«Custa ver Angola mais sensata do que Portugal num caso como o Acordo Ortográfico. Muito pouca gente quis este acordo. Na verdade, quem quis este acordo foram duas classes profissionais portuguesas que agiram por interesse próprio: a classe dos editores, que maravilha ter que [sic] substituir os dicionários e os livros escolares todos, e meia dúzia de académicos que tiveram aquele sonho clássico do intelectual, que é legislar.»
Pedro Mexia, Escritor e crítico literário
«Na história da nossa democracia, não há procedimento tão absurdo e tão próprio de um poder totalitário como este. Assistimos desde o início a manobras visando calar toda a contestação, mesmo a de um órgão de aconselhamento do Governo em matéria de língua, a Comissão Nacional de Língua Portuguesa, coordenada então pelo Professor Vítor Manuel Aguiar e Silva que, por ter elaborado um parecer bastante crítico do anteprojecto de 1988, foi impedido de ter acesso ao texto do AO assinado em 1990.»
António Guerreiro, Cronista e crítico literário
«Há-de haver um português de Angola, de Moçambique, de São Tomé, etc. Isso é uma forma de riqueza prodigiosa, não há que ter receio disso. Logo, é uma patetice completa este Acordo Ortográfico de 1990 e, mais, uma vigarice, porque não há unificação possível da língua. O que quiseram fazer foi uma mera unificação da ortografia e, mesmo para isso, foram agredir barbaramente a etimologia das palavras. Este acordo cheio de excepções é, portanto, mentiroso, criminoso, completamente inútil e, a meu ver, ilegal. Não percebo esta obstinação e precipitação de Portugal. Nós sujeitamo-nos à vergonha de Angola não aceitar o acordo porque tem demasiado respeito pela língua. E nós merecemos essaeugénio lisboa, bofetada.»
Eugénio Lisboa, Escritor e crítico literário
«Comparadas com as diferenças lexicais e sintácticas entre o português europeu e o brasileiro, as diferenças ortográficas são nada. Daí a inutilidade e a estultícia do Acordo Ortográfico de 1990.»
Helder Guégués, Tradutor, revisor e autor, no blogue O Linguagista, em 14-03-2024
«Contrariamente ao muito que se diz por aí, as alterações que vão ser introduzidas são muito poucas e julgo que basta uma meia hora para os professores aprenderem as novas regras. E depois é aplicá-las.»
Paulo Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português (APP), em 2-09-2009, “Diário Digital”
Como tem vindo a ser habitual, nalguns dos anteriores escritos, a par de citações de personalidades ligadas à língua, damos a conhecer exemplos do que consideramos ser o caos ortográfico decorrente da aplicação do AO90. Uma breve investida por apenas dois órgãos da Comunicação Social trouxe na rede o que se segue:
1 - «As emissões de dívida obrigacionista continuam a beneficiar de um duplo contexto favorável: “As expetativas de que o Banco Central Europeu vá iniciar o ciclo de descida de taxas de juro em junho, aliado ao fato de Portugal ter visto revisões em alta, quer do seu rating quer das perspetivas para a sua economia, têm levado a uma ligeira descida dos prémios de risco nacional”, refere Filipe Silva, Diretor de Investimentos do Banco Carregosa.
Recorde-se que a notação da dívida faz, agora, o pleno das cinco principais agências de rating, no escalão A, mais favorável à ampliação dos investidores interessados na dívida portuguesa, e que as contas nacionais registaram um excedente de 1,2% do PIB, o maior desde o 25 de abril, e o segundo superávite alcançado pelos governos de António Costa.» Expresso, 10-04-2024.
Dando de barato a questão da dupla grafia de expectativa, chamamos a atenção do leitor para a profecia de Pedro Santana Lopes de que “facto é agora igual a fato”, como nos lembra, mais uma vez o jornal Expresso. Acrescente-se que o AO90, que tinha o objectivo de unificar a língua, veio dar-nos a obrigação de utilizarmos a forma abstrusa perspetiva, enquanto um brasileiro continuará a usar perspectiva. Unificação foi o que disseram? Além disso, à imagem de muitos outros, o Expresso e até as escolas (como se vê numa das imagens, retirada da página de Facebook dos Tradutores contra o Acordo Orográfico) parecem continuar a escrever sempre com minúscula os nomes dos meses, sem terem em conta o que estipula o AO90 no que se refere às efemérides. Chama-se aplicação fatiada!
2 - «Para os empresários, contactados pelo Expresso, estar presente no MIPIM é uma oportunidade única para estabelecer contatos, trocar ideias e explorar oportunidades de negócio e, por isso, um conjunto cada vez mais alargado de empresas nacionais repete, ano após ano, a sua presença no evento.
O sentimento partilhado é que [sic] os resultados dos contactos realizados na feira têm sobretudo efeitos no médio prazo, resultando daí a concretização de negócios e estabelecimento de parcerias com investidores.» Expresso, 18-03-2024.
Já cá faltava o omnipresente contato, acompanhado três linhas abaixo pela forma correcta contactos. Confuso? Ná, parece um texto escrito com os pés, em que a opção ortográfica é como calha.
3 - «Na carta, mostra-se solidária e até preocupada com os polícias portugueses e acrescenta ainda que vai apoiar os polícias e usar a rede de contatos que têm na Europa para lhes dar uma voz mais forte.» RTP, 19-02-2024.
Para não ficar atrás, também a RTP, qual Pai Natal, nos presenteia com este exemplo da mixórdia ortotrágica (como lhe chama Clara Ferreira Alves) que por aí vai circulando e da qual parece ser difícil livrarmo-nos de vez.
Ah, no novo governo há, pelo menos, três ministros que, no passado, tomaram posição clara na oposição ao AO90. São eles: Nuno Melo, Ministro da Defesa, Paulo Rangel, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, e Dalila Rodrigues, Ministra da Cultura.
Ah, felizmente, quer o jornal A Bola, quer o canal SIC, às vezes, vão tendo umas saudáveis recaídas.
Ah, será que ainda faltam muitas meias horas?
João Esperança Barroca
«Acho o AO90 uma máquina de fomentar erros, de criar aberrações e instaurar o caos ortográfico […]. Quando os seguidores e legitimadores deste acordo instaurado por errados e perniciosos cálculos políticos recuam perante algumas das suas regras mais pitorescas […], então é caso para perguntar o que se passa com a monstruosa criatura que não é respeitada nem sequer por quem lhe quer bem. Devo confessar que às vezes até tenho pena do enjeitado, embora não hesitasse em infligir-lhe o golpe de misericórdia.»
António Guerreiro, Cronista e crítico literário
Como o leitor já sabe, o AO90 trouxe, como diz (muito bem) António Guerreiro na citação em epígrafe, uma caterva de aberrações. Dentre elas, salientam-se os fatos e os contatos. Só por estes dois termos, o AO90 já deveria estar no caixote do lixo da História, onde estaria agora a repousar, não foram as intervenções, entre outras, de Lula da Silva, de Santana Lopes e de José Sócrates.
Uma breve incursão pelas páginas dos órgãos de Comunicação Social permitiu que respigássemos o que se segue nos próximos parágrafos. Gostaríamos de chamar a atenção para a imagem com o canoísta Messias Baptista. O atleta tem o seu nome escrito na embarcação. Mas o que fez o jornalista? Podou a palavra, retirando-lhe a consoante.
“A atual crise permitiu ainda verificar que são os hospitais dos grandes centros urbanos que, em situação de caos, conseguem, com enorme esforço, “aguentar” o SNS. Se esse fato merece atenção, para que nunca se perca, não menos verdade é que se impõe um olhar especial para os hospitais mais pequenos, mais afastados dos grandes centros, que servem populações com menos opções de acesso, e que, sendo os “elos mais fracos” do sistema, foram, exatamente, por onde a cadeia quebrou, para os fortalecer de forma duradoura e irreversível.”
Isabel Galriça Neto e Miguel Soares de Oliveira, Expresso, 22-11-2023.
«Em declarações a uma (sic) canal regional da televisão pública NDR citadas pelo jornal francês LE Monde, a porta-voz da polícia Sandra Levgrun, afirma: “Mobilizámos psicólogos policiais e estamos neste momento a falar com o autor destes actos. Procuramos uma solução negociada”. A polícia considera “muito bom sinal” o fato de o pai ter permanecido em contato com as autoridades “durante tanto tempo”.»
Notícia atualizada às 11h51
Expresso, 05-11-2023
«A cantora revelou ainda que continua a trocar mensagens com o vocalista da banda britânica. “Ele tem o meu número de telefone. No último concerto [em Coimbra], pediu o meu número, e fiquei em contato com ele”, disse.»
Expresso / Blitz,04-11-2023
«A religião muçulmana é vista no Ocidente como limitadora dos direitos das mulheres, como extremista. Há pessoas que vêem um turbante na cabeça de um homem como perigo, que vêem um hijab na cabeça de uma mulher como um perigo.»
Clara Não, Expresso,13-11-2023
«Esta semana, não só não terminou o conflito israelo-árabe como começou o conflito Marcelo-árabe. As declarações do presidente foram criticadas e este fim-de-semana dezenas de pessoas manifestaram-se à porta do palácio de Belém.»
Expresso, 06-11-2023
«De forma indireta e através dos seus, com Augusto Santos Silva a exigir prazos e explicações à Justiça, e de forma concreta e de viva voz, António Costa não pára de disparar desde que foi inesperadamente alvejado.»
Sebastião Bugalho, Expresso, 20-11-2023
«Não ridicularizem a versão que contradiz a vossa nem valorizem a que a valida. Esse não é um exercício inteletualmente honesto.»
Duarte Gomes, Tribuna Expresso, 31-12-23
«Parte da espectacularidade do jogo assenta nesses factores, os da incerteza e imprevisibilidade de muitos dos seus momentos.»
Duarte Gomes, Tribuna Expresso, 31-12-23
«O encenador da peça “Turismo”, Tiago Correia, acusa o diretor do Teatro Municipal do Porto de “censura, chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder” por ter rejeitado a distribuição da folha de sala da peça da Companhia A Turma, que subiu ao palco do Teatro do Campo Alegre na passada sexta-feira e sábado. Em causa está uma nota de rodapé da sinopse do espetáculo e da autoria de Regina Guimarães - que considera tratar-se de censura e “terrorismo inteletual” a não distribuição da folha.»
Isabel Paulo, Expresso, 04-02-2020
«Extremo moçambicano pára duas a três semanas; apto depois da paragem para os jogos das seleções.»
A Bola, 06-11-2023
«Trabalho não pára por aqui.»
A Bola, 30-05-2023
Como se vê, a boa ortografia ressurge, por vezes, (actos e vêem) concretizando uma das afirmações do texto em epígrafe.
Ah, vários órgãos da Comunicação Social noticiaram, há dias, que uma mãe que raptara a filha do Hospital de Faro tinha problemas de adição. Nada que umas explicações com um bom professor de Matemática não resolva.
Ah, já saiu o livro Assim se Faz Portugal, que reúne textos de Luísa Costa Gomes, Manuel Matos Monteiro, Filipe Homem Fonseca e Afonso Cruz. Como se pode ler na página da TSF, são crónicas de humor, sátira e reflexão, escritas em Português imaculado.
João Esperança Barroca
«Sou adepta de “acêntos”, “hí-fenes” e “trëmas”.
A nova ortografia não me representa.
A resistência é um dever.»
Rita Lee, cantora brasileira
«Que grande compreensão tem esta gente das regras do Acordo Ortográfico de 1990... Nem com mais vinte anos em cima vão dominar a nova ortografia. E isto com jornalistas, imagine-se agora com o falante comum.»
Helder Guégués, tradutor e revisor, 19-04-2023, no blogue O Linguagista
«Raios partam o Acordo e quem nada faz para o reverter! Raios partam os políticos que fazem proclamações de amor infinito à língua portuguesa e a maltratam todos os dias, e não piam quanto ao acordo cacográfico. A integridade linguística é prova de carácter, com "c" antes do "t"!»
Maria Rueff, com texto de Manuel Monteiro na TSF
A par de fatos, que não são para vestir, como se observou no escrito do mês de Abril, os contatos são a segunda marca indelével do AO90. Só a sua aparição e proliferação seria razão suficiente, como escreve Manuel Monteiro, para pôr cobro à sua aplicação. Acrescem ainda, entre outras, o fracasso da unificação e as frequentes incoerências.
Voltemos de novo aos contatos. Uma breve incursão por alguns órgãos de Comunicação Social traz-nos, entre outras pérolas:
1. «Com cerca de cem membros e mais de cinquenta pontos de contato, como é referido na sua página da Internet, esta organização reúne outras de todo o mundo, por forma a melhor combater a corrupção no desporto.»
Vítor Rosa, A Bola, 31-03-2023
2. «Depois de João Galamba ter, em conferência de imprensa no sábado, confirmado a tentativa de entrar em contato com Costa- “Estava, penso que a conduzir, e não atendeu”.»
Expresso, 01-05-2023
3. «Na sua mensagem de abertura da assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, que se realiza esta semana, Ornelas revelou que este grupo deverá ter a “autonomia necessária para acolher e acompanhar as vítimas” e “assegurar o necessário apoio e a possível recuperação dos danos por estas sofridos”, dispondo de uma linha de atendimento e de “condições para o contato e acompanhamento pessoal».
Expresso, 17-04-23
4. «Até há pouco tempo, publicar um livro exigia do autor muito mais do que a já hercúlea habilidade de parir universos inteiros com as próprias mãos: sem oceanos de suor, alguma sorte e uma bela rede de contatos que garantisse os olhos de uma editora sobre o seu original, dificilmente o sucesso lhe bateria à porta.»
Observador, 11-04-2023
5. «O predador sexual, que já tinha sido condenado anteriormente por agressão, exposição indecente, indecência grosseira com crianças e crueldade animal, e que foi descrito pelo procurador como: «uma "suposta transgénero" que usou essa vertente de personalidade para ‘entrar em contato com pessoas vulneráveis’», aproveitou-se das políticas identitárias e mascarou-se com uma peruca, maquilhagem e soutiens com enchimento para se declarar mulher, ser preso na cela delas e continuar a violá-las.»
Sol, 30-03-2023
6. «Governo diz que CM de Setúbal não quis celebrar um protocolo com o Alto Comissariado para as Migrações.
Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, diz que a Câmara Municipal de Setúbal tem fugido aos contatos e a essa formalização de uma parceria com o Alto Comissariado.»
Observador, 10-05-2022
7. «Isabel Lima, professora de português do Colégio, diz que a atividade foi enriquecedora e que “o contato com o espaço físico é diferente da percepção que se tem dentro da sala de aula”. Para a docente, vivências como estas permitem que os jovens fiquem mais atentos às notícias e à desinformação.»
JN, 20-02-2023
8. «Este contato com os autarcas, e as autarquias, é muito importante. Tendo em conta que dos 10 municípios a visitar apenas 3 têm gestão social-democrata, há muito para aprender e, eventualmente, replicar as boas práticas.»
Manuel Portugal Lage, DN, 17-04-2023
9. «Acabei de entrar em contato com o comandante de uma das brigadas que defendem a cidade. Posso afirmar com confiança que as forças de defesa ucranianas controlam uma percentagem muito maior do território de Bakhmut", disse o porta-voz das forças ucranianas em declarações à CNN International.»
DN, 11-04-2023
10. «Verstappen defendeu que Lewis Hamilton não seguiu as regras da corrida ao ultrapassá-lo na primeira volta. "Da minha parte, apenas tentei evitar o contato, está bem claro nas regras o que é permitido fazer agora do lado de fora, mas claramente não é seguido", disse.”»
DN, 01-04-2023
O que acha desta pequena colecção, caro eleitor? Será isto um não-assunto, como dizem alguns que se julgam entendidos também em Linguística? Justifica-se que os responsáveis teçam rasgados elogios à língua no Dia Mundial da Língua Portuguesa e continuem a assobiar para o lado no resto do ano?
Ah, e como escrevemos em Abril, o nome dos meses, quando se refere uma efeméride ou um acontecimento histórico, deve ser grafado com maiúscula. Sempre!
João Esperança Barroca
***
Uma vez que pergunta, caro João Esperança Barroca, e sendo eu sua leitora, digo-lhe que esta pequena colecção de contatos diz de um servilismo absolutamente bacoco, a juntar a uma ignorância optativa e ao DESPREZO que o presidente da República, o (des) governo português e os deputados da Nação (salvaguardando as raras excepções que pugnam pela NOSSA Língua Portuguesa), votam a Portugal, insultando os Portugueses Pensantes com essa atitude servil , anti-democrática [com hifene], ditatorial, ilegal e inconstitucional. E isto só acontece porque vivemos numa República DOS Bananas.
Isabel A. Ferreira
***
«Para cúmulo da infelicidade, veio o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), de muito discutíveis méritos intrometer-se neste cenário. Trata-se de um produto mal-enjorcado, elaborado em cima do joelho, rejeitado por todas as entidades então consultadas.
[…] Daí que para nós, portugueses, seja tremendamente frustrante tentar convencer um brasileiro de que, na nossa fala, soam diferentes “coação” e “coacção”, “corretor” e “corrector”, “andamos” e “andámos”, “para” e “pára” e outros pares. O português europeu dispõe, na realidade, de mais sons distintivos, contrastivos, do que o brasileiro. Pois bem: tudo isso é negado, trucidado, por um Acordo tecnicamente inapresentável...»
Fernando Venâncio, linguista e escritor em O Português à Descoberta do Brasileiro
«Para baralhar ainda mais as almas, uma série de iluminados universitários, políticos decadentes e editoras que descobriram uma mina de ouro criou um Acordo Ortográfico que Portugal usa orgulhosamente só, enquanto cada ramo do português vai fazendo o seu caminho. No meio do caos todos os governantes assobiam para o ar.»
Fernando Sobral, jornalista, em 22 de Fevereiro no Jornal Económico
«Eu acho que esse acordo [ortográfico] foi mais uma “bobajada” dessas feitas ninguém sabe direito porquê nem para quê. Tiraram alguns acentos importantes […], então ainda acontecem frases que ficam ambíguas. Você não sabe se o “para” é preposição ou do verbo parar. Essas reformas, na minha opinião, significam pouco. Como escritora, zero, porque continuo escrevendo do modo que escrevia […].»
Lya Luft, escritora e tradutora brasileira
Quis o acaso que as duas citações que encimam o artigo deste mês de Abril (que, mesmo usando o nefasto AO90, deve ser grafado com maiúscula quando se refere ao 25 de Abril) se iniciasse com a preposição para. Com a aplicação do AO90, como estipula o ponto 9.º da Base IX: «Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica / tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; […]
Exactamente. Deixam de se distinguir. E aqui o texto do AO90 foi algo premonitório. Dando uma rápida vista de olhos por alguns jornais (digitais) dos últimos tempos, tropeçamos e respigamos títulos ou frases como: Quem pára Mbappé? (A Bola, 22/03/22); Bagaço a mais pára lagares no Alentejo (Correio da Manhã, 17/12/21); Magnus Andersson pára o jogo (O Jogo, 18/11/21); Simeone pára o treino do Atlético Madrid… (Record, 11/08/21); Travante Williams pára seis semanas (A Bola, 19/03/22); Condutor de carrinha com seis ucranianos não pára na fronteira da Roménia (Correio da Manhã, 17/03/22); Florian Wirtz pára sete meses (Record, 14/03/22); José Mourinho não pára de me surpreender (A Bola, 18/03/22); Renato Sanches pára três semanas por lesão (Record, 12/03/22); Dário Essugo: o clone de Palhinha que não pára de fazer história (Record, 06/03/22); O guarda-redes do Benfica pára um remate perigosíssimo de longe (Record, 06/03/22); Elina Svitolina escreve emocionada carta à Ucrânia: O meu coração não pára de sangrar.” (Record, 27/02/22); Na casa gilista o trabalho não pára (A Bola, 22/03/22); É certo que o campeonato agora pára (A Bola, 22/03/22); Brest não sabe onde pára o argelino (A Bola, 01/04/22); Alto e pára o carro! (Nascer do Sol, 02/04/22). Que fizeram os jornalistas na redacção de todas estas notícias? Mandaram, adrede (olá, Manuel Monteiro!), o AO90 às urtigas e optaram pela grafia que torna todas estas frases inteligíveis. Isto é: errando, acertam.
Mas o COEC (Caos Ortográfico Em Curso) presenteia-nos ainda amiúde com pérolas como: Kaio Jorge para 4 semanas (A Bola, 23/08/21); Ritual indonésio para a chuva (Record, 20/03/22); O onze do Sporting para o jogo com o Marítimo (Record, 26/02/22); Conceição para a história (Record, 29/03/22). Aqui, os jornalistas seguiram à risca o AO90 e criaram frases dúbias. Kaio Jorge pára 4 semanas ou está apto durante esse período de tempo? O ritual indonésio é para que chova ou para que pare de chover? O onze do Sporting decide parar o jogo ou é o que está escalado para esse jogo? Conceição pára a história ou entra nela?
Quando confrontados com estas e outras aberrações como as que se seguem: para-brisas; para-choque; para-chuva; para-águas; para-fogo; para-vento; paraquedas; para-arranca, os acordistas assobiam para o lado ou remetem-se ao silêncio. O silêncio dos coniventes.
João Esperança Barroca
TRAVANTE WILLIAMS PÁRA SEIS SEMANAS
BASQUETEBOL 19-03-2022 14:25
. Em Defesa da Ortografia (...
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