Obrigada, Dr. Luís Filipe Leitão
por Luís Menezes Leitão, em 05.07.20
Uma das características típicas dos governantes portugueses é aprovarem leis completamente absurdas e depois insistirem na sua aplicação, mesmo depois de ser evidente o erro que cometerem. O maior exemplo disto é o acordo ortográfico de língua portuguesa, que nem é um acordo, uma vez que a esmagadora dos países de língua portuguesa não o aplica, nem é ortográfico, uma vez que a grafia que impõe é tudo menos correcta. Melhor seria por isso passar a falar-se do desacordo cacográfico. Mas os seus defensores insistem na sua aplicação, parecendo aqueles pais que estão convencidos de que o seu filho é o único soldado com o passo certo no pelotão. Há, porém, um blogue que, com grande determinação, tem vindo a demonstrar os absurdos desse pretenso acordo ortográfico. O lugar da língua portuguesa é por isso o blogue da semana.
Fonte:
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/blogue-da-semana-11646983
Hoje, fui surpreendida com uma distinção, que não estava nada, nada, mesmo nada à espera: o Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa» foi distinguido como "Blogue da Semana" no conceituado "Delito de Opinião", pelo Professor Catedrático Dr. Luís Menezes Leitão:
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/blogue-da-semana-10489273
Nem sei o que dizer, a não ser muito, muito obrigada, Professor Dr. Luís Menezes Leitão.
Espero continuar a merecer esta confiança.
… não vá não saberem que a Língua Portuguesa não é casta vinhateira que esteja à venda no mercado internacional, mas vector do Património Cultural Imaterial, de acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultura Imaterial da UNESCO, de 07 de Outubro de 2003, ratificada por Portugal, e a qual foi violada, ao impor-se a Portugal uma grafia estrangeira.
A evolução da ortografia consiste na sua estabilização e é isso que ocorre nos países cultos.
Mais um texto antigo sobre um tema actual, porque em Portugal não se avança, não se evolui. Cai-se no erro e ali se fica a putrificar, por comodismo, por ignorância, por interesses duvidosos, apenas porque sim… E a isto chama-se, em bom Português, irracionalidade.
A propósito desse texto antigo, publicado no Blogue Delito de Opinião, “Penso Rápido 19”, de Pedro Correia, escreveram-se vários comentários, que podem ser lidos clicando no link
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/penso-rapido-19-6470222
comentários esses que, só por si, são uma autêntica lição para os governantes que insistem nessa coisa insólita de quererem, porque sim, fabricar uma nova geração de analfabetos escolarizados e funcionais, e acabar com a Língua Portuguesa.
Ao primeiro-ministro António Costa, e a Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, dedico esta lição, constituída pelo apanhado de comentários inseridos no texto citado acima.
(Nota: os trechos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)
***
«Parabéns pelo novo texto sobre o velho tema.
Não convém esquecer desta violação grosseira, cometida com requintes de bestialidade primitiva, no simples acto despótico do legislador.
Na minha opinião é matéria clara para o Tribunal Constitucional.
A Constituição nos seus artigos 9º e 11º refere-se à língua portuguesa em vigor aquando da aprovação, e a mais nenhuma outra.
Isso implica a forma oral e escrita.
A legislação sobre a língua não pode ser feita ao gosto das leis ocasionais dos governos, tem que ser referendada.
Não vou entrar nas conversas sobre o que faz ou não faz sentido.
Já sabemos dos exemplos e contra-exemplos.
O ponto fulcral que o Pedro aqui assinala, e muito bem, é o da estabilidade.
A nossa língua está estável na sua forma falada há mais de 500 anos, conforme atestam os documentos mais antigos a que temos acesso impresso.
Durante todo este tempo sofreu alterações de forma escrita, e foram muitas ao longo destes 500 anos, umas com mais "h" que outras.
Por um breve período de 50 anos adquiriu uma estabilidade sem paralelo, e que era factor de união com os países lusófonos africanos, onde era igual, e nesse acordo de 1946 foi estabelecida a melhor harmonia com o Brasil, dentro das pequenas diferenças.
Eu não me importo de ver escrito português num formato brasileiro, sempre achei que era igualmente possível, e se os brasileiros se entendem assim, isso não causa maior mossa.
Não me importo que os documentos informais, como a Wikipedia, e outros, sejam escritos nesse formato comum.
Não me importo que os documentos entre Brasil e Portugal usem essa grafia.
A Inglaterra tem o mesmo problema com os EUA e nunca se importou.
A solução mais simples, é admitir que ambas as grafias são possíveis.
Ponto Final.
Nunca a Inglaterra abdicou da sua língua original, em termos de património, acima de acordos pragmáticos de vivência.
O que está em causa neste acordo é que com o pretexto de se usar a forma fonética se está a destruir a forma fonética, porque se não lemos o "c" em "espectador", havia uma diferença clara entre "espetador" e "espétador".
Porque o "c" servia a acentuação.
O contexto não resolve tudo, e o exemplo óbvio disso é o "pára" e o "para".
Casteleiro foi um indigente encarregado de trabalhar uma coisa séria, e isso foi propositado, porque certas partes da maçonaria gostam de usar a confusão e destruição de memória pública como móbil privado.
O problema, como é óbvio, é que há certos assuntos que são muito mais delicados do que parecem à primeira vista.
Tanto podemos ter inocentemente o cábula a preferir tirar os "c" todos porque assim é mais fácil escrever, como podemos ter cabala em vez de cábula.
Gosto de exemplos com o Ph.
O nome "Púnica" é suposto ter derivado da transliteração do "phi" grego que passou "Phoenicia", ou seja Fenícia, tirando letras sucessivamente "Poenicia" ou "Punicia" e "Punica".
Assim, quando falamos em "Guerras Púnicas" deveríamos falar em "Guerras Fenícias", mas já nem era bem isso, porque era então com os fenícios de Cartago.
Assim, a transliteração do grego para o alfabeto latino sempre originou problemas. Não foi só recentemente, e podemos ver quando fundo isto pode ter ido, com pai e mãe:
- Em latim, pater e mater, em grego, patera e mêtera.
No português temos pouca correspondência com padre e madre.
No inglês é interessante ver como a colocação de "h" pode ter levado ao que conhecemos, ou seja, "phather" e "mather"... daqui aparece a passagem conhecida do "ph" para "f" ficando "father" e a pronúncia de "mother" usa o "o" como "a".
Se este exemplo pode ser dúbio, não restam dúvidas de como o "Ch" foi usado como passagem a "K" ou não, entre outros.
Por exemplo, ler "Charles" como "Sharles", mas ler "Chaos" como "Kaos".
Este convite à confusão é antigo, e serve poderes que o conhecem contra populações que o desconhecem.
Irrita-me haver gente favorável às modas, quando são as modas que conduzem o rebanho, e já basta o que basta, quanto mais ouvir os "méeee" concordantes.
A evolução da ortografia consiste na sua estabilização e é isso que ocorre nos países cultos.
A modificação por motivos ideológicos e religiosos da ortografia (e de política externa brasileira) - que foi o que aconteceu em Portugal - é um sintoma de atraso e a mudança da grafia de milhares e milhares de palavras um comportamento de ditatorial.
Perdeu-se a noção de norma, aliás com a preciosa ajuda do AO90, que introduz um conceito nada científico - o de "pronúncia culta" para justificar a pseudo-aproximação da ortografia à oralidade.
Um erro, em qualquer parte, é um erro. Mas na ortografia portuguesa, com o mais alto beneplácito do Estado português, um erro passou a ser um não-erro. Porque se perde cada vez mais a noção do que é certo e do que é errado.
Os juízes do tribunal constitucional são nomeados pelos partidos. Por isso, escrevem alegremente em acordês.
Será mais de confiar no Supremo Tribunal ou no TEDH (Tribunal Europeu dos Direitos do Homem) - onde o estado português é um réu condenado repetidas vezes.
O STJ é órgão de recurso das leis comuns, e o TEDH parece completamente fora de causa.
Acho que os juízes do TC já deram mostras que nem sempre alinham com os partidos que os elegeram... mas se respondem a outras "entidades", pois isso não sei.
Se houvesse o número mínimo de deputados, com vontade de colocar a questão, isso seria fácil... se não, é mais complicado.
Curiosamente, ao escrever "órgão" lembrei-me de mais um total disparate do acordo ortográfico... se havia dupla acentuação que não fazia sentido era esta.
Sempre achei uma estupidez, e preferiria escrever "orgão", mantendo a regra de acentuação simples numa palavra que não oferece qualquer confusão.
Mas, não. Os idiotas, foram idiotas ao ponto de tirarem o acento a "pára", mas deixaram ficar os dois em órgão... se isto não é absoluta incompetência caótica, o que se pode chamar?
Precisamente por ter sido elaborado à pressa e às escondidas, em 'petit comité', por meia-dúzia de pessoas ao serviço não da língua portuguesa, mas de propósitos políticos, aliás rapidamente confessados.
Outro dos problemas do actual AO é que grande parte dos seus paladinos não fazem a menor ideia de como aplicá-lo.
Um exemplo característico disso é precisamente a "caraterística", que tem o c pronunciado em português, e assim assinalado em qualquer dicionário com transcrição fonética e, imagine-se, até no próprio VOP, do mais do que insuspeito ILTC:
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/simplesearch.php?
action=lemma&lemma=125633&highlight=^caracter%C3%ADstica$
Sendo que "caraterística" surge assinalado apenas como variante do Brasil.
E no fundo, esta é uma das grandes falhas do AO de 1990: confundir dicção com fonética, e, a partir daí, querer fixar a ortografia com base na fala apenas.
O exemplo salta à vista, falas afectadas, ou truncadas, como a da "caraterística", começam a plasmar-se na escrita (mais uma vez, à margem do recomendado pelo próprio AO), a ganhar forma e até justificação.
Em termos práticos, verifica-se que a tão apregoada mudança da língua (os defensores do AO normalmente valorizam a mudança per se, confundindo mudança com evolução) começa a ser operada da má escrita para a fala, e não da fala para a escrita.
O binómio "cará[c]ter/característica" é um dos exemplos mais chocantes da falta de unidade lexical propiciada pelo AO90 ao sabor das flutuações daquilo a que no acordo se chama "pronúncia culta" - conceito que nada tem de científico e, como tal, não foi caucionado pela comunidade científica portuguesa.
De facto, confunde-se dicção com fonética. E pretende-se impor uma dicção pseudo-superior para impor novas regras de normalização da ortografia, algo que só pode provocar a rejeição liminar de qualquer lexicógrafo.
No limite, estas almas iluminadas pretendem alterar a pronúncia e a dicção de milhares de fonemas da língua portuguesa, num combate implacável já não às supostas consoantes mudas, mas às próprias consoantes sonoras.
Utilizam o "acordo ortográfico" como instrumento para atingir este objectivo. "Uniformizar a ortografia" - algo que não foi conseguido nem jamais o será - funcionou apenas como pretexto. Nada mais.
Fonte e respectivos comentário:
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/penso-rapido-19-6470222
E os governantes lá vão beijocando e rindo… levados, levados sim… pela voz do som tremendo, da ignorância sem fim…
Penso rápido (19)
Texto de Pedro Correia
in Blogue Delito de Opinião
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/penso-rapido-19-6470222
«Certos leitores que pretendem fazer ironia com as orthographias antigas da língua portuguesa - às vezes referindo-se a autores que publicaram há pouco mais de cem anos - estão, no fundo, a produzir argumentos contra o "acordo ortográfico" e não a favor. Ao contrário do que supunham.
É incompreensível que um inglês leia Walter Scott ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós e um norte-americano em relação a Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queirós já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa - já lá vão quatro no último século - são um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada à comunidade científica. Cada mudança de regime produziu uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, antes pelo contrário.
Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias - como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a de 1990 que separa famílias lexicais produzindo aberrações como "os egiptólogos que trabalham no Egito[sic] são quase todos egípcios" ou "a principal característica dos portugueses é terem um forte caráter[sic]".
Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós. Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator"[sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão.
Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" destinados a produzir legiões de analfabetos funcionais.»
Fonte:
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/penso-rapido-19-6470222
Sou fã do Blogue “Delito de Opinião” e, de passagem por lá, encontrei esta “Reflexão do Dia” (que aqui reproduzo) publicada por Pedro Correia, em 09.02.17, e ainda muito actual.
Lá encontrei um comentário, curioso, estranho, absurdo, falacioso, bem ao género dos acordistas, que pretendem vender-nos gato por lebre.
É esse comentário que vou tentar desmontar…
Este é o texto da “Reflexão do Dia”:
«O ministro dos Negócios Estrangeiros diz que rejeita a revisão do acordo ortográfico. E eu rejeito essa forma de rejeição, porque a considero autoritária, arrogante, dogmática e deselegante para com a Academia das Ciências. A Academia, que é, de acordo com a lei, conselheira do Governo em matéria da língua, não foi ouvida nem achada no que diz respeito ao acordo. E limitou-se a apresentar, agora, um conjunto de sugestões indicativas para que se começasse a debater este assunto e para tentar melhorar, se possível, um acordo que nasceu mal, um acordo falhado.
Esta posição do ministro [Augusto Santos Silva], que fala em nome do Governo, revela um grande desprezo por todos aqueles que se têm oposto desde o princípio a este acordo. Desprezo por escritores, por gente das letras, por académicos, por professores e por muitos cidadãos que manifestam a sua oposição a este acordo, que está a fragmentar a língua e a dividir os portugueses. Já nem falo de mim, falo do Vasco Graça Moura, que mostrou de mil e uma maneiras todos os erros deste acordo, que, aliás, considerava inconstitucional. Não conheço nenhum escritor de nomeada que seja favorável a este acordo.»
Manuel Alegre, hoje, no Público
Tudo o que aqui foi escrito, foi reescrito e redito vezes sem conta, mas quando se fala para paredes, a reacção é zero. Daí que Portugal ainda continue a arrastar pelo chão a Língua Portuguesa.
***
Esta reflexão mereceu um comentário muito falacioso de um tal Einstürzende Neubauten (que traduzido dá colapso de novos edifícios) e no final assina Pedro Almeida Cabral, jornalista. Seja quem for o colapso de novos edifícios, colapsou no que respeita à avaliação que fez a esta reflexão de Manuel Alegre.
O colapso de novos edifícios abordou, em oito itens, a questão do AO90, que rebaterei item a item. (O que está em itálico é do colapso, e o que está a negrito é meu):
1 - Começando pelo princípio. Foi Portugal que, em 1911, alterou a grafia da língua portuguesa sem consultar o Brasil, o que fez com que passasse a haver duas ortografias para a mesma língua. O Acordo vem resolver este erro histórico.
Começando pelo princípio, foi Portugal que em 1911, propôs ao Brasil, Estado já livre do jugo português, uma reforma ortográfica que, sem desenraizar as palavras, sem alterar a pronúncia, e sem as desviar do seu significado original, da sua história, da sua origem, simplificou a grafia, para combater o analfabetismo, bastante acentuado num e noutro país. O Brasil não aderiu, e, a partir daí optou por distanciar-se de Portugal. Na verdade, passou a haver duas ortografias: uma portuguesa, outra brasileira, que se prolonga até aos dias de hoje. E o AO90, não veio resolver este erro histórico, porque nisto não há qualquer erro histórico, simplesmente porque o Brasil é, oficialmente, desde 7 de Setembro de 1822, um país LIVRE, com direito a expressar-se diferentemente do seu ex-colonizador, aliás, é do senso comum brasileiro, dizerem que preferiam ter sido colonizados pelos Ingleses. Portanto, fica aqui muita coisa dita a respeito do distanciamento opcional do Brasil, em relação à Língua Portuguesa. Em 1943, elaboraram um Formulário Ortográfico, que mutilou os vocábulos de origem Latina, suprimindo-se as consoantes mudas (ideia que o AO90 foi buscar) afastando ainda mais o Brasil da Língua Portuguesa. Em 1945 elaborou-se a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira, que o Brasil assinou, para logo a atirar ao lixo, continuando a distanciar-se do Português, ao implantar definitivamente a Variante Brasileira da Língua Portuguesa, em desfavor da Língua Portuguesa, que, sub-repticiamente, tem sido banida dos currículos escolares brasileiros. Esta é que é a verdade histórica.
2 - As alterações do Acordo Orográfico facilitam a aprendizagem. Quer de crianças, quer de estrangeiros. Por uma razão simples: as palavras passam a ficar mais próximas da forma como se lêem.
As alterações do AO90 não só não facilitam a aprendizagem como passam um atestado de ignorância a quem assim cogita. Por uma razão simples: as palavras mutiladas distanciam-se das suas origens, das suas raízes e passam a ser coisa nenhuma. Todas as coisas têm uma história. Uma origem. As palavras também. E quando se decide, por exemplo, que a palavra aspeCto (do Latim aspeCtus) passe a grafar-se aspeto (que se lê aspÊto), ela não só perde a sua história, como a sua pronúncia e o seu significado, que é completamente desconhecido. E o mesmo acontece a todas as palavras que o Brasil mutilou apartir de 1943, no Formulário Ortográfico, que serve de base ao AO90.
3 - O Acordo Ortográfico apenas afeta (lê-se afÊta) [em POrtuguês afeCta] um número diminuto de palavras, cerca de 1,6%. O que significa que as alterações trazidas pelo Acordo são mínimas face ao português que se escreve.
O AO90 afÊta um número considerável de vocábulos de origem latina, que, desenraizados, nada significam, e isto basta para que a Língua Portuguesa deixe de ser portuguesa e passe a ser uma cópia de uma Variantesul-americana, na sua grafia, agravado por uma hifenização e uma acentuação, baseadas na maior das ignorâncias.
4 - As escolas portuguesas já ensinam conforme o Acordo Ortográfico. As leis portuguesas já são publicadas conforme o Acordo Ortográfico. O Governo já governa conforme o Acordo Ortográfico. A maioria dos jornais já publica conforme o Acordo Ortográfico. Parece impossível, mas tudo isto acontece sem revolta, dor ou trauma.
As escolas portuguesas não ensinam, desensinam as crianças, obrigando-as a grafar à brasileira, quando a Língua Materna delas é a Língua Portuguesa, grafada à portuguesa, constituindo este um dos maiores logros e crime de lesa-infância, jamais visto em todo o mundo. As leis portuguesas são publicadas ignorantemente à brasileira. O governo não governa conforme o AO90, porque ninguém governa conforme um acordo ortográfico. O governo grafa tudo em MIXORDÊS, que é o resultado da aplicação da grafia brasileira misturada com a grafia portuguesa, mostrando o governo com isso que nem domina uma, nem outra, e demonstra uma monumental e vergonhosa subserviência a uma ex-colónia, hoje um Estado livre e independente. Apenas os jornais submissos ao Poder e dotados de uma monumental ignorância da Língua, que usam como instrumento de trabalho, publicam num MIXORDÊS de fazer corar as pedras da calçada portuguesa. Parece impossível, mas tudo isto acontece sem um pingo de vergonha na cara, sem dignidade alguma, e sem o mínimo senso comum.
5 - Entrando no Acordo, é evidente que nunca poderia haver qualquer acordo com o Brasil para unificar a ortografia que não abrangesse as consoantes mudas. É que, simplesmente, os brasileiros não as afloram nem as pronunciam.
Entretanto neste (des)acordo, é evidente que nunca poderia haver qualquer acordo com o Brasil para unificar a ortografia que não abrangesse as consoantes mudas, porque simplesmente esta fraude chamada AO90 assenta na Base IV do Formulário Ortográfico de 1943, e não só no que respeita às consoantes mudas, onde existem umas pouquíssimas excePções, mas também na grafia em minúsculas dos meses do ano. Já agora, não tardam em obrigar os portugueses a grafar AntÔnio, AmazÔnia etc., para UNIFICAR o que nunca será possível unificar.
6 - E quem acha que abdicámos da nossa forma de escrita, é bom lembrar que o Brasil também cedeu e deixou, por exemplo, de usar o trema em algumas palavras, como no "u" em linguiça.
(Este argumento é o mais parvo de todos). E quem acha que não abdicámos da nossa forma de escrita? Só um muito, muito cego mental é que acha que não abdicámos da grafia portuguesa. É bom lembrar que a única coisa que mudou para o Brasil foi a supressão do trema em algumas palavras como no “u” de lingüiça (que os brasileiros continuam a grafar com trema, não haja qualquer dúvida) e na apoucada acentuação e hifenização. Só isto é que mudou para os Brasileiros. De resto, a grafia, à excePção de excePção, recePção, e mais uma ou outra palavra, a grafia que nos querem impingir é a brasileira. Que não reste qualquer dúvida.
7 - Há apenas oito países no mundo que têm o português como língua oficial. E só há duas ortografias, a portuguesa e a brasileira. Chegar a um consenso quanto à forma de escrever é relativamente fácil. O que é altamente vantajoso para uma língua falada em quatro continentes por mais de 250 milhões de pessoas.
Havia oito países (não há mais) no mundo que tinham o Português como língua oficial. Cabo-verde não tem mais. A língua oficial de Cabo-Verde é o Crioulo Cabo-verdiano, oriundo do Português. E existem duas grafias: a portuguesa, em Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste. E a brasileira, no Brasil. Chegar a um consenso quanto à forma de escrever é absolutamente impossível, e só não vê isto quem é muito, muito cego mental. Cada país é um país. Cada país fala e escreve com as suas especificidades. Uma grafia comum, só se for a portuguesa, a original, a europeia, que a maioria dos países lusógrafos escreve. Não temos de nos subjugar ao Brasil, apenas porque são milhões. Eles são milhões com uma VARIANTE. Nós somos milhares, com uma Língua. E não vamos passar de uma Língua íntegra, para uma VARIANTE, apenas porque sim.
8 - Numa perspectiva egoísta, o Acordo Ortográfico contribui, de forma modesta, para que o português do Brasil se mantenha português do Brasil e não se torne brasileiro. Sim, interessa-nos que o português seja falado por mais de 200 milhões de pessoas na América do Sul.
Numa perspectiva ignorante, o AO90 contribuiu de uma forma pretensiosa, para que se instalasse em Portugal o MIXORDÊS, e de um modo natural para que a Variante Brasiloeira da Língua Portuguesa (erroneamente tido como Português do Brasil) evolua (como evoluíram outros dialectos) para Língua Brasileira; e a Língua Portuguesa ou continuará a ser Portuguesa através dos países africanos de expressão portuguesa, ou desaparecerá do mapa, se Portugal insistir neste servilismo rastejante, caso único em todo o mundo. E NÃO, não interessa a Portugal que o Português seja falado por mais de 200 milhões de pessoas na América do Sul, simplesmente porque o que se fala na América do Sul não é Português, mas uma Variante do Português, na sua forma grafada e falada, de tanto que se distanciou da sua Matriz. E à América do Sul, o que é da América do Sul. E à Europa, o que é da Europa. É só isso que nos interessa.
Isabel A. Ferreira
Fonte:
http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/reflexao-do-dia-9087915
. «O acordo ortográfico de ...
. Blogue «O Lugar da Língua...
. Uma aula sobre o AO90 apr...
. O desafecto dos que mutil...