Domingo, 27 de Dezembro de 2020

Aos governantes portugueses que promovem a destruição da Língua Portuguesa comprometendo, desse modo, a inteligência das gerações futuras…

 

… por mera relutância em reconhecer que o Acordo Ortográfico de 1990 foi a maior idiotice que alguma vez ocorreu em Portugal, porque, na verdade, só Portugal se esmera nesta garabulha ortográfica.

 

«Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza». Um interessantíssimo texto, da autoria de Christophe Clavé, que liga o empobrecimento da Línguagem à diminuição dos níveis de inteligência.

 

Algo que está a passar-se em Portugal, aceleradamente. E se ninguém fizer nada, urgentemente, chegaremos ao nível zero da inteligência, já na próxima geração.

 

Isabel A. Ferreira

 

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Por Christophe Clavé

 

«Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza».

 

«É a inversão do efeito Flynn.

 

Parece que o nível de inteligência medido pelos testes diminui nos países mais desenvolvidos.

 

Pode haver muitas causas para este fenómeno.

Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem.

 

Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as subtilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos.

 

O desaparecimento gradual dos tempos (conjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projecções no tempo.

 

A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são exemplos de "golpes mortais" na precisão e variedade de expressão.

 

Apenas um exemplo: eliminar a palavra "signorina" (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias.

 

Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento.

 

Muitos estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada resulta directamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras.

 

Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível.

 

Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece.

 

A história está cheia de exemplos e muitos livros (Georges Orwell - "1984"; Ray Bradbury - "Fahrenheit 451") contam como todos os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras.

 

Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras.

 

Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional?

Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro?

 

Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e a sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu?

 

Quero dirigir-me a pais e professores:  façamos com que nossos filhos, nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinar e praticar o idioma nas suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se for complicado.

 

Porque nesse esforço existe liberdade.

 

Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a ortografia, libertar a linguagem dos seus "defeitos", abolir géneros, tempos, matizes, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitectos do empobrecimento da mente humana.

 

Não há liberdade sem necessidade.

Não há beleza sem o pensamento da beleza. "

 

Christophe Clavé

 

Traduzido do texto original, neste link:

https://libplus.it/non-ce-liberta-senza-necessita-non-ce-bellezza-senza-il-pensiero-della-bellezza/?fbclid=IwAR2Xi8PO0W--v-1SobsXNuDfrp612WOA4luy8Q8qx2OCRJnQFZQCd1uniUA

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:39

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