Vou aliar-me aos descendentes de Eça de Queiroz, e fazer também minhas as palavras que Eugénio Lisboa escreveu no Blogue De Rerum Natura. Eça de Queiroz é património português, é património do Povo, e tem descendentes que o honram, com muita dignidade.
Eça de Queiroz NÃO é património de políticos de pouco saber, que estão aqui apenas de passagem.
Os políticos de pouco saber vêm, mas vão, e serão esquecidos, mas Eça de Queiroz permanecerá, porque Eça de Queiroz deixou uma obra para a eternidade, e enquanto houver mundo, enquanto houver Portugal, enquanto o Planeta Terra não for destruído, Eça de Queiroz viverá na tranquilidade do seu recanto, em Tormes, como seria de sua vontade. E se a Terra for destruída, a sua obra estará algures, bem guardada, num lugar aonde os políticos de pouco saber jamais terão acesso.
O Panteão NÃO é lugar para Eça de Queiroz. Eça de Queiroz está acima de qualquer Panteão, porque NÃO é o Panteão que faz maior o escritor que ele foi, que ele é e que continuará a ser. Esperemos que haja bom senso e respeito pela memória do NOSSO Eça, não, o Eça dos políticos.
Isabel A. Ferreira
Em 04 de Maio de 2012, o Professor Rui Baptista publicou, no seu Blogue De Rerum Natura [Sobre a Natureza das Coisas], um texto de Eugénio Lisboa, ensaísta e crítico literário português, o qual reflecte o absurdo que foi e continua a ser a imposição do AO90 aos Portugueses, nomeadamente às crianças e jovens, que estão a ser oficialmente ludibriadas.
Os anos foram passando, e, apesar de a onda de uma bem fundamentada contestação ainda ser gigantesca, o AO90 continua a ser impingido ilegalmente, sem que quem de direito mexa uma palha, para pôr termo a esta atitude, digna apenas de um regime ditatorial.
Hoje, repesco este texto, que, mais do que em 2012, tem a sua razão de ser, uma vez que a escrita da Língua Portuguesa está hoje cotada vários zeros abaixo de zero, e alguém tem de parar esta escalada de mediocridade e ignorância instalada no Poder, com o propósito de impedir que a Cultura Culta se propague.
No final do texto existe o link da fonte do texto, e recomendo que o consultem, para lerem também os comentários que são bastante preciosos.
Isabel A. Ferreira
Eugénio Lisboa
Num prestimoso serviço à cultura, transcreve-se este artigo, do académico e ensaísta Eugénio Lisboa, publicado no “Jornal de Letras” do passado dia 1 de Maio - (Rui Baptista - in Blogue De Rerum Natura)
Por Eugénio Lisboa
«Antígona ou O Coração Indomável»
“Desobediência, a mais rara
e corajosa das virtudes”
George Bernard Shaw
Numa carta admirável e meticulosamente fundamentada, dirigida ao Ministro da Educação, a propósito da suposta entrada em vigor do famigerado Acordo Ortográfico, a médica Madalena Homem Cardoso, na sua qualidade de mãe de uma filha de sete anos, agora a iniciar-se na arte de escrever em língua portuguesa, informa aquele Ministro de que não poderá “anuir a que a aprendizagem da [sua] filha seja perturbada pelo autodenominado “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)” (...) o qual não é “acordo”, pois conta com a oposição quase unânime dos especialistas em língua portuguesa e da esmagadora maioria dos falantes-escreventes de Português de Portugal (...)”.
Não vou aqui esmiuçar a argumentação lúcida e magnificamente articulada, que a Dra. Madalena Cardoso desenvolve, ao longo de nove páginas, e que eu sugeriria ao Sr. Ministro da Educação que lesse, ele mesmo, com atenção e cuidado, em vez de a mandar analisar pelos seus colaboradores. Creia que é uma boa sugestão!
O meu ponto é outro: na carta referida, a autora, por mais de uma vez – e isto poderá chocar alguns leitores e, provavelmente, o Ministro e os seus directores-gerais – incita, em termos nada ambíguos, “todos os cidadãos portugueses” à desobediência civil, relativamente àquele Acordo. Eu cito uma passagem só: “Todos os cidadãos portugueses (em particular os que assumem especiais responsabilidades na transmissão do património linguístico às gerações futuras) têm, mais que o direito, o dever da desobediência (art.º 21º CRP: “Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias...”) e de objecção de consciência (art.º 41º nº 6 CRP) a recomendações ministeriais ilegais, além de prematuras e de impraticáveis em muitos aspectos.”
O conceito de “desobediência civil” vem de longe e as suas raízes filosóficas estão profundamente enraizadas no pensamento ocidental, em obras de Cícero, S. Tomás de Aquino, John Locke, Thomas Jefferson, Henry David Thoreau ou Bertrand Russell. A “desobediência civil” não é mais do que uma resistência passiva – de carácter simbólico – a actos tidos por injustos e iníquos praticados pelo Estado – actos que podem ser “legais” mas que são eticamente reprováveis. Em África, na América e na Índia, a “desobediência civil” tem sido uma táctica usada, com êxito, ainda que morosa e dolorosa, na obtenção dos resultados almejados. Gandhi, na África do Sul e na Índia, e Martin Luther King, entre outros, nos Estados Unidos, usaram de resistência passiva, isto é, de desobediência civil, para atingirem os seus objectivos.
Em muitos países do mundo de hoje e, em particular, na Europa (incluindo Portugal), os cidadãos sentem-se tentados, perante as medidas de sacrifício promulgadas, não equitativamente, para remediar uma situação económico-financeira de quase catástrofe – de que muitos deles não foram nem cúmplices nem culpados - , muitos deles, dizia, sentem-se seriamente tentados a praticar actos de desobediência civil, em relação a Estados que não consideram “pessoas de bem”: a injustiça persistente gera sempre o desejo de resistência àquilo que se considera “o mal”.
O conceito, repito, vem de longe, dos tempos míticos da Grécia Antiga, em que Antígona, filha de Édipo, afrontou o Rei de Tebas, Créon, em dilema dilacerante, que marcou a fogo a inteligência e o imaginário dos homens, ao longo dos séculos. O conflito, glosado na tragédia de Sófocles, resume-se em poucas palavras: regressando a Tebas, após a morte do pai (Édipo), Antígona e sua irmã Ismena tentam reconciliar os seus irmãos Etéocles e Polinices, que se encontravam desavindos – Polinices, atacando a cidade e Etéocles, defendendo-a. Ambos morrem em combate e o tio Créon, tornado Rei, pune Polinices, proibindo o seu enterro. Antígona, movida pelo amor ao irmão e pelo horror à iniquidade do decreto real, enterra secretamente o irmão. Entre a lei do Estado e a lei divina (a da sua consciência, a da Justiça), optou por esta, arriscando a vida.
O centro da peça, que ainda hoje serve de medalha às consciências em luta e dilacera espíritos e corações, é o diálogo entre Antígona e Créon. Antes de desferir a sentença de morte, por desobediência, o rei pergunta: “E tu, responde-me, numa palavra e sem rodeios: conhecias a proibição que fiz publicar?” Antígona responde com altivez. ”Conhecia. Como podia ignorá-la? Toda a gente a conhecia.” O Rei desfere, então, a pergunta final: “E ousaste infringir as minhas ordens?” A resposta de Antígona ficou sendo o fundamento ardente de todas as futuras “desobediências civis”: “Ousei, porque elas não emanavam de Zeus nem da Justiça, que habita junto às divindades infernais; e não acreditei que um simples mortal como tu pudesse ter suficiente autoridade para se permitir transgredir as leis não escritas mas imortais dos deuses.”
A postulação da princesa é clara e pode “traduzir-se” deste modo: entre um mandato falível do Estado e o imperativo mais alto da nossa consciência (o nosso íntimo conceito de justiça e de bem), a escolha só pode ser uma: seguir o imperativo da consciência.
Este princípio de “desobediência civil”, a que outrora ficaria bem apelidar de “desobediência divina”, atingiu algum estatuto de lei internacional, por ocasião dos famosos julgamentos de Nuremberg, nos quais não foi considerado como atenuante aos crimes cometidos pelos réus nazis o facto, por eles alegado, de terem apenas “cumprido ordens”. Nesse famoso e controverso tribunal, foi afirmado, de modo imperativo, o princípio de que um indivíduo pode, em certas circunstâncias, ter que responder, em tribunal, por não ter desobedecido às leis do seu país.
Numa belíssima versão contemporânea do mito de Antígona, da autoria do grande dramaturgo francês, Jean Anouilh, a protagonista, pouco antes de ser mandada para a morte, envia, por intermédio de um dos guardas, uma mensagem a seu noivo Hémon, nos seguintes termos: “Sim. Perdão, meu querido. Sem a pequena Antígona, vós estaríeis todos muito tranquilos. Amo-te...” É, precisamente, o papel das Antígonas deste nosso mundo impedir-nos de ficarmos demasiado tranquilos, quando aquilo que as iniquidades vigentes estão a pedir é o desassossego, a intranquilidade geradora de acção e justiça. O coração indomável de Antígona é uma luz ao fundo do túnel.»
Fonte:
http://dererummundi.blogspot.pt/2012/05/antigona-ou-o-coracao-indomavel.html
***
Para completar, aqui fica o que a escritora Idalete Giga pensa sobre esta matéria, com a qual concordo plenamente, fazendo minhas as suas palavras:
Já o nosso grande pensador Prof. Agostinho da Silva afirmava que " é a obediência dos povos que alimenta a tirania dos governos". Mas como fazer compreender a um povo manipulado, estupidificado por uma comunicação social mentirosa, sinistra, tendenciosa, cobarde, vil, que é URGENTE DESOBEDECER a tudo o que avilta e embrutece o ser humano, venham as ordens de onde vierem? Faltam Antígonas no mundo actual, capazes de morrer por uma causa. Aqueles que têm lutado contra o terrorismo cultural que foi e continua a ser o repugnante Aborto chamado Acordo/90, têm sofrido as mais diversas injúrias por parte de quem não entende nada do assunto e o desprezo inacreditável por parte dos (i)rresponsáveis pela Educação em Portugal que, infelizmente são muitos. O Brasil não quer saber do (des)AO/90 para nada. Mas a grande maioria dos governantes portugueses continua a considerar cobardemente, que O AO/90 foi um bom Acordo. Esta posição é verdadeiramente surrealista. Quem votou a favor do maldito (des)AO devia responder nos Tribunais sobre este crime cultural, porque é um CRIME CULTURAL. Mas em Portugal está tudo rendido a um PR que alimenta a PAZ PODRE. E já ninguém reage a coisa nenhuma. Tristeza.
Por isso, o pigmeu rasteja atrás do gigante.
Esta é a triste realidade portuguesa, no que respeita a quase tudo, neste nosso País, onde, segundo o nosso mui douto presidente da República somos os melhores dos melhores do mundo.
Não concordo inteiramente com este deslumbre do Senhor Presidente, mas numa coisa ele tem razão: somos os melhores dos melhores do mundo a falar e a escrever mal a própria Língua, que é a alma de um povo.
Portugal, se já não perdeu, está a perder a sua alma, extinguindo-se lentamente, como uma vela a arder.
Quem souber o mínimo de Português e estiver atento, por exemplo, ao que se diz e se lê nas legendas das televisões, comprova inequivocamente que a Língua Portuguesa está a ser não só esmagada pela absurdez do AO90, que obriga à grafia brasileira, (mas já se vai ouvindo umas e outras), como por uma disfunção linguística, inadmissível em jornalistas e personalidades que têm títulos académicos e ocupam altos cargos governamentais, políticos e académicos, e que deviam dar um bom exemplo de locução, uma vez que têm de falar frequentemente diante das câmaras de televisão, para um povo maioritariamente desinstruído, e quiçá para jovens e crianças que estejam a ver e ouvir os telejornais ou outros programas, e sabemos que disparates e mentiras repetidas muitas vezes transformam-se em normas e verdades.
Essa de não “comprirem” isto e aquilo é o pão nosso de cada dia, mas também já a ouvi da boca de uma professora que gritava, numa daquelas manifestações de rua, que os governantes não “compriam” as promessas. Na verdade, não “comprem”, mas como poderiam “comprir” se “comprir” é uma coisa anormal? Se bem que a anormalidade esteja instalada no Poder, por isso, as coisas não “foncionam” bem nos órgãos do Poder, os grandes, os maiores, os únicos responsáveis pela anarquia ortográfica, tanto escrita como falada, que se instalou em Portugal, e da qual os órgãos de comunicação social, vergados a esse Poder, nomeadamente as televisões (que dão mais nas vistas e entram pela casa dos Portugueses) são os maiores divulgadores.
Dadas estas “circonstâncias” é “óvio” (como constantemente ouvimos, e os disparates não se ficam por aqui) que os políticos portugueses, desde Cavaco Silva a José Sócrates, passando por todos os que já se lhes seguiram, estão-se nas tintas se o rumo da Língua Portuguesa se dirige para uma fossa séptica mandada construir especificamente para este efeito, por todos os que, estando no governo, acham (se ao menos pensassem!), que estão a contribuir para a “evolução” da Língua, desconhecendo que evolução significa avanço e não retrocesso.
É bem verdade que estes disparates nada têm a ver com o AO90. Já existiam antes do “aborto” ser imposto, contudo, é a soma de uma e de outra coisa que está a destruir o nosso património linguístico, salvaguardado apenas pelos países africanos de expressão portuguesa. Quem diria?
Ouçamos o que nos diz Eugénio Lisboa acerca do AO90, uma pequena grande lição de lucidez:
Contudo, não nos deixemos esmorecer, porque onde houver um Português genuíno e um africano de expressão portuguesa, a Língua Portuguesa estará a salvo. E enganem-se aqueles que acham (se ao menos pensassem!) que as crianças, que nas escolas estão a ser forçadas a escrever à brasileira, irão perpetuar essa brasileirice. Muitos Pais, entre os mais cultos, ensinam-lhes a Língua Portuguesa, em casa. Então, muitas crianças portuguesas estão a aprender o linguajar brasileiro, na sua forma grafada, como língua estrangeira, para utilizar apenas na escola e enganar os professores; a Língua Inglesa, para se comunicarem com o mundo, e a Língua Portuguesa, para a vida. E serão essas crianças e jovens que farão renascer das cinzas a destruída, Língua que são obrigadas a aprender, num lugar onde ENSINAR deveria ser uma missão das mais nobres, e não passa de uma impostura.
Contudo, nem tudo está a perder-se. Existem muitas editoras que estão a desligar-se do AO90, e já encontramos bastantes edições e traduções em bom Português.
Dêem uma voltinha por esta página, e comprovem:
https://www.facebook.com/portuguesdefacto/
O problema é que falta superioridade mental à classe política portuguesa, para admitir o grave erro que foi cometido às cegas, e para entender os fenómenos da linguagem, e parar a engrenagem que está a destruir a Língua e a criar analfabetos funcionais, e a construir um futuro esvaziado de Cultura, uma vez que, além da Língua, já estão a descartar a História, a Geografia e a Filosofia, disciplinas essenciais para a construção do Pensamento.
E não tenhamos dúvidas: se o AO90 não cair por mão política, cairá de podre, porque já nasceu apodrentado, e sementes podres não medram.
Isabel A. Ferreira
Texto de Rui Baptista publicado em 20 de Janeiro de 2019, no Blogue De Rerum Natura (A Natureza das Coisas):
«Com dedicatória amiga, recebi, dias atrás, o último livro de Eugénio Lisboa, intitulado “APERTO LIBRO”, personalidade da vida literária portuguesa de um longo e prestigiante acervo biográfico e obra literária.
Neste seu livro, já em Outubro de 1986, tendo passado, entretanto, muita água debaixo das pontes (e quanta haverá de passar mais?), criticava Eugénio Lisboa o Novo Acordo Ortográfico com o texto extraído da supracitada obra (página 100) que se transcreve imediatamente abaixo numa altura em que a solução deste imbróglio corre o risco de se estender por mais anos pela prática bem portuguesa de deixar correr o marfim deixando para amanhã o que pode (e deve!) ser feito hoje:
«Novo acordo ortográfico – idiota e completamente fútil. Pretende-se uma ‘unificação’ à qual os factos vão, necessária e melancolicamente, dizer não. Esta ânsia de acordo a todo o custo, de mais um acordo, descontados os casos dos que se perduram nele ou para darem nas vistas ou para fazerem umas viagens à custa do contribuinte, pode também ter que ver – quem sabe? – com a angústia de se ter perdido um império e o acordo passar a ser uma espécie de compensação. Anda muita gente à procura de um ‘quinto império’ qualquer. De resto, como já tenho observado, alguma da nossa esquerda anda transcendental, ocultista, irracionalista e bandarrista. E fútil. De tanto querer ser ‘imparcial’, acaba por aceitar o inaceitável. Em Portugal, hoje em dia, quase ninguém faz aquele esforço continuado, concentrado e articulado, que antigamente dava pelo nome de pensar. Hoje, as pessoas preferem dizer coisas giras, coisas que dão nas vistas. Quanto mais surpreendem ou ultrajam a razão razoável, melhor. E há sempre dois ou três intelectuais, com alguma responsabilidade, para darem corda a este relógio».
Como diria Pessoa, deixemos no bengaleiro a inclinação de discutir os assuntos. O acordo ortográfico está mais do que discutido. Falta, apenas, dar-lhe um enterro condigno para não apodrecer em vala-comum, como mais uma ‘boutade’ nacional, em que o estudo da origem latina e grega do nosso léxico atapeta o chão das causas perdidas com folhas outonais que desbotaram o verde da esperança!»
Rui Baptista
Quem o diz é Eugénio Lisboa, mas também todos os que têm na Língua Portuguesa o seu mais precioso e preciso instrumento de trabalho, daí não podermos pactuar com os vigaristas que estão a tentar vender a Língua na candonga…
Apenas os cegos mentais não conseguem ver isto, que é tão óbvio…
Fontes: http://bit.ly/2dR0ytf
Um texto para ler e reflectir o absurdo da imposição do AO90 aos Portugueses, nomeadamente às crianças e jovens, que estão a ser oficialmente ludibriadas.
Eugénio Lisboa
Num prestimoso serviço à cultura, transcreve-se este artigo, do académico e ensaísta Eugénio Lisboa, publicado no “Jornal de Letras” do passado dia 1 de Maio - (Rui Baptista - in Blogue De Rerum Natura)
Por Eugénio Lisboa
«Antígona ou O Coração Indomável»
“Desobediência, a mais rara
e corajosa das virtudes”
George Bernard Shaw
Numa carta admirável e meticulosamente fundamentada, dirigida ao Ministro da Educação, a propósito da suposta entrada em vigor do famigerado Acordo Ortográfico, a médica Madalena Homem Cardoso, na sua qualidade de mãe de uma filha de sete anos, agora a iniciar-se na arte de escrever em língua portuguesa, informa aquele Ministro de que não poderá “anuir a que a aprendizagem da [sua] filha seja perturbada pelo autodenominado “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)” (...) o qual não é “acordo”, pois conta com a oposição quase unânime dos especialistas em língua portuguesa e da esmagadora maioria dos falantes-escreventes de Português de Portugal (...)”.
Não vou aqui esmiuçar a argumentação lúcida e magnificamente articulada, que a Dra. Madalena Cardoso desenvolve, ao longo de nove páginas, e que eu sugeriria ao Sr. Ministro da Educação que lesse, ele mesmo, com atenção e cuidado, em vez de a mandar analisar pelos seus colaboradores. Creia que é uma boa sugestão!
O meu ponto é outro: na carta referida, a autora, por mais de uma vez – e isto poderá chocar alguns leitores e, provavelmente, o Ministro e os seus directores-gerais – incita, em termos nada ambíguos, “todos os cidadãos portugueses” à desobediência civil, relativamente àquele Acordo. Eu cito uma passagem só: “Todos os cidadãos portugueses (em particular os que assumem especiais responsabilidades na transmissão do património linguístico às gerações futuras) têm, mais que o direito, o dever da desobediência (art.º 21º CRP: “Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias...”) e de objecção de consciência (art.º 41º nº 6 CRP) a recomendações ministeriais ilegais, além de prematuras e de impraticáveis em muitos aspectos.”
O conceito de “desobediência civil” vem de longe e as suas raízes filosóficas estão profundamente enraizadas no pensamento ocidental, em obras de Cícero, S. Tomás de Aquino, John Locke, Thomas Jefferson, Henry David Thoreau ou Bertrand Russell. A “desobediência civil” não é mais do que uma resistência passiva – de carácter simbólico – a actos tidos por injustos e iníquos praticados pelo Estado – actos que podem ser “legais” mas que são eticamente reprováveis. Em África, na América e na Índia, a “desobediência civil” tem sido uma táctica usada, com êxito, ainda que morosa e dolorosa, na obtenção dos resultados almejados. Gandhi, na África do Sul e na Índia, e Martin Luther King, entre outros, nos Estados Unidos, usaram de resistência passiva, isto é, de desobediência civil, para atingirem os seus objectivos.
Em muitos países do mundo de hoje e, em particular, na Europa (incluindo Portugal), os cidadãos sentem-se tentados, perante as medidas de sacrifício promulgadas, não equitativamente, para remediar uma situação económico-financeira de quase catástrofe – de que muitos deles não foram nem cúmplices nem culpados - , muitos deles, dizia, sentem-se seriamente tentados a praticar actos de desobediência civil, em relação a Estados que não consideram “pessoas de bem”: a injustiça persistente gera sempre o desejo de resistência àquilo que se considera “o mal”.
O conceito, repito, vem de longe, dos tempos míticos da Grécia Antiga, em que Antígona, filha de Édipo, afrontou o Rei de Tebas, Créon, em dilema dilacerante, que marcou a fogo a inteligência e o imaginário dos homens, ao longo dos séculos. O conflito, glosado na tragédia de Sófocles, resume-se em poucas palavras: regressando a Tebas, após a morte do pai (Édipo), Antígona e sua irmã Ismena tentam reconciliar os seus irmãos Etéocles e Polinices, que se encontravam desavindos – Polinices, atacando a cidade e Etéocles, defendendo-a. Ambos morrem em combate e o tio Créon, tornado Rei, pune Polinices, proibindo o seu enterro. Antígona, movida pelo amor ao irmão e pelo horror à iniquidade do decreto real, enterra secretamente o irmão. Entre a lei do Estado e a lei divina (a da sua consciência, a da Justiça), optou por esta, arriscando a vida.
O centro da peça, que ainda hoje serve de medalha às consciências em luta e dilacera espíritos e corações, é o diálogo entre Antígona e Créon. Antes de desferir a sentença de morte, por desobediência, o rei pergunta: “E tu, responde-me, numa palavra e sem rodeios: conhecias a proibição que fiz publicar?” Antígona responde com altivez. ”Conhecia. Como podia ignorá-la? Toda a gente a conhecia.” O Rei desfere, então, a pergunta final: “E ousaste infringir as minhas ordens?” A resposta de Antígona ficou sendo o fundamento ardente de todas as futuras “desobediências civis”: “Ousei, porque elas não emanavam de Zeus nem da Justiça, que habita junto às divindades infernais; e não acreditei que um simples mortal como tu pudesse ter suficiente autoridade para se permitir transgredir as leis não escritas mas imortais dos deuses.”
A postulação da princesa é clara e pode “traduzir-se” deste modo: entre um mandato falível do Estado e o imperativo mais alto da nossa consciência (o nosso íntimo conceito de justiça e de bem), a escolha só pode ser uma: seguir o imperativo da consciência.
Este princípio de “desobediência civil”, a que outrora ficaria bem apelidar de “desobediência divina”, atingiu algum estatuto de lei internacional, por ocasião dos famosos julgamentos de Nuremberg, nos quais não foi considerado como atenuante aos crimes cometidos pelos réus nazis o facto, por eles alegado, de terem apenas “cumprido ordens”. Nesse famoso e controverso tribunal, foi afirmado, de modo imperativo, o princípio de que um indivíduo pode, em certas circunstâncias, ter que responder, em tribunal, por não ter desobedecido às leis do seu país.
Numa belíssima versão contemporânea do mito de Antígona, da autoria do grande dramaturgo francês, Jean Anouilh, a protagonista, pouco antes de ser mandada para a morte, envia, por intermédio de um dos guardas, uma mensagem a seu noivo Hémon, nos seguintes termos: “Sim. Perdão, meu querido. Sem a pequena Antígona, vós estaríeis todos muito tranquilos. Amo-te...” É, precisamente, o papel das Antígonas deste nosso mundo impedir-nos de ficarmos demasiado tranquilos, quando aquilo que as iniquidades vigentes estão a pedir é o desassossego, a intranquilidade geradora de acção e justiça. O coração indomável de Antígona é uma luz ao fundo do túnel.»
Fonte:
http://dererummundi.blogspot.pt/2012/05/antigona-ou-o-coracao-indomavel.html
«Mal vai aos povos que não respeitam o próprio idioma. É como ultrajar a Bandeira. É como renegar a Pátria» (Fernando de Araújo Lima*)
Porque é urgente, urgentíssimo, travar a onda de ignorância que anda por aí a ultrajar a Língua Portuguesa, a esmagá-la, a estraçalhá-la, a mutilá-la, como se fosse um farrapo velho, sem utilidade, sem dignidade, sem história, senti-me impulsionada a criar este Blogue para congregar as ideias de todos os que, como eu, sentem a revolta a moer-lhe a alma.
Eu, pessoalmente, sou livre para desobedecer a uma “ordem” oriunda de quem não tem a mínima noção do que está a fazer.
Recuso-me a deixar-me levar na onda da ignorância e da estupidez que uns poucos traidores da Pátria lançaram sobre nós.
E porque a imposição de uma escrita, que não serve Portugal, nem os Portugueses, mas também os países que integram a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), pois sabemos que milhares são os que não estão de acordo com este acordo da discórdia linguística, que vai contra os interesses de Portugal, temos o dever de alçar as nossas armas para defender a Identidade Portuguesa que, para quem não sabe, é a qualidade própria do que é português, o carácter específico da Cultura ou da História de Portugal, o sentimento de amor ou de grande afeição por Portugal, e exigir que o próximo governo português recue nesta que é, segundo palavras de Eugénio Lisboa, «das coisas mais infames que este nosso Parlamento tem votado. Ficará na História, como uma das maiores nódoas produzidas depois de o "25 de Abril"».
E Eugénio Lisboa, um ensaísta e crítico literário português, especialista em José Régio, disse ainda mais isto:
«Quando ainda estava em Londres, fui surpreendentemente nomeado vogal, em representação do Primeiro-ministro, da Comissão da Língua Portuguesa ou lá como se chamava, sendo chamado a pronunciar-me sobre o Acordo. Votei contra e dei as minhas razões, tendo o cuidado de não medir as palavras… Tenho escrito frontalmente contra o acordo e assinado todas as petições contra o dito. O problema é a profunda iliteracia e cobardia dos deputados que insistem em implementar este aborto, devido ao lobby forte dos editores oportunistas que se apressaram a fabricar manuais e dicionários, seguindo o (des) acordo, contra o que tudo recomendava.»
Eis a verdade.
Mas o pior, o pior é a desalfabetização, já em curso, nas escolas portuguesas, tendo como cobaias, inocentes crianças que não têm como dizer NÃO à sua desinstrução, e os professores, acobardados pela “imposição oficial” deste aborto ortográfico, nada fazem para desfazer esta coisa infame, estando mais preocupados com os bolsos.
O Blogue O Lugar da Língua Portuguesa será um lugar de luta, e servirá para derrubar os muros que se ergueram, para não deixar passar a Luz que irradia de uma Língua construída ao longo de séculos, e que uns poucos, vendidos ao lobby de mercenários e políticos ignorantes, pretendem destruir num ápice.
Reparem na imagem mais abaixo:
Eu sou a que está de pé.
Quem estará disposto a seguir-me, para cumprir o dever cívico de salvar a Língua Portuguesa?
(Origem da imagem: Internet)
Isabel A. Ferreira
* in Prefácio do livro «A Língua Portuguesa» de João Araújo Correia (Editorial Verbo – Lisboa/S. Paulo)
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