Quarta-feira, 16 de Outubro de 2024

«Brasileiros recolhem mais de 1 bilhão de euros à Previdência de Portugal, um recorde». Título de uma notícia no «Público brasil». O que é que isto significa? O que é “recolher um bilhão”?

 

Num artigo publicado no «Público brasil» este título lido por um português leva-o para uma situação caricata:  os brasileiros guardaram para si uma bilha de grandes dimensões. O que é que isto pode significar?

 

Bem sei que o “Público brasil” é um jornal criado para brasileiros, que não falam, nem escrevem Português, mas, estando em Portugal, a guardar para si tamanha bilha, já não era tempo de recolherem a sua Linguagem, e começarem a aprender Português?  É que o «Público brasil», não é um Boletim Cultural do Povo Brasileiro, circunscrito a Brasileiros. É um jornal online como outro qualquer.

Os Brasileiros usam bastantes vocábulos que não correspondem ao real significado da palavra. Eles andam por aí às centenas: uns, que não correspondem ao significado real; outros, que são brasileiros, mas apodados de português.


Eu já estou farta de me deparar com situações destas. Veja-se estas imagens (mas há-as aos magotes, por aí):

 

CAMÊRA-PLANEJE.png

 

Na imagem televisiva, bem escarrapachado, para que todos vejam e leiam, está o vocábulo câmera, pertencente unicamente ao léxico brasileiro, porque em Português dizemos câmara. Na outra está o vocábulo planeje, como propaganda de uma empresa brasileira, fixada na porta do seu escritório, situado numa galeria de muito movimento. O vocábulo planeje pertence unicamente ao léxico brasileiro. Nós, em Portugal, dizemos planeie, do Latim planus, que significa elaborar um plano.

ATENÇÃO! Nós estamos em Portugal! Por-tu-gal!!!! Estes vocábulos alienígenas estão a ser usados em Portugal. No Brasil jamais isto aconteceria, porque não falamos, nem escrevemos a mesma Língua, embora possa parecer que sim.

 

Vejamos um exemplo em Português/Castelhano, que pode explicar esta teoria:

-- Português: o contacto electrónico do director está correcto. Podem activá-lo.

-- Castelhano: el contacto electrónico del director es correcto. Pueden activarlo.

 

[-- Variante Brasileira do Português: o contato eletrónico do diretor está correto. Podem ativá-lo].

 

Podemos dizer que os Portugueses falam e escrevem Castelhano e os Espanhóis falam e escrevem Português? Não, não podemos, obviamente.

O que podemos dizer é que temos um tronco linguístico comum.

O Castelhano é uma Língua que deriva do Latim, tal como a Portuguesa.

A linguagem brasileira actual deriva do Português, que, por sua vez, deriva do Latim, e que os Brasileiros deslatinizaram ao deslusitanizarem-no, portanto, já não é mais Português. Aliás está bem visível a diferença.

Então por quê esta obsessão de nos quererem meter pelos olhos dentro a Variante Brasileira do Português, quando o Português é a GENETRIZ dessa Variante?

 

NÃO, não sou contra a imigração brasileira, mas sou contra esta insistência de querer meter pelos nossos olhos dentro a Variante Brasileira do Português, onde muita coisa não significa o que é: é o bilhão (uma bilha de grande dimensão), é a recolha (colher ou guardar, ou regressar a casa) enfim, já estou a ficar farta disto...

 

Vir para Portugal trabalhar é uma coisa. Vir para Portugal impor o Brasileiro ou os costumes brasileiros, é outra coisa. Os Brasileiros não falam, nem escrevem Português. E, em Portugal, escreve-se e fala-se Português. Todos os estrangeiros, quando emigram, são obrigados a escrever e a falar a Língua do País para o qual emigram, excepto os Brasileiros, em Portugal. Porquê? Por os fazerem sentir-se os donos disto tudo?

 

Eis dois comentários ao texto que recolhe um bilhão, onde não está em causa o contributo dos imigrantes brasileiros, mas o modo como estão a tentar impor a variante brasileira do Português, por toda a parte. E isto, não é da honestidade. Sempre ouvi dizer que em Roma, sê romano, um ditado que nos ensina a importância de respeitarmos e nos adaptarmos à Cultura, à Língua, aos Costumes e às Tradições locais, não esquecendo, porém, os valores do nosso País de origem, que podemos manter entre nós, mas NÃO impô-los ao País que nos acolhe.

 

Portanto, em Portugal, sejam portugueses, assim como eu, no Brasil, fui brasileira, não precisando, sequer, de me naturalizar.

Comentários ao PBR.PNG

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:15

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
comentários:
De Daniel a 16 de Outubro de 2024 às 18:56
Um pequeno pormenor, tenho preferência em dizer Castelão em vez de Castelhano, que pertence a castelo, do reino de castela, já castelhano pertence ao antigo castiella, que agora é castilla
De Isabel A. Ferreira a 16 de Outubro de 2024 às 19:24
O Daniel é livre de preferir o que bem entender. Mas quem sabe, sabe, e são os Espanhóis que SABEM da Língua deles. E em Espanha as Línguas oficiais são o CASTELLANO (assim mesmo, como é das Ciências da Linguagem de Espanha) o Basco, o Galego e o Catalão.

Pois então diga lá o Castelão, que, para quem sabe, é um castelo de grande dimensão. Há gente que gosta de inventar e de iludir-se. Está no seu direito.

Ah! E o espanhol, como língua, NÃO existe. E pormenor é já de si algo pequeno, não precisa da redundância do “pequeno pormenor”.
De Susana Bastos a 17 de Outubro de 2024 às 15:52
Cara Isabel, "câmera" é palavra tão portuguesa quanto brasileira, apenas cá preferimos a grafia com "a". Note-se que até em latim existia essa dualidade "camara/camera". Não é nada de novo na língua. E quanto a "bilhão", os brasileiros optaram pela coerência com "milhão", não pegando no francês "billion", que foi onde fomos buscar o nosso "bilião". Como vê, há sempre matizes que devem ser tidas em conta para explicar os fenómenos. E confesso que essa de achar que o castelhano está mais próximo do nosso português do que o português brasileiro só se pode atribuir a uma fúria antibrasileira que cega... Incompreensível para quem se dedica a fundo ao estudo da língua.
De Isabel A. Ferreira a 17 de Outubro de 2024 às 17:48
Mas que mania tem a Susana Bastos de achar que toda a gente é parva, para engolir as suas “explicações” sem levar em conta os factos.

A Susana Bastos segue a cartilha brasileira. Eu sigo a cartilha portuguesa.

O seu comentário é muito, muito falacioso.

Os vocábulos “câmEra” e câmAra já foram usados em Português, mas o vocábulo “câmEra” há muito, muito tempo caiu em desuso em Portugal, e o Brasil aproveitou-se para, como sempre fez, distanciar-se do Português, e adoptou a palavra que caiu em desuso e Portugal: câmEra, que se tornou um vocábulo unicamente do léxico brasileiro, e NÃO mais do Português.

Não me venha com essa de dizer que em Portugal esse vocábulo desusado, ainda se usa, porque é MENTIRA. Em Portugal nenhum português está diante de uma câmEra.
No Latim existia a dualidade, porque câmara vem do Latim camara, e camêra vem do grego κάμερα.
E assim como aconteceu com os fonemas gregos, tentou-se latinizar todas as palavras possíveis.

Quanto ao "bilhão" a única coerência que há é a de o Brasil querer afastar-se do Português: se o Português diz biliões, nós vamos dizer "bilhões".

A suas “explicações” é de quem NÃO sabe como se foi construindo o léxico brasileiro ao longo dos tempos, e das intenções por detrás dessa construção.

O Castelhano é uma Língua românica como o Português, e é tão, mas tão parecida com o Português, que quando eu era ainda estudante na Universidade, e tive de ler um livro em Castelhano para fazer um exame, eu, que nunca tinha estado diante da escrita castelhana, lio-o sem a menor dificuldade.

Quando fui para o Brasil, depois de ter vindo para Portugal estudar (fiz a 1ª e a 2ª classe do ensino básico no Brasil), desconhecia a maioria do léxico que me era apresentado, devido ao abrasileiramento dos vocábulos que antes eram portugueses, ingleses, franceses e castelhanos. Aprendi uma outra linguagem, derivada do Português, sim, mas que de Português já pouco tinha.

Engana-se quando fala numa "fúria anti-brasileira" da minha parte (com o hífen que nunca deveria ter sido abolido). É precisamente por ter estudado a fundo as duas linguagens, a brasileira e a portuguesa, se quis estudar lá e cá, que tenho autoridade para dizer o que digo.

Fúria anti-portuguesa têm os servilistas portugueses, subservientes ao Brasil, como a Susana.

Eu apenas sigo as Ciências da Linguagem, e não tenho necessidade de me curvar perante o gigante, porque o gigante não me faz sombra, até porque a minha cultura passa também pela cultura brasileira, que é tão rica como a nossa. Lamento bastante que os Brasileiros não a saibam cultivar, e estão a destruí-la tal como destruíram o Português.

E isto qualquer brasileiro culto o dirá.
De Susana Bastos a 17 de Outubro de 2024 às 17:54
Segundo a norma de 1945/73, é "antibrasileiro" que se deve escrever, não como cada um acha. Não é preciso dizer mais nada, pois não?...
De Isabel A. Ferreira a 17 de Outubro de 2024 às 18:23
Não, não é preciso dizer mais nada.

Segundo a norma de 1945/73 (a que está em VIGOR em Portugal) escreve-se antibrasileiro, eu sei, o meu correCtor marca erro, quando escrevo anti-brasileiro, mas é uma daquelas coisas a contestar nessa norma, que eu fiz questão de assinalar: “anti” é um elemento de formação que exprime a noção de “oposição”. Não ficaria mais evidente a “noção de oposição” se a palavra levasse o hífen? Faço-o de vez em quando, para fazer sobressair essa “oposição”. Normalmente sigo a norma, obviamente.

Também pela norma de 1945/73 escreve-se aspeCto, excePto, recePção, expeCtativa, tal como os Brasileiros grafam estas palavras, e muito bem, à portuguesa, mas há portuguesinhos que grafam estes monos gráficos: aspeto, exceto, receção, expetativa.

Acha bem, não estando o ilegal AO90, efectivamente, em vigor em parte alguma da CPLP?

Comentar post

.mais sobre mim

.pesquisar neste blog

 

.Dezembro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.posts recentes

. «A língua e o sofá: o par...

. «Bicadas do Meu Aparo»: “...

. Em Defesa da Ortografia (...

. A batalha do AO90 não est...

. Maria José Abranches reco...

. Foi enviada, hoje, à Prov...

. «Coragem, Portugal!» text...

. Balão de oxigénio para a ...

. Os acordistas portugueses...

. «Eu [Isabela Figueiredo]...

.arquivos

. Dezembro 2024

. Novembro 2024

. Outubro 2024

. Setembro 2024

. Agosto 2024

. Junho 2024

. Maio 2024

. Abril 2024

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

.Acordo Ortográfico

A autora deste Blogue não adopta o “Acordo Ortográfico de 1990”, por recusar ser cúmplice de uma fraude comprovada.

. «Português de Facto» - Facebook

Uma página onde podem encontrar sugestões de livros em Português correCto, permanentemente aCtualizada. https://www.facebook.com/portuguesdefacto

.Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt

. Comentários

1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.

.Os textos assinados por Isabel A. Ferreira, autora deste Blogue, têm ©.

Agradeço a todos os que difundem os meus artigos que indiquem a fonte e os links dos mesmos.

.ACORDO ZERO

ACORDO ZERO é uma iniciativa independente de incentivo à rejeição do Acordo Ortográfico de 1990, alojada no Facebook. Eu aderi ao ACORDO ZERO. Sugiro que também adiram.
blogs SAPO