«A corrupção é tanta que até já gamaram o P à palavra corrupto.»
Pedro Correia, Autor e jornalista
«Preservar este secular idioma passa pela revalorização de vocábulos antigos e pelo combate ao portinglês que nos invade, mesmo quando surge disfarçado de português (é o caso do anglicismo “evento”, hoje omnipresente). E por darmos luta sem tréguas ao chamado “acordo ortográfico”, que decretou a separação de famílias lexicais (lácteo mas laticínio, epilético mas epilepsia, tato mas táctil), inventou termos aberrantes (como corréu em vez de co-réu ou conavegador em vez de co-navegador) e substituiu a regra pelo arbítrio (uma trapalhada em que materno-infantil coexiste com infantojuvenil, bissetriz com trissectriz, cor-de-rosa com cor de laranja).»
Pedro Correia, Autor e jornalista, a propósito do livro Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro
«O principal argumento contra o Acordo Ortográfico é a sua inutilidade. As dificuldades de leitura de textos da outra variedade da língua nunca estão relacionadas com a ortografia, as diferenças são outras. Para mudar a ortografia tem de haver uma razão muito forte, e eu não encontro aqui essa razão. As questões fiscais do comércio de livros entre Portugal e o Brasil são uma barreira mais grave do que a barreira ortográfica.
A ortografia do Acordo tornou-se menos adequada à fonética tanto do lado brasileiro como do português. As consoantes mudas tinham uma razão de ser, assinalavam uma forma diferente de ler a vogal, o que tornou mais difícil a leitura de algumas palavras. O Acordo criou uma instabilidade na língua que levou à existência de erros como "fato", em vez de "facto", mesmo no "Diário da República".»
Marco Neves, tradutor, escritor e professor universitário, no programa "Palavras Cruzadas" (Antena 2, 16/01/2023)
«Como os professores estão nas parangonas nos jornais, é deles que hoje falarei. Na última Feira do Livro de Lisboa, veio ter comigo uma professora de Língua Portuguesa que se apresentou, entre outras coisas, como leitora deste blogue. Disse-me que sabia que eu não tinha simpatia pelo presente Acordo Ortográfico (AO) e entregou-me meia folha A4 com um texto em que se explicava sumariamente que as escolas vivem hoje um autêntico caos linguístico, coexistindo no ensino da língua portuguesa três grafias: a do português pré-AO, a do AO e ainda outra, que é uma mistela de ambas e em que tudo parece ser permitido. Os maiores prejudicados por esta situação serão, muito naturalmente, os alunos, que aprendem uma coisa num ano e outra noutro, vêem os pais escrever de forma distinta daquela em que estão a ser ensinados e são penalizados nas notas pelos erros que muitos pais e professores não acham sequer que sejam erros. Diz ainda a nota que os professores são os Cavalos de Tróia desta operação com a qual frequentemente não concordam, vendo-se obrigados a ir contra a sua consciência.»
Maria do Rosário Pedreira, Escritora e editora
«[…] eles olham, mas não vêem; escutam, mas não ouvem nem entendem.»
Mateus, 13:13-16
Na linha do nosso escrito de Janeiro, voltamos hoje a escrever sobre corrução e corruto. Parafraseando Ricardo Araújo Pereira, deverá ser uma estratégia da defesa de alguns arguidos acusados do crime de corrupção. Desta maneira, a pena a aplicar será sempre muito reduzida, tendo em conta a prática inócua do crime de corrução. Como o caro leitor, certamente, deu conta, o AO90 veio trazer novos erros, que vamos respigando dos órgãos de Comunicação Social e de outras instituições.
Pesquisando apenas no jornal Record, detectamos as seguintes ocorrências:
Há poucos dias, mão amiga enviou-nos a seguinte lista de aberrações, criadas pelo AO90: Corréu, neoestoico, consunto, conarrar, conavegar, interruptor, opticidade, retouretral, semirrei, tecnolectal, cocolaborador, cooócito, perento, cocredor, cocapitão, adocionismo, expetar, cocoleta, contraião, intrauterino, cofiador, coutente, conavegante.
Parece piada ou brincadeira, não é, caro leitor? Se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?
Para mais uma vez ilustrar o caos ortográfico que se instalou, repare como se escreve (neste caso, o que está em causa é a utilização do hífen) num jornal de referência «A seleção de espécies feita pelos nossos biólogos reflete a vegetação natural existente dentro da cidade de Lisboa, como oliveira, alfarroba, folhado, sobreiro ou capuz-de-frade”, enumera Fabio Brochetta [da Urbem, organização não-governamental]» («Estão a nascer mini-florestas no Areeiro», Ana Meireles, Diário de Notícias, 20-01-2023, p. 15), divulgado no blogue O Linguagista.
João Esperança Barroca
… que, no meu computador, dotado de um correCtor ortográfico de Língua Portuguesa desacordizada, dá erro, bem como também dá erro o termo “desacordizada”. Ambos não existem no léxico da Língua Portuguesa (e quando me refiro à Língua Portuguesa quero dizer Língua Portuguesa), contudo, um, é estangeirismo, porque não pertence a Portugal, mas ao Brasil. O outro, é um novo termo derivado do “acordo ortográfico”, que querem impingir a Portugal.
No site sinónimos.com.br, lemos:
Sinônimo de parabenizar
10 sinônimos de parabenizar para 1 sentido da palavra parabenizar:
Dar os parabéns:
congratular, felicitar, cumprimentar, saudar, elogiar, gratular, festejar, celebrar, brindar, beber.
Os 10 sinónimos aqui referidos constam da Língua Portuguesa, e faltou parabentear. E entre parabentear e parabenizar, que venha o diabo e escolha, são duas palavras espessas.
Se temos tantos modos, na NOSSA Língua, para dar os parabéns a alguém, que necessidade há de importar este estrangeirismo?
A propósito disto alguém me disse para não me irritar.
Eu não me irrito. Eu sinto-me mal. Em geral, não gosto de estrangeirismos, provenham eles de onde provierem, quando temos palavras NOSSAS, e muito mais elegantes e felizes, para dizer o mesmo. Quando não temos, lá terá de ser. Neste caso, além de possuirmos 10 sinónimos, não gosto da palavra "parabenizar". Como não gosto, por exemplo, de "avalancha", do francês avalanche, muito mais elegante, a qual se usa em Portugal.
Portanto, comigo, isto nada tem a ver com ser ou não ser estrangeirismos do Brasil. Até porque aprendi a ler e a escrever no Brasil, e lá passei por todos os ciclos escolares, e ainda uso, no meu dia a dia, muitas palavras brasileiras, apenas oralmente. Na escrita evito-as, porque a escrita é ESCRITA. Exemplos: toró (tóró) por tempestade; mamãe e papai, por mãe e pai; do tamanho de um bonde, por grande; cumbuca, por vasilha; cafuné, por afago; poxa (pôxa), por arre; meleca (mêlécâ), por imundície; enfim, estaria aqui o resto do dia...
Nós, em Português, temos uma palavra bem mais elegante e feliz para desejar os parabéns a alguém, que é FELICITAR. Por que haveremos de importar o PARABENIZAR, que é uma palavra espessa? E isto também não é uma questão de gosto. É uma questão de não haver necessidade de importar palavras estrangeiradas, quando as temos nossas. Apenas isso.
Antes de 2012, na legenda que vemos na imagem, leríamos «Rui Vitória não felicita FC Porto».
Em 2018, a que propósito se parabeniza, se temos: dar os parabéns, congratular, felicitar, cumprimentar, saudar…? Porquê este parabenizar, que é um vocábulo exclusivo do léxico brasileiro? Isto não faz parte do “acordo desortográfico”, faz?
Dizem-me que implico demasiado com o Brasil, e nada está mais longe da verdade. É preciso lembrar que a minha Cultura assenta na Cultura Portuguesa e na Cultura Inglesa (que aprofundei numa escola inglesa), mas também na Cultura Brasileira, que considero riquíssima, mas está mal divulgada e aproveitada, especialmente nas escolas brasileiras, que desprezam a cultura do próprio país, e muito mais a cultura dos Portugueses.
Dizem-me que duvidam que a Língua Portuguesa seja mais maltratada pelos Brasileiros do que pelos Portugueses, e que o inglês americano está distante do original, principalmente relacionado com o léxico e a pronúncia, mas também de ortografia, e os Ingleses não se melindram com isso… Pois não. Vou explicar porquê.
A distância do inglês americano para a Língua Inglesa é de 1 para 10. A distância do Brasileiro para o Português é de 1 para 100, ou talvez de 1 para 1.000. Além disso, a Língua Inglesa NÃO foi MUTILADA, não a afastaram das suas raízes, e não está na berlinda, em parte alguma, como está a Língua Portuguesa em Portugal, no Brasil e em todos os outros países de expressão dita lusófona. Se estivesse, garanto que, conhecendo, como conheço, os Ingleses, eles reagiriam, como todos os Portugueses Pensantes estão a reagir. É que não é fácil ver a nossa Língua Materna a despedaçar-se, pelos motivos mais torpes.
Quanto à dúvida no maltrato da Língua, os Portugueses actualmente maltratam a Língua muito mais do que há uns poucos anos. Mas os Brasileiros (os Brasileiros comuns, os Cultos estão fora desta apreciação) se chamam Português do Brasil ao que falam e escrevem, chamam erradamente. Porque NÃO existe Português do Brasil, mas sim uma VARIANTE Brasileira do Português ou dialecto brasileiro (quem o diz é o maior estudioso português de Dialectologia - Leite de Vasconcelos)
Considero o Brasil um país irmão de Portugal. Mas não um irmão gémeo, até porque ambos ficariam a perder, se fossem gémeos. A Cultura de um completa a Cultura do outro. E é por esse completamento que me bato, pela diversidade linguística, e NÃO, pela união de grafias, algo que jamais acontecerá.
O Brasil já está tão distante do Português que, primeiro: já nem sequer o estudam com essa designação; e segundo: não tenho qualquer dúvida de que se tornará uma língua autónoma com qualquer outra designação, excePto Língua Portuguesa, porque essa, já não é portuguesa.
E não se passou isto com o Latim, com o Português, com todas as outras línguas? Todas as línguas começaram por ser dialectos de outras línguas, e foram-se distanciando até se tornarem autónomas. O mesmo acontecerá com a Variante Brasileira do Português, candidata a Língua Brasileira, sem qualquer dúvida.
Por isso, esta coisa de "países lusófonos " é uma grande falácia. No Brasil usa-se a Variante Brasileira, nos restantes países de expressão portuguesa, apenas uma minoria mais instruída usa o Português. De resto, o povo fala e escreve os dialectos nativos, que são às dezenas. E não é assim que deve ser? Afinal são países independentes, onde já existia um Povo com uma cultura própria.
O que se passa em Portugal, no que respeita à importação de estrangeirismos, brasileiros ou não, provém daquela mentalidade terceiro-mundista, que faz adoPtar o que é estrangeiro, porque isso é que é muito chique. Porém, a isto chama-se PAROLICE.
Isabel A. Ferreira
. «Em Defesa da Ortografia ...
. Ao redor da palavra "para...