Eu, como cidadã portuguesa defensora da descolonização linguística nas ex-colónias portuguesas, até porque todas elas possuem uma linguagem riquíssima que se afastou, muito naturalmente, do Português, e têm os seus próprios dialectos, congratulo-me com Cabo Verde, por ter sido a primeira ex-colónia a ter a coragem de assumir uma Língua Nacional, a Língua Cabo-verdiana, cortando, deste modo, o cordão umbilical que ainda ligava o arquipélago ao colonizador português. Ninguém é verdadeiramente livre, agarrado ao umbigo da mãe. Se bem que as ex-colónias espanholas, inglesas, holandesas e francesas nunca tiveram qualquer problema com a Língua dos países que as colonizaram, dando-se muito bem com as suas VARIANTES.
E aqui não está na berlinda o acto da colonização, que aconteceu numa época passada, em que o mundo ainda estava por desbravar. E o que se fez ou deixou de fazer, então, pertence aos valores do passado, que nada têm a ver com os valores actuais, e querer misturar esses valores não é da inteligência.
Portanto, é de toda a legitimidade que, agora como um país livre, o Arquipélago de Cabo Verde tenha a sua própria Língua, e não há mal nenhum que o país tenha a Língua Cabo-verdiana (como me soa bem!) como primeiro idioma, e o Português como segunda ou até terceira Língua. Há tantos países que são plurilinguísticos!
Que Cabo Verde seja exemplo para as restantes colónias, nomeadamente, o Brasil, que tanta repulsa mostra pela Língua do ex-colonizador, e que, com Portugal, engendrou um “acordo” com o intuito de impor o brasileirismo a todas as outras ex-colónias. Algo que não deu certo, e jamais dará.
Vejamos, então, o que nos diz a notícia.
Isabel A. Ferreira
O Governo [cabo-verdiano] vai introduzir a disciplina de Língua Cabo-verdiana no Ensino Secundário (a partir do 10º ano de escolaridade), no ano lectivo 2022/2023. A iniciativa, que acontece no âmbito dos novos planos curriculares da reforma do ensino secundário, foi anunciada esta terça-feira, 9, pelo Ministério da Educação.
De acordo com o Ministério da Educação, a introdução da nova disciplina será feita de forma experimental e vai “servir de piloto para o seu alargamento a médio prazo, após amplos consensos científicos”.
A disciplina será introduzida no âmbito dos novos planos curriculares da reforma do ensino secundário, em processo de conceptualização e implementação, lê-se ainda na página de Facebook da tutela.
A par desta iniciativa ao nível curricular, o governo manifesta, na mesma publicação “total disponibilidade em apoiar e fomentar a investigação de base académica visando consensos técnico-científicos em matérias da linguística, uniformização e padronização das bases gramaticais e ortográficas da língua nacional, comum às suas diversas variantes”.
A nível do alfabeto, diz o governo que “a investigação poderá também incidir sobre o alfabeto unificado do crioulo, o ALUPEC, tendo em vista alcançar abrangência e conter resistências ao seu uso na escrita do crioulo”.
Conforme relembra o post, o Ministro da Educação, Amadeu Cruz, reuniu-se no passado mês de Julho, com representantes do grupo promotor da petição sobre a política linguística em Cabo Verde e com o investigador e linguista, Manuel Veiga. Durante esse encontro foram abordadas questões ligadas à investigação linguística e à metodologia para a integração da disciplina de língua cabo-verdiana no sistema de ensino, no âmbito da reforma do Ensino Secundário.
Entretanto, reconhece-se, haverá necessidade de fazer uma articulação e sintonização entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, “em virtude de alinhamento em matérias mais ligadas à cultura e de ordem constitucional, bem como a necessidade da criação de um grupo de trabalho conjunto para a elaboração de um plano de acção de fomento da investigação e do ensino da língua cabo-verdiana”.
Fonte:
(*) O Expresso das Ilhas é um dos jornais semanários publicados em Cabo Verde, foi fundado em 1991. Tem a sua sede na cidade da Praia, no concelho homónimo da Ilha de Santiago. O jornal é publicado predominante em português. As cores usadas no logótipo são o vermelho e o azul, representando as cores da bandeira de Cabo Verde.
Proponho uma pequena reflexão sobre esta matéria, para examinarmos a dimensão do disparate que o AO90 é.
Comecemos por definir o AO90: dizem que é um acordo, no entanto, sendo o acordo mais desacordado de todos os tempos, é um disparate chamar-lhe “acordo”. Além disso, assenta na sua grande maioria de palavras modificadas, na ortografia brasileira, e quem diz o contrário nada sabe de ortografia brasileira.
Os Brasileiros, sendo brasileiros, têm todo o direito de escrever à moda deles. Optaram por desaportuguesar a Língua Portuguesa e não cumprir a convenção ortográfica assinada com Portugal em 1945, por motivos que não nos dizem respeito, afastando-se da lusofonia que, no entanto, se mantém em todas as outras ex-colónias, até aos dias de hoje (excepto em Cabo Verde, onde apesar de o Português ser língua estrangeira, aderiram cegamente ao AO90). Nada contra. O Brasil, nessa época, era (e continua a ser) um país livre.
Dizem que Portugal também é um país livre. Mas eu cá tenho grandes dúvidas. E porquê? Porque tendo o AO90 assentado na ortografia brasileira, e tendo o governo português cedido servilmente à introdução em Portugal, dessa ortografia brasileira, não me parece que a isto se chame ser livre e senhor do seu nariz.
Entretanto, nós, Portugueses, temos o direito, mas principalmente o dever, de escrever segundo a ortografia da nossa própria Língua, na que está consignada na Constituição da República Portuguesa, ou seja, segundo a ortografia portuguesa. Por muito que eu já procurasse, não encontrei nenhum documento oficial ou lei alguma que obrigue as escolas portuguesas a ensinar a ortografia brasileira às nossas crianças. E isto não é de um país livre e soberano.
O AO90, para o Brasil, significa apenas retirar o trema, um hífen ou um acento aqui e ali… E nada mais.
Para Portugal, o AO90 significa escrever incorreCtamente uma quantidade enorme de palavras, afastando-as das suas raízes latinas, que ao Brasil nada diz. Significa adoPtar literalmente o dialecto brasileiro, salvo algumas excePções, incluindo este vocábulo que no Brasil manterá o P, que em Portugal foi mandado às malvas, tal como em recePção.
De resto, com AO90 ou sem AO90, os Brasileiros continuarão a escrever CONTATO, e nós, contaCto. Eles, “FATO” e nós, faCto. Eles, ANISTIA, e nós aMnistia; eles, UMIDADE, e nós, Humidade, apenas para referir uma percentagenzinha mínima das grandes diferenças ortográficas, mas não só, que continuarão a existir.
Para além disto, os Brasileiros continuarão a andar de bonde, e nós, de eléctrico; a ter bunda, e nós, traseiro; a fazer esporte, e nós, desporto; a usar terno, e nós, fato; a ir ao banheiro ou ao mitório, e nós, ao quarto de banho (casa de banho era nos “antigamente” quando se ia “lá fora” … à “casinha” …) ou ao mictório; a ir NO médico (ou seja, encavalitados no médico), e nós, AO médico; a fazer turismo na Amazônia, e nós, na Amazónia; a andar de trem, e nós, de comboio; a ir ao açougue, e nós, ao talho; a tomar café-da-manhã, e nós, pequeno-almoço; eles continuarão a estressar, e nós, a stressar, por conta desta insanidade.
Segundo os acordistas, a isto chama-se UNIFICAR a Língua, e assim sendo, o termo unificar, com o AO90, também mudou de significado.
Penso que os Brasileiros não gostariam nada se lhes impusessem novamente HOJE a ortografia de 1945 (a que está em vigor em Portugal) e que o próprio Brasil rejeitou na altura, depois de ter assinado com Portugal essa mesma convenção, ficando com o Formulário Ortográfico de 1943, que elaboraram unilateralmente, cuja Base IV mandou mutilar todas as palavras com consoantes não-pronunciadas, como "fator", "ator", "afeto" etc., etc., etc..
Ora, como todos sabem, o Brasil nunca cumpriu os acordos que assinou com Portugal. Por alma de quem havemos nós de aceitar agora ESTE acordo, que tanto desacordo está a provocar? O governo português e os seus escravos adeririam a isto, assim tanto à ceguinha?
Outra coisa bastante grave é o que está a acontecer no Google: vendido ao Brasil, utiliza incorreCtamente nas traduções, nos textos, em tudo, o Português, que já não é europeu, passou a ser africano (e ainda se o fosse, seria bom, porque o Português africano é Português), mas é o dialecto ou variante brasileira do Português que predomina, disfarçado de Português, gramaticalmente um desastre, e o governo português está-se nas tintas para esta morte anunciada da identidade portuguesa.
Portugal nunca se impôs ao Google para separar as águas: Português é Português; dialecto brasileiro é dialecto brasileiro (= variante brasileira do Português)
Assim como Latim é Latim, Galego é Galego e Português é Português.
Esta gente ainda não conseguiu entender algo muito importante e básico: Portugal é Portugal, e as ex-colónias são EX-colónias, têm vida própria e uma linguagem também própria.
Por que havemos nós de adoPtar a ortografia de uma delas, só porque tem mais (mal) escreventes? Nenhum país ex-colonizador o fez. Tinha de ser Portugal, sempre na cauda do mundo, e servilmente, como o mais submisso dos subjugados.
E nós vamos deixar que isto aconteça?
Isabel A. Ferreira
É óbvio que os grandes, os maiores, os abissais e únicos responsáveis pelo caos ortográfico que se instalou em Portugal são os políticos portugueses (e as forças ocultas que os manipulam), desde Cavaco Silva e José Sócrates, passando por todos os que se lhes seguiram e estão instalados no Poder.
Mas também aqueles portugueses que tão facilmente, tão servilmente se deixaram manipular pela classe política, sem ao menos questionar.
É óbvio.
Origem da imagem: Internet
Porém, convém que fique bem claro o que está na origem de tudo isto e as intenções subsequentes, para que possamos entender os políticos portugueses, que estão a cometer o maior linguicídio de toda a História de Portugal, e que pretendem fazer-nos de parvos, e pior do que isto, incutindo às nossas crianças a escrita incorrecta da Língua Materna.
Abram os olhos aqueles que os têm cerrados. Usem óculos com lentes de aumento, para poderem ver o que é visível a olho nu, pelas mentes saudáveis.
***
O que vou abordar hoje assenta nas crónicas escritas entre 1993 e 2001, compiladas no livro «A Brasilidade dos Portugueses» da autoria de A. Gomes da Costa (***), um homem que teve «o privilégio de estar na primeira fila do desenrolar dos acontecimentos que envolvem os dois países» que estão no centro de toda a polémica acordista: o Brasil, por estar a tentar impor ao mundo a versão "inculta" da Língua Portuguesa (isto era o que me diziam quando, em Portugal, tive de reaprender a grafia que me tinham ensinado no Brasil, na escola primária, onde aprendi a ler e a escrever); e Portugal, por, irracionalmente, ter assinado um tratado internacional que impõe essa versão brasileira mutilada da língua e pretende, a todo o custo, impingi-la aos Portugueses.
No Brasil, até meados do século XX, Portugal ainda esteve presente na cultura brasileira. Porém, verificaram-se mudanças profundas nas relações luso-brasileiras, a partir de então, com a influência norte-americana que «foi tão forte e devastadora que o desligamento com os valores europeus – e de modo especial com os portugueses – tonou-se inevitável».
Começou então a sentir-se uma quase irracional «lusofobia», que se infiltrou no «sistema de ensino» com a «dialéctica marxista», que culpa os colonizadores de tudo e mais alguma coisa. Porém, não é apenas no estudo da Língua e da Literatura que se nota esse afastamento entre os dois países. É também no estudo da História que «reduz a saga colonial à pilhagem e ao genocídio, ao tráfico negreiro e às oposições das Cortes».
Em 1999, ano em que A. Gomes da Costa escreveu a crónica «Começar de Novo», de onde retirei estas referências, o autor escrevia: «A esta altura temos de começar tudo pela escola se quisermos dar às relações luso-brasileiras uma outra essência (…) Hoje (…) completa-se o curso no 2º ciclo e não se aprende nada sobre a herança colonial, a não ser a exploração do pau-brasil, os horrores da escravatura e as derramas das Minas Gerais; e para o brasileiro comum, não existe a literatura portuguesa (…)».
Houve uma tentativa de ambos os países, para melhorar o “enquadramento histórico” e para que «em Portugal se aprendesse que o Brasil continuou a existir depois da Independência em 1822, e que aos jovens brasileiros não se transmitisse a ideia peregrina de que o português só veio para explorar as riquezas da colônia, perseguir os índios e explorar os negros» (isto, aliás, foi o que pretenderam “ensinar-me” quando lá estudei, depois de já ter estudado em Portugal e conhecer a realidade histórica.
E o que aconteceu? «Em Portugal a História do Brasil parou com a volta a Lisboa da corte joanina, e no Brasil a cartilha do CIMI [Conselho Indigenista Missionário] continua a jurar que da metrópole só vieram criminosos para nos levar o pau-brasil e o ouro (…)» e que a «“terra dos papagaios” antes de Cabral, era um paraíso; chegou o branco, e o branco saqueou, oprimiu e matou. E lá se foi o paraíso…».
No entanto, enquanto, por um lado, no Brasil, os brasileiros se afastavam de Portugal, com claras ou menos claras intenções, por outro, começaram a enviar para cá as telenovelas, em que os Brasileiros são grandes mestres (quem não se deliciou com a “Gabriela, Cravo e Canela”?) e a música (quem não se encanta com a música brasileira, que já quase faz parte da nossa cultura, pois se até os nossos cantores já a cantam (se bem que não encantem tanto quanto encantam os cantores brasileiros), às quais os portugueses se renderam incondicionalmente?
Do Brasil, no ano 2000, também vieram as declarações lusófobas e ignorantes de Caetano Veloso, do tão venerado em Portugal, Caetano Veloso, que numa entrevista ao Expresso, em 1999, afirmou o seguinte: «A colonização portuguesa do Brasil foi a pior coisa que você pode imaginar. Foi o oposto dos Estados Unidos… Os portugueses foram a um lugar que não interessava para nada, apenas para sugar, sugar, sugar o que fosse possível e matar índios… Portugal já é uma piada, o Brasil é uma grande piada universal…» algo que ele, como brasileiro, aprendeu na escola, tal como eu, como portuguesa, também "aprendi", quando lá estudei. Contudo, há que saber discernir e ir beber às fontes límpidas da História, e não beber da água dos charcos de relatos preconceituosos.
Terá Caetano Veloso, a quem foi atribuída a Grã-Cruz do Infante D. Henrique, culpa da sua tremenda ignorância? Talvez, porque poderia ter ido mais além nas suas leituras e não se ficar pelos manuais escolares. Como eu não fiquei.
Porém o grande mal «está na degradação dos níveis de ensino, nos textos envenenados dos livros didáticos, e no cultivo sistemático do estereótipo. (…) o resultado é que o jovem brasileiro sai do colégio com a “cabeça feita” contra o colonizador, a rir-se do bispo Sardinha que foi comido pelos índios, marcado pela tragédia dos quilombos, ou dos navios negreiros, a odiar a rainha [Dona Carlota Joaquina] que deixou, entre pragas e maldições, a terra boa que a acolheu» …
No Brasil, julga-se o passado à luz da ética actual, e isso, além de ser um grave erro, está impregnado de uma profunda ignorância, que conduz à lusofobia cravada na alma dos emigrantes portugueses. É da ignorância interpretar a Colonização do Brasil à luz dos valores éticos, culturais e sociais dos Séculos XX/XXI d.C..
Para a esmagadora maioria dos Brasileiros, hoje, Portugal é o colonizador de má memória, é Cristiano Ronaldo, é o bacalhau, é o padeiro (porque ainda os há muitos no Brasil), é Roberto Leal, é o fado…
Para os Portugueses, o Brasil é o futebol (agora um pouco mais na mó de baixo), praias, mulheres bonitas, telenovelas, carnaval e samba.
Todas as tentativas que Brasileiros e Portugueses cultos encetaram para unir os dois povos que já foram “irmãos” (mas não necessariamente gémeos) e que políticos incultos e adeptos da dialéctica marxista desuniu, foram infrutíferas, porque todos sabemos que, nas questões da Cultura, quem manda é o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil). E quando um órgão do Poder Executivo não é dirigido pelo político certo, a política incerta prevalece.
Em 2001, na crónica “Salvar o Português”, já tão maltratado no Brasil e entupido de expressões norte-americanas e neologismos americanizados, A. Gomes da Costa refere que «pior ainda é que não nos faltam intelectuais a exprimir um profundo desprezo pelo idioma[Português]», a que chamam «o “sepulcro do pensamento”; e que «não tem a musicalidade do francês; falta-lhe a vibração canora do italiano; está longe da universalidade do inglês, por isso, não se importam nada com os vícios da linguagem, as mazelas da gramática e o decalque dos barbarismos», conclui A. Gomes da Costa.
Assiste-se no Brasil a uma americanização, castelhanização, afrancesamento e italianização da linguagem (e não só) em detrimento do Português, que no contexto histórico, interpretado à luz da tal dialéctica marxista, é a língua do colonizador e, como tal, deve se banida.
A 16 de Abril de 2001, O Globo, um dos mais abalizados jornais do Brasil, publicou um artigo de João Ubaldo Ribeiro - um prestigiado escritor brasileiro, tendenciosamente burlesco (o que não será defeito), o qual os portugueses mais inclinados à Literatura conhecerão - intitulado «Escrevendo Muderno» em que diz o seguinte (assim, tal e qual): «Se não pudemos nos livrarmos de tantas mazelas herdadas da colonização portuguesa, pudemos pelo menos nos livrar de uma língua que nos isola do mundo e atrapalha a nossa ascensão como povo».
Sobre isto, A. Gomes da Costa, na crónica intitulada «O Português no Trinque» salienta que João Ubaldo Ribeiro não querendo ser feiticeiro com o verbo, foi desleal com a História, «e há limites para tudo (…) porque deve existir um mínimo de consideração seja por um valor permanente da nacionalidade, seja pela mãe que nos pariu. Não está em causa perder a piada e manter o amigo. Está em jogo, isso sim, o zelo em preservar um patrimônio comum, que é do povo tanto quanto dos escritores, que é de seis ou sete outros países tanto quanto do nosso».
Numa outra crónica de 2001, “Destratando o Português” A. Gomes da Costa dá-nos conta da mudança dos currículos e da metodologia do ensino da Língua Portuguesa no Brasil: «Até o nome da disciplina foi modificado oficialmente: saiu o Português dos programas e deu lugar à Comunicação e Expressão», e os clássicos foram substituídos pelas crónicas desportivas dos jornais e pelas transcrições da cartilha do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) impregnada de uma irracional lusofobia.
«As consequências dessa reforma, todos sabemos quais foram», salienta A. Gomes da Costa: «a linguagem degradou-se, o ensino do Português virou uma choldra e os alunos terminavam os cursos com uma pobreza de conhecimentos de meter dó, sem nunca terem ouvido falar de Camões ou Machado de Assis, incapazes de seguir as regras de concordância ou de conjugar um verbo defectivo».
Em Portugal passou-se mais ou menos o mesmo. O Ministério da Educação aboliu dos programas Os Lusíadas, Eça de Queiroz, Frei Luiz de Sousa, Padre António Vieira, Almeida Garrett, substituindo-os por textos informativos, mas nada formativos, retirados dos jornais, onde, infelizmente, se escreve um péssimo "português".
Resultado: a qualidade do ensino da Língua degradou-se, levando a um desinteresse pela leitura, e uma incultura e iliteracia pavorosas instalaram-se por aí, até entre os que conseguem completar um curso universitário.
(Temos o exemplo maior de muitos (mal) falantes e ainda mais (mal) escreventes entre os políticos portugueses).
E o AO90 só veio piorar o já tão degradante estado da Língua.
Os alunos saem das escolas com graves deficiências no conhecimento da gramática, do léxico e da interpretação de textos, mostrando um grande pavor pelo Português.
«E quem não adquirir na escola o gosto de ler, mais tarde dificilmente abrirá um livro…» salienta A. Gomes da Costa.
Só sentirá o verdadeiro prazer da leitura aquele que conhecer bem a Língua, para poder saborear uma escrita escorreita, assente na harmonia das palavras.
Penso que chegados aqui, ficou bem claro que o que moveu Evanildo Bechara ao convidar Malaca Casteleiro para, juntos (excluindo os Africanos de expressão portuguesa) engendrarem o que veio a constituir a maior fraude linguística de todos os tempos, a que foi a aversão visceral de uma determinada elite brasileira, constituída por editores (veja-se o caso de Antônio Houaiss, que contribuiu para a deslusitanização do Português), escritores, jornalistas, artistas, intelectuais e políticos vergados à dialéctica marxista, pelo colonizador português, atacando o que ele tem de mais precioso e o que mais o identifica: a sua Língua, uma vez que não podem mudar o rumo da História, que já foi escrita, e substituir o colonizador português pelo inglês (como se disso dependesse o sucesso ou o insucesso de um país livre).
Portanto, tendo em conta que na génese do AO90 está uma evidente lusofobia e um consequente desafecto pela Língua do colonizador (a Língua Portuguesa), desafecto esse que originou o abrasileiramento do Português adoptado no Brasil, como língua oficial, e que foi desrespeitada, como tal, pela “necessidade” de se afastarem da língua do colonizador, e somando a isto a secreta intenção de transformar a Língua Portuguesa em Língua Brasileira, logo que o AO90 se instale, com o argumento da existência de milhões de falantes e escreventes do Dialecto Brasileiro (= variante brasileira do Português) prescindindo-se da qualidade em favor da quantidade, como se tal fosse o melhor para a Língua de Camões, temos que os portugueses devem rejeitar o AO90, para que o caos linguístico não se instale em Portugal, tal como já se instalou no Brasil, e principalmente, para que a bela e culta Língua Portuguesa, uma das mais antigas da europa, não desapareça do mapa linguístico das línguas vivas.
Foi apenas isto que pretendi salientar com esta «Génese do AO90».
E nada mais.
Até porque tenho muita consideração pela minha família brasileira e pelos meus bons amigos brasileiros.
Mas esses, não se comportam como lusófobos em relação a Portugal, nem pretendem que Portugal se afunde no brasileirismo americanizado.
Nada há aqui para unificar. Nem Língua, nem Cultura.
A Lusofonia não tem mais razão de existir. Cada ex-colónia deve ficar com a língua (e mais o resto) que bem entender. Daí que Portugal deva atirar ao caixote do lixo o AO90. Daí que se deva acabar, de uma vez por todas, com a farsa da CPLP, que não serve absolutamente para nada, a não ser para desunir ainda mais o que não tem união possível, e fazer negociatas.
A Língua Portuguesa nasceu em Portugal. É de Portugal, país que já se separou das ex-colónias, há bastante tempo. Por que teremos de andar a arrastar-nos atrás delas, ou elas atrás de nós?
Afinal o que somos? Um país livre e soberano, ou um pedaço de terra onde todos mandam, excepto os Portugueses?
Todos os países ditos lusófonos são agora livres e autónomos. Senhores das suas escolhas. Não temos de estar ligados a eles pela Língua, como se fôssemos gémeos siameses.
Cada país deve escolher e seguir o seu próprio caminho, e não esperar que aquele que deu ao mundo novos mundos, se arraste aos pés do gigante, como um condenado à morte.
Aqui não há nada para vingar. A História desenrola-se por épocas, caracterizadas por determinadas e específicas circunstâncias. Já não estamos em 1500, nem em 1822. Estamos no século XXI d.C. E o mundo evoluiu, embora não tanto como seria de esperar.
O Brasil tem as suas próprias pernas para andar. Então que ande e cresça, e esqueça que já foi colónia. Desde 1822 é um país livre. Não precisa de andar amuletado a Portugal e, muito menos, aos EUA.
Portugal, por sua vez, já deu ao mundo o que tinha a dar. Pariu países grandes, ricos e livres. Se não são potências, a culpa não será dos Portugueses, que já tiveram um grande império, que se estendeu por todos os continentes. Mas esse tempo já passou… e deve ficar no passado. Hoje, o imperialismo não tem mais razão de existir.
Hoje, o que resta a Portugal é a sua Língua, a sua Identidade, a sua Cultura Culta. A sua Honra. A sua Dignidade.
Não se pretenda destruir, com um golpe baixo, o que levou séculos a construir.
De resto, amigos para sempre…
***
Fonte:
«A Brasilidade dos Portugueses», da autoria de A. Gomes da Costa, editado pela Editorial Nórdica Lda., em 2002.
As passagens a negrito foram retiradas desta obra.
(***) A. Gomes da Costa (…) «ostenta, desde sempre um posicionamento declarado de amar desmedidamente tanto o Brasil quanto Portugal e sentir orgulho de ser brasileiro e de ser português»,tendo estado «por dedicação e mérito à frente das instituições lusas de cúpula no Brasil há mais de três décadas e foi presidente do Real Gabinete Português de Leitura». Natural da Póvoa de Varzim, morreu em Maio de 2017, no Brasil. Lá por se amar o Brasil ou amar Portugal, não significa que tenhamos de ser cúmplices do que políticos ignorantes fazem de pior, para destruir e amesquinhar os respectivos países.
«A Brasilidade dos Portugueses» é um livro que devia ser de leitura obrigatória em Portugal, nomeadamente entre os políticos portugueses que, levados pelo ocultismo e pelo obscurantismo, estão a vender Portugal a quem o quiser levar por barato.
Tenham brio e saibam HONRAR Portugal e os cargos que ocupam.
Isabel A. Ferreira
***
Génese do Acordo Ortográfico de 1990 (I)
http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-genese-do-acordo-ortografico-de-1990-52848
Génese do Acordo Ortográfico de 1990 (II)
http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-genese-do-acordo-ortografico-de-1990-53853
Génese do Acordo Ortográfico de 1990 (III)
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/genese-do-acordo-ortografico-de-1990-55885
Diga-se em abono da verdade que pretender unificar a Lusofonia é uma grande treta. Cada povo lusófono/lusógrafo deve ficar com a Língua (e tudo o resto) que bem entender. Daí que Portugal deva mandar às malvas o AO90, e acabe-se de uma vez por todas com esta coisa da CPLP, que não serve para nada, a não ser para negociatas e desunir.
A Língua Portuguesa, como o nome indica, é portuguesa, é de Portugal, que já libertou as ex-colónias do jugo colonialista. Por que teremos de andar a arrastar-nos atrás delas, ou elas atrás de nós, com unificações linguísticas que jamais acontecerão, por muito que queiram os acordistas??????
Afinal o que somos nós? Um país livre e soberano, ou um pedaço de terra onde todos mandam, excepto os portugueses?
A CPLP já não se justifica. Só serve para sorver dinheiros públicos. Todos os países que dela fazem parte são livres e autónomos. Senhores das suas escolhas. Não temos de estar ligados pela Língua, como siameses, nem por outro motivo qualquer, até porque todos sabem que na CPLP cada país é dono do seu nariz, ou devia ser.
Cada país que siga o seu caminho. E amigos para sempre.
Maritza Rosabal, Ministra da Educação de Cabo Verde, anunciou que a Língua Portuguesa passa a ser ensinada como língua estrangeira, indo ao encontro do desejo de muitos pais e encarregados de educação que há muito pedem que o Português não seja ensinado como língua materna.
E justifica esta atitude pelo facto de as crianças não conseguirem «entender o Português”, de acordo com o que disse uma aluna da 1.ª classe ao seu pai no fim do seu primeiro dia de aula, “papa um ca intende nada que quel senhora tava ta dze”.
Maritza Rosabal, oriunda de Cuba, explica o motivo desta alteração afirmando que «a Língua Portuguesa é abordada como língua primeira de Cabo Verde, quando não é. Temos uma eficácia do sistema muito baixa, onde apenas 44% das crianças, que começam o primeiro ano, finalizam o 12º em tempo. Temos muitas perdas».
A ministra salientou ainda que «entre os alunos cabo-verdianos, a capacidade de leitura e interpretação e a proficiência linguística são questões que se colocam com muita acuidade. Toda esta duplicidade linguística afecta o processo. Reconhecemos que a nossa língua materna é o Crioulo, mas, como língua instrumental de trabalho e de comunicação, temos de fortalecer a língua portuguesa».
Rosabal referiu ainda «algumas dificuldades de Cabo Verde na inserção no espaço lusófono. O Brasil exige provas de língua portuguesa aos nossos estudantes, o Instituto Camões exige provas de língua portuguesa o que quer dizer que apesar de estarmos no espaço lusófono, começamos a não ser reconhecidos como um espaço com proficiência linguística em português”.
Daí que, já no próximo ano lectivo, o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua ou língua não-materna começará a ser introduzido no Ensino Pré-escolar (4/5 anos) e no primeiro ano do Ensino Básico, estendendo-se depois progressivamente aos restantes anos do Primeiro Ciclo.
Fonte:
http://noticiasdonorte.publ.cv/53398/portugues-passa-ensinado-lingua-estrangeira/
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