Segunda-feira, 16 de Setembro de 2024

Reflexão de Carlos Coimbra (cidadão português a viver em Toronto, Canadá), sobre uma carta de José Pinto de Lima (U. de Lisboa) que equiparou a língua falada no Brasil ao Português padrão que para lá foi levado

 

O texto de José Pinto Lima foi publicado na secção «Cartas ao Director” do Jornal Público, acerca de um artigo [clicar no link] onde um “linguista” português afirma que o “português do Brasil” tem os dias contados. Ora isto já tem barbas brancas, e portanto, está ultrapassadíssimo.

 

Este tema já foi tratado neste Blogue por várias vezes, desde sempre, e, no Brasil, ainda no tempo em que por lá estudei, a linguagem que se falava e escrevia era já brasileira, porque demasiado distanciada do padrão português, no léxico (enriquecido pelos falares indígenas e africanos e de outros povos que lá se fixaram), na fonologia, na ortografia, na morfologia, na sintaxe, na semântica, e em ene vocábulos que o Brasil castelhanizou, americanizou, afrancesou e italianizou e abrasileirou.

 

Não é preciso ser-se linguista, basta estar-se atento à evolução da linguagem no Brasil, para poder comprovar que o Português dos excelentes clássicos da Literatura Brasileira já nada tem a ver com a linguagem do século XXI d. C..

Tal artigo também me deixou bastante irritada à conta dos disparates que lá se disseram, o que me obrigou a escrever um texto [clicar no link] a contestá-lo.   

A designação “português do Brasil” não passa de uma ferramenta política, que nada tem a ver com linguística.


José Pinto Lima diz que «o linguista Fernando Venâncio sugere que o português do Brasil se passe a chamar “brasileiro”». A sugestão NÃO é do Venâncio. Isto é algo que já vem de longe, e alguns linguistas e estudiosos brasileiros, há muito, mas muito tempo, já puseram e explicaram porquê, essa hipótese, que só ainda não foi concretizada, porque o objectivo político para que tal aconteça ainda não foi alcançado.

Aqui deixo as cartas de José Pinto Lima e de Carlos Coimbra, com esta observação:  tudo indica que está a ser cometido um crime de lesa-pátria   em Portugal, tendo o Estado Português descartado a Língua Oficial do País, para a substituir pela Variante Brasileira do Português, na sua forma grafada e, à força de tanto nos atirarem com novelas brasileiras e luso-brasileiras e comentadores e cantores brasileiros, todos os dias, nas televisões, já se começa aqui e ali a falar mal o Brasileiro, que é uma linguagem que apenas os Brasileiros sabem falar bem.  E isto é algo a que os portugueses na diáspora estão muito mais atentos do que os portugueses que vivem em Portugal, e são neutros, e são indiferentes e olham e não fazem nada...

Isabel A. Ferreira

 

Dante e Albert.png

 

Sobre o português do Brasil

Li nos meios de comunicação que o linguista Fernando Venâncio sugere que o português do Brasil se passe a chamar “brasileiro”. Sendo também eu linguista, conheço bem o Fernando Venâncio, bom colega e amigo. Contudo, não posso aceitar a designação de “brasileiro” para o português falado no Brasil. Seria preferível dizer “português do Brasil” ou “português brasileiro”. Quanto ao português de Portugal, a expressão “português europeu” parece-me acertada.

 

Assentemos em “português brasileiro” e “português europeu”. Não vejo a necessidade de introduzir a designação “brasileiro”. Compreendo que o português falado no Brasil se tenha afastado muito desde o século XVII até hoje. Mas não estamos perante duas línguas! Vejamos: em Portugal, temos uma colónia de brasileiros a viver e a trabalhar aqui porque precisamente compreendem o português europeu e são compreendidos pelos portugueses. Como os linguistas sabem, a inteligibilidade mútua é um critério fundamental para diferençar dialectos e línguas. Aceitemos que estamos perante uma língua, o português, que tem (pelo menos) duas variantes: o português europeu e o português brasileiro.

 

Temos assim dois portugueses. Como também há o inglês do Reino Unido e o inglês dos EUA. Ao inglês dos EUA também se pode chamar “inglês americano”. Reitero a ideia de dois portugueses: o português europeu e o português brasileiro.

 

José Pinto de Lima, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras [Nota à margem

 in https://www.publico.pt/2024/09/15/opiniao/opiniao/cartas-director-2104043

 
[Nota à margem: NÃO existe “inglês do Reino Unido”, nem «inglês dos EUA”, mas sim a Língua Inglesa e as suas Variantes; NÃO existe um “português europeu” e um “português brasileiro”, mas sim a Língua Portuguesa e a sua Variante Brasileira, isto se quisermos ir de encontro às Ciências da Linguagem] – Isabel A. Ferreira

 

***

Reflexão de Carlos Coimbra, sobre o que disse José Pinto de Lima, recebida via e-mail:

 

«No dia 15 de Setembro, foi publicada uma carta de José Pinto de Lima (JPL), basicamente equiparando a língua falada no Brasil ao Português padrão que para lá foi levado.

Nessa carta li comparações descabidas, do tipo de apreciações que terão levado ao uso dum Acordo (ainda não formalizado) que abdica do papel da Língua Portuguesa original.

Vivo no Canadá, sou praticamente trilingue, e também falo alemão e russo. A minha mulher era brasileira e conheço bem o Brasil, desde Manaus até ao sul.

É preciso notar que a diferença entre Brasil e Portugal não é só uma questão de pronúncia. Em Angola ou Moçambique, a pronúncia é diferente, mas a Língua é o Português, sem qualquer dúvida.

 

Já no Brasil usam semântica diferente, alteram a devida ordem das palavras, desrespeitam a etimologia na escrita e pronunciam "sílabas" inexistentes entre duas consoantes (hequitares, atimosfera e muitas mais).

 

Eu falo o Português normal de Lisboa, mas garanto que é difícil fazer-me entender no Brasil, especialmente ao telefone. Isto enquanto JPL escreve "a inteligibilidade mútua é um critério fundamental"...

 

Aliás, no Brasil tive ocasião de examinar uma prova escrita de Português para alunos na ordem duns 15 anos, a qual parecia um exame para estrangeiros, e tão básica era que nunca seria usada em Portugal.

 

JPL tenta equiparar Brasil e Portugal fazendo uma comparação entre o inglês americano e britânico. Vivendo no Canadá há muitos anos, estou perfeitamente familiar com o que se fala na Inglaterra, Escócia, Irlanda e neste lado do Atlântico.

 

A única diferença é a pronúncia e a escrita em umas poucas palavras, e nunca o Reino Unido faria um Acordo com os EUA que o levasse a escrever "à americana"!

Falam a mesma Língua, sem fazer as trapalhices que a língua sofre no Brasil.

A expressão "português europeu", usada por JPL, considero-o um insulto à minha língua nativa, tantas vezes descrita como "Língua de Camões". Eu falo PORTUGUÊS.

 

O que se fala no Brasil é uma variante, um português "malfalado", bem sonoro, com pronúncia dominante e atraente, compreensível (não completa e mutuamente), mas "Português", não é, não.

Em outros tempos, teria outra designação...

Carlos Coimbra,

Toronto, Canadá

(416)-239-4759

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:21

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comentários:
De Isabel A. Ferreira a 18 de Setembro de 2024 às 12:36
Ora, ora, Susana Bastos, sabe onde é a sede dessa Enciclopédia?

Em Chicago, Illinois, EUA, o que justifica puxar a brasa para a sardinha americana, tal como o Brasil puxa a brasa para a sardinha brasileira, porque é POLITICAMENTE conveniente, em ambos os países.

Estudei durante sete anos numa Escola Inglesa, tirei três diplomas nessa escola, aprendi a etiqueta do "five o'clock tea", convivi com Ingleses, e SEI que jamais os Ingleses venderiam a Língua Inglesa ao gigante americano, como Portugal fez com a venda da Língua Portuguesa ao Brasil.

Porquê? Porque eles não são complexados, como os portuguesinhos. Muito pelo contrário, eles conhecem o PODER da Língua deles.

Os EUA que fiquem lá com o "americano deles". Basta uma pessoa, que não sabemos se é norte-americana, abrir a boca, para ficarmos imediatamente a saber de onde é.

O mesmo acontece com os Brasileiros: abrem a boca e sabemos imediatamente de onde são, e apenas os Brasileiros sabem falar correCtamente a Língua deles.

E os estrangeiros que a falam, pensando que é Português, jamais passam por ser brasileiros.

De Susana Bastos a 18 de Setembro de 2024 às 16:30
Cara Isabel, pode passar os atestados de ignorância que quiser a si própria, mas abstenha-se de os passar aos outros, se fizer o favor. Qualquer criança que comece a aprender inglês sabe as diferenças que indiquei porque lhe são assim ensinadas com essas mesmas designações. Passe bem.
De Isabel A. Ferreira a 18 de Setembro de 2024 às 16:59
Desviou-se da conversa, por quê, Susana?

Eu não enfio carapuças que não me servem, por isso esteja à vontade para me insultar.

Qualquer criança que aprenda Língua Inglesa saberá das diferenças entre a Língua Mãe e a Variante. Sei disso porque convivo com essa realidade e com crianças inteligentes, que aprendem “correCt English”. Já não posso dizer o mesmo dos adultos.

Não menospreze nunca a inteligência das crianças, por favor. Este desprezo pela inteligência das crianças comprova-se nas escolas portuguesas, com o que estão a fazer-lhes. Aguardo, com muita ansiedade, o dia em que elas possam ter a oportunidade de se manifestarem, quando tiverem voz para poderem ser ouvidas e puderem votar.

Se quer saber, esta é uma das minhas mais importantes tarefas, neste momento: desenvolver o espírito crítico nas crianças, para que não andem por aí a seguir rebanhos...

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