Para que não digam que apenas eu implico com esses brasileirismos, publico aqui os comentários que o professor Arthur Virmond de Lacerda publicou no Facebook, a propósito do meu texto
Nos canais de televisão, para além do AO90, reina o espírito de imitação bacoca
Devo dizer que o jurista Arthur Virmond de Lacerda pertence a uma elite culta brasileira que defende a Língua Portuguesa, no Brasil, tal como eu a defendo em Portugal. Divergimos em alguns pontos, mas no essencial concordamos. Está atento ao que se passa em Portugal, até porque já estudou cá, como eu estudei lá, e até já escreveu ao Governo Sombra, sobre os brasileirismos que os seus integrantes usam, e sobre o fenómeno do abrasileiramento da prosódia portuguesa.
Ernesto Carneiro Ribeiro foi um médico, professor, linguista e educador brasileiro, conhecido pela polémica mantida com Ruy Barbosa, seu ex-aluno, acerca da revisão ortográfica do Código Civil Brasileiro. Curiosidade: repare-se na designação idioma luso-brasileiro.
Arthur Virmond de Lacerda Também observo a legendagem à brasileira, em canais portugueses, e textos abrasileirados das telenovelas portuguesas, há mais de dez anos. Também me parece que os diálogos destas e as legendas são escritos por brasileiros, com introdução dos mais variados vocábulos e expressões que descaracterizam o falar tipicamente português. Seus autores não apreenderam o léxico corrente em Portugal e, aos poucos, vão descaracterizando a elocução típica dos portugueses. Tal abrasileiramento não favorece a audiência dos programas no Brasil nem creio que seja necessário para captar a audiência dos brasileiros daí. Os programas feitos em Portugal devem exprimir-se consoante aos usos daí e não consoante aos daqui ou de alhures.
Também noto que apresentadores e comentadores televisivos (Jornal da Noite, da SIC, Marques Mendes) [sim Marques Mendes parabeniza demasiado] empregam brasileirismos coloquiais, ou seja, o que é rasca, trivial, raso, no Brasil, alguns (somente alguns ?) usam em lugares formais, a exemplo de "dica", "correr atrás do prejuízo", "só que não". São dizeres da arraia miúda, que não no Brasil evita-se em contextos como os em que aí se usam, ou seja, alguns portugueses usam o pior do Brasil em lugar do que seja tipicamente português. — Nutro as mais acentuadas reservas quanto a tudo quanto provém de Marcos Bagno, grande inimigo da herança portuguesa em relação ao idioma. Ele é propugnador da recusa da gramática e dos usos vernaculares e do mudancismo idiomático: quanto menos portuguesmente se falar no Brasil, tanto mais ele se rejubila. Reputo-o influência decisiva no declínio acentuado do idioma entre nós e que ela precisa de ser erradicada urgentemente. Suas doutrinas são em muito responsáveis pelo abandalhamento do idioma no Brasil.
Arthur Virmond de Lacerda Outros brasileirismos rascas: "Eu vô ti falá para você entendê, mas se quisé a gente repete prá você". "Se você tá com problema, digita aqui": confusão entre pessoas do discurso.
***
Vergo-me aos seus comentários, amigo Arthur Virmond de Lacerda.
Também tenho essa perspectiva do abuso dos brasileirismos na linguagem oral e escrita, em Portugal. entre muitos outros, até os oi e né, já estão na linguagem oral e escrita dos mais jovens. Muita influência também das novelas, onde se fala muito mal, obviamente com algumas honrosas excepções.
Não existe, nem no Brasil, nem em Portugal, a prática da Cultura da Linguagem, que deve ser o nosso maior cartão de visita, na comunicação com o mundo.
Nós, por aqui, desde o presidente da República, passando por ministros, deputados, professores, jornalistas, até ao mais comum dos mortais, actualmente estamos abaixo de zero, no que respeita ao falar e ao escrever. Uma miséria franciscana.
Quanto ao Marcos Bagno, na verdade, ele é um seguidor do Antônio Houaiss, que deslusitanizou o Português, com determinada intenção. No entanto, concordo com Bagno no que respeita à "bobagem da lusofonia", porque cada país dito lusófono, tem os seus próprios dialectos, e só alguma elite é que ainda fala e escreve Português escorreito, e isto serve para todos os países africanos de expressão portuguesa, Timor-Leste e também o Brasil, onde existe uma elite, infelizmente pouco numerosa, na qual o meu amigo se inclui, que resiste à deslusitanização da Língua oficial, que ainda é Portuguesa.
Agradeço os seus comentários, até porque, por cá, há muito quem pense que SÓ eu é que implico com os brasileirismos introduzidos na oralidade e na escrita portuguesas. E eu apenas pretendo defender a Língua Portuguesa.
Isabel A. Ferreira
Há pessoas dotadas de uma lucidez e de um espírito crítico invejáveis. Pessoas que vêem o invisível, que estão muito para além do seu tempo, que penetram no âmago das questões e as põe a nu, e não aceitam a mediocridade, de ânimo leve.
Venero essas pessoas. Gosto de as citar. Leio-as sofregamente.
É o caso da minha amiga Idalete Giga (professora, poeta, escritora, musicóloga portuguesa, entre outros atributos) de uma Cultura e lucidez excepcionais, a qual faz uma breve análise, lúcida e crítica, ao AO90, e que aqui transcrevo, subscrevendo cada palavra.
E tal como Caio Fernando Abreu (jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro), também eu deveria ser remunerada por ter de aguentar, todos os dias, a imbecilidade de certos acordistas, que se dizem professores e linguistas, e que nasceram apenas para dizer os mais inconcebíveis despautérios, sem terem a mínima noção disso. E eles, os despautérios, são tão perfurantes, que até doem.
Faço minhas as palavras sábias da Idalete Giga:
«Sempre me causou uma grande perplexidade a obediência cega de editoras, jornais, revistas, panfletos sobre tudo e mais alguma coisa, literatura médica com péssimas traduções e erros execráveis, os lambe-botas dos canais de Televisão que enojam qualquer cidadão consciente do que é a sua Língua Materna, etc., etc.. Sim, o AO90, este Linguicídio trágico não pode ter qualquer futuro. Uma revisão do mesmo é pior a emenda que o soneto. O que merece tal desastre linguístico é o LIXO (!) Socratistas, santanistas, cavaquistas e toda a restante corte de traidores e ignorantes terão de assumir o gigantesco erro que foi o maldito (des)AO90. No nosso País, tudo é possível. Em cada dia que passa fico mais revoltada e perplexa com a imbecilidade que invadiu Portugal e, infelizmente, talvez a maioria do povo português.» (Idalete Giga)
Pois é amiga Idalete, a imbecilidade é um vírus que contagia os mais intelectualmente vulneráveis.
Isabel A. Ferreira
Cada vez estamos piores.
E os canais de televisão a piorar de dia para dia.
E a Língua Portuguesa a escorrer para o esgoto.
E a ignorância a espalhar-se como um cancro.
E António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa circulando por aí, como se Portugal fosse um paraíso.
E não há vagas para se CRESCER, neste país desnorteado…
E o PS sonha com maiorias absolutas…
E o povo, dopado, continua entorpecido…
CRESCES - escrito da mesma maneira nas duas fotografias: em rodapé e no mapa. Donde se prova que não foi gralha, mas tão só a ignorância descomnunal dos "legendadores".
Fonte das imagens:
Um excelente texto, escrito em Bom Português, para reflectirmos o actual estado do país, através da actual comunicação social (com dignas excepções), vendida ao poder político-partidário, numa total e vergonhosa vassalagem.
Informa-se só o que interessa aos governantes, aos políticos, aos partidos; fala-se incorrectamente, e legenda-se ainda pior, ou seja, na versão mais inculta da Língua Portuguesa.
Faço minhas, todas as palavras de António Barreto.
António Barreto (Sociólogo português)
(Origem da foto: Internet)
Texto de António Barreto
AS NOTÍCIAS NA TELEVISÃO
«É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital.
A banalidade reina. O lugar-comum impera.
A linguagem é automática.
A preguiça é virtude. O tosco é arte.
A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.
Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não se sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense.
Os alinhamentos são idênticos de canal para canal. Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.
Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiza a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.
Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.
É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa!
Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo.
Arte? Um director-geral chega. Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.
A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial.
Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.
Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.
A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor!
Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão».
Origem do texto:
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/antonio-barreto/interior/as-noticias-na-televisao-5407534.html
Um excelente texto, escrito em bom Português, para reflectirmos o actual estado do País, através da actual comunicação social (com dignas excepções), vendida ao poder político, numa total e vergonhosa vassalagem.
Informa-se apenas o que interessa aos governantes, aos políticos, aos partidos; fala-se incorrectamente, e legenda-se ainda pior, ou seja, numa mixórdia ortográfica, arrastada pelo AO90, mas não só...
Faço totalmente minhas, todas as palavras de António Barreto.
António Barreto (Sociólogo português)
(Origem da imagem: Internet)
Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo
É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática.
A preguiça é virtude. O tosco é arte.
A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.
Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não se sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense.
Os alinhamentos são idênticos de canal para canal. Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.
Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiza a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.
Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.
É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa!
Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo.
Arte? Um director-geral chega. Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.
A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial.
Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.
Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.
A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor!
Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão.
Origem do texto:
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