Sábado, 29 de Setembro de 2018

Do que falamos quando falamos do Dialecto Brasileiro?

 

Muitos (e infelizmente nem todos) dos que têm como seu instrumento de trabalho a Língua Portuguesa, e minimamente conhecem, da Literatura ou do Jornalismo, a grafia brasileira, reconhecem imediatamente (e é que nem sequer é preciso ser-se catedrático nisto) que a grafia imposta pelo AO90 é a grafia brasileira, excePtuando alguns vocábulos que o Brasil não mutilou (como excePção, recePção, entre mais uns poucos e seus derivados), grafia essa, modificada apenas na acentuação e hifenização (obra de quem não tem a mínima noção da estrutura de uma Língua, e deve milhares de Euros à inteligência), unicamente para constar que o Brasil também foi afeCtado por esta praga.

 

Ora, o que o AO90 preconiza é que os países ditos lusófonos substituam a Língua Portuguesa pelo Dialecto Brasileiro, na sua forma grafada, contribuindo com isto, para o empobrecimento da Língua, e pior do que isso, para o desaparecimento de uma das línguas indo-europeias mais ricas e belas do mundo, e mais antigas da Europa.

 

E do que falamos quando falamos de Dialecto Brasileiro (no Brasil grafa-se dialeto (lê-se diâlêtu)? É isto que nos propomos a esclarecer, recorrendo aos mais abalizados estudiosos da Língua Portuguesa e a várias definições e conceitos que podemos encontrar facilmente numa “viagem” pela Internet.

DIALECTO.jpg

 

Dialectologia Portuguesa

 

Como é do conhecimento de quem estuda Línguas, ou de quem ama a própria Língua Materna, ou de quem tem a Língua como instrumento de trabalho, na sua origem, quase todas as línguas começaram por ser dialectos, que se foram impondo por diversas circunstâncias.

 

Para os Espanhóis um dialecto é:

nombre masculino

1.

Variedad de una lengua que se habla en un determinado territorio.

2.

Lengua que deriva o es hija de otra.

"Todas las lenguas románicas son dialectos del latín"

 

Ou seja:

Dialecto é a variedade de uma língua que se fala num determinado território; é uma língua que deriva ou é “filha” de outra; todas as línguas românicas são dialectos do Latim.

Sabemos que o Italiano, por exemplo, foi um dialecto do Toscano. Todas as línguas consideradas latinas, começaram por ser dialectos do Latim, incluindo o galaico-português, que deu origem à Língua Portuguesa.

 

Vejamos algumas definições de dialecto, por ilustres linguistas e lexicógrafos:

 

Raphael Bluteau, ilustre lexicógrafo da Língua Portuguesa, no seu dicionário Vocabulário Português e Latino, mais conhecido como o Vocabulário de Bluteau, considerado o primeiro dicionário de Língua Portuguesa, publicado entre 1712 e 1721, considera que um dialecto é «um modo de falar próprio e particular de uma língua nas diferentes partes do mesmo reino, que consiste no acento ou na pronúncia em certas palavras, ou no modo de conjugar e declinar».

 

David Crystal, linguista britânico, considera o dialecto a «variante de uma língua, distinta em termos sociais ou regionais, identificado por um conjunto de palavras e estruturas gramaticais, associadas a uma pronúncia específica».

 

Wilhelm Meyer-Lübke, filólogo suíço, define o dialecto crioulo como «falar indígena, resultado do emprego de uma língua de civilização pelos nativos nas suas relações, principalmente comerciais, caracterizado pela extrema simplificação das formas gramaticais».

 

Leite de Vasconcelos, o linguista e filólogo português que mais estudou a dialectologia portuguesa, entende que «o estudo dos crioulos tem grande importância, tanto para a psicologia da linguagem, como para a filologia, enquanto revelam operações notáveis no desenvolvimento da fala humana».

 

E foi deste modo que Leite de Vasconcelos classificou os diversos dialectos que tiveram origem na Língua Portuguesa:

 

1 – Continentais:

 

Interamnense (entre Douro-e-Minho)

Transmontano (Trás-os-Montes)

Beirão (Beira-Alta e Beira-Baixa)

Meridional (sul de Portugal)

 

2 – Insulanos:

 

Açoriano (Açores)

Madeirense (Madeira)

 

3 – Ultramarinos:

 

1 – Dialecto Brasileiro

 

2 – Indo-português:

a – Dialecto crioulo de Diu

b – Dialecto crioulo de Damão

c – Dialecto norteiro (Bombaim, Baçaim, Chaul…)

d – Português de Goa

e – Dialecto crioulo de Mangalor

f – Dialecto Crioulo de Cananor

g – Dialecto crioulo de Maé

h – Dialecto crioulo de Cochim

i – Português da costa de Coromandel

 

3 – Dialecto crioulo de Ceilão

 

4 – Dialecto crioulo macaísta ou de Macau

 

5 - Malaio-português:

a – Dialecto crioulo de Java

b – Dialecto Crioulo de Malaca e Singapura

 

6 – Português de Timor

 

7 – Dialecto Crioulo Cabo-verdiano ou de Cabo Verde

 

8 – Dialecto Crioulo Guineense ou da Guiné

 

9 – Dialectos crioulos do Golfo da Guiné (Ilhas de São Tomé e Príncipe e Ano Bom)

 

10 – Português das costas de África – Angola, Moçambique, Zanzibar, Mombaça, Melinde Quíloa.

 

in «Prontuário da Língua Portuguesa», de Manuel dos Santos Alves - Universitária Editora ( páginas 12/13)

 

Eis, em suma, os crioulos e os dialectos aos quais a Língua Portuguesa deu origem, por esse mundo fora, de acordo com J. Leite de Vasconcelos, e salta à vista que o linguista (não um qualquer pseudo-linguista) não considera a língua que se escreve e fala no Brasil (indevidamente denominado Português do Brasil) Português, mas sim um Dialecto Brasileiro, que, mais cedo ou mais tarde, seguirá o rumo natural dos dialectos, transformando-se, naturalmente em Língua Brasileira.

 

Definição de Dialecto no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea: (do Grego dialektós, do Latim dialectus): variedade local ou regional de uma língua que apresenta particularidades fonéticas, lexicais, ou outras, sendo essas outras: gramaticais, ortográficas, de semântica, de sintaxe, de acentuação.

 

No site do Ciberdúvidas encontramos o seguinte:

O dialecto é um falar regional no interior de uma nação onde domina oficialmente outro falar.

 

Tendo em conta que o Brasil já foi território pertença do Reino de Portugal, e onde a Língua levada pelos Portugueses foi sendo paulatinamente adulterada pela introdução dos falares dos indígenas e dos escravos africanos, e de outros povos, que não os Portugueses, que sempre se sentiram atraídos pelas riquezas (e não só) do Brasil, e lá se fixaram, até que a Língua do colonizador se transformasse num conjunto de particularidades tais, que dá a impressão de ser um falar distinto do falar em que está integrado, apesar do parentesco que tem com os outros (os de Portugal) facilmente pode chegar-se à conclusão de que o falar dessa região, que era uma extensão da Nação portuguesa, onde dominava outro modo de falar é, sem dúvida, um dialecto.

 

O modo de expressão oral e escrita do Brasil difere do modo de expressão oral e escrita de Portugal e dos restantes países ditos lusófonos. Ou não? Quando uma pessoa abre a boca para falar, podemos imediatamente identificá-la pelo modo como fala. E se essa pessoa começa a falar com tchis e djis colocamo-la imediatamente no Brasil. Não dizemos que é de Angola ou de Timor-Leste ou de Portugal. É como os açorianos. Abrem a boca e dizemos logo que são dos Açores. Porém, se um angolano, um moçambicano ou outro qualquer africano de expressão portuguesa nos dirige a palavra, vacilamos, e apenas podemos colocá-los na África.

 

Portanto, esta coisa do “dialecto brasileiro” já tem barbas brancas. Remonta ao tempo do Império. O Brasil era uma extensão do território português, para onde Dom João VI transferiu a corte (não fugiu, como os ignorantes andam por aí a dizer), e criou-se o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e a língua dos Brasileiros já se diferenciava da língua dos Portugueses, de tal modo que  os Brasileiros tinham dificuldade em entenderem os Portugueses, dificuldade essa que perdura até aos dias de hoje. 

 

Dialecto é, pois, uma variante linguística constituída por características fonológicas, sintácticas, semânticas e morfológicas próprias, em que o brasileiro se encaixa perfeitamente.

 

O dialecto passa a ser língua, quando adquire independência total. Foi o que aconteceu com as línguas novilatinas. E é o que vai acontecer com o Dialecto Brasileiro, como já aconteceu com o Crioulo Cabo-verdiano, oriundo do Português. Não haja qualquer dúvida.

 

Existe ainda um detalhe muito significativo: os editores brasileiros (pelo menos alguns) pedem-nos (aos escritores portugueses) que traduzamos as nossas obras para brasileiro, porque os brasileiros não nos entendem. Ora, se não nos entendem, falaremos a mesma língua? Não sei dos outros escritores, sei que José Saramago se recusou a ser traduzido para brasileiro, e eu também.

 

Ora, dizer que se é "xenófobo" por se defender o que os mais abalizados linguistas defendem, é da mais óbvia ignorância

ISABEL.png

 

Daí ser premente que o Brasil, que se distanciou substancialmente da Matriz da Língua Portuguesa, tanto na oralidade, como na escrita, eleve o  Dialecto Brasileiro a Língua Brasileira, e a torne língua oficial do Brasil,  fazendo o percurso natural de qualquer dialecto, e cortando o cordão umbilical que ainda prende o Brasil ao ex-colonizador, como já fez Cabo VerdeE nós, Portugueses, fiquemos com a nossa Língua Portuguesa, para que esta possa ter futuro em Portugal, na Europa e no mundo. Se o AO90 se impuser, a Língua Portuguesa será extinta, como foi o Latim, ao contrário do que dizem os acordistas, que percebem tanto de Linguagem como uma galinha percebe de astronomia. E da galinha tenho dúvidas.

 

Não interessa ser a língua mais falada no mundo, quando essa língua perde a sua dignidade de Língua, e é substituída por um Dialecto, na sua forma grafada. E atenção que isto não significa que um Dialecto não tenha a sua dignidade também, e não venha a transformar-se numa Língua. O Português já foi dialecto do Latim. Não se esqueçam disso. O que isto significa é que uma Língua que já ascendeu a Língua, não pode recuar para dialecto, sem que isto não constitua um retrocesso. Contudo, um dialecto pode ascender a Língua.

 

Nada contra o Dialecto Brasileiro. Muito pelo contrário. O Brasil, possuindo um riquíssimo vocabulário e uma Literatura fabulosa, tem potencial para seguir o seu próprio caminho, e desligar-se da língua colonialista. Tem o direito a  ter uma Língua própria: a Brasileira, como há muito, linguistas, escritores e até gente do povo, vem reclamando. 

Se existe um Crioulo Cabo-Verdiano, oriundo da Língua Portuguesa, que ascendeu a Língua e hoje é a Língua Oficial de Cabo Verde, por que não aceitar que o que se fala e escreve no Brasil é um Dialecto Brasileiro, oriundo da Língua Portuguesa, cujo destino natural é ascender a Língua Oficial, como Língua Brasileira? E isto não é desprestígio nenhum para o Brasil, muito pelo contrário, significa que, finalmente, o Brasil cortou o cordão umbilical com o país colonizador, assim como já o fez Cabo Verde, e seguirá o seu caminho, liberto desse grilhão colonialista.

 

Ou haverá a pretensão de que todos os países ditos lusófonos tenham de grafar à brasileira, apenas porque eles são um pouco mais do que todos os outros, não obstante, isto constituir   uma mera ilusão de óptica?

 

A isto chama-se subserviência a uma Nação estrangeira, e nenhum país ex-colonizado, de expressão lusófona, estará  disposto a vergar-se a uma tal imposição, a não ser Portugal, porque atrofiados políticos portugueses sentem-se anões à beira do gigante que um outro Portugal e outros governantes pariram, naquele já longínquo dia 22 de Abril de 1500.

 

Isabel A. Ferreira

 

Fontes:

Prontuário Ortográfico da Língua Portuguesa, de Manuel dos Santos Alves, Edição Universitária Editora, Lda. (Edição de 1993)

Opúsculos (Volume VI) Dialectologia (Parte II) de  J. Leite de Vasconcelos.

 

Para que se saiba mais do que falamos quando abordamos este tema, consultar estes textos:

«REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA “LÍNGUA BRASILEIRA”»

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/reflexoes-sobre-a-historia-da-lingua-137008

 

«A LÍNGUA BRASILEIRA»

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-lingua-brasileira-99635

 

GÉNESE DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-genese-do-acordo-ortografico-de-1990-126542

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 12:55

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Sexta-feira, 3 de Agosto de 2018

Do que falamos quando falamos de Dialecto Brasileiro?

 

 

Muitos (e infelizmente nem todos) dos que têm como seu instrumento de trabalho a Língua Portuguesa, e minimamente conhecem, da Literatura ou do Jornalismo, a grafia brasileira, reconhecem imediatamente (e é que nem sequer é preciso ser-se catedrático nisto) que a grafia imposta pelo AO90 é a grafia brasileira, excePtuando alguns vocábulos que o Brasil não mutilou (como excePção, recePção, entre mais uns poucos e seus derivados), grafia essa, modificada apenas na acentuação e hifenização (obra de quem não tem a mínima noção da estrutura de uma Língua, e deve milhares de Euros à inteligência), unicamente para constar que o Brasil também foi afeCtado pelo AO90.

 

Ora, o que o AO90 preconiza é que os países ditos lusófonos substituam a Língua Portuguesa pelo Dialecto Brasileiro, na sua forma grafada, contribuindo com isto, para o empobrecimento da Língua Portuguesa, a nossa, a dos Portugueses, e pior do que isso, para o desaparecimento de uma das línguas indo-europeias mais ricas e belas do mundo, e mais antiga da Europa.

 

E do que falamos quando falamos de Dialecto Brasileiro (no Brasil grafa-se dialeto (lê-se diâlêtu)? É isto que nos propomos a esclarecer, recorrendo aos mais abalizados estudiosos da Língua Portuguesa, e a várias definições e conceitos que podemos encontrar facilmente numa “viagem” pela Internet.

 

DIALECTO.jpg

 

Dialectologia Portuguesa

 

Como é do conhecimento de quem estuda Línguas, ou de quem ama a sua Língua Materna, ou de quem tem a Língua como instrumento de trabalho, na sua origem, quase todas as línguas começaram por ser dialectos, que se foram impondo por diversas circunstâncias.

 

Para os Espanhóis um dialecto é:

nombre masculino

1.

Variedad de una lengua que se habla en un determinado territorio.

2.

Lengua que deriva o es hija de otra.

"Todas las lenguas románicas son dialectos del latín"

 

Ou seja:

Dialecto é a variedade de uma língua que se fala num determinado território; é uma língua que deriva ou é “filha” de outra; todas as línguas românicas são dialectos do Latim.

 

Sabemos que o Italiano, por exemplo, foi um dialecto do Toscano. Todas as línguas consideradas latinas, começaram por ser dialectos do Latim, incluindo o galaico-português, que deu origem à Língua Portuguesa e à Língua Galega.

 

Vejamos algumas definições de dialecto, por ilustres linguistas e lexicógrafos:

 

Raphael Bluteau, ilustre lexicógrafo da Língua Portuguesa, no seu dicionário Vocabulário Português e Latino, mais conhecido como o Vocabulário de Bluteau, considerado o primeiro dicionário de Língua Portuguesa, publicado entre 1712 e 1721, considera que um dialecto é «um modo de falar próprio e particular de uma língua nas diferentes partes do mesmo reino, que consiste no acento ou na pronúncia em certas palavras, ou no modo de conjugar e declinar».

 

David Crystal, linguista britânico, considera o dialecto a «variante de uma língua, distinta em termos sociais ou regionais, identificado por um conjunto de palavras e estruturas gramaticais, associadas a uma pronúncia específica».

 

Wilhelm Meyer-Lübke, filólogo suíço, define o dialecto crioulo como «falar indígena, resultado do emprego de uma língua de civilização pelos nativos nas suas relações, principalmente comerciais, caracterizado pela extrema simplificação das formas gramaticais».

 

José Leite de Vasconcelos, o linguista e filólogo português que mais estudou a dialectologia portuguesa, entende que «o estudo dos crioulos tem grande importância, tanto para a psicologia da linguagem, como para a filologia, enquanto revelam operações notáveis no desenvolvimento da fala humana».

 

E foi deste modo que José Leite de Vasconcelos classificou os diversos dialectos que tiveram origem na Língua Portuguesa:

 

1 – Continentais:

 

Interamnense (entre Douro-e-Minho)

Transmontano (Trás-os-Montes)

Beirão (Beira-Alta e Beira-Baixa)

Meridional (sul de Portugal)

 

2 – Insulanos:

 

Açoriano (Açores)

Madeirense (Madeira)

 

3 – Ultramarinos:

 

1 – Dialecto Brasileiro

 

2 – Indo-português:

a – Dialecto crioulo de Diu

b – Dialecto crioulo de Damão

c – Dialecto norteiro (Bombaim, Baçaim, Chaul…)

d – Português de Goa

e – Dialecto crioulo de Mangalor

f – Dialecto Crioulo de Cananor

g – Dialecto crioulo de Maé

h – Dialecto crioulo de Cochim

i – Português da costa de Coromandel

 

3 – Dialecto crioulo de Ceilão

 

4 – Dialecto crioulo macaísta ou de Macau

 

5 - Malaio-português:

a – Dialecto crioulo de Java

b – Dialecto Crioulo de Malaca e Singapura

 

6 – Português de Timor

 

7 – Dialecto Crioulo Cabo-verdiano ou de Cabo Verde

 

8 – Dialecto Crioulo Guineense ou da Guiné

 

9 – Dialectos crioulos do Golfo da Guiné (Ilhas de São Tomé e Príncipe e Ano Bom)

 

10 – Português das costas de África – Angola, Moçambique, Zanzibar, Mombaça, Melinde Quíloa.

 

in «Prontuário da Língua Portuguesa», de Manuel dos Santos Alves - Universitária Editora (Segunda Edição 1993 - páginas 12/13)

 

Eis, em suma, os crioulos e os dialectos aos quais a Língua Portuguesa deu origem, por esse mundo fora, de acordo com J. Leite de Vasconcelos, e salta à vista que o linguista (não um qualquer pseudo-linguista) não considera a língua que se escreve e fala no Brasil (indevidamente denominado Português do Brasil) Português, mas sim um Dialecto Brasileiro, que, mais cedo ou mais tarde, seguirá o rumo natural dos dialectos, transformando-se, muito naturalmente em Língua Brasileira.

 

Definição de Dialecto no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea: (do Grego dialektós, do Latim dialectus): variedade local ou regional de uma língua que apresenta particularidades fonéticas, lexicais, ou outras, sendo essas outras: gramaticais, ortográficas, de semântica, de sintaxe, de acentuação.

 

No site do Ciberdúvidas encontramos o seguinte:

O dialecto é um falar regional no interior de uma nação onde domina oficialmente outro falar.

 

Tendo em conta que o Brasil já foi território pertença do Reino de Portugal, e onde a Língua levada pelos Portugueses foi sendo paulatinamente adulterada, mas também enriquecida, pela introdução dos falares dos indígenas e dos escravos africanos, e de outros povos, que sempre se sentiram atraídos pelas riquezas (e não só) do Brasil, e lá se fixaram, até que a Língua do colonizador se transformou num conjunto de particularidades tais, que dá a impressão de ser um falar distinto do falar em que está integrado, apesar do parentesco que tem com os outros (os de Portugal) facilmente pode chegar-se à conclusão de que o falar dessa região, que era uma extensão da Nação portuguesa, onde dominava outro modo de falar é, sem dúvida, um dialecto.

 

O modo de expressão oral e escrita do Brasil difere do modo de expressão oral e escrita de Portugal e dos restantes países ditos lusófonos. Ou não? Quando uma pessoa abre a boca para falar, podemos imediatamente identificá-la pela linguagem e modo como fala. E se essa pessoa começa a falar com tchis e djis colocamo-la imediatamente no Brasil. Não dizemos que é de Angola ou de Timor-Leste ou de Portugal. É como os açorianos. Abrem a boca e dizemos logo que são dos Açores. Porém, se um angolano, um moçambicano ou outro qualquer africano de expressão portuguesa nos dirige a palavra, vacilamos, e apenas podemos colocá-los na África.

 

Portanto, esta coisa do “dialecto brasileiro” já tem barbas brancas. Remonta ao tempo do Império. O Brasil era uma extensão do território português, para onde Dom João VI transferiu a corte (não fugiu, como os ignorantes por aí dizem), e criou-se o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e a língua dos Brasileiros já se diferenciava da língua dos Portugueses, de tal modo que os Brasileiros tinham dificuldade em entenderem os Portugueses, dificuldade essa que perdura até aos dias de hoje. 

 

Dialecto é, pois, uma variante linguística constituída por características fonológicas, sintácticas, semânticas e morfológicas próprias, em que o brasileiro se encaixa perfeitamente.

 

O dialecto passa a ser língua, quando adquire independência total. Foi o que aconteceu com as línguas novilatinas. E é o que vai acontecer com o Dialecto Brasileiro, como já aconteceu com o Crioulo Cabo-verdiano, oriundo do Português, que é a Língua Oficial de Cabo Verde. Não haja qualquer dúvida.

 

Existe ainda um pormenor muito significativo: os editores brasileiros (pelo menos alguns) pedem-nos (aos escritores portugueses) que traduzamos as nossas obras para brasileiro, porque os brasileiros não nos entendem. Ora, se não nos entendem, falaremos a mesma língua? Não sei dos outros escritores, sei que José Saramago se recusou a ser traduzido para brasileiro.  E eu também.

 

Ora, dizer que se é "xenófobo" por se defender o que os mais abalizados linguistas defendem, é da mais óbvia ignorância

ISABEL.png

 

Daí ser premente que o Brasil, que se distanciou substancialmente da Matriz da Língua Portuguesa, tanto na oralidade, como na escrita, eleve o  Dialecto Brasileiro a Língua Brasileira, e a torne língua oficial do Brasil,  fazendo o percurso natural de qualquer dialecto, e cortando o cordão umbilical que ainda prende o Brasil ao ex-colonizador, tal como já fez Cabo VerdeE nós, Portugueses, fiquemos com a nossa Língua Portuguesa, para que esta possa ter futuro em Portugal, na Europa e no Mundo. Se o AO90 se impuser, a Língua Portuguesa será extinta, ao contrário do que dizem os acordistas, que percebem tanto de Linguagem como uma galinha percebe de astronomia. E da galinha tenho dúvidas.

 

Não interessa ser a língua mais falada no mundo, quando essa língua perde a sua diganidade de Língua, e é substituída por um Dialecto, na sua forma grafada. E atenção que isto não significa que um Dialecto não tenha também a sua dignidade, e não venha a transformar-se numa Língua. O Português já foi dialecto do Latim. Não se esqueçam disso. O que isto significa é que uma Língua que já ascendeu a Língua, não pode recuar para dialecto, sem que isto não constitua um retrocesso, ou, como sabiamente diz o povo: não pode ir de cavalo para burro. Contudo, um dialecto pode ascender a Língua, e a partir de então tem a sua dignidade garantida.

 

Nada contra o Dialecto Brasileiro. Muito pelo contrário. O Brasil, possuindo um riquíssimo vocabulário e uma Literatura fabulosa, tem potencial para seguir o seu próprio caminho, e desligar-se da língua colonialista. Tem o direito a  ter uma Língua própria: a Brasileira, como há muito, linguistas, escritores e até gente do povo, vem reclamando. 

Se existe um Crioulo Cabo-Verdiano, oriundo da Língua Portuguesa, que ascendeu a Língua e hoje é a Língua Oficial de Cabo Verde, por que não aceitar que o que se fala e escreve no Brasil é um Dialecto Brasileiro, oriundo da Língua Portuguesa, cujo destino natural é ascender a Língua Oficial, como Língua Brasileira? E isto não é desprestígio nenhum para o Brasil, muito pelo contrário, significa que, finalmente, o Brasil cortou o cordão umbilical com o país colonizador (assim como já o fez Cabo Verde), e seguirá o seu caminho, liberto desse grilhão colonialista.

 

Ou haverá a pretensão de que todos os países ditos lusófonos tenham de grafar à brasileira, apenas porque eles são um pouco mais em número, do que todos os outros, não obstante, isto constituir uma mera ilusão de óptica?

 

A isto chama-se subserviência a uma Nação estrangeira, e nenhum país ex-colonizado, de expressão lusófona, estará  disposto a vergar-se a uma tal imposição, a não ser Portugal, porque atrofiados políticos portugueses sentem-se anões à beira do gigante que um outro Portugal e outros governantes pariram, naquele já longínquo dia 22 de Abril de 1500.

 

Isabel A. Ferreira

 

Fontes:

Prontuário Ortográfico da Língua Portuguesa, de Manuel dos Santos Alves, Edição Universitária Editora, Lda. (Edição de 1993)

Opúsculos (Volume VI) Dialectologia (Parte II) de  J. Leite de Vasconcelos.

 

Para que se saiba mais do que falamos quando abordamos este tema, consultar estes links:

 

«Reflexões sobre a história da "Língua Brasileira"»

«A Língua Brasileira»

Génese do Acordo Ortográfico de 1990

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:04

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