A Língua Portuguesa é a Língua de Luís de Camões, de Fernando Pessoa, de Eça de Queiroz, de Camilo Castelo Branco, de todos os nossos clássicos e hodiernos escritores e poetas, que não cederam à insensatez do Acordo Ortográfico de 1990, que não só veio amputar a grafia portuguesa, como agigantar o desleixo pela escrita da mesma, e desenvolver uma inaceitável falta de brio nos profissionais que têm a Língua Portuguesa como instrumento de trabalho, mormente os da imprensa escrita (salvo raras excepções) e os que (des)constroem as legendas nas televisões, que, aos erros ortográficos, recomendados pelo AO90, acrescentam uma mixórdia linguística, sem precedentes, no nosso País.
Daí que, hoje, em Portugal, dia que a UNESCO destinou para ser o Dia Mundial da Língua “Portuguesa”, o que se comemora é o que veremos mais abaixo, através da parca amostragem (a lista é infinita) com que brindo este dia… Os restantes países, da dita lusofonia, celebrarão a Variante Brasileira da NOSSA Língua, que políticos incompetentes e seus acólitos, pretenderam unificar, mas deram com os burros n’água. E o pior é que insistem no erro.
No dia 10 de Junho cá estaremos para celebrar o “Dia de Portugal, de Camões, da Língua Portuguesa (a original, a verdadeira), dos Cidadãos Portugueses e das Comunidades Portuguesas que, no estrangeiro, honram Portugal e a sua Identidade, mais do que o Presidente da República Portuguesa, que se está nas tintas para o Património Cultural Imaterial que ela representa, e dos que, ao abrirem a boca para falar da Língua Portuguesa, não sabem do que falam.
Hoje, fiquemo-nos pela comemoração da Mixórdia Ortográfica Portuguesa, gerada pelo desleixo, pela falta de brio e de profissionalismo dos escribas, e pela irrelevância que os sucessivos governos de Portugal têm dado ao Ensino, em geral, e ao Ensino da Língua Portuguesa, em particular. O que veremos a seguir não é do domínio das gralhas, porque gralhas sempre existiram. Isto é do domínio de uma mão-de-obra barata desqualificada, à qual os empregadores pagam uma ninharia, estando-se nas tintas para o serviço de qualidade que deveriam prestar.
E este é o Portugal dos Pequeninos que temos, e que espera por alguém dotado de lucidez e hombridade, para acabar com este embuste.
Isabel A. Ferreira
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Um texto oportuno, de José do Carmo, sobre estes novos tempos, tristes e sombrios, em que ao leme estão hoje convictamente os idiotas, que protagonizam uma barbárie woke…
Um texto que recomendo vivamente que leiam até ao fim.
(Os excertos a negrito são da minha responsabilidade).
Isabel A. Ferreira
«Os Lusíadas não esperam pela demora!»
Sim, os Lusíadas são um texto épico da nossa nacionalidade e tudo isso, mas creio que, a prazo, a avaliar pelos antecedentes, pouca gente mexerá uma palha quando a barbárie woke o colocar no radar.
O que não falta no texto são referências à escravatura, discriminação de grupos “oprimidos” diversos, intolerância, racismo, genocídio, estereótipos do heteropatriarcado, etc, etc.
O Luiz Vaz, esse fascista, refere, entre outros ultrajantes desrespeitos, as “gentes enojosas da Turquia”, fala da “maligna gente que segue o torpe Mahamede”, discorre sobre “o Mouro pérfido”, atreve-se a descrever os africanos como “os de Faeton queimados”, etc.
E o Fernando Pessoa?
Esse já está na fogueira. Há dois anos, uma tal Luzia Moniz, presidente de uma obscura (atenção a esta palavra, perpetuadora de estereótipos negativos) Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana, acusou-o de “escravocrata racista”. Além disso na “Mensagem”, o vate refere em tons épicos algumas personagens e feitos da nossa História, o que é manifestamente imperdoável, segundo os cânones da nova fé.
Nas obras destes e doutros autores, está tudo o que faz salivar o pequeno grupo de Savonarolas pseudo-intelectuais “progressistas” que mandam na cancel culture. Pelo que não tarda o dia em que irão lançar os seus baldes de trampa contra eles e suas obras “culturalmente ofensivas”, enviando-as para o novo Index Prohibitorum ou queimando-os nas fogueiras da nova inquisição.
Envergonhar os portugueses que têm orgulho em o ser, isso sim, é poder. E nestas demonstrações de poder nada é sagrado (excepto a própria correcção política woke) e nada está imune à violência “iluminada”. É uma revolução cultural onde os fins justificam os meios, como Maquiavel e Marx ensinaram.
Mas se o negócio de Marx era a luta de classes, para a barbárie woke é mais a raça e a orientação sexual.
Definindo todos pela cor da pele e julgando os brancos como os “maus” e culpados de “racismo sistémico”, esse iníquo pecado original que deve ser expiado pela força totalitária, os woke simplificam o mundo à medida de Maniqueu e reivindicam-se do topo da única moralidade certa: a deles!
Como resultado, vivemos hoje na versão ocidental da “sociedade do medo”, na qual a pressão para a conformidade não vem do topo do comité central, mas dos intolerantes “cristãos novos” que nos rodeiam.
Nos campus, nas escolas, nos média, nas redes sociais, urbi et orbi, somos intimidados para que nos calemos, para que amochemos e só expressemos ideias conformes à nova Doutrina da Fé.
E por isso se proíbem livros, se cancelam filmes, se despedem pessoas, se reescreve a História e se derrubam monumentos e memórias.
Começa pelos pequenos, porque é de pequenino que se torce o pepino.
Babar, o Elefante, já foi. “Celebração do colonialismo”, alegaram, já que o malvado trombudo da história deixa a selva e volta mais tarde para “civilizar” os seus conterrâneos.
Tintim, coitado, já se arrasta no submundo, por ter representações dos africanos com traços “exagerados” e em situações de subalternidade, a carregar coisas atrás do explorador branco, e ter nascido numa revista “fascista”.
A Disney Plus já expurgou Peter Pan, porque “retrata os povos nativos de uma maneira estereotipada que não reflecte nem a diversidade dos povos nativos nem suas tradições culturais autênticas”, Dumbo, que “presta homenagem a espectáculos racistas”, Aristogatos, o “Livro da Selva”, a “Família Robinson”, porque “os piratas têm o rosto escuro e estão vestidos de maneira exagerada e imprecisa, reforçando a sua barbárie e alteridade”, e outros das suas ofertas para crianças menores de sete anos. Porque entre outras maldades contém “estereótipos e representações negativas de pessoas ou culturas” que podem corromper as almas das criancinhas…
A Rua Sésamo, dos Marretas, antes celebrada como instrumento pedagógico para crianças (que criminosos nós éramos!), leva também com soturnos “avisos de sensibilidade”.
Já vieram por Eça de Queiroz, cujos Maias, têm “várias passagens racistas” que referem a “inferioridade dos africanos e o desdenho pelo negro”, além de que “idealizam a branquitude“, explicou uma “investigadora” (cof, cof…) woke, cabo-verdiana.
Já morderam a “Odisseia”, de Homero. Um professor de inglês, entre gargalhadas alvares, referiu ter “muito orgulho de dizer que já removemos a Odisseia do currículo, este ano”. Isto porque “desafiar os velhos clássicos, é o equivalente a substituir estátuas de racistas”.
O problema aqui, deixem-me sublinhar, não é a saudável diversificação de personagens e autores, mas sim o cancelamento de obras bem-intencionadas, por chocarem com o dogma ideológico da “teoria crítica da raça”.
Uma coisa é tirar livros sofríveis das prateleiras, outra é ver racismo e “atraso de género” em todos os lugares e tempos e tentar impor uma mordaça ideológica woke à sociedade, enterrando ostensivamente a livre expressão de ideias, base nuclear da nossa civilização.
Na verdade, lá para os lados de Nova York, já se procura introduzir um currículo imposto pelo Estado para ensinar nos jardins de infância, sobre a “fluidez de género”. Um projecto de lei da senadora democrata Samra Brouk (no Estado de Nova Iorque) pretende que se ensine obrigatoriamente às crianças de oito anos que existem escolhas de género múltiplas e fluidas, e que se podem receber bloqueadores hormonais para evitar “puberdades erradas”. Mais à frente, os alunos aprenderiam sobre a necessidade de apoiar todas as “configurações familiares” possíveis. O currículo proposto também condena quem se apega à moralidade tradicional, tudo isto para produzir crianças com ideias woke pré-programadas.
Todo o passado está aberto à inquisição woke, e tudo será incinerado.
Alguns acreditam que enfim, tudo isto é só para equilibrar as coisas e que o problema só afectará os “fascistas” e os “neanderthais”, essa gente primária e ignorante que não frequenta os círculos da iluminação urbana. Estão enganados. A fúria canceladora não tem limites e mais tarde ou mais cedo cairá também sobre os que a encaram com benevolência.
As feministas clássicas já começaram a sentir o calor da chama, quando se atreveram a questionar a natureza feminina dos homens que mudaram de sexo.
Como diz o povo, não deve atirar pedras quem tem telhados de vidro e todos os temos. Muito do cuspo que os bárbaros woke hoje atiram para o ar, vai um destes dias cair-lhe na própria testa.
Quem acredita que o passado é um lugar em que tudo estava errado e que chegámos ao topo da História, lugar privilegiado de onde a podemos julgar à luz do actual zeitgeist, é tão idiota como arrogante.
Mas os idiotas estão hoje convictamente ao leme…
José do Carmo
* O autor usa a norma ortográfica anterior.
Fonte:
Subscrevo este texto de João-Afonso Machado, publicado no Blogue Corta-Fitas.
Por tudo o que conhecemos do carácter de Eça de Queiroz, ele jamais desejaria que a sua ossada repousasse no Panteão Nacional. Eça está acima dessa vã vaidade, além de que Tormes é o lugar ideal para acolher um corpo que deu guarida a um espírito que, se existisse nos dias de hoje, demoliria os que, para proveito político, pretendem desalojá-lo da paz da sua sepultura, varrida pelos ventos…
Contudo, como refere João-Afonso Machado, a derradeira palavra pertencerá à Família Eça de Queiroz.
Isabel A. Ferreira
Por João-Afonso Machado, em 19.12.20
«O grande Eça no Panteão Nacional?»
«Está na ordem do dia: os restos mortais de Eça de Queiroz, pretende o Governo de Costa trasladá-los para o chamado Panteão Nacional.
O grande Eça, caso não saibam - e muitos não saberão... - morreu em Neuilly, França, e foi o cabo dos trabalhos para o trazer para Portugal, onde foi sepultado nos Prazeres, Lisboa, e, posteriormente, levado para Tormes, em Santa Cruz do Douro.
Ali repousa na sua merecida paz, longe da política e de todos os Abranhos deste mundo.
Agora, manifesta o Governo a sua vontade em o levar para o Panteão Nacional. Onde jazem figuras várias, nenhuma com a sua visão da política, do mundo e da Arte. Aliás (sem procurar apoio historiográfico), arrisco dizer - quase todos os sepultos no dito Panteão, far-se-iam mais depressa em nada se Eça sobre eles escrevesse...
Eu suponho - e espero! - a derradeira palavra caiba à Família Eça de Queiroz. E contra a Família Eça de Queiroz, é óbvio nada tenho a contradizer. Tenho é algumas ideias na cabeça. Por exemplo:
- Os governantes da época de Eça não perderam muita atenção com a sua morte. Só devido aos esforços de alguns amigos dele, atribuiram uma "pensão de sobrevivência" (aliás, de extrema necessidade) à viúva, a Senhora Dona Emília de Castro, e aos Filhos;
- Os ditos Filhos perderam essa pensão em virtude das suas convicções monárquicas, pelas quais se manifestaram nas "Incursões" de 1911-12;
- Eça, monárquico que foi, é lido da frente para trás, assim se esquecendo os seus romances A Cidade e as Serras, e A Ilustre Casa de Ramires, entre outros escritos do maior significado;
- Eça, confrontado com esta III República morreria do primeiro mal que lhe desse. Calcula-se que esse mal seria a própria enunciação do termo - "III República". É só imaginar o grande Eça em conversa com o Eduardo (Dâmaso) Cabrita;
- Pensando em As Farpas, Ramalho acompanhá-lo-ia, também, em tal desterro no Panteão. Mas Ramalho, politicamente, não é tão sonante. Mais a mais, sobreviveu à Monarquia e (in Últimas Farpas) escreveu - «A República continua dando ao mundo o mais inacreditável espectáculo - existe»...
Costa quer popularidade. Eça, que na História vai imenso mais além deste batoteiro, quer sossego. Está bem em Tormes, e recomenda-se. Por isso... Vamos todos zurzir bengaladas nestes Palmas Cavalões (e cavalonas...) da sacanice governamental. Pelo inesquecível e inigualável Eça de Queiroz.»
Fonte:
https://corta-fitas.blogs.sapo.pt/o-grande-eca-no-panteao-nacional-7168155?view=35892891#t35892891
Nota: clicar no link para ler os comentários ao texto, porque vale a pena.
Um interessante texto, do jornalista e escritor brasileiro, Chico Mendonça, através do qual podemos “medir a temperatura” da Língua que se fala e escreve no Brasil, e o pulsar da situação…
Nada do que se diz no artigo que aqui transcrevo, está longe daquilo que venho dizendo, há tanto tempo: o Brasil não está interessado na Língua Portuguesa. Como poderia, se a influência indígena e africana, e dos outros povos que ali se fixaram, diz mais aos Brasileiros do que a influência portuguesa, que lhes soa a colonialismo... conforme podem comprovar no texto?
(Os excertos a negrito são da minha responsabilidade).
E mais não digo.
Isabel A. Ferreira
Por Chico Mendonça
O Lugar das Transgressões
«Para ver e medir toda a vida que há dentro e em torno de uma língua, usar a régua do tempo é imprescindível. Principalmente, no caso da língua portuguesa, e seu corpo formado de tantas línguas em português. Se a navegação fez naufragar o apego à ilusão de uma língua nacional e pura séculos atrás, nos dias de hoje sua unidade e riqueza se dão pela mestiçagem manifestada na infinidade de ruas que cruzam os nove países de fala portuguesa. Nem lusofonia se adequa mais, insiste Afonso Borges, porque o termo traz memórias dolorosas dos tempos coloniais. E descolonizar é preciso, mais do que nunca, tal a delicadeza da fase atual desse processo: a descolonização das mentes, dos que colonizaram e dos que foram colonizados.
No terceiro dia do Fliaraxá, o equívoco do Acordo Ortográfico de 1990 foi se desenhando, a caminho do consenso. “Não há nada uniformizável, as diferenças é que enriquecem a língua. A ortografia tem que ser diferente. Não devem ser os governos que decidem isso, porque a língua é livre e pertence ao povo”, defendeu a escritora portuguesa Teolinda Gersão, na Mesa “Escrever em língua portuguesa”. Seu parceiro de conversa, o manauara Milton Hatoum, lembrou que o rompimento com a forma cristalizada da língua é antiga: “Machado de Assis já não escrevia como Eça de Queiroz (*) ”. A Semana de Arte Moderna deu um longo passo nesse sentido, com o surgimento de obras como Macunaíma, de Mário de Andrade, que utiliza muitas expressões indígenas e africanas. Meu Tio Iauaretê, de Guimarães Rosa, é outro exemplo do uso de uma linguagem nova, repleta de contribuições linguísticas alheias ao português. “É o limite possível do que se pode fazer usando linguagem de vários troncos linguísticos, incluindo o mais arcaico português. Uma linguagem mestiça e transgressora”, avaliou Hatoum.
Transgressões não devem faltar para a evolução de uma língua e das diversas culturas que ela compartilha. Do contrário, ficaria impermeável a essas contribuições que o modernismo libertou no Brasil. Ou a outras influências de tradições não reconhecidas e mesmo condenadas, como o “pretoguês”. Segundo a filósofa e feminista negra Djamila Ribeiro, na Mesa “Cultura, crença e preconceito”, dividida com o jornalista Xico Sá, a troca do “L” pelo “R” em algumas palavras, como ‘Framengo”, não é manifestação da ignorância, mas herança, mesmo inconsciente, de língua africana que não possui em seu alfabeto a letra “L”. Ela lamentou a morte do tupi e de outras línguas indígenas, por abafamento da língua oficial. Com elas, a diversidade e seus saberes estariam garantidos, bem como potencializada a influência que já exerceu na construção do português falado no Brasil.
Na verdade, mostrou Djamila, junto da assimilação da língua oficial pela pluralidade dos brasileiros, aconteceu também a submissão ao pensar dominante. Na universidade, conta ela, aprendeu o pensamento do homem branco europeu. Da mesma forma, na literatura ainda é hegemônico esse lugar de cor e procedência. Surgem, ressalta, as antologias com espírito de caixas separadas, como de escritoras negras, em lugar do acolhimento de cada um como parte de um todo. Em lugar de uma antologia de escritores e escritoras brasileiros, o racismo estrutural produz coletâneas em forma de caixas que dão sobrevida às hierarquias culturais.
Organizador e professor de um curso on-line sobre crônica, Xico Sá confirmou igual espanto. Segundo ele, as antologias que pesquisou do gênero refletem o amplo domínio de autores brancos sobre autoras brancas, autores e autoras negras. Não se trata, diz ele, de justificar-se pelo espelhamento de uma pré-seleção feita pelos jornais ao longo do tempo, mas da falta de uma pesquisa em outras fontes para encontrar trabalhos que não saíram nos jornas. Ele próprio tratou de incluir no currículo de seu curso capítulos do diário de Carolina de Jesus, em Quarto de despejo. “Não dá para falar em democracia com esse racismo estrutural”, conclui.
Respondendo a uma questão proposta pelo cientista político Sérgio Abranches, sobre qual escritor brasileiro estaria hoje traduzindo o espírito de nosso tempo, a escritora Noemi Jaffe deu nova pista a respeito do momento da evolução da língua. “Não é preciso buscar alguém que expresse o espírito do nosso tempo, porque não temos mais os gênios. Existem muitas pessoas escrevendo e produzindo conteúdos fantásticos em celulares, que respondem às necessidades de seus lugares de viver, mesmo que não tenham a qualidade de um Proust.” Tal afirmação tem a força de uma revelação, e, mesmo que polêmica, sugere novos desafios às línguas vividas em português ou em qualquer outra língua. O movimento descrito por Noemi é universal e, essencialmente, transgressor.
Ao ler o texto acima, Afonso Borges sentou diante do computador e escreveu. Neste campo, Afonso Borges, ao ser inquirido sobre a determinada “concorrência” que a imagem e o cinema estabelecem com o exercício da leitura, disse: “A leitura induz o cinema interno”.
E nada mais tendo sido dito, acabei por decidir que por aqui fico.»
(*) É curioso e consolador ver um Brasileiro a escrever correctamente o nome de Eça de Queiroz, porque em Portugal, raros são os que o escrevem correctamente. Eça nasceu Queiroz, não, Queirós.
Fonte: https://fliaraxa.com.br/o-lugar-das-transgressoes/
… anda por aí a infectar a Língua Portuguesa sem que ninguém de direito tome urgentes medidas terapêuticas para o eliminar, estando a dar um prejuízo incalculável à Nação e a comprometer a saúde da Língua Pátria…
Portugal não tem de pagar esta conta.
Portugal não tem de pagar por este crime de lesa-língua e lesa-pátria.
Portugal não tem de encher os bolsos aos vigaristas, aos oportunistas, aos corruptos que por aí espalharam este vírus… maliciosamente...
(Um texto publicado em 24 de Maio de 2016, para recordar e reflectir).
Quem cometeu este delito terá de arcar com as consequências.
«Em Portugal, fazem-se estudos de "impacto" e de custo-benefício para tudo. Menos para o "Acordo Ortográfico" de 1990. Até hoje, ninguém sabe os custos da mudança. ("Tradutores contra o Acordo Ortográfico" de 1990)»
A pena mínima para os que cometeram este linguicídio será ficar com o prejuízo. A máxima, será a prisão, por um bom período de tempo, porque não é impunemente que se mata a Língua Pátria, se enxovalha o símbolo maior da Identidade de um Povo e se insulta a inteligência dos Portugueses.
Eça de Queiroz, um dos maiores estilistas da Língua Portuguesa, e também um visionário e um acérrimo crítico do sistema político da sua época, escreveu no seu livro «As Farpas», em 1872, algo que parece ter sido escrito em 2016 (ou talvez um pouco antes, em 2011) a propósito do que se passa em Portugal:
«Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesma baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal.»
Pois Portugal está em vias de ser riscado da Europa culta, pela decadência em que se encontra o símbolo maior da sua Identidade: a Língua Materna.
Nesse mesmo ano, Eça de Queiroz escreveu ainda:
«Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar a oposição. A Ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina do acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. A política é uma arma em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias. Todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos querem penetrar na arena, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis de gozos da vaidade».
Em Portugal não há ciência nem de governar, nem de coisa nenhuma. Anda-se à deriva, ao sabor de vontades alheias à vontade da esmagadora maioria dos Portugueses, dos sábios, dos lúcidos, dos entendedores do ofício.
Em 1867, no jornal por ele fundado, «O Distrito de Évora», Eça escreveu estas palavras actualíssimas, à excepção da primeira frase (que comento a negrito):
«Ordinariamente todos os ministros são inteligentes (hoje, nem por isso), escrevem bem (hoje, é uma desgraça), discursam com cortesia e pura dicção (hoje, é o oposto), vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo, em Portugal, são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso. Governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência»?
É assim que há muito, tempo, em Portugal, são regidos os destinos políticos…
Há tanto tempo que até mete dó…
Precisamos dar um novo rumo a este país, que marca passo há tão longos e desditosos anos, e no que diz respeito ao vírus AO90 precisamos de eliminá-lo urgentemente, porque a Língua Portuguesa, europeia e culta, está gravemente enferma e em vias de perecer…
Isabel A. Ferreira
(Algumas considerações ao redor do malfadado AO90, ao cuidado daqueles que, contra todos os pareceres desfavoráveis, assentes na racionalidade, teimam, autoritária e cobardemente, em insistir no monumental erro que foi trocar a grafia portuguesa, pela grafia brasileira, aviltando, desse modo, a Língua Portuguesa, como se ela fosse algo de somenos importância para Portugal).
Manuel (Matos) Monteiro, revisor linguístico, escritor e formador, uma das vozes mais dinâmicas contra o Acordo Ortográfico de 1990, a propósito do seu mais recente livro intitulado "Sobre o Politicamente Correcto" (Editora Objectiva), disse o seguinte, numa entrevista à Revista Sábado (06/02/2020), a quem pediu que nas suas respostas não fosse aplicado o AO90:
«Não conheço uma matéria tão consensual da esquerda à direita, da percepção popular a quem estudou fundamente o assunto, a linguistas, escritores, intelectuais, tradutores, revisores, jornalistas: o Acordo é uma merda. Falhou em todos os seus propósitos [...] Só a inércia e a cobardia política permitem a sobrevivência do Acordo Ortográfico.»
(Um livro cuja leitura recomendo vivamente. Substituam o telemóvel pelos livros e LEIAM, porque, no nosso país, o que faz falta é LER).
***
Portugal é um país cheio de gente frouxa, comodista, seguidista, servilista, bajuladora, sem espírito crítico, e com um povo maioritariamente assim, como poderemos combater o regime autoritário que nos (des)governa, e nos impõe aquilo que ninguém quer, por ser absolutamente MAU?
Mas esta frouxidão, este comodismo, este seguidismo, este servilismo, esta bajulação, esta falta de espírito crítico, é mais antiga do que possamos imaginar. Já Eça de Queiroz o gritava aos quatro ventos, em 1871: palavra por palavra, a análise, deste que é um dos maiores estilistas da Língua Portuguesa e um inconformado social, continua actualíssima.
Nem a Revolução de Abril trouxe a tão ansiada evolução!
E quanto ao actual governo? Um verdadeiro fracasso. Então? O que é necessário fazer?
Daí que se faça um enésimo apelo aos Professores
Como todos sabemos, e basta ter um QI mínimo, o AO90 viola o direito à aprendizagem correCta da Língua Portuguesa.
Um direito que todas as crianças portuguesas (as maiores vítimas deste crime ortográfico) têm.
Vamos ser cúmplices deste acto criminoso?
Vamos permitir a consumação deste crime?
Tudo o que nós (menos novos) fizermos para preservar a integridade da Língua Portuguesa morrerá connosco, e a nova geração ficará à deriva, arrastando atrás de si uma Língua que não lhe pertence, porque a Língua Portuguesa estará condenada à extinção, se o AO90 não se extinguir.
Está nas mãos (sempre esteve) dos Professores travar esta tragédia. Só eles poderão recusar-se a ensinar esta língua desenraizada, na sua forma grafada.
Eles podem fazê-lo. Se quiserem.
Os Sindicatos têm o DEVER de os apoiar numa acção de Desobediência Civil, por uma causa mais do que justa. E se não o fazem, é porque não cumprem bem a sua função.
E bastava que um grupo, ainda que pequeno, de professores, tivesse resistido ou resistisse agora, ainda vamos a tempo, para que a onda se agigantasse ou se agigante…
O que vão ensinando e a quem?
As crianças, que estão a aprender a ler e a escrever, o que sabem do saber da Língua? Estão a ser obrigadas a aprender algo que, em Portugal, por não ser Português, está incorreCto.
É como se quisessem impor novas normas à Matemática, e dissessem às crianças que dois mais dois agora passa a ser cinco. E elas, que não sabem, acreditam. E repetirão o erro ‘ad aeternum'.
Isto é desrespeitar o direito à aprendizagem correCta, que todas as crianças têm.
O que faz falta é CORAGEM para dizer NÃO a algo que compromete gravemente a Identidade Cultural Portuguesa, a Portugalidade, o Respeito pela Língua Materna.
Estamos em 2020, e Portugal continua a ser um país cheio de gente frouxa, comodista, seguidista, servilista, bajuladora, sem o mínimo espírito crítico como no tempo de Eça de Queiroz.
Diz-se por toda a parte que o País está perdido. Dizia Eça. Hoje, continuamos a dizer que o País anda perdido, sem rumo, sem rei nem roque.
E quando não há evolução, quem paga são os que já evoluíram e os que querem evoluir, mas não lhes é permitido. E um país assim, não é um País, é um país ainda a ser.
Isabel A. Ferreira
Repesquei este texto, com o título supracitado, publicado no Jornal Público, em 26 de Fevereiro de 2012, pelo docente e investigador Paulo Jorge Assunção.
O debate era sobre a Língua Portuguesa e o Acordo Ortográfico.
Todos já sabemos que o AO90 não passa de uma fraude, a qual todos os organismos de Estado incluindo os que se dizem independentes, varrem para debaixo do tapete, como se tal lixo (ortográfico) pudesse ser contido debaixo do que quer que fosse, sem se evidenciar.
E porque anda por aí muita gente a optar pela ignorância, e recusa a informação, nunca é demais acenar-lhes com textos, que embora escritos há algum tempo, continuam actuais, porque em Portugal, já se sabe: não se avança, não se evolui, opta-se pela estagnação ou, pior do que isso, pelo retrocesso, e o que se escreveu no século passado, continua actual, no século seguinte. E isto, infelizmente, não diz só respeito à Língua.
Porém, como água mole em pedra dura tanto dá até que fura, todos, os que resistem, não desistiram, nem desistirão de lutar pela nossa Língua Mátria, aquela que nos identifica como Pátria, esperam que a Racionalidade bata à porta dos palácios de São Bento e Belém, e as pedras furem, para deixar passar a luz que anula o obscurantismo, que por lá grassa como uma maldição.
Isabel A. Ferreira
Texto de Paulo Jorge Assunção
«Debate A Língua Portuguesa e o Acordo Ortográfico»
«O 18.º Governo entendeu, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, de 25/1 (RCM), pôr em vigor o acordo ortográfico de 1990 (AO90), tornando obrigatória a sua aplicação "em todos os actos, decisões, normas, orientações, documentos, edições, publicações, bens culturais ou quaisquer textos e comunicações, sejam internos ou externos, independentemente do suporte, bem como a todos aqueles que venham a ser objecto de revisão, reedição, reimpressão ou qualquer outra forma de modificação", lê-se no preâmbulo.
Ora, para que se perceba, de modo sumário (portanto, redutor), o que está em causa, convém examinar o texto dessa RCM.
Lê-se, ainda no preâmbulo, que o AO90, "assinado em Lisboa em 1990, (...) incide apenas sobre a ortografia, mantendo-se a pronúncia e o uso das palavras inalteráveis" e, mais à frente, "Esta resolução adopta, ainda, o Vocabulário Ortográfico do Português, produzido em conformidade com o Acordo Ortográfico, e o conversor Lince (...) ambos desenvolvidos pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) com financiamento público do Fundo da Língua Portuguesa".
No n.º 1 surge a determinação curiosa de que as entidades visadas ("o Governo e todos os serviços, organismos e entidades sujeitos aos poderes de direcção, superintendência e tutela do Governo") "aplicam a grafia do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 e ratificado pelo Decreto do Presidente da República n.º 43/91, ambos de 23 de Agosto", o que pressupõe que essa grafia é conhecida e pode ser consultada e utilizada. E, de curiosidade em curiosidade, chegamos ao n.º 6 da RCM, onde se lê que o Governo resolve "adoptar o Vocabulário Ortográfico do Português e o conversor ortográfico Lince, disponíveis no sítio da Internet www.portaldalinguaportuguesa.org e nos respectivos sítios da Internet dos departamentos governamentais".
Conclui-se, então, que a aplicação do AO90 consiste na adopção de qualquer coisa que não o próprio acordo, e que se designa por "Vocabulário Ortográfico do Português" e "conversor ortográfico Lince".
O mistério adensa-se. Buscando a verdade oculta, percebe-se que tais designações são de trabalhos elaborados por empreitada, por umas pessoas (certamente, financiadas) a quem o Governo alienou a incumbência da criação de uma suposta norma! O Estado "legisla" por encomenda!
Portanto, à pergunta "o que é que diz o Acordo Ortográfico?", o Estado responde, com secular sabedoria, "não faço a mínima ideia, mas vou ali perguntar a umas pessoas que eu conheço e já venho".
Para quem não esteja a perceber nada, por não ter lido o AO90, esclareço. O texto publicado no Diário da República de 23-8-1991 não contém, realmente, a nova grafia das palavras. O que se lê, num Anexo, é apenas um conjunto de regras gerais (muito mal feitas), para serem mais tarde concretizadas (artigo 2.º do AO90) através do estabelecimento de um vocabulário ortográfico comum a todos os países signatários (ou seja, por via de outro acordo, específico), que nunca foi feito.
Isto significa que o AO90 ficou (nos seus próprios termos) inaplicável, suspenso de facto futuro. Não sou eu quem o diz. É o texto do AO90 que é explícito.
E, no meio do absurdo, tem lógica que assim seja, pois ninguém sabe ao certo explicar o que significa "escreve-se quando se pronuncia", porque isso retira o "h" ao verbo "haver", por exemplo, e deixa a dúvida acerca do "p" em "excepto", porque o João não diz o "p", mas a Maria diz o "p". Se o Estado se comprometera, com os demais signatários, a elaborar o vocabulário comum, não poderia entregar a mãos incertas aquilo que nem sequer é seu: a Língua Portuguesa.
Postos à solta, os legisladores por contrato andaram a inventar. Já que estavam "com a mão na massa", moldaram (com os pés?) o próprio acordo (que não lhes pareceu suficientemente mau...), cortando consoantes a granel, como se não houvesse amanhã!
O acordo, na Base IV, prevê duplas grafias?! Nada disso! O acordo prevê, mas eles não deixam! Com a legitimidade democrática do recibo verde e a sensibilidade linguística da retroescavadora, esta troika oculta reinventou a Língua, segundo o insondável critério do "acho que fica melhor assim". No entusiasmo, aproveitou o facto de o AO90 ser aberto e impreciso e, milhares de euros mais tarde, eis que pariu esta malformação inviável, a que chamam VOP e LINCE. E é como estamos. Porém, num Estado de Direito, de onde a certeza e a segurança não devem ausentar-se, as coisas não são assim.
Por isso, sem norma técnica com valor jurídico que as defina, as regras gerais do AO90 não vigoram.
Como se entende, pois, esta desenfreada imposição do disparate? É simples. A maioria das pessoas não leu o texto do acordo. Diz-se que aquilo é obrigatório. Os impostos pagam as acções de (de)formação nos serviços públicos e nas empresas. Começa a usar-se o barbarismo de modo generalizado. E pronto! A mentira torna-se verdade e não se fala mais nisso.
Mas, "há sempre alguém que resiste". Por isso, se as iniciativas em curso prosseguirem, designadamente a Iniciativa Legislativa de Cidadãos que visa suspender a asneira (v. http://ilcao.cedilha.net/), bem como as políticas e judiciais, além da legítima desobediência civil, ainda veremos os de sempre, já virados do avesso de modo politicamente correcto, berrando nos púlpitos "não fui eu! eles obrigaram-me! eu estive sempre do lado certo!".
Pena o imortal Eça de Queiroz não estar cá para escrever o 2.º tomo de O Conde d’Abranhos!
(Este texto sintetiza, com as adaptações ao registo escrito, o essencial da intervenção do autor, no Goethe Institut, em 9/1/2012).
Fonte:
https://www.publico.pt/2012/02/26/jornal/o-ao90-esta-em-vigor-onde-24062644
(Nota: os excertos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)
Quem o diz é Helder Guégués, no seu Blogue Linguagista
Origem da imagem: https://www.novoslivros.pt/2015/09/helder-guegues-em-portugues-se-faz-favor.html
Por Hélder Guégués
«O maior embuste desde o 25 de Abril
Francisco Sarsfield Cabral vem hoje lembrar na Rádio Renascença que o «Acordo Ortográfico tem quase 40 anos». Pelas minhas contas, são quase 30. «Tempo suficiente para mostrar que não atingiu o seu objetivo de unificar a ortografia nos países de língua oficial portuguesa.» Bem verdade: o AO90 revela-se, a cada dia que passa, o maior embuste político depois do 25 de Abril em que nós, Portugueses, caímos.
«Não possuo qualificações para debater seriamente o AO.» É também, penaliza-me dizê-lo, uma evidência, pelo menos a avaliar pela amostra: «Mas há coisas que não são aceitáveis no AO. Por exemplo, tirar as maiúsculas dos dias da semana e dos meses. Ou implicar com a grafia de nomes pessoais. Mas ninguém protesta, e ainda bem, por se escrever Sophia, como se escrevia quando a poeta nasceu, há um século.» Desde quando é que os dias da semana eram escritos com maiúscula inicial? E em que aspecto implica com os nomes pessoais, se até há uma ressalva específica na Base XXI? Ninguém (são de espírito) protesta por se escrever Sophia, mas a maioria, entre os quais muitos jornalistas, deturpa o nome de Eça de Queiroz.
Posto isto, devo dizer que Sarsfield Cabral é um dos jornalistas mais cuidadosos que conheço, digo-o com conhecimento de causa, já revi muitos artigos da sua autoria.
Um texto publicado no Folha 8, jornal Angolano.
Livre, independente, de informação geral e comprometido com a verdade. Folha 8, mais do que um jornal, a liberdade! conforme consta na sua apresentação.
O seu director adjunto, Orlando Castro, assinou o texto, do qual me dispenso de fazer comentários.
Apenas direi que se trata de um texto correCtamente escrito, num Português escorreito, algo que já não existe em Portugal, e que nos conta o que os órgãos de comunicação social portugueses não contaram, mostrando apenas os “banhos de multidão” do “Ti Celito” (como é chamado em Angola), que valem o que valem. (I.A.F.)
O chefe de Estado português elogiou o “projecto de paz, de democracia, de regeneração financeira, de desenvolvimento económico, de combate à corrupção” protagonizado pelo Presidente de Angola, João Lourenço. Se o MPLA dizia que José Eduardo dos Santos era o “escolhido de Deus”, Marcelo Rebelo de Sousa diz que João Lourenço é o próprio… “Deus”.
Por Orlando Castro
Numa intervenção durante um jantar oficial oferecido por João Lourenço, no Palácio Presidencial, em Luanda, Marcelo Rebelo de Sousa saudou-o como “o vulto cimeiro de um novo tempo angolano”. Não se terá lembrado de o propor para um Prémio Nobel, mas até ao fim da visita dita de Estado ainda está a tempo.
“Vossa excelência protagoniza-o com um projecto de paz, de democracia, de regeneração financeira, de desenvolvimento económico, de combate à corrupção, de afirmação regional e mundial. Nós, portugueses, seguimos com empenho essa aposta de modernização, de transparência, de abertura, de inovação, de acrescida ambição”, afirmou Marcelo, bem ao estilo dos sipaios coloniais, mas com uma substancial diferença. Estes eram obrigados a bajular, o presidente português não é obrigado a isso. Ou será que é?
Segundo o Presidente português, João Lourenço protagoniza “um novo tempo angolano, na lúcida, consistente e corajosa determinação de aproveitar do passado o que se mantém vivo, mas, sobretudo, entender o que importa renovar para tornar o futuro mais possível, mais ambicioso e mais feliz para todos os angolanos”.
Bem dizia Eça de Queiroz, provavelmente antecipando a pequenez intelectual de um tal Marcelo que haveria de ser presidente de Portugal, que “os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão”.
Vejamos, por exemplo, o que disse Guerra Junqueiro, num retrato preciso e assertivo de Marcelo Rebelo de Sousa e de grande parte dos seus cidadãos: “Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.
Continuemos, para memória futura, com o brilhantismo bacoco de Marcelo. Diz ele que, da parte de Portugal, Angola conta com “o empenho de centenas de milhares que querem contribuir para a riqueza e a justiça social” com o seu trabalho, bem como “das empresas, a começar nas mais modestas, no investimento e no reforço do tecido socioeconómico angolano” e também com “o empenho das instituições públicas portuguesas, do Estado às autarquias locais”.
“Podem contar connosco na vossa missão renovadora e recriadora. Portugal estará sempre e cada vez mais ao lado de Angola”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, fazendo aqui e mais uma vez o exercício de passar aos angolanos um atestado de menoridade e matumbez.
Portugal, por sua vez, conta com a “incansável solidariedade” de Angola. “Contamos com os vossos trabalhadores, as vossas empresas, as vossas instituições públicas, a vossa convergência nos domínios bilateral e multilateral. Temos a certeza de que Angola estará sempre e cada vez mais ao lado de Portugal”, prosseguiu Marcelo no seu laudatório e hipócrita exercício de servilismo.
De acordo com o Presidente português, este “novo momento na vida de Angola” coincide com “um novo ciclo” nas relações bilaterais. “E nada nem ninguém nos separará, porque os nossos povos já estabeleceram o seu e o nosso caminho”, considerou Marcelo, sentindo o umbigo aos saltos, alimentado pela esperança de que os portugueses não acordem e os angolanos nunca lhe cobrem a cobardia.
“Porque estamos mesmo juntos, na parceria estratégica, na cooperação económica, financeira, educativa, científica, cultural, social e política. Porque no essencial vemos o mundo e a nossa pertença global e regional do mesmo modo, a pensar na paz, nos direitos humanos, na democracia, no direito internacional, no desenvolvimento sustentável, na correcção das desigualdades”, argumentou aquele que, em matéria de bajulação, bateu todos os recordes anteriores, desde Álvaro Cunhal a Rosa Coutinho, passando por Vasco Gonçalves, José Sócrates, António Costa, Cavaco Silva, Passos Coelho e tantos outros.
No final da sua intervenção, de cerca de sete minutos (que entrará para o “Guinness World Records” por ser o que mais bajulação fez em tão curto espaço de tempo), Marcelo Rebelo de Sousa disse que “a história faz-se e refaz-se todos os dias e nuns dias mais do que noutros”, acrescentando: “Estes que vivemos são desses dias”.
Fonte:
Um excelente texto, publicado por Pedro Correia, no Blogue «Delito de Opinião», em 19 de Fevereiro de 2019, que destrói o AO90
«Certas luminárias contemporâneas que pretendem fazer ironia com as orthographias antigas da língua portuguesa -- aludindo por vezes a autores que publicaram há pouco mais de cem anos -- estão, no fundo, a produzir argumentos contra o "acordo ortográfico" e não a favor. Ao contrário do que supunham.
É incompreensível que um inglês leia Walter Scott, Charles Dickens ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac, Flaubert ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós ou Valle-Inclán e um norte-americano em relação a Herman Meville ou Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queiroz já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa -- somam-se quatro no último século -- constituem um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada em exclusivo à comunidade científica. Isto se ambicionássemos reproduzir os modelos implantados em nações com um índice de alfabetização muito mais sedimentado do que o nosso.
Cada mudança de regime, desde a queda da Monarquia, produziu pelo menos uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, muito pelo contrário.
Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias -- como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a mais recente, que separou famílias lexicais produzindo aberrações como "os egiptólogos que trabalham no Egito [sic] são quase todos egípcios" ou "a principal característica dos portugueses é terem um forte caráter [sic]".
Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós, impulsionada pela globalização em curso. Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator" [sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão.
Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" como o que Cavaco Silva pôs em marcha como primeiro-ministro, em 1990, e que José Sócrates, também como chefe do Governo, mandou aplicar nas escolas e repartições públicas, dezoito anos mais tarde. Ambos exorbitando dos seus poderes, ambos sem imaginarem que estariam a produzir novas legiões de analfabetos funcionais.»
Pedro Correia
Fonte:
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