Há dias, foi publicado no jornal Público-Brasil, um texto intitulado «A língua portuguesa como política pública», da autoria do linguista brasileiro José Luís Landeira, e que a Professora Maria José Abranches, em declarações a este Blogue, considera que «constitui uma boa ocasião para que os portugueses reconsiderem a estupidez da argumentação usada pelos que consideram o AO90 útil, linguisticamente correcto e indispensável para o futuro da Língua de Portugal».
Maria José Abranches recordou ainda «a “brilhante” argumentação do ex-Ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, convicto defensor do AO90 e da "universalização ortográfica", em entrevista ao "Público" (04/02/2009): "Nós afirmamo-nos enquanto identidade e enquanto povo através da língua que falamos e da expansão que demos a essa língua. Neste momento, o número de falantes do português andará pelos 230, 240, 250 milhões. Mas desses 250 milhões, 200 milhões são brasileiros. E eles eram apenas 70 milhões em 1960. De 1960 para 2008, triplicaram, e isso significa fazer 130 milhões de falantes do português, mais do que nós fizemos em todo o nosso passado.»
Esta argumentação, por si só, diz da gigantesca falta de lucidez dos que embarcaram na canoa furada que o Brasil impingiu a Portugal, onde meteu a Língua Portuguesa embrulhada nos 200 milhões de brasileiros, e os nossos políticos, que pensam pequeno, deslumbraram-se com estes números e consideraram que com o Brasil a Língua Portuguesa estaria garantida per omnia saecula saeculorum, o que constitui um desmesurado embuste.
Não vou analisar o texto de Landeira, apenas, a partir dele, quero demonstrar que, uma vez mais, e coisa única e inusitada em todo o mundo, a Língua Portuguesa continua a ser o centro da inquietação dos Brasileiros que, por motivos incompreensíveis – até porque em nenhum outro País colonizado por Portugal, tal aconteceu – nunca se entenderam com a Língua do ex-colonizador, e, por esse motivo, a deslusitanizaram, criando a Variante Brasileira do Português, porque, em nome da verdade, o português brasileiro NÃO existe.
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Vou aqui transcrever apenas os três primeiros parágrafos do texto de José Luís Landeira, para que o leitor possa avaliar o que está errado nisto tudo:
«A relação do brasileiro com a língua portuguesa é complexa. Ou, como brincamos, “deveria ser estudada pela NASA”. De um modo geral, a língua portuguesa é e não é sentida como “nossa”. É a língua pela qual nos comunicamos, amamos, realizamos a nossa vida, somos quem somos, mas é também uma língua de fora que, para muitos, descendentes de imigrantes ou de escravizados, soa como uma realidade aleatória em suas vidas. Isso traz um problema a mais à sua escolarização.
O português brasileiro é plural e, por vezes, rebelde, nega-se a ser domesticado. Curiosamente, é, ao mesmo tempo, conservador e aceita bem novas palavras e muito mal mudanças sintáticas. As razões são muitas. Ocorre-me, por exemplo, que há uns 100 anos, por volta de 1920, na cidade de São Paulo, apenas pouco mais de 20% das pessoas falavam português. A maioria, formada por imigrantes, falava as muitas línguas de onde emigraram. Não houve uma efetiva política pública de aprendizagem do português. Hoje, passeando pelo centro da cidade, entre os muitos africanos, chineses e pessoas de outras nacionalidades, vivencio uma realidade parecida. Talvez se tenha tornado um traço de nossa cultura: deixamos o português solto. Temos dificuldades com as regras.
Apesar disso, a língua portuguesa está na escola. A sua introdução no currículo escolar deu-se de modo tardio em relação a outros componentes curriculares como as matemáticas ou as ciências. Afinal, para que ensinar algo que a pessoa já chega à escola sabendo? Essa pergunta foi respondida com a gramática. Encheu-se o currículo escolar com aulas de gramática do que se considera o "bom português". O resultado não produziu os efeitos pretendidos, pelo menos no Brasil. Apesar dos esforços, há ainda muito descaso com a nossa língua materna e o ensino, por vezes, excessivo de regras não produziu falantes mais eficientes de português. (...)».
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Por que motivo «apesar dos esforços, há ainda muito descaso com a nossa língua materna [???] e o ensino, por vezes, excessivo de regras não produziu falantes mais eficientes de português. (...)»?
Porque a aprendizagem da Língua Portuguesa, da sua Gramática, das suas regras, da sua estrutura frásica bem elaborada, NÃO é para qualquer um, e isto justifica esta obsessão patológica pela Língua de Portugal, sempre em bolandas, na boca dos Brasileiros, e que o Brasil NÃO consegue encaixar como os Africanos, de expressão portuguesa, conseguiram.
Posto isto, e devido a tão grandes dificuldades de aprendizagem, por que o Brasil não deixa em paz a Língua Portuguesa, e assume a Língua Brasileira, que gerou a partir do Português? Este seria o modo mais inteligente de resolver a já cansativa e anómala obsessão dos Brasileiros, por uma Língua da qual NÃO têm a mínima vocação para aprendê-la, e que andam por aí a desrespeitá-la e a transformá-la numa linguagem indigente, sem o menor pudor.
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Dos comentários que se fizeram ao texto (podendo ser consultados ao clicar no link), vou destacar um, que, em parte, corroboro, uma vez que, tendo continuado os meus estudos no Brasil, depois de ter passado por escolas portuguesas, sei bem o que é a pobreza do ensino em geral e particularmente o ensino do Português escrito e falado, naquele país/filho de Portugal. Por isso, afirmo com conhecimento de causa que, de tanto o maltratarem, o Português no Brasil já não existe mais.
Diz Paulo Abreu:
«O Português no Brasil agoniza. É uma amálgama disforme analfabeta de ausência de regras. Institucionalizou-se o tu foi, nóis vai, para mim fazer, para nóis ir lá, etc., etc., etc.; o ensino é pobre; os media tão-pouco ajudam, pois a pobreza escrita e falada é enorme. O Brasil tem 10 milhões de analfabetos, fora os que pouco mais sabem do que juntar duas letras e assinar o nome. O que é visto como " português à solta" mais não é que ausência de ensino e incúria. Cada um diz o que quer, como quer, sem ser recriminado por isso. O português no Brasil agoniza.»
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Posto isto, e dadas as muitas evidências de que há alguma coisa errada com os Brasileiros no que à aprendizagem da Língua Portuguesa diz respeito, não conseguindo cumprir as regras desta que é uma Língua Românica, da Família Indo-Europeia, com cerca de 800 anos de história, deixem em PAZ o Português, e assumam de uma vez por todas a Língua Brasileira – aliás, designação já adoptada por milhares de brasileiros – oriunda da Língua de Portugal, que o nosso Vergílio Ferreira eternizou em 1991, no que foi considerado um dos mais belos textos que se escreveram sobre a Língua Portuguesa:
(...) e da Língua Brasileira ouvem-se os rumores de muitas gentes, e vê-se o Corcovado [que os Portugueses, no século XVI, chamavam o Pináculo, da Tentação]...
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