Se tiverem personalidade, ninguém vos impingirá o que quer que seja.
Texto dirigido principalmente a professores de Língua Portuguesa, a jornalistas e a escritores, aqueles que têm no Português o seu mais precioso instrumento de trabalho.
Sois daqueles que se sentam diante da televisão e consomem todos os anúncios que sugerem o que devem comprar, o que devem fazer, ou o que devem ter, como as coisas melhores do mundo?
Sois daqueles que “devoram” todos os maus programas da televisão, apenas porque tendes televisão e não sabeis como desligá-la?
Sois daqueles que vão a um hipermercado e comprais um pacote gigante de pipocas, que não cabem nem num décimo do vosso estômago, apenas porque trazeis de oferta um outro pacote mais pequeno?
Sois daqueles que, por um brinde medíocre, inútil e insignificante, comprais o que não precisais?
Sois daqueles que comeis e bebeis tudo o que é publicitado, ainda que sejam produtos absolutamente dispensáveis à vossa alimentação e nocivos à saúde, apenas porque dizem “ser bom”?
Sois daqueles que aceitam um cigarro ou um charro, ou um pacotinho de heroína porque vos dizem que isso é “bué fixe”?
Então devo perguntar-vos: «Chamais a isto ter personalidade? Não sereis o que se designa por “maria-vai-com-as-outras”? Tereis sentido crítico? Não aceitareis o que vos é impingido, com o sorriso dos ingénuos?
Sereis obrigados a consumir o que não quereis, apenas porque alguém o sugere?
Se tiverdes personalidade, ninguém vos imporá o que não precisais. O que não vos serve. O que não é bom para vós. O que apenas vos prejudica.
Não, ninguém vos obriga. Se o fazeis é simplesmente porque assim o quereis.
Não sois ingénuos, e tendes inteligência e capacidade de discernir? Então podeis escolher. Existe o sim e o não. Vós deveis saber o que é melhor para vós.
Se assim é, então porque vos deixais enganar e, submissamente, vos vergais ao poder, aceitando o Acordo Ortográfico de 1990, o acordo do descontentamento de milhares de escreventes e falantes da Língua Portuguesa, sem contestar a sua inutilidade, a sua ilegalidade, a sua inconstitucionalidade e principalmente a sua inconsistência linguística?
Pensai nisto.
Isabel A. Ferreira
(Adaptado de «O que te impingem?», in «Manual de Civilidade», de Isabel A. Ferreira)
. Querem impingir-vos o AO9...