«O que se passa com o AO90 é que se trata de um «organismo» que não surgiu naturalmente, foi induzido artificialmente de uma maneira violenta e brutal, tendo gerado um «ser» abortivo — ou seja, trata-se de uma MUTAÇÃO desfavorável, não de uma EVOLUÇÃO natural, basta observar os erros, as incongruências, os descalabros e as desorientações provocados no Ensino e em diversas áreas culturais, e auscultar as queixas de professores e alunos sobre o calamitoso estrago causado pela imposição do AO90.
Ora, quando um organismo não é viável, como por exemplo um doente terminal em estado vegetativo, a ciência médica pode fazê-lo sobreviver por «tecnologia clínica», ligando-o a uma máquina que lhe prolonga a agonia artificialmente.
No caso da mutação desvantajosa do AO90, verificamos que o seu deplorável estado vegetativo somente se mantém porque foi ligado à máquina por «tecnologia política», e a sua falsa vida, prolongando-se, está a proporcionar uma agonia intolerável aos que lhe sofrem os efeitos.»
António de Macedo, cineasta e escritor
«A violenta desfiguração que o novo Acordo quer impor à língua é um crime grave. Com ele, a língua original do trovador D. Dinis, de Gil Vicente, do Pe. António Vieira… passou a ser um subdialecto do brasileiro, que nem os brasileiros reconhecem, porque eles continuam a escrever aspecto, perspectiva, espectador, excepcional, concepção, recepção… e nós com o novo Acordo passamos a escrever aberrações como aspeto, perspetiva, espetador, excecional, conceção, receção…
O iluminado legislador que produziu a novo AO parece ignorar a tendência fonogrâmica das línguas, a inevitável “colagem” da letra à fonética. Quando vejo escrito, como agora,conceção e receção,por exemplo, a minha tendência é pronunciar como concessão e recessão… A tendência fonogrâmica do português brasileiro é abrir os sons, ao passo que a do português de Portugal é fechá-los. Por isso a grafia constitui uma marca distintiva fundamental. Por exemplo, o novo AO quer que se escreva afetar e adotar, tal como no Brasil, em vez de afectar e adoptar. Com ou sem as letras aparentemente mudas como o “c” ou o “p”, o brasileiro pronunciará sempre àfètár e àdòtár, ao passo que português sem o “c” e sem o “p”, terá a tendência fonogrâmica de pronunciar âf´tár e âdutár. Se passo a escrever correto em vez de correcto, terei tendência, enquanto português, para pronunciar kurrêto, como em carreto ou coreto…»
António de Macedo, cineasta e escritor
Inicia-se o texto de Novembro com duas citações de António de Macedo, ambas “roubadas” ao blogue Apartado 53, que tem tido um notabilíssimo trabalho a desmascarar o AO90. Além da substância nelas contida, digna da mais profunda reflexão, pretende o autor deste escrito chamar a atenção para a quinta edição do Prémio António de Macedo, organizado pela Editorial Divergência, ao qual podem concorrer apenas as obras que respeitem o Acordo Ortográfico de 1945.
Sobre a inutilidade do AO90 e sobre os seus malefícios no que respeita à oralidade, os textos em epígrafe são mais certeiros do que qualquer comentário do autor destas linhas.
Por essa razão, dedicar-nos-emos a demonstrar, mais uma vez, um dos aspectos do caos ortográfico que se foi instalando. Como o leitor, certamente, já reparou, deparamos, de quando em vez, com uma palavra estranhíssima. Sim, caro leitor, estou a falar do contato.
Esta forma resulta do fenómeno de hipercorrecção e tem tido muito sucesso um pouco por todo o lado, a ponto de alguns especialistas acharem que dela já não nos livraremos.
Uma rápida consulta às páginas digitais de alguns órgãos da comunicação social permitiu o seguinte pecúlio: “Todos aqueles que têm contato com o povo francês…” (Expresso, 16-10-22); “Messi não terá nesta altura contatos…” (A Bola, 07-10-22); “… melhorar o contato e aderência…” (AutoFoco, 26-09-22); “Será possível desenvolver contatos…” (A Bola, 15-09-22); “… estamos em contato permanente… (A Bola 05-09-22); “… o contato com a tripulação foi interrompido.” (Expresso, 04-09-22); “… após sofrerem contatos ligeiros…” (Tribuna Expresso, 19-08-22); “Câmara quer dinamizar contatos pela internet…” (RTP Madeira, 25-07-22); “Joan Laporta em contato com os responsáveis máximos…” (A Bola, 09-08-22); “… apesar de tentativas de contato…” (A Bola, 26-07-22); “Estão ainda a ser desenvolvidos contatos com a Câmara Municipal…” (A Bola, 22-07-22); “… entre em contato com a polícia.” (Jornal I, 03-07-22); “Serviços sociais da Câmara estão em contato com pessoas sinalizadas…” (Rádio Hertz, 15-07-22); “… permitindo […] contatos com a menor em condições propícias aos abusos…” (Jornal Sol, 15-07-22).
Se respigarmos no Diário da República, só no mês de Outubro deste ano, encontraremos, usufruindo do labor de Francisco Miguel Valada: “… não dispensa o contato regular do trabalhador…” (24-10-22); “Ponto de Contato da Rede Europeia dos Direitos das Vítimas.” (07-10-22).
Se é assim nestes meios, como será com o cidadão comum?
Trinta e dois anos depois de os coveiros da língua terem produzido o AO90, ainda há tempo para reverter os malefícios de tal instrumento.
Ah, se o leitor publicar, no Brasil, uma obra intitulada “O Contato”, em Portugal, em bom português, o seu título será “O Contacto”. É isto a unidade essencial da língua.
P.S.: As imagens que acompanham este escrito (tal como as citações e imagens dos textos anteriores desta série) foram publicadas nas páginas de Facebook dos grupos Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico de 1990 e Tradutores Contra o Acordo Ortográfico, os quais têm desenvolvido um laudabilíssimo labor, desmascarando o embuste ortográfico.
João Esperança Barroca
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