Segunda-feira, 7 de Maio de 2018

A grande falácia dos acordistas

 

Num comentário algures, online, e como argumento de defesa do AO90, alguém que dá pelo nome de «a favor do acordo ortográfico»  escreveu o seguinte:

 

«Antes de mais, o português fala-se em Portugal e em mais sete países. Em Portugal estão apenas 4% dos falantes nativos de língua portuguesa... daqui a 50 anos seremos apenas 2% ou 3%. Acha justo querer obrigar 250 milhões de pessoas (só no Brasil são 204 milhões) a querer adotar (lê-se âdutár) a velha grafia portuguesa (a de 1945)? O acordo ortográfico não serviu para abrasileirarmos a nossa ortografia, tratou-se apenas de um esforço aproximativo... deixem-se de dramas!»

 

CONSTANÇA.jpg

 

Se não ouvesse mais umas coisas que eu gostaria de acrescentar, Constança Cunha e Sá teria dito tudo, e por aqui me ficava.

 

Mas é preciso desmascarar a petulante falácia dos acordistas.

 

Antes de mais, o Português, fala-se e escreve-se em Portugal.

 

Nos restantes sete países ditos lusófonos, em cinco deles (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) apenas uma minoria instruída fala e escreve Português, porque a esmagadora maioria do povo desses países fala os muitos dialectos locais. Num deles, Cabo Verde, a língua oficial já é o Crioulo Cabo-Verdiano, tendo o Português passado para língua estrangeira.

 

O Brasil é uma história à parte, que se distancia dos demais países, ditos lusófonos. No Brasil, fala-se e escreve-se  a Variante (= dialecto) Brasileira da Língua Portuguesa, uma vez que, tanto na fala como na escrita, o distanciamento do Português é demasiado evidente, de tal modo que já lhe deu o direito de ser dialecto, ou seja, a variante de uma língua própria de uma região, que se distanciou da sua matriz (o Português - tal como o dialecto português se distanciou da sua matriz latina e transformou-se em Língua Portuguesa). Tanto que, na grafia, como na acentuação e hifenização e entoação das palavras, pouco já resta da língua matriz. Por outro lado, no Brasil, já não se estuda Português e Literatura Portuguesa. Estuda-se tão-somente “Expressão e Comunicação”. E estão no seu pleno direito.

 

Portugal nunca obrigou nenhuma das suas ex-colónias a adoPtar a Língua Portuguesa como língua oficial, depois de se libertarem do país colonizador.

 

Portanto é uma grande mentira dizer «acha justo querer obrigar 250 milhões de pessoas (só no Brasil são 204 milhões) a querer adoPtar a velha grafia portuguesa (a de 1945)

 

Antes de mais: a grafia de 1945 não é a velha grafia, mas a ACTUAL grafia, a única grafia vigente em Portugal. A outra, a grafia acordista abrasileirada não está em vigor oficialmente, mas por mero servilismo dos seus utilizadores.

 

Esses 250 milhões de pessoas não são obrigados a nada. Quando muito poderá dizer-se que os tais 4% dos falantes e escreventes de Língua Portuguesa, referentes a Portugal, são obrigados à actual grafia portuguesa de 1945, porque é essa que está em vigor em Portugal. Os subservientes, esses, usam a grafia acordizada brasileira.

 

De resto, o resto é mentira. Os cinco países que adoPtam a Língua Portuguesa não mutilada, adoPtam-na de livre vontade, e não porque sejam obrigados. Ou não são esses países, países livres? E mais um pormenor: adoPtam a Língua Portuguesa desacordizada.

 

Por outro lado, dos 204 milhões de Brasileiros, a esmagadora maioria nem em Português, nem em dialecto: simplesmente não sabem escrever. E o que falam está a milhas do Português falado.

 

E isso até uma criança percebe: se esta ouve um brasileiro falar, ela diz logo que fala brasileiro. Em parte alguma do mundo se diz que os brasileiros falam Português. A diferença é de tal maneira percePtível que um estrangeiro chama-lhe brazilian language. Nada contra.

 

Portanto, injusto, injustíssimo, é um país livre, como Portugal (a não ser que não seja livre) subjugar-se à ortografia de uma ex-colónia.

 

Dizer que o acordo ortográfico não serviu para abrasileirarmos a nossa ortografia, tratou-se apenas de um esforço aproximativo... é outra monumental mentira.

 

O AO90 só serviu para abrasileirar a ortografia portuguesa. Só serviu para isso. Isto é um facto indesmentível. E disse bem o tal «a favor do acordo ortográfico» tratou-se (não se trata) tratou-se de um esforço aproximativo, sim, um esforço muito forçado pela ignorância, de aproximar algo inaproximável, é assim como querer aproximar o Sol da Lua, para ficarem juntinhos.

 

Qual o motivo desta fixação por Portugal, e não pelos restantes países lusófonos, que não são trazidos à baila?

 

Qual o drama? É que se Portugal (porque, já vimos, os restantes seis países estão-se nas tintas para o AO90) continuar a teimar nesta fraude, daqui por 50 anos seremos apenas 2% ou 3% a escrever e a falar mal, impropriamente, desadequadamente, vergonhosamente, uma língua que já não será o Português, porque este, entretanto, desaparecerá do mapa, tão certo como eu estar aqui a escrever isto, enquanto os outros sete países falarão e escreverão os seus dialectos que, entretanto, se transformarão nas Línguas Angolana, Moçambicana, Brasileira, São-tomense, Cabo-verdiana, Timorense, Guineense.

 

O Brasil já oPtou pela sua Variante (= dialecto). Nada contra. Assinaram as convenções de 1911 e 1945 e deitaram-nas ao lixo. Problema dos brasileiros. O falso AO90 serviu tão-só para impor ao mundo, dito lusófono, a ortografia brasileira. Isto é um facto indesmentível. Incontornável.

 

E há outro pormenor: a quantidade nunca foi bitola para amarfanhar a qualidade.

 

Mais vale poucos, mas bons falantes e escreventes da Língua Portuguesa, do que milhões a escrevê-la mutiladamente.

 

Além disso, o que aqui está em causa é algo muito mais obscuro do que um "esforço aproximativo", que todos sabemos ser inviável. Jamais haverá unificação ortográfica entre os países lusógrafos. Jamais. E isto é um dado adquirido, e nem sequer nisso há o mínimo interesse. Até porque no Brasil, os brasileiros continuarão a introduzir fatos na conversa, e nós introduziremos factos… a não ser que… Eis a questão.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:12

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Sábado, 3 de Fevereiro de 2018

Uma unificação ortográfica muito original

 

A ortografia que os governantes portugueses andam a impingir a Portugal, regra geral, é a ortografia brasileira. Mas toda a regra tem a sua excePção, não é verdade?

 

«O que antes se escrevia da mesma forma em Portugal, no Brasil e nos demais países lusófonos, escreve-se agora de forma diferente apenas em Portugal. À excepção de Cabo Verde, nenhum outro PALOP (nem Timor) aplica na prática o Acordo Ortográfico. Orgulhosamente sós?»  (Tradutores Contra o AO90).

 

Não. Eu diria «orgulhosamente muito imbecis

Isabel A. Ferreira

 

UNIFICACAO.png

 

Fonte:

https://www.facebook.com/TradutoresContraAO90/photos/a.645118928923112.1073741834.199515723483437/596411830460489/?type=3&theater

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:18

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Sexta-feira, 2 de Fevereiro de 2018

«A Língua Brasileira»

 

Num “passeio” pela Internet, encontrei este precioso texto, que só vem dar força ao que tenho muitas vezes pugnado, por conhecer bem a realidade da relação Brasil/Portugal: no Brasil a língua que se fala e escreve é considerada brasileira (e não sou eu que o digo, por enquanto diria dialecto brasileiro, que naturalmente evoluirá para Língua), por isso, há que pôr os pontos em todos os is.

 

 Concordo plenamente com o que a Eni P. Orlandi defende no texto que aqui reproduzo.

 

Portanto, que cada país fique com a sua língua: o Brasil com o (Dialecto ou Variante, como lhe quiserem chamar) Brasileiro, e Portugal com a Língua Portuguesa, que originou todas as   variantes da dita lusofoniae deixemo-nos desta mania de querer unificar dois modos de falar e de escrever que correm paralelamente  e jamais se encontrarão, jamais se unificarão através dessa coisa chamada AO90, ou de outra coisa qualquer, que em vez de unir, desune, é uma trapalhada, não acrescenta mais-valia nenhuma (muito pelo contrário) ao dialecto é à língua, e é um ponto de desacordo, de desunião entre todos os países ditos lusófonos.

 

Insistir no AO90 é insistir na estupidez.

Espero que este texto abra os olhos a quem os quer manter fechados, por teimosia, por ignorância ou por motivos mais obscuros…

 

ACORDEM, Portugueses!!!!! Porque os Brasileitros já acordaram!

 

 

Língua Brasileira.jpg

 

«A LÍNGUA BRASILEIRA» 

Texto de Eni P. Orlandi

(Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi é uma pesquisadora e professora universitária brasileira. Foi a introdutora, no final dos anos 70, da análise do discurso no Brasil).

(Os excertos a negrito são da autoria da autora deste Blogue).

 

INTRODUÇÃO

 

«A questão da língua que se fala, a necessidade de nomeá-la, é uma questão necessária e que se coloca impreterivelmente aos sujeitos de uma dada sociedade de uma dada nação. Porque a questão da língua que se fala toca os sujeitos em sua autonomia, em sua identidade, em sua autodeterminação. E assim é com a língua que falamos: falamos a língua portuguesa ou a língua brasileira? (1)

 

Esta é uma questão que se coloca desde os princípios da colonização no Brasil, mas que adquire uma força e um sentido especiais ao longo do século XIX. Durante todo o tempo, naquele período, o imaginário da língua oscilou entre a autonomia e o legado de Portugal.

 

De um lado, o Visconde de Pedra Branca, Varnhagen, Paranhos da Silva e os românticos como Gonçalves Dias, José de Alencar, alinhavam-se entre os que defendiam nossa autonomia propugnando por uma língua nossa, a língua brasileira. De outro, os gramáticos e eruditos consideravam que só podíamos falar uma língua, a língua portuguesa, sendo o resto apenas brasileirismos, tupinismos, escolhos ao lado da língua verdadeira. Temos assim, em termos de uma língua imaginária, uma língua padrão, apagando-se, silenciando-se o que era mais nosso e que não seguia os padrões: nossa língua brasileira. Assim nos contam B. S. Mariani e T. C. de Souza (Organon 21, Questões de Lusofonia) que, em 1823, por ocasião da Assembléia  [em Portugal continuará a escrever-se Assembleia] Constituinte, tínhamos pelo menos três formações discursivas: a dos que propugnavam por uma língua brasileira, a dos que se alinhavam do lado de uma língua (padrão) portuguesa e a formação discursiva jurídica, que, professando a lei, decidia pela língua legitimada, a língua portuguesa. Embora no início do século XIX muito se tenha falado da língua brasileira, como a Constituição não foi votada, mas outorgada por D. Pedro, em 1823, decidiu-se que a língua que falamos é a língua portuguesa. E os efeitos desse jogo político, que nos acompanha desde a aurora do Brasil, nos faz oscilar sempre entre uma língua outorgada, legado de Portugal, intocável, e uma língua nossa, que falamos em nosso dia-a-dia, a língua brasileira. É assim que distingo entre língua fluida (o brasileiro) e a língua imaginária (o português), cuja tensão não pára (em Portugal, com o AO90 retirou-se o acento e escreve-se para, a preposição) de produzir os seus efeitos.

 

Assim é que, em 1826, o projeto [em Português escreve-se projeCto, com ,  tal como nas restantes línguas indo-europeias] apresentado ao parlamento brasileiro pelo deputado José Clemente propõe que os diplomas dos médicos seja redigido [em Portugal escrevemos sejam] em "linguagem brasileira". Em 1827 temos a aprovação de lei que estabelece que os professores deveriam ensinar a gramática da língua nacional. Nem português, nem brasileiro, estrategicamente, nomeamos de língua nacional. Em 1870, procurando argumentar sobre a língua que falamos, temos a polêmica [em Portugal continuaremos a escrever polémica] entre o romancista brasileiro José de Alencar e o português Pinheiro Chagas, um falando de nossas diferenças e autonomia, o outro, sobre o legado que recebemos de Portugal, a língua portuguesa. Essas referências podem ser encontradas em um quadro apresentado no início do livro História da semântica (2004) de Eduardo Guimarães, entre outros. Já no século XX, na década de 1930 há uma discussão na Câmara do Distrito Federal sobre o nome da língua do Brasil: língua portuguesa ou brasileira? Novamente se decide pelo indefinido: falamos a língua nacional. Sobre essa discussão pode-se consultar o livro (tese) de Luis Francisco Dias (1996), que conclui que, na perspectiva daqueles que se posicionaram contrários aos projetos [em Português, projeCtos] de mudança do nome da língua falada no Brasil, o nome língua brasileira é percebido como algo que viria desestabilizar um eixo social que tem nos percursos da escrita, sob os auspícios da língua portuguesa, o seu suporte, a sua referência, e, na perspectiva [com o AO90, em Portugal passou a escrever-se "perspetiva" um mono ortográfico que se lê "p'rsp'tivâ"] daqueles que defendem os projetos [em Português, projeCtos] de mudança do nome de nosso idioma, língua brasileira tem a sua referência constituída a partir de uma imagem romântica do país, imagem fundada no positivismo e no ufanismo que, ao longo da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX marcaram nossa história. Finalmente, assim como D. Pedro outorgou uma Constituição em 1823, também em 1946, a comissão encarregada pelo governo brasileiro, em atendimento ao estabelecido pela Constituição de 1946, decide que o nome da língua falada no Brasil é língua portuguesa (2).

 

Esta questão, no entanto, não deixa de nos importunar, e há sempre alguma razão, um pretexto, ou alguém que a levanta em momentos diferentes de nossa história. Isso quer dizer que até hoje não decidimos se falamos português ou brasileiro. Embora a cultura escolar se queira, muitas vezes, esclarecedora em sua racionalidade e moderna em sua abertura, acaba sempre se curvando à legitimidade da língua portuguesa que herdamos [em Português escreve-se e pronuncia-se herdámos] e, segundo dizem, adaptamos [em Português, adaptámosàs nossas conveniências, mas que permanece em sua forma dominante inalterada, intocada [melhor dizer destituída das necessárias consoantes mudas]: a língua portuguesa. E quem não a fala, ainda que esteja no Brasil, que seja brasileiro, erra, é um mal falante, um marginal da língua.

 

É, pois, impressionante como a ideologia da língua pura, a verdadeira, faz manter o imaginário da língua portuguesa.

 

A QUESTÃO DE FATO

[Em Portugal continuará a ser de faCto, na pronúncia e na escrita, porque não vestimos acontecimentos = aCtos, e muito menos comefeitonaverdade = efeCtivamente].

 

No entanto, podemos ver isto mais de perto e tomamos como medida a língua que falamos em seu aspecto [em Portugal, com o AO90, escrevem "aspeto", que se lê "âspêto"] histórico, social, cultural.

 

Desde o princípio da colonização, instala-se um acontecimento lingüístico [em Portugal escreve-se linguístico, sem trema] de grande importância no Brasil: o que constitui a língua brasileira.

 

Ao mesmo tempo em que aqui desembarca, a língua portuguesa, ao deslocar-se de Portugal para o país nascente – o Brasil – institui um movimento de memória, deslizamentos lingüísticos [linguísticos, em Portugal] por meio dos quais uma outra língua – a brasileira – faz-se presente.

 

O novo espaço de comunicação resiste com sua materialidade à língua que chega com os portugueses em sua memória já falada, já dita. Desdobram-se, transmudam-se os modos de dizer.

 

A relação palavra/coisa faz ruído, relação não coincidente entre si e nem perfeitamente ajustada. Outras formas vão estabelecer-se fazendo intervir, e ao mesmo tempo constituindo, a memória local.

 

Retomo aqui os movimentos da enunciação que já tive a oportunidade de expor (1998): em um primeiro momento – situação enunciativa I – a partir de sua memória, o colonizador português reconhece as coisas, os seres, os acontecimentos e os nomeia. Mas ele o faz, transportando elementos de sua memória lingüística [linguística, sem trema, em Portugal]. Há um investimento na relação palavra/coisa, a questão incidindo sobre o referente: na presença de um nome, estamos diante da mesma coisa (a do Brasil e a de Portugal)? Como estamos no Brasil, há um deslocamento (transporte) que força contornos enunciativos diferenciados.

 

Essa diferença se torna cada vez mais uma diferença de línguas (relação palavra/palavra, e não da palavra com a coisa). Daí resulta todo um trabalho sobre a língua, de classificação, organização, definições em listas de palavras, dicionários. O português, assim transportado, acaba por estabelecer em seu próprio sítio de enunciação outra relação palavra/coisa, cuja ambivalência pode ser lida nas remissões: no Brasil, em Portugal. Tem início, então, a produção de um espaço de interpretação com deslizamentos, efeitos metafóricos que historicizam [em Portugal, o termo utilizado é historiam, de historiar] a língua. Produzem-se transferências, deslizamentos de memória, metáforas, pois estamos diante de materialidades discursivas que produzem efeitos de sentidos diferentes. Configura-se uma nova situação enunciativa – situação enunciativa II. As palavras, estas, já recobrem outra realidade.

 

A língua praticada nesse outro regime enunciativo realiza, deste lado do Atlântico, a relação unidade/variedade: a unidade já não refere o português do Brasil ao de Portugal, mas à unidade e às variedades existentes no Brasil. E a unidade do português do Brasil, referido a seu funcionamento historicamente determinado, é marca de sua singularidade. Há um giro no regime de universalidade da língua portuguesa que passa a ter sua própria referência no Brasil. A variação não tem como referência Portugal, mas a diversidade concreta produzida no Brasil, na convivência de povos de línguas diferentes (línguas indígenas, africanas, de imigração etc).

 

Nessa perspectiva, [em Portugal, com o AO90, escrevem "perspetiva", lê-se "p'rsp'tiva"então, falamos decididamente a língua brasileira, pois é isto que atesta a materialidade lingüístico-histórica. Se, empiricamente, podemos dizer que as diferenças são algumas, de sotaque, de contornos sintáticos [em Português sintáCticos, como em qualquer outera língua indo-europeia] de uma lista lexical, no entanto, do ponto de vista discursivo, no modo como a língua se historiciza [em Portugal, historiaas diferenças são incomensuráveis: falamos diferente, produzimos diferentes discursividades.

 

HETEROGENEIDADE LINGÜÍSTICA

 

Authier (1987) estabelece o conceito de heterogeneidade enunciativa para descrever o fato [em Português, faCto] de linguagem que consiste em que todo dizer tem necessariamente em si a presença do outro. Aproveito o impulso desse conceito, embora ele ganhe em nosso uso outras determinações, para falar em heterogeneidade lingüística toda vez que, no campo dos países colonizados, temos línguas como o português, ou o espanhol, na América Latina, que funcionam em uma identidade que chamaria dupla. Estamos diante de línguas que são consideradas as mesmas – as que se falam na América Latina e na Europa – porém que se marcam por se historicizarem [historiarem, em Portugal]de maneiras totalmente distintas em suas relações com a história de formação dos países. É o caso do português do Brasil e o de Portugal. Falamos a "mesma" língua, mas falamos diferente. Consideramos, pois, a heterogeneidade  lingüística [linguística, sem trema, em Portugal] no sentido de que joga em nossa língua um fundo falso em que o "mesmo" abriga, no entanto, um "outro", um diferente histórico que o constitui ainda que na aparência do "mesmo": o português brasileiro e o português português se recobrem como se fossem a mesma língua mas não são. Produzem discursos distintos, significam diferentemente. Discursivamente é possível se vislumbrar esse jogo, pelo qual no mesmo lugar há uma presença dupla, de pelo menos dois discursos distintos, efeitos de uma clivagem de duas histórias na relação com a língua portuguesa: a de Portugal e a do Brasil. Ao falarmos o português, nós, brasileiros, estamos sempre nesse ponto de disjunção obrigada: nossa língua significa em uma filiação de memória heterogênea [em Portugal continuar-se-á a dizer e a escrever heterogénea, apesar do AO90]. Essas línguas, o português e o brasileiro, filiam-se a discursividades distintas. O efeito de homogeneidade é o efeito produzido pela história da colonização.

 

Quando, mais acima, falei da disjunção obrigada referia-me a uma certa indistinção, mas também à polissemia. Há uma composição de sentidos em nossa memória lingüística que funcionam, simultaneamente, em movimentos simbólicos distintos, quando falamos a língua brasileira. Isto significa que há uma marca de distinção na materialidade histórica desses sistemas simbólicos que carrega a língua brasileira dessa composição de sentidos. Eis a duplicidade, a heterogeneidade, a polissemia no próprio exercício da língua: o português e o brasileiro não têm o mesmo sentido. São línguas materialmente diferentes.

 

Dados esse fatos  [faCtos, em Português, como nas restantes línguas românicas, greco-latinas], a história da identidade da língua nacional se alongará por meio de acontecimentos múltiplos, como acordos, fundação de academias, regulamentos escolares, constituintes e outros. É essa história que começamos a conhecer, e este artigo é apenas um pequeno passo em direção [em Português, direCção, como em todas as línguas indo-europeias] a esta forma de conhecimento que é também uma tomada de posição face ao conhecimento da língua e da constituição da língua nacional no Brasil. Considerações acerca da língua materna, do idioma pátrio, da língua nacional são outras tantas que nos levam a novas reflexões igualmente esclarecedoras a respeito da língua nacional que falamos no Brasil e do modo como a nomeamos.»

 

Eni P. Orlandi é professora titular de análise de discurso do Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem(IEL); coordenadora do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) da Unicamp; e pesquisadora 1A do CNPq.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Estes aspectos estão mais desenvolvidos em Orlandi (2002).
  2. Uma análise do texto do parecer da comissão encarregada de decidir sobre o nome da língua está em Guimarães (2000)

BIBLIOGRAFIA CITADA

Auroux, S, Orlandi, E. e Mazière F. "L'hyperlangue brésilienne", in Langages, 130, Paris, Larousse. 1998.

Authier, J. "Hétérogénéités énonciatives" in Langages, Paris, Larousse. 1987.

Dias, L. F. Os sentidos do idioma nacional, Campinas, Pontes. 1996.

Guimarães, E. "Línguas de civilização e línguas de cultura. A língua nacional do Brasil". In Barros, D.L.P. Os discursos do descobrimento. São Paulo, Edusp/Fapesp. 2000.

Guimarães, E.R.J. História da semântica, Campinas, Pontes. 2003.

Mariani, B. e Souza, T. C.C. de "Questões de lusofonia", Organon, 21, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2000.

Orlandi, E. P. Língua e conhecimento lingüístico. São Paulo, Cortez. 2002.

 

Fonte:

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200016&script=sci_arttext

 

Ver também da mesma autora:

«Reflexões sobre a história da "Língua Brasileira"»

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/reflexoes-sobre-a-historia-da-lingua-137008

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:45

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Terça-feira, 21 de Novembro de 2017

«Ainda o Acordo Ortográfico»

 

IGNORÂNCIA.jpg

 

Recebi, via-email, o texto «Ainda o Acordo Ortográfico», que pode ser consultado, na íntegra, neste link

https://decaedela.blogspot.pt/2017/04/aindao-acordo-ortografico-recentemente.html?showComment=1502147188210#c4634909202976327295

«Recentemente, a Associação Portuguesa de Escritores realizou um inquérito destinado a conhecer as posições dos seus associados sobre o Acordo Ortográfico. 86,7 por cento dos inquiridos pronunciaram-se contra. Eu votei com a minoria. Sou um democrata e respeito a votação, mas não fiquei convencido.

 

Nós não somos donos da língua portuguesa. Criámo-la, mas constituímos atualmente uma minoria das pessoas que a falam. É um dos nossos maiores legados para a cultura universal. Existem cerca de 225 milhões de lusófonos. Em Portugal, somos apenas dez milhões. Fiz a conta. Dá 4,4 por cento. Podem, naturalmente, ser feitas outros cálculos. A verdade é que, excetuando o Brasil, uma parte não contada, mas significativa, da população desses países desconhece a nossa língua. Os agricultores do interior de Angola e Moçambique continuam a comunicar nos dialetos gentílicos. Nessas paragens, o domínio do Português é um privilégio das elites.


O processo que conduziu ao Acordo Ortográfico foi complexo, moroso e muitas vezes interrompido.

 

A obra notável de Gonçalves Viana “Ortografia Nacional”, publicada em 1904, foi pouco contestada e esteve na base da reforma oficializada em 1920 pelo governo da República Portuguesa. Teve como consequência um cisma ortográfico: Portugal adotou uma ortografia simplificada, enquanto o Brasil manteve o modo antigo de escrever.

 

Entre 1931 e 1943, a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras mantiveram contactos e negociações que permitiram que, em 1943, fosse assinada uma Convenção Ortográfica entre Portugal e o Brasil. A tentativa de acordo não vingou.

 

Ao longo da década de 70, foram sendo dados novos passos de aproximação. Em 1986, no Rio de Janeiro, foi assinado por representantes de todos os países de língua oficial portuguesa um novo ajuste que, depois de aperfeiçoado, viria a ser oficializado. Era o Acordo Ortográfico de 1990, que seria ratificado pela Assembleia da República Portuguesa em 2008, numa versão intitulada “Segundo Protocolo Modificativo”. Tem sido contestado, pelo menos, em Portugal, Angola e Brasil.

 

Na discussão deste tema, julgo que deverão ser ponderadas primeiro a necessidade e a oportunidade e, depois, os custos de uma eventual alteração. Será também conveniente perspetivar, na medida do possível, as alterações que o futuro nos trará.

 

Comecemos pela necessidade. Se olharmos para os lados, encontraremos indicações que vão em sentidos opostos. Os nossos vizinhos espanhóis acordaram, com os países sul-americanos que em tempos colonizaram, uma forma única de escrita que pouco interfere na conhecida autonomia das pronúncias. Ao contrário, os ingleses nunca procuraram estabelecer normas internacionais de ortografia, apesar de existirem variantes consideráveis nos diversos países anglófonos. O árabe e o francês, que são também das línguas mais faladas do mundo, nunca precisaram de acordos ortográficos para serem reconhecidas internacionalmente, embora contem com muitos cambiantes.

 

As línguas são vivas e tendem a diversificar-se. Acho preferível haver um acordo, mesmo que não seja perfeito, do que deixar a língua à solta, sem nenhum mecanismo que procure regulá-la. Não sou linguista, mas para falar de política de defesa nacional não é preciso ser militar, e para opinar sobre saúde não é indispensável ser médico ou enfermeiro. Acredito na utilidade dum instrumento regulador. A meu ver, boa parte das alterações propostas vem apenas apressar uma evolução que iria ter naturalmente o mesmo resultado, anos mais tarde.

 

Os peritos dos oito países lusófonos decidiram valorizar a pronúncia em detrimento da etimologia. A questão do Acordo divide os portugueses, bem mais do que seria de esperar dum assunto técnico. Os puristas encontram argumentos na raiz latina ou grega de muitos dos nossos vocábulos. Acham que a correção da linguagem deve passar pelo respeito escrupuloso das regras gramaticais vigentes. Outros pensam que a escrita deve acompanhar de perto a evolução verbal. As novas expressões orais que se vão popularizando terão tanta legitimidade como as antigas. Considero que qualquer acordo deveria harmonizar as duas tendências.

 

Passemos à oportunidade. Pessoalmente, penso que era tempo de reformular a nossa ortografia. Julgo que este processo nasceu de forma errada. Teria sido mais fácil começar a revisão dentro de portas.

 

Antes de se chegar a um acordo internacional, o problema deveria ter sido discutido até se alcançar um consenso nacional. O latim está na origem da maioria dos nossos vocábulos, mas não gostaria que nos tentassem obrigar a todos a falar latim ou grego.

 

O Acordo espevitou os nacionalismos. Portugal é um Estado independente há quase novecentos anos e a língua faz parte da sua identidade nacional. No entanto, há muito que a partilhámos com outros. Tenho orgulho nisso.

 

 Há quem pense, de forma mais ou menos consciente: “primeiro, tiraram-nos as colónias; agora, querem roubar-nos a língua!”

 

Ninguém nos rouba nada. A língua portuguesa é tanto deles como nossa.

Existe ainda quem considere que o Acordo Ortográfico é um instrumento da política geoestratégica do Brasil.  

Falemos agora dos custos de um voltar atrás que continuo a esperar que possa ser evitado. Existem factos consumados. A partir do ano letivo 2011-2012, as nossas crianças começaram a aprender a nova grafia. Se os pais e os avós quiserem ajudá-los nos trabalhos de Língua Portuguesa, terão de conhecer e respeitar o seu modo de escrever. Mudar as regras a meio da aprendizagem implicaria lançar a confusão numa geração inteira de miúdos.

 

O Acordo Ortográfico modificou a grafia de uma minoria de palavras (1,6% em Portugal e 0,5% no Brasil). Para os brasileiros, as diferenças maiores assentam no uso do hífen e na acentuação dos ditongos.

 

Para nós, a modificação mais importante reside no abandono das consoantes mudas. Aceito que tais consoantes que, segundo os puristas, diferenciam as palavras homófonas e respeitam a etimologia, são dispensáveis. Secundariamente, desaparece o hífen em algumas conjugações do verbo haver e modifica-se a acentuação de diversos vocábulos.

 

Um dos obstáculos à implementação de mudanças foi sempre a inércia. As pessoas têm receio do esforço necessário para modificar os comportamentos. Desta vez, a tecnologia favoreceu as alterações. Os corretores de texto adotam instantaneamente a grafia antiga à nova, simplificando o processo de transição.

 

Ainda bem que não escrevemos com carateres chineses… O caminho deles vai ser bem mais árduo que o nosso. No entanto, o processo de simplificação ortográfica do mandarim já começou. Nos teclados dos computadores chineses, o mesmo caráter assume vários significados, dependendo do contexto em que é inserido.

 

A meu ver, a revisão da ortografia da nossa língua poderia ter ido mais além. De que servem os “h” no início das palavras?

 

Julgo que, em Portugal, nunca se escreveu tanto, nem tão bem. Tal não admira, dada a elevada prevalência de analfabetismo no nosso país, no passado. Há, contudo, um fenómeno a que deverá dar mais atenção: a generalização do uso dos telemóveis conduziu já à criação de uma grafia própria e simplificada.


As comunicações entre os jovens fazem-se, sobretudo, por mensagens SMS (“Short Message Service” ou, em português “Serviço de Mensagens Curtas”. Atrevo-me a presumir que, hoje em dia, se escreve muito mais ao telemóvel do que ao computador ou à mão.

 

Entre os que os que comunicam dessa forma, o uso do “k” generalizou-se para substituir o “qu”, quando o “u” não se pronuncia, embora haja também quem use o “q” simples. Foi o que o “f” fez ao “ph”, cerca de um século atrás. Por outro lado, o “ch” é quase universalmente substituído pelo “x”. Mais tarde ou mais cedo, este fenómeno terá repercussão na escrita oficial. Os puristas da grafia que se cuidem…

 

Modernamente, existem mecanismos poderosos de regulação da linguagem que não precisam de ser acordados. De início, foram apenas os livros. Apareceu, depois, a rádio e, agora, é principalmente a televisão. Tanto o modo de falar dos locutores como a dicção dos personagens das telenovelas irão ter uma repercussão determinante. A pronúncia é também uma questão de moda.

 

Se o nosso governo pretender conservar no mundo lusófono o modo nacional de falar e escrever, não precisa de se preocupar demasiado com tratados internacionais. Deve criar prémios literários dirigidos aos escritores dos PALOP, investir em bolsas de estudos para os jovens jornalistas mais prometedores, e incentivar a produção conjunta de telenovelas, como se tem já feito com Angola.

 

Publicada por Antonio Trabulo à(s) 11:13 

***

Eis a minha resposta:

 

Pois bem, este é um texto burlão, de alguém que tem interesses obscuros, e pertence a uma minoria, conforme ele próprio diz; não tem conhecimento básico da Língua Portuguesa, nem do mecanismo das Línguas. De qualquer Língua.

 

Só o modo como ilustra o texto diz da sua crassa ignorância sobre a História e a Evolução da Língua Portuguesa.

 

Os ignorantes procuram sempre o caminho mais fácil para fazer as coisas. A minoria acordista pretende simplificar a ortografia e mutila-a, por incapacidade de aprender a ortografia portuguesa íntegra, como qualquer criança inglesa, francesa, alemã ou castelhana aprende, no que respeita ao Inglês, Francês, Alemão ou Castelhano.

 

O autor do texto mistura alhos com bugalhos. Mete os pés pelas mãos. Não tem a mínima noção do que está a dizer. Apresenta argumentos falaciosos e um discurso nitidamente encomendado.

 

Em relação aos outros países ex-colonizadores, que nunca fizeram, nem tiveram necessidade de fazer “acordos” com as ex-colónias, nem nunca se vergaram a elas, em sentido algum, o autor é de uma colossal ingenuidade.

 

O autor não sabe o que é uma Língua culta. Não sabe o que é uma língua viva. Não sabe o que é uma língua estruturada. Não sabe que uma Língua não pode andar por aí à balda, ao sabor dos interesses de mercenários ignorantes, e também ao sabor de como se fala, porque seria, aliás, como é, uma rebaldaria, porque o modo de falar varia tanto, que teríamos uma babel ortográfica, aliás, como já temos, absolutamente única no mundo.

 

O autor disse que nós não somos os donos da Língua Portuguesa. Não somos nós, nem ninguém, para que venham agora mandar-nos escrever a NOSSA Língua à maneira dos brasileiros. Herdámos uma Língua Culta e bem estruturada, e é nosso dever defendê-la.

 

O autor do texto apresenta números, como se os números tivessem alguma importância. A mim, não me interessa que mais de 200 milhões de pessoas escrevam incorreCtamente o Português. A mim interessa-me que os dez milhões de Portugueses, esta minoria europeia, escreva correCtamente a Língua Oficial de Portugal. Os néctares sempre se guardaram em pequenos frascos. O que interessa é a qualidade da escrita, não a quantidade de pessoas que a escrevem incorreCtamente.

 

Diz o autor do texto que «O processo que conduziu ao Acordo Ortográfico foi complexo, moroso e muitas vezes interrompido».

 

Mentira.

 

O acordo ortográfico de 1990 não existe. É uma fraude. O que existe é uma ortografia brasileira, que está em vigor desde 1943, e que uma minoria pretende impingir-nos como um "acordo" dos países lusófonos, ao qual apenas Portugal, servilmente, aderiu. Porque os restantes países estão-se nas tintas para este mal-amanhado AO90.

 

E o autor diz mais: «Entre 1931 e 1943, a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras mantiveram contactos e negociações que permitiram que, em 1943, fosse assinada uma Convenção Ortográfica entre Portugal e o Brasil. A tentativa de acordo não vingou».

 

Ora sejamos honestos. A convenção de 1945 foi assinada entre o Brasil e Portugal, mas o Brasil, esteve-se nas tintas para Portugal, rasgou essa papelada e continuou a escrever conforme a ortografia que adoptou em 1943, e Portugal seguiu em frente com a ortografia que ainda hoje é a ortografia oficial de Portugal, ou seja, a gerada nessa convenção assinada em 1945, e que o Brasil decidiu assinar, mas não cumprir. Porquê agora Portugal tem de se vergar a essa ortografia brasileira, a que convencionaram chamar AO90, para disfarçar?

 

Na discussão deste tema, o autor julga que deverão ser ponderadas primeiro a necessidade e a oportunidade e, depois, os custos de uma eventual alteração.

 

Primeiro, é urgente, necessário e oportuno acabar de uma vez por todas com a mixordice em que se transformou a Língua Portuguesa, e depois, o que aqui está em causa não são os custos da devolução da Língua Portuguesa a Portugal (assim é que é), porque quem lucrou com esta vergonhosa negociata deve ser julgado pelos crimes de linguicídio e de lesa-pátria, e pagar a factura advinda desses crimes. O que aqui está em causa é o absurdo deste servilismo.

 

Mais adiante o autor do texto diz esta coisa brilhante: «As línguas são vivas e tendem a diversificar-se. Acho preferível haver um acordo, mesmo que não seja perfeito, do que deixar a língua à solta, sem nenhum mecanismo que procure regulá-la. Não sou linguista, mas para falar de política de defesa nacional não é preciso ser militar…»

 

Que não é linguista, já se viu, através dos disparates que escreveu. E para se falar de política de defesa nacional até pode ser que não seja preciso ser militar, mas uma coisa é precisa: saber o mínimo daquilo que se está a falar, para não cozinhar uma caldeirada de disparates, como aqui foi cozinhada, e dizer que um caça russo atracou no cais do Sodré.

 

Prosseguindo o autor diz: «Os peritos dos oito países lusófonos decidiram valorizar a pronúncia em detrimento da etimologia». Que peritos dos oito países? Se só dois imperitos Evanildo Bechara e Malaca Casteleiro, e dois países, Brasil e Portugal, andaram a engendrar um modo de impingir aos outros seis países lusófonos, a ortografia brasileira, que eu aprendi, no Brasil, na escola primária? E desses países apenas Cabo Verde cedeu, numa primeira fase, mas logo pôs o Português para segundo plano, considerando-o língua estrangeira, e deu prioridade ao Crioulo Cabo-verdiano, no que fez muito bem.

 

Em todo este processo, nunca existiu nenhum “acordo internacional”, e a imposição a Portugal da ortografia brasileira, disfarçada de acordo, é obviamente ilegal e inconstitucional, uma ilegalidade e uma inconstitucionalidade a que o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, dá cobertura.

 

E o autor prossegue, tentando, falaciosamente, virar o bico ao prego. Diz ele: «Falemos agora dos custos de um voltar atrás que continuo a esperar que possa ser evitado. Existem factos consumados. A partir do ano letivo (lê-se l’tivo) 2011-2012, as nossas crianças começaram a aprender a nova grafia. Se os pais e os avós quiserem ajudá-los nos trabalhos de Língua Portuguesa, terão de conhecer e respeitar o seu modo de escrever. Mudar as regras a meio da aprendizagem implicaria lançar a confusão numa geração inteira de miúdos».

 

Que grande bojarda!

 

Primeiro, não existem factos consumados. Na verdade, as crianças não aprenderam a nova grafia (a grafia é nova em Portugal, mas muito velha no Brasil), o que aconteceu foi que no ano leCtivo de 2011/2012 elas começaram a desaprender a escrever a sua Língua Materna. Assim é que é. Os pais e os avós jamais terão de “respeitar” algo que as próprias crianças já estão a rejeitar, porque escrevem correCtamente director em Inglês, e incorreCtamente diretor (que pronunciam e muito bem dir’tor) em Português. Por alma de quem?

 

Segundo, as crianças têm uma capacidade infinita de aprender e desaprender tudo e mais alguma coisa. Assim como aprenderam a escrever mal, mais depressa aprenderão a escrever bem a sua própria Língua, ainda mais se estão a aprender também Inglês, ou Francês, ou Castelhano. Aprender o Português integral é muito mais fácil, pois se elas têm capacidade de escrever, por exemplo, “thought”, em Inglês, mais facilmente aprenderão a escrever director, actor, baptizado, factura, objecto, activa, acção… etc.. se tantas gerações antes desta conseguiram, porque não a actual? As crianças de hoje serão mais estúpidas do que as de antanho? Ou esta minoria acordista medirá a inteligência das crianças pela incapacidade deles próprios escreverem as consoantes mudas?

 

E confusas andam já as crianças com este mixordês que estão a impingir-lhes, e até já se questionam a este respeito. É que elas não são parvas.

 

E se eu, que apreendi a ler e a escrever no Brasil, nesta ortografia que agora nos querem impingir, e tive de a desaprender quando vim para Portugal, e tornei a aprender quando fui novamente para o Brasil, e tornei a desaprender quando regressei ao meu País, durante a minha infância, adolescência e juventude, e consegui, porque não as nossas crianças?

 

E não me venha dizer que o «Acordo Ortográfico modificou a grafia de uma minoria de palavras (1,6% em Portugal e 0,5% no Brasil). Para os brasileiros, as diferenças maiores assentam no uso do hífen e na acentuação dos ditongos».

 

Todas, ou quase todas (pois os brasileiros pronunciam umas poucas consoantes que nós não pronunciamos) as palavras às quais retiraram as consoantes mudas, fazem parte da ortografia brasileira, assente na italianização dessas palavras. Com este falso “acordo” os Brasileiros não têm de aprender nada, a não ser suprimir acentos e hífens, onde eles são necessários, o que eles se recusam a fazer, e fazem muito bem.

 

É que a Língua Portuguesa não é nossa, mas também não é dos Brasileiros ou dos outros países lusófonos. A Língua Portuguesa é simplesmente de quem a DEFENDE, na sua integridade e na sua raiz europeia, e não de quem a destrói e a descaracteriza.

 

Para finalizar pasmemo-nos.

 

Diz o autor do texto em causa: «Modernamente, existem mecanismos poderosos de regulação da linguagem que não precisam de ser acordados. De início, foram apenas os livros. Apareceu, depois, a rádio e, agora, é principalmente a televisão. Tanto o modo de falar dos locutores como a dicção dos personagens das telenovelas irão ter uma repercussão determinante. A pronúncia é também uma questão de moda».

 

Pois… as novelas! Foram o começo da colonização de Portugal pelo Brasil.

 

Esperemos que haja lucidez, e que o Presidente da República Portuguesa reponha a legalidade e a constitucionalidade, exigindo ao governo de António Costa que devolva a Portugal a Língua Portuguesa.

 

Isabel A. Ferreira

***

Comentário:

AFMata 7 de agosto de 2017 às 16:06 

Isto “não é uma questão de opinião, mas sim um problema jurídico” e que o processo ficou pela fase da ratificação, o que não chega para pôr um acordo em vigor.
O acordo (o aborto) “nunca reuniu unanimidade dos países de expressão portuguesa, nunca esteve em condições, nem está, de poder entrar em vigor, porque Angola e Moçambique e também a Guiné-Bissau, não o ratificaram, nem o ratificam. Se pretendessem fazê-lo já o teriam feito há bastante tempo, por isso este acordo que não é acordo nenhum, apenas um aborto, é manifestamente inconstitucional, apoiado numa resolução do conselho de ministros, imposto à viva força a todas as instituições do Estado, incluindo a Educação, à revelia dos Estados de expressão portuguesa como acima se refere, a não confirmação autêntica do que foi prometido, a não validação ou comprovação do seu conteúdo) !

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:24

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Segunda-feira, 6 de Novembro de 2017

QUEREM SABER PARA QUE SERVIU EXACTAMENTE O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990?

 

BECHARA.png

Origem da imagem: https://www.facebook.com/TradutoresContraAO90/photos/a.645118928923112.1073741834.199515723483437/712556525512685/?type=3&theater&ifg=1

 

O acordo ortográfico de 1990 serviu exactamente para testar o servilismo do governo português, como também para testar o servilismo do povo português que, felizmente, maioritariamente (exceptuando (ainda) os milhares de analfabetos existentes em Portugal e que nada sabem do acordo ortográfico) diz, aliás, grita um rotundo não a esta tentativa de colonizar Portugal através da ortografia brasileira.

 

Resta uma minoria no poder e outra minoria subserviente ao poder, que se vergaram a um acordo com o qual nem o Senhor Evanildo Bechara, um dos promotores desta coisa absurda que foi impingir aos Portugueses a ortografia brasileira, concorda.

 

Então de que está à espera o senhor presidente da República Portuguesa para cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa?

 

É que já vários juristas se pronunciaram publicamente (se bem que muito discretamente para o meu gosto), a este respeito, e todos eles são unânimes quanto à ilegalidade da imposição deste acordo a Portugal.

 

Há aqui algo errado, que foge à racionalidade.

 

É que já tudo foi dito e redito a respeito da urgência de se acabar com esta fraude, e no Parlamento andam todos muito caladinhos e encolhidinhos, como crianças quando fazem asneiras e depois ficam quietinhas a um canto, a disfarçar, como se nada fosse com elas.

 

Acontece que os governantes já são bem crescidinhos para estas infantilidades.

 

Assumam o erro. Peçam desculpas aos Portugueses, principalmente às crianças, e devolvam a Língua Portuguesa a Portugal.

 

O Brasil não se importará, com toda a certeza. Eles são milhões e continuarão a falar e a escrever anistia, úmido, fato, e outras palavras que tais, independentemente de haver ou não haver acordo. Continuarão a dizer e a escrever Antônio, e nós António, com acordo ou sem acordo.

 

Jamais haverá uma unificação ortográfica entre os países lusófonos, porque cada país é um país, e já todos cortaram o cordão umbilical com a “mãe” que os deu ao mundo, cada um seguiu o seu rumo e adoptou a linguagem que bem entendeu. Agora a vida deve seguir sem a "mãe", e esta não está, de todo, senil, para se sujeitar ao querer de um "filho" interessado em grandezas fictícias.

 

Então para quê mutilar a Língua Portuguesa, em Portugal? Por alma de quem?

 

Já o tenho dito muitas vezes: errar é humano, mas insistir no erro é insano.

 

E não me venham dizer que agora é tarde, Inês está morta. Inês pode estar morta, e para ela já ser tarde. Mas a Língua Portuguesa continua viva, mutilada, mas viva, e com todas as possibilidades de cura. Basta querer. E querer é poder, e poder é o que faz falta… Afinal os governantes portugueses não são assim tão poderosos como querem fazer crer… Subjugam-se facilmente aos interesses das minorias.

 

Quanto às crianças e jovens eles não são tão imbecis como os adultos. Se conseguem aprender Inglês, Francês e Castelhano, conseguirão desaprender a ortografia brasileira num ápice, e noutro ápice, reaprender o Português com a mesma facilidade. Eu consegui. É que a capacidade de aprendizagem das crianças é ilimitada…

 

O que é preciso é algo que eu estou a pensar, mas não posso dizer alto.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:47

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Domingo, 4 de Setembro de 2016

«Toda a lógica instrumental do AO90 é brasileira»

 

Encontrei um texto muito curioso no Apartado 53 - Um blogue contra o AO90 e outros detritos, intitulado «Toda a lógica instrumental do AO90 é brasileira» [jornal “Opção” (Brasil)]»que me provocou urticária, porque já estou farta desta ditadura ortográfica que os governos português e brasileiro nos andam a impor sem um mínimo fundamento lógico e contra toda a lógica da contestação que está a sofrer em todo o mundo lusófono.

 

É chegada a hora de derrubar esta ditadura, porque na verdade as ditaduras não se combatem, derrubam-se.

 

Ditadura ortográfica.jpeg

 Origem da imagem:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=436998136495476&set=a.139582772903682.1073741833.100005558791212&type=3&theater

 

Nesse texto começa-se por dizer que «os países lusófonos apresentam resistência em introduzir as novas normas de modo efectivo. Por quê? O argumento principal é de que se trata de um acordo brasileiro».

 

Não. Não é verdade. O argumento principal não é este. Nem pouco mais ou menos, até porque “ser brasileiro” não seria impedimento, se a ortografia sugerida nesse acordo, tivesse uma proveniência culta e fosse baseada na genealogia da Língua Portuguesa, algo completamente “chinês” para os “estudiosos” brasileiros que ousaram “mexer” na Língua sem o mínimo conhecimento dela. E a prova será apresentada mais adiante.

 

O argumento principal para o mundo lusófono rejeitar este AO90 é o facto de este não ter pés nem cabeça, não ter ponta por onde se lhe pegue; por destruir a etimologia das palavras, empobrecendo, de um modo grosseiro, a Língua Portuguesa, transformando-a numa língua inculta e mutilada; «é um instrumento cientificamente deficiente, não há nele uma única norma que se aproveite, nem uma única vantagem que lhe possa ser apontada», de acordo com Artur Magalhães Mateus.

 

Em suma, é um autêntico aborto ortográfico destinado a ir parar ao caixote do lixo.

 

Mas o mais insólito, neste texto, é a descrição dos motivos que levaram os seus “fabricantes” a elaborá-lo, não constando nenhuma razão cientifico-linguística:

 

O acordo foi elaborado em 1990 e previa:

 

1 – «A uniformização da língua em todas as suas variantes» e em todos os continentes. Objectivo que não foi alcançado, e nunca será, até pela impossibilidade de ser alcançado, pelos motivos mais óbvios. São oito os países, cada um com as suas especificidades, e a uniformização destruiria a estrutura de uma Língua que nasceu na Europa.

 

Segundo o autor do texto «a proposta de uniformidade era para contribuir com a internacionalização da Língua Portuguesa. Além disso, a acção iria propiciar a disseminação da língua, possibilitando a circulação de bens culturais entre os países lusófonos, que contam com mais de 250 milhões de falantes - só o Brasil possui mais de 200 milhões.»

 

É preciso que se diga que aos Portugueses Cultos não interessa a disseminação da versão inculta da Língua Portuguesa. O Brasil até pode ter 200 milhões de falantes e escreventes de Português. Mas desses 200 milhões, quantos escreverão correctamente o Português? Quantos falarão correctamente o Português (não estou a falar da pronúncia)?

 

2 – «A simplificação da ortografia para que ela fosse melhor aceita…» E perguntamos: "melhor aceita" por quem? Pelos que não têm capacidade intelectual para aprender uma língua? As línguas são assim, simplificadas, sem mais nem menos, para poderem ser aceites ou não aceites pelos menos dotados intelectualmente? Qual das línguas cultas existentes no mundo foi simplificada para ser melhor aceite, como se se tratasse de uma comum mercadoria?

 

3 – «Para tornar a língua mais acessível a estrangeiros». Como disseram? Os estrangeiros estarão preocupados em simplificar a língua deles para a tornar mais acessível aos brasileiros ou portugueses mais atacanhados? Algum povo, algum dia se lembrou de uma tal idiotice? Os Alemães (que têm, uma língua difícil) os Ingleses, os Franceses, os Italianos, os Russos, os Espanhóis, enfim… algum dia simplificarão as línguas deles, para facilitar a vidinha dos imbecis?

 

4 – «Para aproximar os países, sobretudo Portugal e Brasil». Aproximar como? Estão assim tão distantes linguisticamente que não conseguem entender-se uns aos outros? É sabido que os brasileiros mais incultos têm muita dificuldade em entender o Português. Mas qualquer português inculto não tem a mínima dificuldade em entender seja quem for: um brasileiro, um inglês, um francês ou até um chinês… Se não se entendem de um modo, entendem-se de outro. Sempre há a linguagem universal: a das mãos (e não estou a falar do Braille). E que saibamos, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor, Cabo Verde e Guiné-Bissau sempre estiveram próximos de Portugal, não precisando de simplificar a língua para se entenderem connosco. Porquê, então, os brasileiros?

 

5 – E finamente para «facilitação dos negócios». Ao longo de todos estes séculos os negócios entre os países lusófonos teriam sido prejudicados pela falta de “comunicação” ou “aproximação”? Por acaso os negócios que fazemos com países como a China, cuja língua é um mistério para a maioria dos portugueses, não se fazem? Terão os chineses de simplificar a língua deles, para que nós possamos aprendê-la e aceitá-la melhor e com isso facilitar os negócios?

 

Bem. Estes foram os cinco “argumentos” para que o AO90 fosse parido. Nenhum deles apresenta uma razão válida e de peso.

 

Mas faltou referir o argumento principal: a negociata obscura que envolve editores, livreiros e políticos duvidosos, portugueses e brasileiros (apenas), porque os outros países lusófonos não foram para aqui chamados. E este é que foi a principal mola que moveu os que pariram este aborto ortográfico.

 

E o texto prossegue com afirmações das mais espantosas e que dizem da verdadeira natureza do que está por detrás deste acordo do descontentamento de milhões de falantes e escreventes da Língua Portuguesa.

 

Ler o texto completo aqui:

http://cedilha.net/ap53/?p=4096

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:11

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Quarta-feira, 31 de Agosto de 2016

Eu acuso o governo português de tentativa de homicídio da Língua (oficial) Portuguesa

 

«O meu dever é falar, não quero ser cúmplice…»

(in J’accuse, de Émile Zola)

 

IGNORÂNCIA.jpeg

 

Sim. Tentativa de homicídio e não propriamente do homicídio da Língua (Oficial) Portuguesa, porque essa continua bem viva, na pena da esmagadora maioria dos Portugueses instruídos e menos instruídos, de alguns jornais, revistas e estações televisivas dirigidas por Homens livres, e de Escritores livres, Jornalistas livres, Professores livres, Tradutores livres e Crianças e Jovens filhos de Pais livres, os quais não aderiram à imposição ilegal e impatriótica do AO90, por um governo subserviente a interesses obscuros de uma minoria inculta que está a incitá-lo (ao governo) a matar a Língua (Oficial) Portuguesa.

 

Na verdade, ela anda por aí muito despedaçada, maltratada, violada por aqueles que, não possuindo a tão necessária e obrigatória Cultura Crítica, baixam-se e rebaixam-se, a esta imposição ilegal, eivada de uma monumental ignorância, com base na desculpa de que é preciso fazer evoluir a língua, modernizá-la, torná-la mais acessível... Mais acessível para quê? Para facilitar a aprendizagem dos mais incapacitados intelectualmente…?

 

O resultado prático deste propósito redutor é o mais desastroso de que há memória. Nunca a Língua Portuguesa esteve tão amassada, tão amarfanhada, tão incultamente escrita (e por arrasto também falada), como nos tempos que correm.

 

Começando pelos governantes e autoridades portuguesas, que deviam ser os principais defensores dos símbolos nacionais (e a Língua é um dos seus símbolos mais identitários, além da Bandeira e do Hino Nacionais) e enviam-nos comunicados num Português que nem uma criança que frequenta o 4º ano do Ensino Básico e que tenha um Professor com P maiúsculo, escreve.

 

A minha colaboradora doméstica, que tem apenas a quarta-classe antiga, escreve muito mais escorreitamente (aliás este mais está a mais) do que os actuais governantes e autoridades de Portugal, que nos enviam comunicados.

 

Bem sei que quem os escreve são os “secretários”, mas um Governante com G maiúsculo, ou uma Autoridade com A maiúsculo têm o dever de ler tudo aquilo que é enviado em seu nome, e chamar a atenção do escriba quando este comete erros de palmatória (como faz falta a palmatória!)

 

Nas estações televisivas, subservientes ao Poder, é de bradar aos céus o que se lê (mas também o que se ouve), principalmente nos rodapés dos telejornais e nas legendas dos filmes: um autêntico Festival de Ignorância da mais purae dura. Porque a há adulterada.

 

Se antes da existência do AO90 a Língua já andava por aí de rastos, porque nem todos têm apetência para a aprendizagem, seja do que for, hoje em dia, a nossa Língua transformou-se numa língua esfarrapada, inculta, abrasileirada, muito, muito pobrezinha

 

Agora, pasmemo-nos com os motivos que levaram os Becharas, os Malacas, os Lulas, os Sócrates e todos os parasitas que gravitam ao redor deles, para sacarem vantagens económicas, a impingirem aos países lusófonos o aborto ortográfico de 1990, que previa o seguinte:

 

1 – A uniformização da língua em todas as suas variantes e em todos os continentes. Objectivo que não foi alcançado, e nunca será, até pela impossibilidade de ser alcançado, pelos motivos mais óbvios. São oito os países, cada um com as suas especificidades, e a uniformização destruiria a estrutura de uma Língua que nasceu na Europa e a partir dela  nasceram várias variantes, e é assim que deve ser, tal como aconteceu com o Castelhano, o Francês, o Inglês, que nunca precisaram de uniformizar as respectivas Línguas, por um só motivo: os povos das ex-colónias francesas, espanholas e britânicas não são acanhados mentalmente, como, ao que parece, são os povos de Portugal e do Brasil, que não conseguem aprender Línguas íntegras.

 

Segundo o autor do texto «a proposta de uniformidade era para contribuir com a internacionalização da Língua Portuguesa. Além disso, a acção iria propiciar a disseminação da língua, possibilitando a circulação de bens culturais entre os países lusófonos, que contam com mais de 250 milhões de falantes - só o Brasil possui mais de 200 milhões.»

 

É preciso que se diga que aos Portugueses Cultos não interessa a disseminação da versão mutilada da Língua Portuguesa. O Brasil até pode ter 200 milhões de falantes e escreventes de Português. Mas desses 200 milhões, quantos escreverão e falarão correCtamente o Português?  

 

2 – A simplificação da ortografia para que ela fosse melhor aceite… E perguntamos: melhor aceite por quem? Pelos que não têm capacidade intelectual para aprender uma língua? As línguas são assim, simplificadas, sem mais nem menos, para poderem ser aceites ou não aceites pelos menos dotados intelectualmente? Qual das línguas cultas existentes no mundo foi simplificada para ser melhor aceite, como se se tratasse de uma comum mercadoria?

 

3 – Para tornar a língua mais acessível a estrangeiros. Como é ??? Os estrangeiros estarão preocupados em simplificar a língua deles para a tornar mais acessível aos Brasileiros ou Portugueses mais atacanhados mentalmente (não incluo aqui os analfabetos, mas tão só os analfabetos funcionais, os que frequentaram escolas e até mesmo universidades) ? Algum povo, algum dia se lembrou de uma tal idiotice? Os Alemães (que têm, uma língua difícil) os Ingleses, os Franceses, os Italianos, os Russos, os Espanhóis, enfim… algum dia estes povos simplificarão as línguas deles, para facilitar a vidinha dos imbecis?

 

4 – Para aproximar os países, sobretudo Portugal e Brasil. Aproximar como? E com que intenção aproximar apenas Portugal e Brasil? E então os outros países? Ficam de fora por alma de quem? Os luso-brasileiros estarão assim tão distantes linguisticamente que não conseguem entender-se uns aos outros? É sabido que os Brasileiros mais incultos têm muita dificuldade em entender os Portugueses. Mas qualquer português inculto não tem a mínima dificuldade em entender seja quem for: um brasileiro, um inglês, um francês ou até um chinês… Se não se entendem de um modo, entendem-se de outro. Há sempre a linguagem universal: a das mãos (e não estou a falar do Braille). E que saibamos, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Cabo Verde e Guiné-Bissau sempre estiveram próximos de Portugal, não precisando de simplificar a língua para se entenderem connosco. Porquê, então, os Brasileiros?

 

5 – E finalmente para facilitação dos negócios. Ao longo de todos estes séculos os negócios entre os países lusófonos teriam sido prejudicados pela falta de “comunicação” ou “aproximação”? Por acaso os negócios que fazemos com países como a China, cuja língua é um mistério para a maioria dos portugueses, não se fazem? Terão os chineses de simplificar a língua deles, para que nós possamos aprendê-la e aceitá-la melhor e com isso facilitar os negócios?

 

Isto é coisa de doidos!

 

Bem. Estes foram os cinco “argumentos” apresentados aqui:

http://cedilha.net/ap53/?p=4096

 

para que o AO90 fosse parido. Nenhum deles apresenta uma razão linguística. De evolução da Língua. Um motivo racional.

 

Mas faltou referir o argumento principal: a negociata obscura que envolve políticos corruptos, editores e livreiros (que seria capazes de vender a Mãe por dinheiro)  portugueses e brasileiros (apenas), porque os outros países lusófonos não foram para aqui chamados. E esta é que foi a principal mola que moveu os que pariram esta monstruosa aberração ortográfica.

 

IGNORÂNCIA2.jpeg

 

Um acordo ortográfico seria eventualmente aceitável se apresentasse motivos assentes nas Ciências da Língua, bem fundamentados, demonstrativos de uma evolução natural da Língua.

 

Porém, a elaboração deste AO90 assentou na mais colossal estupidez, jamais concebida na História da Humanidade, cozinhada numa panelinha muito ferrugenta, luso-brasileira, porque os restantes países da lusofonia não foram convidados para este cozinhado, por motivos que, para mim, são bastante óbvios, porque conheço os ingredientes principais que estão por detrás desta tentativa de homicídio da Língua Portuguesa.

 

Poderei até responder a uma questão que li no texto citado mais acima, e que foi a seguinte:

 

«A verdade é que a resistência de Portugal é de cunho político. As mudanças para os portugueses, “pátria da língua”, são maiores, visto que a influência brasileira nos demais países lusófonos cresceu muito nos últimos anos. Sendo Portugal a colonizadora, aceitar mudanças impostas pela antiga colónia significa receber um duro golpe na soberania nacional portuguesa

 

Não. Não estamos a rejeitar o AO90 por motivações políticas.

 

Os Portugueses (exceptuando os actuais governantes e todos os que, desprovidos de Cultura Crítica, gravitam ao redor do Poder) não têm qualquer complexo em relação à aparente (e apenas aparente) “grandeza”, ou possível influência da ex-colónia em Portugal ou nos restantes países lusófonos, ou sequer no mundo.

 

Também não têm medo de serem colonizados pela ex-colónia, por um simples motivo: os Portugueses, que se prezam de o ser, têm personalidade, não são complexados e sabem defender, com todas as garras de fora, a sua soberania. E se algum dia, alguém se atrever a invadir-nos, seja de que modo for, aparecerão milhares de Padeiras de Aljubarrota e milhares de Nunos Álvares Pereiras para os destroçar.

 

A História de Portugal assim o demonstra e confirma.

 

E lá porque o actual governo português, o mais culturalmente e moralmente pobre e irresponsável que Portugal já teve, numa demonstração de uma insanidade política extravasante está a bater o pé à Razão e aos Portugueses, Brasileiros e Africanos de expressão portuguesa cultos, que combatem este AO90 com argumentos racionais, não significa que a Língua (Oficial) Portuguesa esteja moribunda.

 

Ela está simplesmente a aguardar em banho-maria, o dia em que será libertada dos seus linguicidas. E esse dia virá, mais dia, menos dia.

 

Entretanto, está a ser alvo de chacota dos países que jamais deixariam mutilar a própria Língua, por motivos tão pacóvios, como os que estão por detrás deste AO90.

 

E isto é o que mais dói.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:05

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Terça-feira, 29 de Março de 2016

Ao redor da retrógrada mentalidade "acordista"...

 

De facto, «a mentalidade “acordista” é retrógrada, irrealista, insensível, impatriótica, irresponsável, incompetente e ignorante. Representa o triunfo (…) da ignorância arrogante», diz António Emiliano***, na Apologia do Desacordo Ortográfico, pg. 49.

 

 *** António Emiliano (Lisboa, 1959) não é um qualquer malaqueiro. É um ilustre linguista, professor e músico português. Doutor em Linguística Portuguesa, pela Universidade Nova de Lisboa, e professor na mesma instituição. Sócio fundador da Associação Portuguesa de Linguística e da Associação Internacional de Linguística do Português, membro cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores, o qual, a pedido, deu vários pareceres, todos eles bem fundamentados e, obviamente, desfavoráveis ao AO90, e foram simplesmente ignorados.

 

ACordo.jpeg

 

No Brasil o AO90 é desconhecido entre o POVÃO. A esmagadora maioria dos brasileiros não o UTILIZA, nem sabe o que isso é.

 

Os Brasileiros cultos não o aplicam.

 

Os restantes países lusófonos também não o aplicam. Em Portugal apenas os que não têm ESPINHA DORSAL o fazem, ou porque são servilistas, escravos do Poder ou  morrem de medo de represálias imaginadas, até porque, em Portugal, uma vez que o AO90 foi imposto ilegalmente, as represálias são também ilegais.

 

Logo, este AO90 está condenado ao caixote do lixo, que é o lugar adequado para a mixórdia ortográfica que uns poucos servilistas ignorantes inventaram para vender livros, encher os bolsos e destruir a Língua Portuguesa - o objectivo maior, de todo este desprezível enredo. 

 

E não, não é uma minoria de Portugueses que acredita que a Língua Portuguesa é  propriedade de Portugal.

 

Apenas uma minoria linguicida e ignorante acha que a Língua Portuguesa nasceu ali... numa rocinha... debaixo de uma bananeira...

 

Todos os outros sabem que a Língua Portuguesa é uma Língua de raiz greco-latina, da Família Indo-Europeia, logo, uma Língua Culta. Não nasceu do nada, nem foi idealizada para facilitar a aprendizagem dos que nasceram pouco dotados de inteligência.

 

O AO90 nunca vingará, simplesmente porque é um aborto ortográfico completamente transfigurado.

***

E há quem fale na Síndrome do Colonizado.

 

Germano Almeida (um escritor cabo-verdiano que recentemente declarou em público que a Língua Portuguesa não é de Portugal) está equivocado, disse António Patrício, que é um conhecedor da Língua Portuguesa. E disse mais: «Na verdade, a Língua Portuguesa é nossa, dos Portugueses. Fomos nós que a espalhámos pelo mundo, e cada povo tomou-a e adaptou-a à sua cultura e fonética

 

António Patrício gostava de ver o senhor Germano Almeida «ir dizer aos Ingleses que o Inglês não é deles. Mais, o senhor Germano Almeida é originário de um país fundado pelos PortuguesesMas a verdade é que ficámos a saber que o senhor Germano Almeida não sabe escrever... É a editora e o corrector ortográfico que fazem esse trabalho por ele. Para este senhor vale tudo na escrita do Português! É engraçado vir isto de um escritor cabo-verdiano...»

 

«Já Cesária Évora (cantora de mornas e coladeiras que gostava muito de França e dos Franceses) dizia "cobras e lagartos" de Portugal e da Língua Portuguesa, e nós, os eternos complexados por termos sido colonizadores, lá andávamos com a senhora ao "colo". Devem ser os ventos daquele lado do Atlântico que levam os intelectuais das ilhas cabo-verdianas a sofrerem, ainda, da síndrome do colonizado.»

 

E não são só os cabo-verdianos.

 

Existem cidadãos brasileiros que são grandes defensores da anarquia escrita do Português...

 

E António Patrício coloca a questão: «Por que será? Será que a síndrome do colonizado ainda infecta a cabeça de tanta gente assim? Pelo que vemos, infecta. É que nestas coisas, conclui António Patrício,  pior do que o colonizador é o colonizado que, depois de ter deixado de o ser, continua a sentir as dores do que foi e já não é.»

 

***

 

O que se vê mais por aí são fatos... mal talhados.

 

É que "fato" deriva do gótico FAT, que significa uma peça de vestuário. Nunca poderá ser entendido como FACTO, que deriva do Latim FACTUM, e significa acontecimento.

 

Os Brasileiros dizem FATO por FACTO, mas não sabem o que dizem. E os Portugueses, sendo portuguesinhos, vão atrás, porque é atrás que sempre vão aqueles que não têm capacidade para IR À FRENTE.

 

***

Para os que refutam que a ortographia mudou desde os seus primórdios, temos a dizer que, de facto, essas mudanças existiram, mas com base em estudos linguísticos, e não impostas por interesses de natureza meramente política (os interesses económicos vieram por arrasto).

 

Quem as fez sabia o que estva a fazer.

 

Os do AO90, não sabem o que fazem... Uns pretenderam ganhar dinheiro. Outros, destruir a Língua Portuguesa. Como se a ortografia pertencesse ao cultivo das hortas e não às Ciências da Línguagem!!!!

 

O AO90 não passou a ser oficial em Portugal. A sua aplicação é ilegal e inconstitucional.

 

Os que o aplicam demonstram uma ignorância monumental sobre todas as questões referentes às Lingua. E por mais que lhes demonstremos que estão errados, eles insistem no erro. Porquê?

 

Ora… porque OPTAM pela ignorância.

 

Contudo, o tempo encarregar-se-á de atirar ao lixo esta mixórdia ortográfica que, falaciosamente,  pretende UNIR as variantes da Língua Portuguesa existentes nos oito países lusófonos. Leve o tempo que levar. Mas jamais essa união se verificará, pelos motivos mais óbvios.

 

***

Nenhuma Língua Europeia Culta, oriunda de países que outrora foram colonizadores (Inglaterra, França, Espanha, Holanda) foi tão destruída pelos colonizados como a Língua Portuguesa, escrita e falada, foi destruída pelos esquerdistas Brasileiros. 

 

Nos restantes países lusófonos, a Língua Portuguesa manteve as suas raízes. E esta é a grande diferença entre uns e outros. E no meio disto tudo, se tem de haver um país que tenha de recuar e adaptar-se a um novo modo de escrever a Língua Portuguesa, esse país é o Brasil, ainda que sejam milhões. É que a quantidade nunca foi sinónimo de qualidade. Muito pelo contrário.  

 

Portugal não tem de atirar ao lixo a sua Língua Materna, para prestar vassalagem a políticos servilistas, incompetentes, ignorantes e irresponsáveis, e a editores mercenários.  

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:51

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Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 2016

«O meu modesto desabafo sobre o Acordo Ortográfico»

 

 

(Um pequeno texto que diz tanto sobre um acordo que, em vez de unir, desuniu os países lusófonos. Efectivamente).

 

01novaortografia.jpg

 

Texto de Luís Paixão Martins

 

O coiso foi-nos vendido como uma fórmula para homogeneizar a escrita da Língua Portuguesa nos vários países que a usam oficialmente. Sim, parece boa ideia.

 

Mas, desconfia-se logo, será que falámos com os outros? E os outros estão de acordo com o Acordo? E, tendo-o subscrito porque somos todos uns porreiros, irão aplicá-lo? E as assinaturas dos porreiros da Língua Portuguesa serão ratificadas nos respectivos órgãos de soberania?

 

Pensa-se logo no Brasil. Para que uma potência com 200 milhões de habitantes precisa dos apenas 10 milhões de portugueses para reforçar o peso global da língua comum? Sim, calcula-se, o Brasil não se irá (nunca) adaptar a um Acordo com Portugal. Por que não precisa. Ponto final.

 

Portanto, o desígnio do Acordo – digo eu, modesto utilizador profissional da Língua escrita -  fica logo ferido de morte.

 

Mesmo assim, perguntar-se-á, e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa? Aqui, cada caso é um caso, mas sobressai – pela sua dimensão geoestratégica e económica – o caso de Angola.

 

E não é que Angola – a Nação de Língua Portuguesa com quem Portugal tem relações mais fortes – também não adere ao Acordo.

 

Resultado: quem escreve simultaneamente conteúdos para Portugal e Angola tem de aplicar duas normas ortográficas. Ou aplica em Portugal as normas antigas.

 

Isto é surreal. Afinal, aquilo que nos venderam como sendo um instrumento de aproximação transformou-se em mais uma dificuldade e um afastamento.

 

Antes do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (é assim que se chama o coiso) havia duas normas ortográficas oficiais divergentes. O coiso foi criado para as unificar. Agora temos três normas.

 

É o milagre da multiplicação da Língua Portuguesa.

 

Este post foi originalmente publicado por Luís Paixão Martins no blogue A Teoria do Q

Fonte:

http://www.ateoriadoq.pt/content/o-meu-modesto-desabafo-sobre-o-acordo-ortografico

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:48

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Domingo, 10 de Janeiro de 2016

Carta aberta a António Costa, primeiro-ministro de Portugal

 

Porque o que disse na “Quadratura do Círculo” sobre o AO90 é bastante grave, para ser dito por um primeiro-ministro: é um atentado à inteligência de milhares de Portugueses; é uma desonra para Portugal, é um insulto à Lusofonia; é uma violação ao direito das crianças aprenderem uma Língua Materna íntegra.

 

António Costa, instado por José Pacheco Pereira na "Quadratura do Círculo" especial (SIC Notícias, 08/01/2016), pronuncia-se pela primeira vez sobre o Acordo Ortográfico na qualidade de primeiro-ministro: «Não faz sentido mexer no Acordo Ortográfico. Eu, por mim, não teria tomado a iniciativa de fazer o acordo, mas não tomo a iniciativa de o desfazer.» (Tradutores Contra o AO/90)

Exmo. Senhor primeiro-ministro de Portugal
Doutor António Costa,

 

Não posso ficar calada perante o que na passada sexta-feira ouvi Vossa Excelência dizer na “Quadratura do Círculo”, quando confrontado com a monumental cacetada que José Pacheco Pereira, falando por milhares de portugueses, deu ao AO90.

 

Confesso que esperava outra resposta de alguém que não poupou meios para chegar ao poder, em nome da mudança que queria para Portugal, tendo como palavras de ordem: rever, revogar e reverter as medidas tomadas pelo anterior governo, que Vossa Excelência tanto criticou e quis, porque quis, substituir.

 

Pasmei com a resposta que deu à pergunta de José Pacheco Pereira.

Primeiro, porque me pareceu bastante superficial, e deu a entender que percebe tanto do AO90, como eu de Física Quântica, ou seja, nada, deixando o seu eleitorado muito, muito desiludido, pelo que consegui apurar.

 

Segundo, porque ficou muito mal a um primeiro-ministro o facto de estar-se completamente nas tintas para um assunto de suma importância para Portugal e para os Portugueses, e que atinge a identidade nacional, dado tratar-se da venda da Língua Portuguesa a um país com cerca de 15 milhões de analfabetos adultos (fora os outros) à revelia dos restantes países lusófonos, que se recusam a aplicar esta mixórdia ortográfica, que dá pelo nome de Acordo Ortográfico de 1990 (no que se mostram muito mais inteligentes do que Portugal), aligeirando os argumentos que levaram àquela resposta indigna de um primeiro-ministro: «Eu, por mim, não teria tomado a iniciativa de fazer o acordo, mas não tomo a iniciativa de o desfazer».

 

Isto demonstra a atitude de um senhor feudal, que tem milhares de pessoas à porta do seu castelo a pedir clemência para uma bela dama de alta linhagem que foi condenada ao degredo, porque um outro senhor feudal, que prometeu alargar os domínios do primeiro, por mero capricho, assim o quis. Contudo, o todo-poderoso senhor feudal faz ouvidos moucos ao clamor dessa multidão e manda os seus lacaios executar a pena: envie-se a bela dama para o degredo.

 

Foi exactamente assim que me soou aquela resposta, despida de qualquer sensibilidade pela Língua Portuguesa. Até me pareceu vislumbrar nela um certo desprezo e cinismo.

 

E ainda tem a ousadia de dizer que acha que temos convivido todos bem, e ninguém deixou de compreender bem… o dito AO90, quando milhares de pessoas, em todos os países lusófonos, incluindo Brasil e Portugal (o único que aplicou ilegalmente o AO90) têm feito um ruidoso protesto ao redor desta imposição absurda?

 

Isto é andar fora da realidade, ou num faz-de-conta que não sei, não ouço, não vejo, inadequado a um primeiro-ministro que pretende distanciar-se dos erros cometidos pelos seus antecessores.

 

Então Vossa Excelência vem dizer que no seu tempo se escrevia Luiz (com Z) e agora é Luís (com S)? Quando quem nasce Luiz, Baptista, Lourdes, Izabel, Queiroz, deve morrer Luiz, Baptista, Lourdes, Isabel, Queiroz? Porque neste AO90, os nomes próprios, são nomes próprios e não sofrem alterações?

 

E em que tempo é que se escrevia Luiz com Z? No tempo da avozinha… O senhor ministro será assim tão antigo?

 

Então Vossa Excelência diz que não faz sentido mexer no AO, e faz sentido deixar que a sociedade evolua naturalmente na sua aplicação?

 

Qual sociedade? Que evolução, Senhor Ministro?

 

Este acordo está a ser ilegalmente imposto nas repartições públicas e nas escolas portuguesas que, por medo ou ignorância, o aplicam, estando-se a enganar as crianças e o povo menos esclarecido.

 

Este acordo não faz parte de qualquer evolução linguística. Estão mais do que provadas as incongruências, o desatino, a desunião e a desordem ortográfica provocada pelo AO90, criado unicamente para satisfazer interesses político-juridico-diplomáticos, e também económicos de uns tantos editores brasileiros e portugueses, que deviam ir todos à falência.

 

Quiseram unificar a língua e o resultado foi este: a coexistência (nada pacífica) do acordês, do brasileirês, e da Língua Portuguesa. Uns escrevem em acordês e brasileirês. Outros escrevem em Língua Portuguesa. E ainda outros escrevem como calha, um mixordês vergonhoso, porque o ensino da língua está depauperado. Cá (em Portugal) e lá (no Brasil), onde já não se ensina a disciplina de Português.

 

Os documentos oficiais são uma vergonha. No mesmo texto, ora se se escreve aCtividade (e muito bem) ora atividade (muito mal). Os livros para crianças ora são coleCções (e muito bem) ora coleções   (muito mal) - devendo ler-se col’ções.

 

E sabemos mais. Sabemos que algumas editoras e forças ocultas, por mais absurdo que isto seja, controlam os governantes portugueses. Talvez por isso (talvez!) a resposta de Vossa Excelência foi como foi.

 

O que não faz sentido, senhor primeiro-ministro, é o actual governo andar a revogar tudo e mais alguma coisa, em nome da mudança pretendida, e que os portugueses exigem, e não revogar esta vergonhosa venda da Língua Portuguesa ao Brasil.

 

Que democracia será esta?

 

As novas gerações não merecem este insulto. Esta afronta. Esta violação ao direito de aprenderem uma Língua Materna íntegra, e não uma fraude linguística.

 

Se Vossa Excelência continuar a insistir nesta posição de senhor feudal, não terá valido a pena ter derrubado muralhas, para invadir domínios alheios. Porque outras muralhas se erguerão, e ficará isolado no seu feudo.

 

Sendo português e primeiro-ministro de Portugal ficava-lhe bem ter dito que o seu Governo iria pensar no assunto, e que a revogação do AO90 poderia ser uma possibilidade. Mas não disse. Portou-se muito mal.

 

Ao contrário de Inglaterra, que não se submeteu à gigante América do Norte, Portugal verga-se ao gigante Brasil, como um país indigente, sem dignidade, sem orgulho algum na sua própria História.

 

Sinto o maior orgulho em ser portuguesa, e gostaria de ter orgulho num Governo que não rastejasse, e defendesse os verdadeiros interesses de Portugal e dos Portugueses.

 

Será que ainda não é desta que poderemos vir a orgulhar-nos de um Governo Português que se mova com verticalidade?

 

Com os meus cumprimentos,

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:55

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