Quarta-feira, 11 de Outubro de 2023

«Desdém, preconceitos e complexos» [por Paulo Martins]

Texto publicado no Blogue  Apartado 53

 

A independência do Brasil ainda não está terminada, e eu nem sequer imaginava!

A propósito do dia da independência do “Brásiu”, a 7 de Setembro, o molusco presidente do dito país, L. I. Lula da Silva, proferiu uma afirmação absurda numa comunicação vídeo consagrada ao acontecimento. 

 

 

Para lá da desconcertante falta de senso, a tirada suscita-me espanto devido à estranheza da proclamação! Diz o molusco, anteriormente condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, além do envolvimento em outras caldeiradas já descritas no Apartado 53, que “a independência do Brasil ainda não está terminada”. A sério, 201 anos depois!? É de pasmar a admissão de tamanha apatia e notável inépcia demonstrada para a conclusão do processo, além da extrema inabilidade para construir um país independente! Parece-me claramente um exagero a independência não estar terminada passados mais de dois séculos.

 

Ainda que Lula aluda no seu monólogo a outras ideias consubstanciadas em pilares, a saber: democracia, soberania e união que, segundo ele, irão concretizar a tão postergada independência, a escolha de palavras é, no mínimo inapropriada, já que este – assevera a História – é um processo concluído, consolidado e verificável; se não, vejamos, o Brasil é independente desde 7 de Setembro de 1822 e, ainda que relativamente jovem, é um estado soberano e reconhecido como tal pela comunidade internacional. A construção de um país melhor e de uma sociedade mais justa e equitativa, pelo menos para mim, não se confundem com a independência efectiva e reconhecida desde 1822, como é o caso da brasileira. Que idiotice!

 

Lula da Silva “Doutor” Honoris Causa pela Universidade de Coimbra — Março 2011

 

Tudo isto aparenta ser mais um exercício da nada original, enfadonha e facciosa lengalenga vitimista da colonização portuguesa, repetida ad infinitum pelos brasileiros que, segundo estes (ainda que nem todos), causou tanto mal de que o “Brásiu” ainda padece e padecerá nos séculos vindouros e do qual nunca irá recuperar. Tudo por culpa de Portugal, what else, que não fundou nenhuma universidade no “Brásiu”, etc. etc. Já agora, não seria bom retirar a Lula da Silva o título de doutor Honoris Causa atribuído apenas por razões políticas pela Universidade de Coimbra, uma vez que foi condenado na justiça e cumpriu pena de prisão efectiva?

 

Mas, no que a independência do “Brásiu” diz respeito há, contudo, uma dimensão que Lula negligenciou na sua comunicação: a independência linguística, pela qual deveriam Lula e os brasileiros pugnar. Seria o culminar da tão adiada e inatingida independência brasileira.

 

O que a maioria dos portugueses já sabe, e que outros fingem não saber é que a língua falada e escrita no Brasil não é o português. Sim, repito, a língua do Brasil não é a Língua Portuguesa, é o brasileiro, brasilês, brasileirês, brasiliense, brasiliano, ou que lhe queiram chamar os brasileiros, mas português não é de certeza.

 

Historicamente, os brasileiros sempre demonstraram desdém, preconceitos e complexos relativamente à Língua Portuguesa, assim como também sempre manifestaram desprezo pela cultura portuguesa em geral, especialmente ao nível das elites. Não é demais relembrar a acção de Edgard Sanches, um intelectual e parlamentar brasileiro, proponente no Congresso Nacional brasileiro da alteração legislativa do nome da Língua Portuguesa no Brasil para língua brasileira. Infelizmente, por diversas vicissitudes, tal não sucedeu. A acção dessas elites consistiu em degradar e vilipendiar a Língua Portuguesa em terras brasileiras até chegar ao que ela é hoje: um dialecto (chamemos-lhe assim) caótico, cacofónico e agramatical, em suma um “favelês” brasileiro, uma língua já estruturalmente diferente da Língua Portuguesa! Que o diga o professor Ivo castro: “a separação estrutural entre a língua de Portugal, a do Brasil e a dos países africanos é um fenómeno lento e de águas profundas, que muitos preferem não observar.”

 

 

Sugiro que o Brasil deve lançar, isso sim, uma ofensiva diplomática para promover a língua brasileira no mundo e na ONU, em vez de se servir do nome da Língua Portuguesa para o fazer, contando ainda com a conivência da traiçoeira classe política e dirigente de Portugal, levando a cabo efectivamente uma política de independência linguística e nomear de uma vez por todas e definitivamente a língua que se fala e escreve no Brasil como “brasileiro” ou outra coisa qualquer. É minha convicção que aquilo que tem travado essa iniciativa é a crença de muitos brasileiros que, a partir do momento em que o “português brasileiro” passasse a ser apenas “brasileiro”, a sua língua não seria mais do que um crioulo afro-ameríndio, retendo apenas alguma vaga semelhança com o português, uma língua de raiz indo-europeia.

 

Seja como for, parece que a “descolonização linguística” está na moda, principalmente no que à Língua Portuguesa diz respeito. Sendo assim, porque não um impulso de independência linguística por parte do Brasil? Há algum tempo, uns quantos idiotas lembraram-se de propor a ideia tonta de organizar um colóquio subordinado à descolonização da Língua Portuguesa, tal como foi relatado aqui. E pasme-se, até já existe um dicionário da Língua Portuguesa “descolonizada”!

 

Por cá, seria da mais elementar higiene política o afastamento face a Lula da Silva e também face ao “Brásiu”, viu, uma vez que é plenamente independente, ainda que o “prêsidentchi dá República Fêdêrátchiva do Brásiu” o negue. É deveras insólita e incompreensível a paixão que Marcelo, Costa e mais alguns nutrem por um ex-presidiário, condenado pelos crimes acima descritos, sendo o AO90 um dos filhos deste “coito danado”. E ainda é mais insólita a maneira como defendem os interesses brasileiros, sacrificando alegremente os interesses portugueses. O recente périplo do presidente brasileiro pelos países de língua portuguesa mostra a esperteza e as manhas de Lula e os objectivos do Brasil relativamente ao espaço lusófono.

 

 

O que está em causa é o futuro da Língua Portuguesa e do país. Os resultados da brasilofilia doentia têm sido descritos e são perceptíveis quotidianamente por todos nós. Sei que a minha preocupação é também a preocupação de muitíssimos outros portugueses que não se conformam com o AO90 e toda a trama criminosa que lhe subjaz. Quanto à Língua Portuguesa, não a queremos vulgarizada, preferimos a qualidade em detrimento da quantidade de falantes. A falácia do “império linguístico de 300 milhões de falantes” ou coisa que o valha não passa de uma ilusão ingénua alimentada por interesses escusos.

Paulo Martins


A transcrição deste texto, remetido por e-mail pelo autor, reproduz exacta e integralmente o original, incluindo alguns links e o vídeo. Acrescentei alguns outros links e introduzi as imagens. [JPG]

 
publicado por Isabel A. Ferreira às 17:56

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comentários:
De Paulo Martins a 13 de Outubro de 2023 às 10:27
Bom dia, prezada Isabel A. Ferreira.
Antes de mais, quero agradecer-lhe pelo trabalho que ao longo destes anos tem devotado à nobre causa de combater o asqueroso AO90. Quero também agradecer-lhe por ter reproduzido o meu texto no seu blog.
Finalmente, gostaria de saber se existe alguma possibilidade de adquirir o seu livro "Dom João VI – Como um Príncipe Valente Enganou Napoleão e Salvou o Reino de Portugal e o Brasil" ou, em alternativa, o também seu livro "Contestação ao Livro «1808», de Laurentino Gomes"?
Cumprimentos cordiais.
De Isabel A. Ferreira a 13 de Outubro de 2023 às 19:05
Boa tarde, caro Paulo Martins.

Começo por agradecer a gentileza do seu comentário.
A causa da nossa Língua Portuguesa é nobre, sim. O combate ao asqueroso AO90 é difícil, porque não estamos a lidar com gente normal, e como essa gente não é normal, como poderá perceber a nobreza da causa?

Não precisa de agradecer a publicação do seu texto, no meu Blogue. Sinto que é meu dever publicar os textos que dizem as verdades, sem papas na língua, sem medo de epítetos imbecis, como se fôssemos xenófobos ou racistas. Como se defender a nossa Língua Portuguesa fosse um crime e não um dever.

Eu é que tenho de agradecer ao Paulo Martins e ao João Pedro Graça por terem a coragem de dizer as verdades que devem ser ditas e propagadas, para que não pensem que, em Portugal, somos todos uma cambada de parvos.

Quanto ao livro, não são dois, mas apenas um: "Contestação ao Livro «1808», de Laurentino Gomes, que se esgotou e não foi feita segunda edição por aselhice da editora portuguesa. No Brasil quiseram publicá-lo, mas eu teria de o traduzir para “Brasileiro” (assim mesmo, conforme me foi solicitado pelas editoras). Recusei-me.

Entretanto, escrevi uma segunda versão sob o título «Dom João VI – Como um Príncipe Valente Enganou Napoleão e Salvou o Reino de Portugal e o Brasil» - (Contestação do livro «1808», de Laurentino Gomes) - (2ª edição corrigida e aumentada), com prefácio de Arthur Virmond de Lacerda, jurista e professor universitário brasileiro.

Os pedidos para aquisição do livro, vindos do Brasil, e mesmo de Portugal, foram mais do que muitos. Tentei publicá-lo em Portugal. Todas as editoras que contactei recusaram-se a publicá-lo, apontando a desculpa esfarrapada de não se encaixar na política editorial. Quando sei que pauzinhos brasileiros andaram por aqui a manobrar os fantoches, para não melindrar o autor, que, com mentiras, ganhou o Prémio Jabuti, e obviamente, com a já avançada política de implementação daquilo que nós sabemos.

Então decidi publicá-lo no meu Blogue, de leitura aberta, embora seja expressamente proibido reproduzi-lo, sem minha autorização. Porém, os interessados poderão consultá-lo na íntegra, neste "link":

https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/contestacao-ao-livro-1808-de-laurentino-729191

E esta é a saga de um livro que poderia ter vendido milhões de cópias, pelo menos tantas quantas as que vendeu o “1808”, de Laurentino Gomes, e por motivos mesquinhos dos zucatugas, não vendeu.

Se o Paulo Martins estiver interessado, para já, o único modo de ter acesso ao livro é através do "link" acima referido.

As minhas saudações desacordistas.
De Anónimo a 15 de Outubro de 2023 às 13:56
Bom dia, cara Isabel A. Ferreira.
Muito obrigado pela sua resposta. Peço desculpa pelo equívoco relativamente ao seu livro "Contestação ao Livro «1808», de Laurentino Gomes", pois pensei que fossem duas obras distintas. Admito que não sigo atentamente o seu blogue "Arco de Almedina", ainda que simpatize com a causa anti-touradas e anti-tauromaquia em geral, e ainda que essa não seja a única temática do referido blogue.
Lerei com agrado o seu livro seguindo a hiperligação que apontou.
Um bom resto de fim-de-semana.
Despeço-me cordialmente.
De Isabel A. Ferreira a 15 de Outubro de 2023 às 16:41
Boa tarde, caro Paulo Martins.

Pois parece que são dois livros diferentes. Mas tive necessidade de mudar o nome do livro, para fazer sobressair o papel de Dom João VI, que não foi o cobarde, nem o porco, nem o feio nem o mau que o Laurentino fez dele. Então, na segunda edição, decidi mudar o nome do livro, e enriquecê-lo com mais informação, e com as obras consultadas. Porque as fontes do Laurentino foram testemunhos de “turistas” ingleses, da época de Dom João VI.

O “Arco de Almedina” foi criado para ser um Blogue de Cultura. Mas criei-o numa época em que despertei para a barbaridade das touradas. Então decidi fazer dele um Blogue de defesa dos Direitos Humanos, dos Direitos das Crianças, dos Direitos dos Animais, da Defesa da Natureza, da Política e também da Cultura obviamente.

Espero que goste do livro.

Uma boa semana de trabalho para si, uma vez que o fim-de-semana, está no fim.

Até à próxima.

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