(Origem da imagem: Internet)
Ontem à noite, antes de me deitar, como estava demasiado cansada para ler ou ver algum filme, que me fizessem pensar mais do que já tinha pensado durante o dia, procurei nos canais da TV Cabo algo levezinho, que me desviasse da preocupante realidade do mundo em que vivemos, e lentamente me atirasse para os braços de Morfeu.
Acontece que, por ironia do destino, passando pela TV Globo (que todos sabem ser uma prestigiada estação televisiva brasileira) deparei-me com um episódio da novela Pedra Sobre Pedra (aliás uma interessantíssima sátira político-social de grande qualidade, que já passou numa das estações portuguesas), bem no momento em que o Prefeito de Resplendor (uma cidadezinha fictícia do interior do Brasil), o dentista Kléber Vilares, personagem protagonizada pelo actor Cecil Thiré, falava à mulher da obra faraónica que devia marcar o seu mandato político: o Mitório de Resplendor, que iria ser construído bem no centro da cidade. (A pronúncia foi essa mesmo: mi-tó-rio…)
Fiquei a pensar naquele Mitório.
Seria um lugar onde iriam “exibir” os mitos da cidade? Um lugar onde se guardam os mitos? Assim uma espécie de museu…?
Não, não era.
O que o Dr. Klébi (no dizer do povo resplendórino) pretendia construir no centro da praça era um miCtório, ou seja, um local público para se urinar (palavra com raiz no vocábulo latino mictorius).
Sei que no Brasil esta palavra existe na sua forma portuguesa - miCtório, e que embora se pronuncie miquitório, não deixa de ser um mictório.
Não sei se “mitório” seria um linguajar próprio do Dr. Kléber, ou se Cecil Thiré cometeu um lapsus linguae.
O certo é que, se a moda pega, e se o AO/90 assenta arraiais em território de Portugal, passamos a ter não só mitórios públicos, como problemas de mição e miturição (respectivamente o acto resultante de urinar, e a necessidade frequente de urinar).
E eu que, de passagem, quis distrair-me com algo levezinho que me lançasse nos braços de Morfeu, acabei por ter uma enfadonha insónia, à conta do mitório do Dr. Kléber.
(Atenção! Considero esta novela – que segui, com muito interesse, quando passou em Portugal – uma obra-prima satírica, e representativa da excelência da arte de bem representar dos actores brasileiros, e da superioridade criativa dos autores da novela).
Mas uma coisa, é uma coisa, outra coisa, é outra coisa…
Isabel A. Ferreira
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