Quarta-feira, 13 de Março de 2024

«A beleza das palavras», por Manuel Matos Monteiro, Director da Escola da Língua



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Por Manuel Matos Monteiro

Director da Escola da Língua

 

A beleza das palavras

 

Num tempo em que a lusa língua é tão maltratada, poderia vituperar contra o paupérrimo artigo de Jorge Miranda em que o constitucionalista defende um Acordo Cacográfico que não sabe aplicar (veja-se “heróica”) e cuja própria data desconhece (imagine-se o texto de um historiador a comemorar os cinquenta anos do 25 de Abril… de 1975…), mas que defende e propagandeia há anos sem conseguir observar a condição sine qua non para a sua defesa e apologia: inventariar as vantagens (uma só!) desse instrumento ante o anterior.

 

Quanto ao mais, o artigo está pejado de enfermidades linguísticas e de considerações desastradas sobre erros de português (veja-se o caso do «porque»/«por que»), sem um singelo exemplo ilustrativo. Poderia ainda bradar contra a ausência desse crime de leso-idioma (o Acordo Cacográfico) na discussão eleitoral, instrumento esse que os partidos políticos e os mais altos dignitários do Estado continuam sem saber aplicar, enquanto decretam, cegos e surdos (porque o Acordo tem consequências na língua escrita e falada), que seja aplicado.

 

Poderia até enumerar a quantidade de vezes que ouvi “acórdos” (isso mesmo) nos debates das legislativas. “A minha pátria é a língua portuguesa”, papagueiam com frequência e solenidade os habitantes do espaço público, mormente políticos, que (com louváveis excepções) estão sempre mortos por usar uma palavra estrangeira para exprimir determinado conceito que, na língua portuguesa, tem quatro, cinco ou seis palavras (por vezes, até mais) que dizem a mesmíssima coisa, enquanto apresentam um vocabulário reduzido e estereotipado, debitando a ladainha de dois em dois minutos: “empatia”,   impacto”, “inclusivo”, “expectável”, “expectativas”, “janela de oportunidades”, “recorrente” e o verbo “colocar”. Será, por tudo isso, natural que os efeitos (“impactos”, para melhor compreensão) do Acordo Cacográfico não os afectem (“afetem”, escreverão eles, se souberem ou se a tecnologia os ajudar).

 

(Concedo ter cedido parcialmente à paralipse até aqui.)

 

Sucede que falar sempre mal faz mal, pelo que me dedicarei a boiar, garantidamente mais feliz, pelo que o título deste texto anuncia, preferindo de ora em diante algo deleitoso a algo deletério.

 

Estamos em Fevereiro de 2016, na sala de aula da terceira classe de uma pequena e tranquila cidade (Copparo) no Norte de Itália, e a professora Margherita Aurora pede aos seus alunos que escrevam dois adjectivos para cada vocábulo que dita.

Uma dessas palavras é “flor”.

Matteo, um menino de oito anos, escreve: “perfumada e petalosa”.

A professora assinala o segundo adjectivo, a palavra petalosa, como um “erro

bonito”.

A professora diz a Matteo e aos colegas que redijam uma carta à Accademia della Crusca, a mais alta instância linguística italiana.

Passadas três semanas…

… chega uma carta à escola de Matteo.

 

Diz a carta:

Querido Matteo, a palavra que inventaste é uma palavra bem formada e poderia ser usada em italiano, assim como são usadas palavras formadas da mesma maneira.

Tu juntaste petalo + oso ➞ petaloso = cheio de pétalas, com muitas pétalas

Da mesma forma, existem em italiano:

pelo + oso ➞ peloso = cheio de pêlos, com muitos pêlos

coraggio + oso ➞ coraggioso = cheio de coragem, com muita coragem.

A tua palavra é bonita e clara […].

[…]

Obrigada por nos teres escrito.

Cumprimentos para ti, para os teus companheiros e para a tua professora.

 

Maria Cristina Torchia

Redacção da Consultoria Linguística

Accademia della Crusca

 

A história — … e, com ela, a palavra… — difundiu-se pela televisão, pela rádio, pelos jornais, pelas redes sociais. O próprio primeiro-ministro italiano Matteo Renzi felicitou Matteo num tuíte. O já saudoso Fernando Alves, que só sabia fabricar superbíssimas crónicas, dedicou-lhe uma superbíssima crónica.

 

Tropeçamos na beleza e desatamos a correr?

James Joyce, na sua obra mais difícil, Finnegans Wake, criou palavras que fundiam dois verbos. Por exemplo, pegou em “catapultar” e “arremessar”, e escreveu: “catapultarremessam”. Pegou em “arrasar” e “massacrar”, e escreveu: “avançam para arrasamassacrar”.

Pegando numa onomatopeia e num substantivo, o escritor irlandês deu-nos a sonora e expressiva ideia de uma… “pftjqueda”.

 

Lembrei-me disto, porque escrevi ao Instituto de Lexicologia e Lexicografia da

Língua Portuguesa (ILLLP) propondo os vocábulos “lucivelo” e “ancenúbio”,

vocábulos esses que foram felizmente acolhidos no Dicionário da Língua

Portuguesa (DLP). “Lucivelo” e “ancenúbio” são as palavras portuguesas que

exprimem respectivamente os francesismos abat-jour e nuance.

“Lucivelo” vem de luz e véu, e significa o mesmo que o galicismo “abajur”. O DLP acolhia a palavra francesa abat-jour, mas não acolhia a palavra portuguesa

“lucivelo”.

 

Recorde-se que, para o galicismo abat-jour, temos:

“quebra-luz”

“pára-luz”

“tapa-luz”

“veda-luz”

“abaixa-luz”

e… claro… lu-ci-ve-lo.

É digno de nota que estas seis palavras portuguesas sejam muitíssimo menos usadas do que a palavra do francês.

 

“Ancenúbio”, que também já mora no DLP, significa o mesmo que o francesismo nuance, sendo formada pelos mesmos elementos latinos presentes na criação do termo estrangeiro. An-ce-nú-bi-o, que palavra tão suave e melodiosa, tão replena de eufonia.

 

Continuo ainda a aguardar que “intimilhação” (1), “trabalhólico”, “calipedia”, “aletia”, “fenotexto”, “tecnofilia”, “tecnófilo” e “tecnodeslumbrado” tenham o mesmo destino: que tais propostas que enviei por escrito ao ILLLP desaguem igualmente no DLP.

 

“Intimilhação” nasce de “intimidação” e “humilhação”. “Intimilhação”, quanto ao mais, traduz muito bem o bullying. Espero ainda que o aportuguesamento de workaholic desague no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (o já referido DLP). Alguém estranha a palavra “alcoólico”? Porquê estranhar então “trabalhólico”? Mera falta de hábito que domestica e amestra o paladar.

 

Manuel Matos Monteiro, Director da Escola da Língua

 

(1) A primeira vez que tropecei neste prodígio foi num texto do tradutor A. Gonçalves.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:40

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Quarta-feira, 6 de Março de 2024

Em Defesa da Ortografia (LXVI), por João Esperança Barroca

 

«Acho o AO90 uma máquina de fomentar erros, de criar aberrações e instaurar o caos ortográfico […]. Quando os seguidores e legitimadores deste acordo instaurado por errados e perniciosos cálculos políticos recuam perante algumas das suas regras mais pitorescas […], então é caso para perguntar o que se passa com a monstruosa criatura que não é respeitada nem sequer por quem lhe quer bem. Devo confessar que às vezes até tenho pena do enjeitado, embora não hesitasse em infligir-lhe o golpe de misericórdia

António Guerreiro, Cronista e Crítico Literário

 

«O Acordo Ortográfico é uma das coisas que mais abastardaram a língua portuguesa nos últimos anos, e sobre o qual ninguém se pronuncia. São todos muito patriotas, têm todos Portugal e a bandeirinha na cabeça e no corpo, mas coisas que efectivamente atentaram contra a nossa identidade, que depende em muitos aspectos da língua, ninguém liga nenhuma. O Acordo Ortográfico mantém-se, em grande parte, por inércia, não é porque haja muitos defensores. A maioria das pessoas que escreve bem português não escreve naquela coisa.»

José Pacheco Pereira no programa "O Princípio da Incerteza" 11/02/2024

 

«A coisa foi caindo no esquecimento, embora muitos jornais e revistas tenham decidido adoptar a coisa, que era uma maneira de ir impondo a coisa, em jeito de dose maciça a ver se nos habituamos. A verdade, sejamos claros, é que nunca nos habituámos. E a coisa é confusa mesmo para professores que têm de pregar o Acordo Ortográfico às criancinhas […]. Nunca escrevi segundo o Acordo, porque estou contra, […] sobretudo por isso, por me parecer uma imposição sem grandes bases de verdadeira discussão pública, uma coisa acelerada, precipitada

Rodrigo Guedes de Carvalho, Jornalista e Escritor

 

«Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc

Ponto 9 da Base IX do Acordo Ortográfico de 1990

 

Quando se olha com alguma atenção para a linguagem que por aí vai circulando, à boleia do AO90, uma das situações que nos salta à vista é a da confusão entre pára (forma verbal) e para (preposição). Os bonzos do AO90, enquanto assobiam para o lado, costumam afirmar que o contexto é sempre esclarecedor. Parafraseando um dos mais famosos debates da história da democracia portuguesa, apetece dizer-lhes: — Olhe que não, olhe que não…

 

Para ilustrar a nossa opinião, incluímos uma recolha de títulos, em vários órgãos da comunicação social, nos quais não é clara a classe gramatical do vocábulo para. Consequentemente, ninguém sabe como pronunciar essa palavra. Abrindo ou fechando a primeira vogal?

 

Vejamos, então, o resultado do nosso trabalho de pesquisa: a) Razão para ida ao cinema. b) Sobreprocura para pedopsiquiatria. c) A chegada de Ronaldo para o jogo com o Benfica. d) Horta para o estágio. e) Ritual indonésio para a chuva. f) Estudo para protecção das dunas. g) Ninguém para Portugal. h) Ninguém para o Benfica. i) Ninguém para a juventude do Brasil. j) Médio livre para as águias. k) Certificado digital ou teste negativo para acesso a restaurantes. l) Uma ligação para a vida. m) Mulher de Cabrita para a supervisão dos transportes. n) Ricardo Horta para a história. o) Modric para a história. p) Tudo para o Bessa. q) Para já, o estado de emergência não avança. r) Aliança mundial para a vacina? s) Jesus para três épocas? t) Escutismo, de onde e para onde. u) Bilhete para o clássico. v) Sterling com entrada 'assassina' sobre Dele Alli e Mourinho reage em bom português: «Para o car****, pá! w) Mariano Díaz para o ataque do Benfica. x) Palco para Díaz. y) Carro de vogal para as modalidades com vidro partido. z) Benfica demasiado forte para Braga. a’) Aviso para Páscoa. b’) Defesa reforçada para FCPorto. c’) Mercado ferve: Salin ruma a França, João Félix para quarta-feira e Benfica contrata brasileiro. d’) Penálti para o Vizela.

 

Como vê, caro leitor, nas imagens que acompanham este escrito, muitas vezes a única solução viável, quer nas notícias sobre os futebolistas Evanílson ou Zaidu, quer na imagem televisiva, é acentuar a forma verbal, diferenciando-a da preposição. Isto é, estes órgãos dizem aplicar o AO90, mas fazem-no parcelarmente, considerando-o assim um instrumento defeituoso.

 

Ah, e como se lê mais neste exemplo?

O comboio deslizou lentamente pelos carris.

— Para o comboio! — gritou o chefe da estação.

O chefe da estação ordena que as pessoas entrem no comboio ou manda parar esse mesmo comboio?

Ah, pois é. Como escrevemos no mês passado, dispensar os neurónios dá mau resultado.

 

João Esperança Barroca

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publicado por Isabel A. Ferreira às 15:21

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Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2024

«Em Defesa da Ortografia (LXIV)», por João Esperança Barroca

 

«Uma das consequências esperadas de um novo código ortográfico é a criação ou a manutenção da estabilidade da dimensão escrita de uma determinada língua. Infelizmente, no caso do "portuguez lingua escripta" (feliz expressão de Francisco Adolpho Coelho, criada no final do século XIX), apareceu o AO90 e, com ele, regressou a instabilidade ortográfica. A origem de tal desdita é política e deve-se ao desprezo pela opinião especializada, à propalação de erros crassos e à consequente invenção de teorias sem nexo. […] O "Diário da República" é uma montra crucial e privilegiada para se deduzir acerca do comportamento dos escreventes de português europeu em relação ao AO90. Crucial, porque, em última análise, foi uma verificação do caos ortográfico que reinava no (então) "Diário do Governo" que levou à criação, em 1911, de uma ortografia oficial do português europeu. Privilegiada, porque temos à mão de semear uma indicação real (e não uma ideia peregrina) daquilo que efectivamente se passa

Francisco Miguel Valada, linguista, em artigo do jornal Lusitano de Zurique edição de Dezembro

 

«Vivemos tempos em que o Acordo Ortográfico destrói dia a dia não apenas a ortografia, mas também a própria ideia de ortografia, fazendo o País regredir séculos.»

Maria Rueff, actriz, no programa Assim se faz Portugal, em 27-11-23

   

«A língua de Portugal, que há séculos nos define, nos molda e estrutura, está a ser ostensiva e visivelmente esfarrapada. É insuportável assistir a esta destruição da nossa língua, em tudo o que é texto escrito, inclusivamente na televisão, assim como nos atropelos à própria pronúncia abundantemente adulterada!

 Claro que os políticos são responsáveis, por terem imposto o AO90 ao país, sem atenderem aos inúmeros pareceres que o condenam. Esse "mostrengo" NÃO «constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional», como lá expressamente se diz. Constitui sim o desmembramento da língua portuguesa, que tinha duas normas oficialmente reconhecidas, e tem agora, no país que lhe deu vida, uma nova versão, disparatada e ridícula

Maria José Abranches, professora reformada, no Blogue O Lugar da Língua Portuguesa

 

Uma das marcas identificativas da ortografia que por aí circula (expressão roubada a Manuel Monteiro) é a caterva de dislates, com os omnipresentes fatos e contatos à cabeça. Um olhar mais atento, centrado no que por cá se publica, traz à superfície inúmeros exemplos da cacografia imposta pelo AO90. Nesse levantamento sobressaem também as misturas de grafias, dando razão a quem afirma a inaplicabilidade do referido Acordo Ortográfico. Vejamos, então, com breves comentários, mais alguns casos ilustrativos da burundanga:

 

1 - «Outro aspecto que realça é o fato de na montanha se estar em total sintonia com a natureza e esta ser um equilibrador. Expresso, 28-11-23. Poupa-se uma consoante aqui para a desperdiçar ali.

 

2 - Chipre tem uma superpopulação de felinos na rua e, desde o início do ano, a chamada “ilha dos gatos” está a ser afetada de forma “anormal” por uma “combinação de um coronavírus felino e de um coronavírus canino”. O primeiro caso já foi identificado no Reino Unido e “existe a possibilidade” de a infecção se espalhar no país. O que está em causa? Expresso, 21-11-23. De novo, a mistura de ortografias.

 

3 - «Distinção sem grande impato nos mercados (vídeo).

Sem retirar importância à escolha da Madeira como melhor destino insular do mundo, os hoteleiros consideram que este prémio tem um impacto relativo junto dos mercados emissores. A região ganhou pela sétima vez o World Travel Awards.» RTP, 06-12-21. O impato tem sempre algum impacto.

 

4 - «O fato de Yesilgöz ser ela própria uma ex-refugiada, de origem turca, dá-lhe alguma vantagem argumentativa.Como a própria explicou ao Politico [sic]], "existe um influxo de demasiadas pessoas, não apenas em busca de asilo e estudantes internacionais, o que significa que não temos capacidade para auxiliar verdadeiros refugiados.» RTP, 22-11-2023. De quando em vez, o omnipresente fato que não é de vestir.

 

5 - «O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, lamentou hoje o espancamento do deputado Farid Fadul, vulgo Cuca, alegadamente por militares do palácio da República, mas esclareceu que aquele estava de fato a filmar aquelas instalações.» RTP 14-11-2023. Conclui-se, pois, que é expressamente proibido filmar de fato.

 

6 - «A DGAV apelou ainda a que todos os detentores de aves que cumpram as boas práticas de produção, evitem contatos entre aves domésticas e selvagens e a que se reforcem os procedimentos de higiene nas explorações e equipamentos.» Jornal I 14-11-2023. Conselho de amigo: Os contatos são sempre de evitar.

 

Ah, pára por aí um grupo significativo de acérrimos defensores do AO90 que se espalha de cada vez que escreve. Usa a nova ortografia, mas só numa determinada fatia.

 

Ah, há dias, ao consultar a página de uma empresa de fisioterapia, encontrei o que se segue: «Em certas ocasiões, pode mesmo surgir uma dor torácica mais intensa com irradiação para a grade costal ou mama esquerda, a qual se confunde incorretamente com um problema cardíaco. Nestas situações, é possível distinguir a azia, não só pelo ardor/queimadura, como também por outros sintomas que muitas vezes a acompanham: erutação (arrotos), aumento da salivação ou gosto amargo na boca, correspondente ao refluxo do ácido do estômago que sobe para o esófago.» Erutação? É arroto sem cê!

 

João Esperança Barroca

 

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publicado por Isabel A. Ferreira às 16:30

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Sexta-feira, 5 de Janeiro de 2024

Devido à condição de vassalos por parte dos decisores políticos portugueses, chegou-se a esta ultrajante, abusiva e inaceitável situação: «Apenas a União* pode alterar as regras da Língua Portuguesa». Definitivamente: BASTA!

 

[* Para quem não sabe, União é o vocábulo que os Brasileiros usam institucionalmente para designar a República Federativa do Brasil]

 

Isto vem publicado aqui, e foi aqui que deixei o comentário abaixo transcrito, porque está mais do que na hora de acabar com a apropriação abusiva da designação «Língua Portuguesa» por parte do Brasil, com o objectivo de promover politicamente a Língua Brasileira, que conheço desde os meus tempos da infância brasileiros.

Mas também, está mais do que na hora de EXIGIR dos muito subservientes decisores políticos portugueses que, ao menos, se respeitem a si próprios, e tenham a consciência de que andar curvados não é condição dos seres vertebrados, e não andem por aí a permitir que o nome da NOSSA Língua – a Língua Portuguesa - ande a ser arrastada na lama, como se NÃO fosse uma Língua da mais nobre linhagem Românica, a qual anda agora por aí esfarrapada como uma mendiga, transformada numa linguagem básica, mal escrita e falada, inacreditavelmente, nas escolas e universidades, e na comunicação social, nomeadamente nas televisões, os maiores veículos da ignorância linguística que se implantou em Portugal como uma peste negra , desprestigiando o NOSSO País e o Povo Português, e desacreditando os decisores políticos que se apresentam ao País e ao Mundo como uns meros vassalos do Brasil, e nem sequer consciência desta submissão eles têm, ou se têm, perderam a vergonha.


***

Eis o comentário que deixei no texto intitulado «A decisão do STF [Supremo Tribunal Federal], neste momento, não prejudica o debate sobre o tema, só define que apenas a União pode alterar as regras da Língua Portuguesa»

 

 «Apenas a União pode alterar as regras da Língua Portuguesa»????????

De que Língua Portuguesa estão a falar, se só existe UMA Língua Portuguesa, a que Dom Diniz fez valer e que é falada e escrita em Portugal e nos países africanos de expressão portuguesa, e também noutras partes do mundo asiático e nas comunidades portuguesas na Diáspora, mas não, no Brasil?

Este texto que acabei de ler é falacioso.

O que se fala e escreve no Brasil é uma Variante Brasileira do Português, ou o Dialecto Brasileiro, ou o Crioulo Brasileiro, ou, com absoluta legitimidade, a Língua Brasileira.

Há muito que a Língua Portuguesa não existe no Brasil, sequer o Português do Brasil.

O Brasil precisa da muleta portuguesa, porque a Variante Brasileira do Português (como todos os que sabem de Línguas a designam) por si só, não consegue impor-se, por exemplo, na ONU ou nas Universidades. No entanto, se a designassem como Língua Brasileira, quem não a aceitaria?

A questão é: o Brasil, sendo um país livre e soberano, com cerca de 204 milhões de habitantes (segundo o censo de 2022, número que poderá ter diminuído com a deslocação em massa de brasileiros para Portugal, e daqui para os restantes países europeus), por que motivo há-de estar agrilhoado a Portugal, como nos tempos em que foi colónia portuguesa?

Já não seria o momento de cortar definitivamente o cordão umbilical com o ex-colonizador e assumir de uma vez por todas a Língua Brasileira, que efectivamente é brasileira, por se ter distanciado de um modo demasiado evidente da Língua Mãe Portuguesa?

Por que não há-de o gigantesco Brasil ter uma Língua própria que o identifique como um País livre e desligado do ex-colonizador?

Por que há-de estar o gigantesco Brasil a mendigar o vocábulo "português" como se não tivesse capacidade de impor o "brasileiro" na designação da sua própria Língua?

Assim como está, o Brasil até pode ser um gigante, ter muitos milhões de habitantes, ter muitas riquezas, mas NÃO tem uma língua própria que o identifique como um país livre.

Pensem nisto, porque este é um conselho de amiga, de uma amiga que foi criada no Brasil e conhece a História, a Cultura e a Língua Brasileiras melhor do que a esmagadora maioria dos Brasileiros.»

 

Português vs. Brasileiro.png (Repondo a legalidade)

 

Para quem acha (seria melhor pensar) que o que escrevi tem alguma conotação com racismo ou xenofobia engana-se redondamente. Defender a minha Língua é um DEVER cívico, moral e cultural, do qual NÃO abdico, e isto é algo que NÃO é sinónimo de racismo ou xenofobia.

 

No finado ano de 2023, foi criado um Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes, no qual estão integrados actualmente 296 pessoas [poderia ser mais numeroso, não fossem as desistências por medos que ultrapassam a vontade de ver o AO90 incinerado para todo o sempre], e que levou a cabo duas acções. A primeira dessas acções foi o envio de um APELO a Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 18 de Abril desse mesmo ano, através do Formulário da Presidência, no sentido da defesa da Língua Portuguesa, conforme definida no n.º 3, do artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa, que está a ser despudoradamente violado, e ainda não mereceu uma investigação por parte da Procuradoria-Geral da República. O Apelo foi enviado por quatro vezes, e a única resposta que mereceu por parte do Presidente, que se diz ser de TODOS os Portugueses, foi através de uns ofícios da Casa Civil do Presidente da República, assinados por Fernando Frutuoso de Melo, a acusar a receção da mensagem, que (imagine-se!) mereceu a melhor atenção por parte da Casa Civil, mas, ao que parece, mereceu o desprezo do Presidente da República, que ainda não se dignou responder-nos, e já vamos no dia 05 de Janeiro de 2024.

 

No dia 26 de Outubro de 2023, ousei telefonar para a Presidência da República. Atendeu-me uma Senhora Doutora, à qual, como porta-voz do Grupo Cívico, expus o assunto e o lamentável desprezo de que estamos a ser alvo, por parte do Presidente da República Portuguesa, e insisti que exigíamos uma resposta, como é do nosso DIREITO, ainda mais por se tratar de uma questão que mexe com a nossa identidade.

 

A senhora, muito simpaticamente, disse que ia transmitir a nossa petição à Presidência e que muito em breve teríamos uma resposta. Que ficássemos descansados. Já estamos em 2024 e ainda não obtivemos a tão ansiada resposta. Bem sabemos que o Senhor Presidente tem muito que fazer, tem muito que viajar, tem muitas complicações para resolver, mas a Questão da Língua, que integra a Violação da Constituição da República Portuguesa; a Ilegalidade da Aplicação do AO90; a Usurpação Ilegítima da Língua Portuguesa por parte do Brasil; e a Perda da Identidade Portuguesa, com o uso abusivo da bandeira brasileira como símbolo da Língua Portuguesa entre as Línguas europeias, não será matéria suficientemente grave para constar das preocupações de um Presidente da República?

Pelo visto, não é. Porque o Presidente da República Portuguesa está-se nas tintas para os interesses de Portugal e dos Portugueses.

Mas não vamos desistir. Por estes dias, voltarei a telefonar para a Presidência da República, insistindo para que nos seja dada a resposta a que temos direito.


E dizem que vivemos numa Democracia, onde a voz do Povo é quem mais ordena!

A outra acção, levada a cabo pelo Grupo Cívico, foi o envio, em 22 de Outubro de 2023, de uma Carta a Aníbal Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro e ex-presidente da República de Portugal, responsável pela imposição do AO90 aos Portugueses.  

 

A Carta não foi publicada, mas será publicada brevemente com novo pedido de reflexão sobre como gostaria de ser recordado, quando a História fizer o seu julgamento.

A Carta terminou assim:

« Supomos que a Vossa Excelência não agradará ser recordado como cúmplice de uma tal infâmia, por isso, temos a certeza de que terá a coragem de reconhecer publicamente que se cometeu um gravíssimo erro [não esquecer que errar é humano, mas insistir no erro é insano] e aconselhará, no presente momento, em que o caos linguístico está instalado em Portugal, que se apresenta ao mundo como um País sem Língua própria, a anulação do AO90, para que seja reposta a legalidade e a constitucionalidade da utilização da Língua Oficial de Portugal, que NÃO é a Variante Brasileira do Português.»

 

Esta carta foi subscrita por 290 entre 293 cidadãos (três não a subscreveram por considerarem uma perda de tempo, com alguém que nunca daria o braço a torcer).

 

O certo é que até ao momento, ainda não recebemos resposta. Aqueles três cidadãos teriam razão?

 

Confesso que estou bastante desiludida. A ideia do envio desta carta, foi de um subscritor, e eu considerei-a excelente, porque, confesso, ingenuamente, nunca me passou pela cabeça que alguém da envergadura do Professor Aníbal Cavaco Silva não tivesse a humildade de fazer um acto de contrição público, até porque ninguém gostará de ser julgado pelo Futuro como um dos maus-da-fita, seja lá do que for.

Um novo ano começa.

As acções previstas para o Grupo Cívico, este ano, passam pelo envio de Cartas a determinadas entidades, fora e dentro de Portugal. Porque, pelo visto, os decisores políticos portugueses, ao mais alto nível, não estão interessados em manter a Identidade Portuguesa. Mas nós, Portugueses Pensantes, estamos interessados não só em mantê-la, como em fortalecê-la.

 

Para tal, daqui faço um APELO aos desacordistas com posições privilegiadas: ajudem-nos a recuperar a beleza da nossa Língua Portuguesa. A Convenção Ortográfica de 1945, que está vigente em Portugal, pode não ser perfeitíssima. Não é.

 

Porém, entre as imperfeições que nela existem e as ignorâncias criadas pelo AO90, transformando uma Língua Culta num linguajar de beco mal frequentado, introduzindo a analfabetização nas escolas e universidades portuguesas, significando isto o acto de Ensino assente nas premissas do AO90, que visa impedir, dificultar e atrapalhar o ensino da escrita e da leitura, é preferível manter as imperfeições do que introduzir um grafismo básico, para servir gente que não tem capacidade para PENSAR a Língua.


Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:23

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Quarta-feira, 29 de Novembro de 2023

Um texto para reflectir a absurdez do AO90: «Admirável Língua Nova (Parte III)», por Manuel Matos Monteiro

 

 

Este texto foi publicado em 06 de Julho de 2017, no Jornal PÚBLICO, e como em tudo, no nosso país, poderia ter sido escrito hoje, porque nele não se mudava sequer uma vírgula, devido à inexistência de políticas que façam avançar Portugal. Infelizmente o que temos é uma política regressiva, que nos transporta para um tempo passado, de muito má memória.

 

Daí ter considerado importante republicar o texto, para que sirva de reflexão a todos aqueles que, em Portugal, não perderam a lucidez, nem a capacidade de Pensar.

Isabel A. Ferreira

 

***

«Não há duas pessoas que sigam o Acordo Ortográfico e que concordem quanto àquilo que é o Acordo. A “norma” (com setenta aspas de cada lado) é lábil, difusa, imprecisa – só não vê quem não quer ver.»

Manuel Matos Monteiro

 

 

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«Admirável Língua Nova (Parte III)»

Por Manuel Matos Monteiro

 

«Caro leitor, pedia-lhe que prestasse atenção às seguintes frases.

“Os telespetadores estavam expetantes.”

“O país vive sob o espetro da corrução.”

“Chuva para Lisboa.”

“Para o carro!”, disse perentoriamente.

“Desliga o interrutor.”

“O conetor serve, como o nome indica, para conectar.”

 

Não são frases escritas por semianalfabetos. São frases redigidas tendo por base o Acordo Ortográfico.

 

Consultando o (excelente) Novo Prontuário Ortográfico, de José M. de Castro Pinto, a grafia “telespetadores” é a única possível. “Expetantes” é uma palavra que, por exemplo, o Portal da Língua Portuguesa e a Infopédia (Porto Editora) abonam. O Dicionário do Português Atual Houaiss (edição de Agosto de 2011) acolhe apenas “espetral”, “espetro”, “espetrofobia” (entre dezasseis palavras em torno de “espetro”), todas sem o c. “Corrução” e “corrupção” são acolhidas pelo Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto de Editora, de 2010. A frase “Chuva para Lisboa”, que foi o título principal da primeira página de um conhecido jornal, tanto pode ser, à luz do Acordo, uma previsão meteorológica, como uma situação de paralisação causada pela chuva (o que era o caso da notícia). Em “Para o carro”, podemos ter a ordem de ir para o carro ou de parar o carro. Quanto a “perentoriamente” (ou a “perentoriedade”), como afiança o Portal da Língua Portuguesa, temos (Portugueses) de escrever assim e ponto final, enquanto o Brasil escreve “peremptoriamente”. Azar o nosso… É um de muitos casos em que o igual passou a ser diferente. Mas o Acordo era para uniformizar, pois claro. Lembremos Maria Regina Rocha: “[H]avia 2691 palavras que se escreviam de forma diferente e que se mantêm diferentes (por exemplo, facto - fato), havia 569 palavras diferentes que se tornam iguais (por exemplo, abstracto e abstrato resultam em abstrato), e havia 1235 palavras iguais que se tornam diferentes. Está a ler bem: com o Acordo Ortográfico, aumenta o número de palavras que se escrevem de forma diferente!!!” No mesmo portal, temos “conetor” e “conector”, mas apenas “conectar”.

 

“Interrutor”, uma palavra inadjectivável, merece um parágrafo. Verifique o leitor com os seus olhos tal grafia na Infopédia ou numa edição do Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, com o Acordo, ou no próprio Portal da Língua Portuguesa. Enquanto adjectivo relativo àqueles ou àquelas que interrompem, tem os “interrutores”, as “interrutoras”. E se um aluno escrever, fazendo uso da dupla grafia decretada pela Porto Editora e pelo ILTEC, na mesma construção frásica, “o interruptor, a interrutora, os interrutores, as interruptoras”, o professor deverá assinalar algum erro? Se dicionários aceitam que “sector” e “subsector” têm dupla grafia, o aluno poderá portanto escolher e escrever “o subsetor do sector”? Copiamos da Infopédia:

 

interrutor
nome masculino
1. aquele ou aquilo que interrompe
2. aparelho ou pequeno manípulo que permite abrir ou fechar um circuito elétrico
adjetivo
que interrompe

 

Escrevemos acima: “São frases redigidas tendo por base o Acordo Ortográfico.” Mais bem dito, tendo por base a forma como dicionários ou prontuários que adoptam o Acordo registam determinados vocábulos, porquanto o Acordo, ao não estabelecer uma norma cristalina, se traduziu na divergência da interpretação daquilo que ele é, bastando ao leitor consultar dois prontuários ou dois dicionários a seu bel-prazer para comprovar esta obviedade.

 

Consultando dicionários com o Acordo, prontuários, livros explicativos do mesmo para verificar se a consoante é muda ou não, encontramos: a) que a consoante se mantém; b) que a consoante desaparece; c) que poderá manter a consoante ou não (dupla grafia), porque dentro de Portugal há oscilação quanto à pronúncia; d) que em Portugal e no Brasil há divergências de pronúncia e que, portanto, apesar de haver dupla grafia, num desses dois países deve escrever-se a consoante, mas no outro não (os demais países de língua portuguesa são olimpicamente ignorados nesta história do Acordo).

 

Ao contrário do que muito boa gente pensa, o Acordo não definiu a lista dos milhares de casos em que a pronúncia da consoante é dúbia. Apenas nos diz que devemos seguir a inescrutável “pronúncia culta”, deixando até hoje aos lexicógrafos essa impossível tarefa. A perda da consoante muda com base no critério lábil da pronúncia não permite que haja unanimidade, sequer consenso!, quanto à grafia de uma caterva de palavras. Evidentemente, o corolário disto só poderia ser o que hoje está diante dos olhos de todos: a trapalhada generalizada. Os dicionários e demais fontes não se entendem quanto às palavras que perderam a consoante muda, quanto às que têm dupla grafia dentro de Portugal e quanto às que têm dupla grafia considerando Portugal e o Brasil. (E outros há que não definem o que é dupla grafia por haver dupla pronúncia intra-Portugal e dupla pronúncia por haver divergências entre Portugal e o Brasil. O caos é total.) Do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: “Grafia no Brasil: estupefação.” Do Portal da Língua Portuguesa: “[E]stupefacção (Brasil).”

 

O caos é ainda maior para quem pretende averiguar se determinada locução perde os hífenes. Escalpelizemos os hífenes. Como demonstrámos no artigo anterior, a Base XV, Ponto 6 do Acordo, além de mutilar a lógica da língua portuguesa, é totalmente imprecisa quanto aos hífenes. Vejamos seguidamente como instituições muito consagradas – e que para muitos escreventes da língua portuguesa representam a “lei” da mesma – interpretam o Acordo quanto às locuções que perderam os hífenes: o Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM).

 

Na lista “CASOS EM QUE SE MANTÉM O HÍFEN NOS COMPOSTOS CONSAGRADOS PELO USO da INCM, estão registados: “ajudante-de-campo”, “alfinete-de-ama”, “baba-de-camelo”, “boca-de-incêndio”, “braço-de-ferro”, “cabeça-de-casal”, “cabo-de-guerra”, “capitão-de-fragata”, “capitão-de-mar-e-guerra”, “dia-a-dia”, “fogo-de-artifício”, “folha-de-flandres” , “gaita-de-foles”, “jardim-de-infância”, “língua-de-gato”, “lua-de-mel”, “maçã-de-adão”, “mão-de-obra”, “mestre-de-cerimónias”, “mestre-de-obras”, “pão-de-ló”, “pé-de-atleta”, “pé-de-vento”, “pedra-de-toque”, “pó-de-arroz”, “pronto-a-vestir”, “testa-de-ferro”, “tinta-da-china”, “toucinho-do-céu”. No Portal da Língua Portuguesa, do ILTEC, todos estes “casos” aparecem sem hífenes! As demais locuções com hífenes decretadas pela INCM são “água-de-colónia”, “arco-da-velha”, “cor-de-rosa”, “pé-de-meia”, que o ILTEC consagra com hífenes e sem hífenes (apesar de serem excepções escarrapachadas no texto do Acordo como tendo necessariamente hífenes… Nem os acordistas seguem o Acordo no pouco que ele tem de objectivo…), “cabo-de-mar” que o ILTEC não acolhe nem com nem sem hífenes, “dente-de-cão” (que por ser espécie botânica é com hífenes), “frente-a-frente” que o ILTEC não acolhe nem com nem sem hífenes, “mais-que-perfeito” que mantém os hífenes no ILTEC como conceito gramatical e excepção do texto do Acordo, e “tromba-d’água” (que o Acordo de 1990 se esqueceu de repescar das bases que copiou do Acordo de 1945 e que os dicionários com o Acordo de 1990 continuam a escrever usando o Acordo de 1945). Significa isto concretamente o seguinte: nas locuções em que há interpretação subjectiva, há tão-somente cem por cento de divergência.

 

Sublinhe-se que o Portal da Língua Portuguesa, ao elidir os hífenes, acolhe (coerentemente) os antropónimos e topónimos com maiúscula inicial – “folha de Flandres”, “maçã de Adão” e “tinta da China”. Ou seja, a fina chapa utilizada, entre outras coisas, para a fabricação de latas (“folha-de-flandres”) ou o artefacto industrial usado como instrumento de percussão (“folha-de-flandres”) passa a escrever-se tal qual uma folha (papel ou pétala) de Flandres; a maçã dos tempos primevos de Adão e Eva passa a escrever-se tal qual a proeminência laríngea; o tipo de tinta para desenho indelével (“tinta-da-china”) passa a escrever-se como qualquer tinta (oriunda) da China. São as maravilhosas subtilezas introduzidas pelo Acordo… Mas há mais. O Portal da Língua Portuguesa acolhe “maçã de Adão” e “pomo de Adão” apenas sem hífenes. Sucede que o Acordo decreta na Base XV, Ponto 3: “Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento.” Sucede ainda que há uma espécie botânica chamada “pomo-de-adão”…

 

Um matemático chegará rapidamente aos triliões (não é uma hipérbole) de Acordos com base nas combinações de palavras que perderam ou não perderam a consoante muda, nas locuções que perderam ou não perderam os hífenes, na facultatividade (outra aberração do Acordo) da letra maiúscula inicial e na facultatividade da acentuação.Como fará um professor que é obrigado a penalizar os alunos que não escrevem com a “ortografia” do Acordo, se não há consenso quanto à ortografia – se não há, no fundo, ortografia, ou seja, grafia correcta – nos dicionários relativamente a tantos vocábulos? Terá de comprar todos os dicionários, prontuários, gramáticas, fontes digitais, livros explicativos e sinópticos do Acordo e acolher todas as possibilidades, perdendo duas horas com cada palavra ou locução, ou decretará cada professor o seu próprio Acordo? Um bico-de-obra! A propósito, “bico-de-obra” perde os hífenes com o Acordo? Fazemos uma pausa na escrita e consultamos apenas dois dicionários. Ora bem, no Dicionário do Português Atual Houaiss, os hífenes estão lá. No da Porto Editora, não. Bastaria consultar estes dois dicionários nas locuções que perdem ou não os hífenes para se perceber o vácuo em que o Acordo assenta. Faça o exercício se quiser, caro leitor. O Dicionário Houaiss com o Acordo – por considerar desprezável ou desprezível? – ignora o estatuído no Acordo de nas locuções de qualquer tipo não se empregar “em geral” o hífen.

 

Regressemos às consoantes mudas. Há uma miríade de palavras que apresentam dupla grafia dentro de Portugal – os lexicógrafos não terão conseguido apurar a “pronúncia culta”, que, teimosa, parece oscilar no próprio assento etéreo em que repousa. Mas há dois aspectos que urge clarificar. Primeiro aspecto. Um sem-número de pessoas afirma: “Eu não quero saber o que diz o dicionário A ou B, eu quero saber o que diz o Acordo.” Sucede que o Acordo não tem tal lista de palavras. Segundo aspecto. Muitas pessoas asseguram: “Essa palavra tem dupla grafia.” A essa presunção, contraponha-se a pergunta: “Em que dicionário?” O que é de dupla grafia num dicionário não é noutro. Se uns dizem que tem e outros que não tem, aceita-se a versão mais abrangente, bastando que um diga que tem para se aceitar a dupla grafia? Ou vai-se pela média? Ou determinadas fontes merecem uma ponderação maior no cálculo da média? Como devem fazer os professores para avaliar os alunos? E nos casos em que as pessoas não concordam com o que os dicionários dizem sobre a consoante ser ou não ser muda (e são tantas as palavras!)? Fazer como diz o Ciberdúvidas sobre a palavra “ceptro”! “Voltando ao Ceptro/cetro, esta palavra não está indicada com pronúncia do p em nenhum dos dicionários a(c)tuais (mas simplesmente ¦cetro¦), nem existe a variante ceptro no Brasil. Ora o companheiro diz que há comunidades que pronunciam o p. Nesta base, passo a aceitar a necessidade da dupla grafia e deixei, portanto, de lhe fazer obje(c)ções.” Um dos grandes dramas do Acordo: os próprios acordistas não se entendem…

 

Não há duas pessoas que sigam o Acordo e que concordem quanto àquilo que é o Acordo. A “norma” (com setenta aspas de cada lado) é lábil, difusa, imprecisa – só não vê quem não quer ver. Que falta para a farsa terminar? Coragem política.»

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:05

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Sexta-feira, 27 de Outubro de 2023

Em Defesa da Ortografia (LXII) por João Esperança Barroca

 

«Desacordo frontal com essa coisa a que se chama novo Acordo Ortográfico.»

 João Barrento, Tradutor e escritor, vencedor do Prémio Camões em 2023

 

 «Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste artigo não adopta o chamado "Acordo Ortográfico" de 1990, por o considerar linguística e estruturalmente inconsistente, contrário à própria noção de Ortografia e incongruente com princípios fundamentais da Etimologia, da Semântica e da Fonética, um instrumento de promoção da iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral, e ainda por não resultar de uma discussão científica séria e por não reunir condições de vigência legal na ordem jurídica interna

Luzia Rocha, investigadora

 

 «De todos os Países, que existem no mundo, apenas Portugal foi de cavalo para burro, e ignorantemente, optou por transformar a sua Língua, uma das mais antigas da Europa, num abominável, aberrante, execrável, deplorável, inaceitável, lamentável, patético e vergonhoso linguajar de mentes mirradas.»

Isabel A. Ferreira, jornalista, escritora e autora do Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa», em 27-09‑2023

 

«9.º) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.»

Base IX do Acordo Ortográfico de 1990

 

No mês em que se apresenta o Orçamento de Estado, mais uma vez, Francisco Miguel Valada no blogue Aventar expõe a mixórdia ortográfica com que esse documento é escrito. Certamente a quatro mãos ou a quatro pés, como me segredam aqui ao lado. Para que o leitor também o verifique, aqui ficam as já tradicionais calinadas:

 

 - «Aquisição líquida de activos financeiros (excepto privatizações)» (página 181) e quer «a desvalorização súbita e acentuada do preço dos ativos financeiros» (página 65), quer «exceto máquinas e equipamentos» (página.6);

 

- «PROTECÇÃO SOCIAL DE BASE» (página 241) e «por via da proteção do salário mínimo nacional» (página 76);

 

 - «caracterizado pela flexibilidade» (página 244) e «caraterizado pelo aumento no nível geral de preços» (página 22);

 

- «027 – SEGURANÇA E ACÇÃO SOCIAL – ACÇÃO SOCIAL» (página 226) e «100 – INICIATIVAS DE AÇÃO CLIMÁTICA» (página 226) — efectivamente, na mesma página;

 

- «às respectivas comunidades» (página 297) e «Prestação média e respetivas componentes no crédito à habitação» (página. 69);

 

 - «promoção de uma adopção consciente» (página 297) e «a adoção de diversas medidas» (página 301);

 

 - «é expectável que o investimento previsto no PRR» (página 95) e «Neste contexto, é expetável que» (página 28);

 

- «abaixo das expectativas» (página 3) e «As expetativas para o resto do ano» (página 2);

 

 - «Conquistar e motivar o talento para o sector» (página 253) e «os maiores grupos do setor» (página 167);

 

 - «de carácter juvenil ou grupal» (página 227) e «a informação de caráter patrimonial» (página 120);

 

 - «revisão dos pactos sectoriais» (página 245) e «PROGRAMAS ORÇAMENTAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS SETORIAIS» (página 245) — exactamente na mesma página e, curiosamente, PROGRAMAS ORÇAMENTAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS SETORIAIS é o título deste capítulo (o quinto) do Relatório.

 

- «nos preços dos serviços mais intensivos em contato presencial» (página 40).

 

Uma ortografia que não pára de confundir acção e ação, activos e ativos, adopção e adoção, carácter e caráter, caracterizado e caraterizado, excepto e exceto, expectativas e expetativas, expectável e expetável, protecção e proteção, respectivas e respetivas, sector e setor, sectoriais e setoriais e usa o já omnipresente contato é uma ortografia pouco recomendável. Por isso, merece uma veemente reprovação. É essa a nossa profunda convicção.

 

Ah, João Barrento também disse: «Não vejo quais possam ser as vantagens de uma reforma [ortográfica] que parece nascer de um inexplicável complexo colonial em relação a países hoje mais que emancipados. Também não vejo que tecnicamente se simplifique ou facilite seja o que for — pelo contrário, em certos aspectos geram-se ainda mais ambiguidades. Este processo, particularmente na última fase, foi acima de tudo o de uma negociata política, tramada por um governo à revelia de órgãos e entidades por ele criados para terem opinião na matéria.» 

 

Ah, lemos, há dias, em órgãos da imprensa escrita as seguintes expressões «… casos perigosos de adição…» e «… uma problemática adição ao jogo.» É certamente um discurso pouco inclusivo que discrimina as outras operações matemáticas, pois também deve haver por aí casos perigosos de subtracção, de divisão e de multiplicação. Basta pensar na multiplicação de fatos e de contatos.

 

João Esperança Barroca

 

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publicado por Isabel A. Ferreira às 18:31

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Segunda-feira, 28 de Agosto de 2023

A mitologia lusófona

 

Por João Gonçalves

Jurista

 

 https://www.jn.pt/4802568616/a-mitologia-lusofona/

 

JOÃO GONÇALVES.png

 

Terminou ontem, em São Tomé e Príncipe, mais uma reunião da CPLP. Convém descrever brevemente o que é a CPLP. Trata-se da mundialmente famosa Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, uma espécie de “Commonwealth” de trazer por casa entre Portugal e as suas antigas colónias, mais um. Esse “mais um” é a extraordinária Guiné Equatorial, admitida ali há nove anos, a que preside, vai para 45 anos, o sr. Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.

 

Em 2014, aquando da absurda admissão da ditadura do sr. Obiang, as “condições” incluíam a “promoção do português” e uma espécie de moratória para a abolição da pena de morte num país que queria integrar uma “comunidade” com alguns pergaminhos nessa matéria, pelo menos por parte da antiga potência “colonizadora” que a abolira há muito. Quanto ao português, ignoro os progressos. E a pena de morte, apesar de teoricamente abolida em Setembro de 2022, ainda consta da Constituição autóctone.

 

Se falo nisto, é porque à hora que escrevo ainda não é certo que, como desejava nomeadamente Portugal, ali representado por Marcelo e Costa, a próxima presidência da CPLP vá parar às mãos da outra Guiné, a de Bissau. O regime de Obiang estava a pressionar para ser a Guiné Equatorial, como se depreendeu da curta intervenção do seu presidente numa reunião restrita da “cimeira”. Desde 2010 que Portugal foi efectivamente “engolido” no processo de adesão da Guiné Equatorial à CPLP, não obstante a clara oposição do presidente Cavaco Silva. Angola, Moçambique e, muito provavelmente, o Brasil do sr. Lula (a sua antecessora Dilma deixou a coisa passar) são os mais proeminentes apoiantes de Obiang, apesar da natureza do regime, por causa do abençoado dinheiro e dos não menos abençoados negócios.

 

Para os devidos efeitos, aquilo é uma potência económica, fale, ensine, ou não, português como língua oficial, e elimine ou não de vez a pena de morte. Em 2014, aconteceram umas promessas de negócios com petróleo e, imagine-se, de dinheiro fresco para o Banif que se extinguiria, famosamente, no ano seguinte.

 

Dito isto, ainda falta o Acordo Ortográfico, que nós oficialmente adoptámos - e que a CPLP, como tal, não - para andar a babujá-lo por livros, escolas e órgãos de comunicação social, em modo original de libertinagem gramatical, nem carne nem peixe, enquanto os nossos parceiros, nomeadamente Angola, praticam o excelente português que herdaram antes de 1990. Já que, pelos vistos, nada se respeita particularmente na frívola CPLP, ao menos respeite-se a matriz de uma língua secular com milhões de falantes pelo Mundo fora.

 

O autor escreve segundo a antiga ortografia

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:37

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Domingo, 2 de Julho de 2023

A “linguagem inclusiva” é uma linguagem pirosa que em nada ajuda a sociedade portuguesa a evoluir, muito pelo contrário...

 

Enviaram-me, via e-mail, um link para um artigo publicado no Expresso, sob o título: «“A língua não deve servir apenas um passado”, mas há resistência à mudança: afinal o que é linguagem inclusiva? Cinco perguntas e respostas»

 

Ler esta notícia revolveu-me as entranhas, porque o texto demonstra uma enorme ignorância sobre o que é o "plural colectivo", que nada tem a ver com o género masculino ou feminino ou qualquer outro género. A Língua evoluiu assim, e está bem evoluída. Por que não haveria de ser assim? Apenas porque há quem não consiga integrar-se naturalmente na sociedade, e acha que vai integrar-se através de uma linguagem pirosa, imprópria da Cultura Culta?


Eu fico verde com este tipo de ignorância, e para tratar deste assunto, não consigo moderar as palavras. Então e a POLÍCIA? Serão mulheres?

 

Diz-se no artigo que hoje Portugal está um país diferente.

 

Concordo, Portugal está um país diferente, sim: perdeu o norte, é um país sem rei, nem roque, onde se criou uma ideia de integração, que quer passar pelas palavras mais do que pelas atitudes. Portugal é um país que se transformou num lugar onde há quem não consiga encaixar-se naturalmente, e precisa de palavras para ser e para estar.

 

O que somos não está no modo como nos encaixam nas palavras, mas como somos encaixados na sociedade.    

 

Que importa que numa sala com 90 mulheres, um homem, três homossexuais, duas lésbicas, quatro transexuais, alguém se refira a TODOS? O sexo das palavras não corresponde ao sexo das pessoas, que integram elas, eles, iles, olos e ulos, com todo o respeito que tenho por todas as pessoas de todos os géneros, quero que sejam muito, muito felizes, mas NÃO à custa da Língua de Portugal, enchendo-a de palavras pirosas, sem nexo, sem um pingo de estética. A estrutura das Línguas faz parte de uma Ciência bem definida, não é para andarem por aí a inventar palavrinhas que não servem para incluir ninguém na sociedade. A intenção não será essa, mas a de, pura e simplesmente, destruir a Língua Portuguesa.

 

Não sabem que a palavra TODOS significa a HUMANIDADE? E a HUMANIDADE abarca TODAS as PESSOAS que existem no mundo, seja qual for o género?

 

O sexo não está nas palavras, mas sim num lugar específico do corpo de TODOS os animais (ou devo dizer também de todas as animalias?), quer sejam humanos ou não-humanos.

 

É necessário transformar uma Língua Culta e Bela, num chorrilho de palavras sem nexo só para encaixar o sexo?


A sociedade portuguesa do século XXI d. C. está a transformar-se numa sociedade de ORATES.

 

Esperemos que haja sensibilidade e bom senso e que as pernas desta piroseira sejam decepadas, bem como também sejam decepadas as pernas do acordo ortográfico que anda por aí a deformar a Língua Portuguesa, que os Portugueses querem que continue Culta e Bela.

 

Isabel A. Ferreira

 

LÍNGUA PORTUGUESA.png

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Capture.PNG

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:58

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Quarta-feira, 21 de Junho de 2023

APELO a enviar a Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, no sentido da Defesa da Língua Portuguesa, conforme definida no n.º 3, do artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa

 

Este é o APELO de um Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes, descontentes com os atropelos à Constituição da República Portuguesa, no que à Língua Materna dos Portugueses –  a Língua Portuguesa – diz respeito. 
 

 O APELO foi redigido por um Jurista, que presta apoio a este Grupo Cívico.

 

APELO.png

 

Dirigimo-nos a Vossa Excelência apelando à Sua intervenção no sentido da defesa da Língua Portuguesa, tal como esta nos surge definida no n.º 3, do artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa.

 

Permita-nos, Vossa Excelência, o exercício do nosso dever cívico e obrigação de invocarmos a Lei Fundamental, designadamente no que tange aos deveres e obrigações que dela decorrem para todos os agentes do Estado, e, em especial, para o Presidente da República, enquanto primeiro e máximo representante do Estado. Estado a quem cabe, nos termos da alínea f) do artigo 9.º também da Constituição da República Portuguesa “[a]ssegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da Língua Portuguesa”.

 

Bem sabemos, Excelência, que, nos últimos anos, em concreto desde que o Estado impôs aos portugueses a aplicação de uma grafia que consideramos inconstitucional, tais deveres não têm sido cumpridos.

 

Esta não é uma questão de somenos importância. É um imperativo de cidadania. É um dever que nos é imposto pela Constituição da República Portuguesa. Trata-se, na verdade, da defesa do nosso Património Linguístico –  a Língua Portuguesa –  da nossa Cultura e da nossa História, os quais estão a ser vilmente desprezados.

 

Apelamos a Vossa Excelência que, nos termos consagrados na Constituição da República Portuguesa e no uso dos poderes conferidos ao Presidente da República, diligencie uma efectiva promoção, defesa, valorização e difusão da Língua Portuguesa.

 

Apelamos a Vossa Excelência que defenda activa e intransigentemente uma Língua que conta 800 anos de História.

 

Apelamos a Vossa Excelência que contrarie a imposição aos Portugueses da Variante Brasileira do Português, composta por um léxico que traduz acentuadas diferenças fonológicas, morfológicas, sintácticas, semânticas e ortográficas, e essencialmente baseado no Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943.

 

Apelamos-lhe, Senhor Presidente da República, que proporcione às nossas crianças a possibilidade de escreverem conforme a grafia da sua Língua Materna –  aquela que foi também a Língua Materna de Gil Vicente, Camões, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa, Fernando Campos, Luís Rosas, Altino do Tojal, Luísa Dacosta, Fernando Dacosta, José Saramago e tantos, tantos outros, cujas obras estão a  ser acordizadas, num  manifesto insulto à Cultura Culta Literária Portuguesa – ao invés de numa grafia desestruturada, incoerente e desenraizada das restantes Línguas europeias, as quais também estão a aprender (Inglês, Castelhano, Francês).

 

Apelamos a Vossa Excelência, ao Presidente da República Portuguesa, mas também ao académico e cidadão Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que deixe à posteridade, como SEU legado, a reposição da Língua Portuguesa, a nossa Língua, aquela que fixa o Pensamento de um Povo, escrita e falada escorreitamente, com elegância visual, com beleza, com estilo, seguindo o exemplo dos nossos Grandes Clássicos, antigos e modernos, atrás já referidos, para que a nossa Língua, a nossa Cultura e a nossa História, de quase nove séculos, não se percam nas brumas do tempo.

 

Apelamos, em suma, a Vossa Excelência, que seja reconhecido e revertido o gravíssimo erro cometido e por via do qual o Estado Português adoptou o Acordo Ortográfico, anulando-o, e restituindo a Portugal e aos Portugueses a sua Língua.

 

Com os nossos melhores cumprimentos

(Nomes dos subscritores)


***

Por que é importante subscrever este APELO?

Porque Língua Portuguesa só há UMA. Nem a verdadeira, nem a falsa.   Somente a Língua Portuguesa. A única, e poderá estar em extinção, não, daqui a décadas, mas já amanhã, se se continuar a assobiar para o lado. 

 

Preservá-la é uma tarefa de todos, não pode ser apenas tarefa de alguns.

 

Para subscrever o APELO ao PRl basta enviar o Nome e a Profissão para o e-mail do Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa»: isabelferreira@net.sapo.pt

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:15

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Terça-feira, 20 de Junho de 2023

Atribuída "Distinção de Mérito Acordo Zero" ao Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa»

 

ATRIBUÍDA DISTINÇÃO DE MÉRITO ACORDO ZERO!

Pela consciência e responsabilidade demonstradas na defesa da Língua Portuguesa, a iniciativa Acordo Zero atribui a sua distinção de mérito ao blogue O Lugar da Língua Portuguesa.


Um enorme obrigado pela coragem de rejeitar o Acordo Ortográfico de 1990!

Página oficial: https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/

Fonte: https://www.facebook.com/photo?fbid=259121210055108&set=a.201433638882893

 

***

Só me resta agradecer a Paulo Teixeira, criador da Distinção de Mérito Acordo Zero.

O ACORDO ZERO é uma iniciativa independente de incentivo à rejeição do Acordo Ortográfico de 1990,  e "O Lugar da Língua Portuguesa" foi criado em 16 de Outubro de 2015, depois de ver trinfar as nulidades, e  com um objectivo bastante específico, que pode ser consultado neste link:


https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-lugar-da-lingua-portuguesa-750?tc=137282398317

Estamos juntos neste barco, porque 
Língua Portuguesa só há UMA. Nem verdadeira, nem falsa. É a Língua Portuguesa. A única, e poderá estar em extinção não daqui a décadas, mas já amanhã, se se continuar a assobiar para o lado, e permitirmos que os governantes portugueses nos andem a tomar por lorpas: caso do presidente da República (Marcelo Rebelo de Sousa), do primeiro-ministro (António Costa)e do presidente da Assembleia da República (Augusto Santos Silva).

Preservá-la é uma tarefa de todos. Não pode ser apenas de alguns.

Na escola, as crianças aprendem o "brasileiro". Em casa, treinam o Português, para quando se libertarem do carrasco escolar, poderem reabilitar a Língua Materna delas, e mandar às malvas a Língua Madrasta, que tentaram impingir-lhes ilegalmente. 

Isabel A. Ferreira

 

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publicado por Isabel A. Ferreira às 17:59

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