Um magnífico e conciso texto da escritora Teolinda Gersão, para reflectirmos sobre o absurdo que é defender o indefensável.
Vale a pena ler.
Texto de Teolinda Gersão
«Os inventores do indefensável AO, (feito nas nossas costas, e com pareceres negativos de todos os linguistas, excepto o do seu "pai", Malaca Casteleiro), defendiam sobretudo que:
- simplificava a grafia, o que o tornaria bem aceite
- uniformizava a língua, em todos as suas variantes e em todos os continentes
- tornava a língua mais acessível a estrangeiros, atraindo cada vez mais falantes
- facilitava os negócios
- aproximava os países, sobretudo Portugal e o Brasil, em que as variantes da língua divergem mais.
Quase 30 anos depois, verifica-se que:
- O AO levantou e continua a levantar ondas de rejeição de protesto, a maioria da população recusa-o e continua ilegalmente imposto.
- a grafia tornou-se confusa, incongruente e absurda
- as raízes latinas foram rasuradas, o que é inaceitável no caso do português europeu
- nada se uniformizou nas variantes dos vários continentes, porque são impossíveis de uniformizar
- a língua franca dos negócios continua e continuará a ser o inglês.
- Portugal e Brasil continuam, como já estavam, de costas voltadas e é sobretudo o Brasil que levanta obstáculos. Os livros portugueses chegam ao Brasil a preços exorbitantes por causa das barreiras alfandegárias (que nós não temos), enquanto as nossas livrarias acolhem os autores brasileiros a preços normais.
- a literatura brasileira é estudada nas nossas escolas e universidades, mas o Brasil retirou ou pretende retirar a literatura portuguesa dos currículos escolares.
Então este "acordo" falhado serve para quê? Já se discutiu tudo, só falta rasgá-lo.
E não nos venham dizer que Portugal depende dos outros países lusófonos para existir, e que desaparecemos como língua sem o oxigénio do acordo! Não precisamos de acordos nem de autorização para existirmos e sermos como somos, uma língua de raiz latina. As ex-colónias são países independentes, usarão a língua como entenderem, são tão donas da língua como nós - mas dentro do seu território. Não somos mais do que elas, mas também não somos menos. No nosso país mandamos nós, e é a língua que temos que vamos escrever e falar.»
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