Quarta-feira, 5 de Março de 2025

Por que António Feijó diz que a vigência do AO90 é agora (...) irreversível”, se quando foi impingido, o AO45 teve de ser abandonado, apesar de ter estado em vigor 79 anos? E o "acordo", com 12 anos, não pode ser revertido?


  PÚBLICO 35 anos 

O Jornal PÚBLICO está a celebrar, hoje, 35 anos de existência, com uma Conferência Internacional no CCB, cujo tema é a Língua Portuguesa.

Aproveito para felicitar o Jornal PÚBLICO, por esta efeméride.

Os leitores podem seguir a Conferência clicando no link acima indicado.

Dos momentos até agora referenciados no PÚBLICO, o que mais me chamou a atenção foi o seguinte:

Acordo Ortográfico de 1990: “A sua vigência é agora provavelmente irreversível”

daí tê-lo destacado no título.

 

Não percebo por que motivos o “acordo” há-de ser irreversível, porque irreversível, irreversível só a morte, já o tinha dito Nuno Pacheco. O AO90 foi um erro. Errar é humano, mas manter o erro é completamente insano, se o argumento é porque já foi implementado no Ensino.  

Também não percebo que depois de tantos argumentos válidos já publicados, demonstrando que o AO90 não atingiu nenhum objectivo, é ilegal, é inconstitucional, e nada tem para "aperfeiçoar", muito pelo contrário, é como remendar algo já remendado, ainda estejam na fase de criar um outro grupo de trabalho para “aperfeiçoar o imperfeiçoável”.

 

Em 2019 foi criado um grupo de trabalho parlamentar para avaliar o impacto da aplicação do Acordo Ortográfico, terminando sem ter reunido consenso para uma possível alteração a esta convenção. José Carlos Barros (PSD) coordenador do grupo, lamentou que não tenha havido consenso sobre a necessidade de “discutir” a hipótese de alterar ou aperfeiçoar o AO90.  Teriam feito bem o trabalho que tinham em mãos? Não era óbvio que o AO90 era uma aberração?

 

E nós lamentámos que diante dos estragos que o AO90 provocou no Ensino do Português, o grupo de trabalho parlamentar não tenha tido a lucidez de ver o óbvio.

 

 O que é que ainda falta dizer para chegarem à conclusão de que este "acordo", sem pés nem cabeça, sem cabeça, tronco e membros, totalmente afastado do conceito do que é uma Língua, nada tem para aperfeiçoar, e pode ser perfeitamente anulado, porque nenhuma mossa fará aos que já aprenderam a escrever incorrectamente a Língua Materna. O "acordo" é de tal forma mau, que é mais fácil aprender a Língua inteira, do que decepada.

Os nossos alunos serão assim tão mais parvos, do que os alunos dos outros países, que têm Línguas muito mais complexas do que a nossa, e sabem escrevê-las correctamente? Aquele argumento de «como há-de o aluno saber que objeCtivo tem um , se não o pronuncia?» é a coisa mais bizarra e idiota que já ouvi.

 

Um outro momento que me deixou completamente perplexa, desiludida, vazada, foi a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa que, como se diz na minha terra: chegou e disse, tirou o chapéu e foi-se. Conhecendo, como ele conhece a contestação ao AO90, limitou-se a falar da política do livro (acordizado, obviamente), da aposta na comunicação social (acordizada, obviamente), porém, dos estragos que o AO90 anda a fazer por aí... nada.

 

 "É muito difícil dissociar a aposta na língua da aposta na comunicação social e da política do livro”.


MARCELO.png

Foto: Marcelo Rebelo de Sousa - Nuno Ferreira Santos

 

«Marcelo fala agora sobre a “língua cá dentro, inseparável da cultura cá dentro”. O Presidente da República refere o “período muito inspirador”, com “inúmeros responsáveis” - “plano nacional de leitura, iniciativas culturais, escolas, autarquias e comunicação social”.

O Presidente da República fala de duas dimensões indissociáveis quando se fala da língua: “O livro e a comunicação social”. Sublinhando que a comunicação social atravessa uma crise, Marcelo defende que é “muito difícil” que essa crise “não se repercuta na língua”.

 

Já a “política do livro” conheceu “ideias inspiradoras” no anterior Governo, sinaliza, mas não tiveram “plena concretização” e “não tiveram sequência na actual governação”, como é o caso do cheque-livro. “É muito difícil dissociar a aposta na língua da aposta na comunicação social nessa língua e da política do livro”.

 

O chefe de Estado diz que, quando soube que o novo secretário de Estado era um “entusiasta do livro”, o “obrigou a um compromisso: eleger como prioridade cultural a política do livro”, que “é essencial”.

 

Se for preciso “correr as escolas a ler livros e a comentar livros, eu estou voluntário para isso”, diz. “Vale a pena pensar em novos meios, com o apoio da comunicação social como um todo. O PÚBLICO cumpre a sua missão e as televisões cumprem?” questiona, dizendo que “cumprem, mas com programas a horas esotéricas”.

 

“Parabéns e como se dizia noutros tempos, quando eu era mais novinho, a luta continua”, concluiu o Presidente da República»

***

Não era já altura de acabar com esta novela a cheirar a cravo (do lado de cá), e a canela (do lado de lá)?

Isabel A. Ferreira


  

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:58

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comentários:
De Octávio dos Santos a 7 de Março de 2025 às 20:25
Na verdade, cara Isabel, o AO45 continua em vigor oficialmente, formalmente, porque resultou de um decreto que ainda não foi revogado por outro decreto; a famigerada resolução que, na prática, impôs o AO90 vale menos... do que um decreto.

Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa surpreende-me que ainda se... surpreenda com o que ele (não) faz ou diz; daquela criatura nada de realmente válido ou útil se deve esperar.
De Isabel A. Ferreira a 10 de Março de 2025 às 17:09
É verdade que o AO45 continua em vigor oficialmente para todos os que sabem interpretar as leis, excePto para os governantes e afins, que fazem as leis, mas não sabem interpretá-las, ou interpretam-nas conforme lhes dá mais jeito, para que se encaixem nas ordens que que vêm do outro lado do Atlântico.

Quanto a Marcelo, tem toda a razão, caro Octávio. Eu não devia surpreender-me, mas espero sempre que se faça uma luz, ali para os lados de Belém, que ilumine a criatura. Para já, é o pior PR que alguma vez Portugal já teve.

E a conferência saldou-se pela negativa, porque falou-se, falou-se na Língua Portuguesa e o principal ficou por dizer: como anular o AO90 e fazer valer a lei vigente, que nos obriga ao AO45, para que a nossa Língua possa ser-nos devolvida.

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