De Jorge Miguel a 1 de Fevereiro de 2023 às 17:52
Boa tarde.
Tenho seguido alguns textos aqui do seu blogue e simpatizo no sentimento contra o AO90, como há muito o tenho feito. Gostaria de saber, no entanto, a sua opinião em relação a uma eventual readopção do trema (¨) para gue, gui, que, qui (por exemplo, «aguentar» vs «agüentar» ou «tranquilo» vs «tranqüilo») e do acento grave em palavras derivadas, respeitando a pronúncia da palavra original e, ao mesmo tempo, permitindo que a derivada tenha a sua devida tonicidade (como «pé, pèzinho» ou «só, sòmente» em vez de «pé, pezinho» ou «só, somente»). Para efeito, eu sou a favor desta mudança porque torna a língua escrita mais explícita. Por vezes, a simplicidade não torna as coisas mais fáceis.
Estou absolutamente de acordo consigo, Jorge Miguel.
A acentuação, os hífenes e a pontuação são importantíssimos para uma melhor compreensão da escrita. Com esses auxiliares da escrita, esta torna-se, sem dúvida, mais fluída, e não temos de andar “ó tio, ó tio” como é que isto se lê ou pronuncia.
E bem precisamos de regressar ao trema, aos hífenes e aos acentos graves e agudos, para ver se os senhores doutores que vão à televisão, jornalistas incluídos, começam a pronunciar correCtamente certas palavras.
A escrita também tem a sua lógica. Afinal, a linguagem é uma Ciência. E todas as Ciências têm a sua lógica.
E digo-lhe mais, sou absolutamente a favor de se pronunciar os cês e os pês nas palavras onde eles não são pronunciados, para ver se os acordistas começam a escrever correCtamente. Aliás, nas outras línguas os cês e os pês são pronunciados, o que facilita substancialmente a escrita.
A grafia de 1945, para ser perfeita, falta-lhe estes ajustes. Tenho certeza de que, com estes ajustes, não veríamos os abortos ortográficos que, hoje em dia, circulam por aí, como “aspeto”, “exceto”, “receção”, “diretor”, “direto”, “perceção,“afeto”, “teto”, “arquiteto”, enfim, todas as aberrações gráficas infiltradas na Língua Portuguesa através do AO90.
De Araújo Rameiro a 3 de Fevereiro de 2023 às 15:13
Achei por bem comentar na sua publicação mais recente com receios do meu comentário andar perdido no tempo, e é o seguinte:
Já vi muitas pessoas, graças ao blogue, afirmar que é muito complicado ou até mesmo impossível criar-se um acordo que tente unificar as variantes do Português. Até aqui, tudo bem; mas eu queria saber exactamente o "porquê" de não ser possível fazê-lo.
De Anónimo a 3 de Fevereiro de 2023 às 16:58
Comentário apagado.
De Araújo Rameiro a 3 de Fevereiro de 2023 às 17:27
Compreendo melhor, agora.
Obrigado pelo esclarecimento.
Ainda bem que pude ser-lhe útil, Araújo Rameiro.
Sempre à disposição.
Araújo Rameiro, pense um pouco. A resposta é muito simples e óbvia. Mas antes farei uma pequena introdução, para fixar o que é a Língua e as suas Variantes.
Existe a Língua Portuguesa, Língua de Portugal, a Língua dos Portugueses. Língua que Portugal espalhou pelo mundo, quando deu novos mundos ao mundo.
Na época, alguns dos territórios que os Portugueses deram a conhecer ao mundo, estavam habitados por indígenas que tinham a sua própria Língua. Como em todos os territórios colonizados por outros Europeus, a saber, Espanhóis, Ingleses, Franceses, entre outros, as línguas misturaram-se. Mas nem a Espanha, nem o Reino Unido, nem a França andaram a fazer “acordos” com os ex-colonizados, só porque eles MISTURARAM a Língua nativa com a original.
Mas o que interessa aqui é a questão da Língua Portuguesa. E vou ater-me aos países da (mal) denominada CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), a saber: Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, e obviamente Portugal. Infiltraram neste lote, por motivos dúbios, a Guiné Equatorial, onde ninguém fala Português, e, por isso, está fora.
Todos esses países, que têm como língua oficial a Língua Portuguesa, a qual se manteve portuguesa, respeitando-se a sua GENETRIZ, à excepção do Brasil, que usurpou a Língua, deturpou-a e continuou a chamar-lhe “português”, têm centenas de dialectos indígenas ACTIVOS.
Quando o líbano-brasileiro Antônio Houaiss decidiu DESLUSITANIZAR a Língua Portuguesa e engendrar o acordo ortográfico de 1990, fê-lo apenas com o “linguista” português, Malaca Casteleiro, que andava de candeias às avessas com Portugal, porque aqui ninguém aceitou bem o Dicionário que ele coordenou. Nesse grupo, NÃO estavam linguistas angolanos, moçambicanos, são-tomenses, timorenses, guineenses, cabo-verdianos. Apenas o “linguista” português. Porquê? Porque o objectivo era destruir a Língua Portuguesa, para impor a Brasileira. O objectivo NÃO era unir a ortografia brasileira e a portuguesa, até porque AntÔnio é AntÓnio.
Então porquê é impossível unir as grafias brasileira e portuguesa? Que adiantava ficar toda a gente a escrever “afeto”, se AntÔnio é AntÔnio, e AntÓnio é AntÓnio?
Para unir grafias, das duas uma: ou os Brasileiros começavam a grafar à portuguesa (se querem unir, comecem por aqui, e não às avessas) ou os Portugueses e todos os restantes povos africanos de expressão portuguesa, e os timorenses, começavam a grafar à brasileira, não só mutilando as palavras, como acentuando-as à brasileira.
Além disto, ainda temos o léxico: como os países da dita CPLP deveriam mencionar e escrever o “grande veículo automóvel de transporte colectivo de passageiros, urbano, rodoviário ou turístico”?
ÔNIBUS (Brasil); AUTOCARRO (Portugal); MACHIMBOMBO (Angola e Moçambique); TOCA-TOCA (Cabo Verde); OTOCARRO (Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe); MICROLETE (Timor-Leste)?
(Isto é apenas um exemplo de um infinito número deles).
Cada país, dito lusófono, tem a sua especificidade linguística, a sua cultura, o seu modo de ser, as suas crenças, as suas diversidades. São países soberanos, que NÃO têm de andar a arrastar o cordão umbilical, atrás do ex-colonizador.
E na diversidade é que está a RIQUEZA de uma Língua. A Língua Portuguesa gerou VARIANTES em todos os países por onde passou. Cada País tem a sua própria natureza e riqueza lexical. E todas são VÁLIDAS, individualmente, porém, extremamente INVÁLIDAS, colectivamente.
Ainda que se conseguisse UNIFICAR as grafias, ou seja, pôr todos os países a grafar ONISCIENTE (como no Brasil se grafa, e em mais nenhuma parte do mundo), seria reduzi-la à sua forma mais PRIMÁRIA, sob o ponto de vista da estrutura original da Língua.
De Anónimo a 4 de Março de 2023 às 15:26
Boa Tarde Dona Isabel!
Espero que se encontre bem.
Mais uma excelente resposta sua, com a habitual eloquência. Contudo, não me leve a mal mas acho que se enganou quando disse que ônibus em Portugal é eléctrico (existe mas é outro tipo de transporte), pois diz-se autocarro é muita gente pronúncia como ótocarro que curiosamente é como se diz em São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, algo que desconhecia, já aprendi mais alguma coisa consigo.
Só lhe falou mencionar o uso gramática que é diferente no Brasil em relação a Portugal, PALOP.s e Timor. Se não me engano, acho que a língua portuguesa era dividida em relação à gramática e ortografia em 2: português europeu - afro - asiático e português brasileiro, contudo não me recordo aonde vi isto.
Concordo com tudo o que disse e acho que seria benéfico que o Brasil fizesse a gramática adaptada à sua língua falada e chamasse a sua língua de língua brasileira.
Ou é da minha vista ou na releitura que fiz a este texto, não vi em parte alguma que tivesse traduzido "ônibus" (o nosso autocarro) por eléctrico.
Com certeza, este lapso, porque só pode ser um lapso, porque andei tantas vezes de "ônibus" que não poderia condundir-me, estará num outro texto.
Se conseguir localizá-lo, agradeço que mo indique, para, se for o caso, eu corrigir. Pode ser?
Obrigada pela sua intervenção.
De Joana a 4 de Março de 2023 às 19:21
Boa noite Dona Isabel!
Peço lhe desculpa por que me esqueci de pôr o meu nome e de indicar que a minha observação diz respeito a uma resposta ao senhor Araújo Rameiro e não ao conteúdo do texto em si.
Trancrevo abaixo :
ÔNIBUS (Brasil); ELÉCTRICO (Portugal); MACHIMBOMBO (Angola e Moçambique); TOCA-TOCA (Cabo Verde); OTOCARRO (Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe); MICROLETE (Timor-Leste)
Vi logo que poderia ser a Joana.
Tem razão. Foi no comentário. Um grandessíssimo lapso.
Muito obrigada. Vou corrigir.
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