Domingo, 16 de Outubro de 2022
Curioso, este artigo de Marco Neves. Quem o ler assim de repente pode até pensar algo como “olha, mais um que já pendurou as chuteiras“. Longe vá o agoiro, é claro, de mais a mais porque “isto”, a Língua Portuguesa, que tanto aborrece a alguns, não é exactamente o pontapé na chincha. Não deixa de causar alguma estranheza, porém, futebóis à parte, que tão denodado quanto profuso escriba — tantas vezes aqui citado e transcrito — tenha agora virado a agulha para as coisas da arqueologia linguística, escavando túneis profundos, tão profundos que os não iniciados arriscam-se a sair do outro lado da Terra.
Não será revirando fósseis ou autopsiando múmias que algo de útil ou sequer inteligível poderá ressumar quanto àquilo que realmente interessa… ao povão, digamos. Nem mesmo o espantosamente básico facto que Santayana formula será para aqui chamado, ainda que por excepção, dado que — precisamente — é o passado aquilo que o AO90 pretende reescrever como suporte “ideológico” para eliminar o futuro da Língua Portuguesa.
Além das sucessivas campanhas de intoxicação da opinião pública (ah, e tal, eles são 230 milhões), de estupidificação e de anestesia em massa (novelas, escolas de samba, futebol, canais de TV, “kárrnávau”, importação de “génios” sortidos), no que diz respeito à Literatura em concreto e à escrita em geral são metódicas e persistentes as criminosas acções de reescrita do passado. Ou seja, a política do facto consumado com efeitos retroactivos: enquanto vão apagando quaisquer vestígios da escrita “de antigamente”, a tal que estava “errada”, segundo eles, sucedem-se as reedições dos nossos clássicos (fora os manuais escolares), enormes colecções são “revisadas” e reeditadas com aniquilação selectiva de tudo aquilo que no Brasil não é pronunciado, articulado ou… dito. Portanto, respectivamente, destrói-se a ortografia (sequências consonânticas, marcas etimológicas), “adota-se” a ortoépia (pronúncia, estrutura frásica) e esmigalha-se o léxico. Vai tudo a eito.
O objectivo primário do “acordo” é, funcionando como disfarce para as negociatas (via CPLP, IILP, IC e AR) “justificar” a “adoção” da língua universau brasileira em Portugal e PALOP. Trata-se de uma complexa manobra de bastidores, insidiosa e mentirosa, levada a cabo por políticos, vendidos, traidores e idiotas úteis, no intuito de expurgar radicalmente a génese e a matriz da Língua Portuguesa para assim impor aos nacionais uma língua estrangeira e, sempre a pretexto da brasileirofonia, servir os interesses geo-político-económicos do Brasil e os interesses nada-mais-do-que-económicos dos vendilhões que por aí rastejam.
Que todas as línguas evoluíram, evoluem e continuarão a evoluir não é grande novidade e ainda menos será uma descoberta de fazer arregalar um olho, quanto mais os dois. Não será isto, aliás, com toda a certeza, nenhuma das “verdades” que toda a gente atribui a Jacques II de Chabanes; deixemos as “lapalissadas” para quem ainda acredita em historinhas; além do mais, em sinal de respeito, pois La Palisse está morto e bem morto, ou como diria o lacaio de Monsieur, se não estivesse morto com certeza estaria tão vivo como estava momentos antes de falecer. Evoluem as línguas, como tudo evolui, e esse “fenómeno” (muito anterior a Camões, note-se, aí uns 28500 anos anterior ao Grande Zarolho) é não apenas uma inevitabilidade como constitui a própria essência das coisas humanas.
O erro será, precisamente, pela sua própria natureza, arrogar-se alguém — bandoleiro solitário ou bandos deles — o direito de sequer tentar perverter, desviar, alterar o percurso inelutável da História.
Portanto, ainda que tal pareça, não pode pretender este (ou qualquer outro) autor “explicar” seja o que for de “natural” na “evolução” da Língua através da repescagem de fragmentos da escrita, do período arcaico ou até recuando à cuneiforme ou à hieroglífica; isso não apenas não explica coisíssima nenhuma — a não ser, evidentemente, o que antes porventura alguém desconhecia ter existido nesse particular — como ainda menos ou absolutamente nada explica, esclarece, justifica uma aberração (o #AO90 não contém aberrações, é todo ele uma aberração) ou serve para atenuar culpas e esbater responsabilidades dos envolvidos.
Exceptuando o facto incontornável de a língua brasileira ter tido origem na matriz da portuguesa, não existe a mais ínfima ou remota relação entre a ortografia de Eça (ou a de Camões ou a de Gil Vicente ou a de D. Afonso II) e aquela coisa que os brasileiristas pretendem impingir a Portugal e PALOP. Não existe relação alguma porque a Língua não é nem relativa nem relativizável — simplesmente é o que é: nós temos a nossa, o Brasil tem a sua.
Pois que fique lá com ela.
Fonte:
https://apartado53.wordpress.com/2022/10/15/arqueologia-linguistica/?fbclid=IwAR2jgjBY5aqtIm5-ERADm-hDPIXQMMpXTQTkknz-4VPIpIl_VnfT-9Y55Io&blogsub=confirming#subscribe-blog
***
Link para o texto de Marco Neves «Como era a ortografia de Camões?»
https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/como-era-a-ortografia-de-camoes
tags: ao90,
ar,
arqueologia,
brasil,
camões,
cplp,
d. afonso ii,
escolas de samba,
eça,
gil vicente,
ic,
iilp,
la palisse,
língua portuguesa,
marco meves,
palop,
terra
Quarta-feira, 12 de Maio de 2021
Um extraordinário texto de António Sérgio Marques, que nos diz, nua e cruamente, das grandes e verdadeiras verdades sobre «o grande problema, que não existia, mas que a imbecilidade, reinante num largo espectro da classe política do arco do poder, inventou», ou seja, sobre o vil AO90.
Um texto de leitura obrigatória.
(As passagens a negrito são da minha responsabilidade).
Isabel A. Ferreira
(Não está aqui incluída a bandeira da Guiné Equatorial, que só é "lusófona" no papel, devido a interesses económicos. Na verdade, nesta Guiné, não se fala Português, mas tão-só Castelhano e Francês. Incluí-la nos países ditos lusófonos, é uma falácia. I.A.F.)
Por António Sérgio Marques
5 de maio às 20:31
«A biodiversidade é um conceito cuja amplitude e valor intrínseco Cavaco, Sócrates, Casteleiro ou Houaiss - ou o mais feroz e boçal guardião do AO90 na actualidade, o belicoso e infinitamente arrogante Augusto Santos Silva - nunca compreenderam, nunca tiveram capacidade intelectual e vontade política para compreender e, consequentemente, nunca valorizaram.
A notícia relativa à publicação de um Dicionário de Português de Moçambique, constante da edição de hoje do jornal Público - derradeiro e único baluarte da resistência à consumação do famigerado Acordo Ortográfico de 1990 no 'mainstream' dos media em Portugal - remete, precisamente, para essa dimensão de 'biodiversidade' cultural que constitui uma das muitas razões que fazem desse AO90 uma aberração linguística-cultural, ao pretender impor politicamente, por decreto, uma uniformização ortográfica entre as diversas variantes geográficas da língua portuguesa que não era desejável, necessária e muito menos defensável do ponto de vista científico, por um lado, e histórico-cultural, por outro.
O grande problema, que não existia, mas que a imbecilidade, reinante num largo espectro da classe política do arco do poder, inventou - aquilo que levou a língua portuguesa ao actual atoleiro ortográfico (e, a curto prazo, fonético) - foi a indigência intelectual de Cavaco e Sócrates, o provincianismo bacoco e o pioneirismo patético dos governos desses dois tristes personagens da história da vida democrática nacional, que ditaram a surreal 'visão estratégica' , de promoção e defesa, no plano internacional, da língua de Pessoa, Saramago e Eça.
O terrível fado que assombraria o futuro da mais ocidental das línguas do Lácio foi a opção desses governos pela colaboração com meia dúzia de académicos escolhidos a dedo de ambos os lados do Atlântico (com Casteleiro e Houaiss à cabeça), espíritos corrompidos pelo vil desejo de agradar ao poder político, ambiciosos, venais e arrogantes, cuja necessidade de protagonismo mediático e afirmação científica a todo o custo, aliada à conveniente ausência de escrúpulos deontológicos, os fez sobrepor as suas posições peregrinas (nunca britânicos, espanhóis ou franceses tiveram essas pretensões megalómanas e contra-natura em termos de filogenia linguística), totalitárias e pedantes, acerca das línguas de expressão plurinacional como o Português, às posições de oposição frontal e inequívoca contra a ideia de uniformização ortográfica preconizadas pelos Malacas Casteleiros da nossa nacional desdita, defendidas pela maioria da comunidade académica, docente, literária e jornalística do país.
A tragédia da Língua Portuguesa foi a de ter sido sequestrada por um poder político nacional inculto, economicista, mesquinho e inconsciente da sua infinita estupidez numa matéria que não domina, nem tampouco entende, nem sobre a qual tinha 'jurisdição' política - a língua de um povo não é uma mercadoria - que se vergou aos interesses das grandes editoras do regime (do lado de cá) e se submeteu, alegre e alarvemente, numa lógica de colonialismo ao contrário, às pretensões brasileiras de liderar e configurar o mundo lusófono em função dos seus interesses político-diplomáticos e às suas ambições de dominação e uniformização do universo cultural e linguístico dos Estados de língua oficial portuguesa, enquanto instrumento geoestratégico de afirmação internacional do Brasil.
Somos uma nação de patetas e brutos, governados, como merecemos, por políticos ainda mais patetas, brutos e, ainda por cima, prepotentes, desonestos e totalmente permeáveis ao sequestro da função política e da 'res pública' por interesses privados sectoriais que em nada coincidem com o interesse público e nacional, sacrificando, simultaneamente, a defesa desse interesse nacional, a que estava ética e politicamente obrigado, aos interesses de outras nações, neste caso, o Brasil.
Ainda assim, o património maior da nossa 'portugalidade', o único e sublime motivo de orgulho em ser português que resta a quem tenha um olhar crítico sobre a sociedade e a cultura lusa do presente e sobre a sua História, plena de luz e de trevas, a "Pátria" de Pessoa - a nossa belíssima e riquíssima língua portuguesa - não merecia este infame e linguicida golpe desferido pelos ditos patetas (e seus acólitos e cúmplices) que fingem que nos governam, a mando, desavergonhada e criminosamente, dos seus verdadeiros senhores e patrões, domésticos e estrangeiros.
Apropriaram-se de um património imaterial que é pertença de todos os portugueses e mutilaram-no com a crueldade e a ignorância que caracterizam a barbárie e o obscurantismo de quem despreza a ciência, a ética e o povo que deveria servir e os valores que juraram defender. À traição, com a costumeira e pusilânime política dos factos consumados.
Cabe-nos a nós reclamar o que é nosso. A língua-pátria como Pessoa a definiu, o falar e o escrever do povo desta finisterra da Europa. Como o têm feito os moçambicanos ou os angolanos, mais sábios que nós, que não ratificaram (nem ratificarão) o AO90. Ou, em sentido apenas aparentemente oposto, os brasileiros, que se podem orgulhar da proeza de terem feito do português das Américas, o português oficial da República Portuguesa...das bananas. Afinal até já tínhamos essa nota tropical. "Porquê incomodar-nos?" terão deduzido os carrascos da língua de Camões que conceberam esta abjecta aberração ortográfica. Pois...»
Fonte: https://www.facebook.com/groups/emaccao/permalink/4201522939893047/?sfnsn=mo
tags: angolanos,
antónio sérgio marques,
ao90,
atlântico,
augusto santos silva,
biodiversidade,
brasil,
casteleiro,
cavaco,
colonialismo,
dicionário de português de moçambique,
eça,
houaiss,
jornal público,
lácio,
língua portuguesa,
moçambicanos,
moçambique,
pessoa,
português,
república portuguesa,
saramago,
sócrates
Terça-feira, 21 de Julho de 2020
Os apelos nunca faltaram.
O que falta é audácia para atacar com força e massivamente os predadores da Língua Portuguesa que, perante o comodismo dos milhares que se dizem anti-AO90, e que andam por aí e pelos grupos do Facebook a repetir eu não escrevo conforme o acordo, eu não escrevo conforme o acordo, tal qual discos riscados (como se isso interessasse para alguma coisa, pois o problema grave e maior está na disseminação de uma grafia truncada, nas escolas e órgãos de comunicação social servilistas), perante este comodismo e servilismo, dizia eu, os predadores da Língua esfregam as mãos de contentamento, por poderem continuar a reduzir a Língua Portuguesa a uma linguagem gráfica, cada vez mais básica, mais primitiva, completamente distanciada do cerne de um Idioma Culto, para ser mais fácil de a aprender, como se isto não fosse um argumento de ignorantes.
Mas isto é fruto da cultura inculta que o Estado português obscurantista está a promover, com intenção de destruir a Cultura Portuguesa, e impor a incultura, à qual prestam vassalagem.
ACORDAI POVO, se não quereis ser escravos de uma tirania, que anda por aí fantasiada de democracia, para enganar os parvos.
Isabel A. Ferreira
Texto de Sérgio Marques
«É incompreensível que uma instituição com a tremenda responsabilidade cívica de contribuir para a construção de uma sociedade cuja evolução tenha entre os seus principais pilares o conhecimento científico, se demita de assumir publicamente uma posição sobre o Acordo Ortográfico de 1990 assente exclusivamente em critérios científicos.
Com o vil argumento de não pretenderem fazer política - a ACL não é contra o AO90 e, aparentemente, nem se reconhece com legitimidade para poder sê-lo!... Santa paciência... foram muitos anos de salazarismo ... - acabam precisamente a fazer política, mas pela via mais infame: respeitando servilmente os poderes instituídos e os poderes fácticos, caucionam ignobilmente com a falsa chancela da ciência o mais violento e atroz atentado alguma vez cometido pelo Estado de uma nação soberana contra a sua própria língua.
A Academia de Ciências de Lisboa está, politicamente, de acordo com este assassinato irresponsável e doloroso do património maior de um povo, dispondo-se, apenas, a propor paliativos em vez de, com a coragem que se impunha, almejar erradicar a doença.
Tudo em nome de um projecto absurdo de unificação e uniformização da língua portuguesa no mundo, castrador da evolução natural e orgânica da diversidade geográfica dos falares lusófonos. Em nome de um tenebroso empreendimento orwelliano de empobrecimento coercivo da língua - coisa que os anglo-saxónicos, espanhóis e franceses tiveram a sabedoria e o bom senso de jamais tentar pôr em prática.
É uma espécie de imperialismo ao contrário, ditado pelos mesquinhos interesses de uma ou duas editoras portuguesas, posto em marcha por governantes acéfalos e ignorantes, gente sem visão nem sentido de Estado, notavelmente apoiada, à época, por todos os representantes eleitos pelos cidadãos deste país assim tristemente entregue em imundas mãos.
Face à cobardia e/ou ao comprometimento das instituições e individualidades nacionais de quem se esperaria outra independência e integridade moral e intelectual perante esta guerra desencadeada de forma brutal contra a língua de Pessoa e Camões, de Eça e Saramago, de Torga e Vieira e de outros ilustres embaixadores da Pátria maior que é o Português, guerra pusilânime que tomou como reféns e arautos involuntários da 'novilíngua' as nossas crianças e jovens, só nos resta, cidadãos comuns, tomar em mãos a tarefa de salvar a língua portuguesa da tragédia que se anuncia.
Com este inominável acordo, não estamos apenas a importar uma grafia estrangeira que reflecte uma fonética que nos é estranha, que incorpora uma História que não é a da nossa língua.
Com este acordo, estamos a garantir que no prazo de duas gerações se concretize a importação e assimilação dessa fonética que não é a nossa. Ou seja, a adulteração inorgânica e artificial, mas que será real, da língua portuguesa falada, e não apenas escrita, em Portugal.
Não podemos deixar morrer o Português às mãos da triste e fraca gente que nos governa e governou. É um dever patriótico. É um dever moral, de cidadania, por respeito aos nossos antepassados, mas, principalmente, por respeito pelas gerações vindouras. É um imperativo histórico, de combate a esta afronta fascizante ao povo português, mas também aos povos de Angola, de Moçambique, de Cabo Verde, de Timor, da Guiné, de São Tomé e Príncipe, do Brasil.
A língua é a manifestação maior da civilização humana. Tem vida, evoluiu, cresce, ramifica-se, diverge, mistura-se com outras línguas, gera novas línguas. Morre. É História. É quase Biologia. Não precisa de iluminados, oportunistas e neocolonialistas (neste caso, com papéis invertidos), auto-empossados ditadores da história futura, inteligências menores arrogadas em senhores do destino de um mundo que não lhes pertence.
Deixem em paz o Português do Brasil. Um dia já não será português, será outra coisa que a evolução histórica ditar, igualmente rica e tão nobre como o Português de Portugal, tão preciosa e respeitável como qualquer outra língua de outro lugar qualquer do mundo.
Já não falamos Latim! Mas deixem igualmente, em paz o Português de Portugal. Um dia, será, também diferente. E morrerá. Como qualquer outra língua. Mas não a matemos por decreto. Porque ainda está exuberante de vida. Porque está na boca, no pensamento, nos sentidos, na pena, na ponta dos dedos com que os nossos filhos riscam o ecrã do “tablet” e do telemóvel. Porque lhes está na alma. E há muito se entranhou na nossa.
Desobediência civil, massiva, activa, imperativa, ao criminoso acordo da vergonha. Pelos nossos filhos. Pelos filhos deles. Não há legado maior do que a nossa língua. A Língua de Portugal.
VAMOS À LUTA!»
Fonte:
https://www.facebook.com/sergio.marques.37266/posts/1044559192322071
tags: academia de ciências de lisboa,
acordo ortográfico de 1990,
angola,
ao90,
brasil,
cabo verde,
camões,
civilização humana,
crianças,
eça,
guiné,
história,
latim,
língua portuguesa,
moçambique,
pessoa,
portugal,
português,
povo português,
pátria,
saramago,
são tomé e príncipe,
timor,
vieira
Terça-feira, 12 de Novembro de 2019
Um apelo, um desafio a todos os professores que se têm como tal.
«Este é o ponto fulcral para o combate vitorioso sobre o infame Acordo Ortográfico de 1990: «Se os professores tomarem uma posição firme de real oposição ao AO90, amigo António Sérgio Marques, ele acaba em dois tempos.»
Isto foi o que eu disse num comentário, que está na base da publicação de António Sérgio Marques, no Grupo «Professores Contra o Acordo Ortográfico», no Facebook, e que aqui transcrevo, em jeito de apelo e de desafio a todos os professores que (des) ensinam os alunos, e farei minhas as palavras que Angel Marinho, professor aposentado, do ensino secundário, escreveu num comentário: «O que mais me impressiona não é, propriamente, o famigerado acordo. É sim, o elevado número de pessoas, obedientes, que caíram neste embuste.»
E enquanto o embuste não é resolvido na Justiça, poder-se-ia ir adiantando o processo de extinção do AO90.
Duas crianças portuguesas exibem a bandeira portuguesa, como que reclamando justiça para a Língua Materna delas.
(…)
(Os excertos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)
«Comentários (ao meu comentário: «Se os professores tomarem uma posição firme de real oposição ao AO90, amigo António Sérgio Marques, ele acaba em dois tempos») - e ACÇÃO, principalmente, acção - precisa-se, nobres companheiros de combate ao AO90. Se não forem os professores a quebrar a deriva trágica da Língua Portuguesa - mutilada e amesquinhada pela nova ortografia imposta inconstitucional e prepotentemente pelo governo de José Sócrates, depois de cozinhada por Cavaco Silva sob as instruções da Porto Editora e congéneres, com as batutas decrépitas e presunçosas de Malaca e Bechara - o AO90 prevalecerá, pois nós que recusamos o acordo vamos todos morrer sem descendência que fale e escreva em Português inteiro e livre do vírus da mediocridade 'acordista'.
Vamos lá, nobres professores deste e de outros fóruns de combate ao AO90. Vamos ser coerentes com o que pensamos e escrevemos. A humanidade não teria saído das cavernas, não teria ido à lua, se não houvesse coragem de acreditar na possibilidade do impossível!
Vencer o AO é possível e simples, mas depende inteiramente de vocês (e de mim, que em breve espero estar a dar aulas como vós - em PORTUGUÊS)!
Sem medo, pelas gerações mais jovens, cujo futuro largamente comprometido pelos desmando das nossas miseráveis elites politicas e económicas, não tem que incluir a perda da integridade desse património colectivo e identitário que é a sublime língua de Pessoa, Eça, Camões e Saramago, ameaçada de morte por esta bárbara e mesquinha afronta de quem se arrogou o direito de apropriação de um bem superlativo que pertence aos portugueses de hoje, de ontem e, principalmente, de amanhã.
Claro que os professores enfrentarão obstáculos que, na prática, poderão parecer difíceis de transpor, como é o caso de todos os manuais escolares estarem redigidos no Português mutilado pela ortografia 'acordista'. Nada que, em cada aula, não possa ser corrigido, a caneta, pelos alunos, sob a orientação atenta dos docentes.
Haverá, ainda, a ter em conta a resistência de pais e professores candidamente preocupados com a incapacidade dos meninos e meninas que nunca escreveram português correctamente - porque ingressaram no ensino com o AO90 já (ilegalmente) em vigor, como é o caso do meu filho - serem obrigados a adoptar a ortografia pré-acordo que lhes é estranha.
Trata-se do principal argumento daqueles defensores da perseverança no erro trágico que é o AO90, não por convicção, mas sim por inércia e comodismo de não querer travar 'o comboio da desgraça já em andamento'!
Só que esse argumento é ostensivamente desonesto, pois aqueles alunos, como a minha filha (mais velha que o irmão) que entraram para a escola quando o Português aí ensinado e utilizado obedecia à grafia pré-AO90, foram obrigados a ser capazes de desaprender o bom Português e passar a expressar-se por escrito na versão bastarda do mesmo. (*)
Como não existem estudos científicos que suportem uma pretensa quebra acentuada de QI entre a faixa etária da minha filha e a do meu filho, seria bom que esses apologistas acomodados do AO90 renovassem o seu argumentário.»
António Sérgio Marques
(*) E a falácia desse argumento de que já aprenderam a escrever segundo o AO90, é tanta que tenho a dizer o seguinte (e já o repeti vezes sem conta): eu aprendi a ler e a escrever segundo o AO43 (= ao AO90, mais coisa, menos coisa) no Brasil, dos seis aos oito anos. Aos oito anos vim para Portugal, e tive de desaprender o Brasileiro, para aprender o Português. E aos 12 fui para o Brasil novamente, e tive de deixar o Português. E isto repetiu-se mais umas vezes. E isto foi como aprender duas línguas; às quais juntei o Inglês, o Castelhano e o Francês. E estou aqui: inteira e de boa saúde, porque as crianças têm uma capacidade extraordinária para aprender Línguas, que os adultos não têm.
Ouro exemplo (e há milhões deles): veja-se o Ronaldinho, filho de Cristiano Ronaldo que, de acordo com o pai (e eu acredito, porque aconteceu comigo) o menino, que tem nove anos, sabe escrever e falar na perfeição quatro línguas: a Língua Portuguesa (a do pai); a Língua Castelhana (porque viveu em Espanha); a Língua Inglesa (a língua universal para comunicar com o mundo); e agora a Língua Italiana (que, num ápice, aprendeu, desde que o Pai Ronaldo foi para a Juventus).
Porque não hão-de as crianças portuguesas, que aprenderam a escrever incorretamente a sua Língua Materna, aprendê-la a escrever correCtamente e com muito mais lógica?
***
Posto isto, o apelo, o desafio, está feito.
E se os professores, que se têm como tal, se unissem nesta acção?
Há que tirar, agora, a prova dos nove.
Fonte:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=428540821169981&set=gm.1478040339013942&type=3&theater&ifg=1
tags: acordo ortográfico de 1990,
ao90,
bechara,
brasil,
brasileiro,
camões,
cavaco silva,
cristiano ronaldo,
espanha,
eça,
facebook,
itália,
josé sócrates,
justiça,
juventus,
língua portuguesa,
malaca,
pessoa,
porto editora,
português,
professores,
professores contra o acordo ortográfico,
pré-ao90,
qi,
saramago
Quarta-feira, 10 de Maio de 2017
Foi no passado dia 05 de Maio. Já não, no dia 10 de Junho, porque as coisas mudaram, e a Língua já não é a de Camões.
Numa linguagem mutilada, sul-americanada, o ministro dos Negócios (dos) Estrangeiros, Augusto Santos Silva, escreveu um artigo de opinião no DN, sob o título “No dia da língua portuguesa”, algo que envergonha o Estado Português, os Portugueses e todos aqueles que amam a Língua Portuguesa.
E o Instituto Camões insulta o poeta que lhe deu o nome.
E a CPLP faz-de-conta que é uma comunidade lusófona.
E todos juntos são a vergonha de Portugal, e querem fazer-nos de parvos.
Propus-me reescrever o vergonhoso texto escrito pelo nosso ministro, que anda por aí, subservientemente, a vender a Língua Abrasileirada, na sua forma grafada, como sendo Portuguesa.
Eis o que o ministro, dada a circunstância caótica em que se encontra a Língua Oficial de Portugal, a Portuguesa, consignada na Constituição da República Portuguesa, devia ter escrito, se fosse realmente Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e pugnasse pelos interesses do país que diz representar, mas não representa. Com o que escreveu, enganou o mundo.
Aqui deixo o link do vergonhoso texto original (mal) escrito pelo nosso ministro socialista:
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/no-dia-da-lingua-portuguesa-7207190.html
Eis a versão que o ministro português deveria ter escrito:
Hoje (dia cinco de Maio – e não maio) decorrem iniciativas sobre a língua abrasileirada ou brasileirês ou acordês, imposta em Portugal pelo governo PS, organizadas ou apoiadas pelo Instituto Camões (que deve mudar o nome para Instituto Manoel de Barros, que Drumond considera o maior Poeta brasileiro) em várias dezenas de países. Por exemplo: em Roma, Rabat e Colónia têm lugar jornadas de estudo em Brasileirês; em Xangai, começa o Mês de Documentários também em Brasileirês; em Havana, inaugura-se o I Festival de Cinema no idioma brasileiro, que no Brasil substituiu a Língua Portuguesa; na Feira do Livro de Bogotá, hoje (dia 05 de Maio) será a Tarde Abrasileirada; e em Tbilisi (Geórgia) e Montevideu terminam programas multidisciplinares em torno dessa língua fabricada no Brasil. Se contarmos também as iniciativas que têm lugar em dias próximos, elas somam, este ano, 210 acções (e não ações (leia-se âções) como escreveu Santos Silva), em 49 países diferentes, de todos os continentes.
Isto sucede porque, desde 2009, o 05 de Maio foi escolhido como Dia da Língua Abrasileirada ou Brasileirês ou acordês e da InCultura na CPLP, porque as coisas mudaram e a língua já não é a de Camões, e a Cultura também não, tendo sido bastamente desvirtuada. Queremos descelebrar, com ele, quatro atributos essenciais a uma língua, que já não é a Portuguesa e deixou de ser língua, para ser um patoá.
O primeiro, é que é um dos factores (e não fatores (leia-se fâtores) como escreveu Santos Silva) principais de desagregação da identidade nacional de cada um dos países em que a língua abrasileirada é língua materna (isto é, apenas no Brasil e para o subserviente governo português e seus lacaios e servilistas) e língua estrangeira em Cabo Verde; sendo a Língua Portuguesa, língua segunda ou terceira em São Tomé e Príncipe, e língua oficial ou uma das línguas oficiais nos restantes países lusófonos, nomeadamente Angola e Moçambique.
O segundo, é que é o traço mais sólido que desune as nações lusófonas e a comunidade de países que decidiram (e mal) constituir a CPLP), que já não é CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa - porque apenas os países africanos de expressão portuguesa a adoptam, à excepção de Cabo Verde.
O terceiro é que já não é uma das grandes línguas globais do nosso tempo, policêntrica e pluricontinental, (o Vaticano, por exemplo, já a excluiu); já não é a terceira língua indo-europeia mais falada em todo o mundo, porque simplesmente deixou de ser indo-europeia, para ser sul-americana, a tal “língua” mais falada no hemisfério sul, que se confina ao Brasil e aos brasileiros, e a uns tantos estrangeiros a quem impingem gato por lebre.
E o quarto, é que deixou de ser o elemento fundacional das nossas culturas, da criação artística e do conhecimento, porque apenas três países, que eram lusófonos, deixaram de ser lusófonos, para serem brasilófonos.
A promoção da Língua Abrasileirada ou Brasileirês ou acordês não é uma responsabilidade de todos os 260 milhões de falantes e escreventes; é responsabilidade apenas dos políticos envolvidos no plano das políticas públicas, um dever que já não é de todos os países que fazem hoje ainda parte da CPLP (e são oito, porque o infiltrado nono (Guiné Equatorial) nem sequer sabe o que é Português), até porque Angola e Moçambique, entre outros países lusófonos, não aderiram a esta linguagem oriunda do Brasil, assim como daqueles que se quiseram tornar seus observadores associados (e são dez?).
Com efeito, muitas das iniciativas que o Camões (não o Poeta, mas o instituto que desonra o nome do Poeta) apoia, resultam da colaboração com organismos e representações de outros Estados membros da CPLP, que se estão nas tintas para a Língua Portuguesa; em várias capitais estão hoje (dia 05 de Maio) unidas, neste esforço de desagregação do Português, todas as embaixadas dos Estados da nossa (que já deixou de ser nossa) Comunidade, ao redor do acordês e não do Português. Ao investir tão claramente neste dia que é o dia da língua abrasileirada ou brasileirês ou acordês, o Camões, que já não deve ser Camões, nada mais faz do que assumir as irresponsabilidades próprias de Portugal, um país cujos governantes venderam a sua própria Língua ao estrangeiro, e juntar o seu mau contributo aos outros maus contributos.
Hoje é, pois, uma boa oportunidade para não enaltecer a natureza que já foi viva e dinâmica de uma língua que já foi Portuguesa, e agora é sul-americana, que é uma das que mais vai afundar, em número de escreventes, ao longo deste século, porque nem sequer é uma Língua; e salientar o facto essencial de que ela, ao afastar-se da diversidade das suas variantes e da riqueza dasinteracções (e não interações (leia-se int’râções) como escreveu Santos Silva) com outras línguas cultas e europeias e dos vários contextos sociais, que estão a abandonar esta linguagem que deixou de ser europeia, e já não é património de todos, porque existem milhares que não a usam e até a desvalorizam, sem nenhuma espécie de distinções e hierarquias. Mas hoje (dia 05 de Maio) é também a ocasião adequada para insistir na dimensão catastrófica atingida, internacionalmente, pela língua abrasileirada ou brasileirês ou acordês, que é apenas comum entre os que não dominam, de todo, as Línguas Cultas europeias, desconhecendo, por completo, a estrutura de uma Língua.
Consideremos apenas os dados obtidos pelo instituto Camões, que insulta o Poeta, relativamente ao seu ensino. Fora de Portugal e dos restantes países lusófonos, a língua abrasileirada ou brasileirês ou acordês é estudada não como língua materna e de herança em escolas básicas e secundárias de 17 países, mas como uma língua de remedeio para os que têm dificuldade em aprender Línguas cultas e bem estruturadas, mercê da rede integrada e apoiada pelo instituto que desonrou o nome de Camões.
São mais de 66 mil alunos, (uma gota de água no oceano) ensinados por mais de 900 "professores", que nada sabem sobre as Ciências da Linguagem. Fora desta rede, a língua abrasileirada ou brasileirês ou acordês é ensinada como “língua” estrangeira em 15 países, de Espanha à Bulgária, na Europa, da Namíbia ao Senegal, em África, da Argentina ao Uruguai, na América, impondo-se obviamente como uma língua sul-americana e não indo-europeia; e este “ensino” envolve mais de 88 mil estudantes e mais de mil "professores" (uma gota no oceano) que desconhecem por completo o que é o estudo de uma verdadeira Língua.
No ensino superior, o ensino e a investigação em língua abrasileirada ou brasileirês ou acordês não beneficiam do trabalho de 43 cátedras do Camões (que não é o nosso Poeta, será outro, alguém desconhecido), em 17 países, de 73 centros de língua abrasileiradaou brasileirês ou acordês, de leitorados em 72 instituições e de protocolos de cooperação com 260 escolas superiores, escolas de “línguas” ou organizações internacionais, que fazem parte da incultura portuguesa que se implantou no mundo. A nossa estimativa é que mais de 91 mil estudantes (uma gota no oceano) aprendem a língua abrasileirada ou brasileirês ou acordês e frequentam estudos brasileiros em péssimas condições (porque arredadas das Ciências da Linguagem), em mais de 70 países. A este número haveria de acrescentar-se o daqueles que frequentam universidades e outros estabelecimentos superiores que, por sua iniciativa e sem colaboração estruturada com o ministério dos negócios (dos) estrangeiros, oferecem disciplinas, graduações e pós-graduações neste domínio - dos Estados Unidos à China, num descalabro total de desaprendizagem da Língua que deixou de ser Portuguesa.
Também sabemos da procura crescente de cursos de ensino à distância, para desaprender a língua. A aplicação lançada no mês passado pelo Camões para cursos de auto-aprendizagem (e não autoaprendizagem como escreveu Santos Silva) e tutoria, nos diferentes níveis de incompetência, já conta com dezenas de inscrições, para analfabetos funcionais.
Este aumento da desimportância global da língua, que já não é a Portuguesa, e do desinteresse na sua aprendizagem não deve servir para nos vangloriarmos, ou acharmos que está tudo feito, ou sequer o mais importante. Pelo contrário: significa que a nossa irresponsabilidade é grande, como grande é o desafio que temos pela frente para desfazer o monumental erro que cegamente o governo português e seus lacaios e servilistas cometeram.
É para ter plena consciência desta irresponsabilidade que existe e deve ser lembrado (não celebrado) o dia da língua abrasileirada, em 05 de Maio.
Em 10 de Junho celebraremos a Língua Portuguesa. A Língua de Camões, de Eça, de Camilo, de Pessoa e de todos os que souberam honrar a nossa herança linguística indo-europeia.
Pois era isto que o ministro dos negócios (dos) estrangeiros devia ter escrito, se quisesse informar o mundo.
***
Senhor ministro, tenha vergonha.
Pugne pelos valores portugueses. Pela Língua Portuguesa (não pelo brasilês). Pela Identidade Portuguesa. Pela Constituição Portuguesa. Por Portugal que, não sei se sabe, é um país EUROPEU. Não é um país sul-americano.
E um ministro dos Negócios Estrangeiros que se preze, deve ser um ministro dos Negócios Estrangeiros e não dos negócios DOS estrangeiros.
A nós, não nos interessa nada as negociatas obscuras que os políticos e editores vendilhões de Portugal fizeram com os políticos do Brasil.
Além disso, a CPLP é uma FRAUDE.
O Instituto Camões desonra o nome do Poeta que lhe deu o nome e, por isso, deve mudar de nome.
Tudo é uma fraude ao redor da Língua Portuguesa, nos tempos que correm.
No dito dia 05 de Maio não se celebrou a Língua Portuguesa, mas um dialecto fabricado no Brasil, que teve origem na Língua Portuguesa, mas que se americanizou, afrancesou, italianizou, castelhanizou e, sobretudo, se deslusitanizou, e é essa miscelânea que querem, porque querem, impingir ao resto dos países lusófonos, que se recusam a aceitar tal linguagem na sua forma grafada.
Uma Língua Culta é estruturada em bases científicas. Não ao sabor de modas, preconceitos e ignorâncias.
Tenham vergonha!!!!!
Isabel A. Ferreira
tags: augusto santos silva,
brasil,
brasileiros,
camilo,
ciências da linguagem,
constituição da república portuguesa,
cplp,
eça,
governo português,
identidade portuguesa,
instituto camões,
língua indo-europeia,
língua portuguesa,
ministro dos negócios estrangeiros,
pessoa,
portugal,
sul-americano
Quarta-feira, 14 de Dezembro de 2016
Texto de Sérgio Marques
«É incompreensível que uma instituição com a tremenda responsabilidade cívica de contribuir para a construção de uma sociedade cuja evolução tenha entre os seus principais pilares o conhecimento científico, se demita de assumir publicamente uma posição sobre o Acordo Ortográfico de 1990 assente exclusivamente em critérios científicos.
Com o vil argumento de não pretenderem fazer política - a ACL não é contra o AO90 e, aparentemente, nem se reconhece com legitimidade para poder sê-lo!... Santa paciência... foram muitos anos de salazarismo ... - acabam precisamente a fazer política, mas pela via mais infame: respeitando servilmente os poderes instituídos e os poderes fácticos, caucionam ignobilmente com a falsa chancela da ciência o mais violento e atroz atentado alguma vez cometido pelo Estado de uma nação soberana contra a sua própria língua.
A Academia de Ciências de Lisboa está, politicamente, de acordo com este assassinato irresponsável e doloroso do património maior de um povo, dispondo-se, apenas, a propor paliativos em vez de, com a coragem que se impunha, almejar erradicar a doença.
Tudo em nome de um projecto absurdo de unificação e uniformização da língua portuguesa no mundo, castrador da evolução natural e orgânica da diversidade geográfica dos falares lusófonos. Em nome de um tenebroso empreendimento orwelliano de empobrecimento coercivo da língua - coisa que os anglo-saxónicos, espanhóis e franceses tiveram a sabedoria e o bom senso de jamais tentar pôr em prática.
É uma espécie de imperialismo ao contrário, ditado pelos mesquinhos interesses de uma ou duas editoras portuguesas, posto em marcha por governantes acéfalos e ignorantes, gente sem visão nem sentido de Estado, notavelmente apoiada, à época, por todos os representantes eleitos pelos cidadãos deste país assim tristemente entregue em imundas mãos.
Face à cobardia e/ou ao comprometimento das instituições e individualidades nacionais de quem se esperaria outra independência e integridade moral e intelectual perante esta guerra desencadeada de forma brutal contra a língua de Pessoa e Camões, de Eça e Saramago, de Torga e Vieira e de outros ilustres embaixadores da Pátria maior que é o Português, guerra pusilânime que tomou como reféns e arautos involuntários da 'novilíngua' as nossas crianças e jovens, só nos resta, cidadãos comuns, tomar em mãos a tarefa de salvar a língua portuguesa da tragédia que se anuncia.
Com este inominável acordo, não estamos apenas a importar uma grafia estrangeira que reflecte uma fonética que nos é estranha, que incorpora uma História que não é a da nossa língua.
Com este acordo, estamos a garantir que no prazo de duas gerações se concretize a importação e assimilação dessa fonética que não é a nossa. Ou seja, a adulteração inorgânica e artificial, mas que será real, da língua portuguesa falada, e não apenas escrita, em Portugal.
Não podemos deixar morrer o Português às mãos da triste e fraca gente que nos governa e governou. É um dever patriótico. É um dever moral, de cidadania, por respeito aos nossos antepassados, mas, principalmente, por respeito pelas gerações vindouras. É um imperativo histórico, de combate a esta afronta fascizante ao povo português, mas também aos povos de Angola, de Moçambique, de Cabo Verde, de Timor, da Guiné, de São Tomé e Príncipe, do Brasil.
A língua é a manifestação maior da civilização humana. Tem vida, evoluiu, cresce, ramifica-se, diverge, mistura-se com outras línguas, gera novas línguas. Morre. É História. É quase Biologia. Não precisa de iluminados, oportunistas e neocolonialistas (neste caso, com papéis invertidos), auto-empossados ditadores da história futura, inteligências menores arrogadas em senhores do destino de um mundo que não lhes pertence.
Deixem em paz o Português do Brasil. Um dia já não será português, será outra coisa que a evolução histórica ditar, igualmente rica e tão nobre como o Português de Portugal, tão preciosa e respeitável como qualquer outra língua de outro lugar qualquer do mundo.
Já não falamos Latim! Mas deixem igualmente, em paz o Português de Portugal. Um dia, será, também diferente. E morrerá. Como qualquer outra língua. Mas não a matemos por decreto. Porque ainda está exuberante de vida. Porque está na boca, no pensamento, nos sentidos, na pena, na ponta dos dedos com que os nossos filhos riscam o ecrã do “tablet” e do telemóvel. Porque lhes está na alma. E há muito se entranhou na nossa.
Desobediência civil, massiva, activa, imperativa, ao criminoso acordo da vergonha. Pelos nossos filhos Pelos filhos deles. Não há legado maior do que a nossa língua. A Língua de Portugal.
VAMOS À LUTA!»
Fonte:
https://www.facebook.com/sergio.marques.37266/posts/1044559192322071
tags: academia de ciências de lisboa,
acordo ortográfico de 1990,
angola,
ao90,
brasil,
cabo verde,
camões,
civilização humana,
crianças,
eça,
guiné,
história,
latim,
língua portuguesa,
moçambique,
pessoa,
portugal,
português,
povo português,
pátria,
saramago,
são tomé e príncipe,
timor,
vieira