O Ensino em Portugal está em franca decadência, há anos consecutivos, posso até afirmar que a decadência começou logo no pós-25 de Abril, quando quiseram reformar o ensino, e, por exemplo, acabaram com o estudo da História e puseram os professores a inventar sobre matérias para entreter os alunos do segundo e terceiro ciclos com: vestuário, habitação e alimentação. Sem rede, sem apoio, sem manuais. A disciplina, o respeito devido aos professores dentro da sala de aula e fora dela, eram nulos. Os alunos podiam fazer o que bem entendessem. E viva a liberdade! Até jogar à bola, dentro da sala de aula, podiam! Podiam até dar palmadinhas no traseiro das professoras mais novas, e nada lhes acontecer. Não podia mandar-se o aluno malcriado porta fora. Era proibido passar faltas de castigo ao aluno que não se comportasse bem nas aulas. E vejam até onde chegou esta política: hoje, não só os alunos batem nos professores, como, por vezes são também os pais dos alunos a vier à escola bater nos professores.
O sistema de ensino começou a inventar novos métodos, menos exigentes, para não sobrecarregarem os alunos, coitadinhos, que com a revolução dos cravos os decisores políticos da altura acharam que ficariam muito menos aptos e mais imbecis do que todas as gerações que existiram desde a fundação de Portugal. E hoje, é o que vemos: de tanto quererem tomá-los por imbecis, muitos já estão a tomar-lhe o gosto.
Foi esta decadência que me levou a abandonar o Ensino, iniciado no ano lectivo de 1973/74; 1974/75 e abandonado em 1975/76.
Ou havia disciplina e matéria culta para ensinar aos alunos, ou a gerações dali em diante iriam tornar-se analfabetas funcionais. E eu não quis participar nesta decadência, ser cúmplice da ignorância que se instalou nas escolas. E tinha de se ter pachorra para aguentar os desmandos dos políticos, que andavam à deriva sem saber o que fazer com tanta liberdade.
Podiam tê-la usado para tirar o país da miséria educacional, cultural e social que então caracterizava a nossa sociedade, mas não, devagar, devagarinho, puseram Portugal na cauda da Europa, nos sectores mais primordiais de uma sociedade civilizada.
E agora, eis que chegámos ao ponto de universitários, já com os seus canudos na mão, NÃO conseguirem escrever um relatório médico, escolar, empresarial, político, etc., num Português correCto e escorreito. Além dos conhecimentos adquiridos, era o mínimo que poderiam fazer, para merecerem louvores.
A Cultura Geral actual dos Portugueses, que passaram pelas escolas e universidades, hoje em dia, é uma miséria franciscana. Os manuais escolares são elaborados de uma forma tão básica, como se os alunos fossem todos muitos estúpidos. Uma vergonha!
A Língua de um Povo é o PILAR em que assenta todo o Ensino, o Saber e a Cultura de um Povo. E o que fizeram com ela? Injectaram-lhe um vírus, que dá pelo nome científico de AO90, que a deformou de um modo horrendo, e apesar de haver cura para este mal, os decisores políticos recusam-se, peremptoriamente, a usá-lo.
O porquê desta atitude irracional não é desconhecido, faz parte de uma maquinação, tão mal engendrada, que deixou o rabo de fora, tal como o gato escondido. A intenção não pode ser mais irracional e desastrosa, e está nas mãos dos Portugueses PENSANTES (que ainda os há) exigir dos decisores políticos que governem Portugal, usando a cabeça que têm em cima dos ombros, e não com a cabeça do dedo mindinho do pé.
No passado dia 14 de Janeiro publiquei estetextono Blogue e enviei-o para os partidos políticos, porque entendo que temos de fazer com que os partidos políticos se comprometam a pôr nos seus programas o que pretendem fazer acerca desta GRAVE Questão da Língua, e cobrar-lhes as promessas.
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Até ao dia de hoje, o Chega foi o único partido que me respondeu, via e-mail.
Até ao dia de hoje, o Chega foi o único que apresentou uma MOÇÃO, aprovada, na mais recente convenção desse partido, em Viana do Castelo, que tem como tema o AO90, propondo a sua cessação.
Agradecemos desde já o mail enviado. De facto aprovámos uma moção sobre o assunto nesta última Convenção, de Viana do Castelo, com essa temática, no entanto para mais informo que ainda não se sabe se constará ou não do programa eleitoral. Neste, de qualquer modo, não constará tudo o que se defende ao detalhe, mas efetivamentefoi já assumido pelo CHEGA que somos contra o acordo ortográfico.
Melhores cumprimentos,
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Dizer que "efetivamente" se é contra o AO90 dá muito nas vistas.
Não me parece, pois, que nenhum dos partidos vá pôr o AO90 nos seus programas, porque não querem comprometer-se com algo em que estão atolados até ao pescoço, motivo que os tem levado a um silêncio estrondoso, apesar das várias tentativas dos Cidadãos Portugueses Pensantes os fazer sair do seu mutismo. O motivo desse mutismo será o de não terem qualquer argumento racional para justificar o acto completamente irracional de se ter imposto a Portugal o inconcebível e ilegal AO90?
Parece-me que os partidos políticos estão mais preocupados em se superarem uns aos outros, em resolver questiúnculas, em insultarem-se mutuamente, e a tratar de garantir o futuro, para o pós-poder, do que enfrentarem os reais problemas que Portugal atravessa, neste momento, tendo recuado em quase tudo, nestes últimos 50 anos, nomeadamente no que respeita à Saúde, Educação, Habitação, Justiça e os Direitos dos cidadãos a tudo isto.
Mas não nos custa tentar iluminar quem está às escuras.
No entanto, se nenhum dos partidos políticos der prioridade a esta questão, que está a conduzir Portugal para o pantanal brasileiro, serão arrasados um a um, embora saibamos que a palavra de umGrupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes, com 294 subscritores, para eles não vale um tostão furado.
Porém, se já foi um gigantesco erro a imposição ilegal do AO90 aos Portugueses, ignorar as vozes que se opõem a essa imposição é um ACTO DE TIRANIA, de que todos os decisores políticos não se livrarão jamais, ficando irremediavelmente às portas da História, por não terem salvaguardado os interesses de Portugal.Tão certo como eu estar aqui a escrever isto.
Ainda que seja apenas o Chega a fazer alguma coisa, no sentido de acabar com a ditadura ortográfica, que foi imposta a Portugal, não me parece que vá resolver a questão, se os outros partidos não estiverem para ali virados. E como eles sabem disso, continuam cegos, surdos e mudos, quanto a esta questão.
No entanto, continuaremos a tentar chegar a alguém que tenha olhos, ouvidos e boca para nos ver, ouvir e RESPONDER. Até agora só nos apareceu pela frente gente cega, surda e muda [à excepção do Chega, por nos responder e por ter apresentado uma Moção para anular o AO90]. Nunca pensei que Portugal tivesse tanta gente no Poder com a incapacidade de ver, ouvir e RESPONDER às nossas solicitações. Logo as três, de uma só vez.
Continuaremos a perseverar neste lema: Insiste, Resiste, Nunca Desistas e Vencerás.
Enviaram-me via e-mail a Moção que o Chega apresentou «Pelo fim definitivo do AO e pelo resgate da Língua Portuguesa».
Como seria louvável que os outros partidos políticos pudessem apresentar algo do género!
Daí que, uma vez que só tenho a Moção, aliás, muito bem elaborada, do Chega, ouso transcrevê-la, neste meu Blogue, porque me pareceu que nenhum órgão de comunicação social a ela se referiu. E fá-lo-ei para vincar a necessidade de os outros partidos políticos tomarem uma posição pública a este respeito, ou brevemente perderemos a nossa Identidade.
Isabel A. Ferreira
Pelo fim definitivo do AO e pelo resgate da Língua Portuguesa
Vêm os subscritores desta Moção apresentar e mostrar a necessidade de terminar rápida e irrevogavelmente com o Acordo Ortográfico em vigor.
Este Acordo, que tantos estragos veio causar à nossa Língua Materna, representa um ataque à Língua Portuguesa, símbolo nacional - uma das Línguas mais ricas e melhor estruturadas universalmente, cujo aparelho fonológico será o segundo mais complexo, a seguir ao árabe, que é o mais complexo das línguas, actualmente, faladas -, contribuindo para a desestruturação da sociedade portuguesa, pois da comunicação se trata, enquanto organismo vivo, uno e indivisível.
O A. O, de entre os vários acordos feitos entre o Brasil e Portugal, quase nunca respeitados, por Portugal ora, pelo Brasil, tornou-se num acordo mais, pernicioso para o bem falar a Língua Portuguesa e contribuiu para o incremento do insucesso do Português de Portugal, como pode ser demonstrado pelos resultados horrorosamente visíveis, desde a Escola à comunicação social, passando pelos mais variados agentes cuja obrigação primordial comunicacional deverá ser o bem falar a sua Língua Materna. Vamos passar a explicar e a enquadrar, devidamente, esta temática tão presente, mas tão pouco abordada, pois, não temos dúvidas, também silenciada por determinadas elites de interesses.
A nossa Moção suporta-se em dois planos:
Plano cultural - Os malefícios para o Português falado e escrito hoje, em Portugal, pátria-mãe da língua que espalhamos pelo mundo. Hoje os nossos jovens advogam causas que não conseguem justificar nem defender porque em vez de estarem assentes no Conhecimento, suportam-se em chavões cujos significados nem os próprios conhecem e são repetidos à exaustão pois são-lhes gravados na memória como se de qualquer programação neuro-Linguística se tratasse. E trata, de facto. Nós não podemos almejar ter, ser ou pertencer a uma sociedade desenvolvida se os nossos concidadãos não conseguirem elaborar um raciocínio comum, seja ele simples ou complexo, como não serem capazes de fluida e capazmente comunicar entre si. As crianças e os jovens não estarão disponíveis para os processos de aprendizagem se estes não os ensinarem a raciocinar e não lhes permitirem perceber que a Língua se transmite através da Linguagem e que esta contém regras claras que se querem imutáveis, para que a integridade da própria Língua e da sociedade se mantenham e perdurem no tempo.
Plano político - O Português como língua-arma de manipulação da população pela esquerda, em Portugal. Este Acordo, fruto de decisões políticas para beneficiar o “lobby” da indústria livreira, provocou uma alteração comportamental e societal sem precedentes, permitindo que a Linguagem saísse do seu plano intocável para passar a ser uma cacofonia onde as palavras não significam nem representam o que deveriam significar. Ao alterar-se a grafia das palavras, permitimos a introdução de novos conceitos diferentes, passando as palavras a serem usadas fora do contexto e do seu significante original.
Deixamos alguns exemplos para melhor compreensão:
- A introdução das palavras "migrant" e "gender" traduzidas literalmente da Língua Inglesa sem ter em conta não só o contexto linguístico, como cultural ou mental da sociedade leva a que os falantes de Português comecem a aceitar verdadeiras aberrações linguísticas. A palavra inglesa "migrants" é usada genericamente para definir não apenas o fluxo migratório, mas todos os indivíduos que emigram ou imigram ao contrário do que se passa na Língua Portuguesa onde os três conceitos, migrante, emigrante e imigrante têm significados e significantes atribuídos que distinguem as três situações. A transferência desta palavra directamente para a Língua Portuguesa faz com que os Portugueses passem a aceitar a entrada em Portugal de migrantes quando este termo se refere ao trânsito de pessoas entre países.
O mesmo se passa com a palavra "gender". A Língua inglesa não comporta as expressões "male sex" ou "female sex". Nela a palavra utilizada é "gender" originado "female gender" ou "male gender". A introdução abusiva e errada desta palavra na Língua Portuguesa faz com que se aceite no discurso corrente que existem "géneros" e que cada um pode ter o seu. Nada poderia estar mais errado. E a cultura woke, essa nova arma de grupos atávicos esquerdistas, agradece.
Para além destas, existem outras palavras de elevadíssimo cariz marxista como sejam a "maisvalia". Neste caso, tornou-se comum aplicar uma expressão financeira que deveria ser apenas utilizada no contexto da finança para passar a ser genericamente utilizada mesmo em relação a pessoas quando a palavra correcta deveria ser "vantagem" ou o seu antónimo "desvantagem".
Nós não podemos querer combater a Esquerda usando o seu exército, as suas armas, a sua táctica, a sua estratégia, o seu terreno de batalha e acharmos que poderemos ganhar até porque ao fazê-lo estamos implicitamente a aceitar e a validar o ataque que eles estão a fazer à Linguagem e ao símbolo pátrio que é a Língua.
Temos que perder o medo, afastar-nos do politicamente correcto e retirar à Esquerda a primazia da Linguagem da qual se apropriou e que ela detém neste momento.
O combate que travamos é desenvolvido em várias frentes, mas esta, no entender dos subscritores desta Moção, é a base de tudo, pois, sem Língua, a nossa Linguagem torna-se deficitária e nós não conseguimos comunicar devidamente ou ferozmente, dificilmente nos conseguiremos compreender.
Se nós continuarmos a usar a Língua e a Linguagem de forma incorrecta, as pessoas continuarão a viver em confusão, com conceitos trocados e elaborando pensamentos e raciocínios de forma errada o que, em última instância, não só favorece a Esquerda como lhe permite controlar as mentes dos menos preparados.
Parafraseando António Gramsci " nós venceremos a próxima guerra sem disparar um único tiro pois teremos o controlo das mentes". É precisamente a isso que estamos a assistir, pessoas que não se conseguem ouvir, que não conseguem expressar um pensamento ou elaborar um raciocínio porque em vez de usarem todas a mesma Linguagem, cada uma usa as palavras de forma solta e elas não representam o mesmo para todas as pessoas como acontece em qualquer sociedade independentemente do seu grau de desenvolvimento, cultura ou riqueza.
Em conclusão as razões para o A. O. acontecer, foram:
Pelo interesse do Brasil no comércio internacional, pois a ideia de um só Português dar-lhesia maior credibilidade e substância;
A Academia que tinha de mostrar algum trabalho para provar a necessidade da sua existência e tinha que justificar os investimentos já feitos;
O interesse das editoras brasileiras, são vários os relatos da existência de autores com originais prontos, mal acontecesse a sua aprovação;
O absurdo de toda esta situação é que o A. O. acabou por estar implementado só em Portugal, Timor-Leste e Cabo Verde. Angola e Moçambique não o subscreveram, exactamente pela miscelânea linguística com que se confrontam e pelos gastos que implicaria a sua Introdução no Ensino. São vários os relatos de que o Brasil o retirou pouco depois de o ter implementado pois a adesão por parte da população foi nula. Podemos então concluir que hoje temos um Povo que usa uma Língua sem regras e a seu belprazer, dando à Esquerda a arma que lhe faltava para desferir o ataque final à sociedade portuguesa, e tudo por mais uns favores a “lobbies” poderosos sem qualquer pudor ou respeito pelos portugueses e por mais de novecentos anos de História.
Em Portugal, o A. O. veio destruir a frágil aprendizagem da língua materna, sendo, hoje, comum, o erro verbal e ortográfico. Se não usarmos correctamente a nossa Língua, se a deixarmos ser vítima de caprichos e se permitirmos que interesses económicos se sobreponham a um valor pátrio, nunca estaremos em posição de nos unir enquanto Povo e lutar por causas, valores e princípios comuns.
Por todas estas razões e pela importância e urgência do tema, vêm os subscritores pedir o voto, a aprovação e a inclusão desta Moção no Programa de Governo a apresentar pelo Partido CHEGA às próximas eleições legislativas de Março de 2024.
Regozijo-me com o facto de o Ministro da Educação ter evidenciado o caos que os alunos, e também os professores, sentem no ensino do Português. Preocupá-lo-á, tal situação?
Maria do Carmo Vieira
Lá vem a “Velho do Restelo”, dirão alguns leitores. Por sinal velha e também do Restelo, desde longa data, para além de fiel leitora do poeta, criador da venerável figura.
Referir Luís de Camões implica forçosamente falar da Língua Portuguesa, com o mal-estar que ressalta de ser ostensivamente tão mal-amada por “gente surda e endurecida” que se pavoneia pelo Poder e outros lugares. Confirma-o o privilégio dado ao texto utilitário em detrimento do literário, de que é exemplo o estudo do poeta, lírico e épico. O Ministro da Educação devia saber que um aluno que saiba ler e interpretar textos literários não terá qualquer problema em ler e em interpretar textos pragmáticos. O contrário é que será impossível.
Não surpreende também que Luís de Camões fosse depreciativamente usado como argumento estapafúrdio por quem negociou e ajudou a implementar o Acordo Ortográfico (AO) à revelia de todos os pareceres solicitados, e nunca é demais referir este gesto impostor que teima em repetir-se. Apregoou-se: “A língua evolui. Já não se escreve ou fala como no tempo de Camões”. Tal desorientação só pode suscitar uma gargalhada. No mesmo sentido, parafraseio o que afirmou um político de referência, ao defender o AO e confundindo ortografia com léxico: dantes também não existia “bué” no vocabulário português e agora é comummente usado! Só faltou inventar que “bué” fora resultado de um decreto, o que efectivamente aconteceu com o AO.
Num folheto turístico francês, actual, sobre o “Arco do Triunfo” e “O Soldado Desconhecido”, traduzido, como se indica, em “Português” (a bandeira confirma-o), leio que Napoleão, na noite da batalha de Austerlitz, disse aos seus soldados: […] Soldados, estou satisfeito com vocês […] Eu vou levar vocês de volta à França; lá, vocês receberão as minhas mais sinceras solicitudes […]”. Surgem depois as guerras napoleônicas e ainda a cerimônia da chegada do Soldado ou o planejamento final da praça. Alunos do 4.º ano, perante o exemplo, souberam dizer-me como deveria ficar: “satisfeito convosco”, “vou levar-vos”, “lá, receberão”, substituindo também os acentos circunflexos.
Aceito que o Brasil defenda a designação de “língua brasileira”. Que assim seja, mas libertem-nos do sufoco que é aceitar como “português” a tradução transcrita. Também à conta do AO, e pesquisando no Google, onde anteriormente aparecia a opção “português de Portugal”, temos agora a opção “pesquisar páginas em português” e daí o aparecimento de inúmeros resultados de busca terminados em com.br, antes dos sites portugueses, o que não é de admirar pelo facto de os brasileiros serem perto de 200 milhões, número que, numa óptica colonialista, serviu de argumento, descarado e absurdo, para a implementação do AO.
No livro de “Estudo do Meio” (4.º ano), a propósito de Actividades Económicas, a minha neta leu: “setor primário”, fechando a vogal inicial para logo de seguida dizer, gozando: “Setor? Então é um professor?”. Aproveitei para pôr o “c” que faltava, e que abre o som da vogal, explicando-lhe que é o correcto. Na verdade, o AO definiu a dupla grafia: setor para o Brasil, sector para Portugal, mas muitos, na habitual bajulação ou indiferença, teimam no “setor” e afins. Mas não confessou também o Primeiro-Ministro, perante o presidente Lula da Silva, e, implicando-nos, que “Temos pena de não falarmos com o vosso sotaque.” (sic)?
A demonstrar ainda quanto este AO veio confundir e equivocar, prejudicando o ensino do Português, eis como reagiu uma aluna do 1.º ciclo, perante uma actividade intitulada “Para para ler”: instintivamente colocou um acento agudo no verbo parar, pensando que a professora se enganara, vindo depois a saber que a professora o fizera porque era obrigada a cumprir o AO. Como esta professora, milhares de colegas.
Sabendo que o professor João Costa, na preparação da sua demagógica intervenção, na AR, se entreteve a contar o número de vezes que Joana Mortágua dissera “professores”, referindo apenas 1 vez “alunos”, regozijo-me com o facto de ter evidenciado o caos que os alunos, e também os professores, sentem no ensino do Português. Preocupá-lo-á a situação, senhor Ministro?
Lamentavelmente, nem Luís de Camões nem a Língua Portuguesa são privilegiados por quem de direito; no entanto, estão presentes em muitos discursos oficiais que se caracterizam pelo vazio e pela hipocrisia, com destaque para o 10 de Junho. E a terminar, um extracto de um texto de Vasco Graça Moura que em boa hora me foi enviado por uma colega e amiga, de Lagos: “(...) o que parece preocupante é o facto de cada vez menos haver em Portugal qualquer espécie de interesse por Camões e por aquilo que ele representa. O nome do autor de Os Lusíadas tende a ser apenas a marca distintiva de um feriado, ambíguo luxo nos tempos que correm, e pouco mais. As questões da identidade começam por estar relacionadas com a língua materna e esta deve a Camões a sua dimensão moderna. Mas estão à vista as consequências que, para a identidade, decorrem do actual estado de coisas: a língua materna está cada vez mais deteriorada (…). Nem sabemos pronunciá-la, nem sabemos escrevê-la ou falá-la com um mínimo de correcção. E nem vale a pena falar da situação catastrófica que virá a ser gerada pelo Acordo Ortográfico se este algum dia se aplicar (...). Vivemos numa época de apoucamento da língua, de empobrecimento do vocabulário, de aviltamento de todas as regras de gramática. (…) Vêmo-la subordinar-se servilmente ao facilitismo e à tecnologia, quando devia contribuir para uma estabilização dos seus paradigmas próprios, procurando equilíbrios permanentes com as tendências que são sinal dos tempos. (...) A língua de Camões está irreconhecível. Se ele voltasse ao mundo, decerto pensaria em rasgar a sua obra. Deixámos de ser dignos dela.” (In DN de 09.06.2010 - "A língua de Camões?")
Até agora, os debates têm se centrado nas questões económico-financeiras, e pouco mais. De fora têm ficado as graves questões da Cultura (culta, não a cultura rasteira, que tem tantos aficionados socialistas e sociais-democratas no Parlamento) da Educação e Ensino, da destruição da Língua Portuguesa, da miséria ortográfica vigente, do analfabetismo funcional, já instalado em Portugal, enfim, tudo o que diz respeito ao alimento do espírito.
E tal deve-se ao facto de os governantes não investirem na Cultura e no Ensino, porque quanto mais inculto for um Povo, mais fácil é de o subjugar. Mas isto já vem de tempos muito antigos.
Andei há dias, pela página de campanha do PSD, a sondar os sociais-democratas sobre a questão do AO90, (porque do PS já sabemos que são adeptos da destruição do nosso Português), e embora o resultado não me surpreendesse absolutamente nada, fiquei com a certeza de que interesses mais obscuros do que aqueles que já sabemos, mantém o AO90 ainda activo, apesar de ser ILEGAL. E nem os partidos políticos, e nem os tribunais estão dispostos a repor a legalidade.
Nessa minha sondagem, fiquei sem saber, o que pensa o Dr. Rui Rio exactamente, pois o Partido Social Democrata disse em público que:
«[…] a comunicação social pôde assistir à fase das perguntas e respostas dos militantes. Mas foram apenas três: uma sobre dívida pública, outra sobre políticas de emigração e uma sobre... acordo ortográfico. Rio é a favor, em princípio, mas a forma como o acordo foi feito podia ter sido melhor.»
Mas no programa eleitoral vem esta coisa espantosa: “A tentativa da uniformização ortográfica não constituiu qualquer vantagem face ao mundo globalizado, pelo que o PSD defende a avaliação do real impacto do novo Acordo Ortográfico”. Verdade Dr. Rui Rio? Não foi essa a postura que o PSD tomou sempre que no Parlamento a questão do AO90 se levantou.
Dá-se uma no cravo, outra na ferradura? Porque o tempo é de eleições?
A “conversa” que mais abaixo se segue encontra-se nestes dois links:
Fernando Pires penso que o senhor não percebeu o que eu disse. Eu não disse DAR, disse MUDAR. E o que nós queremos que MUDE é a pouca-vergonha que se passa nas escolas portuguesas, ao não permitirem que os alunos escrevam correCtamente a sua Língua Materna, cumprindo a a LEI VIGENTE, e obrigando-os a escrever segundo o ILEGAL AO90, do qual Rui Rio diz ser a favor, tal como António Costa, que é cúmplice dessa ilegalidade.
É isto que tem de mudar, além de outras coisas, como a interferência dos governantes em certas questões da justiça, e a nomeação de "primos e primas" para cargos que estão sob a alçada dos políticos, que servem lobbies, em detrimento dos interesses de Portugal e dos Portugueses.
Fernando Pires estamos em desacordo, sim. Mas se o senhor tiver um argumento racional (um só basta) que possa oferecer-me para que eu mude o meu olhar sobre a mudança ILEGAL da Língua Portuguesa para o dialecto brasileiro, eu rendo-me.
A quem servirá o AO90? Aos países lusófonos sabemos que não serve. Só Portugal o aplica.
Que vantagens trouxe para Portugal? Sei que trouxe vantagens para os BOLSOS de alguns.
Mas para Portugal e para os Portugueses PENSANTES (o oposto de servilistas) que vantagens trouxe, além de ter gerado o CAOS ORTOGRÁFICO e a subserviência a um país estrangeiro, e que tem afugentado os jovens para estudar no estrangeiro, onde as Línguas são LÍNGUAS?
Que país do mundo trocou a Língua Materna por uma variante de si mesma?
Isabel A. Ferreira se está convencida que alguém rasgue o acordo ortográfico, e isto é chapa 6, talvez fosse melhor preocupar-se com algo que valha a pena.
Fernando Pires eu não estou convencida de que se rasgue o AO90. Eu tenho a certeza de que ele vai ser destruído, e com ele muita gente vai cair, principalmente aqueles que insistem no erro. Pode ter a certeza disso. Porque um país não se aguenta em cima de um monte de lixo ortográfico degradável e degradante.
E o senhor lá continua sem dar UM argumento racional que possa sustentar o insustentável. Não é fácil, pois não?
Isabel A. Ferreira tudo é importante. Mas no final do mês ter lá o dinheirinho n é mais importante? Na educação isso já bateu no fundo há muito tempo, mas há que arrumar primeiro a casa para depois ir tratar disso, e é no site do PSD que deve deixar as suas preocupações, sugestões, não é aqui
Miguel Neto de que dinheirinho está a falar? Do dinheirinho do Povo ou do dinheirinho dos políticos?
A Educação bateu no fundo. Portugal está cheio de analfabetos funcionais, a começar pelos políticos (salvo raras excePções).
O que é preciso arrumar na casa? Ou pensa que a EDUCAÇÃO de um povo não é a coisa mais importante a seguir à Saúde e à Habitação?
Ou pretendem um povo analfabeto para melhor ser subjugado?
O lugar certo para deixar as reflexões e sugestões de uma mulher pensante é aqui também, porque tenho de escolher um primeiro-ministro para o meu País, e até agora não vislumbro OPÇÃO.
Os partidos políticos não me dizem NADA.
As pessoas sim. Eu não voto em partidos, voto em pessoas que mereçam a minha confiança.
Gostaria de saber mais o que pensa Rui Rio destas minhas questões, por ser o que está mais perto de poder tirar o poder aos incompetentes socialistas, que mantiveram Portugal em banho-maria, enquanto lá estiveram.
Não queremos mais do mesmo. Queremos MUDANÇAS RADICAIS, que catapultem Portugal para a modernidade.
E não vejo que possamos ter OPÇÕES mais credíveis e mais competentes e com mais visão de FUTURO.
Isabel A. Ferreira Olhe que sem OE não ha AO90 que resista, sabia? Vejam lá agora onde vão votar, se continuam a amamentar a xuxalhada para depois não vir para aqui fazer de muro das lamentações.
Miguel Neto nem só de DINHEIRO vive um POVO. Se o OE é importante, e É, o AO não lhe fica atrás, nem um milímetro. Ainda não se deram conta do que se está a passar no ENSINO? Não saem dos gabinetes e nada sabem do CAOS ortográfico nas escolas e na comunicação social.
Uma vergonha! Um país que tem governantes e jornalistas que não sabem escrever e falar, e está a fabricar os analfabetos funcionais do futuro (os alunos) que não são LIVRES de cumprir a LEI vigente, que obriga a escrever segundo o AO45, e NÃO, segundo o AO90.
Os políticos falam e escrevem mal, e o AO90 deve dar-lhes muuuuuuito jeito, para que não reconheçam o ERRO e se batam pela sua anulação.
E onde fica a cumplicidade dos partidos políticos com a ILEGALIDADE? O AO90 é ilegal, é uma fraude, e quem está a favor dele, está a favor da ilegalidade e da fraude.
Será que o povo português quererá continuar a ter um primei-ministro envolvido em fraude e ilegalidade, como o que lá ainda está?
Isabel A. Ferreira as questões: acordo ortográfico, justiça, economia, finanças públicas, exportações, educação, etc., têm sempre, e em particular no actual contexto político nacional, um determinado peso específico. E este substantivo poderá ser visto quanto:
- à materialidade -- pesar,
- ao valor relativo -- ponderação,
- ao peso -- pertinência.
Destarte, e considerando o actual quadro institucional, uns assuntos terão maior relevância que outros. A dúvida está apenas em considerar qual ou quais se sobrepõem.
Antonio José Verissimo que assunto mais importante existirá do que FORMAR JOVENS de qualidade, para se manterem no País? O ENSINO está um caos, porque a Língua Portuguesa, pilar de todas as disciplinas, está de rastos, e NÃO é permitido aos jovens escrever correCtamente e cumprir a LEI VIGENTE, a que obriga a escrever segundo o AO45. Então vão estudar para o estrangeiro. Fixam-se lá. E Portugal anda por aí ó-tio-ó-tio que não tem pessoal qualificado para ocupar cargos superiores.
E fala quem tem conhecimento de causa sobre esta matéria.
Se as crianças votassem, o senhor não subestimaria a importância VITAL de anular o AO90.
Um político que não tenha esta visão, que despreza o direito das crianças e jovens a um ENSINO DE QUALIDADE, não serve para governar o País.
Os que ainda estão no poder não têm a mínima visão de futuro. E não vejo quem tenha. Depois surpreendam-se se a abstenção GANHAR estas eleições.
É preciso ver mais do que €€€€€€€€€€ diante do nariz!!!!!
O que vale um OE primoroso, num país de analfabetos funcionais, que já os há por aí aos magotes?
Isabel A. Ferreira o acordo ortográfico é importante mas, neste momento, é tão importante como o estado da justiça, como a enormidade da dívida pública e como a recuperação da economia, entre outros? Tudo a seu tempo!
Antonio José Verissimo desculpe não concordar consigo. Tudo a seu tempo, não. Este é o tempo de se falar no AO90. Ou ainda não se aperceberam no MAL que estão a fazer aos alunos?
Este é um assunto da maior importância. Deve ser debatido nestas eleições. Dele depende muitos votos.
Antonio José Verissimo sim e não vejo lá nada que vá mudar o caos ortográfico em que Portugal está mergulhado e está a levar-nos para um buraco negro, sem regresso. Além disso existe a ilegalidade do AO90, que é avalizada por Rui Rio. Tudo isso será pago com votos.
Eu sou completamente apartidária. Voto nas pessoas, não, nos partidos. Eu até simpatizo com Rui Rio. Queria ver o PS daqui para fora. Mas Rui Rio terá de mostrar a sua RAÇA no que respeita a um acordo ilegal que estão a impingir-nos e que ele já disse que é a favor.
Não é lamentável?
E como eu, há muito mais gente que votaria Rio, se não tivesse essa pedra no sapato.
Deixei num comentário numa publicação mais abaixo, uma pergunta para Rui Rio responder.
O Dr. Rui Rio está preocupado com o futuro das gerações mais novas? É para estar, mas não só de pão viverão as gerações futuras.
Existe um gravíssimo problema que fará delas os analfabetos funcionais do futuro, e não vejo o Dr. Rui Rio preocupado com isso, ou melhor, assobia para o lado: a questão de estarem a ser obrigadas a usar o AO90, que todos sabemos ser ilegal, mas o Dr. Rui Rio diz «ser a favor, mas a forma como o acordo foi feito podia ter sido melhor.»
Posso fazer-lhe uma pergunta, Dr. Rui Rio?
O Dr. Rui Rio pode dizer-nos o que o AO90 trouxe de BOM para Portugal? Que benefícios trouxe para os Portugueses, para a sua Cultura Linguística, para o seu Ensino de Qualidade? O que é que podia ter sido melhor no universo do PIOR?
A escola, hoje, é um lugar terrível, tanto para alunos, como para professores, como para os pais. Para mim, foi-o igualmente, quando por lá andei, nos anos lectivos de 1973/74 (na Frei João de Vila do Conde) e 1974/75 (na Eça de Queiroz Póvoa de Varzim)
Eu já fui professora do Ciclo Preparatório (que hoje já não se chama Ciclo Preparatório), não por vocação, mas porque na altura, ainda Bacharel, não podia seguir o meu sonho: fazer prospecção arqueológica, até porque, por incrível que pareça, não havia nada para fazer nesse campo, num país cheio de ruínas.
Então, fui parar ao Ensino. Dei aulas apenas dois anos. No primeiro ano, não suportei as campainhas, os horários, o sistema, o programa de Português, e principalmente o de História, desadequado e falacioso. No segundo ano, acabaram com a História, e os programas eram experimentais e completamente idiotas. Além disto, que já era muito, não admiti a indisciplina que o 25 de Abril deixou entrar nas Escolas, em nome do conceito errado de liberdade.
O Presidente do Conselho Directivo da segunda escola em que dei aulas, confundia Liberdade com Indisciplina (e não foi só naquela escola), de modo que se implantou uma rebaldaria tal, que os alunos podiam fazer tudo e mais alguma coisa, dentro das salas de aula, e ai do professor que quisesse manter a disciplina: não podia repreender-se os alunos, não podia marcar-se faltas de castigo, não se podia mandá-los para fora da aula, se estivessem a ser inconvenientes, porque podíamos causar-lhes traumas irreversíveis; eles tinham de sentir-se livres, para poderem crescer em liberdade, enfim, confundindo-se alhos com bugalhos, plantou-se as sementes da bandalheira a que hoje se chegou.
Então acontecia que os alunos começaram a chegar à minha aula a mascar pastilhas elásticas; a pôr os pés em cima das mesas; a jogar à bola, simplesmente porque o professor X deixava (o professor X era o Presidente do Conselho Directivo). Tive de impor as minhas regras, e fui curta e grossa: «que fizessem o que quisessem nas aulas do professor X, mas nas minhas, nada de pastilhas elásticas, nada de pés em cima da mesa e nada de bolas. E quem não quisesse obedecer às minhas regras que saísse da sala, se faz favor». Aguardei. Ninguém saía. Guardavam as bolas. Punham as pastilhas elásticas no caixote do lixo, e sentavam-se.
A esse tempo (1975), e a uns dois meses do término do ano lectivo, eu andava grávida, já quase no fim da gestação, e numa das minhas turmas, havia um rapaz já espigadote e muito problemático, que não obedeceu à minha ordem de se sentar (uma vez que andava de carteira em carteira a perturbar os outros alunos). Em vez de ir sentar-se, aproximou-se de mim e disse: «Dou-te já um pontapé na barriga!». Mantive a calma, para não lhe dar um grande bofetão (como me apetecia) e disse-lhe para se retirar imediatamente da sala. Fez-me frente. Então agarrei-o por uma orelha e levei-o para fora da sala até ao meio do corredor, e deixei-o ali, e nada disse. O miúdo sai para a área exterior e apedreja a janela da sala de aula, quebrando o vidro, não ferindo ninguém, por um mero acaso.
O estardalhaço chegou aos ouvidos do professor X. O que foi, o que não foi, fui chamada ao gabinete. Porque não podia ser, porque mais isto e mais aquilo... Os meninos não podem ser expulsos da aula.
Então eu disse ao Senhor Presidente do Conselho Directivo da Escola: «O que não pode ser é eu ser ameaçada por um fedelho com treze ou catorze anos, e ficar-me por ali mesmo. E se ele me desse o pontapé na barriga? Não permito que ninguém, muito menos um aluno, me falte ao respeito; não permito indisciplina nas minhas aulas; e se estas minhas simples regras não tiverem lugar nesta escola, faça queixa de mim a quem quiser, ponha-me um processo disciplinar, ou ponha-me na rua, que eu saio imediatamente pela porta da frente, e não volto a entrar; e se tiver de ir lavar retretes para ganhar a vida, prefiro, a continuar num lugar onde não há disciplina nem autoridade – regras de ouro para o bom funcionamento de uma escola e para a boa educação dos alunos».
O Senhor Presidente do Conselho Directivo ficou estupefacto com o meu atrevimento. O mau ambiente instalou-se. Quem é que ela pensa que é? Ouvia-se. E eu era apenas a bacharel rebelde (nesse ano terminava a minha Licenciatura em História), que não abdicava da minha cidadania, e dos meus princípios e dos meus direitos. Aguardei o castigo. Porém, o castigo não veio.
Continuei, pois, a manter as minhas regras de disciplina com os meus alunos, e não haveria lei nenhuma que me obrigasse a aturar catraios indisciplinados. Dentro da sala de aula a autoridade era eu. Não abdiquei nem um milímetro da regra do respeito mútuo e das benfazejas disciplina e autoridade, dentro da sala de aula. Desse modo consegui manter as minhas turmas no bom caminho, e a partir de então nunca mais tive qualquer problema, no decurso das minhas aulas. Ao mínimo deslize, o aluno sabia que ia porta fora, gostasse ou não gostasse o Senhor Presidente do Conselho Directivo. Houvesse ou não houvesse leis a dizer o contrário. Nas minhas aulas a autoridade era eu. Se não fosse para ser eu, não me contratassem e pagassem para ENSINAR.
Para mim, o conceito de Ensinar não é apenas “despejar” matéria para cima dos alunos, como se despeja um copo de água. Por detrás do ensinar, há muitas outras regras que um Professor tem obrigação de apresentar aos seus alunos, como o respeito mútuo ou a disciplina, e até a higiene pessoal.
No final daquele ano lectivo, fui mãe, e decidi abandonar o Ensino, onde não havia lugar para mim, pois estaria sempre à margem das novas “filosofias libertárias”, aplicadas ao ensino pós-25 de Abril, que não se coadunavam, e tanto quanto sei, ainda não se coadunam, com o conceito de Educação.
Dediquei-me ao Jornalismo de causas. Não consegui mudar nada, até porque um palito não faz uma canoa. Mas o mais importante é não nos tornarmos cúmplices do desgoverno.
Pelo que se vê, depois desta minha desastrosa passagem pelo Ensino, as coisas foram piorando, cada vez mais.
E hoje, o que é a Escola, hoje? Um lugar de medo, onde não existe disciplina, nem autoridade, nem respeito por coisa nenhuma. Alunos atacam alunos. Alunos atacam professores. Professores atacam alunos. Os pais dos alunos atacam os professores. E o que acontece a uns e a outros? Nada, ou quase nada.
Certa vez, um menino chamado Leandro, vítima de bullying, atirou-se ao rio, por medo. Um professor de Música lançou-se ao Tejo, porque não aguentava as agressões dos alunos. Pergunta: então onde fica a disciplina e a autoridade?
A partir de um certo momento, os professores deixaram de se preocupar. Despejam a matéria, cujos conteúdos e programas são de bradar aos céus, alguns deles com atraso considerável (ex. o ensino da Matemática) em relação aos restantes países europeus; escrevem e falam mal a Língua Materna, que passou de língua íntegra a dialecto, sendo o índice de iliteracia bastante elevado; e ainda aguentam a falta de educação e indisciplina dos alunos. Chegam ao fim do mês, recebem o salário, que é o que mais interessa, e o resto que se lixe!
É urgente uma revolução no Ensino.
É urgente uma revolução na Educação.
É urgente uma revolução na Cultura.
É urgente a demissão dos ministros que tutelam o Ensino, a Educação e a Cultura, os quais não servem os interesses escolares, mas tão-só interesses subalternos, que não se encaixam nas exigências de um ensino de qualidade.
É urgente mudar de paradigma. É urgente um ensino escolar baseado no respeito mútuo e nos valores humanos mais primários, e no ensinamento-base de todos os ensinamentos: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti», uma sentença que já vem de um tempo sem tempo, adoptada na antiguidade por todos os filósofos, e que eu sempre fiz questão de passar aos meus alunos.
Ou as escolas portuguesas entram nos carris de um ensino de excelência, a começar pelo da Língua Portuguesa, a matéria-prima de todas as matérias escolares, retomando a grafia de 1945, ou Portugal estará irremediavelmente perdido para o futuro, porque os que estão a ser actualmente (de)formados por um ensino, uma educação e uma cultura assentes em areias movediças, e com um elevado insucesso e abandono escolares, não estarão à altura dos desafios, cada vez mais exigentes e competitivos, do tempo que aí vem.
Uma primorosa análise do Professor Santana Castilho, sobre o declínio da Educação em Portugal.
Obrigatório LER.
«Os padrões de exigência relativamente ao uso do português, escrito e falado, foram diminuindo. (…) A degradação das políticas de Educação na vigência dos governos de António Costa é um facto. A Educação perdeu relevância social e vai perdendo os seus melhores quadros, desmotivados, desiludidos, descrentes, cansados. (…) Um país com a sua Educação em declínio compromete o futuro e não se regenera repetindo os mesmos rituais (…) Em tempos de higienizações constantes, o Ministério da Educação carecia de uma, radical, que varresse políticas perniciosas e chefias sem préstimo.»
Origem da imagem: Internet
«A grande fixação do momento»
no Público, 28/4/2021
por Santana Castilho*
A grande fixação do momento é quantificar as perdas educativas provocadas pelos confinamentos e desenhar programas para as recuperar. Como se objectivos irrealistas de ocasião removessem erros de décadas, simplesmente agora ampliados. Tanto alarme catastrofista (houve quem clamasse por um “Plano Marshall” para a Educação) pode terminar no que já vimos: um aproveitamento para impor enxertos que, de outro modo, não passariam.
Mais do que programas de recuperação de aprendizagens, precisamos de clarividência para preparar o futuro da Educação, instrumento vital para promover o acesso a melhores condições de saúde, empregabilidade e desenvolvimento económico e social. Todos os programas servidos por lindos enquadramentos teóricos, de quem vive afastado do dia-a-dia das pessoas, resultarão abaixo de zero, se o desemprego galopar e as famílias prosseguirem na rota do empobrecimento provocado pela interdição do direito ao trabalho. Mais do que economistas prescientes, necessitamos de pedagogos e políticos conscientes, que não nos amarrem a generalizações e nos libertem dos aspirantes a tiranos.
O impacto nas aprendizagens, pela pluralidade de situações contextuais, é extremamente diferenciado de aluno para aluno, de nível de ensino para nível de ensino e de escola para escola, pelo que deviam ser as escolas e os seus professores a identificar as necessidades e definir as metodologias de actuação, cabendo ao ministério, apenas, garantir os recursos (mais técnicos e tutores que apoiem os alunos mais vulneráveis, um regime de incentivos a professores deslocados, liberdade para diminuir a dimensão de algumas turmas, mais psicólogos e mais meios e materiais de ensino). Ir por aqui seria optar pelo que comprovadamente funciona, em detrimento de experimentalismos duvidosos. Ir por aqui seria optar pela rentabilização do tempo de ensino, em detrimento de mais tempo de ensino. O programa de recuperação de que o país carece é um programa de reforço da confiança nos professores e de estabilização das competências emocionais de todos. Sim, porque deveríamos estar antes centrados em encontrar meios para recuperar alguma felicidade e optimismo perdidos ou compreender como, neste período, a propaganda cavalgou o medo e prejudicou a adopção de políticas públicas norteadas pela racionalidade e pelo debate sério e desapaixonado.
Não foi a pandemia que destruiu o Ensino de Português no Estrangeiro (hoje com 45% da expressão que tinha em 2010), assente na contratação precária de professores e onde os filhos dos emigrantes, ao arrepio do que a Constituição estabelece, pagam para aprender Português, ensinado não como língua de origem mas como língua estrangeira, enquanto os alunos estrangeiros nada pagam.
Foi na peugada do miserável Acordo Ortográfico, que não na peugada da pandemia, que assistimos à gradual desfiguração da nossa língua. Os padrões de exigência relativamente ao uso do português, escrito e falado, foram diminuindo. Aumentou o número dos que escrevem mal e cometem erros ortográficos e gramaticais inaceitáveis. Sinal dos tempos, e à semelhança do Reino Unido, não tardarão a aparecer recomendações para, em nome da inclusão e da igualdade de acesso, não penalizar essa ignorância. Numa palavra, uma verdadeira ideologia de falsa inclusão tem vindo, subliminarmente, afirmando a exigência e o rigor como elitistas e a lassidão e a mediocridade como igualitários.
A degradação das políticas de Educação na vigência dos governos de António Costa é um facto. A Educação perdeu relevância social e vai perdendo os seus melhores quadros, desmotivados, desiludidos, descrentes, cansados. A manifesta falta de vontade de António Costa para reverter políticas anteriores, melhor dizendo, o seu atávico apego ao banditismo administrativo com que Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues começaram a destruir a vida dos professores, levará o país a confrontar-se, a breve trecho, com a falta de docentes para garantir a escolaridade obrigatória universal. Um país com a sua Educação em declínio compromete o futuro e não se regenera repetindo os mesmos rituais, por mais digitalizados que sejam, sob os mesmos comandos incapazes. Em tempos de higienizações constantes, o Ministério da Educação carecia de uma, radical, que varresse políticas perniciosas e chefias sem préstimo.
A escritora Patrícia Reis escreve carta ao primeiro-ministro porque é muito triste um governo fechar o País aos Livros, logo numa altura em que os Bons Livros, escritos em Bom Português, são uma Boa companhia, para passar o tempo do confinamento. (Isabel A. Ferreira)
Como não creio que a Leitura e a Educação dependam de uma única tutela, e considerando que é o Ministério da Economia que interdita a circulação de livros, opto por lhe escrever deste modo, para o exortar a fazer da Leitura um desígnio nacional. Não estranhe este meu pedido - será apoiado por muitas pessoas, algumas suas apoiantes, algumas militantes do seu partido, outras com quem trava amizades de natureza distinta. O livro une-os, é parte indissociável da nossa identidade cultural. O senhor deverá saber que assim é, já que é filho de um escritor e de uma jornalista, ambos seres humanos de excepção. O índice de leitura neste país faz corar de vergonha. Outros indicadores também, já se sabe, mas a leitura é algo que nos garante o futuro. Diria mesmo que é na promoção da leitura, que implica pensamento, que podemos evitar outros índices menos democráticos. Enfim, é uma ideia.
Temos a mania, nós que habitamos num grande centro urbano, de ver o país à nossa medida, a partir da nossa realidade. Nada de mais errado. Existem muitas cidades, vilas e localidades em Portugal cujo acesso à leitura é feito na sucursal dos CTT, na tabacaria local ou nos hipermercados. A venda em hipermercados é uma discussão que deveria ser considerada, já que é realmente injusta face aos restantes livreiros; contudo, em tempos de pandemia, retirar os livros e deixar as revistas, por exemplo, é totalmente incompreensível. Tenho um grande amigo que foi comprar um livro clandestinamente. Rimos sobre isto, mas não tem graça. Os livros vendiam-se debaixo da mesa noutros tempos, que não desejamos revisitar.
Fazer da Leitura um grande desígnio nacional é um projecto ambicioso e cuja tutela deveria ser sua, não do Ministério da Cultura, da Economia ou da Educação. Temos de preparar o nosso futuro, temos de fomentar pensamento, temos de perceber a importância de estarmos atentos, informados, com a maior cultura geral possível e, já agora, com vocabulário enriquecido, ao contrário do que sucede nas redes sociais e afins.
Bem sei que estes são tempos em que o foco está, acima de tudo, nas questões de saúde. Nada contra, como pode facilmente imaginar, para mais uma pessoa como eu. É preciso ter visão, importa projectar e entender que o nosso modo de vida será, fatalmente, alterado com esta pandemia. Muitos negócios extinguir-se-ão, outros irão sofrer durante um longo período. A Leitura pode salvar-nos. Outros sectores da Cultura estão a sofrer, é verdade, e existem situações realmente preocupantes. Como escritora, apoio os movimentos do meio artístico. Como leitora cito-lhe a poetisa Filipa Leal: “Havemos de ir ao Futuro”. Sem livros, senhor Primeiro-Ministro, sem leitura promovida e acarinhada, o futuro adivinha-se muito perigoso.»
«Por cá, as luminárias políticas, que se dobram em salamaleques de obediência estúpida a valores que nada têm a ver com cultura, querem impor um acordo protervo, iníquo, vil e pérfido. Muitos dos nossos agentes políticos (nomeadamente os que ainda estão na governação) não sabem proferir uma frase em condições, proferem "acórdos", "precaridade" e outras bojardas que tais. São os mesmos que acham de bom tom falar na "alavancagem da economia", no "élan dos mercados", no "respaldo das reformas" e etc.. Não usarei este AO90 por não ser normal nem profícuo para a nossa Língua. E sempre posso usar o artigo 21 da CRP...»
Mário Ribeiro Caiado
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Mário Ribeiro Caiado é um homem com a mente bem aberta! “Gandarês de gema” – como se auto-intitula, este professor que já dá aulas há 41 anos – a maior parte do tempo em Vale de Cambra, onde reside – define-se um homem “muito curioso”, que enveredou pela área das línguas, pois a cultura em geral e a “origem das palavras” sempre o apaixonou. Formado em Filologia Germânica, deu – e ainda dá – aulas de Inglês, Alemão, Espanhol e Português. Mais sobre Mário Ribeiro Caiado, neste link:
O AO90 gerou uma anormalidade intrínsica e extrínseca a ele. É de lamentar que os restantes professores portugueses não tivessem usado o Artigo 21 da Constituição da República Portuguesa: Direito de Resistência, para pôr fim a esta anormalidade.
Pois é, o Povo ainda não se apercebeu de que os governantes são nossos serviçais, porque somos nós que lhes pagamos os salários, para que nos governem a Casa, ou seja, o País, tarefa que eles cumprem mal e parcamente. Por sua vez, os governantes não têm a noção de que são nossos serviçais, julgando-se uns deuses, e fazem o que bem entendem em proveito dos lobbies a quem servem mais do que ao Povo e a Portugal.
A Educação está um caos. Mas é o caos na Educação que convém aos governantes, porque, desse modo, manterão o povo domesticado. Um Povo instruído e educado não se verga aos políticos, como uma boa fatia do povo português se verga, por falta de instrução, educação e cultura.
Eu já fui professora de Língua Portuguesa. Mas já não sou, infelizmente.
Porque se fosse, ter-me-ia RECUSADO a ensinar DISPARATES aos meus alunos, como me recusei a ensinar DISPARATES HISTÓRICOS, quando dei aulas de História, e isto no ano lectivo de 1973/74, era eu ainda bacharel, e estava debaixo das patorras da ditadura.
Depois veio o 25 de Abril, e acabaram com a História. Puseram-nos a dar uma disciplina, na qual tínhamos de INVENTAR a matéria: Alimentação, Habitação e Vestuário.
Foi então que decidi abandonar o Ensino, por andar às turras com o SISTEMA. Ainda tentei resistir, contudo, a aversão de servir um Sistema caduco, que, apesar da Revolução de Abril, continuou com um pé enterrado no passado, foi mais forte.
Ainda hoje continuo às turras com o Sistema, pelos mesmos motivos e por muitos outros. Sem regalias. Sem reforma. Sem subsídios. Nada devo ao Estado. O Estado deve-me tudo, até porque o ajudo a pagar os salários dos que (des) governam o meu País.
Dediquei-me ao Jornalismo Freelance, para continuar a lutar por DIREITOS e pela nova Constituição da República Portuguesa, gerada pela Revolução de Abril, e que os governantes não cumprem.
É que se quisermos entrar na engrenagem, que faz avançar o mundo, é preciso, antes de mais, aprendermos a perder regalias.
E eu perdi regalias, mas não perdi a minha liberdade, e tenho a certeza de que já contribuí bastante para agitar as águas, no meu País, infelizmente muito estagnado, para o meu gosto, no que diz respeito à evolução de mentalidades.
Portugal jamais será um grande PAÍS enquanto as mentalidadezinhas forem pequenas, e continuarmos a falar e a escrever anormalmente a Língua que é a nossa: a Portuguesa, a Indo-europeia, a Românica, a Greco-latina.
Costumo ver o programa “Visita Guiada”, por Paula Moura Pinheiro, aos domingos de manhã, na RTP3, que é dos poucos que fogem à mediocridade da programação televisiva em geral, apesar de nos esbofetear com uma “conceção” e quejandas palavras no genérico do programa, o que constitui um insulto à Portugalidade, (que os moderneiros (*) rejeitam por desconhecerem o conceito) ou seja, é um insulto ao carácter específico da Cultura e da História de Portugal, neste caso é um insulto à Cultura Linguística Portuguesa.
No passado domingo, a Visita Guiada foi à Terra de Miranda (do Douro) onde, actualmente, se fala a única e verdadeira Língua Oficial de Portugal, a Língua Mirandesa (que era a segunda língua oficial do nosso País, identitária de Miranda) uma vez que a Língua Portuguesa (que era [passado] a primeira língua oficial portuguesa, identitária de Portugal) foi adulterada: está abrasileirada (setor, atua, inspeção, inspetor, teto, arquiteto, fatura, direto, adota, ação, insetos, etc.), mixordizada (fato, por facto, contato por contacto, ora directo, ora direto, ora acção, ora ação, etc.) efalsificada (circunspeto, concetual, receção, aspeto, exceto, infeção, infetar, injetar, respetivo, conceção, deceção, espetador, correção,aceção, anticoncetivo, conceção, confeção, contraceção, deceção, deteção, infete, impercetível), ao ponto de esta linguagem já não ser mais reconhecida como portuguesa, porque, na verdade, não é.
Imagem: o Arqueiro da Fraga do Puio (Picote – Mirando do Douro – Arte rupestre no Parque Natural do Douro Internacional)
Gostei de ouvir o linguista António Bártolo Alves(**) que, com enorme paixão, falou da Língua Mirandesa, reconhecida como língua europeia minoritária e segunda (agora única) língua oficial portuguesa, desde 1999, e que se aprende nas escolas.
O que mais me chamou a atenção foi a ligação da Língua com a História do lugar, porque as palavras arrastam a História, as palavras são a nossa História, as palavras contam a nossa História, no dizer de António Bártolo Alves.
O Mirandês não é um dialecto, nem uma variante sincrónica na evolução da Língua Portuguesa. Tem diferenças nas silabas tónicas, mas também na morfologia, na sintaxe e no léxico. É uma língua oriunda do Latim, uma mistura entre o Leonês (que se falava naquelas terras antes do tratado de Alcanizes, assinado entre os reis de Leão e Castela, Fernando IV (1295-1312), e de Portugal, D. Dinis (1279-1325), em 12 de Setembro de 1297) e o Galaico-Português com forte influência deste no vocabulário, o qual remonta ao povoamento dos enclaves raianos da antiga Terra de Miranda, já no fim da Idade Média, onde ficou cristalizado pelo isolamento geográfico.
Eé o fio da linha das palavras que nos conduz à História, de acordo com António Bártolo Alves.
E a que História nos conduz as palavas setor, atua, inspeção, inspetor, teto, arquiteto, fatura, direto, adota, ação, insectos, circunspeto, concetual, receção, aspeto, exceto, infeção, infetar, injetar, respetivo, conceção, deceção, espetador, correção, aceção, anticoncetivo, conceção, confeção, contraceção, deceção, deteção, infete, impercetívele outras que tais, às centenas…?
Alguém é capaz de me dizer a que História nos levam estas palavras?
Não é por acaso que Portugal tem a mais inferior taxa de escolaridade, e o maior índice de analfabetismo da Europa. Portugal é um país envelhecido, cheio de desigualdades, onde não se vislumbra um futuro promissor, onde os licenciados em determinados cursos (estou a lembrar-me dos Engenheiros Florestais e Biólogos) estão, por exemplo, a secretariar hostals ou empresas de exportação (conheço alguns) daí que os nossos cérebros estejam a emigrar e a ter grande sucesso lá fora, além de auferirem salários substancialmente superiores aos de Portugal.
Portugal atrasou-se na Educação, e agora, com esta parvoíce do AO90, é o único país do mundo que escreve à balda, como se a escrita não fizesse parte do Idioma. Como já ouvi da boca de alguém a quem fizeram uma lavagem cerebral, neste sentido: a língua serve para comunicar, não para escrever. Como se o Pensamento, a História, a Literatura, o Saber se fixasse na oralidade!
Nesta Visita Guiada a Miranda, falou-se de Identidade, da identidade do Povo Mirandês, através da sua Língua.
De acordo com o linguista António Bártolo Alves, «as Línguas humanas fazem parte do ADN humano.Das cinco ou seis mil Línguas existentes, o Mirandês é uma delas, faz parte do ADN dos Mirandeses, e cada vez que perdemos um elo linguístico, ficamos mais pobres».
O Português está em vias de não fazer parte das línguas do mundo.
A Terra de Miranda tem o seu Idioma e a sua identidade intactas. Portugal perdeu todos os elos que o ligavam à História das Línguas Europeias. Perdeu a sua identidade. Ficou paupérrimo.
Contudo, a Língua Portuguesa sobrevive num gueto onde um ainda elevado grupo de Portugueses, com espírito identitário e que têm a Língua Portuguesa no seu ADN, não a deixará morrer, assim como um grupo de Galegos com espírito identitário e com a Língua Galega no seu ADN, não a deixaram morrer, e ela ressurgiu das cinzas em que a transformou a imposição do Castelhano, e hoje é uma Língua novamente viva, falada e estudada nas escolas da Galiza.
Não percamos a esperança, porque os maus não se aguentam por muito tempo.
(*) Para quem não saiba, moderneiros são aqueles que, pretendendo ser gente moderna, espezinham a Cultura e a História, com uma ignorância atávica.
(**) O linguista António Bártolo Alves, nascido em Picote, Miranda do Douro, em 5 de Dezembro de 1964, é também investigador e divulgador da Língua Mirandesa. Licenciou-se em Português-Francês pela Universidade do Minho, onde apresentou uma tese de mestrado sobre a Língua Mirandesa. Em 2002, doutorou-se pela Universidade de Toulouse. É professor do ensino secundário. Assumiu vários cargos de gestão e representação, sendo actualmente também director do Centro de Estudos António Maria Mourinho, presidente da direcção da FRAUGA e Secretário Territorial para Portugal da Associação Internacional pela Defesa das Línguas e das Culturas Ameaçadas (AIDLCM).
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