Este foi um texto publicado no Jornal «Correio da Manhã», em Fevereiro de 2014, pelo Historiador Luciano Amaral, doutorado pelo Instituto Universitário Europeu de Florença, sendo Professor Associado da Nova School of Business and Economics.
O texto tem 11 anos, mas é como se tivesse sido escrito hoje, está actualíssimo, o que significa que tudo o que personalidades de alta patente cultural têm escrito sobre o acordo ortográfico de 1990, ainda não foi suficiente para que os decisores políticos portugueses possam perceber o quão errados estão e o quanto mal estão a fazer a Portugal e aos Portugueses, à sua Língua e à sua Cultura e História.
Por isso, nunca é demais recordar textos como este, porque acredito piamente que água mole em pedra dura, tanto dá até que fura, o que significa persistência, perseverança, podendo levar-nos à realização das nossas mais difíceis aspirações, sendo que a água simboliza a força da perseverança.
Isabel A. Ferreira
«Geopolítica ortográfica»
Texto retirado da página «Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico»
https://ilcao.com/2014/03/03/geopolitica-ortografica-luciano-amaral-cm-03-02-14/
Na sexta-feira, o Acordo Ortográfico foi discutido no parlamento. Infelizmente, daí não resultou a possibilidade de suspender a sua aplicação. O Acordo não é uma questão ortográfica. É uma questão política. Não é ortográfica porque não cumpre o seu próprio propósito de unificar a ortografia. Sem o Acordo, a semelhança ortográfica entre Portugal e Brasil era de 96% das palavras; com o Acordo, passa a 98%. Ou seja, quase nada. Sendo que as confusões se multiplicaram. E já muita gente as enumerou.
O Acordo nasce de duas coisas: do delírio português de que existe uma entidade chamada ‘Lusofonia’ que pode ter um grande peso geopolítico mundial, e da ambição do Brasil em ser uma potência.
As duas casam bem, porque desde há muito que os portugueses só entendem a sua imaginada grandeza como algo para além de Portugal: antes era o império, agora é a Lusofonia (noutras versões, a Europa). A coisa vai tão longe que chega muitas vezes ao ponto da anulação do país. O padre António Vieira, perante a ameaça espanhola de 1663, aconselhava D. Luísa de Gusmão a esquecer Portugal e mudar-se para o Brasil para fundar o V Império; D. Rodrigo de Sousa Coutinho, no fim do século XVIII, dizia que a parte europeia de Portugal não era a “mais importante”, pelo que a rainha Maria devia ir para o Brasil; D. João VI fugiu mesmo para o Brasil quando Napoleão cá entrou em 1807, e não queria voltar. Hoje, também a Lusofonia só pode sonhar em ser um actor geopolítico graças ao Brasil.
É típico da elite portuguesa. Como o campónio que esquece as origens, sonha com os grandes espaços, a Europa, a América. Tudo menos o Portugalzinho triste e acanhado.
Diz que o Acordo é preciso para o português passar a língua oficial da ONU. Pois há um acordo muito mais simples: cada país escreve como quer.
O inglês, cuja ortografia varia de país para país e é das mais contra-intuitivas, não precisou de nada disto para ser a mais importante língua do mundo.
O preâmbulo do Acordo diz que ele é essencial para o “prestígio” da Lusofonia. Prestígio era recusar a adesão da Guiné Equatorial à dita Lusofonia.
Mais uns litros de petróleo e uns quantos bancos salvos da falência não justificam tal coisa.
[Transcrição integral de artigo, da autoria de Luciano Amaral, publicado no jornal “Correio da Manhã” em 01.03.14. “Links” e destaques adicionados por nós.]
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