Facto: o AO90 em vez de unificar, desunificou. Em vez de simplificar, complicou. Em vez de dizer ao que vem, diz ao que vai...
E andamos nisto.
Ninguém se entende, e a Língua Portuguesa transformou-se no patoá do gentio, sendo que o gentio é o grupo restrito de quem acha que uma resolução do conselho de ministros tem valor de lei.
Os acordistas engoliram uma cassete, e por mais que lhes mostremos, por A+B, a monumental ignorância deles, no que ao AO90 diz respeito, não querem saber disso para nada, porque a treta da cassete cristalizou-lhes cérebro.
Fincam o pé na recessão e chamam-lhe evolução.
Veja-se esta pérola da estupidez que circula na Internet, com o aval do governo português…
Origem da imagem:
Se procura “receção” (português europeu) o lugar onde se recebem pessoas, veja recePção (português brasileiro).
“Receção” português europeu?? Português europeu??
RecePção? Português brasileiro?? Português brasileiro??
Mas é que nem aqui, nem na China, nem na Cochinchina… nem sequer no Brasil...
Isto é um insulto à Língua Portuguesa. Aos Portugueses. A Portugal. Ao Latim. Às línguas latinas, indo-europeias, uma grande família linguística à qual a Língua Portuguesa pertence, enfim, isto é do domínio da decadência cultural e da inversão dos papéis históricos, representados por Portugal e Brasil.
E não vamos permitir que isto ande por aí a circular como se fosse verdade. Porque não é.
A palavra “receção” significa o mesmo que "anacreto", ou seja, não significa absolutamente nada. É um monstrinho ortográfico fabricado pela ignorância entranhada nos “fabricantes” do AO90. “Receção” e “anacreto” são dois amontoados de letras que se juntaram num casamento que não deu certo, por incompatibilidade de modos e feitios.
A palavra RECEPÇÃO pertence ao léxico da Língua Portuguesa, culta e europeia. Ponto. Do latim recepcio, e isto nada tem a ver com o Brasil. Absolutamente nada.
O que se passa é que no Brasil pronunciava-se o P, em percePção, aquando da apresentação do Formulário Ortográfico de 1943, sendo este um conjunto de instruções estabelecido pela Academia Brasileira de Letras para a organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa do mesmo ano. É este documento, com as alterações introduzidas pela Lei (não por uma resolução de ministros) 5.765 de 18 de Dezembro de 1971, que regula a grafia do Português no Brasil, tendo sido incorporado pelo Acordo Ortográfico de 1990, e modificado apenas em alguma acentuação e hifenização. Este incorporado são os Brasileiros que dizem. Não sou eu. (Ver Wikipédia).
A Base IV deste Formulário diz o seguinte: consoantes mudas: extinção completa de quaisquer consoantes que não se proferissem, ressalvadas as palavras que tivessem variantes com letras pronunciadas ou não. (?)
Ora acontece que nas palavras percePção e recePção e restantes vocábulos desta família, e em aspeCto, espeCtador e em algumas mais, as consoantes Pê e Cê pronunciavam-se, logo, safaram-se da extinção completa.
Em mais nenhum país lusófono se escreve “receção” e muito menos “recessão” por RECEPÇÃO. Em nenhum, excePto em Portugal, a caminho de ser o menos lusófono dos oito países ainda ditos lusófonos.
(Um aparte: sendo a lusofonia um resquício do tempo colonial, não se entende como o Brasil, que tanta aversão tem à colonização portuguesa, algo bastamente comprovado, permite encaixar-se nesta designação).
O seguidismo deste modismo, ou seja, deste idiotismo de linguagem, por parte dos portuguesinhos é insultuoso e não abona nada a favor de Portugal. E isto com o aval do incompetente governo português, que não defende a Língua Oficial de Portugal - a Língua Portuguesa, na sua versão culta e europeia - ao contrário de todos os outros países da Europa e do mundo que, ciosamente, afectivamente, reverentemente preservam as suas línguas maternas, como se fossem deusas.
Veja-se no que dá ser mais papista do que o papa…
Esta vergonhosa recessão da língua, só mesmo no Portugal dos pequeninos…
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Isabel A. Ferreira
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