Daí que, qual serviçal muito bem-mandada, ande por aí a escrever incorreCtamente a Língua Portuguesa, e pior do que isso, a (des)ensiná-la, apresentando os argumentos mais básicos que possam imaginar-se, para justificar a imposição ilegal, irracional e inconstitucional de um “acordo” ortográfico cuja única realidade é ser o maior fracasso e um dos maiores casos de abuso cometidos na nossa Democracia, porque apenas Portugal está a aplicá-lo servilmente.
(A este respeito consultar o link:
A senhora Nanselê Nansescreve (como é conhecida nas redes sociais, limito-me a roubar este nome, porque o considero bem-apanhado) escreveu um artigo que, se não se tratasse de uma coisa séria – a dignidade da Língua Portuguesa – poderia ser hilariante.
É esse texto que me proponho a rebater, sentindo o mesmo que Francisco Miguel Valadas: pena de quem ainda não percebeu a gravidade da situação, e anda por aí a vender gato por lebre, como se todos os Portugueses fossem muiiiito parvos.
Começo pelo último parágrafo do artigo, que resume tudo o que há dizer sobre a senhora Nanselê Nansescreve, que diz ser “professora” de Português e “formadora” em Língua Portuguesa. Bem, acreditamos que seja uma coisa e outra, mas não de e em Língua Portuguesa.
Diz a senhora:
«Desdramatizemos! O Acordo Ortográfico é uma realidade e nunca mais na vida conseguirei explicar a um aluno que deverá colocar um "p" na palavra "ótimo"! Acreditem! Já experimentei!»
Então, desdramatizemos: pois não me surpreende nada que nunca mais na vida esta senhora consiga explicar a um aluno que óPtimo se escreve com “p”. A senhora até já tentou, mas não conseguiu. É algo absolutamente complicadíssimo, para um cérebro que foi formatado para dizer aos alunos que o que não se lê não se escreve. Como vai agora dizer que o “p” se escreve, porque a Língua Portuguesa pertence à família Indo-Europeia, e não à família sul-americana? Aonde é que não se escreve com “p”?
Vejamos:
Em Latim (de onde apalavra é originária): OPTIMUS.
Em Francês: OPTIMUM
Em Inglês: OPTIMUM
Em Alemão: OPTIMAL
Em Castelhano: ÓPTIMO
Em Português: ÓPTIMO
Em Brasileiro: ÓTIMO
Aqui está. É no Brasil que não se escreve o P, e como os alunos portugueses mudaram de nacionalidade, já não são portugueses, há que os incitar a escrever à brasileira, porque lhes disseram que o que não se lê não se escreve. Nem sei como a senhora Nanselê Nansescreve se entende com palavras como hoje, homem, haver, enfim, com as palavras em que não se lê o H. Deve ter muita dificuldade.
Eu gostaria de ter visto a senhora Nanselê Nansescreve na TVI, a confrontar-se com a Professora (esta sim PROFESSORA) Maria do Carmo Vieira e com Miguel Sousa Tavares a fazerem-lhe frente. Mas não vi. Nem a ela nem a nenhum outro acordista.
Antes desta coisa chamada AO90 aparecer, a Senhora Nanselê Nansescreve como escreveria óptimo?
Eu já experimentei falar às crianças das consoantes que não se lêem, mas escrevem-se (tal como estão a aprender no Inglês e no Castelhano), e que elas são obrigadas a suprimir, apenas porque gente ignorante quer que escrevam à brasileira. E elas entenderam perfeitamente, e até disseram que querem escrever à portuguesa, porque não são brasileiras. As crianças APRENDEM o que lhes é ENSINADO com VERDADE. E quem diz o contrário nada sabe de Pedagogia Infantil.
Como é que os Alemães, Austríacos e Suíços conseguem escrever esta palavra
Donaudampfschifffahrtselektrizitätenhauptbetriebswerk-bauunterbeamtengesellschaft (em Português: Associação dos Funcionários Subordinados da Construção da Central EléCtrica da Companhia de Barcos a Vapor do Danúbio".
e a senhora Nanselê Nansescreve não consegue escrever a palavra óPtimo com um P?
***
A senhora Nanselê Nansescreve diz: «Fará sentido pôr em causa o Acordo Ortográfico (AO), dez anos depois de ele estar em vigor, de os alunos terem terminado dois ciclos de ensino e não conhecerem outra ortografia, de os livros serem publicados com a grafia atual e de aqueles que não quiseram aprender terem preferido reformar-se, porque aprender dá trabalho?»
Faz todo o sentido pelos seguintes motivos (cliquem nos títulos, por favor):
Depois de alunos terem terminado dois ciclos de ensino e não conhecerem outra ortografia como poderão aprender outra ortografia? ENSINANDO-LHES com a VERDADE a escrever correCtamente a própria língua. É para isso que frequentam as escolas. E elas aprenderão. Assim como EU aprendi. As crianças não são tão parvas como os adultos, e aprendem o que tiverem de aprender com a maior facilidade. Como é que os alunos portugueses conseguem aprender línguas estrangeiras, em que existem consoantes mudas, que não se lendo, escrevem-se, e em Português não conseguem? Serão tansos apenas em Português? Basta ter conhecimento de Pedagogia.
As senhoras Nanselês é que terão grande dificuldade em APRENDER a escrever correCtamente, para poderem ENSINAR correCtamente.
Quanto aos livros e outras publicações: assim como foi fácil atirar ao lixo as publicações escritas correCtamente, mais fácil será atirar ao lixo as publicações escritas incorreCtamente e fazer novos livros. Ninguém se preocupou com isso, quando se tratou de EDITAR novos livros mal escritos, e atirar com os BONS ao lixo.
E esta frase: «aqueles que não quiseram aprender terem preferido reformar-se, porque aprender dá trabalho». Mas aprender o quê? Aprender a escrever à brasileira, porquê? Não tínhamos uma Língua bem estruturada? Europeia. NOSSA? Tinham de aprender o quê? A mutilar a língua e ensiná-la mutilada aos alunos? Isso seria DESONRAR A PROFISSÃO de PROFESSOR. Portanto, todos os PROFESSORES (com letra maiúscula) que pediram a reforma antecipada, para não terem de ensinar um Português mutilado, sul-americanizado, brasileiro, e, desse modo enganarem os alunos, tiveram a DIGNIDADE de honrar a profissão e o que juraram no momento de tomar posse do cargo. Prometeram ENSINAR. Não prometeram DESENSINAR ou ENGANAR os alunos. Fizessem todos o mesmo!
A senhora Nanselê Nansescreve terá de ter o trabalho de aprender PORTUGUÊS, se quiser continuar a dar aulas, sem enganar os alunos, ou então pedir a reforma antecipada.
***
Como se isto não bastasse. A senhora Nanselê Nansescreve diz mais isto: «Até ao final do século XXI seremos 350 milhões de pessoas a falar português em quatro continentes. Tem algum sentido haver ainda a pretensão de acantonar a língua ao retângulo europeu, e em mais nenhum outro país?»
Ai esta mania das grandezas, que não existe em mais nenhum país do mundo, nem os que são territorialmente menores do que Portugal, e têm as suas línguas, as suas culturas, e querem lá saber se milhões falam ou não falam o que eles falam! Antes do AO90, Portugal e os restantes países de língua oficial portuguesa, somavam entre 60 a 80 milhões de falantes.
No final do século, até poderão ser 350 milhões de pessoas a falar alguma coisa, mas não lhe chamem Português, porque não será Português, mas uma mixórdia qualquer que, pela actual amostra, retrocederá a um dialecto oriundo de um dialecto que, por sua vez, é oriundo do Português. A Língua Portuguesa desaparecerá do mapa.
A senhora Nanselê Nanscresceve se viver, verá.
***
Passemos à questão dos decretos. Diz a senhora Nanselê Nansescreve: «Outra questão: a ortografia não é decretada? Então e o que aconteceu em 1911, com a primeira reforma que estabeleceu o que não havia até então de regras claras na ortografia do português? E em 1945 e, depois, em 1973, com a supressão do acento nas palavras terminadas em -mente? Não foram as academias portuguesa e brasileira chamadas a esse trabalho de grande complexidade, posteriormente postas em vigor por decreto?»
Ora vejamos:
O AO1911 foi obrigatório com o decreto de 15 de Fevereiro de 1911.
O AO1945 foi obrigatório com o decreto nº 35. 228, de 8 de Dezembro de 1945.
O AO1990 foi obrigatório com base em que decreto? Posso perguntar? Confesso a minha ignorância.
É que tanto quanto sei, uma simples Resolução do Conselho de Ministros (a RCM 8/2011) é meramente um despacho normativo autónomo (Cf. artigo 112º nº 7 da Constituição da Nação Portuguesa), não tem força de lei e não pode obrigar ninguém à aplicação de Tratados Internacionais, como é o AO90, uma vez que o governo de José Sócrates usurpou poderes que não tinha, nem lhe eram conferidos pela Constituição.
Os Tratados Internacionais (como é o AO90), em qualquer Estado de Direito NÃO pode entrar em vigor por simples Resoluções do Conselho de Ministros (RCM 6/2011), por isso Portugal vive aCtualmente uma ditadura ortográfica, que tem de ser derrubada, a bem ou a mal.
É óbvio que tanto em 1911 como em 1945 houve contestatários, mas não pelos mesmos motivos, que nos levam hoje a contestar o AO90. É que em 1911 e em 1945 as reformas foram feitas por ESPECIALISTAS em Ciências da Linguagem, e não por políticos ignorantes e livreiros mercenários, vendilhões da Pátria.
Quem escrevia lyrio, achava lírio uma palavra pobrezinha, sem lirismo algum. No entanto, por muito que custasse, aquele “lírio” continuou a pronunciar-se lírio, e apenas se substituiu o Y grego, pelo I latino, que fazia parte do NOSSO alfabeto. Não se mutilaram as palavras. Não se foi buscar à Língua de um país estrangeiro, novas palavras. E o mesmo aconteceu em 1945. A grafia evoluiu, não foi destruída. O AO90 é um decalque de uma língua estrangeira, oriunda da Portuguesa, que foi mutilada, desenraizada, deturpada, destruída, mas faz parte da Língua que os Brasileiros escolheram para eles, e apenas a eles diz respeito. Ponto.
A senhora Nanselê Nansescreve diz mais: «E quando os nossos pais, ao contrário do que tinham aprendido na escola, passaram a ter de escrever, sem acento, "comboio", "corte", "sede", "enjoo" ou "voo"? E o que foi da confusão com as mais díspares regras do uso do hífen?»
Não havia necessidade de se fazer esta reforma, retirando os acentos a palavras em que a acentuação seguia uma regra, e eu própria não concordei com ela, MAS uma coisa é retirar o acento a comboio, que devia ler-se como saloio, outra coisa é suprimir as consoantes mudas que têm uma função diacrítica. Por exemplo, não se manteve o C de ditaCdura, porque este C não tinha função diacrítica, e sem ele a pronúncia da palavra não mudou. Contudo se escrevermos setor a pronúncia muda para s’tôr, porque o C de seCtor abre a vogal. Mas estudar isto dá muito trabalho à senhora Nanselê Nansescreve.
Passemos ao seguinte parágrafo. Diz a senhora: «Que justificação lógica haverá para retroceder numa grafia utilizada pela generalidade da Comunicação Social, pelas grandes empresas, públicas e privadas, em todos os organismos do Estado, nas autarquias, no ensino, nos manuais escolares, nos livros publicados nos últimos dez anos?»
A justificação lógica para retroceder nesta fantochada, é a seguinte:
É que PENSAR A LÍNGUA dá muito trabalho aos não-pensantes.
Outra justificação é esta: «A LÍNGUA PORTUGUESA, exactamente porque é uma língua românica ou neolatina, tem genealogia, tem história e é memória (Fernando Paulo Baptista – Filólogo em Humanidades Clássicas) (*). E é essa genealogia, essa história, essa memória que o AO90 vem ROUBAR à Língua Portuguesa, em nome de milhões de falantes e de milhões de €€€€€€ que alguém anda a meter ao bolso. E isso não é justificação lógica para que se insista nesta FRAUDE.
Quanto à comunicação social, empresas, públicas e privadas, organismos do Estado, autarquias, ensino, temos muita pena, regrediram, agora têm de avançar. Não fossem SERVIS. Pensassem antes de cometer o erro. Os manuais escolares e livros publicados nos últimos dez anos? Lixo com eles, assim como atiraram ao lixo as edições em Português correCto.
E a senhora Nanselê Nansescreve diz ainda: «E como é possível argumentar que só em Portugal vigora oficialmente as novas regras introduzidas pelo Acordo Ortográfico de 1990, quando o Brasil o tem integralmente aplicado desde 2009 e Cabo Verde desde o ano passado?»
Como é possível serem tão cegos mentais, para não verem que apenas Portugal adoptou a grafia brasileira cegamente, e mais nenhum outro país, nem Angola, nem Moçambique, nem Guiné Bissau, nem São Tomé e Príncipe, nem Timor-Leste.
Cabo Verde passou o Português para língua estrangeira, e adoptou (e muito bem) o Crioulo Cabo-verdiano como língua oficial.
Quanto ao Brasil, é isto:
E mais: do Brasil chegam-me informações fidedignas, dos meus amigos, professores universitários e não só, que cerca de 80% dos brasileiros não só não aplicam, como nem sequer sabem o que é o AO90 (tal como em Portugal). E como sabemos, o Brasil está em vias de mandar às malvas o AO90.
(A este respeito consultar este link:
onde se lê que a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados do Brasil aprovou um requerimento para discutir a revogação do Acordo Ortográfico.
Ficará a senhora Nanselê Nansescreve a escrever ótimo, porque já não consegue escrever óPtimo, enquanto todos os outros escreverão óptimo, e o Brasil, como dono da palavra, escreverá ótimo, que não pertence à linhagem das Línguas Europeias, à qual a Língua Portuguesa pertence.
Mas a senhora Nanselê Nansescreve se não consegue por o P no óptimo, jamais conseguirá entender que o AO90 não foi imposto por decreto (o decreto que está em vigor é o de 1945); o AO90 é ilegal, inconstitucional e irracional, por violar o artigo 11 – 3º da Constituição da NAÇÃO Portuguesa (CRP) que estabelece o português europeu como LÍNGUA OFICIAL da NAÇÃO PORTUGUESA; viola igualmente o Direito Internacional (Convenção de Viena), assim como o Decreto-Lei Nº 35.229 de 8 de Dezembro 1945, que NUNCA foi revogado, por outro Decreto-Lei e, por conseguinte, o PORTUGUÊS EUROPEU continua de faCto a ser a LÍNGUA OFICIAL da Nação Portuguesa; não está em vigor em parte alguma, e em Portugal apenas os serviçais bem-mandados o aplicam.
A tentativa de impor a Portugal a grafia brasileira, por uma certa classe política sem qualquer competência neste foro e sem legitimidade para o fazer sem uma Revisão Constitucional, através do pseudo-acordo ortográfico de 1990, é INACEITÁVEL e ANTIDEMOCRÁTICO, num Estado de Direito Europeu.
Sejam honestos, pelo menos uma vez na vida.
(*) Recomendo à senhora Nanselê Nansescreve (mas também aos governantes, ao presidente da República, aos deputados da Nação e a todos os acordistas), a leitura deste livro:
«Por Amor à Língua Portuguesa – Ensaio genealógico-filológico, científico-linguístico e pedagógico-didáctico, visando a superação crítica do actual Acordo Ortográfico / 1990», da autoria de Fernando Paulo Baptista, Filólogo em Humanidades Clássicas, pela Universidade de Coimbra, uma publicação das Edições Piaget.
Isto para ver se aprendem o que é a Língua Portuguesa. Aprender dá muito trabalho, é verdade, e é necessário LER o que existe para LER a este respeito, escrito por gente que SABE o que diz e o que escreve.
Isabel A. Ferreira
Fonte do texto:
. A novilíngua imaginada na...
. «A língua portuguesa amer...
. Intolerável: no tradutor ...
. AO90, segundo Jorge Lemos...
. Intolerável: no tradutor ...
. RTP Notícias: Luís Monten...
. João Barros da Costa dixi...
. Dra. Índigo Brasileira di...