eruditos, para que não só possam ter acesso, como interessar-se por uma obra tão inexplicavelmente colocada à margem do rio literário que por aí vai serpenteando, pejado de ervas ressequidas, a que, também inexplicavelmente, é consagrado o melhor “adubo”.
O presente livro, além de incluir fotografias inéditas, divide-se em seis partes, antes e depois do que considero um “mito”, uma vez que um escritor, para a grande maioria das pessoas comuns, é um ser mitológico, distante, que vive num lugar longe e privilegiado, um ser que tem acesso à imortalidade através da sua escrita, e a tendência é querer saber o como e o porquê das coisas e dos segredos que normalmente envolvem os que escrevem. É a resposta a esse “como” e a esse “porquê” que pretendo dar, reunindo, como já referi, num só livro, todo o percurso de Luísa, desde a infância à actualidade, percorrendo, paralelamente, toda a sua obra, seguindo um critério cronológico.
Luísa fez da Língua Portuguesa um ninho, onde ninhou palavras que se assemelham a pássaros: livres e belos no seu voejar. Por isso, atrevo-me a dizer que o seu mundo é mais além, é o dos tais seres selvagens que habitam as alturas. E, dessas alturas, Luísa Dacosta pode contemplar horizontes infinitos e lançar as suas palavras a ventos que não sopram, porém, o paraíso literário estará sempre onde estiver um livro seu...
Isabel A. Ferreira
Neste Dia dos Namorados, vamos namorar.
Aproveitemos a inspiração de Orlando Machado.
O Dia pode ser romântico, mas também divertido e muito, muito sério...
Isabel A. Ferreira
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Sendo assim:
Imagem retirada da Internet
«O Dia dos Namorado
No dia dos Namorado
Nada vamos ter dji mau
Não há dolo nem pècado
O nosso amor é fatau
Ai se o meu coração fossi
Tão malandro como o seu
Faria do amargo doci
Muito mais doci qui o méu (mel)
Aqui mais ninguém si deita
Dibaixo dos nosso lençóis
A nossa cama é istreita
Nela só cabemos nóis
Si ocê mi queri a miu (mil)
Passos de ti é dizê
Este qui quando tji viu
'Parô e pô si a mexê
...
Temos outro cáxu xério
Xom Balentim caxador
Caxei um coelho, quéri o?
Eu xó cáxu pur amôre
Gustaba de t' escrebêre
Num purtuguêx cumu fálu
Cumu tu num me bais lêre
Pur Xôm Balentim me cálu
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«Pela necessidade de a língua evoluir no sentido de *simplificação, eliminando letras desnecessárias* e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam»
Gostava de saber se este parágrafo faz parte da introdução oficial do AO90 e se é este o mote principal para esta mudança.
É que, sendo assim, haveria de perguntar:
Como simplificamos, se todas as outras línguas (Castelhano, Francês, Inglês, Italiano e outras mais) continuam com o seu vocabulário respeitando a origem?
Mais, a duplicação de letras na mesma palavra: oggetto, aggettivo...
Alguns exemplos:
Colecção / collection
Selection Selección Egypt fact
object abstraction activaty act active adjective electricity baptize reception
abstracción activar acto activo electricidad Recepción
abstraction activer acte actif adjectif électricité baptiser Réception éditeur
oggetto astrazione attivare atto attivo aggettivo elettricità battezzare reception
Orlando Machado
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Respondendo ao Orlando:
Quando os acordistas dizem que deve aceitar-se o AO90 «pela necessidade de a língua evoluir no sentido de *simplificação, eliminando letras desnecessárias* e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam», há que salientar que:
Primeiro: desconhecem o significado de EVOLUÇÃO linguística.
Segundo: desconhecem que não pode simplificar-se uma Língua ao sabor da ignorância dos que NÃO a sabem usar.
Terceiro: desconhecem que não pode eliminar-se o que eles chamam "letras desnecessárias", porque ignoram que as consoantes não-pronunciadas (esta é a designação correcta) têm uma função diacrítica, tendo sido poupadas por esse motivo. No vocábulo ella, suprimiu-se um dos éles, por não ter função diacrítrica e não deturpar a pronúncia, ou seja, ella com dois éles ou só com um éle, pronuncia-se do mesmo modo. Já objeto sem o cê, lê-se "objêtu".
Quarto: desconhecem que ao escrever-se como se fala, a Língua transformar-se-á numa babel ortográfica, apenas para os básicos.
Quinto: quem não tem capacidade intelectual para PENSAR a Língua, jamais conseguirá aprendê-la, logo, NÃO pode projectar essa incapacidade para os que têm capacidade intelectual para PENSAR a Língua, e não é preciso ter-se um QI superior a 85.
Sexto: os acordistas desconhecem que os outros Povos, que têm Idiomas da mesma Família linguística da Língua Portuguesa, não são parvos, nem são governados por políticos com vocação reptiliana.
Isabel A. Ferreira
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(1) Com esta pequena frase "Aderi ao acordo ortográfico", como se poderá depreender, depois de lido o poema, pela questão que põe, o Orlando Machado, pretendeu ironizar, porque o que se segue à frase é o argumento parvo que os acordistas dão para justificar a adesão ao AO90. Obviamente, o Orlando Machado abomina o abominável aborto ortográfico.
Imagem enviada pelo cidadão português Fernando Kvistgaard, que vive na Dinamarca, sendo também cidadão dinamarquês. Pergunta: em que ficamos? Qual a maneira correCta de escrever a palavra? Obviamente é percePção, em Bom Português. A outra, perceção, que se lê p'erc'ção, tem a aparência de uma galinha depenada. Pobre vocábulo! Que origem terá? Nem greco-latina, nem Indo-europeia. Talvez a tivessem encontrado em algum caixote de lixo.
Porque é bem verdade que «quando se destrói uma Língua, destrói-se uma Cultura, quando se destrói uma Cultura, destrói-se um Povo, e estas coisas andam de mãos dadas...», afirmou Paul Connett, activista humanitário da acção Bangladesh, em 1971, o qual participou no documentário «Baía do Sangue: o genocídio do Bangladesh», que a RTP exibiu recentemente.
E isto a propósito da Operação Holofote, iniciada pelas Forças Armadas do Paquistão Ocidental contra civis do Paquistão Oriental, em 25 de Março de 1971, na que ficou tristemente célebre como a Guerra de Libertação do Bangladesh. Nessa noite milhões de Bengalis foram mortos. A ideia era acabar coma raça deles. Aos que sobreviveram, o ditador paquistanês, general Yahya Khan, terceiro presidente do Paquistão (de 1969 a 1971) impôs o Urdu, Língua Oficial do Paquistão Ocidental, e não mais os Bengalis deveriam falar ou escrever o Bengali, a sua Língua Materna, com mais de mil anos, sendo o sétimo idioma mais falado do mundo, com cerca de 265 milhões de falantes, dos quais 228 milhões são nativos.
O genocídio passava pela destruição da Língua daquele Povo que lutava pela sua independência. Destruindo-se a Língua que fixa a Cultura de um Povo, destrói-se essa Cultura, e destruindo-se essa Cultura, destrói-se o Povo, e isto é uma forma de genocídio. E essa destruição só não aconteceu porque o ditador foi derrotado, e o Bangladesh garantiu o direito à sua existência, à existência da sua Língua milenar e da sua Cultura.
Ao ver este documentário ocorreu-me que os muito cultos e ilustríssimos governantes andam por aí a perpetrar uma espécie de genocídio, para acabar de vez com a Cultura, a Língua e a História dos Portugueses, alimentando uma mixórdia ortográfica, gerada pela imposição ditatorial, ilegal e inconstitucional do acordo ortográfico de 1990, na qual os Portugueses Pensantes e Cultos não se revêem, e ao que a mim diz respeito, sinto que com tal irracional atitude estão a assassinar a minha Identidade, a minha Cultura, a minha Língua e a História do meu País.
Sim, eu tenho um País. E então? Não posso? Não devo? Os idiotas que me alcunham ignorantemente de nacionalista, e acham que me insultam, não passam disso mesmo: idiotas e ignorantes. Porque eu sou apenas Portuguesa. Então? Não posso? Não devo? Amo o meu país com todas as suas virtudes e defeitos. As virtudes, atribuídas a uma Natureza maravilhosa, aproveito-as para crescer com elas e divulgá-las; os defeitos, que são atribuídos a pobres de espírito, aproveito-os para aprender com eles e combatê-los, passando às gerações futuras informações que lhes podem ser úteis, para poderem viver harmoniosamente. Mas se tivesse mesmo de ser nacionalista, mais vale ser nacionalista informada, do que apátrida ignorante.
Destruir a Língua! Será essa a ordem emitida superiormente pelos mandantes, a quem os políticos devem obediência?
Quase tudo e quase todos andam por aí de rastos, em Portugal, e a Nova Desordem Mundial irá dar uma ajudinha.
Anda por aí um doido varrido que quer mandar no mundo e até em Marte, e acha que pode. E o pior é que há gente que também acha que ele pode, e até lhe entregou o Poder que lhe permite espezinhar seres humanos.
E os de cá acham que é legítimo destruir a Língua de uma Nação com quase 900 anos de História, pelos motivos dos mais obscuros, que guardam secretamente em caves inacessíveis ao comum dos mortais. O grande olho espreita, mas os pequenos olhos observam.
E é este caminho caótico, em direcção ao abismo, que os políticos do mundo estão a seguir, os nossos, incluídos.
Isabel A. Ferreira
... escreveu o Comandante da Marinha Portuguesa, Manuel CD Figueiredo, no seu Blogue Sextante Poveiro
E eu, como portuguesa também exijo a mesmíssima coisa.
Por Manuel CD Figueiredo
«PORTUGAL E BRASIL»
Será agora, o princípio do merecido fim?
A próxima cimeira luso-brasileira, a 19 deste mês, vai juntar os mais altos governantes dos dois países para prepararem (ou assinarem?) nada mais, nada menos do que 20 acordos!
Esta é uma possível boa notícia.
Na cimeira serão tratados assuntos relativos, entre outros, a Defesa, Justiça, Saúde, Segurança, Ciência e Cultura. Ciente das suas responsabilidades, o Governo português terá recolhido opiniões alargadas e fundamentadas sobre cada uma das áreas, no sentido de melhor servir os interesses do povo que representa.
Destaco duas áreas de vital importância: Defesa e Cultura.
No âmbito da primeira, a Defesa, oxalá não nos fiquemos pela "ambição" da compra de equipamentos. Os interesses mútuos no âmbito da Defesa são reconhecidamente de capital relevância.
No que respeita à segunda, a Cultura, como português exijo que se trate de reverter o famigerado "Acordo Ortográfico" (AO90), o qual, na nossa legislação, é indubitavelmente ilegal e inconstitucional.
Desejo que esta venha a ser uma muito boa notícia!»
Manuel Figueiredo
Fonte:
https://sextante-poveiro.blogspot.com/2025/02/e-brasil-proxima-cimeira-luso.html#google_vignette
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Bem, esta seria uma boa notícia SE...
Porém, há um SE gigante: estarão os nossos decisores políticos dispostos a pugnar pelos interesses de Portugal e deixarem de ser vassalos dos milhões?
Há que tentar tudo para que o acordo ortográfico de 1990 seja desacordado.
Já basta de se andar a brincar aos servos, por conta da Língua de Portugal, e a violar a Constituição da República Portuguesa.
Que todos os deuses de todos os olimpos leiam este artigo do Comandante Manuel Figueiredo, para que esta venha a ser facto, uma boa notícia.
Portugal e os Portugueses dos quatro costados merecem-na.
Isabel A. Ferreira
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