Terça-feira, 20 de Dezembro de 2022

«A Obsolescência do Homem» - um texto de Günther Anders, para reflectirmos a decadência da sociedade portuguesa, sem tirar, nem pôr…

 

(Texto recebido via e-mail)

 

Em 1956, Günther Anders, filósofo e ensaísta alemão, de origem judaica, escreveu um texto onde reflecte o evoluir da decadência das sociedades humanas, e as palavras, que então escreveu, aplicam-se aos dias de hoje com uma precisão espantosa.

 

Nada mudou, entretanto. Nada melhorou. Pelo contrário, tudo foi ampliado ao máximo, e hoje, a nossa sociedade está afundada num estado de decadência cada vez mais evidente. 

 

Parece que o texto de Günther Anders foi escrito a pensar na sociedade portuguesa do ano de 2022, e isto é que torna o texto tão aliciante e muito actual.

 

Caros leitores, proponho este exercício analógico como reflexão, nesta época natalícia, que mais parece uma feira da ladra, pelos motivos mais óbvios…

 

Isabel A. Ferreira   

 

Günther+Anders.jpgGünther Anders

 

«Para abafar antecipadamente qualquer revolta, não se deve usar a violência. Métodos como os usados ​​por Hitler estão ultrapassados. Basta desenvolver um condicionamento colectivo tão poderoso que a própria ideia de revolta nem passará pela cabeça das pessoas. O ideal seria formatar os indivíduos desde o nascimento limitando as suas habilidades biológicas inatas...

 

Então, continuaríamos o processo de condicionamento, reduzindo drasticamente a educação para trazê-la de volta a uma forma de integração no mundo do trabalho. Um indivíduo sem instrução tem apenas um horizonte limitado de pensamento, e quanto mais os seus pensamentos estiverem confinados a preocupações materiais medíocres, menos ele poderá rebelar-se.

 

O acesso ao conhecimento deve ser cada vez mais difícil e elitista. O abismo entre as pessoas e a ciência deve ser ampliado. Todo o conteúdo subversivo deve ser removido das informações destinadas ao público em geral. Acima de tudo a filosofia não deve existir. Uma vez mais, há que usar a persuasão e não a violência directa: transmitir-se-á maciçamente, através da televisão, entretenimento imbecil, lisonjeando sempre o emocional, o instintivo. Vamos ocupar as mentes com o que é fútil e lúdico. É bom ocupar a mente com conversa fiada e música incessante, para evitar que a mente se interrogue, pense, reflicta.

 

A sexualidade estará no topo dos interesses humanos. Como anestesia social, não há nada melhor.

 

No geral, assegurar-nos em banir a importância da existência, transformar em escárnio tudo o que tem um valor elevado e manter um constante elogio à frivolidade; de modo que a euforia da publicidade, do consumo se tornem o padrão da felicidade humana e o modelo da liberdade.

 

Deste modo, o condicionamento produzirá tal integração, que o único medo (que será necessário manter) será o de ser excluído do sistema e, portanto, de não poder mais ter acesso às condições materiais necessárias para a felicidade.

 

O homem massificado, produzido dessa maneira, deve ser tratado como o que é: um bezerro, e deve ser vigiado de perto, como um rebanho deve ser. Tudo o que mitiga a sua lucidez é bom socialmente, e tudo o que pode despertá-la deve ser ridicularizado, sufocado e combatido. Qualquer doutrina que questione o sistema, primeiro, deve ser designada como subversiva e terrorista, e em seguida, aqueles que a apoiam devem ser tratados como tal.»   

 

- Günther Anders - "A obsolescência do homem" - 1956.

 

Fonte:

https://www.cosmydor.paris/journal-design-arts-nature-skincare/extract-gunther-anders-the-obsolescence-of-man

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:55

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