Eu, como cidadã portuguesa defensora da descolonização linguística nas ex-colónias portuguesas, até porque todas elas possuem uma linguagem riquíssima que se afastou, muito naturalmente, do Português, e têm os seus próprios dialectos, congratulo-me com Cabo Verde, por ter sido a primeira ex-colónia a ter a coragem de assumir uma Língua Nacional, a Língua Cabo-verdiana, cortando, deste modo, o cordão umbilical que ainda ligava o arquipélago ao colonizador português. Ninguém é verdadeiramente livre, agarrado ao umbigo da mãe. Se bem que as ex-colónias espanholas, inglesas, holandesas e francesas nunca tiveram qualquer problema com a Língua dos países que as colonizaram, dando-se muito bem com as suas VARIANTES.
E aqui não está na berlinda o acto da colonização, que aconteceu numa época passada, em que o mundo ainda estava por desbravar. E o que se fez ou deixou de fazer, então, pertence aos valores do passado, que nada têm a ver com os valores actuais, e querer misturar esses valores não é da inteligência.
Portanto, é de toda a legitimidade que, agora como um país livre, o Arquipélago de Cabo Verde tenha a sua própria Língua, e não há mal nenhum que o país tenha a Língua Cabo-verdiana (como me soa bem!) como primeiro idioma, e o Português como segunda ou até terceira Língua. Há tantos países que são plurilinguísticos!
Que Cabo Verde seja exemplo para as restantes colónias, nomeadamente, o Brasil, que tanta repulsa mostra pela Língua do ex-colonizador, e que, com Portugal, engendrou um “acordo” com o intuito de impor o brasileirismo a todas as outras ex-colónias. Algo que não deu certo, e jamais dará.
Vejamos, então, o que nos diz a notícia.
Isabel A. Ferreira
O Governo [cabo-verdiano] vai introduzir a disciplina de Língua Cabo-verdiana no Ensino Secundário (a partir do 10º ano de escolaridade), no ano lectivo 2022/2023. A iniciativa, que acontece no âmbito dos novos planos curriculares da reforma do ensino secundário, foi anunciada esta terça-feira, 9, pelo Ministério da Educação.
De acordo com o Ministério da Educação, a introdução da nova disciplina será feita de forma experimental e vai “servir de piloto para o seu alargamento a médio prazo, após amplos consensos científicos”.
A disciplina será introduzida no âmbito dos novos planos curriculares da reforma do ensino secundário, em processo de conceptualização e implementação, lê-se ainda na página de Facebook da tutela.
A par desta iniciativa ao nível curricular, o governo manifesta, na mesma publicação “total disponibilidade em apoiar e fomentar a investigação de base académica visando consensos técnico-científicos em matérias da linguística, uniformização e padronização das bases gramaticais e ortográficas da língua nacional, comum às suas diversas variantes”.
A nível do alfabeto, diz o governo que “a investigação poderá também incidir sobre o alfabeto unificado do crioulo, o ALUPEC, tendo em vista alcançar abrangência e conter resistências ao seu uso na escrita do crioulo”.
Conforme relembra o post, o Ministro da Educação, Amadeu Cruz, reuniu-se no passado mês de Julho, com representantes do grupo promotor da petição sobre a política linguística em Cabo Verde e com o investigador e linguista, Manuel Veiga. Durante esse encontro foram abordadas questões ligadas à investigação linguística e à metodologia para a integração da disciplina de língua cabo-verdiana no sistema de ensino, no âmbito da reforma do Ensino Secundário.
Entretanto, reconhece-se, haverá necessidade de fazer uma articulação e sintonização entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, “em virtude de alinhamento em matérias mais ligadas à cultura e de ordem constitucional, bem como a necessidade da criação de um grupo de trabalho conjunto para a elaboração de um plano de acção de fomento da investigação e do ensino da língua cabo-verdiana”.
Fonte:
(*) O Expresso das Ilhas é um dos jornais semanários publicados em Cabo Verde, foi fundado em 1991. Tem a sua sede na cidade da Praia, no concelho homónimo da Ilha de Santiago. O jornal é publicado predominante em português. As cores usadas no logótipo são o vermelho e o azul, representando as cores da bandeira de Cabo Verde.
«O Acordo do Desacordo» um texto do Doutor Tiago Matias, licenciado em Estudos Europeus (Faculdade de Letras de Lisboa).
Mais um texto com uma douta opinião desfavorável ao AO90, por aí espalhado, tal um “coronavírus” que atacou a Língua Portuguesa, a qual, por causa disso, se encontra moribunda e, consequentemente, em vias de desaparecer. E isto não é um exagero. Isto é uma realidade, porque estando a Língua impregnada de uma grafia estrangeira, o “portuguesa” já não tem razão de ser, e a Língua esvai-se ao dar lugar ao estrangeirismo. Tanta repulsa pelos anglicismos e galicismos, com aportuguesamentos de bradar aos céus, e tanto servilismo ao brasileirismo que afastou o Português da grande família linguística Indo-europeia.
Todavia, em Portugal, é assim: quantos mais pareceres desfavoráveis existirem em relação a determinadas questões, que não beneficiam Portugal (também é o caso do aeroporto do Montijo, entre outros), mais os que, insensatamente, (des)governam o nosso país, ignoram os sábios pareceres, fazem ouvidos de mercador aos que sabem o que dizem e porque o dizem, atropelam as leis, apenas para fazerem o jeito aos que, por trás disto tudo, manobram os cordelinhos que fazem mover os fantoches portugueses.
Fiquemos, então, com a opinião do Doutor Tiago Matias.
(Os excertos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)
«O Acordo do desacordo»
«O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, chamado Acordo Ortográfico de 1990, e respectivo 2.º Protocolo Modificativo parecem ser daqueles casos em que se dá um nado-morto.
Quando o poder político tenta enveredar pela “normalização” ou unificação gramatical os resultados tendem a ser catastróficos e, na questão linguística, assim se verifica. Este Acordo que já está em vigor em Portugal - ao contrário do que acontece por exemplo em Angola, que o rejeitou - sucede ao Acordo ortográfico de 1945 e aparentemente justifica-se pela sua utilidade e oportunidade. Ora o que ainda hoje se percebe, vários anos após reiterado debate público, é que utilidade não tem. Tende a abrasileirar o Português e na verdade nem sequer parece haver unanimidade no espaço lusófono para o implementar, pelo que é absolutamente desnecessário inclusivamente quanto à hipotética dimensão internacional, cuja argumentação foi usada em sua defesa, mas não colhe.
Em primeiro lugar parece-me claro e prudente considerar que nestas questões só em extrema necessidade se deve interferir na forma de comunicar dos falantes; e tal não se verificou. Depois é um terreno muitíssimo escorregadio, muito mais do que se possa pensar à primeira vista, mas que intuitivamente se compreende: os políticos mudam rapidamente e a sensibilidade e ciência linguística é morosa e quase sempre incompleta. Pelo que os decretos raramente funcionam nesta matéria.
Em segundo lugar, a espontaneidade muito viva, incontrolável e dinâmica do uso da nossa língua implicou que nem mesmo os eruditos de 1600 da Universidade de Coimbra se tenham metido por vias de controlo e padronização/normas. Isto é, no limite a língua evolui conforme o uso e altera-se com as novas palavras que os falantes lhe possam acrescentar por influências várias.
Daqui resultou na prática que passou a haver dupla grafia recorrente em numerosos vocábulos, como ação e acção, espetadores e espectadores, etc., e seria essencial o regresso do acento agudo como em “pára” do verbo Parar. Tal como se trava uma guerra sem quartel às consoantes mudas que, por diversas vezes não serem lidas, embora tendo todo o sentido na etimologia das palavras, foram abolidas. A balbúrdia instalou-se quando se tentava uniformizar.
E terão os decisores políticos pensado que passaria então a haver milhões de Portugueses que por terem aprendido a escrever na antiga ortografia poderiam não saber aplicar a nova norma? Foram colocados professores nas escolas à disposição da população de modo a que possam saber usar correctamente a língua escrita seguindo as novas regras ortográficas? Por muito boa vontade que haja, não se pode esquecer que as pessoas não nascem ensinadas e que antes de se obrigar se deve apoiar. Uma alteração desta magnitude assim o exigia.
Importa referir que também na universidade os egos são muitas vezes a motivação que se sobrepõe à ciência. Porém, do professor doutor Malaca Casteleiro e sua obra, autor deste Acordo, não faremos considerações por ter falecido recentemente. Relembremos apenas que a linha de construção deste Acordo ortográfico foi desde logo firmemente criticada pela doutora Maria Alzira Seixo (correspondente da classe de Letras da Academia das Ciências), reputada catedrática de Línguas e Literaturas da mesma faculdade de Letras de Lisboa sem, contudo, obter sucesso, bem como por Vasco Graça Moura e muitos outros. Como se tem comprovado, por ser um Acordo “mais papista que o Papa”, com uma simplificação levada ao absurdo, a consequência continua a ser a confusão generalizada e a sua não-aplicação.
Assim se criou a situação caricata de muitos estudantes universitários, tradutores e jornais passarem a registar inúmeros textos que, por expressa opção dos autores, não seguem este Acordo. Das petições de cidadãos com milhares de assinaturas contra o mesmo e, finalmente, para corolário deste que foi um dos maiores disparates públicos das últimas décadas, a Academia das Ciências de Lisboa - instituição que congrega os especialistas eméritos das mais prestigiadas universidades portuguesas -, que não foi politicamente ouvida numa questão em que é o órgão nacional da especialidade, vem clarificar a sua posição em 2017 através do documento «Sugestões para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» exortando a que se aprimore o Acordo ortográfico “para fixar a nomenclatura do Vocabulário e do Dicionário da Academia”.
Haja coragem para terminar com o Acordo da discórdia, revogando-o se tal for juridicamente possível. Por estas razões também estas linhas não seguem o novo Acordo ortográfico que nada acrescenta à língua portuguesa.»
Tiago Matias, licenciado em Estudos Europeus (Faculdade de Letras de Lisboa)
Fonte:
https://www.linhasdeelvas.pt/noticias/opiniao/14913-o-acordo-do-desacordo.html
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