De Andrea Fossetta a 18 de Agosto de 2023 às 23:05
Cara S.ra Ferreira,
sou aquel cidadão italiano: em primeiro lugar queria agradecer-lhe por ter-me mencionado nesta mensagem :-)
Naturalmente não tenho nada mal com o Brasil ou o brasileiros, mas, como A Senhora disse, sou europeu e só quero aprender o português que mais está cerca de mim.
Sobre os tradutores automáticos: devo dizer que mesmo o DeepL, que até há pouco tempo considerava "bastante fiável", também está a pender um pouco para o brasileiro. Por exemplo:
+ "espetáculo" em vez de "espeCtáculo"
+ "ativo" em vez de "aCtivo" (embora hajam também "activos" e "activas" por debaixo, estou a vê-lo neste mesmo momento)
+ "exatamente" e não "exaCtamente" (mas há "exactos" debaixo, no sei porquê)
e outras coisas (tempos verbais)...
No entanto, se tivesse de escolher entre DeepL e Google Translate, que substancialmente É brasileiro, traduziria sempre com o primeiro, apesar dos problemas que já lhe expliquei.
Uma última coisa muito curiosa: há uma dezena de minutos vi este vídeo "#short":
https://www.youtube.com/watch?v=LCl564o63Qs&ab_channel=C%C3%ADntiaChagas
no qual a Cíntia (cujo sotaque é claramente do "Brasiu") pergunta-se se é correto (sic) falar "sabido" na frase "se eu tivesse sabido antes". A minha resposta? Sim, é correcto, chama-se "consecutio temporis", como por exemplo: se tu o tivesses sabido, nunca terias feito esta pergunta eh eh.
Ora, lei neste blogue que A Senhora estudou no Brasil antes de ir a Portugal, por isso espero não ofendê-lhe se pergunto isto... que raio aprendem as crianças nas áulas de línguas das escolas brasileiras, a bossanova (com tudo o respeito devido à bossanova, naturalmente)? Pode isto ser um reflexo da má qualidade do ensino no Brasil, do qual lei em alguns artículos na Internet e também neste blogue? Como se pode dizer que "sabido", que só é o particípio passado do verbo "saber", é tão feio? Será que é demasiado difícil? Desde quando é que se decidiu que o que nos parece feio náo se deveria utilizar? Não sabia se rir ou chorar...
O interesante é que um comentador (UM) escrevou: "mas não é feio. Aprendi assim desde quando era criança. Acho que é a tal da falta de costume de usar as palavras corretas.." Exactamente.
Peço desculpa outra vez para o meu comentário ser tão longe, mas não gosto de deixar as coisas no meio. Agora espero que A Senhora consiga aprender o meu Italiano, que embora haja demasiadas palavras inglesas, ainda não foi adulterada na sua fonética e ortografia como o português.
Saludações
Andrea Fossetta, Veneza
Caro Andrea Fossettau também nada tenho contra o Brasil, nem contra a Variante Brasileira do Português, nem contra a Cultura Brasileira, que faz parte da minha cultura, uma vez que fui para o Brasil com dois anos, aprendi a ler e a escrever lá, e com oito anos vim para Portugal, mas andei cá e lá, lá e cá até ir para a Universidade. Fiz lá o primeiro ano do Curso de História, na “Gama Filho” e depois vim acabar o curso para a Universidade de Coimbra, e cá fiquei definitivamente.
Depois de ter aprendido o Português, em escolas portuguesas, fiquei a conhecer a minha Língua Materna, mais a Língua dos Brasileiros, e as diferenças entre as duas são consideráveis. Quando regressei ao Brasil, tendo frequentado já escolas portuguesas, é que pude avaliar o quão pobre era o ensino nas escolas brasileiras. A minha cultura geral era bastante elevada, em relação aos alunos brasileiros, e o que aprendi em Portugal, não era ensinado no Brasil.
Aprendi a gerir os meus conhecimentos, e enquanto estudei no Brasil procurei completar as lacunas do ensino brasileiro, com leituras complementares fora das escolas.
Quanto aos tradutores automáticos são uma DESGRAÇA. Nenhum é fiável. E desaprende-se as Línguas se não tivermos bons dicionários para consultar. O Google traduz para brasileiro. Aliás, os tradutores online traduzem para brasileiro. Quem não souber Português, leva gato por lebre, e palavras mal aplicadas e mal escritas.
Em relação ao vídeo, a frase “se eu tivesse sabido antes” está correctíssima, e apenas quem nunca estudou Gramática pode dizer o contrário. E no Brasil a Gramática é algo que se descartou há muito. Hoje a Língua escrita e falada no Brasil, nada tem a ver com a Língua escrita e falada no tempo de Jorge Amado, José Mauro de Vasconcelos, Machado de Assis, enfim, dos grandes clássicos brasileiros. Hoje o que se fala e escreve no Brasil é uma linguagem pobre, em quase tudo, excepto no léxico enriquecido pelos falares indígenas: africanos e brasileiros.
A palavra “sabido”, uma palavra correcta, não é feia, feias são as palavras que os brasileiros criam a partir de outras palavras, como “dar os parabéns = felicitar”, que eles dizem “parabenizar” e eu considero uma palavra horrorosa. Em Portugal também as temos, e eu não as uso, porque tenho alternativas mais elegantes.
Quanto ao Inglês estar integrado em quase todas as Línguas, inclusive, na Língua Portuguesa, não considero que seja algo pernicioso, até porque a Língua Inglesa, sendo uma língua de comunicação global, acabará por se impor. E eu, que DEFENDO a minha Língua Materna, a Portuguesa, e tenho na Língua Inglesa a minha segunda Língua, uma vez que frequentei uma escola inglesa, durante sete anos, se o Português for esmagado, optarei pelo Inglês, ou pelo Galego, a Língua da minha trisavó galega. Além disso, o Inglês tem as suas próprias palavras, se as utilizarmos estas NÃO adulteram a nossa Língua, e esta é uma vantagem sobre a Variante Brasileira do Português, que adulterou o Português abusivamente, porque continua a dizer que é “Português do Brasil”. E não é Português. A designação é apenas uma designação de conveniência política, não, linguística.
As minhas saudações.
De Andrea Fossetta a 25 de Agosto de 2023 às 20:55
S.ra Ferreira,
obrigado pela sua resposta, e concordo plenamente consigo, pois já reparei nisso nos comentário em YouTube (notoriamente um antro de mentes brilhantes).
Também na língua italiana temos palavras inglesas, como "club", "film", "bar", "sport" ("desporte"), estas muito simples... o problema é que nas últimas décadas o número dessas aumentou incrivelmente, de tal forma que um conhecido linguista italiano (Arrigo Castellani) publicou em 1987 um artigo intitulado "Morbus Anglicus"... quem quer entender, entenda (eh)!(*)
Apesar disso, quero assegurá-la que, ao contrário do que está (já?) a acontencer em português, o italiano ainda não é falado com sotaque inglês (lol)!
Última coisa: não sei se alguém no seu blogue já lho mencionou, mas há alguns dias vi um vídeo do "Language Simp":
https://www.youtube.com/watch?v=3ayiGOHDyyk&ab_channel=LanguageSimp
no qual ele fala do brasil... não, desculpe, da LÍNGUA MAIS BONITA DO MUUUNDOO. É claro que o vídeo foi produzido para agradecer-se o público brasileiro, e não sei se A Senhora está interessada em vê-lo (porque até eu não gostei)... mas tenho que dizer-lhe uma coisa:
Ao final do vídeo, ao momento de "classificar" a língua portuguesa, ele diz (de verdade):
"É linda (a variante brasileira, porque é disso que está a falar), é muitas vezes tola e académica quando precisa de o ser, não é uma língua difícil. Os brasileiros são simpáticos, PORTUGAL EXISTE" (ênfasis minha), enquanto uma imagem muito bela de Lisboa à tarde aparece no ecrá.
A ironia foi demasiado para mim.
Saludações
Andrea Fossetta
(*) há sítios italianos que escrevem deste fenómeno, um dos meus favoritos chama-se "DIllo in italiano"
Eu já tinha visto esse vídeo e até já lá tinha deixado este comentário:
««Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana [aliás, não existe outra, a não ser a humana]. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta” afirmou o físico e teórico alemão Albert Einstein, e eu corroboro.
O que acontece quando a ESTUPIDEZ vem ao YouTube? Isto que estamos a ouvir.»
Este tipo de vídeos só servem para descredibilizar o Brasil, os Brasileiros e o autor de tanta parvoíce.
Parece que ODEIAM o Brasil!
Eu lamento que assim seja, porque tenho bastante família brasileira, já na terceira geração, gosto da Cultura Clássica brasileira, gosto da música, gosto da gastronomia,
mas não gosto da estupidez desta gente, nem da política parva que lá se cultiva. E tanto faz estar uns, como outros no poder.
Saluti.
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