Entrevista a Maria João Cantinho (***)
Por: João Morgado
(As frases a negrito, são notas marginais, da autora deste Blogue)
Maria João Cantinho, poetisa, ensaísta, veio ao 29º Colóquio da Lusofonia, em Belmonte, para falar de Lusofonia. Espaço para uma conversa em que reconhece, ser ainda um tema algo controverso. “Há quem não goste do termo, achando que ele traz em si inscrito o traço do colonialismo”.
(Sou uma das que não gosta do termo, que tresanda a colonialismo.)
Tantos e tantos anos depois ainda perdura esse nojo da língua do antigo poder? Maria João acha que sim. “Nos congressos, quando se fala das questões da lusofonia, é muito habitual surgir a expressão… a língua portuguesa é a língua dos estrupadores da minha avó, o que é muito violento.”
(Eventualmente, muito eventualmente, só poderão falar nestes termos os indígenas brasileiros e os descendentes dos antigos escravos africanos; os outros, os que tiveram avós brancas não sabem do que falam, e o que falam é fruto de uma lavagem ao cérebro marxista).
Se assim falam os brasileiros, assim devem falar muitos luso-falantes de África, avisa a poetisa. E, se assim é em meios académicos, temos de nos perguntar se é uma linha de uns tantos activistas sociais ou um pensamento que permanece impregnado nas populações desses países. Em todos os casos, importa perceber porque permanecem abertas essas feridas históricas, de uma língua que atravessou séculos, povos, gentes.
Maria João entende que na vastidão da história “os tempos da colonização ainda representam uma ferida recente”. Talvez tenha razão, talvez seja ainda uma memória demasiado próxima, vivida por uma geração mais velha e uma herança dolorosa que passou para uma geração que é hoje activa e interventiva. Mas ainda estamos presos na história?, pergunto. A língua portuguesa não evoluiu, não abriu novos horizontes, não deu palavra a novas realidades? Talvez esse caminho esteja a ser feito. Maria João Cantinha sublinha que, se perguntarmos aos brasileiros pela língua que falam, “eles respondem que falam a língua portuguesa – não brasileiro –, por isso reconhecem a sua identidade cultural dentro da língua portuguesa”.
(Não me parece que assim seja. Se os Brasileiros respondem que falam Português, então por que “exigem” que traduzamos os nossos livros para “brasileiro”? Por que legendam ou dobram os filmes e novelas brasileiras e as entrevistas com Portugueses?)
É esse o desafio que ainda temos pela frente, fazer de uma língua colonizadora a nossa língua colectiva do presente e do futuro. “Não são várias línguas a falar português, mas sim uma só língua com ramificações, variantes, matizes, diferentes acentos e novas palavras, mas que vivem em torno de uma unidade. A uniformidade do Acordo ortográfico? Maria João discorda.
(Também eu discordo. Jamais haverá uma uniformização linguística entre Portugal e as suas ex-colónias. Hoje elas são países livres, autónomos, com uma linguagem própria e muitos dialectos, e não têm de andar “coladas” à língua colonizadora. Não têm. E muito menos, Portugal tem de adoptar a grafia de uma ex-colónia, a primeira vez que tal acontece na História da Humanidade).
“O acordo é uma imposição artificial e imposta. Não é tido como necessário. Surge como uma imposição exterior. E a quem é imposto, não a reconhece como seu.”
Entende que na expressão brasileira o acordo não mexeu muito com a forma de falar e escrever, mas no caso do português de Portugal, sim, veio mesmo a “desfigurar a língua e a nossa relação com as palavras. Estamos a perder a nossa raiz latina…” Consequências? “Qualquer dia não saberemos descortinar a origem etimológica das palavras”.
(É verdade que na expressão brasileira o acordo não mexeu com a forma de escrever e muito menos com a forma de falar. Em Portugal mudou tudo. A forma de escrever e a de falar, porque quando se escreve “arquiteto” por exemplo, o correcto é pronunciar “arquitêtu”. Quem pronuncia “arquitéto” está a atropelar as regras gramaticais. Então, para isso, atire-se a Gramática ao lixo, e deixe-se que se fale e escreva à balda. É como a pronúncia de “ganhar”, que em bom Português se diz “gânhar”, e o que se ouve por aí, a torto e a direito, é “gánhar”. Está errado. Em Portugal, fala-se e escreve-se muito mal), e não só por culpa do AO90).
Mas a verdade é que estamos no olho do furacão, metade do país segue o acordo e a outra metade está em desacordo. Como saímos desta encruzilhada? “Por enquanto ainda escrevemos como nos apetece, mas tudo vai mudando. Por exemplo, escrevo para o Jornal de Letras e eles corrigem!” Ou seja, mesmo que não esteja oficializado em todos os países de fala oficial portuguesa, aos poucos o acordo ganha terreno, vai-se impondo.
(Só se vai impondo porque os Portugueses não se impõem, não batem o pé, não exigem que seja devolvida a Portugal a grafia portuguesa. Só se vai impondo, porque os que escrevem em Língua Portuguesa não deveriam escrever para jornais acordistas, ou se escrevem e os jornais acordistas transformam os textos correCtamente escritos, em textos incorretamente (lê-se incurrêtâmente) escritos, o mais correCto é não escrever para tais jornais. Só se vai impondo, porque na hora de votar deveriam penalizar os partidos que defendem a colonização de Portugal através da Variante Brasileira do Português).
Ao fim desta conversa resta a pergunta: é o novo Acordo Ortográfico o novo poder colonizador sobre a língua?
(A resposta é sim. Este acordo ortográfico, mais desacordo do que acordo, é, de facto, o novo poder colonizador da Língua Portuguesa. Os motivos, esses, são os mais absurdos, porque obscuros).
***
(***) Maria João de Oliveira Sequeira Cantinho (Lisboa, 1963), é uma autora portuguesa, licenciada em filosofia, premiada no campo do ensaio e da poesia. Colabora regularmente em várias revistas académicas e literárias, publicou várias obras de ficção, ensaio e de poesia. É investigadora do CFUL (faculdade de Letras) e do Collège d’Études Juives da Universidade da Sorbonne. É editora da revista digital Caliban. É membro da direcção do PEN Clube Português, da APE (Associação Portuguesa de Escritores desde 2014) e da APCL (Associação Portuguesa de Críticos Literários).
Fonte:
***
Tudo conduz à colonização da Língua.
O AO90 não era necessário. Ninguém o pediu. Ele está a ser imposto. As palavras mutiladas vêm do "brasileiro", à excePção de algumas, que escaparam à mutilação. No Brasil, já não se estuda "Português", disciplina que foi substituída por "Comunicação e Expressão". Já não se ensinam os Clássicos da Literatura Portuguesa, nem sequer da Literatura Brasileira. O ensino da Língua é uma pobreza, tal como em Portugal.
Na sua esmagadora maioria, o povo brasileiro escreve mal, e necessita de que se traduzam os livros escritos em Língua Portuguesa para o "brasileiro". Isto é um facto. E em Portugal a escrita e a fala anmdam de rastos, completamente à balda.
Neste momento, em Portugal, apenas os subservientes ao Poder adoptaram uma grafia assente na grafia brasileira e, por mera ignorância, mutilam as palavras, a torto e a direito… E instalou-se uma outra ortografia: o vergonhoso mixordês.
Enfim, uma balbúrdia! Tanto cá, como lá…
E nesta balbúrdia não estão incluídas as restantes ex-colónias: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor. Cabo Verde passou a Língua Portuguesa para segunda língua. Língua estrangeira. Não conta. Contudo, aprender uma língua estrangeira deturpada, não é da Cultura Culta.
E isto é muito significativo da inutilidade deste acordo, que está a destruir a Língua Portuguesa, apenas em Portugal, porque a Língua do Brasil já não nos pertence desde 1822, e, portanto, o que fazem com ela, não nos diz respeito, mas não lhe chamem Português..
Isabel A. Ferreira
. «A língua e o sofá: o par...
. «Bicadas do Meu Aparo»: “...
. Em Defesa da Ortografia (...
. A batalha do AO90 não est...
. Maria José Abranches reco...
. Foi enviada, hoje, à Prov...
. «Coragem, Portugal!» text...
. Balão de oxigénio para a ...
. Os acordistas portugueses...