comentários:
De Diana Coelho a 7 de Setembro de 2023 às 19:20
Olá Isabel. De facto, como foi possível a família da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen permitir que a sua obra fosse acordizada? Então mas o Dr. Miguel Sousa Tavares não era contra o Acordo Ortográfico 1990? Estranho... Quanto ao apelo do sr. presidente da República para as criancinhas lerem livros acordizados, não se preocupe, elas não vão ler. É que, actualmente,
as crianças não lêem, não querem saber de livros para NADA. Para elas, livros são "uma seca" e para os pais e mães dessas criancinhas é mais fácil educá-las com um telemóvel nas maos para assistirem a vídeos de youtubers brasileiros.
De Isabel A. Ferreira a 8 de Setembro de 2023 às 17:52

Olá, Diana Coelho.

Pois a sua estupefacção é também a minha estupefacção.

O Miguel era e é contra o AO90. E muito ferrenho. Não se entende esta atitude.

Mas o desrespeito pela NOSSA CULTURA chegou ao ponto de acordizarem também Fernando Pessoa, Luís de Camões, Camilo, Eça, Saramago, enfim uma TRAGÉDIA.

Esses editores deviam ser todos presos ou irem à falência.

Quanto aos livros recomendados às crianças pelo PR, a Diana tem toda a razão: os pais, como cordeirinhos, até poderão comprar os livros recomendados, mas infelizmente as crianças NÃO vão lê-los. Os telemóveis vieram substituir os livros. Mas é pior a emenda do que o soneto, uma vez que a linguagem da Internet é uma coisa de IGNORANTES ao mais alto grau. Então os youtubers e os tiktokers brasileiros só espalham palermices, de uma incultura jamais vista. Como é possível os governos permitirem tal IDIOTICE? Talvez por serem também idiotas.
De Zé Oliveira a 9 de Setembro de 2023 às 10:20
Saudações!

Eça, Pessoa e Camilo foram acordizados como já o tinham sido após 1911. Em ambos os casos, a escrita original foi mudada.
Se há desrespeito por eles agora, já o houve há mais de cem anos. Principalmente por Pessoa, conhecido opositor à reforma da I República.

Com isto não venho argumentar a favor do mais recente “acordo”. Pelo contrário, sou totalmente contra a importação da escrita/lobby brasileiro.

Apenas vim comentar que, teoricamente, socorrermo-nos nos escritores antigos pode tornar-se falacioso para discutir uma reforma ortográfica que já tem precedentes.

Continuação de óptimo trabalho!
De Isabel A. Ferreira a 9 de Setembro de 2023 às 17:32
Caro Zé Oliveira, agradeço o seu comentário, porque dar-me-á oportunidade de rebater o argumento que apresenta, e que os acordistas adoram pôr-nos à cara.

As reformas de 1911 e de 1945 foram realizadas por linguistas portugueses, que NÃO fizeram mais do que modernizar a Língua, SEM, no entanto, a afastarem das suas raízes greco-latinas.

Os autores que cita NÃO foram acordizados. Nem nenhum anteriores a eles.

Fernando Pessoa (1881-1935) apanhou a Reforma Ortográfica (não o AO90 – coisa diferente) de 1911, o qual ele contestou. E contestou porquê? Porque todas as mudanças são contestadas, e não pelos mesmos motivos. E logo ele, que se chamava Fernando, e grafava o seu nome com EFE (F), mas grafava farmácia com PH (fonema grego correspondente à consoante F, do alfabeto latino, que era e é o nosso). E o que aqui se fez foi substituir os fonemas gregos pelos seus correspondentes latinos, e suprimir as consoantes duplas, não pronunciadas, por exemplo, em “ella” por ela. Nestes casos não se mexeu na pronúncia, e a raiz da palavra continuou lá. Já as consoantes duplas, também não pronunciadas, mas com função diacrítica, permaneceram. Por exemplo: faCtor, seCtor, direCtor, e aquelas outras todas que o AO90 mutilou.

Quanto a Camilo Castelo Branco (1825-1890) e Eça de Queiroz (1845-1900) são anteriores à reforma ortográfica de 1945, que está vigente até aos dias de hoje, e as suas obras foram adaptadas à nova ortografia, que continuou no registo de NÃO se afastar das suas raízes greco-latinas, sem se mexer na pronúncia e etimologia. Escrever como se fala é coisa da IGNORÂNCIA.

E o que se passou com a Língua Portuguesa, passou-se igualmente, com as outras Línguas europeias. O Inglês, o Francês, o Alemão, o Castelhano, entre muitas outras. Estas Línguas foram evoluindo tal como a NOSSA Língua evoluiu. Mas, ao contrário dos políticos portugueses, os políticos desses países JAMAIS fizeram acordos ortográficos com as suas ex-colónias, porque apenas os povos MAIS ignorantes fazem acordos ortográficos com ex-colónias e aceitam substituir a Língua-Mãe pela Língua-Madrasta, estando a Língua-Mãe de muito boa saúde.

As Línguas europeias estabilizaram, e a nossa continua a REGREDIR. Os restantes países europeus, também eles ex-colonizadores, querem lá saber de uniformizar o que é absolutamente impossível de uniformizar. Só os parvos o fazem.

O AO90 trouxe regressão, NÃO, evolução. Trouxe uma grafia mutilada, um afastamento da linguagem da sua ORIGEM, que mexe com a pronúncia e etimologia, e introduziu regras absolutamente IDIOTAS à hifenização e acentuação.

É absolutamente falso falar-se que Eça, Pessoa e Camilo já tinham sido acordizados.

Só depois da existência do AO90 é que podemos falar em ACORDIZAR, isto é, IDIOTIZAR a linguagem.
E é inadmissível que o façam.

Se se apresentasse HOJE uma revisão da grafia de 1945, que não é perfeita, elaborada por LINGUISTAS conceituados, honestos e peritos na Língua, e sugerissem voltar ao vôo, ao trema, a acentuações e hifenizações que facilitam a compreensão da escrita, eu não me importaria que os meus textos fossem reescritos, conforme a nova grafia revista e melhorada.

Acordizar (ou seja, aplicar o AO90, NÃO, as reformas de 1911 e a de 1945) nos textos de Fernando Pessoa, Camões, Eça, Camilo, Sophia de Mello Breyner Andersen [as obras dela foram acordizadas, safou-se o nome que continua com PH e com ÉLE duplo) e tantos outros clássicos é um INSULTO à memória deles.

Engana-se quando diz que «teoricamente, socorrermo-nos dos escritores antigos pode tornar-se falacioso para discutir uma reforma ortográfica que já tem precedentes». Isto NÃO tem precedentes. Porque as reformas ortográficas foram as de 1911 e 1945.

O que chamamos de AO90 NÃO foi uma reforma, foi um ACORDO POLÍTICO para VENDER a Língua Portuguesa ao Brasil.

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