Vem isto a propósito de mais um texto da autoria do linguista brasileiro José Luís Landeira, publicado no jornal PÚBLICO, sob o título «Brasil, Portugal e as gramáticas da língua portuguesa» no passado dia 21 de Setembro, o qual comete alguns deslizes, chamemos-lhes assim, na avaliação histórica e linguística da Língua dos Portugueses, e que esmiuçarei numa próxima ocasião.
E o pior é que a Língua dos Portugueses continua a ser motivo de discussões ocas e absolutamente inúteis, baseadas em premissas falsas, inventadas por quem quer, porque quer, que o Português seja uma coisa que não é, tenha uma origem que não teve, só para preencher a lacuna da compreensão da Linguagem, que os Brasileiros falam e escrevem, considerando erradamente que é um "português brasileiro", quando não passa da VARIANTE brasileira do Português, algo completamente diferente. Português Português fala e escreve a elite culta de Angola, por exemplo.
E ainda pior do que isto é considerarem que existe DUAS variantes do Português: a brasileira e a europeia, quando, a bem da verdade, o que existe é a Língua Portuguesa (Português), a Língua dos Portugueses, e a sua variante brasileira, que é tão válida quanto as variantes de todas as outras Línguas que os ex-colonizadores plantaram por esse mundo fora. O Português NÃO é e jamais será uma variante de si mesmo. Dizer isto é da estupidez.
Por que motivo esta questão da Língua é apenas esgrimida entre Portugal e Brasil? Porque são os dois países onde existem mais ignorantes por metro quadrado.

O Português que os Brasileiros aceitaram como Língua Oficial depois da Independência, em 1822, sofreu várias influências, entre elas as das Línguas indígenas e as dos escravos africanos, as dos povos que se foram fixando no Brasil, mas também da tendência de os Brasileiros abrasileirarem uma infinita quantidade de vocábulos pertencentes à Variante Americana do Inglês, e deslusitanizarem [o termo e a ideia são do enciclopedista brasileiro Antônio Houaiss] o Português com a intenção de o afastar da Língua do ex-colonizador, castelhanizando-o, italianizando-o, afrancesando-o, de tal modo que deixou de ser Português para ser uma sua Variante: uma linguagem que deriva do Português, um dialecto, um crioulo, muito evidenciado na fonética. Além do distanciamento da fonética e da ortografia em relação ao Português, os Brasileiros ainda lhe introduziram mudanças no léxico (todas as palavras que puderam ser alteradas para se afastarem do Português, foram desfiguradas: umidade, anistia, onipresente, onívoros, balé, entre muitas, muitas outras), na morfologia, na sintaxe e na semântica.
Depois destas alterações intencionais, o que era da honestidade fazer, sendo a Língua Portuguesa um dos símbolos identitários de Portugal, país livre e soberano, que estava a ser usada pelos Brasileiros, apenas porque a escolheram para Língua Oficial? Não era continuar a chamar-lhe “Português” ainda que do Brasil, porque não era mais Português. O que era então da honestidade fazer? Era mudar-lhe o nome para Língua Brasileira (oriunda do Português), como fizeram os Cabo-verdianos com o seu Crioulo, oriundo do Português, que agora é a Língua Cabo-Verdiana.
É que uma coisa são as Línguas oficiais dos países, outra coisa é a linguagem que realmente se fala nesses mesmos países, e que nem sempre são coincidentes com a Língua Oficial, imposta pela via política.
O José Luís Landeira está na linha de alguns professores brasileiros que tive, quando estudei no Brasil. Pelo motivo mais torpe, o de amesquinhar Portugal, a história da colonização portuguesa e a Língua que eles escolheram depois da independência [porque não adoptaram uma das Línguas Brasileiras indígenas, as verdadeiras línguas brasileiras?] inventaram teorias improváveis e adaptaram o facto histórico às conveniências do Brasil, desprezando os factos históricos, e, pior, continuam a espalhar essas falsidades nas escolas, e agora na Internet, sem que ninguém lhes faça frente.
Quem está a ler este meu texto quer que eu lhe diga uma coisa espantosa? Portugal está cheio de uma elite intelectual, principalmente linguistas, que com um medo bacoco de serem apodados de xenófobos e racistas, ou por mero comodismo, calam-se perante as idiotices que os brasileiros vão disseminando por aí, como sendo verdades, verdade deles, que prevalece sobre os factos históricos e linguísticos. O que significa que a nossa República é mesmo uma República DOS Bananas.
Não me incluo nesta República, porque eu não me acomodo, nem tenho medo que me apodem de racista e xenófoba. Sabem porquê? Porque eu sei que NÃO sou nem racista, nem xenófoba. Sou apenas uma defensora da minha Língua Materna, o meu mais precioso instrumento de trabalho. E este é um direito que me assiste.
Isabel A. Ferreira
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