Em Março do corrente ano, um Grupo Cívico de Cidadãos enviou a Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira das quatro vias de um APELO para que faça cumprir a alínea 3, do Artigo 11.º, da Constituição da República Portuguesa, o qual Marcelo pura e simplesmente DESPREZOU, como se os 297 cidadãos portugueses e alguns brasileiros não merecessem resposta por sermos animais irracionais? Por sermos poucos? AINDA somos poucos, mas CONTAMOS.
Da lista fazem parte cidadãos das mais variadas áreas profissionais, no activo e reformados, que exigem do Chefe de Estado Português uma posição firme em relação à ilegalidade e inconstitucionalidade da aplicação do AO90 nas escolas e, subsequentemente, a introdução da Variante Brasileira do Português, em Portugal, descartando a NOSSA Língua, consignada na Constituição da República Portuguesa.
Todos sabemos que Marcelo Rebelo de Sousa é um luso-brasileiro, mais brasileiro do que luso, e um fervoroso defensor do AO90, mas, acima de tudo, é o PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA e, como tal, deveria comportar-se DEFENDENDENDO os interesses de Portugal, em vez de, DESCARADAMENTE, defender os interesses do Brasil.
Isto é algo intolerável, e se a comunicação social, bajuladora e servilista, não cumpre o seu papel que é o de INFORMAR o País da vergonhosa subserviência dos órgãos de soberania portuguesa ao Brasil, permitindo que Portugal já seja considerado, naquele país, o seu 28º Estado, e que o Português, que circula na Internet, seja assinalado pela bandeira brasileira, em vez de o ser pela bandeira de Portugal, haja quem o faça. Somos um Grupo Cívico que tem DIREITO a ser considerado.
Seria possível alguma vez a Língua Inglesa ser assinalada, na Europa, pela bandeira dos EUA? JAMAIS! E sabem porquê? Porque os órgãos de soberania do Reino Unido são VERTEBRADOS, não andam curvados. Têm verticalidade.
Daí que venha CONVOCAR todos os subscritores do APELO que residem em Lisboa ou nos arredores, ou os DESACOSDISTAS que possam deslocar-se a Belém para as seguintes acções:
- que vão a Belém e tentem chegar à fala com Marcelo e lhe entreguem uma cópia em papel do apelo que fizemos;
- os jornalistas no activo, que fazem parte da lista dos subscritores, poderiam pedir-lhe uma entrevista;
- os escritores anti-AO, que participarão na Feira, peçam ao PR uma audição para falar neste assunto gravíssimo para o nosso País, para o nosso Povo, para a nossa Cultura, para a nossa História, para o FUTURO das nossas crianças e jovens que andam a levar gato por lebre nas escolas.
- ou outra iniciativa qualquer...
É porque já chega de nos fazerem de parvos.
Eu é que não tenho condições de ir a Lisboa, neste momento. Se tivesse, havia de fazer alguma coisa que se visse. Lamento muito não poder ir.
Este é um bom momento para ACTUAR. E que ACTUE quem puder. Por favor.
Eis o link para a notícia desta Festa do Livro, que não deixa de ser uma iniciativa FALACIOSA, uma vez que NÃO se trata de promover a NOSSA Cultura Linguística, mas disseminar uma linguagem que não nos pertence, e que Marcelo promove por todos os meios ao seu alcance, DESCARADAMENTE, inclusive no Palácio de Belém , a sede da Presidência da República Portuguesa.
Isabel A. Ferreira
Na imagem vemos um exemplo. Mas há alguns poucos mais, no que respeita ao “acordo” ortográfico, simplesmente porque os Brasileiros pronunciam algumas consoantes, que os Portugueses não pronunciam, por exemplo: percePção, recePção, excePto, aspeCto, perspeCtiva, infeCtar (e as suas derivações) e mais umas poucas, que escaparam à mutilação levada a cabo pela Reforma de 1943, no Brasil. Porque era preciso baixar o elevadíssimo índice de analfabetismo e deslusitanizar o Português (cujo maior incentivador foi Antônio Houaiss, o homem dos dicionários e das enciclopédias). O que só por si, não dá direito a nenhum político de deformar um IDIOMA.
De resto, nessa mesma reforma, todas as outras palavras com consoantes que não se pronunciavam, tais como em afeCto, direCto, faCtura, teCto, arquiteCto, baPtizado, entre centenas de outras, foram mutiladas apenas porque sim.
E esta filosofia de “o que não se lê, não se escreve”, herdada do Formulário Ortográfico de 1943, é que está na base do AO90.
Fonte da foto:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3487626911283683&set=gm.671650906824288&type=3&theater&ifg=1
Se fosse apenas isto!
Mas já se abordou isto milhões de vezes, ao longo destes 30 anos de duração da tal “unificação” que nunca aconteceu.
Nunca aconteceu, e jamais acontecerá. Mas eles insistem. Por teimosia? Não. Por ignorância? Também não. Simplesmente porque a intenção do AO90 nunca foi unificar as ortografias, até porque isso seria completamente impossível (e os que o engendraram sabiam disso) dadas as particularidades da Variante Brasileira da Língua Portuguesa em todas as suas vertentes. A intenção era, e continua a ser, acabar com a Língua Portuguesa.
Na Internet ela já desapareceu, como é facilmente comprovado. Mas não só.
Eis um exemplo que me deixou completamente passada.
Este é o telemóvel de um menino, que o tem exclusivamente para contaCtar os Pais e os Avós em caso de necessidade, e apenas em caso de necessidade.
Sim, é um menino português, que anda na escola básica a aprender os números e a ler e a escrever e a contar, e mais algumas matérias.
O menino sabe falar. E quando fala diz que tem o contaCto dos Pais e dos Avós, para casos de emergência. Anda a aprender a sua Língua Materna, já bastante mutilada. Mas sabe que se lê e escreve contaCto, com cê. De repente depara com contato, lê contátu e não sabe o que isto é.
E isto é uma pouca-vergonha. O que pretendem com isto?
A rede do telemóvel é a NOS.
Dizem-me que a NOS é uma operadora portuguesa de televisão a cabo e satélite e fornece serviços de televisão, acesso à Internet, telefones fixo e móvel.
Bem, se é uma operadora portuguesa, não deveria escrever contaCto, até porque em Portugal lemos o cê?
Aquele “criar contato” o que será? Uma afronta? Uma subserviência? Uma ignorância? Ou faz parte do plano para acabar com a Língua Portuguesa, e, para tal, contam com cúmplices por toda a parte, incluindo a cumplicidade do Chefe de Estado Português, uma vez que, por aí, “contato” e “fato” são faCtos consumados.
E Marcelo Rebelo de Sousa, que deveria ser o garante da nossa IDENTIDADE, cala-se perante esta escalada de subserviência à Variante Brasileira da Língua Portuguesa.
Nada contra o Brasil, mas tudo por Portugal.
Isabel A. Ferreira
Costumo trocar ideias, com desacordistas, para tomar o pulso à situação caótica que se vive em Portugal, no que a quase tudo diz respeito, mas especificamente no que se refere à pouca-vergonha que evolve a questão da Língua Portuguesa, e que os governantes, silenciam e fazem-de-conta que não é nada com eles, achando que os Portugueses andam todos a dormir a sesta, particularmente o Chefe de Estado Português, que se mete em tudo e mais alguma coisa, até em matérias que nem sequer são da sua competência, mas foge, como o diabo da cruz, desta gravíssima questão da Língua Oficial Portuguesa, que está em vias de deixar de ser portuguesa, se nada fizermos para o impedir.
Numa dessas trocas de ideias, um Professor aposentado fez uma análise objectiva sobre o estado babelesco da nossa desventurada Nação, e por considerá-la perfeita, decidi partilhá-la com os meus leitores, juntamente com a resposta que lhe dei.
«Dr.ª Isabel, bom dia, revi os seus links; já os tinha lido, nomeadamente os comentários de Paulo Franchetti, de Sérgio Vaz e do Dr. Ivo Miguel Barroso que esgrime argumentos do domínio da jurisprudência que só reforçam a certeza da ilegalidade (e eventual inconstitucionalidade) do (dito) AO90; ou seja, tudo não passa de um atropelo grave à Lei, o que reforça a convicção de que não estamos num Estado democrático: as negociatas, os convénios sigilosos - e este caso, em que tudo ficou decidido à porta fechada (?!) entre o indivíduo Casteleiro e o Houaiss só ilustra isso mesmo; aliás o nosso sistema é uma "partidocracia", em que os partidos políticos mais não fazem do que distribuir entre si "tachos", prebendas e lugares "seguros" e protegidos, o que confere à nossa “democracia” um aspecto de autêntica palhaçada (como diz o Povo, é tudo "farinha do mesmo saco"). Numa verdadeira democracia, não se assiste a deputados a fazer batota (na A. R.), assinando uns pelos outros (são premiados pela presença, e não penalizados pela ausência !!), sem falar de aspectos caricatos de deputadas que vão para o plenário pintar as unhas, etc. etc..
E quando me refiro a partidos há que frisar que se trata somente daqueles que se "vêem", e que são a face visível do iceberg, dado que a parte "imersa", as maçonarias (ou que parece, três confissões) essas é que mexem todos os "cordelinhos", colocando os seus "irmãos" e "confrades" nos melhores postos da máquina do Estado, num secretismo totalmente absoluto, que nada tem que ver com democracia / transparência.
Trago isto à colação só pelo facto de que todo este "cozinhado" de tratamentos à porta fechada, imbuído de secretismos, tudo feito por "detrás da cortina" é que ajuda a explicar os bloqueios das iniciativas ILCAO. É por demais evidente que as Editoras de manuais escolares, dicionários, etc., "coladas" ao Ministério da Educação (e quando eu estava no activo já se falava e se comentavam os dramáticos problemas de solvabilidade e sobrevivência que as afectavam) tudo fazem por se agarrarem ao Poder, por isto mesmo é que o partido do Poder, P.S., nem sequer deixa "mexer" no assunto.
Volto a insistir, só com uma acção de "longo curso" a cargo da " linha da frente", só com o repúdio definitivo por parte de Angola (parece já averbado) e do Brasil (toda a esperança mantêm-se de pé) e com o "magistério de influência" de figuras gradas da vida política (…), só com estes argumentos é que eu penso ser possível um volte-face.
Há que dar tempo ao tempo.
Um abraço do A. V.
Para quem não sabe: Gregório de Matos Guerra, conhecido pela alcunha de Boca do Inferno ou Boca de Brasa (por atacar a Igreja Católica do seu tempo) foi um advogado e poeta português, nascido na então colónia do Brasil, em 1636. É considerado um dos maiores poetas do Barroco em Portugal e no Brasil, e o mais importante poeta satírico da Literatura de Língua Portuguesa, podendo dizer-se que era um autêntico enfant terrible.
***
A minha resposta:
Caro Professor,
Vou começar pelo fim: há que dar tempo ao tempo. Há. Nada acontece fora do tempo. Entretanto, o tempo vai passando, e os vícios deste novo dialecto vão-se espalhando, como os tentáculos de um polvo, e os todo-poderosos ganhando terreno, porque os da “linha da frente”, como o professor lhes chama, estão quietinhos no seu canto, enquanto Angola prepara a sua nova Língua, e o Brasil se afasta, cada vez mais, do AO90, que engendrou com Malaca Casteleiro (que Deus o tenha em paz, junto com Antônio Houaiss, uma vez que Evanildo Bechara (que completa a trilogia dos predadores-mor da Língua Portuguesa) do alto dos seus 92 anos, ainda vai fazendo e dizendo das suas.
(…)
É preciso abanar, quiçá, destruir, as estruturas de cimento (bem) armado que o Poder construiu, para manter sequestrada a Língua Portuguesa, enquanto deixa à solta o linguajar feio e pobre, esfarrapado e miserável, engendrado por mentes insanas, para a destruir, com uma finalidade absolutamente insólita.
Quem ousará abanar essas estruturas? Todos os que as poderiam abanar têm algo a perder com a ousadia, daí que não mexam uma palha, para defender e salvar a Língua Portuguesa. E o que fazem aqueles que têm acesso às televisões? Calam-se. (*)
E é isto que tenho a dizer por hoje.
As minhas saudações (cada vez mais) desacordistas,
(*) Bem, alguns lá vão, esporadicamente e de passagem, dizendo umas e outras contra o AO90. Mas muito esporadicamente e de passagem. Nada que abane as estruturas. Lamentavelmente.
Isabel A. Ferreira
… porque o mundo continua a girar, e a Língua Portuguesa a ser esmagada, cada vez mais, e porque está montado um esquema de bloqueio a qualquer tentativa de erradicar o AO90 da face da Terra, questão à qual regressarei brevemente.
É certo que o momento que atravessamos desvia a nossa atenção da implantação ilegal do AO90 em Portugal (que ceifa a nossa Língua Portuguesa, pela vontade de uns tantos políticos atacados pela doença dos três is: Insciência, Irresponsabilidade e Incompetência) para a situação gravíssima que vivemos, devido à implantação natural de um novo coronavírus (que ceifa vidas, pela vontade da Mãe Natureza, quando esta pretende enviar aos homens mensagens claras, se bem que nunca entendidas pelos que se julgam os donos do mundo).
Contudo, devido à existência de uma ILCAO (Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico), que tarda a ser discutida no Parlamento, e aos rumores que por aí correm, assentes na premissa da irreversibilidade do AO90, sustentada por seres não-pensantes, é necessário reflectir sobre isto, agora que estamos num tempo de profundas reflexões.
É essa reflexão que proponho, ficando subjacente também a reflexão sobre a impotência dos homens diante da potência cósmica.
Pensemos:
Se foi possível destruir o que levou séculos a ser construído racionalmente, mais possível ainda é reconstruir o que foi destruído irracionalmente, em 10 anos.
O argumento da irreversibilidade do AO90 que, ardilosamente, andam por aí a espalhar com o fito de se pensar que, lá pelo facto de já estar instalado, não é mais possível voltar atrás, é coisa para mentes mirradas e imbecis, porque o caos sempre pôde ser ordenado, e a Fénix pode ressurgir das cinzas a qualquer momento.
Origem das imagens: Internet
Quando olhamos para a destruição de Berlim, por exemplo, depois da II Guerra Mundial, parecia impossível reconstruir a cidade a partir daquele caos, daquele monte de destroços, daquelas cinzas... No entanto, quando à vontade dos HOMENS (reparem que não me referi a hominhos) se acrescenta a inteligência, a responsabilidade e a competência encontra-se a fórmula perfeita e poderosa para fazer do impossível, o possível.
Apenas ressuscitar os mortos não é possível.
Como a Língua Portuguesa não está morta, está viva e bem viva, e cada vez mais viva, nas novas edições que vão surgindo, ver aqui:
https://www.facebook.com/portuguesdefacto/
exterminar o AO90 é possível, e cada vez mais imprescindível.
Uma Língua, ainda que adormecida ou mutilada, é sempre possível recuperar.
Dizem que o Latim é uma língua morta. Nada mais errado. O Latim é uma língua adormecida. Pode ser acordada a qualquer momento e ser activada nas escolas, o que seria bem necessário, para se compreender por que não se deve SUPRIMIR as consoantes ditas mudas, por exemplo. É por isso que os que estudaram Latim têm uma perspectiva diferente dos que não estudaram Latim, e não vomitam que a Língua Portuguesa é a língua do colonizador, ou a do Estado Novo, daí que seja necessário destruí-la e substituí-la pela língua do colonizado.
Portanto, abortar a questão do AO90, não só é possível, como desejado por milhares de falantes e escreventes de Língua Portuguesa, nos oito países, ditos lusófonos. O estrago que já se fez à Língua não é irrecuperável. Portugal ainda vai muito a tempo de desfazer o malfeito e malfadado (des)acordo.
Aqui há tempos espalhou-se, por aí, a notícia de que os candidatos à Educação nos Cursos Superiores são os que têm pior desempenho a Português. Pudera!!!! Nada que não fosse expectável.
Esta notícia devia ter sido considerada por aquele grupo (fantasma?) criado para avaliar o impacto do AO90 (?) para que daí pudesse tirar conclusões objectivas, ou seja, que a aplicação (ilegal) do AO90 é de tal modo caótica que, hoje em dia, desde os governantes ao mais alto nível, incluindo o Chefe de Estado português, e os professores e os acordistas seguidistas, não sabem escrever correCtamente a sua Língua Materna, a Língua Portuguesa. Aliás, o que se escreve por aí nem sequer é o tal acordês. A linguagem (escrita e falada), que anda por aí disseminada tal qual um vírus, é um mixordês de fazer corar as pedras da calçada portuguesa.
E a tendência para piorar é cada vez mais crescente. Basta-nos estar atentos às legendas, nas televisões e às falas. Como se escreve e fala mal, em Portugal! Que país deixa chegar a este ponto um Património Cultural Imaterial tão precioso?
E não se pense que o que está instalado por aí é o sucesso do AO90, como os acordistas pretendem. Não! O que está instalado por aí é o seu bestial insucesso.
De modo que, repito, se foi possível destruir o que levou séculos a ser construído racionalmente, mais possível ainda é reconstruir o que foi destruído irracionalmente, em 10 anos, e fazer a Língua Portuguesa ressurgir dos destroços a que o AO90 a reduziu.
E isto em nome de um ensino de qualidade, a começar pela Língua Materna, consignado na Constituição da República Portuguesa (CRP), e a que TODOS os Portugueses têm direito. E isto está a falhar desastrosamente, vergonhosamente, bem nas barbas do Chefe do Estado Português, que nada faz para acabar com este insulto à CRP.
O que, neste momento, o Estado Português está a permitir, nas escolas portuguesas, é um ensino caótico, baseado numa aprendizagem incorreta (lê-se incurrêtâ, e quem não lê assim, é um zero a Gramática Portuguesa) da Língua Materna, que engloba todas as outras disciplinas, lançando o caos e fomentando a ignorância.
E será que não existe em Portugal nem um governantezinho que seja, que se aperceba deste caos que está a transformar o nosso país no paraíso dos analfabetos funcionais? Dos que vão para a escola desaprender a escrever?
Pensem nisto, senhores governantes e senhores professores, porque isto é uma vergonha. Porque isto é um vírus que não mata as pessoas que são atacadas por ele, mas mata a Língua Portuguesa, através dessas pessoas infeCtadas. Mata a nossa Língua Materna, um património inviolável. É que uma Língua não se destrói, constrói-se. Uma Língua não retrocede, evolui. E evoluir é acrescentar, não é suprimir.
Isabel A. Ferreira
Ler o que Sua Excelência disse é uma coisa. Ouvir é outra.
«Lá vem a Nau Catrineta, que tem muito que contar, ouvi agora senhores uma história de pasmar»…
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa (ou deverei dizer República Luso-Brasileira?) dá uma entrevista no Palácio de Belém, usando um sotaquezinho brasileiro, e diz ele: «Estou a fazer um enorme esforço para não falar à brasileira». Mas falou.
(Ver vídeo mais abaixo).
Sim, senhor Presidente da República Portuguesa, deve ficar preocupado, preocupadíssimo, porque são muitos os Portugueses que, depois do que ouviram, na entrevista que deu ao jornalista brasileiro Pedro Bial, ficaram surpreendidos, decePcionados, estarrecidos, arrepiados, horrorizados, tristes, com a subserviência do Chefe de Estado Português a um país que, apesar de irmão, é estrangeiro. Ficará para a História com dois cognomes: «Celinho das Selfies" e Dom Marcelo Rebelo de Sousa, o Subserviente.
Repare-se nas construções frásicas: meu irmão, meu avô, meus filhos, meu pai, minha campanha, de minha conta. Já não diz o meu irmão, o meu avô, os meus filhos, o meu pai, a minha campanha, da minha conta… (surripia os artigos, como fazem os Brasileiros).
E na fonética: prôfêssor, dêlirante, ôlhando, rêcandidátura, dêcido, considêrá, pôndêrá, Vêrão, Brásiu, eu me lembro, me levou, êducáção, subêsêcretário de estado, meu estilo é diferente, as duas comunidades se descobriram, uma relação muito formau, me adaptei, está acompanhando (usa os gerúndios).
O que é isto?
Este não é o Português Europeu. O Português do meu País. Não é o Português que o Chefe de Estado Português deva usar, quando está a representar Portugal, como Chefe de Estado Português.
Isto é inadmissível. Muito mau, senhor presidente. Não faça esforço. Já se espalhou. Está no Palácio de Belém, como Presidente da República, não como avô, ou pai, ou amigo dos brasileiros. Nem sequer está no Brasil. Também não está num "café" a bater um papo com um amigo brasileiro, ou com os netos.
Estava a dar uma entrevista no Palácio de Belém, como Presidente da República Portuguesa, a uma estação de televisão brasileira.
Pedro Bial não prescindiu da Língua dele, para entrevistar o PR português. Porém, o PR português prescindiu da sua Língua para dar a entrevista. Quanta subserviência!
Agora entende-se porque se remete ao silêncio, na questão do AO90, e despreza a opinião pública portuguesa, e não responde, como é de seu DEVER, às cartas que lhe escrevemos, a este respeito.
Não surpreende que a sua popularidade esteja a cair vertiginosamente. É que nem todos, em Portugal, são bajuladores.
Ao ouvir esta entrevista, senti vergonha do Chefe de Estado do meu País. E, inegavelmente, Marcelo Rebelo de Sousa não representa Portugal, nem milhares de Portugueses, que pensam como eu. Não me representa.
Isabel A. Ferreira
Um texto publicado no Folha 8, jornal Angolano.
Livre, independente, de informação geral e comprometido com a verdade. Folha 8, mais do que um jornal, a liberdade! conforme consta na sua apresentação.
O seu director adjunto, Orlando Castro, assinou o texto, do qual me dispenso de fazer comentários.
Apenas direi que se trata de um texto correCtamente escrito, num Português escorreito, algo que já não existe em Portugal, e que nos conta o que os órgãos de comunicação social portugueses não contaram, mostrando apenas os “banhos de multidão” do “Ti Celito” (como é chamado em Angola), que valem o que valem. (I.A.F.)
O chefe de Estado português elogiou o “projecto de paz, de democracia, de regeneração financeira, de desenvolvimento económico, de combate à corrupção” protagonizado pelo Presidente de Angola, João Lourenço. Se o MPLA dizia que José Eduardo dos Santos era o “escolhido de Deus”, Marcelo Rebelo de Sousa diz que João Lourenço é o próprio… “Deus”.
Por Orlando Castro
Numa intervenção durante um jantar oficial oferecido por João Lourenço, no Palácio Presidencial, em Luanda, Marcelo Rebelo de Sousa saudou-o como “o vulto cimeiro de um novo tempo angolano”. Não se terá lembrado de o propor para um Prémio Nobel, mas até ao fim da visita dita de Estado ainda está a tempo.
“Vossa excelência protagoniza-o com um projecto de paz, de democracia, de regeneração financeira, de desenvolvimento económico, de combate à corrupção, de afirmação regional e mundial. Nós, portugueses, seguimos com empenho essa aposta de modernização, de transparência, de abertura, de inovação, de acrescida ambição”, afirmou Marcelo, bem ao estilo dos sipaios coloniais, mas com uma substancial diferença. Estes eram obrigados a bajular, o presidente português não é obrigado a isso. Ou será que é?
Segundo o Presidente português, João Lourenço protagoniza “um novo tempo angolano, na lúcida, consistente e corajosa determinação de aproveitar do passado o que se mantém vivo, mas, sobretudo, entender o que importa renovar para tornar o futuro mais possível, mais ambicioso e mais feliz para todos os angolanos”.
Bem dizia Eça de Queiroz, provavelmente antecipando a pequenez intelectual de um tal Marcelo que haveria de ser presidente de Portugal, que “os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão”.
Vejamos, por exemplo, o que disse Guerra Junqueiro, num retrato preciso e assertivo de Marcelo Rebelo de Sousa e de grande parte dos seus cidadãos: “Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.
Continuemos, para memória futura, com o brilhantismo bacoco de Marcelo. Diz ele que, da parte de Portugal, Angola conta com “o empenho de centenas de milhares que querem contribuir para a riqueza e a justiça social” com o seu trabalho, bem como “das empresas, a começar nas mais modestas, no investimento e no reforço do tecido socioeconómico angolano” e também com “o empenho das instituições públicas portuguesas, do Estado às autarquias locais”.
“Podem contar connosco na vossa missão renovadora e recriadora. Portugal estará sempre e cada vez mais ao lado de Angola”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, fazendo aqui e mais uma vez o exercício de passar aos angolanos um atestado de menoridade e matumbez.
Portugal, por sua vez, conta com a “incansável solidariedade” de Angola. “Contamos com os vossos trabalhadores, as vossas empresas, as vossas instituições públicas, a vossa convergência nos domínios bilateral e multilateral. Temos a certeza de que Angola estará sempre e cada vez mais ao lado de Portugal”, prosseguiu Marcelo no seu laudatório e hipócrita exercício de servilismo.
De acordo com o Presidente português, este “novo momento na vida de Angola” coincide com “um novo ciclo” nas relações bilaterais. “E nada nem ninguém nos separará, porque os nossos povos já estabeleceram o seu e o nosso caminho”, considerou Marcelo, sentindo o umbigo aos saltos, alimentado pela esperança de que os portugueses não acordem e os angolanos nunca lhe cobrem a cobardia.
“Porque estamos mesmo juntos, na parceria estratégica, na cooperação económica, financeira, educativa, científica, cultural, social e política. Porque no essencial vemos o mundo e a nossa pertença global e regional do mesmo modo, a pensar na paz, nos direitos humanos, na democracia, no direito internacional, no desenvolvimento sustentável, na correcção das desigualdades”, argumentou aquele que, em matéria de bajulação, bateu todos os recordes anteriores, desde Álvaro Cunhal a Rosa Coutinho, passando por Vasco Gonçalves, José Sócrates, António Costa, Cavaco Silva, Passos Coelho e tantos outros.
No final da sua intervenção, de cerca de sete minutos (que entrará para o “Guinness World Records” por ser o que mais bajulação fez em tão curto espaço de tempo), Marcelo Rebelo de Sousa disse que “a história faz-se e refaz-se todos os dias e nuns dias mais do que noutros”, acrescentando: “Estes que vivemos são desses dias”.
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