Terça-feira, 9 de Março de 2021

«Ladrões de facto ou de fato»

 

Uma crónica de Bruno Fialho

 

Bruno Fialho.png

Origem da foto: Por ASentinela - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=93261762

 

«Num primeiro momento, o título pode levá-lo a pensar que hoje vou falar sobre o “novo Acordo Ortográfico”, que foi assinado em 1990, o qual, na minha opinião, mais parece um “aborto ortográfico” e é um verdadeiro atentado à língua portuguesa e à nossa soberania nacional.

 

Lamento informar, mas este artigo é sobre o facilitismo e a forma desavergonhada em como os governantes roubam à vista desarmada, tudo isto, sem que surja, pelo menos, um sentimento de revolta popular.

 

Mas, antes de aprofundar esse tema, que no final vai ficar a perceber que tem tudo a ver com o “novo acordo ortográfico”, não posso deixar de mencionar algumas das razões pelas quais sou contra esse acordo de 1990 que, em abono da verdade, já não é novo, e por que o considero um atentado à língua portuguesa e à nossa soberania nacional, a saber:

 

–  O acordo quis impor a unificação da ortografia, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa, através de uma decisão política, sem respeitar as diferenças naturais de cada povo;

 

– A ortografia portuguesa levou cerca de 700 anos a estabilizar-se e não se pode querer alterá-la por decreto;

 

– O novo Acordo não teve em consideração a opinião dos especialistas;

 

– A grande maioria da população é contra;

 

– Não é minimamente aceitável aceitar mudar a nossa ortografia apenas porque outro país, o Brasil, assim o exige, para que fosse mais fácil (a esse país) ler, traduzir e reproduzir textos oficiais ou outros.

 

Perante isto, faço uma pergunta aos portugueses: conseguem imaginar o povo Inglês sujeitar-se alterar a ortografia inglesa, simplesmente porque os Estados Unidos da América exigiam tal coisa por motivos fúteis ou económicos? Evidentemente que não! Então, porque é que Portugal se sujeitou a tal situação? Presumo que, como habitual, devem de ter estado envolvidas grandes contrapartidas para alguém… Ou seja, mais um roubo à vista desarmada.

 

Assim sendo, relativamente ao assunto principal de hoje, esclareço que irei comentar mais um roubo perpetrado pelo nosso Governo, nomeadamente aquele que foi realizado através da Presidência da União Europeia, onde o executivo português decidiu gastar, numa altura de pandemia em que milhares de portugueses estão sem salário ou obrigados a encerrar os seus negócios, centenas de milhares de euros em contratos para aquisição de equipamentos, bebidas e roupa para eventos que não serão realizados presencialmente.

 

Acontece que, infelizmente os nossos governantes estão habituados a cometer todo o tipo de crimes sem serem julgados ou punidos, seja crimes de roubo, furto, desvio de fundos, pedofilia, falsificação de documentos para concursos na UE ou até os cometidos pela altura das privatizações da EDP, REN, CTT e da TAP, em que as vendas dessas empresas ao desbarato prejudicaram e ainda prejudicam o país, mas encheram os bolsos de quem adquiriu.

 

Todos estes crimes têm acontecido à vista de todos nós, sem que o povo se revolte e exija a prisão efectiva dos criminosos.

 

E regressando à questão dos contratos feitos pelo nosso governo na presidência da EU, o que dizer sobre os 260 mil euros previstos num contrato para equipar um centro de conferência de imprensa em Lisboa que não é utilizado, pois as reuniões são realizadas em plataformas digitais, ou o contrato para fornecimento de bebidas, no valor de 35 mil euros e ainda um outro contrato para compra de fatos e camisas, no valor de 39 mil euros, onde a roupa seria usada em eventos que não se realizaram e não se irão realizar.

 

Este verdadeiro roubo ao nosso bolso e da Europa é algo que não perturba o sono de quem nos (des)governa, porque os portugueses aceitam tudo passivamente, como se ainda estivéssemos no tempo do feudalismo, no qual os camponeses (actualmente representados por quem trabalha e paga impostos) eram a base da sociedade feudal e mesmo sendo a expressa maioria da população (neste momento pode já não ser assim), eram subordinados à autoridade dos grandes proprietários de terra pelo sistema de servidão, tal como hoje acontece com os portugueses em relação aos nossos governantes.

 

E pergunta agora o leitor, e o que é que isso tem a ver com o novo acordo ortográfico?

 

A resposta é simples. O novo acordo ortográfico roubou aos portugueses parte da nossa cultura e ortografia, da mesma forma que estes “contratos” da presidência da União Europeia roubaram dinheiro ao povo português, sem que ninguém seja condenado, preso ou as pessoas saiam à rua para mudar isto tudo, pois votam sempre nos mesmos ou preferem abster-se.

 

Por outro lado, estes roubos também têm algo a ver com a possibilidade de escrever de duas maneiras, previsto no novo acordo ortográfico porque, com o dinheiro que se gastou em peças de vestuário (39 mil euros), os ladrões de facto vão andar de fato.»

 

Bruno Fialho Opinião

 

Fonte: https://diariodistrito.pt/ladroes-de-facto-ou-de-fato/

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:40

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2021

«Leitura, um desígnio nacional»: escritora Patrícia Reis escreve carta ao primeiro-ministro

 

Muito bem dito, para além de muito bem escrito.

 

A escritora Patrícia Reis escreve carta ao primeiro-ministro porque é muito triste um governo fechar o País aos Livros, logo numa altura em que os Bons Livros, escritos em Bom Português, são uma Boa companhia, para passar o tempo do confinamento.  (Isabel A. Ferreira)

 

Patrícia Reis.jpg

Por Patrícia Reis

 

Leitura, um desígnio nacional

Carta ao Primeiro-Ministro

 

Como não creio que a Leitura e a Educação dependam de uma única tutela, e considerando que é o Ministério da Economia que interdita a circulação de livros, opto por lhe escrever deste modo, para o exortar a fazer da Leitura um desígnio nacional. Não estranhe este meu pedido - será apoiado por muitas pessoas, algumas suas apoiantes, algumas militantes do seu partido, outras com quem trava amizades de natureza distinta. O livro une-os, é parte indissociável da nossa identidade cultural. O senhor deverá saber que assim é, já que é filho de um escritor e de uma jornalista, ambos seres humanos de excepção. O índice de leitura neste país faz corar de vergonha. Outros indicadores também, já se sabe, mas a leitura é algo que nos garante o futuro. Diria mesmo que é na promoção da leitura, que implica pensamento, que podemos evitar outros índices menos democráticos. Enfim, é uma ideia.

 

Temos a mania, nós que habitamos num grande centro urbano, de ver o país à nossa medida, a partir da nossa realidade. Nada de mais errado. Existem muitas cidades, vilas e localidades em Portugal cujo acesso à leitura é feito na sucursal dos CTT, na tabacaria local ou nos hipermercados. A venda em hipermercados é uma discussão que deveria ser considerada, já que é realmente injusta face aos restantes livreiros; contudo, em tempos de pandemia, retirar os livros e deixar as revistas, por exemplo, é totalmente incompreensível. Tenho um grande amigo que foi comprar um livro clandestinamente. Rimos sobre isto, mas não tem graça. Os livros vendiam-se debaixo da mesa noutros tempos, que não desejamos revisitar.

 

Fazer da Leitura um grande desígnio nacional é um projecto ambicioso e cuja tutela deveria ser sua, não do Ministério da Cultura, da Economia ou da Educação. Temos de preparar o nosso futuro, temos de fomentar pensamento, temos de perceber a importância de estarmos atentos, informados, com a maior cultura geral possível e, já agora, com vocabulário enriquecido, ao contrário do que sucede nas redes sociais e afins.

 

Bem sei que estes são tempos em que o foco está, acima de tudo, nas questões de saúde. Nada contra, como pode facilmente imaginar, para mais uma pessoa como eu. É preciso ter visão, importa projectar e entender que o nosso modo de vida será, fatalmente, alterado com esta pandemia. Muitos negócios extinguir-se-ão, outros irão sofrer durante um longo período. A Leitura pode salvar-nos. Outros sectores da Cultura estão a sofrer, é verdade, e existem situações realmente preocupantes. Como escritora, apoio os movimentos do meio artístico. Como leitora cito-lhe a poetisa Filipa Leal: “Havemos de ir ao Futuro”. Sem livros, senhor Primeiro-Ministro, sem leitura promovida e acarinhada, o futuro adivinha-se muito perigoso.»

 

Fonte: https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/carta-ao-primeiro-ministro

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:40

link do post | comentar | adicionar aos favoritos (1)
partilhar
Quarta-feira, 7 de Fevereiro de 2018

«O fato do senhor deputado»

 

E pensar que tudo isto seria escusado se os governantes portugueses (nomeadamente os actuais socialistas - inimigos nº 1 da Língua Portuguesa) não tivessem a mania da subserviência aos mandos estrangeiros!

 

FATO.png

 

O fato do senhor deputado

 

in Blog AVENTAR

06/02/2018 by António Fernando Nabais 2 Comments

 

No JN de hoje, o deputado social-democrata (ou do PSD) Paulo Rios de Oliveira escreve sobre os CTT. Aquém do conteúdo, está a forma. Como deputado de um dos partidos que impôs o chamado acordo ortográfico (AO90), é natural que o use.

 

Não sei se Paulo Rios de Oliveira terá sido apoiante de Santana Lopes nas últimas eleições internas, mas é, em termos ortográficos, um seguidor fiel do candidato derrotado por Rui Rio. Na realidade, foi Santana Lopes que declarou “Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa).”

 

Os defensores do AO90 lá virão lembrar que, em Portugal, a palavra continua a escrever-se da mesma maneira, por causa do “critério fonético”. É claro que uma expressão “continua a escrever-se” está no mundo das regras, território semelhante ao das leis. Ora, uma lei mal feita, com erros de concepção e enunciados vagos, não pode ser respeitada nem desrespeitada.

 

O AO90 é uma dessas leis. Ao misturar um vago critério fonético com duplas grafias, mais quedas de consoantes portuguesas e manutenção de consoantes brasileiras ou vice-versa, as analogias descontroladas vêm à tona e a ortografia portuguesa está num estado tal que já não existe.

 

Um deputado da nação, certamente alfabetizado e dotado de um mínimo de literacia (o verbo “atentar”, apesar de tudo, rege outra preposição), escreve um texto em que substitui “facto” por “fato”, deixando essa marca visual em centenas de leitores que reproduzirão o erro até que Santana Lopes acabe por ter razão.

 

Fonte:

https://aventar.eu/2018/02/06/o-fato-do-senhor-deputado/#comment-236625

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:07

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar

.mais sobre mim

.pesquisar neste blog

 

.Setembro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30

.posts recentes

. «Ladrões de facto ou de f...

. «Leitura, um desígnio nac...

. «O fato do senhor deputad...

.arquivos

. Setembro 2024

. Agosto 2024

. Junho 2024

. Maio 2024

. Abril 2024

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

.Acordo Ortográfico

A autora deste Blogue não adopta o “Acordo Ortográfico de 1990”, por recusar ser cúmplice de uma fraude comprovada.

. «Português de Facto» - Facebook

Uma página onde podem encontrar sugestões de livros em Português correCto, permanentemente aCtualizada. https://www.facebook.com/portuguesdefacto

.Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt

. Comentários

1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.

.Os textos assinados por Isabel A. Ferreira, autora deste Blogue, têm ©.

Agradeço a todos os que difundem os meus artigos que indiquem a fonte e os links dos mesmos.

.ACORDO ZERO

ACORDO ZERO é uma iniciativa independente de incentivo à rejeição do Acordo Ortográfico de 1990, alojada no Facebook. Eu aderi ao ACORDO ZERO. Sugiro que também adiram.
blogs SAPO