Como é possível isto estar a acontecer?
Só mesmo num país sem rei nem roque, numa República DOS Bananas, coisa única no mundo.
Todos os envolvidos, neste que se vivêssemos num país com governantes a sério seria considerado um crime de lesa-infância, deviam ser penalizados pelo que estão a fazer às crianças portuguesas, num momento em que corre por aí a possibilidade (mais possível do que impossível) de um novo idioma poder ser oficializado e substituir a Variante (=Dialecto) Brasileira do Português, no Brasil, até porque a Língua do Brasil já não é Portuguesa há muito, muito tempo, desde o tempo em que andei lá a estudar, e onde aprendi a ler e a escrever já sem cês e pês. E isto faz parte do percurso natural dos dialectos.
Quando a Variante Brasileira do Português mudar o seu nome para Língua Brasileira, então terá percorrido o caminho natural de todos os dialectos, pois todas as Línguas existentes no mundo, originaram-se a partir de dialectos.
O Brasil, neste momento, como já referi, fala e escreve o dialecto brasileiro, o mesmo que Variante Brasileira do Português, que muito naturalmente, de tão distante que já está do Português, transformar-se-á na Língua Brasileira, aliás, como já é conhecida no estrangeiro. Nenhum estrangeiro que conheça a Língua Portuguesa acha que no Brasil se fala Português.
É que o Brasil, estando agarrado ao Português, tem de continuar per omnia saecula saeculorum a ser o vislumbre da colónia portuguesa que já foi?
Isto para dizer que no dia em que o Brasil mudar o nome da Língua, o AO90, que a senhora professora está atentar impingir aos alunos, nas escolas portuguesas, não tem mais razão de ser. Então, para quê insistir?
O que se pretende com esta iniciativa de levar o Ciberdúvidas às escolas para mentir aos alunos, até porque o AO90, como todos sabem, não está em vigor na ordem jurídica internacional, nem na ordem jurídica nacional, de acordo com os cosntitucionalistas.
Perante isto, o que pretende fazer o governo de Luís Montenegro? Continuar a enganar as crianças, os jovens e os estrangeiros que pensam que estão a aprender o Português correCto, mas não estão?
Já lhe escrevi a questioná-lo.
A ver vamos se tem a hombridade de responder, como mandam as boas regras democráticas, numa Democracia.
Vejam o vídeo, e depois leiam os comentários que recolhi no Facebook, a propósito desta vergonhosa iniciativa.
Isabel A. Ferreira
Este foi um texto publicado no Jornal «Correio da Manhã», em Fevereiro de 2014, pelo Historiador Luciano Amaral, doutorado pelo Instituto Universitário Europeu de Florença, sendo Professor Associado da Nova School of Business and Economics.
O texto tem 11 anos, mas é como se tivesse sido escrito hoje, está actualíssimo, o que significa que tudo o que personalidades de alta patente cultural têm escrito sobre o acordo ortográfico de 1990, ainda não foi suficiente para que os decisores políticos portugueses possam perceber o quão errados estão e o quanto mal estão a fazer a Portugal e aos Portugueses, à sua Língua e à sua Cultura e História.
Por isso, nunca é demais recordar textos como este, porque acredito piamente que água mole em pedra dura, tanto dá até que fura, o que significa persistência, perseverança, podendo levar-nos à realização das nossas mais difíceis aspirações, sendo que a água simboliza a força da perseverança.
Isabel A. Ferreira
«Geopolítica ortográfica»
Texto retirado da página «Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico»
https://ilcao.com/2014/03/03/geopolitica-ortografica-luciano-amaral-cm-03-02-14/
Na sexta-feira, o Acordo Ortográfico foi discutido no parlamento. Infelizmente, daí não resultou a possibilidade de suspender a sua aplicação. O Acordo não é uma questão ortográfica. É uma questão política. Não é ortográfica porque não cumpre o seu próprio propósito de unificar a ortografia. Sem o Acordo, a semelhança ortográfica entre Portugal e Brasil era de 96% das palavras; com o Acordo, passa a 98%. Ou seja, quase nada. Sendo que as confusões se multiplicaram. E já muita gente as enumerou.
O Acordo nasce de duas coisas: do delírio português de que existe uma entidade chamada ‘Lusofonia’ que pode ter um grande peso geopolítico mundial, e da ambição do Brasil em ser uma potência.
As duas casam bem, porque desde há muito que os portugueses só entendem a sua imaginada grandeza como algo para além de Portugal: antes era o império, agora é a Lusofonia (noutras versões, a Europa). A coisa vai tão longe que chega muitas vezes ao ponto da anulação do país. O padre António Vieira, perante a ameaça espanhola de 1663, aconselhava D. Luísa de Gusmão a esquecer Portugal e mudar-se para o Brasil para fundar o V Império; D. Rodrigo de Sousa Coutinho, no fim do século XVIII, dizia que a parte europeia de Portugal não era a “mais importante”, pelo que a rainha Maria devia ir para o Brasil; D. João VI fugiu mesmo para o Brasil quando Napoleão cá entrou em 1807, e não queria voltar. Hoje, também a Lusofonia só pode sonhar em ser um actor geopolítico graças ao Brasil.
É típico da elite portuguesa. Como o campónio que esquece as origens, sonha com os grandes espaços, a Europa, a América. Tudo menos o Portugalzinho triste e acanhado.
Diz que o Acordo é preciso para o português passar a língua oficial da ONU. Pois há um acordo muito mais simples: cada país escreve como quer.
O inglês, cuja ortografia varia de país para país e é das mais contra-intuitivas, não precisou de nada disto para ser a mais importante língua do mundo.
O preâmbulo do Acordo diz que ele é essencial para o “prestígio” da Lusofonia. Prestígio era recusar a adesão da Guiné Equatorial à dita Lusofonia.
Mais uns litros de petróleo e uns quantos bancos salvos da falência não justificam tal coisa.
[Transcrição integral de artigo, da autoria de Luciano Amaral, publicado no jornal “Correio da Manhã” em 01.03.14. “Links” e destaques adicionados por nós.]
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Por Isabel Lucas
Já há um grupo de trabalho para “aperfeiçoar” o acordo ortográfico
Criado há 35 anos, posto em prática há 14, o novo acordo ortográfico volta ao centro das conversas com a criação de um grupo que quer repensar “falhas” e “omissões” num texto cheio de ambiguidade.
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COMENTÁRIOS:
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Nota da autora do Blogue: faço minhas as palavras do seguinte comentário:
Gostei do que li, porém, não gostei da ideia do grupo de trabalho (mais um???) para "aperfeiçoar " o mostrengo. Aperfeiçoar o quê? Se ali nada há para aperfeiçoar, apenas para anular?
Espero que a Conferência Internacional, a realizar amanhã, possa trazer a luz que tanto esperamos ver ao fundo do túnel, para que não se ande por aí, nunca mais, a usar a escrita parecida com um galo depenado.
Isabel A. Ferreira
«A ortografia é um fenómeno da cultura, e, portanto, um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno, como não tem direito a impor-me uma religião que não aceito.»
Fernando Pessoa, Escritor
«Tem sido um desastre a forma como os governos têm gerido a língua portuguesa. O Acordo Ortográfico é um desastre, ninguém o cumpre, uns escrevem assim e outros, assado. No Brasil, o acordo é diferente, é a variante brasileira. Isto é um absurdo! Só estamos a criar muros quando já existem tantos muros. O nosso problema não é obviamente ortográfico, muitas vezes, é semântico, sintáctico e vocabular. O que temos de fazer é publicar os autores como eles escrevem, em Portugal e no Brasil.»
Bárbara Bulhosa, Directora e fundadora das Edições Tinta-da-China
«1. Os opositores ao AO tinham razão quando argumentavam que as grandes diferenças entre o português de Portugal e do Brasil não eram ortográficas, mas sobretudo de sintaxe.
Ana Cristina Leonardo, Escritora e jornalista, em artigo de opinião, no jornal Público, em 29-11-2024
Muito próximo das festas natalícias, ocorreu um facto (e facto agora não é igual a fato, como disse um putativo candidato à Presidência da República) assaz curioso, que pode ter passado despercebido à maioria dos leitores. O DN (Diário de Notícias) publicou um artigo de opinião de José Sócrates, intitulado “Defesa mínima consentida”, constituído por nove parágrafos, terminando os dois primeiros com a interrogação “Compreendido?”.
Tendo em conta o passado, em termos de ortografia, do autor do dito artigo, esperar-se-ia que a sua opção recaísse na ortografia do AO90, mas, surpresa das surpresas, no final do referido escrito, aparece a nota: “Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.”
O leitor mais ingénuo pensaria, certamente, tratar-se de um acto de contrição, mais de um decénio depois. O leitor mais calejado optaria por querer ver, como São Tomé. Para que não fiquem dúvidas, consultou-se, na íntegra, o referido artigo, disponível na página da internet do jornal em
https://www.dn.pt/opiniao/defesa-minima-consentida
Analisando o escrito, parágrafo por parágrafo, conclui-se que é um objecto adequado para um jogo de “Verdadeiro ou falso?”. Expliquemo-nos:
Em conclusão, como muitos outros, José Sócrates embarca no comboio do faroeste ortográfico e usa uma mixórdia ortográfica (que por aí vai circulando), misturando duas normas completamente distintas. Compreendido?
Apetece perguntar, pela enésima vez: se é assim nos círculos cultos, como será com o cidadão comum?
Ah, como se pode ver nas imagens que acompanham este escrito e que foram retiradas de páginas de Facebook de grupos contra o AO90, a ribaldaria não levantou arraiais.
Ah, como Francisco Miguel Valada tem amplamente denunciado no blogue Aventar, no Diário da República, o espe(c)táculo continua.
Ah, a RTP e outros vão tendo umas saudáveis recaídas.
Ah, ainda existem uns comentadores com opções ortográficas coerentes.
Ah, quem pode resolver esta malaquice opta por assobiar para o lado.
João Esperança Barroca
«A aplicação do Acordo Ortográfico não levará apenas ao caos no ensino nos oito países. Levará a que a língua portuguesa se cubra de ridículo no plano internacional. […] Mesmo sem se abordar a questão dos interesses políticos, económicos ou geoestratégicos em jogo, qualquer leigo verifica que o acordo não traz qualquer solução inteligente. Não traz qualquer utilidade ou mais-valia. Enferma de muitos vícios e, a entrar em vigor, será altamente pernicioso nos mais variados planos.»
Vasco Graça Moura, Escritor
«Custa ver Angola mais sensata do que Portugal num caso como o Acordo Ortográfico. Muito pouca gente quis este acordo. Na verdade, quem quis este acordo foram duas classes profissionais portuguesas que agiram por interesse próprio: a classe dos editores, que maravilha ter que [sic] substituir os dicionários e os livros escolares todos, e meia dúzia de académicos que tiveram aquele sonho clássico do intelectual, que é legislar.»
Pedro Mexia, Escritor e Crítico Literário
«Por vezes, parece que entramos em contradição. Há o caso do recente Acordo Ortográfico: enquanto criador angolano que aprendeu português em Portugal, custa-me um pouco entender porque estive tanto tempo a aprender algo que agora se altera com o que me parece ser uma única preocupação, de negócio. Claro que a ideia de lusofonia é importante para mim, mas não me revejo em tudo o que se faz em nome dessa ideia.»
Paulo Flores, Músico angolano
Fazendo uma breve incursão por alguns órgãos da Comunicação Social, como é habitual, deparamos com o arsenal do costume. Assim, vejamos:
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume, continua a morar a ortografia do costume, aquela que ninguém pediu. Será que pode ser alvo de uma acção de despejo? Repare ainda neste último excerto onde nos surge a palavra aspecto, que mantém esta grafia no Brasil, enquanto em Portugal, com o AO90, se escreve, agora, aspeto. Ainda se lembra de ouvir dizer que o AO90 vinha unificar as diferentes variantes do Português? Aqui, unificou tanto que ficou diferente o que era igual. Ele há coisas!
Ah, a RTP vai continuando a ter umas louváveis recaídas, acertando quando erra.
Ah, a febre de amputar consoantes vai-se estendendo. Por serem menos fervorosos, serão meros adetos?
Ah, Vasco Graça Moura, dez anos após a sua morte, continua carregado de razão.
Ah, a omnipresença dos contatos continua, continua…
João Esperança Barroca
No passado dia 29 de Novembro de 2024, Ana Cristina Leonardo publicou no Jornal Público uma crónica intitulada Outras guerras: a vitória dos “espetadores” que me deixou perplexa, logo no parágrafo em destaque no topo do texto: «Embora me custe, devo reconhecer que a batalha do Acordo Ortográfico foi perdida, um “espetáculo” triste onde venceram os “espetadores”.»
A Ana Cristina Leonardo é uma excelente prosadora. E o artigo está bastante bom, sob o ponto de vista literário.
Porém, Ana Cristina Leonardo aceita, publicamente, que a batalha contra o AO90 está perdida, e isso são violinos para os ouvidos dos acordistas, que não sabem, mas ainda não triunfaram, porque os trunfos maiores estão do lado dos desacordistas.
Não devemos, jamais, dar-nos por vencidos, neste combate entre o Saber e o Não-Saber, o qual ainda não terminou. Baixar as armas (leia-se as palavras) é admitir que não temos capacidade de vencer a mediocridade, ou seja, é admitir que o não-saber tem mais força do que o Saber.
Quem é que venceu o quê? Os espetadores (isp’tâdôr’s)? E quem são esses isp’tâdôr’s? Serão aqueles que andam por aí feitos analfabetos a falar e a escrever mal a Língua que desconhecem, sem ter a mínima noção da figura de urso que andam a fazer?
É dever dos que pugnam pelo Saber, contrariar essa ideia de derrota, e lutar pela vitória, porque apenas a vitória interessa a Portugal, e seja o que for que a cronista pensa que os espetadores venceram, é apenas uma miragem, no deserto cultural por onde os acordistas vagueiam...
Do que li, quanto ao Vómito, foi uma cacetadinha ao de leve.
Penso que anda por aí muita gente com medo de dizer o que realmente pensa acerca dos novilinguistas, que dizem e escrevem o que bem lhes dá na real gana, e vão espalhando a nova doutrina retrógrada, sob o olhar indiferente dos adeptos do que não presta, ou seja, dos não-pensantes.
Pelo que vemos, os decisores políticos estão-se nas tintas para o que os desacordistas pensam, dizem ou criticam. A força desses decisores políticos está precisamente na fraqueza e no medo dos que se dizem desacordistas, mas não são capazes de dizer as verdades em voz alta, por cobardia, por medo, ou outra qualquer coisa menos nobre.
O texto da Ana Cristina Leonardo entristeceu-me.
Isabel A. Ferreira
***
Do texto de Ana Cristina Leonardo, publicado no Público, destaco dois comentários, que me chamaram a atenção:
«Com o novo Acordo Ortográfico, introduziu-se o caos: neste dicionário uma palavra tem "c", neste é dupla grafia, neste tem "p", neste não tem. As palavras em que se mexeu são palavras em que ninguém errava, e em que agora se erra. Temos ainda outro problema, que é haver palavras que estão a ser pronunciadas de outra forma porque perderam a consoante muda que guardava a vogal aberta. Há inúmeros exemplos na televisão e na rádio.»
Manuel Monteiro, escritor, tradutor e revisor, Página Um, 03-10-2024
«Há deputados incomodados com os silêncios de Lacerda Sales e de Rebelo de Sousa. Todavia, não vejo qualquer deputado incomodado com o permanente silêncio de quem escreveu “agora facto é igual a fato (de roupa)”. É silêncio antigo, mas sem referir razões. No entanto, aparentemente, não incomoda.»
Francisco Miguel Valada, Intérprete de Conferência, no blogue Aventar
«É incompreensível que um inglês leia Walter Scott ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós e um norte-americano em relação a Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queiroz já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa são um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada à comunidade científica.
Cada mudança de regime produziu uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, antes pelo contrário.»
Pedro Correia, jornalista e autor no blogue Delito de Opinião
Nos últimos “Em Defesa da Ortografia LXXI”, alertámos para a afirmação de Pedro Correia, e de muitos outros, no programa “Prova Oral”, de que, hoje, sem recurso às múltiplas ferramentas tecnológicas, ninguém sabe aplicar devidamente o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).
Para provar a veracidade desta afirmação, leia-se, por exemplo, o artigo de opinião de Margarida Marrucho Mota Amador, Coach (seja lá o que isso for) e ex-directora do Colégio do Sagrado Coração de Maria e do Externato O Beiral em Lisboa, “A educação compensatória: gueto ou valorização”, publicado no jornal Público, em 4 de Julho do corrente ano.
A autora, como outros, afirma que toma a opção de escrever na nova ortografia e usa, por ordem alfabética, como se pode comprovar na imagem, retirada do blogue Tradutores Contra o Acordo Ortográfico os seguintes termos: ação, antevêem, características, expectativas, factores, objetivos, e projectos. Como se vê, Margarida Amador labora num erro, pois parece ter preferência por uma ortografia coerente e respeitadora da etimologia. Conviria, contudo, que alguém lhe chamasse a atenção, dizendo: Não, Margarida Amador, a senhora não utiliza a nova ortografia; utiliza, no geral, a ortografia de 1945, polvilhada de umas aberrações, à laia de enxertos, trazidas pelo AO90.
Continuando a pesquisa de aberrações que preenchem e preencheram a Comunicação Social, deparámos com os fatos e os contatos do costume, a que se junta a ficção, que abre a porta a outras aberrações como ficionar e ficionista, por exemplo:
Não era previsível, mas os EUA são um país grande, com alto nível de doenças mentais não tratadas, um número extraordinariamente grande de armas que são facilmente acessíveis e em meio a [sic] uma campanha eleitoral muito, muito polarizada, dramaticamente reforçada pelas redes sociais. Então, o fato de que um jovem de 20 anos poderia facilmente conseguir uma arma e tentar assassinar um dos candidatos nos Estados Unidos, dadas as condições, não deveria chocar ninguém. Não que seja previsível, mas não é chocante. Expresso, 22-07-2024
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume, mora a ortografia do costume. Quase ninguém fala do elefante na sala, não é?
Se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?
Ah, parece que cada vez há mais restaurantes especializados em espetadas ou existe um incremento de bandarilheiros na indústria tauromáquica.
Ah, a TVI 24 precisa de mais umas horitas para interiorizar as regras do AO90.
Ah, o Observador também tem, recorrentemente, umas saudáveis recaídas…
João Esperança Barroca
Obrigada, Professora Maria do Carmo Vieira, por mais este excelente texto.
Esperemos que a sua voz chegue aos decisores políticos, para que as nossas crianças, que não são imbecis, não tenham mais de responder, a propósito do estudo da invasão e conquista da Península Ibérica pelos Muçulmanos do Norte de África, no séc. VIII a esta questão de escolha múltipla, na disciplina de História:
«Os Muçulmanos também deram a conhecer processos de rega até aí desconhecidos:
a) a tia, a picota e o açude;
b) a prima, a picota e o açude;
c) a sogra, a picota e o açude;
d) a nora, a picota e o açude.»
Isto só é aceitável, sendo uma anedota contada à mesa de um café.
Mas a Educação Escolar deve ser uma coisa muito, muito séria. Não podem brincar com a inteligência das crianças, usando estratégias tão básicas, tão ridículas, tão anedóticas, tão de gosto duvidoso...
Isabel A. Ferreira
***
«A instabilidade ortográfica ameaça um património identitário»
Maria do Carmo Vieira
«Assistimos de contínuo à banalização do impensável e do absurdo não só na política, externa e interna, mas também na cultura, sendo sobre este último aspecto que me debruçarei.
A Academia das Ciência é um exemplo flagrante, se lembrarmos a forçada implementação do Acordo Ortográfico de 1990, que persiste intocável apesar das suas «contradições, controvérsias e erros» que os próprios mentores admitiram. Somos com efeito confrontados com uma instituição que em lugar de pugnar sempre, sem tréguas, pelo Conhecimento, o desfigura e desvirtua, com um à-vontade
chocante, e penso, de novo, no AO. A inércia e a indiferença actuais perante a instabilidade ortográfica, causada pela imposição do famigerado, nomeadamente no ensino, pondo em causa a sua qualidade, são atitudes intoleráveis, tanto mais que envolve um património identitário. Mas esta Academia não está só, porque sofrendo do mesmo mal, acompanham-na duas associações de professores de Português que, na sua estreita cumplicidade com o Ministério da Educação, respiram livremente perante o aviltamento da ortografia da Língua Portuguesa, indiferentes ao sentido de responsabilidade que a sua função exigiria. Refiro-me à APP (Associação de Professores de Português) e de forma mais crítica à ANPROPORT (Associação Nacional de Professores de Português) porquanto, ao invés da APP, fervorosa apoiante do AO, desde o primeiro momento, a ANPROPORT propôs, entre os seus objectivos primeiros, lutar contra o acordo ortográfico, o que nunca aconteceu.
Foi sempre para mim incompreensível a aceitação acrítica da «Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» (1990), texto único que os defensores do AO invocam, muitos dos quais sem nunca o terem lido e creio que se alguns o fizessem corariam de vergonha perante os disparates. A própria Academia continua estranhamente a aceitar a argumentação aí desenvolvida, não discutindo com académicos críticos, antes pactuando com a ligeireza, a ignorância e até o ridículo evidenciados no texto.
A «teimosia lusitana» em manter as consoantes c e p não pronunciados, a defesa das crianças cuja memória é prejudicada pelo esforço em reter as tais consoantes ou «a pronúncia» como «critério científico» são alguns dos exemplos anedóticos que aí encontramos, num testemunho trágico sobre o que se perspectiva relativamente ao estudo e ao conhecimento. Os próprios alunos reagem criticamente à nova ortografia decretada não só pela falta de lógica em algumas situações, e lembramos o «Egito e o egípcio», como pelo facto de em lugar de evitar os equívocos os fomentar. «Pêlo», por exemplo, perdeu o acento e tornou-se igual a «pelo», o mesmo acontecendo com o verbo parar na 3.ª pessoa do sing. do Presente do Indicativo que, tendo perdido o acento, se confunde com a preposição «para» , «retractar», do latim retractare, tem novo traje, distorcendo a sua etimologia, ao escrever-se como «retratar» (fazer um retrato), «espectador» tornou-se «espetador» e o ridículo é tal que houve editoras que, mesmo cumprindo o AO, decidiram, neste caso, usar sempre «espectador».
Não é de mais repetir as palavras do Professor, António Emiliano, da Universidade Nova, a propósito da «aprendizagem de qualquer ortografia […] que não é tarefa fácil para ninguém nem é suposto ser: «A função de uma ortografia não é nem facilitar o ensino da escrita nem reflectir a oralidade; a ortografia serve para codificar e garantir a coesão da língua escrita normalizada de uma comunidade nacional.» Depois da implementação forçada do AO, à revelia da vontade dos portugueses (lembre-se também os 25 pareceres contrários) tudo tem acontecido como se a ortografia fosse a representação de um espectáculo em que cada um escreve para o «lado que lhe dá mais jeito», como galhofeiramente afirmou Pedro Santana Lopes. Compreender-se-á em parte a sua boa disposição porque este AO foi, na verdade, cozinhado e pretensamente discutido entre muita galhofa e gargalhada, como testemunham as actas da sua discussão, na Assembleia da República, na qual participou também Pedro Santana Lopes.
Este gosto pelo lúdico boçal, retrato da crescente falta de cultura e reflexo de uma crescente infantilização, expõe-se também exuberantemente na Escola através de muitos manuais, nos quais já encontrei, por várias vezes, a convivência entre «espetáculo» e «espectador», e «espetáculo» e «espetador», neste último caso em sintonia com o disposto no AO, tropeçando os alunos no «espetador», pela estranheza: «espetador?», perguntam.
Confirmando ainda o que escrevi, no início deste parágrafo, deixo-vos dois exemplos elucidativos que retirei de um manual do 2.º ciclo, de História, disciplina que, a par de Geografia, se encontra em vias de extinção. A propósito do estudo da invasão e conquista da Península Ibérica pelos Muçulmanos do Norte de África, no séc. VIII, os autores apresentam várias questões de escolha múltipla, onde a escrita obviamente não intervém, substituída por uma cruz. Transcrevo o primeiro exemplo: «Aos muçulmanos do Norte de África que invadiram a Península Ibérica os cristãos chamavam: a) Alás, b) Mouros, c) Andaluses, (*) d) Moçárabes; e o segundo: «Os Muçulmanos também deram a conhecer processos de rega até aí desconhecidos: a) a tia, a picota e o açude; b) a prima, a picota e o açude; c) a sogra, a picota e o açude; d) a nora, a picota e o açude.» Posso dizer que algumas alunas, perante o primeiro exemplo, acharam que a colega muçulmana da sua turma «ia ficar triste porque se sentiria gozada», reagindo também com estupefacção ao absurdo de «tias, primas e sogras». «O que é isto?, foi o que perguntaram incrédulas com o que viam escrito. Se os autores pretendiam suscitar o riso, nesse doentio e exasperante lúdico, a reacção foi precisamente a inversa porque as crianças não são imbecis, se bem que desde a Reforma de 2003 se tenha vindo a actuar para que assim aconteça, prejudicando o seu desenvolvimento e perigando o seu futuro.
Num ambiente tão propício ao riso e à brincadeira, nem a Academia das Ciências escapa, alastrando o pântano cultural, lamentavelmente perante a nossa indiferença colectiva.
Maria do Carmo Vieira
Lisboa, 18 de Outubro de 2024»
***
(*) É lamentável que o erros ortográficos, nos manuais escolares, sejam demasiado frequentes, tais como este: “adaluses”, que em Português se escreve andaluzes. As crianças merecem muito mais e muito melhor. (IAF)
***
Comentários ao texto:
Porquê?
Porque estes dois países são os que têm mais ignorantes por metro quadrado, e acham (não pensam) que têm o direito de pôr alcunhas à Língua Portuguesa, com designações que NÃO lhe dizem respeito, até porque a Língua de Portugal foi baptizada como LÍNGUA PORTUGUESA ou Português, e não é pelo simples querer de gente que tem um profundo desafecto pelo que é português, que pode andar por aí a mudar o nome da Língua que pertence a Portugal, e a absolutamente mais ninguém.
NÃO existe português do Brasil, nem português brasileiro, nem português europeu, nem português de Portugal.
Existe, isso sim, a Língua Portuguesa (Português), cuja designação ninguém tem o direito de mudar, por meras conveniências políticas.
E se Portugal fosse governado por políticos com PÊ maiúsculo, e que dignificassem os cargos que ocupam, e zelassem pelos interesses de Portugal, esta vergonhosa e abusiva interferência alienígena na NOSSA Língua, jamais estaria a acontecer.
Olhemos para a Inglaterra, Espanha, França, Holanda... Nenhum destes países ex-colonizadores anda, por aí, com as suas Línguas arrastadas pelo chão, porque NÃO precisam da boleia das ex-colónias para exibirem os seus Idiomas, quase tão antigos como o Português.
Só Portugal, através da pequenez mental dos seus decisores políticos, se presta a este papel de uma repugnante subserviência, que faz dele um país sem eira nem beira, uma autêntica República DOS Bananas.
No Brasil, fala-se e escreve-se a Variante Brasileira do Português, candidata a designar-se como Língua Brasileira, brevemente, tal como o Crioulo Cabo-Verdiano, oriundo do Português, já passou a ser Língua Cabo-Verdiana.
E este é o futuro dos dialectos dos países da CPLP: cada País terá a sua Língua própria: Língua Angolana, Língua Moçambicana, etc.. E porquê? Porque, nesses países, a esmagadora maioria do povo NÃO fala Português, mas sim os seus inúmeros dialectos.
E querem saber mais?
Esse é o caminho mais inteligente a seguir, uma vez que a CPLP é uma organização internacional, formada por países que de lusófonos já pouco têm, e existe um, a Guiné Equatorial, onde nem sequer se fala Português.
A Língua Portuguesa NÃO precisa de ser uma das Línguas mais faladas do mundo, porque jamais ultrapassará as Línguas mais faladas do mundo. E se quisermos preservá-la e que ela seja uma Língua nivelada, em qualidade, às restantes Língua europeias da mesma Família, temos de a desmamar do Brasil.
O texto que se segue foi-me enviado via e-mail.
Isabel A. Ferreira
«Quando sai uma reforma dessas, jogam-se no lixo todos os livros didácticos, para fabricar e vender tudo de novo. É uma reforma supérflua e inútil, provavelmente interesseira. Nunca vi ninguém fazer isso com o inglês, por exemplo, que é cheio de consoantes e vogais que ninguém pronuncia e nem por isso é preciso fazer reformas ortográficas periódicas.»
Walnice Nogueira Galvão, Escritora e crítica literária brasileira
«E, no ano em que comemoramos um dos raros génios nacionais, Camões, continuamos indiferentes aos estragos que a nossa língua teve com o Acordo Ortográfico, que, para além do enorme desastre diplomático, só continua em vigor por pura inércia. Essa inércia é o retrato do patriotismo das nossas elites políticas, que estão todas a reler Os Maias, quando perguntadas sobre o que estão a ler, e que vão agora durante um ano buscar à Wikipédia umas frases de Camões, para parecer que ainda lhes importa a língua que ajudam a matar na sua ortografia todos os dias.»
José Pacheco Pereira, Professor, cronista e político no jornal Público em 06-07-2024
«Se existisse em Portugal uma verdadeira e informada opinião pública, já há muito teria causado escândalo a forma como cada vez há mais pessoas a pronunciarem palavras que não pronunciavam antes, por influência da má ortografia, que assim gera uma má pronúncia. Supostamente, o malfadado Acordo Ortográfico teria como objectivo aproximar a escrita da pronúncia. Agora, o Mr. Hyde (a má ortografia) destrói a própria pronúncia. Efeitos perversos, de que ninguém fala, quase ninguém… E muito menos discute a sério.»
Helena Carvalhão Buescu, Professora catedrática e emérita da Universidade de Lisboa e escritora
No “Em Defesa da Ortografia LXXI”, chamámos a atenção para a afirmação de Pedro Correia, e de muitos outros, no programa “Prova Oral”, de que, hoje, sem recurso a ferramentas tecnológicas, ninguém sabe aplicar devidamente o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).
A propósito desta afirmação, leia-se o artigo de opinião de Clara Não, ilustradora, ativista (seja lá o que isso for) e autora, “O cúmulo da desumanização e objetificação das mulheres: o concurso da Miss AI”, publicado no jornal Expresso, em 2 de Julho do corrente ano.
A autora opta por escrever na nova ortografia e presenteia-nos, por ordem alfabética, com os seguintes termos: afetam, atuais, autoestima, auto-estima, cor-de-rosa, direcionadas, diretamente, efetiva, espetáculo, objetificação e refletir. Como se vê, Clara Não tem uma clara opção pela ortografia das palavras decepadas. Conviria, contudo, que alguém alertasse: Não, Clara Não, a senhora não utiliza a nova ortografia; utiliza uma terceira, uma mixórdia, que é uma mistura da ortografia de 1945 com enxertos da de 1990.
Continuando a pesquisa de aberrações que enxameiam e enxamearam a Comunicação Social, deparámos com:
1.“O Ministério Público no STJ interveio na sessão para pedir a absolvição da juíza, tendo a procuradora-geral adjunta Odete Oliveira dito que as declarações de Isabel Magalhães vieram confirmar a sua convição na inocência da arguida.” Jornal I, 02-04-2014.
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume, mora a ortografia do costume. Quase ninguém fala, não é?
Ah, parece que andam aí uns telescópios modernos…
Ah, o JN precisa de mais umas horitas para aplicar as regras da hifenização.
Ah, o Record também tem, recorrentemente, como na locução ponta-de-lança, umas saudáveis recaídas…
João Esperança Barroca
(Nota: este telescópio é para uso auditivo. Não esquecer.)
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