«Acho o AO90 uma máquina de fomentar erros, de criar aberrações e instaurar o caos ortográfico […]. Quando os seguidores e legitimadores deste acordo instaurado por errados e perniciosos cálculos políticos recuam perante algumas das suas regras mais pitorescas […], então é caso para perguntar o que se passa com a monstruosa criatura que não é respeitada nem sequer por quem lhe quer bem. Devo confessar que às vezes até tenho pena do enjeitado, embora não hesitasse em infligir-lhe o golpe de misericórdia.»
António Guerreiro, Cronista e Crítico Literário
«O Acordo Ortográfico é uma das coisas que mais abastardaram a língua portuguesa nos últimos anos, e sobre o qual ninguém se pronuncia. São todos muito patriotas, têm todos Portugal e a bandeirinha na cabeça e no corpo, mas coisas que efectivamente atentaram contra a nossa identidade, que depende em muitos aspectos da língua, ninguém liga nenhuma. O Acordo Ortográfico mantém-se, em grande parte, por inércia, não é porque haja muitos defensores. A maioria das pessoas que escreve bem português não escreve naquela coisa.»
José Pacheco Pereira no programa "O Princípio da Incerteza" 11/02/2024
«A coisa foi caindo no esquecimento, embora muitos jornais e revistas tenham decidido adoptar a coisa, que era uma maneira de ir impondo a coisa, em jeito de dose maciça a ver se nos habituamos. A verdade, sejamos claros, é que nunca nos habituámos. E a coisa é confusa mesmo para professores que têm de pregar o Acordo Ortográfico às criancinhas […]. Nunca escrevi segundo o Acordo, porque estou contra, […] sobretudo por isso, por me parecer uma imposição sem grandes bases de verdadeira discussão pública, uma coisa acelerada, precipitada.»
Rodrigo Guedes de Carvalho, Jornalista e Escritor
«Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.»
Ponto 9 da Base IX do Acordo Ortográfico de 1990
Quando se olha com alguma atenção para a linguagem que por aí vai circulando, à boleia do AO90, uma das situações que nos salta à vista é a da confusão entre pára (forma verbal) e para (preposição). Os bonzos do AO90, enquanto assobiam para o lado, costumam afirmar que o contexto é sempre esclarecedor. Parafraseando um dos mais famosos debates da história da democracia portuguesa, apetece dizer-lhes: — Olhe que não, olhe que não…
Para ilustrar a nossa opinião, incluímos uma recolha de títulos, em vários órgãos da comunicação social, nos quais não é clara a classe gramatical do vocábulo para. Consequentemente, ninguém sabe como pronunciar essa palavra. Abrindo ou fechando a primeira vogal?
Vejamos, então, o resultado do nosso trabalho de pesquisa: a) Razão para ida ao cinema. b) Sobreprocura para pedopsiquiatria. c) A chegada de Ronaldo para o jogo com o Benfica. d) Horta para o estágio. e) Ritual indonésio para a chuva. f) Estudo para protecção das dunas. g) Ninguém para Portugal. h) Ninguém para o Benfica. i) Ninguém para a juventude do Brasil. j) Médio livre para as águias. k) Certificado digital ou teste negativo para acesso a restaurantes. l) Uma ligação para a vida. m) Mulher de Cabrita para a supervisão dos transportes. n) Ricardo Horta para a história. o) Modric para a história. p) Tudo para o Bessa. q) Para já, o estado de emergência não avança. r) Aliança mundial para a vacina? s) Jesus para três épocas? t) Escutismo, de onde e para onde. u) Bilhete para o clássico. v) Sterling com entrada 'assassina' sobre Dele Alli e Mourinho reage em bom português: «Para o car****, pá! w) Mariano Díaz para o ataque do Benfica. x) Palco para Díaz. y) Carro de vogal para as modalidades com vidro partido. z) Benfica demasiado forte para Braga. a’) Aviso para Páscoa. b’) Defesa reforçada para FCPorto. c’) Mercado ferve: Salin ruma a França, João Félix para quarta-feira e Benfica contrata brasileiro. d’) Penálti para o Vizela.
Como vê, caro leitor, nas imagens que acompanham este escrito, muitas vezes a única solução viável, quer nas notícias sobre os futebolistas Evanílson ou Zaidu, quer na imagem televisiva, é acentuar a forma verbal, diferenciando-a da preposição. Isto é, estes órgãos dizem aplicar o AO90, mas fazem-no parcelarmente, considerando-o assim um instrumento defeituoso.
Ah, e como se lê mais neste exemplo?
O comboio deslizou lentamente pelos carris.
— Para o comboio! — gritou o chefe da estação.
O chefe da estação ordena que as pessoas entrem no comboio ou manda parar esse mesmo comboio?
Ah, pois é. Como escrevemos no mês passado, dispensar os neurónios dá mau resultado.
João Esperança Barroca
Carta enviada por Carlos A. Coimbra, um cidadão português que vive em Toronto (Canadá) há longos anos, a uma personalidade televisiva portuguesa, a propósito da corrupção activa exercida sobre a NOSSA Língua, à qual as comunidades portuguesas na diáspora estão atentas, e que defendem com unhas e dentes, ao contrário dos decisores políticos e apolíticos portugueses.
Isabel A. Ferreira
Texto de Carlos A. Coimbra
«Quero então expor-lhe as minhas ideias quanto à presença da Língua no Brasil nos média de Portugal.
Aliás, uma pessoa que se interessa por, e tanto pesquisou sobre descobrimentos, deve forçosamente dar importância à língua que "viajou" pelo mundo fora.
Há vários aspectos por onde entrar no assunto, mas começo com a diferença entre sotaque (ou pronúncia) e corrupção da língua.
Eu admito não conhecer Portugal tão bem como quem lá vive. Mas sei que há diferentes pronúncias, como do Alto Minho, da área do Porto, a inflexão de Alentejano, o por vezes quase incompreensível São Miguelense, e a "corrupçon" da Madeira.
Mas todos usam a mesma gramática, a mesma semântica, sem mudar a ordem das palavras, nem as alterar (um brasileiro diria alterar elas).
E o mesmo se mantém em relação a Angolanos e outros nacionais de territórios que foram portugueses, embora o sotaque deles seja mais carregado.
Só que continuam a falar o mesmo Português.
Lendo textos escritos por um português ou pessoa de proveniência africana, não podemos extricar qualquer evidência acerca da origem da pessoa.
Aliás, como comparação, entre os vários espanhóis (castelhanos) falados, eu sei distinguir o Castelhano original, o Mexicano, o Cubano e Porto-riquenho (caribenho) e o Argentino.
Contudo, todos falam o mesmo Castelhano, com a mesma gramática e ortografia; a única distinção é o facto de usarem alguns termos locais.
E quanto ao Inglês, lendo textos escritos por americanos e britânicos, vemos a mesma língua, embora haja diferenças pontuais na ortografia (z/s, or/our, etc...).
Ninguém pensou em unificar a ortografia, nem em usar em permanência locutores do outro lado (embora os média americanos usem alguns jornalistas não-americanos no estrangeiro, por razões que têm a ver com obtenção de vistos, por exemplo).
Agora falando do Brasileiro, a coisa é muito mais séria.
A modificação que os escravos foram fazendo à Língua dos colonizadores, em termos de pronúncia e possivelmente função da gramática das Línguas nativas, levou até a que os Brasileiros de hoje troquem a ordem normal das palavras, não usem verbos correctamente e tanto mais.
Um brasileiro que falava bom português gramaticamente foi o Presidente Temer...
E então posso passar ao vício de meter um 'i' onde ele não existe: abisurdo, opitar, e inúmeros outros exemplos.
E é contagioso! Exemplo:
Um tempo depois do 07 de Outubro, os Israelitas levaram jornalistas à povoação chamada Sderot (além de hebraico, é assim que está escrito na placa à entrada: Quer dizer "Boulevards", plural de Sder - eles formam plurais em -ot e em -im).
Esse grupo incluía pelo menos um português e uma brasileira.
Eu sei, porque vi uma peça na RTP e outra na Globo, na mesma noite.
Ora a brasileira dizia Siderot, devido à aversão que os Brasileiros têm a dizer duas consoantes juntas (Lula inclusivamente).
E fiquei chocado por ouvir o jornalista português copiar a brasileira, também dizendo Siderot!
Ainda mais curioso, noutra ocasião, ouvi outra repórter brasileira que preferia dizer Isderot (idêntico o que fazem com 'esporte').
Ora todo este linguajar "à brasileira" passa muito para lá de questões de pronúncia ou entoação, e consiste em corrupção da Língua.
Não se pode deixar de dizer isso quanto à introdução de sílabas que não existem.
Infelizmente, a Língua Brasileira tem características dominantes, tal como o Castelhano, senão basta ouvir portugueses que vivem há muito tempo no Brasil ou na Venezuela...
Isto é devido às Línguas serem parecidas, e tal não acontece comigo nem com quem mora na França (adoptam certos termos, mas não lhes afecta a pronúncia).
Não questiono o direito ao trabalho em Portugal de brasileiros, mas não quero ouvi-los na rádio e televisão a falar de assuntos que não têm nada a ver com o Brasil.
Isto particularmente quando os sotaques portugueses e africanos que referi não parecem ter lugar cativo nos canais de TV a que tenho acesso, e esses falam Português!
Creio que jornalistas portugueses até devem ficar ofendidos por serem preteridos. O caso do brasileiro na TVI/CNN-P a comentar futebol é um exemplo extremo, pois dá a ideia que se esgotou em Portugal quem saiba falar do assunto!
Aliás, quando um canal aqui em Toronto adquiriu uma meteorologista com pronúncia australiana, pode crer que eu protestei...
O Português falado já sofre de tantos erros...
E bem basta a falta de respeito pela audiência que leva a cair no Inglês fácil, em parte pela perda de vocabulário, causando até asneiras devido a não saberem o significado das palavras (ouvi uma comentadora que quando falava do Suez, lembrou o caso dum barco que entupiu o canal, e disse que era um verdadeiro "checkpoint", quando tal seria um "bottleneck").
Qual a necessidade de usar alguém que nem fala o Português correcto, e que em qualquer momento pode dizer uma "brasileirice"?
Eu nasci com inclinação para lógica (levou-me aos computadores) e Línguas (passou de entretenimento a conhecer a fundo o Inglês, a falar Italiano além de Castelhano e Francês, e saber o suficiente de Alemão; as minhas maiores peneiras vêm de me ter ensinado mais que o suficiente Russo, antes de haver Internet).
E sou compreendido em muita coisa de várias outras línguas estranhas, sem pretender que as falo minimamente, só por diversão. Até o tradutor do Google me entende, e isso tem utilidade neste país de imigrantes.
Mas o que interessa aqui é que quero fazer o que posso para proteger o verdadeiro Português da influência do Brasileiro, e que não seja considerado "variedade europeia", como me escandalizou a professora Dr.ª Sandra Duarte Tavares, pois assim caracterizou o meu Português original, enquanto assessora da Língua (!) na RTP.
Ofenderam-me, insultaram-me, tanto o PM como o PR: um disse que até gostaríamos de falar com o sotaque brasileiro, e o outro lembrou-se de imitar (mal) a fala brasileira, enquanto Chico Buarque ficou de boca aberta a pensar sabe-se lá o quê do indivíduo...
Pois lembro-me de dois casos:
Num jogo amistoso entre não me lembro quem e um Benfica em que entraram Ricardo Araújo Pereira e Fernando Mendes, o Ronaldo (o original, chamado "Fenômeno" pelos brasileiros - com ô) magoou-se, foi para o banco e foi entrevistado: Lesionou-se? Hem? Lesionou-se? Heeeem? Machucou-se?
Aí ele finalmente entendeu...
E recordo que a propósito de não sei quê, no Brasil, perguntei a uma pessoa: mas que explicação lhe dão a si?
Nada de resposta até eu modificar a pergunta...
O 'lhe' e o 'a si' não faziam parte do entendimento da Língua da pessoa...
Isto está indecentemente comprido, mas eu queria apresentar os meus argumentos duma maneira mais completa, que não têm nada a ver com xenofobia (aprecio, por exemplo, o Português que ucranianos falam).
E tenho a certeza de que mais tarde vou lembrar-me de mais que podia ter escrito...
Cumprimentos,
Carlos A. Coimbra,
Toronto»
Chegou-me este artigo via e-mail.
Fiquei estupefacta com o facto de depois do tremendo INSUCESSO e do caos ortográfico causado pelo AO90, ainda haja alguém que, sem argumentar coisa nenhuma a favor dele, venha a público dizer o que disse, sem o menor pejo.
Desta vez não fiquei com azia. Fiquei irritada. Como é isto possível?
Então decidi esmiuçar o que disse Carlos Esperança, autor do texto .
O que está em itálico é dele. O que está a negrito é meu.
Isabel A. Ferreira
(Para quem estiver interessado em consultar)
Por Carlos Esperança in:
https://ponteeuropa.blogspot.
I.A.F. - Começando pelo título: sim, o AO90 é tão, mas tão, mas tão intragável que provoca não uma azia, mas uma espécie de azia insuportável a todos os que amam a Língua Portuguesa, e a conhecem muito bem, ou mais ou menos, ou assim-assim. Contudo incurável azia, não! Ela será curada quando o intragável AO90, deixar de ser introduzido, à força, pelas goelas de quem abomina ignorâncias linguísticas, e nem sequer é preciso ser-se linguista.
C.E. - Quem conhece a grande alteração e uniformização da língua portuguesa, efetuada [em Português efeCtuada] pela Reforma Ortográfica de 1911, não devia solidarizar-se com manifestações de raiva que a perda de algumas consoantes mudas e tímidas alterações provocaram numa sociedade avessa à mudança, independentemente da validade dos argumentos.
I.A.F. - Primeiro: a Reforma Ortográfica de 1911 foi elaborada segundo as regras das Ciências da Linguagem, e NÃO porque um punhado de "linguistas" e políticos ignorantes e editores mercenários assim o quiseram.
Segundo: as manifestações que existem com a perda de várias CENTENAS (não de algumas) consoantes não-pronunciadas, mas com função diacrítica, e aberrantes (não tímidas) alterações nos hífenes e acentuação, não são de raiva, mas de inquietação pela enormidade da ignorância dos acordistas que não apresentaram UM SÓ argumento racional, portanto VÁLIDO, para defender um tal “acordo”, que na verdade nem sequer existe, e não porque a sociedade seja avessa à mudança, porque MUDANÇA implica EVOLUÇÃO, e o que aconteceu foi um gigantesco RETROCESSO linguístico, e a sociedade portuguesa é AVESSA sim, a retrocessos. E por que é o AO90 um retrocesso? Porque pretende que a Língua Portuguesa, bela, elegante e europeia, retroceda a uma variante sul-americana, derivada do Português, no que à grafia de 90% de vocábulos diz respeito.
C.E. - O misoneísmo, palavra cunhada pelo psicologista [em Portugal psicólogo] italiano César Lombroso, esse horror à novidade, está bem entranhado nos portugueses.
I.A.F. - Aqui temos algo que apenas por muita má-fé se diz sobre a personalidade dos Portugueses, que, de boa-fé, até aceitam bem as novidades. Acontece que a destruição da Língua Portuguesa não pertence ao rol das novidades. A Língua Portuguesa é o maior Património Cultural Imaterial de Portugal, que não se ajeita a "novidades" assentes na ignorância. Os Portugueses não rejeitaram a caixinha mágica (televisão), os telefones, os telemóveis, os computadores, os hipermercados, os tractores, os frigoríficos, enfim, nunca rejeitaram as novidades que lhes vieram facilitar a vida, ao longo do s tempos, mesmo no mundo rural. Rejeitam sim, e nisso fazem muito bem, as “novidades” prejudiciais ao corpo e à mente e à sua intelectualidade, quando lhes querem vender gato por lebre. Que é o caso do AO90.
C.E. - A Reforma Ortográfica de 1911, a primeira iniciativa de normalização e simplificação da escrita da língua portuguesa, foi profunda, numa altura em que o Brasil facilmente a aceitou e as colónias não participavam.
I.A.F. - Repetindo: o que fez a Reforma Ortográfica de 1911 foi simplificar a escrita, mas NÃO a afastou das suas raízes, das suas origens, da sua História, da sua Família Indo-Europeia. Os vocábulos não foram mutilados. Passou-se do PH (fonema grego, com o mesmo som da consoante latina F), porque o nosso alfabeto era e continua a ser o LATINO, onde a letra F está incluída, tão incluída que Fernando Pessoa grafava PHarmacia, mas escrevia o seu nome com F. Passou-se de “elle” para ele sem lhe mexer na pronúncia. Passou-se de “lyrio” (com o i grego) para lírio (com o i do alfabeto latino) sem lhe mexer na pronúncia. Todas as consoantes com função diacrítica mantiveram-se, porque se os cês ou os pês fossem suprimidos, a pronúncia deveria modificar-se.
O Brasil aceitou (mal) esta reforma, tanto quanto sabemos, tanto que muitos continuaram a escrever segundo a grafia anterior a 1911, e logo que puderam, em 1943, os Brasileiros elaboraram um Formulário Ortográfico, que distanciou o Português da sua Matriz, transformando-o na Variante Brasileira da Língua Portuguesa, ainda hoje em vigor, no qual, na sua Base IV, os parideiros do AO90 foram buscar a mutilação das palavras cujas consoantes não se pronunciavam.
C.E. - Tenho enorme consideração por muitos dos que não toleram as pequenas alterações que o AO-90 introduziu, sobretudo quando se trata de cultores da língua, de prosa imaculada na sintaxe e na ortografia que mantêm, mas vejo neles a exaltação de Fernando Pessoa e Teixeira de Pascoais cuja ortografia que estes defenderam repudiariam agora.
I.A.F. - Como está enganado o senhor Carlos Esperança. O AO90 NÃO introduziu pequenas alterações em Portugal, o AO90 introduziu GIGANTESCAS alterações na NOSSA Língua, na forma de grafar, mutilando as palavras que o Brasil já mutilava, desde 1943 (excePtuando as que eles, por algum motivo aleatório, continuaram a pronunciar os pês e os cês, como excePção ou aspeCto), e na forma de falar, porque quem escreve afeto (lê-se âfêtu”) e pronuncia afétu, pronuncia mal. Porque aféto só é aféto se levar o C = afeCto, porque o C tem função diacrítica.
C. E. - A ortografia é uma convenção imposta por lei sem sanções penais, salvo para os alunos, que se arriscam a reprovar se não escreverem como está oficialmente determinado.
I.A.F. - As ortografias de 1911 e de 1945 até podem ser convenções impostas por LEI, porque essas LEIS EXISTEM. Contudo, a de 1990 não é nem acordo, nem convenção, nem coisa nenhuma, porque NÃO EXISTE LEI que obrigue os professores, ou os alunos ou os jornalistas ou os escritores, ou seja quem for, a escreverem incurrêtâmente a Língua Portuguesa, e se algum professor ou aluno OUSAR ensinar ou escrever correCtamente a sua Língua Materna, as reprovações ou as sanções são ILEGAIS. Só uma LEI poderia sancionar algo que uma simples RCM quis impor, mas como não tem valor de Lei, não pode obrigar. Aliás todos os juristas são unânimes em dizer que o AO90 é ILEGAL e INCONSTITUCIONAL, algo que está mais do que comprovado nos livros que se escreveram a este propósito e que os governantes, Marcelo Rebelo de Sousa incluído, IGNORARAM e continuam vergonhosamente a IGNORAR. Por algum MAU motivo há-de ser.
C.E. - Aos autores da Reforma Ortográfica de 1911, que hoje já ninguém contesta, coube-lhes pôr fim à anarquia ortográfica do país, com 80% de analfabetismo, quando os países do norte da Europa tinham entre 2% e 10%, e normalizar a ortografia. Eminentes filólogos discutiram se deviam seguir o modelo francês, fortemente dependente da etimologia, ou o espanhol e italiano, que seguiam de perto a oralidade.
Optaram por revogar falsas etimologias e, condescendendo com a origem das palavras, deram preferência à oralidade, caminho que embora tímido esteve presente no AO-90.
I.A.F. - Quem dá preferência à oralidade, na escrita, é IGNORANTE. A oralidade é volátil, a escrita FIXA o PENSAR de um Povo. Os autores das Reformas Ortográficas de 1911 e de 1945, que tiveram MOTIVAÇÕES LINGUÍSTICAS NÃO revogaram falsas etimologias, nem condescenderam com a origem das palavras, nem deram preferência à oralidade, deram isso, sim, preferência à ETIMOLOGIA das palavras. Estas reformas foram feitas com o intuito de diminuir a taxa de analfabetismo então existente no Brasil e em Portugal (só os povos com índices de ignorância elevados é que necesitam de reformas ortográficas). Pelo que vemos, não adiantaram de nada, porque tanto no Brasil como em Portugal a taxa de analfabetismo ainda é elevadíssima, e em Portugal é a mais alta da Europa.
O AO90, como não teve nenhuma motivação linguística, mas apenas polítiqueira e económica, não timidamente, mas DESCARADAMENTE, deu preferência à oralidade, que já vinha do Formulário Ortográfico de 1943, desenraizando, empobrecendo e desfeando a Língua Portuguesa. E isto é um facto indesmentível.
C.E. - Há muito que as palavras homógrafas não são necessariamente homófonas, mas duvido que os críticos mais cultos tenham dificuldade em distinguir a fonia das que perderam os acentos e cujos exemplos caricaturais não passam disso mesmo.
I.A.F. - A acentuação e a hifenização EXISTEM para melhor facilitar a compreensão das palavras e das frases. A ortografia de 1945 tem algumas falhas nesse sentido. Dever-se-iam retomar alguns acentos, para que as frases fossem imediatamente perceptíveis, para quem está a aprender a Língua - as nossas crianças, por exemplo. Se lhes perguntarmos, como eu já perguntei, o que quero dizer quando digo “ninguém PARA o Benfica”, na aCtual conjuntura, as respostas são as mais óbvias: não há ninguém para o Benfica. E o que eu quis dizer foi ninguém PÁRA o Benfica, (porque não perde há sete jogos consecutivos). Se o acento estivesse lá, ninguém teria dúvidas.
C.E. - Lamentável é ver as redes sociais, até jornais, com inúmeros detratores [em Português detraCtores] do AO-90, que explodem de raiva na mais boçal prevaricação ortográfica e ignorância de elementares conhecimentos básicos do idioma cuja ‘nova’ ortografia condenam sem respeitarem a anterior, não sendo este o caso do Público.
I.A.F. - Em Portugal não há detractores do AO90, porque para haver detraCtores, deveria haver BELEZA LINGUÍSTICA, nem explodem de raiva. Explodem de tristeza por ver uma Língua tão bela escorrer para o esgoto. O que há é DEFENSORES da Língua Portuguesa. Os detraCtores são os que muito servilmente, muito ignorantemente, muito acriticamente aceitaram este “acordo”, que não é “ acordo” e desataram por aí a escrever uma mixórdia ortográfica (mistura da grafia brasileira com a grafia portuguesa, numa mesma frase) Ex: «o objetivo da acção foi repor os salários em atraso», sim porque em 1943 os Brasileiros passaram a escrever objetivo (que sem o cê lê-se “ub’j’tivu” de acordo com as regras gramaticais, algo que os acordistas também atiraram ao lixo, até as crianças já sabem disto) , e ação, (âção) . “Âção” sem cê pertence à Variante Brasileira do Português, que em Portugal se lê deste modo.
C.E. - Definida uma grafia, que alguns julgam facultativa, depois de vários anos a ser ensinada de acordo com a lei, qualquer tentativa de regresso é um apelo à anarquia ortográfica e à instabilidade do idioma e das normas jurídicas que o definem.
I.A.F. - Senhor Carlos Esperança, não é da HONESTIDADE vir para aqui tentar enganar os mais incautos, porque os menos incautos SABEM que a grafia que nos querem impingir é ILEGAL, e a qual ninguém em Portugal é obrigado a usar, e foi vilmente ensinada às nossas crianças, que escrevem CAOTICAMENTE, incluindo os governantes, os jornalistas (com excePções do Jornal PÚBLICO e muitos jornais regionais) e todos os que se atiram para aí a escrever acordês/mixordês SERVILMENTE. Mais caótico do que isto é IMPOSSÍVEL.
As crianças aprenderão mais facilmente a escrever correCtamente a Língua Materna do que a estão a aprender “incurrêtamente”, tendo em conta que aprendem Inglês e já escrevem um Inglês ACORDIZADO, de tanto escreverem mal o Português. Há quem escreva em Inglês “diretor”, porque foi assim, mutilada, que aprenderam a escrever essa palavra. Isto é inadmissível, e argumentar com a aprendizagem das criancinhas é da estupidez, pois as crianças têm uma capacidade extraordinária para a aprendizagem de Línguas. O AO90 ficará como MAIS um tipo de linguagem, a BRASILEIRA, que eles aprenderam, como eu aprendi. Na lista de Línguas que aprendi, está incluída a Brasileira, porque aprendi-a no Brasil, aos seis anos, e quando vim para Portugal, aprendi o Português. Foi isto que me explicaram aos oito anos. Nunca mais esqueci a lição. Além disso, com as ferramentas informáticas, existentes aCtualmente, tais como o correCtor ortográfico, qualquer até as criaturas asininas aprenderão a grafar correCtamente num ápice, Então as crianças aprenderão num piscar de olhos.
E outra coisa, senhor Carlos Esperança, não há normas jurídicas que definem o AO90. Simplesmente NÃO HÁ. Isso é a cassete do ministério dos Negócios DOS Estrangeiros, que os papagaios papagueiam por aí como se fosse verdade. Mas não é verdade.
C.E. - Já é tempo de os jornais que cultivam o imobilismo subversor da legalidade ortográfica se submeterem. O Público não pode continuar a ser o arauto da insurreição ortográfica contra a norma legal que há 12 anos vigora em Portugal e Brasil e observada por autores como José E. Agualusa e Mia Couto, respetivamente [em Português respeCtivamente] de Angola e Moçambique.
I.A.F. - O tempo é de os predadores da Língua Portuguesa se recolherem à sua insignificância, e saírem de cena, até porque cada vez há mais gente a abandonar o AO90, por chegar à conclusão de que além de ILEGAL é uma mixórdia intragável que, de facto, provoca azia, e se alguém está a subverter a legalidade são TODOS os que estão a usar uma ortografia ILEGAL. Em Portugal, o que vigora há 12 anos, é uma MIXÓRDIA linguística sem precedentes, e o Agualusa e o Mia Couto, que eu muito prezava, são apenas dois, e mais não fazem do que garantir a publicação dos seus livros nas editoras ACORDISTAS deles, ou então deixam de publicar. Perderam leitores com essa atitude servil. Fale-me de Ondjaki, de Paulina Chiziane e de muitos outros angolanos e moçambicanos que não cederam à falsa miragem acordista.
C.E. - Não é seguramente o facto de o tratado internacional ter sido firmado em 1990 pelo PM Cavaco Silva e promulgado em 2008 por Cavaco Silva (PR) que motiva a obstinação do Público na insurreição ortográfica contra o AO-90, e não se percebe a deliberada teimosia na prevaricação ortográfica.
I.A.F. - Quem está a prevaricar são TODOS os que aplicam o ILEGAL AO90. Os políticos e servilistas e seguidistas portugueses são os únicos, do universo da CPLP, que muito servilmente, se arrastam atrás dos milhões, porque sofrem de um absurdo complexo de inferioridade.
C.E. - Não me obriguem a esconder o Público aos netos. Não quero agravar as suas hesitações ortográficas.
Coimbra, 18 de setembro [em português Setembro] de 2021
I.A.F. - O que deverá esconder aos netos é a MIXÓRDIA que o AO90 veio gerar, e que os obrigaram a aprender. Isso é que é de esconder. Os meus netos SABEM distinguir MIXÓRDIA ortográfica de Língua Portuguesa, e se na escola escrevem “incurrêtamente”, para não serem penalizados (e eles têm essa consciência) cá fora sabem exaCtamente onde estão os cês e os pês, os hífenes e os acentos, nas palavras que escrevem. O PÚBLICO, como todos os outros que não cederam à ignorância e muito inteligentemente não adoPtaram o AO90 sabem que mais dia, menos dia, o AO90 acabará por acabar, e todos os que para tal contribuíram acabarão também a um canto, como os maiores predadores e traidores da Língua Portuguesa, desde que Dom Dinis a elevou a Língua de Portugal. E a esses, ninguém erguerá estátuas ou serão perpetuados em nomes de ruas. Se forem, os filhos dos meus netos e os filhos dos seus netos, Carlos Esperança, encarregar-se-ão de as destruir. E os livros acordizados mofarão numa qualquer cave húmida, e desaparecerão, para sempre, da face da Terra.
E a história do AO90 será, então, contada aos vindouros, como uma história de terror, cujos protagonistas serão descritos como gente que, no lugar da cabeça, tinha uma cabaça.
Isabel A. Ferreira
***
Nota:
Para uma douta opinião, uma pérola, sugiro aos leitores a leitura do artigo que está neste link, sob o título:
Obedeçam! Submetam-se!
Isabel A. Ferreira
«Se isto acontece a uma profissional experiente, o que acontecerá à população que não tem nem uma constante exposição à palavra escrita nem responsabilidades profissionais relacionadas com a língua portuguesa?»
Mais um texto de Francisco Miguel Valada,a juntar a tantos outros, que nos falam das incongruências de um “acordo” que nunca foi acordo.
Texto de Francisco Miguel Valada
«Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte.»
Bernardo Soares
1 - Horas antes de me ter embrenhado nos trabalhos de 2020, fiz um apanhado da correspondência em atraso das férias de Natal e encontrei uma pérola futebolística relacionada com a base IV do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) – mais concretamente, com a tão importante e tão ignorada função grafémica da letra ‘c’. Como é sabido, as letras ‘c’ e ‘p’ têm função grafémica (cf. PÚBLICO, 28/1/2016). Todavia, como tem sido público e notório, o Governo português adora relações públicas e detesta publicações científicas.
Debrucemo-nos sobre essa pérola. Na RTP, confrontaram o treinador e comentador Manuel José com declarações do presidente do FC Porto sobre factores externos que alegadamente influenciam os resultados dos jogos de futebol. A frase, disponível no oráculo, foi lida em voz alta pela jornalista presente no estúdio: “O futebol português ainda é muito condicionado por *fatores que são alheios ao mérito”. A jornalista proferiu a vogal da primeira sílaba de *fatores como se esta fosse igual à de amores, Açores ou dadores. Depois, corrigiu-se e proferiu a palavra completa *fatores, com a primeira vogal semelhante à primeira de actores e tractores e à segunda de infractores e redactores. Ou seja, como se de factores efectivamente se tratasse.
Fruto deste episódio actualíssimo, uma hipótese antiga a desenvolver é a de a ausência da letra ‘c’, que fixa grafemicamente o ‘a’ de factores (e de actores, tractores, infractores, e redactores) ter de facto consequências na consciência fonológica dos falantes, com essas consequências a serem evidenciadas à superfície, isto é, no momento da prolação. É verdade que a jornalista rapidamente detectou o erro e imediatamente reformulou. No entanto, a pergunta impõe-se: se isto acontece a uma profissional experiente, o que acontecerá à população que não tem nem uma constante exposição à palavra escrita, nem responsabilidades profissionais relacionadas com a língua portuguesa (oral ou escrita), nem o consequente traquejo para se desenvencilhar num apuro semelhante, nem bagagem teórica para reflectir sobre o assunto?
Tendo em conta que a RTP determinou a adopção do AO90 há nove anos, tudo isto assume contornos muito interessantes. Continua por explicar a razão pela qual os poderes públicos não acautelaram estes problemas. Os responsáveis por esta situação que abram os ouvidos, já que não lêem os estudos.
2 - Recentemente, alguns académicos brasileiros rasgaram publicamente as vestes. Algures no Twitter, Abraham Weintraub, o ministro da Educação do Brasil, escreveu *imprecionante em vez de impressionante e houve reacções nas redes sociais. Aliás, fiquei a saber que este erro fora o mais recente episódio de uma monótona novela, durante a qual Weintraub já fizera as delícias dos pescadores de pérolas ortográficas, com *paralização e *suspenção, em vez de paralisação e suspensão.
Por cá, curiosamente, tudo bem. Porventura por distracção minha, nunca detectei vestes rasgadas pelos negociadores, promotores e amigos do AO90, devido aos erros ortográficos cometidos pelos autores do AO90. Não me refiro aos grosseiros erros conceptuais de autores do AO90, como quando escreveram que olho e óculo areia e arena, entregado e entregue ou imprimido e impresso eram exemplos de dupla grafia (cf. PÚBLICO, 14/6/2017). Refiro-me concretamente ao erro ortográfico dos autores do AO90, quando escreveram *insersão em vez de inserção, no título do ponto 7.1 da Nota Explicativa do AO90 (cf. PÚBLICO, 20/12/2010). Exactamente: um erro ortográfico num texto que prescreve regras ortográficas e bastante apreciado na Assembleia da República e arredores.
Convém recordar que o ministro da Educação do Brasil é economista, não sendo obrigado a ter nem as competências linguísticas nem as responsabilidades metalinguísticas esperadas dos autores do AO90. Por isso, relativizemos o rasgar de vestes do outro lado do Atlântico e tomemos nota das vestes por rasgar onde soa o sino da aldeia de Fernando Pessoa. Sim, Pessoa está na moda. Perguntai ao ministro Mário Centeno, que evoca Pessoa na Assembleia da República, enquanto apresenta um Orçamento do Estado escrito num português vergonhoso (cf. PÚBLICO, 24/12/2019).
Fonte:
. Em Defesa da Ortografia (...
. «Protecção contra a corru...
. «O Acordo Ortográfico de ...
. «O Acordo Ortográfico de ...