A legenda desta imagem (retirada do documentário “Primeiras Civilizações”, na RTP 1) lê-se do seguinte modo, de acordo com as regras gramaticais da Língua Portuguesa: «u fâtôr âtrâtivo érâ u âspêto sucial».
Se alguém for capaz de me demonstrar, através de argumentos relacionados com as Ciências da Linguagem ou com a Evolução da Língua que as palavras a negrito têm alguma relação com a cultura linguística portuguesa, eu atiro a toalha ao chão, [não esquecer que passámos de ella para ela, porque a supressão de um dos L não mudava a pronúncia, nem o sentido do vocábulo, e isto é que se encaixa na linha evolutiva da Língua].
Aqui há tempos, perguntei a um determinado líder político, qual a posição do seu Partido acerca do AO90.
A resposta veio assim, via e-mail: “Eu, pessoalmente, escrevo e continuarei a escrever como sempre escrevi, mas o Partido, constituído maioritariamente por gente mais jovem, entende que a língua é um organismo vivo em evolução, portanto, estando o AO90 nessa linha evolutiva, optaram por aplicá-lo».
Esta seria a resposta perfeita, se o AO90 tivesse alguma coisa (ainda que muito remotamente) a ver com a linha evolutiva da Língua. Que é um organismo vivo, é verdade. Mas que retroceda de Língua para Variante dela própria, já nada tem a ver com vida ou com evolução, mas somente com um retrocesso assente numa espantosa ignorância.
Acontece que o AO90 nada tem a ver, nem de perto nem de longe, nem pouco mais ou menos, com evolução alguma. Muito menos da Língua.
E porquê?
Simplesmente porque o AO90 não foi engendrado a partir de motivações evolucionistas da Língua, ou assente nas Ciências da Linguagem, mas tão-só em interesses económicos de uns tantos editores/livreiros brasileiros e portugueses (reparem que eu não incluo aqui os africanos de expressão portuguesa, porque esses não foram para ali chamados) e, por arrasto (porque nestas coisas de interesses económicos sempre se vai por arrasto), de uns tantos políticos portugueses que, sem o menor pejo, patriotismo ou sentido de Estado, decidiram vender a Língua Portuguesa, culta e europeia (é bom referir este pormenor) ao Brasil e impor ilegalmente, vergonhosamente, impatrioticamente, a ortografia de 1943, adoptada unilateralmente pelo Brasil, e adaptada em 1990, à qual retiram uns acentos e uns hífenes , e chamaram-lhe Acordo Ortográfico de 1990, algo tirado, à força, da ignorância mais profunda sobre a Língua Portuguesa, um dos maiores símbolos da Identidade de Portugal, aquele que exprime o ser e o sentir de todo um povo, porque sem a Língua, expressão oral e escrita, como saberíamos dos feitos tão excelentemente cantados por Luís Vaz de Camões?
A Língua de um povo diz da dignidade desse povo. Não pode ser o simples linguajar que os iletrados utilizam para se comunicarem entre si.
Quis o destino que Portugal, por ser um pequeno país, entalado entre o Oceano Atlântico e a gigantesca Espanha, ousasse rasgar as águas desse mar, em busca de outros mundos, para poder sobreviver.
Quis igualmente o destino que os Portugueses fossem um povo destemido e dotado para as marinhagens, e que «navegando mares nunca dantes navegados», de légua em légua, foram descobrindo terras, nelas se fixando e deixando a “marca” de Portugal.
Não caberá aqui discutir o mérito ou o demérito da colonização portuguesa, que não foi nem pior nem melhor do que a dos outros povos colonizadores.
Chegados aqui, falemos da Língua que deixámos aos povos que foram sendo colonizados, e que, no caso do Brasil (o grande responsável pela disseminação do mau Português, perdoem-me os meus quase compatriotas brasileiros, mas isto é um facto) foram primeiramente os indígenas (os mais genuínos daqueles que vieram a denominar-se brasileiros), e depois os colonos portugueses e de muitas outras origens, que foram assentando arraiais no gigantesco território que os Portugueses conseguiram tornar seu.
Até 1822, o Brasil (achado em 1500) existiu sob o “domínio português”. Mas depois desta data, já com brasileiros de terceira geração, libertaram-se desse domínio, e o que os recém-libertos fizeram com essa liberdade, também não é agora para aqui chamado.
O que é para aqui chamado é que esses brasileiros, por vontade própria, adoptaram a Língua Portuguesa como língua oficial (e poderiam ter escolhido qualquer uma das muitas línguas indígenas que então existiam) a qual foi sendo enriquecida pelo léxico autóctone e dos vários povos que no Brasil se foram fixando, incluindo o riquíssimo léxico africano, levado pelos escravos.
E isso foi muito bom para a Língua Portuguesa.
O que não foi bom foi o facto de, a dada altura, os políticos marxistas brasileiros, avessos ao colonialismo (como se pudessem mudar a História) para baixarem o elevado índice de analfabetismo, decidirem simplificar e deslusitanizar arbitrariamente, a língua escrita, retirando-lhe as consoantes mudas, sem terem a mínima noção de que, ao fazerem-no, estavam pura e simplesmente a mutilar a língua, introduzindo palavras que antes tinham nexo e, bruscamente, por mera vontade política, deixaram de não ter sentido, nem origem, nem história, e transformaram-se em erros ortográficos (e passo por cima dos outros erros, incluindo os da concordância, espelhados também na linguagem oral).
Além desta mutilação, castelhanizaram, italianizaram, americanizaram, afrancesaram a Língua Portuguesa, de tal forma que ela deixou de ser portuguesa e passou a ser uma mescla de várias línguas, algumas delas traduzidas à letra (e disto há inúmeros exemplos que ando a catalogar).
E são precisamente essas palavras mutiladas e mescladas, sem qualquer motivação científica ou evolucionista, que os políticos portugueses impatriotas e completamente desinformados (se é que me entendem) impingiram aos portugueses mais servilistas e acríticos, porque sim, por teimosia, por ignorância, por meros interesses económicos, por conveniências políticas obscuras.
Concluindo: não existe, nem pode coexistir um Português de Portugal e um Português do Brasil.
O Português é Português em qualquer país lusófono. Ponto final.
Dentre os oito países que fazem parte da Lusofonia (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor) apenas o Brasil desvirtuou a Língua Portuguesa, e não foi por motivos evolucionistas, como já referi.
O Português, dito do Brasil, não é mais do que uma Variante do Português, na sua versão mais pobre, ortograficamente falando, porque desenraizada da sua matriz culta greco-latina. Mas não só. Também na Fonética/Fonologia, no Léxico, na Morfologia, na Sintaxe, na Semântica, a Língua que se fala e escreve no Brasil já é outra Língua - uma Variante da Língua Portuguesa.
Não existe um Português de Angola, ou de Moçambique ou de Cabo Verde, ou da Guiné, ou de São Tomé e Príncipe, ou de Timor.
O que há é muitos modos de dizer. A expressão oral pode variar até de cidade para cidade, dentro de um mesmo país. Mas não a escrita. A escrita é a portuguesa.
Os Brasileiros até podem dizer “mulé”, “muié”, “mulherrr”, mas se escreverem mulher, escrevem correCtamente.
Não critico o modo de falar de nenhum povo, se bem que falar bem não fica mal a ninguém.
Reduzir a língua escrita ao modo de dizer, não tendo em conta a etimologia das palavras, é um acto de incultura.
É triste, muito triste, vermos a nossa bela Língua Portuguesa escrita por aí, em documentos oficiais, nas televisões (as maiores divulgadoras da Língua deturpada), em jornais e revistas (salvo raras excepções), em livros de (alguns) escritores menores, com a puerilidade de uma criança que acaba de se sentar nos bancos da escola primária, para aprender as primeiras letras, e junta-as conforme as ouve:
«Çaberão vóçax eisçelênciax u tamanhu da inurmidade da vóça falta de cunheçimentu da língua purtugeza [aqui o U não se lê, daí ser purtugeza, à moda acordista]?»
Tenham vergonha na cara, tenham dignidade, tenham a hombridade e a coragem de restituir a Portugal a ortografia portuguesa. Poderemos não ser milhões, mas somos milhares, e não nos embaraça nada ser uma das línguas minoritárias da Europa. Atrás do Português estão o Finlandês, o Dinamarquês, o Sueco. E estes três povos sofrem de algum complexo de inferioridade por causa disso? Obviamente que NÃO. Os Portugueses também NÃO!
Apenas os políticos portugueses e os seus servis seguidores, sofrendo desse complexo, arrastam-se atrás dos milhões, ainda que façam figura de parvos, e sejam gozados, por isso, em toda a parte.
Isabel A. Ferreira
***
Nota marginal:
Crítica de Pedro Luís Azevedo a este texto no Grupo «Em ACção contra o Acordo Ortográfico»
Discordo absolutamente da opinião da autora sobre um suposto abastardamento linguístico da nossa língua comum pela variante brasileira face à geratriz portuguesa.
Ambas têm rigorosamente a mesma valia. Há muitas palavras que, não fosse o Brasil, teriam desaparecido da língua viva portuguesa.
E muito mais.
E acho um erro crasso criar divisionismos artificiais na luta contra o "A"O90, até porque muitos expoentes da cultura brasileira rejeitam igualmente o aborto ortográfico.
Defesa do texto pela autora Isabel A. Ferreira
Pedro Luís Azevedo o senhor tem toda a liberdade de discordar da autora do texto.
Eu, pela minha parte, concordo com o senhor: a Língua Portuguesa e a Variante Brasileira da Língua Portuguesa têm, de facto, a MESMA VALIA: a Variante Brasileira da Língua Portuguesa tem valia no Brasil; a Língua Portuguesa tem valia em Portugal e nos países lusófonos que não aderiram ao AO90, assente na ortografia brasileira de 1943.
Aqui não se trata de criar divisionismos. Aqui há que defender a Língua Portuguesa, de Portugal, e a Variante Brasileira, do Brasil, que é o que fazem os expoentes da Cultura Brasileira, que MUITO prezo, porque no Brasil o aborto ortográfico limita-se aos acentos, nomeadamente ao trema, e hífenes, cuja supressão criou palavras HORROROSAS. Em Portugal são os acentos, os hífenes e a GRAFIA (que no Brasil ficou impoluta, e em Portugal foi mutilada, nada tendo a ver com a nossa Cultura linguística greco-latina.)
Quanto às muitas palavras que, não fosse o Brasil, teriam desaparecido da Língua viva portuguesa, há muitas, muitas outras que foram americanizadas, afrancesadas, italianizadas, castelhanizadas e deixaram de ser portuguesas. Certo?
Nada contra a Variante Brasileira. Tudo contra a imposição da Variante Brasileira aos Portugueses. E é isto que aqui está em causa.
O que anda, pode desandar. O que se faz, pode desfazer-se. E os erros são para corrigir, não para perpetuar. Diz o senso comum.
E a política deve ser praticada com a inteligência proveniente de um cérebro alojado na cabeça dos homens, e não com a “inteligência” alojada na cabeça do dedo mindinho dos pés dos homens.
Só a visão dantesca do caos ortográfico, generalizado em Portugal, inclusivé nas páginas oficiais dos governantes, imcluindo na da Presidência, deveria ser o bastante para que o aCtual governo português e o próprio presidente da República, que tem vergonha de tanta coisa, mas não, da mixórdia ortográfica, que pratica e consente, dessem o dito pelo não dito, e desandassem com o que andou mal, e desfizessem o que se fez mal, e corrigissem o monumental erro que foi obrigar a função pública e os organismos afeCtos ao Estado a aplicarem, sem qualquer base legal, uma ortografia mutilada, oriunda do Brasil.
Mas o mais insólito é o faCto de a resolução do conselho de ministros (assim em minúsculas, porque me apetece) onde foi parida a “ordem de marcha do AO90”, e que seria, alegadamente, apenas “obrigatória” para funcionários públicos e organismos do Estado, andar por aí a ser aplicada em certos meios de comunicação social, que nos garantem que adoPtam o AO90 porque foi obrigatório para os funcionários públicos e órgãos do Estado, como se eles fossem funcionários públicos ou órgãos do Estado; e também agora em anúncios, como se as empresas publicitárias fossem funcionalismo público ou órgãos estatais.
E é que, no meio disto tudo, ninguém, dos que aplicam a ortografia brasileira, se pergunta se são obrigados, por lei, a fazê-lo, uma vez que uma resolução do conselho de ministros não tem valor de Lei. Farão isto por modismo, por servilismo, por ignorância, ou pelo prazer da imitação?
Se gostam de imitar, imitem, ao menos, os idiomas europeus, os “parentes” mais próximos da Língua Portuguesa.
Posto isto vamos à sugestão:
Atentem nesta nota explicativa, que justifica do modo mais idiota possível, a mutilação das palavras:
Pois se o problema (para os adultos cabeças-duras, não para as crianças, que são inteligentes e conseguem aprender tudo, com a maior facilidade) é como saber que em concePção, direCção, etc., se vai escrever o pê e o cê, se não os pronunciam, sugiro algo muito mais simples e que evita mutilar as palavras que, sem as consoantes, ficam com a aparência de palavras carecas. Sugiro, então, que se comece a pronunciar as consoantes, que não se pronunciam, porque, afinal, já se lê algumas, por que, não todas?
Não, não me venham dizer que isto é retroceder na linguagem, porque não é. Isto é simplesmente «unicuĭque suum», expressão latina que significa «a cada um o (que é) seu», que no contexto da ortografia, significa «a cada palavra o que é dela, ou seja, todas as letras de que ela é composta».
Uma vez que pronunciamos contaCto, paCto, faCto, impaCto, por que não pronunciar aCto (aCção), e deixarmos o vocábulo intaCto, sem aquela aparência de palavra careca? É que ato, é do verbo atar, e atados e mudos estão todos os que não sabem escrever…
Se pronunciamos egíPcio, egiPtólogo, egiPtologia, não nos custa nada dizer EgiPto ou custa? (Aliás, eu sempre pronunciei o pê de EgiPto, por uma questão de coerência linguística), e a palavra que, com o AO90 inacreditavelmente perdeu o pê, não se transformaria em nome próprio masculino Egito, como em Egito Gonçalves, nosso grande poeta, até porque em nenhuma outra língua culta, EgiPto perdeu o pê. No Brasil perdeu o oê, para emitiram o s Italianos, que, como se sabe, nisto da linguagem têm grande influência no Brasil. Eles escrevem Egitto, tal como Nettuno e Umiditá (que os Brasileiros escrevem Netuno e Umidade, por influência italiana, e tantos outros vocábulos). Italianizaram milhentos vocábulos, e ainda querem que isto tenha alguma coisa a ver com Português? Os Italianos, ao menos substituíram os pês, por duplo tê. Mas os Brasileiros raparam as palavras e elas ficaram carecas.
Veja-se o que nos diz Fernando Kvistgaard: «Já agora, em Dinamarquês escreve-se: aktør, faktor, reaktor, sektor, protektor, eksakt, baptisme, optimum, e também Egypten, optik, faktum, receptionist, projekt, direkt, etc., etc.»
É que as línguas cultas não albergam palavras mutiladas. Em Dinamarquês, bem como em todas as outras línguas europeias, nestas e noutras palavras, pronunciam-se os cês e os pês, porque todas pertencem à grande família indo-europeia, tal como a Língua Portuguesa.
Ora, se a intenção é simplificar, que se simplifique a sério: é muito mais fácil pronunciar e escrever os pês e os cês, em TODAS as palavras, do que andar ó tio, ó tio, o que é que se corta, o que é que não se corta, em cada palavra, e transformarem a linguagem na mais imbecil mixórdia, sem precedentes em Portugal, e caso ÚNICO no mundo.
Além disso a pronúncia ficará semelhante à das outras línguas europeias, e as nossas crianças, que estão a aprender Inglês ou outra Língua, não terão a mínima dificuldade em dizer (diréCtôr) e escrever direCtor, em Português, bem como dizer (dairéCtâr) e escrever direCtor em Inglês.
Eu, que escrevo correCtamente as palavras, comecei já a pronunciar as consoantes que não se pronunciam, para que os meus netos as ouçam, e saibam que ali existe um cê ou um pê, embora desgraçadamente, na escola, tenham de escrever as palavras incurrêtâmente. Juntando a isto, ofereço-lhes livros infantis escritos em Bom Português, espólio da minha Biblioteca, e com isto vou amenizando o prejuízo de viverem num país em que lhes impingem gato por lebre. E se algum me pergunta o porquê de nos meus livros estar escrito coleCção, e nos da escola “coleção”, digo-lhes a verdade: coleCção é Português, “coleção” é brasileiro, e aculpa disto é dos professores e dos governantes, as duas classes mais desprestigiadas da actualidade. E não é só por causa da mixórdia que impimgem aos alunos.
Bem, esta parte da mutilação, ficaria, deste modo, facilmente resolvida, porque ao pronunciarmos as consoantes, não há como errar.
No que respeita à acentuação e hifenização, é seguir as regras mais básicas, já existentes, da Gramática, e não inventar modismos acordistas, para constar que o Brasil também teve alterações na sua grafia, porque a língua não é apenas som, mas também imagem, e as crianças deteCtarão automaticamente as faltas dos acentos em palavras como pára, ou vêem, dêem (não ficam mais compostinhas estas palavras com o chapeuzinho?) etc..
Quanto aos hífenes, as palavras que se formaram com a supressão dos hífenes são tão horrorosas, tão inestéticas, tão absurdas, que qualquer criança se assusta com estas aberrações ortográficas: autorretrato; antirreligioso; contrarreforma; contrarregra; radiorrelógio; autorradiografia; arquirrival; antirracional; contrarrazão; antirracial; antirrevolucionário; suprarrenal… entre outras, que ao ler parecem um trava-línguas, e ficamos com a garganta arranhada...
Não será visualmente mais elegante e muito mais percePtível (essa é a função dos hífenes) logo à primeira leitura: auto-retrato, anti-religioso, contra-reforma, contra-regra, radio-relógio, auto-radiografia, arqui-rival, anti-racional, contra-razão, anti-racial, anti-revolucionário, supra-renal, do que aqueles palavrões cheios de erres, assarrabulhados e de difícil compreensão para as crianças?
Se a intenção foi facilitar só complicaram. E de que maneira!
A nossa Língua é tida como uma das mais belas do mundo, também pelo seu visual elegante, e querem transformá-la numa aberração gráfica, com palavras mutiladas, umas, e carregadas de letras outras? O que pretende o governo português? Matar a Língua Portuguesa, para agradar aos brasileiros incultos? É que os Brasileiros Cultos têm tanta aversão a isto como nós.
Pois aqui fica a minha sugestão. Penso que será mais viável, do que o mixordês que anda por aí a apunhalar a Língua Portuguesa, sem dó, nem piedade.
Isabel A. Ferreira
Aqui há tempos, por ocasião das eleições legislativas, perguntei a um determinado líder político, qual a posição do seu Partido acerca do AO90.
A resposta veio assim: “Eu, pessoalmente, escrevo e continuarei a escrever como sempre escrevi, mas o Partido, constituído maioritariamente por gente mais jovem, entende que a língua é um organismo vivo em evolução, portanto, estando o AO90 nessa linha evolutiva, optaram por aplicá-lo».
Esta seria a resposta perfeita, se o AO90 tivesse alguma coisa (ainda que muito remota) a ver com a linha evolutiva da Língua.
Acontece que o AO90 nada tem a ver, nem de perto nem de longe, nem pouco mais ou menos, com evolução alguma. Muito menos da Língua.
E porquê?
Simplesmente porque o AO90 não foi engendrado a partir de motivações evolucionistas da Língua, ou assente nas Ciências da Linguagem, mas tão-só em interesses económicos de uns tantos editores/livreiros brasileiros e portugueses (reparem que eu não incluo aqui os africanos de expressão portuguesa, porque esses não foram para ali chamados) e, por arrasto (porque nestas coisas de interesses económicos sempre se vai por arrasto), de uns tantos políticos portugueses que, sem o menor pejo, patriotismo ou sentido de Estado, decidiram vender a Língua Portuguesa, culta e europeia (é bom referir este pormenor) ao Brasil e impor ilegalmente, vergonhosamente, impatrioticamente, a ortografia de 1943, adoptada unilateralmente pelo Brasil, e adaptada em 1990, à qual retiram uns acentos e uns hífenes , e chamaram-lhe Acordo Ortográfico de 1990, algo tirado, à força, da ignorância mais profunda sobre a Língua Portuguesa, um dos maiores símbolos da Identidade de Portugal, aquele que exprime o ser e o sentir de todo um povo, porque sem a Língua, expressão oral e escrita, como saberíamos dos feitos tão excelentemente cantados por Luís Vaz de Camões?
A Língua de um povo diz da dignidade desse povo. Não pode ser o simples linguajar que os iletrados utilizam para se comunicarem entre si.
Quis o destino que Portugal, por ser um pequeno país, entalado entre o Oceano Atlântico e a gigantesca Espanha, ousasse rasgar as águas desse mar, em busca de outros mundos, para poder sobreviver.
Quis igualmente o destino que os Portugueses fossem um povo destemido e dotado para as marinhagens, e que «navegando mares nunca dantes navegados», de légua em légua, foram descobrindo terras, nelas se fixando e deixando a “marca” de Portugal.
Não caberá aqui discutir o mérito ou o demérito da colonização portuguesa, que não foi nem pior nem melhor do que a dos outros povos colonizadores.
Chegados aqui, falemos da Língua que deixámos aos povos que foram sendo colonizados, e que, no caso do Brasil (o grande responsável pela disseminação do mau Português, perdoem-me os meus quase compatriotas brasileiros) foram primeiramente os indígenas (os mais genuínos daqueles que vieram a denominar-se brasileiros), e depois os colonos portugueses e de muitas outras origens, que foram assentando arraiais no gigantesco território que os Portugueses conseguiram tornar seu.
Até 1822, o Brasil (achado em 1500) existiu sob o “domínio português”. Mas depois desta data, já com brasileiros de terceira geração, libertaram-se desse domínio, e o que os recém- libertos fizeram com essa liberdade, também não é agora para aqui chamado.
O que é para aqui chamado é que esses brasileiros, por vontade própria, adoptaram a Língua Portuguesa como língua oficial (e poderiam ter escolhido qualquer uma das muitas línguas indígenas que então existiam) a qual foi sendo enriquecida pelo léxico autóctone e dos vários povos que no Brasil se foram fixando, incluindo o riquíssimo léxico africano, levado pelos escravos.
E isso foi muito bom para a Língua Portuguesa.
O que não foi bom foi o facto de, a dada altura, os políticos marxistas brasileiros, para baixarem o elevado índice de analfabetismo, e avessos ao colonialismo (como se pudessem mudar a História) decidirem simplificar e deslusitanizar arbitrariamente, a língua escrita, retirando-lhe as consoantes mudas, sem terem a mínima noção de que, ao fazerem-no, estavam pura e simplesmente a mutilar a língua, introduzindo palavras que antes tinham nexo e, bruscamente, por mera vontade política, deixaram de ter, e transformaram-se em erros ortográficos (e passo por cima dos outros erros, incluindo os da concordância, espelhados também na linguagem oral).
Além desta mutilação, castelhanizaram, italianizaram, americanizaram, afrancesaram a Língua Portuguesa, de tal forma que ela deixou de ser portuguesa e passou a ser uma mescla de várias línguas.
E são precisamente essas palavras mutiladas e mescladas, sem qualquer motivação científica, que os políticos portugueses impatriotas e completamente desinformados (se é que me entendem) querem impingir-nos, porque sim, por teimosia, por ignorância, por meros interesses económicos, por conveniências políticas obscuras.
Concluindo: não existe, nem pode coexistir um Português de Portugal e um Português do Brasil.
O Português é Português em qualquer país lusófono. Ponto final.
Dentre os oito países que fazem parte da Lusofonia (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor) apenas o Brasil desvirtuou a Língua Portuguesa, e não foi por motivos evolucionistas, como já referi.
O Português, dito do Brasil, não é mais do que uma Variante do Português, na sua versão mais pobre, ortograficamente, porque desenraizada da sua matriz culta greco-latina. Mas não só. Também na Fonética/Fonologia, no Léxico, na Morfologia, na Sintaxe, na Semântica, a Língua que se fala e escreve no Brasil já é outra Língua - uma Variante da Língua Portuguesa.
E que me perdoem os Brasileiros, porque aprendi a ler e a escrever no Brasil e passei a minha infância, adolescência e juventude a aprender e a desaprender a minha própria Língua, de cada vez que me mudava de cá para lá, e de lá para cá.
Não existe um Português de Angola, ou de Moçambique ou de Cabo Verde, ou da Guiné, ou de São Tomé e Príncipe, ou de Timor.
O que há é muitos modos de dizer. A expressão oral pode variar até de cidade para cidade, dentro de um mesmo país. Mas não a escrita.
Os Brasileiros até podem dizer “mulé”, “muié”, “mulherrr”, mas se escreverem mulher, escrevem correCtamente.
Não critico o modo de falar, se bem que falar bem não fica mal a ninguém.
Reduzir a língua escrita ao modo de dizer, não tendo em conta a etimologia das palavras, é um acto de incultura.
É triste, muito triste, vermos a nossa bela Língua Portuguesa escrita por aí, em documentos oficiais, nas estações televisivas, em jornais e revistas (salvo raras excepções), em livros de (alguns) escritores menores, com a puerilidade de uma criança que acaba de se sentar nos bancos da escola primária, para aprender as primeiras letras, e junta-as conforme as ouve:
«Çaberão vóçax eisçelênciax u tamanhu da inurmidade da vóça falta de cunheçimentu da língua purtugeza [aqui o U não se lê, daí ser purtugeza, à moda acordista]?»
Tenham vergonha na cara, tenham dignidade, tenham a hombridade e a ousadia de restituir a Portugal a ortografia portuguesa. Poderemos não ser milhões, mas somos milhares, e não nos embaraça nada ser uma das línguas minoritárias da Europa. Atrás do Português estão o Filandês, o Dinamarquês, o Sueco. E estes três povos sofrem de algum complexo de inferioridade por causa disso? Obviamente que NÃO. Os Portugueses também NÃO!
Apenas os políticos portugueses e os seus sequazes sofrem desse complexo e arrastam-se atrás dos milhões, ainda que façam figura de parvos, e sejam gozados por isso.
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