Segunda-feira, 28 de Junho de 2021

A questão não é quem é o “dono” da Língua Portuguesa. A questão é que nenhum povo, que a adoptou como “língua oficial”, tem o direito de a destruir e continuar a chamá-la “portuguesa”

 

Considerações ao redor da Língua Portuguesa, que está na berlinda, por ser a única Língua do mundo abandonada à sua má sorte.

 

Nenhuma outra Língua foi tão açoitada como a Língua Portuguesa, que anda por aí mal-tratada, mal-ensinada, mal-escrita, mal-falada, graças ao mal-parido AO90, assente maioritariamente na grafia brasileira, e na falácia dos milhões de falantes, contra os milhares que a escrevem e falam correCtamente.

 

ACORDAI!.png

(Alusão ao belíssimo poema do poeta José Gomes Ferreira, Acordai! musicado por Fernando Lopes Graça, um hino à inércia de um povo que, placidamente, aceita a sua má sorte).

 

Carlos Reis, ensaísta e professor português, “especialista” em estudos queirosianos [?)] e defensor acérrimo do AO90, em 2015 (*) disse esta verdade de la palisse: "não temos de falar como os brasileiros". Na verdade, não temos. Mas também não temos de ESCREVER como eles. Ou temos?

 

Num artigo publicado no Jornal PÚBLICO, no passado sábado, sob o título «Académicos no Reino Unido debatem descolonização da língua portuguesa» (**), Luís Gomes, co-organizador e professor de Português na Universidade de Glasgow, diz o seguinte: «Em certa medida, ainda há uma sensação de que Portugal é o dono da língua portuguesa, quando, na verdade, a maior parte dos países que falam português têm mais falantes do que Portugal, salvo algumas excepções. É uma questão que está muito presa na língua portuguesa, mais do que noutras línguas, como o inglês”».

Contudo, o que é ser “dono” da Língua? Todas as línguas têm um berço: são filhas dos Países onde foram geradas.  A Língua é como aquele filho que, apesar de solto no mundo, e de ter gerado os seus próprios filhos, noutros lugares, não deixa de pertencer aos Pais que o conceberam, os quais não sendo os “donos” dele, são a sua raiz, a sua origem, a sua fonte, a sua alma, em suma, a sua genetriz.

 

Portanto, esta coisa de dizer que Portugal não é o dono da Língua, nem sequer se põe. Portugal não será o dono da Língua, mas a Língua Portuguesa é pertença de Portugal, o seu berço.  O berço da Língua Portuguesa não é, pois, nenhuma das ex-colónias portuguesas que ao adoptarem a Língua Portuguesa, como língua oficial, geraram as suas próprias variantes (filhas), e não há nada que possa mudar a circunstância genética da Língua, porque foi em Portugal que ela nasceu, como Língua Portuguesa, pela mão de Dom Dinis.  E isto é um facto que não pode ser desprezado. Daí que cada país deva ficar com a Língua ou variante da Língua que gerou.  

 

Porém, por conveniências político-jurídico-económicas, surge a ideia peregrina e delirante de que lá por existirem o tais milhões de falantes, que se apoderaram da Língua e a destruíram (porque de destruição se trata não tendo sequer esse direito), por serem muitos, há que impor aos milhares que a escrevem e falam correCtamente, nos quatro cantos do mundo, um mal-engendrado  acordo ortográfico, que apenas Portugal, cega e servilmente, tenta cumprir.   

 

Os milhares de Ingleses, ou Espanhóis, ou Franceses, que também espalharam pelo mundo as suas respectivas Línguas, jamais permitiriam que elas fossem desenraizadas e destruídas, apenas porque também é falada por milhões.

 

José Saramago.png

 

Como diz José Saramago (cuja memória está a ser insultada, com a acordização da sua obra) «Uma língua que não é defendida, morre».

 

Sabemos que a Língua Portuguesa está a morrer, e que a intenção é matá-la e enterrá-la de vez.

 

Estas são as vozes contra a extinção da Língua Portuguesa

 

O que andam a fazer todas estas vozes, que não as ouço gritar bem alto, contra esta infame tentativa de assassinato do nosso mais precioso património identitário?

 

***

Nota marginal:

 

Há quem ande no Facebook a dizer (porque serve os interesses acordistas)  que quem acredita, como eu, que um Acordo Ortográfico (mesmo que mal-amanhado, como foi este de 1990) consegue EXTERMINAR a Língua Portuguesa, não sabe nada de idiomas; e até me mande escrever poesia ou romances de terror, mas que não fale do que não sei.

 

Coitado, o que pretende, quem assim fala, é que eu não fale do que SEI, porque não lhe convém, nem a ele, nem aos que ele serve, sem a mínima cultura crítica.

 

A Língua Portuguesa  terá os dias contados, sim, nas mãos daqueles que acham que nada sei de idiomas. Na verdade, nada sei dos idiomas que desconheço. Mas sei da Língua Portuguesa e do que os seus predadores são capazes de fazer e de dizer para acabar com ela.

 

ACORDEM, Portugueses! ACORDEM!!!!!!

 

Isabel A. Ferreira

 

(*) Ver notícia aqui
https://expresso.pt/sociedade/2015-05-12-Carlos-Reis-um-defensor-do-Acordo-Ortografico.-Nao-temos-de-falar-como-os-brasileiros

(**) Ver notícia aqui

https://www.publico.pt/2021/06/26/culturaipsilon/noticia/academicos-reino-unido-debatem-descolonizacao-lingua-portuguesa-1968070

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:34

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comentários:
De Ana a 29 de Junho de 2021 às 19:16
Os próprios académicos são os culpados disto tudo. Agora vão lá discutir na Inglaterra a descolonização da língua portuguesa e convidam um rapper. Olhem-me só esta piada! Qualquer dia também vão dizer que Roma não é dona do latim. Claro que é! E quando o latim foi desenraizado e as suas derivações aceites deram origem a novas línguas (latinas) e o latim morreu. É o que vai acontecer com a Língua Portuguesa. Com essa sede de descolonização ou o raio que a parta, é caminhado andado para as ex-colónias terem a sua própria língua derivada do português, assim como o português derivou do Latim.
E Portugal e suas elites académicas são tão estúpidas e ingénuas que não vêem isso. Ou então simplesmente não se importam. Se assim é, deixem Portugal falar e escrever português correCto, pois será o único país que irá falar português. Muito tem essa esquerda burguesa a mania de ser 'fofinha' e aceitar tudo o que é de fora com doçura e carinho. Mas fiquem sabendo que as ex-colónias não são nem nunca serão nossas amigas, elas querem vingança, por isso, se querem debates sobre descolonização que façam lá na terrinha deles e nos deixem em paz aqui sossegados. É por essas e por outras que a Europa perdeu a sua hegemonia e vai levar no pacote. E quando se aperceberem que os próprios europeus é que cavaram a sua própria sepultura já vai ser tardíssimo demais!
De Isabel A. Ferreira a 30 de Junho de 2021 às 11:55
O Latim vive em cada Língua que originou. Mas não é a mesma coisa.
Na sua generalidade, concordo com a Ana.
De Diana Coelho a 6 de Julho de 2021 às 16:46
Ana, não sei se é da “esquerda burguesa que tem a mania de ser fofinha e aceitar tudo o que é de fora com doçura e carinho” ou se é próprio do povo português considerar que tudo o que é estrangeiro é inovador e melhor do que o nacional. E, por isso, aceitam de ânimo leve tudo o que é de fora desvalorizando o que é nosso. Actualmente, defender a Língua Portuguesa e, nomeadamente defendê-la sem Acordo Ortográfico é ser retrógrado. Eu continuarei a escrever sem o maldito AO90 (e sou persistente!) porque as razões que levaram à sua invenção não têm pés, nem cabeça. Nem houve discussão sobre ele. Foi imposto por quem o defende. E todos os dias escrevo correctamente apesar de existirem algumas falhas gramaticais nos meus textos (mas sempre preocupada em melhorá-los). Recentemente, num curso que estava a tirar, eu desisti de um projecto porque o formador exigiu que os meus textos fossem escritos com o Novo Acordo Ortográfico. Disse-lhe mesmo “Nenhum texto meu será escrito com esse Acordo por isso não conte comigo". E todos os meus trabalhos foram sempre escritos de forma correCta. Na semana passada fui à Bertrand comprar um livro e quando me dirigi ao balcão para pagar, a funcionária sugeriu-me levar mais dois livros que ali estavam com uma promoção qualquer. Recusei e justifiquei que estavam escritos com o Novo Acordo Ortográfico e, como tal, não os comprava. Ela ficou estupefacta mas comigo é assim.
De Isabel A. Ferreira a 6 de Julho de 2021 às 19:18
É assim consigo, e é assim também comigo, que deixo os livros por comprar e digo bem alto porquê, esteja quem estiver na livraria.

Na verdade, a sina do actual povo português (não foi assim sempre) é valorizar o que é de fora e desdenhar do que é BOM e PORTUGUÊS. E isto serve para a Língua, que anda por aí de rasto, como para quase tudo. Há uma subserviência ao estrangeiro ao mais alto nível, começando pelos governantes.

Fez muito bem em desistir do projecto, era o que eu faria também, mas vergar-me à ignorância dos acordistas e dos que seguem o AO90 servilmente, jamais! Há que ter brio profissional, que é o que faz falta em Portugal.

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