Um texto que reflecte a miséria do ensino em Portugal.
A proibição de ensinar, imposta aos professores, veio logo com o 25 de Abril. Dei aulas de Português e de História ao 2º Ciclo, nos anos lectivos de 1973/74, 74/75 e 75/76, e foi por obrigarem os professores de História, em vez de História a "ensinar" uma disciplina (sem livros) que se chamava "Habitação, Vestuário, e outra coisa do género, que agora não me recordo" que abandonei o ensino.
Desde então, o ensino tem vindo a degradar-se cada vez mais, e hoje o meu neto, que anda no 8º ano, a Matemática, na óptica dele, chama-se "Pinta de Amarelo", porque os exercícios de Matemática são para "pintar de amarelo" determinadas coisas.
O que se pretende com este tipo de ensino a abeirar o ensino de infantário?
E o Português, que os professores actuais não sabem como grafar, e grafam à vontade do freguês? Não admira que a Matemática e a Português os alunos portugueses estejam na cauda da Europa.
O que pretenderão os governantes com este tipo de ensino? Formar analfabetos funcionais, para mais fácil os manobrar, no futuro?
Isabel A. Ferreira
António Carlos Cortez
Com os resultados da oitava ronda do PISA [Programa Internacional de Avaliação de Alunos], só se espanta quem seja ingénuo ou cobarde. Ou quem, irresponsavelmente, insiste em declarar que a educação em Portugal - e o país, de que a educação é o espelho -- está no bom caminho seja para o que for a que queiramos chamar "o futuro". Não. Portugal, que tem sido ultrapassado por países que ainda há pouco no ex-Bloco de Leste pouco mais seriam que territórios em transição para o dito "1º Mundo"; Portugal é hoje um país que se prepara para uma segunda metade da década de 2020 que será de diluição, destruição, esgotamento, subversão das instituições.
Desde Garrett e de Antero que não conhecemos senão uma classe política indigente, salvo excepções. Sucedem-se as comissões, os estudos, as radiografias à nossa sociedade. Publicam-se ensaios, livros; organizam-se conferências, multiplicam-se os encontros, os colóquios, os convénios. Todos, dos cafés de bairro às direcções das Universidades e Redacções de Jornais sabem que estamos doentes. Em jeito de cardápio barato a servir-se numa qualquer esplanada da pátria, preparamo-nos para ver os programas dos partidos que vão a eleições em Março de 2024. Com que esperança vamos votar? Em que classe política conhecedora do país real? Neste "fogo-fátuo" que é Portugal a entristecer a terrível verdade é esta: os portugueses, depois de Marcelo deixar cair definitivamente a sua máscara, sabem que são "Ninguém", como alegoricamente exclamou esse Romeiro que já éramos no século XIX.
Volto à questão do PISA e destes resultados reveladores. Portugal tem o 29º resultado (em trinta países!) em Matemática; tem o último lugar na literacia científica e ocupa o 24º lugar no que respeita à leitura. A culpa não será só da pandemia. Mas a pandemia agravou as dificuldades do quotidiano escolar e universitário. O tele-ensino foi apenas, como sempre neste país, "para inglês ver" e a equipa ministerial fazer o elogio da classe que jamais protege, mas sempre engana. Sejamos honestos: não só a profissão docente está absolutamente comprometida, como a própria escola pública (mas também colégios privados, pois o mal também chegará) e a Universidade no seu futuro. As condições de recrutamento não aliciam ninguém. Não teremos 30.000 professores em 2030 para fazer face à falta de profissionais neste sector. Os que entrarem depressa irão rumar a outras paragens. Os que persistirem serão carne-para-canhão dum sistema que paga mal, brutaliza, estupidifica e é cúmplice da ignorância larvar.
Com efeito, os resultados do PISA revelam o que a maioria sabe: que o que se vive no dia-a-dia das escolas impede qualquer hipótese de crianças e adolescentes aprenderem seja o que for de relevante. O quotidiano escolar é simples de descrever: os professores, esmagados por centenas de alunos, tendo a braços mil-e-um afazeres de natureza burocrática, deslocados da sua área de residência, congelados neste ou naquele escalão, tendo ordenados de miséria -- os professores não possuem qualquer estatuto real ou simbólico para enfrentar o que enfrentam. A tutela tira hoje para fingir que dá amanhã e depois-de-amanhã tira mais do que tirou da primeira vez. Que realidade é essa que os professores enfrentam? Esta: Uma geração inteira de adolescentes que, com 13, 14, 15, 16, 17 anos são mal-educados, ignorantes e sem curiosidade. Adolescentes cujos pais pressionam, com apoio das direcções, para que os seus filhos obtenham resultados de não menos que 16 a todas as disciplinas. O perfil dos jovens que frequentam hoje a escola portuguesa roça a delinquência. Mas são delinquentes com óptimas notas! É vê-los com as cabeças mergulhadas, durante as aulas, nos ecrãs dos tenebrosos telemóveis. É vê-los falar no português de caserna que espelha a ausência de utopia, a incuriosidade, a formatação de reformas educativas que visaram empobrecer a capacidade crítica. No digital -- aí é que está a autoridade: os influencers, os tik-tokers, os magos da estupidez a fingir de progresso. Esses são os verdadeiros educadores do país. Na maioria das escolas as direcções são coniventes. O rigor é atropelado pela facilidade; reprovar um aluno significa correr o perigo de ter os pais à espera. No melhor dos casos significa escrever um relatório inútil a justificar por que razão a reprovação faz sentido - facto que as direcções se apressam a desfazer. Professores competentes -- que os há, ainda -- são convidados a serem "flexíveis". A escola "inclusiva" de que os governantes gostam de falar é inclusiva apenas nisto: na pobreza salarial de quem ensina, na deliquência potencial de quem (não quer ser) ensinado. Criámos, portanto, os monstros: futuros juízes, políticos, advogados, médicos, professores, engenheiros, arquitectos, que nada leram, não sabem escrever e não sabem pensar.
Só os governantes é que ignoram o óbvio: as sucessivas reformas - com a diluição de disciplinas como História, Filosofia e Literatura (as que exigem a escrita reflexiva!) - são a raiz da nossa degradação social. Os resultados do PISA espelham bem cinco causas da nossa decadência acelerada: 1.º) As reformas curriculares facilitistas; 2.º) a má preparação científica da classe docente; 3.º) a pobreza salarial dos professores, não permitindo o acesso à cultura, sempre cara neste país pobre; 4.º) a incapacidade de pensar a educação supra-partidariamente e 5.º) a "vã cobiça", as modas, tudo quanto, sob a capa do discurso do sucesso, abre as portas à corrupção, à anarquia, à indigência. A violência existe nas escolas portuguesas. Saber ler e escrever e contar a sério -- isso não existe.
Professor, poeta e crítico literário
Fonte:
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(Texto recebido via e-mail)
Em 1956, Günther Anders, filósofo e ensaísta alemão, de origem judaica, escreveu um texto onde reflecte o evoluir da decadência das sociedades humanas, e as palavras, que então escreveu, aplicam-se aos dias de hoje com uma precisão espantosa.
Nada mudou, entretanto. Nada melhorou. Pelo contrário, tudo foi ampliado ao máximo, e hoje, a nossa sociedade está afundada num estado de decadência cada vez mais evidente.
Parece que o texto de Günther Anders foi escrito a pensar na sociedade portuguesa do ano de 2022, e isto é que torna o texto tão aliciante e muito actual.
Caros leitores, proponho este exercício analógico como reflexão, nesta época natalícia, que mais parece uma feira da ladra, pelos motivos mais óbvios…
Isabel A. Ferreira
Günther Anders
«Para abafar antecipadamente qualquer revolta, não se deve usar a violência. Métodos como os usados por Hitler estão ultrapassados. Basta desenvolver um condicionamento colectivo tão poderoso que a própria ideia de revolta nem passará pela cabeça das pessoas. O ideal seria formatar os indivíduos desde o nascimento limitando as suas habilidades biológicas inatas...
Então, continuaríamos o processo de condicionamento, reduzindo drasticamente a educação para trazê-la de volta a uma forma de integração no mundo do trabalho. Um indivíduo sem instrução tem apenas um horizonte limitado de pensamento, e quanto mais os seus pensamentos estiverem confinados a preocupações materiais medíocres, menos ele poderá rebelar-se.
O acesso ao conhecimento deve ser cada vez mais difícil e elitista. O abismo entre as pessoas e a ciência deve ser ampliado. Todo o conteúdo subversivo deve ser removido das informações destinadas ao público em geral. Acima de tudo a filosofia não deve existir. Uma vez mais, há que usar a persuasão e não a violência directa: transmitir-se-á maciçamente, através da televisão, entretenimento imbecil, lisonjeando sempre o emocional, o instintivo. Vamos ocupar as mentes com o que é fútil e lúdico. É bom ocupar a mente com conversa fiada e música incessante, para evitar que a mente se interrogue, pense, reflicta.
A sexualidade estará no topo dos interesses humanos. Como anestesia social, não há nada melhor.
No geral, assegurar-nos em banir a importância da existência, transformar em escárnio tudo o que tem um valor elevado e manter um constante elogio à frivolidade; de modo que a euforia da publicidade, do consumo se tornem o padrão da felicidade humana e o modelo da liberdade.
Deste modo, o condicionamento produzirá tal integração, que o único medo (que será necessário manter) será o de ser excluído do sistema e, portanto, de não poder mais ter acesso às condições materiais necessárias para a felicidade.
O homem massificado, produzido dessa maneira, deve ser tratado como o que é: um bezerro, e deve ser vigiado de perto, como um rebanho deve ser. Tudo o que mitiga a sua lucidez é bom socialmente, e tudo o que pode despertá-la deve ser ridicularizado, sufocado e combatido. Qualquer doutrina que questione o sistema, primeiro, deve ser designada como subversiva e terrorista, e em seguida, aqueles que a apoiam devem ser tratados como tal.»
- Günther Anders - "A obsolescência do homem" - 1956.
Fonte:
Um périplo pela absurdez de um “acordo ortográfico” que ninguém quis, ninguém pediu, e apenas os servilistas portugueses aplicam, em obediência cega aos ditadores que nos (des)governam.
Comecemos pelo que nos diz a livre-pensadora portuguesa Idalete Giga:
«Vivemos numa ditadura travestida de democracia(!). Um dos efeitos mais trágicos: o fosso entre ricos e pobres que é cada vez maior(!). São os pobres que, efectivamente, geram grande parte da riqueza e não usufruem dela.
Podemos perguntar: mas como dar volta a isto? Como iniciar uma política de redistribuição justa da riqueza.? Alguém sabe, perante o caos em que se encontra o mundo empestado de corrupção a todos os níveis? Enquanto o povo (aquele que trabalha) aceitar e fechar os olhos à corrupção, tudo continuará na mesma ou pior(!).
Sempre acreditei que tudo vai melhorar com as crianças que ainda não nasceram de pais não corruptos.... e numa Escola livre que dê iguais oportunidades a todas essas crianças … desde a pré-escola até à Universidade. inclusive.
Mas... o nosso sistema educativo, em Portugal é, desde há muito, especializado em desperdiçar talentos. Formatam-se as crianças para que não aprendam a pensar. A escola mata a espontaneidade, a imaginação, a criatividade da criança. Tudo converge para o facilitismo (o aborto ortográfico/90 é bem a prova disso), para a mediocridade, para o vazio mental. A Filosofia, que é tão importante para ensinar a pensar, foi praticamente banida das Universidades. Há uma verdadeira praga de . E porque continua Portugal a ser tão mal gerido? É proibido usar a inteligência. É proibido pensar.»
«O MUNDO NA PALMA DA MÃO À DISTÂNCIA DE UM CLIQUE | pode vir a limitar as novas gerações à realização de tarefas básicas. Num mundo em que a evolução tecnológica acontece a uma velocidade supersónica a leitura continua a ser a melhor forma para a construção do cérebro. E nem sequer falo da manipulação de que são alvo a todos os níveis, desde que nascem, pela "ditadura" do algoritmo. Esta seria uma conversa para muitas horas ou dias.»
Fonte:
https://www.facebook.com/paulovieiradasilva.oficial/photos/a.929142400443171/4883029965054375
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O que se anda a tramar por aí, e que os media portugueses não dizem
João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação, do governo socialista de António Costa prometeu que
«Portugal vai conscientizar professores sobre diversidade da língua e tolerância ao “brasileiro”» (título de um artigo de Gian Amato, publicado no Jornal online «O Globo»).
Ainda de acordo com João Costa, na prática, o primeiro passo tem sido dar formação sobre a diversidade e tolerância linguística [apenas em relação a alunos brasileiros e não em relação às outras nacionalidades, e são muitas] e este tem sido um foco de actuação do Ministério da Educação, que já tem investido muito na formação dos professores, mas talvez tenham de investir mais neste tipo de acção.
No final do artigo, Gian Amato, acaba por dizer o seguinte: «Mesmo com a dissolução do Parlamento em dezembro, o governo manterá funcões. As novas eleições estão programadas para 30 de janeiro. Se o Partido Socialista (PS) permanecer no poder, a tendência é que o Ministério da Educação acelere as ações. A sigla do premier António Costa lidera as pesquisas.»
Fonte: https://outline.com/ahZYAM
ATENÇÃO desacordistas!!!!! Pensem muito bem, antes de VOTAR no “premier” António Costa!!!!!
Uma pessoa, que quis o anonimato, que isto de vivermos numa ditadura disfarçada de democracia, pode levar a represálias ou penalizações, a propósito do que publiquei num texto, neste link
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/li-n-o-globo-que-portugal-vai-347623?tc=88807745420
em que abordo esta matéria, que não vi tratada em nenhum órgão de comunicação social, deixou o seguinte comentário:
«Deve ser por isso que, nas escolas portuguesas, os professores estão a obrigar os alunos a utilizar o Google “Classroom” onde aparecem palavras como "compartilhar". Vergonha! Porquê este desprezo pelo modo como se escreve e fala em Portugal?»
Porquê este desprezo pelo modo como se escreve e fala em Portugal?
Eu respondi-lhe:
Primeiro: por uma gigantesca IGNORÂNCIA da Cultura, da História e da Língua Portuguesas, que os governantes portugueses, que devem milhares de Euros à racionalidade e ao sentido de Estado, mantêm, com a inexistência de políticas adequadas à evolução cultural, social e linguística de Portugal. Para os actuais governantes só lhes interessa os lugares a ocupar no Parlamento, as políticas económico-financeiras e servir os grupos de pressão económica, para assegurarem um “lugar ao sol” quando a Politiquice (repare que não me referi à ARTE POLÍTICA, da qual são totalmente desprovidos), já não lhes tiver mais serventia.
Segundo: por uma também gigantesca ESTUPIDEZ generalizada, que os governantes portugueses, que devem milhares de Euros à racionalidade e ao sentido de Estado, mantêm em banho-maria, para melhor subjugar o povinho tanso e manso, como lhes convém.
Terceiro: por um ainda mais agigantado COMPLEXO DE INFERIORIDADE. Como, devido às incapacidades intelectuais, que não foram adequadamente desenvolvidas, com um ENSINO inteligente, voltado para o SABER PENSAR, sentem-se pequenos diante de um gigante, que só tem tamanho. E um gigante que só tem tamanho pode ser facilmente neutralizado se se tiver a capacidade de usar a inteligência.
Quarto: porque já não se fazem HOMENS e MULHERES com sangue na guelra, começando pelo presidente da República Portuguesa, que dá entrevistas em BRASILEIRO, na própria sede da Presidência, e acabando nos governantes e parlamentares que, sendo desprovidos de sentido crítico, não se apercebem de que estão a ser comidos por lorpas.
Daí que não surpreenda que a nossa bela e rica Língua Portuguesa esteja a escorrer pelo cano de esgoto.
É pouco provável, até porque os protagonistas serão os mesmos (e já estamos fartos deles), mas esperemos que a luz da inteligência possa brilhar lá para os lados de São Bento e Belém, e mudar as mentes que o novo-velho Governo trará, porque mais do mesmo, acabará por afundar Portugal, mais do que ele já está afundado.
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«É HORA de ACORDAR!»
Por Idalete Giga
«O estúpido AO/90 foi a maior traição à Língua e Cultura Portuguesas. Foi e continua a ser um verdadeiro atentado terrorista contra a nossa alma colectiva como povo. Na nossa alma colectiva habita toda a riqueza mental e espiritual que foi crescendo ao longo da nossa História. Por que razão um punhado de aventureiros ignorantes e oportunistas quiseram matar a nossa alma colectiva?
Que cada um pense com a sua cabeça. Quando se quer destruir um povo para melhor o controlar e escravizar, os traidores começam por destruir a sua maior riqueza: a LÍNGUA MATERNA. Os que decidiram, por decreto, tentar matar a alma colectiva do povo português terão de pagar bem caro os erros tremendos que cometeram. Em Portugal há muitas ilegalidades que vão contra a nossa Constituição. O AO/90 impingido à administração pública e seguido por uma comunicação social acéfala, empresas com administrações interesseiras e cobardes, editoras oportunistas, uma imprensa católica seguidista, etc., etc., foi um crime de lesa pátria(!).
Felizmente que há muitas editoras e cada vez mais portugueses a escrever correctamente. Também o Jornal PÚBLICO não adoptou o miserável desAcordo. Parece que os acentos faziam comichão aos aventureiros idiotas que já referi e são muitos. O que foi modificado não tem pés nem cabeça e veio empobrecer a Língua Portuguesa. As Línguas sempre evoluíram, mas não desta forma absurda como o AO90 para agradar a um punhado de pulhíticos brasileiros e portugueses.
Infelizmente , há muita gente que tem os olhos fechados e, talvez por medo não sei de quê, não os quer abrir. Uma mente aberta é a característica mais reveladora de uma inteligência superior. Parece que os portugueses estão a atravessar um período negro em relação à sua antiga Sabedoria. Que ela desperte rapidamente para podermos limpar os miasmas que têm atrasado séculos o nosso País. Temos tudo o que é bom para sermos um dos Países mais avançados e desenvolvidos do mundo. Então porque razão vivemos neste marasmo, nesta cegueira de obedecer constantemente a governos tiranos? É HORA de ACORDAR!»
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Ser ou não ser politicamente correcta, na questão da Língua Portuguesa, eis a questão…
George Orwell é um dos meus autores preferidos.
Estudei a obra dele, na sua Língua original. Captei-lhe o pensamento, mas também a alma, nas palavras que tão bem sabia usar.
Ele dizia que «if people cannot write well, they cannot think well, and if they cannot think well, others will do their thinking for them» - «se as pessoas não conseguem escrever bem, não conseguem pensar bem, e se não conseguem pensar bem, outros pensarão por elas». Obviamente.
Ele era daqueles Homens para quem as verdades eram para ser ditas, mas dizê-las exigia um preço, que ele, como todos os que ousam dizê-las e são livres, pagam conscientemente.
Escrevi uns textos, contendo umas verdades que, para os portugueses que não ousam, é politicamente incorrecto dizê-las alto. Verdades inconvenientes que é preciso calar, para que outros pensem por eles.
Publiquei-os nuns Grupos do Facebook, que se dizem anti-AO90, mas foram censurados. Para ser livre é preciso ousar. Mas em Portugal, quem ousa ousar, nesta questão da Língua?
Eu não tenho de ser politicamente correcta. Um livre-pensador não tem de ser politicamente correcto.
George Orwell não era. Eu também não sou, não que queira comparar-me a ele, ou imitá-lo. Quem sou eu!!!! Mas simplesmente porque gente como nós, que conseguimos escrever bem, também pensamos bem, e não permitimos que ninguém pense por nós.
Sim, sinto-me odiada por essa sociedade que se distancia da verdade. Mas que importância tem ser odiada por uma sociedade sem importância nenhuma?
Isabel A. Ferreira
Fonte:
https://www.facebook.com/photo/?fbid=5062879083726143&set=a.147893271891440
Este texto gerou um breve diálogo:
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É assim que se extingue um Povo
Por Carlos Martins
«Com este tipo de politiquice o povo português caminha a passos largos para a extinção. Sempre se apoiou mais a aceitação da globalização e com ela a mão de obra externa vinda de povos cada vez em maior expansão. O nosso povo envelhecido e a necessitar de incentivos à natalidade, assiste adormecido ao fecho de escolas primárias, de maternidades, e já agora, porque não diluir a língua-mãe? Se este país pode abraçar toda e qualquer influência externa e esbater-se sem pudor, a nossa "língua-mater" também poderá tornar-se numa língua secundária, fruto da hegemonia de outros povos mais fortes vindos de África, América do Sul e Ásia. É assim que se extingue um povo.»
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Sim, é assim que se extingue um povo. Verdade. É também verdade que quem nos (des)governa está a fazer tudo, TUDO, TUDO, TUDO, para extinguir o Povo Português.
E nesta nossa República das Bananas, o Povo Português, embalado pela canção do bandido, dorme, à sombra das bananeiras, tão profundamente, que nem se dá conta de que também está a ser comido por lorpa.
Isabel A. Ferreira
Um excelente e elucidativo texto escrito em 9/6/2013, por António Macedo. Por ser oportuno e estar actualíssimo, vamos recordá-lo.
Em Portugal é assim… Os anos vão passando… os portugueses cultos vão reclamando… os governantes fazendo orelhas moucas… e tudo continua teimosa e nesciamente na mesma: um atraso de vida! Mas vamos lá atirar mais uma acha para a grande fogueira, onde já está a arder o Acordo Ortográfico de 1990, a maior FRAUDE de todos os tempos.
Este é um texto para ler com atenção e partilhar e enviar aos irresponsáveis «acordistas», com esta observação prenunciadora:
Se houver Justiça (com letra maiúscula) em Portugal, e se Portugal for, de facto, um Estado de Direito, TODOS os responsáveis por esta monumental FRAUDE hão-de sentar-se no banco dos réus, por alta traição à Pátria. Se não houver Justiça, e se Portugal não for, de facto, um Estado de Direito, os traidores até poderão escapar à não-justiça, contudo, não se livrarão do julgamento do Tempo e da História. Tão certo como eu estar aqui a escrever isto. (Isabel A. Ferreira)
«Desliguem a Máquina!
Por ANTÓNIO DE MACEDO
«Os apoiantes do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) acusam frequentemente os opositores de serem «Velhos do Restelo», avessos à «evolução» da língua, saudosistas de se escrever «pharmácia» com ph, e outros doestos do mesmo teor. Equívocos grossos por parte de quem fala de coisas que não conhece ou conhece mal.
Comecemos pela alusão ao «Velho do Restelo» (Canto IV de “Os Lusíadas”, estâncias 94 a 104). A sua identificação com mentalidade retrógrada, conservadorismo, pessimismo e afins resulta do desconhecimento do que realmente se lá encontra, ou então de uma leitura pela rama. Dou a palavra a quem sabia muito mais disto do que eu, o pensador António Telmo, que nos seus livros (p. ex. “Congeminações de um Neopitagórico”) nos explica que «o Velho do Restelo não significa aquilo que vulgarmente se diz significar, e tanto se tem repetido que quase se tornou proverbial», acrescentando mais adiante: «uma espécie de superego do homem, de censor ou de censurador de quanto nele aspira à inovação pelo heroísmo, à criação pelo imprevisível…»
Sendo um velho «venerando», quer dizer, que «deve ser venerado», e «com um saber de experiência feito», na verdade alerta-nos para os perigos a fim de podermos superá-los e vencê-los, não para fugirmos a eles, numa alusão à antiga máxima alquímica de que as provas que defrontamos não são obstáculos, mas desafios — curiosa máxima que até os políticos mais rasteiros já papagueiam quando tentam justificar os apertos orçamentais (e outros…) apregoando que as dificuldades são «oportunidades»…
Por outro lado, e passando ao tópico seguinte, se quisermos ser minuciosos concluiremos que os verdadeiros «saudosistas» do «português antigo» (?) não são os que suspiram pelo regresso à tal «pharmácia» com ph, situação que ocorreu apenas entre o séc. XVII e 1911, em que a grafia da língua portuguesa se caracterizou por um pedantismo renascentista e depois iluminista, de influência francesa, adoptando uma escrita que procurava reproduzir as transliterações latinas de palavras gregas, sobretudo em certos termos eruditos ou mitológicos, como «philosophia», «theologia», «chimera», «symmetria», etc..
O alfabeto do latim clássico não dispunha de letras que equivalessem aos sons de algumas letras gregas, que, com muito boa vontade, se poderiam representar por um “p” aspirado (ph), por um “t” aspirado (th), por um “c” (duro) aspirado (ch) e por um “y” com pronúncia aproximada do “u” francês.
Mas esta foi uma fase intercalar: nos primeiros séculos da língua portuguesa (séc. XII e até mais ou menos sécs. XVI-XVII) a grafia era uma tentativa de compromisso entre a fonética e a etimologia, cheia de erros e de irregularidades quando vista à luz da ciência linguística moderna, mas que ia acompanhando o evoluir da língua falada, em relativo paralelismo com o que sucedia com o castelhano.
Consultando as edições antigas das cantigas trovadorescas medievais, passando pelos autos de Gil Vicente e até à 1.ª edição de “Os Lusíadas”, ou seja, desde aproximadamente 1200 até 1572, praticamente não encontramos termos com ph, th, etc. Na 1.ª edição de “Os Lusíadas” é normal depararmos com grafias como «ninfas», «profeta», «cristalino», «fantasia», «Olimpo», etc., palavras que na posterior fase cultista passaram a escrever-se «nymphas», «propheta», «crystallino», «phantasia», «Olympo», etc. É certo que na epopeia de Camões também aparecem coisas como «triumphante» ou «hemispherio», mas não podemos esquecer que nos finais do século XVI já se esboçava a transição da norma tradicional portuguesa para a norma do cultismo de ascendência renascentista.
A fase cultista acentuou-se sobretudo a partir da revolução de 1640 e correlativo desvincular de Portugal da coroa espanhola. A moda da «orthographia etymológica» deveu-se, como disse, ao fascínio dos eruditos portugueses pelo Renascimento clássico e pelo Iluminismo, mas sobretudo por reacção xenofóbica anticastelhanista, para nos demarcarmos da grafia do antigo dominador, sendo essa uma outra maneira de afirmar a nossa independência e a nossa distância em relação a Espanha.
Com efeito, e apesar da tentativa da Real Academia Española, em 1741, para se utilizar o grupo “ph” em certas palavras de origem grega, essa ideia não foi por diante e os espanhóis mantiveram a simplificação tradicional: onde os portugueses, no séc. XVIII, escreviam «philosophia», os espanhóis continuaram a grafar «filosofía».
Em Portugal a grafia «cultista» manteve-se até à reforma ortográfica de 1911, que, com o pretexto da simplificação para obviar o gritante analfabetismo português, no fundo acabou por regressar, em termos modernos, à nossa real matriz de escrita. Os ajustes de 1931 e 1945 mais não fizeram do que «aperfeiçoar» (enfim, sem ironia e dentro do possível…) o espírito lusitanizante de 1911 — nunca devendo esquecer-nos que uma ortografia «idealmente perfeita» não existe, o máximo que se pode conseguir é um compromisso inteligente entre etimologia e fonética, coisa que, em minha humilde opinião, alcançou um relativo limite, «menos mau», com a convenção de 1945. Ir mais longe em termos de simplificação pró-foneticista é perigoso, veja-se o resultado catastrófico do abortivo AO90, que na salgalhada em que está a enredar-se acaba por ser tudo menos inteligente.
Finalmente a guerrilha da «evolução». Que a língua portuguesa evoluiu, no sentido biológico do termo, desde as suas origens até hoje, não surpreende, porque uma língua é um organismo vivo e vai passando por sucessivas mudanças naturais ao longo do tempo. É normal que a representação gráfica das progressivas alterações fonéticas não se processe com a mesma rapidez destas: a grafia, com o correr dos tempos, tende a ser uma espécie de “signe de reconnaissance”, e com o avançar da cultura, a sua permanência gráfica pode tornar-se um factor importante de identificação visual.
Por sua vez uma «mutação» é uma mudança brusca dos constituintes genéticos de um organismo, podendo dar origem a indivíduos bastante diferentes dos da espécie onde ocorre a mutação. Pedindo desculpa aos especialistas pela maneira simploriamente profana como falo deste complexo assunto, digamos que as mutações podem ser naturais ou induzidas, e ainda benéficas ou desfavoráveis. No caso das mutações desfavoráveis, os organismos resultantes, não sendo viáveis, geralmente acabam por se extinguir, por selecção natural.
O que se passa com o AO90 é que se trata de um «organismo» que não surgiu naturalmente, foi induzido artificialmente de uma maneira violenta e brutal, tendo gerado um «ser» abortivo — ou seja, trata-se de uma MUTAÇÃO desfavorável, não de uma EVOLUÇÃO natural, basta observar os erros, as incongruências, os descalabros e as desorientações provocados no Ensino e em diversas áreas culturais, e auscultar as queixas de professores e alunos sobre o calamitoso estrago causado pela imposição do AO90.
Ora, quando um organismo não é viável, como por exemplo um doente terminal em estado vegetativo, a ciência médica pode fazê-lo sobreviver por «tecnologia clínica», ligando-o a uma máquina que lhe prolonga a agonia artificialmente.
No caso da mutação desvantajosa do AO90, verificamos que o seu deplorável estado vegetativo somente se mantém porque foi ligado à máquina por «tecnologia política», e a sua falsa vida, prolongando-se, está a proporcionar uma agonia intolerável aos que lhe sofrem os efeitos.
Senhores políticos, acabem com o sofrimento do doente e dos próximos que já não aguentam suportar-lhe o fardo. É um destes casos extremos em que a eutanásia se justifica.
Por favor, desliguem a máquina!
Por isso, o pigmeu rasteja atrás do gigante.
Esta é a triste realidade portuguesa, no que respeita a quase tudo, neste nosso País, onde, segundo o nosso mui douto presidente da República somos os melhores dos melhores do mundo.
Não concordo inteiramente com este deslumbre do Senhor Presidente, mas numa coisa ele tem razão: somos os melhores dos melhores do mundo a falar e a escrever mal a própria Língua, que é a alma de um povo.
Portugal, se já não perdeu, está a perder a sua alma, extinguindo-se lentamente, como uma vela a arder.
Quem souber o mínimo de Português e estiver atento, por exemplo, ao que se diz e se lê nas legendas das televisões, comprova inequivocamente que a Língua Portuguesa está a ser não só esmagada pela absurdez do AO90, que obriga à grafia brasileira, (mas já se vai ouvindo umas e outras), como por uma disfunção linguística, inadmissível em jornalistas e personalidades que têm títulos académicos e ocupam altos cargos governamentais, políticos e académicos, e que deviam dar um bom exemplo de locução, uma vez que têm de falar frequentemente diante das câmaras de televisão, para um povo maioritariamente desinstruído, e quiçá para jovens e crianças que estejam a ver e ouvir os telejornais ou outros programas, e sabemos que disparates e mentiras repetidas muitas vezes transformam-se em normas e verdades.
Essa de não “comprirem” isto e aquilo é o pão nosso de cada dia, mas também já a ouvi da boca de uma professora que gritava, numa daquelas manifestações de rua, que os governantes não “compriam” as promessas. Na verdade, não “comprem”, mas como poderiam “comprir” se “comprir” é uma coisa anormal? Se bem que a anormalidade esteja instalada no Poder, por isso, as coisas não “foncionam” bem nos órgãos do Poder, os grandes, os maiores, os únicos responsáveis pela anarquia ortográfica, tanto escrita como falada, que se instalou em Portugal, e da qual os órgãos de comunicação social, vergados a esse Poder, nomeadamente as televisões (que dão mais nas vistas e entram pela casa dos Portugueses) são os maiores divulgadores.
Dadas estas “circonstâncias” é “óvio” (como constantemente ouvimos, e os disparates não se ficam por aqui) que os políticos portugueses, desde Cavaco Silva a José Sócrates, passando por todos os que já se lhes seguiram, estão-se nas tintas se o rumo da Língua Portuguesa se dirige para uma fossa séptica mandada construir especificamente para este efeito, por todos os que, estando no governo, acham (se ao menos pensassem!), que estão a contribuir para a “evolução” da Língua, desconhecendo que evolução significa avanço e não retrocesso.
É bem verdade que estes disparates nada têm a ver com o AO90. Já existiam antes do “aborto” ser imposto, contudo, é a soma de uma e de outra coisa que está a destruir o nosso património linguístico, salvaguardado apenas pelos países africanos de expressão portuguesa. Quem diria?
Ouçamos o que nos diz Eugénio Lisboa acerca do AO90, uma pequena grande lição de lucidez:
Contudo, não nos deixemos esmorecer, porque onde houver um Português genuíno e um africano de expressão portuguesa, a Língua Portuguesa estará a salvo. E enganem-se aqueles que acham (se ao menos pensassem!) que as crianças, que nas escolas estão a ser forçadas a escrever à brasileira, irão perpetuar essa brasileirice. Muitos Pais, entre os mais cultos, ensinam-lhes a Língua Portuguesa, em casa. Então, muitas crianças portuguesas estão a aprender o linguajar brasileiro, na sua forma grafada, como língua estrangeira, para utilizar apenas na escola e enganar os professores; a Língua Inglesa, para se comunicarem com o mundo, e a Língua Portuguesa, para a vida. E serão essas crianças e jovens que farão renascer das cinzas a destruída, Língua que são obrigadas a aprender, num lugar onde ENSINAR deveria ser uma missão das mais nobres, e não passa de uma impostura.
Contudo, nem tudo está a perder-se. Existem muitas editoras que estão a desligar-se do AO90, e já encontramos bastantes edições e traduções em bom Português.
Dêem uma voltinha por esta página, e comprovem:
https://www.facebook.com/portuguesdefacto/
O problema é que falta superioridade mental à classe política portuguesa, para admitir o grave erro que foi cometido às cegas, e para entender os fenómenos da linguagem, e parar a engrenagem que está a destruir a Língua e a criar analfabetos funcionais, e a construir um futuro esvaziado de Cultura, uma vez que, além da Língua, já estão a descartar a História, a Geografia e a Filosofia, disciplinas essenciais para a construção do Pensamento.
E não tenhamos dúvidas: se o AO90 não cair por mão política, cairá de podre, porque já nasceu apodrentado, e sementes podres não medram.
Isabel A. Ferreira
Excelente argumentação que derruba os que se vergaram subservientemente aos obscuros interesses dos políticos e dos seus lacaios no que respeita à venda da Língua Portuguesa
Fotografia de uma das manifestações contra o AO90, 10 Junho 2015, em Lisboa.
Texto de Maria Saraiva de Menezes
Ex.mo Sr. Arquitecto José Saraiva,
(Enviado hoje ao Sol)
Como utilizadora da Língua Portuguesa, vejo-me na necessidade de esclarecer alguns aspectos enunciados pelo Arquitecto José Saraiva no editorial da revista BI, Sol, de 1 Fevereiro 2017, intitulado 'A favor do Acordo', sob pena de caírem nas bocas do mundo como 'argumentos fast-food' para a defesa do AO90, isto é, argumentos sem cabimento e provindos de pouca reflexão científica sobre o assunto. Como o 'arquiteto' afirma: «Francamente, não percebo tanta resistência ao acordo», num Manifesto assinado por 100 intelectuais que pedem a sua revogação, sinto o dever moral de salvar a honra destes intelectuais que, claramente, 'não sabem o que dizem', e esclarecer este equívoco encapotado por uma palavra magnífica chamada 'Lusofonia' e pelo nosso amor inquestionável aos irmãos brasileiros.
Parece-me superficial e tendencioso afirmar que "muitos intelectuais portugueses, em vez de ficarem satisfeitos pela obtenção de um acordo - que facilita obviamente a edição de livros portugueses no Brasil,e, sobretudo, salva o 'português de Portugal' de ser secularizado. (...) E porquê? Por uma atitude puramente reaccionária. Repito: a escrita é uma convenção. As pessoas que criticam o Acordo não o fazem por razões científicas - fazem-no porque estão habituadas a escrever de certa maneira e não querem mudar." ('arquiteto' dixit)
Permita-me dizer que este é um argumento de telenovela ou revista cor-de-rosa. Parece insinuar que os intelectuais portugueses, especialistas da Língua, estejam a 'fazer birra' e a dizer que 'não brincam mais a esse jogo porque os outros meninos são maus'. Remete para o argumento espirituoso de que quem rejeita esta simplificação da Língua é um 'velho do Restelo'. Mas o que é facto é que os linguistas falam com conhecimento de causa, fruto do estudo profundo da Língua, pretendendo preservá-la enquanto SISTEMA NORMATIVO (com regras não-arbitrárias), qual matriz de todas as variantes, mas naturalmente, respeitando-a como um SISTEMA ABERTO, EM EVOLUÇÃO, porquanto a Língua é um ORGANISMO VIVO, sujeito a evolução constante, quer por VIA ERUDITA, quer POPULAR. Todos os dias nascem neologismos, em Portugal e no Brasil, em Angola e em Cabo Verde, e por aí fora; expressões, fusões provindas de galicismos ou anglicismos, do crioulo ou fruto da globalização. Estes intelectuais têm a perfeita noção destes aspectos intrínsecos a qualquer sistema linguístico. Mas forçar uma Língua à EVOLUÇÃO POR DECRETO, parece-nos estultícia. Introduzir uma reforma linguística, como este AO90, por 'Resolução de Conselho de Ministros, não só me parece autoritário e néscio (e esqueçamos aqui a esquerda e a direita que o Arquitecto contempla com altivez), mas ainda, pelo que se prova, inconstitucional. Mais ainda, ouvindo do Professor Doutor Artur Anselmo, Presidente da Academia das Ciência, que o AO90 foi imposto de surpresa, sem se consultar ou ouvir os pareceres de linguistas reputados e da própria Academia. Necessita, no mínimo, de uma revisão. Com isto se prova não se tratar de simples teimosia. É conhecimento.
Com efeito, as coisas feitas à pressa nascem cabras sem olhos, e este acordo é bem a prova disso. Foi imposto às escolas, aos professores e aos funcionários públicos, numa urgência de negócio para um mercado brasileiro de 200 milhões de 'leitores' onde os livros portugueses não passaram a vender-se mais só porque não têm consoantes mudas. Já agora, por que razão os brasileiros puderam manter o 'p' de 'recepção' (entre outras palavras) e nós não? Não era para uniformizar? Então e a Lusofonia? Não lhes poderemos, por isso, chamar também 'reaccionários' ou 'velhos do... Corcovado'?
No seu editorial, o 'arquiteto' diz, e muito bem, que a Língua é uma convenção e que se convenciona escrever assim ou de outra maneira. Da mesma forma se convencionou escrever 'pharmacia' e mais tarde, na reforma de 1911 se convencionou o grafema 'farmácia'. Apesar de Fernando Pessoa ter feito birra nessa altura e ter-se recusado a acatar as novidades linguísticas, penso que actualmente os grupos de cidadãos no facebook 'Em Acção contra o acordo ortográfico (cerca de 75 mil membros) e 'Cidadãos contra o AO90 (cerca de 33 mil membros) não fazem uma birra pelas mesmas razões. Quando o 'arquiteto' afirma não compreender por que razão a supressão das consoantes mudas é tão problemática para o Portugal pequenino, está a escamotear uma questão de enorme importância na fonética e na linguística. Essa questão é a da FUNÇÃO DIACRÍTICA DAS CONSOANTES. Esta função de uma consoante que não se lê é fundamental, pois a sua presença ensina a abrir a vogal anterior. É algo que os brasileiros naturalmente não precisam pois abrem todas as vogais. Coisas de países quentes. Quanto a nós, tal como os ingleses que não uniformizaram as suas 18 variantes, fechamos as vogais a menos que lá esteja lá uma consoante muda a dizer para não o fazer. Por essa razão, 'espetador', 'diretor', 'fatura', 'letivo' e 'receção' são coisas totalmente diferentes de 'espectador', 'director', 'factura', 'lectivo' e 'recepção'.
Esta é a prova de que a GRAFIA DETERMINA A FONÉTICA e não o contrário, como este acordo quer fazer vender. Mas o grave é que este corte a eito DIVORCIA O PORTUGUÊS DAS GRANDES LÍNGUAS EUROPEIAS e consequentemente, afasta-o das RAÍZES ETIMOLÓGICAS latinas e gregas. E isso é caótico para a compreensão e explicação da família das palavras e do seu significado. Se em Inglês temos 'actor' e em Francês 'acteur', que diabo quer dizer 'ator'? Este acordo proclama um facilitismo pueril e uma simplificação traiçoeira de alguém que prefere cortar as pernas para andar mais rápido numa cadeira de rodas.
O 'arquiteto' também se questiona se "os adversários do acordo rejeitam apenas a actualização de 1990 ou todas as actualizações da Língua que foram feitas ao longo dos séculos? E, no caso de aceitarem as outras, por que rejeitam esta? Por ser pior do que as outras? Por embirração?" Ora, lá está novamente o 'arquiteto' a passar a imagem de que aqueles que verdadeiramente percebem da Língua são uns birrentos, teimosos e 'chatos como a potassa'. Repare que houve várias reformas que não causaram tanta celeuma na sociedade, embora antigamente houvesse um número esmagador de analfabetos e actualmente os Media (ou terei de escrever 'a mídia'?) se dediquem a silenciar as vozes de protesto dos especialistas, vendendo apenas o programa de governo. Em termos de ranking das reformas ortográficas, os 'birrentos' detestam mais esta e consideram-na inútil e nefasta pelas razões já longamente expostas atrás. Quanto à reforma de 1911, mudar o 'ph' para 'f' não mata nenhuma função diacrítica nem lança tamanha confusão quanto à fonética, apesar de se afastar do étimo. A reforma de 1971 de que nos lembramos por retirar a acentuação gráfica dos advérbios de modo (pràticamente) e de 'sózinho', também não demole nenhum monumento de sapiência linguística, embora haja sempre uns birrentos por aí. Mas o AO90 é um monumento do disparate, quer no desastre das consoantes mudas roubadas, quer no assalto ao acento de 'pára' para 'para', e tornando homófonas palavras como 'receção' e 'recessão', lançando a Língua num exercício de mutilação gratuita que gera aberrações.
Este acordo assume proporções de negociata, arrumando com os argumentos dos intelectuais e colando-lhes o epíteto de 'teimosos', 'reaccionários' e 'conservadores', que não querem mudar a forma como sempre escreveram, como afirma o 'arquiteto' neste editorial. Parece-me ligeiro e de ma-fé, dizê-lo, porque não é o cidadão comum que tem conhecimentos de Grego clássico e de Latim para poder compreender os argumentos científicos. Naturalmente que até simpatizará com os ventos de mudança que parecem soprar na direcção da evolução e de um promissor modernismo linguístico, embora seja uma falácia.
Por isso, a Lusofonia incorreu no erro do branqueamento, da formatação, metendo-nos a todos no mesmo saco e dizendo-nos que temos todos de ser iguais. Não é preciso ser conservador de esquerda nem reaccionário para não aceitar ser reduzido a uma fórmula vendável a um mercado que não sabemos se lê assim tanto e se quer mudar alguma coisa. Com tudo isto, o que teve efectivamente peso na sociedade foi o facto de, em pleno período prolongado de crise económica, este acordo absurdo ter obrigado as famílias portuguesas a deitar fora manuais escolares, dicionários, livros e gramáticas, e a comprar tudo de novo. Sr. 'arquiteto', não vejo aqui nenhuma maravilha. Os especialistas da Língua sabem porquê. As editoras também. E nada tem a ver com o argumento do 'ph'. Foi claramente o argumento do 'pilim'.
Maria Saraiva de Menezes
Professora de Filosofia e escritora
OBS: A autora deste artigo escreve de acordo com a antiga ortografia.
Fonte:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211752169389448&set=gm.1388362337875802&type=3&theater
É urgente desenvolver uma Cultura Crítica. Se ela já existisse em Portugal, o AO90 não teria sido implantado assim tão servilmente...
Mas os que não a têm… ainda vão a tempo…
Por favor, reflictam nisto...
«É urgente desenvolver uma cultura crítica desde a infância»
Texto de Maria João Gaspar Oliveira
«Não ensinar uma criança a questionar o que lê, é levá-la a um nivelamento por baixo, relativamente ao conhecimento, bloqueando, assim, a sua percepção crítica da realidade. E fica à mercê de influências castradoras, que a impedem de pensar por si própria, e de descobrir a força transformadora do questionamento e da investigação (uma força que não pode, que não deve ser travada).
Por isso, Matthew Lipman, um educador norte-americano com formação filosófica, criou um Programa de Filosofia com crianças, que alcançou um enorme sucesso em mais de trinta países, e que as leva, precisamente, a questionar o que lêem, com entusiasmo, e a pensar também a partir das suas próprias experiências quotidianas.
Conheci este método em Lisboa, onde assisti a aulas de filosofia com crianças, a partir dos cinco anos. E fiquei maravilhada perante as questões que elas levantavam, manifestando já uma surpreendente capacidade (que falta a muitos adultos...) de questionação e de problematização de tudo o que as rodeava!
Além disso, é preciso que a criança aprenda a questionar "o que está ouvindo e o que está vendo na TV", como disse o amigo Gonçalo Sousa, no seu mural, até porque a televisão, rendida ao poder das audiências e à lógica do lucro, tem esquecido a sua função cultural e educativa.
É este o caminho. Se a maioria dos portugueses tivesse tido acesso ao desenvolvimento do gosto pela leitura, e à autonomia do pensar, dos cinco ou seis anos, até ao termo da escolaridade obrigatória, jamais cairia na teia das ideias imutáveis e das mentiras manipuladoras, saberia avaliar o "desempenho" e o carácter dos políticos, saberia encontrar soluções para o estado a que chegámos... E, o dia 4 de Outubro, seria uma espécie de vela na escuridão em que nos encontramos. Não iríamos querer "mais do mesmo". A mudança seria possível, finalmente!»
Um excelente e elucidativo texto escrito em 9/6/2013 por António de Macedo, porém, actualíssimo.
Em Portugal é assim… Os anos vão passando… os portugueses cultos vão reclamando… os governantes fazendo orelhas moucas… e tudo continua teimosa e nesciamente na mesma: um atraso de vida!
Um texto para ler com atenção e partilhar e enviar aos irresponsáveis «acordistas».
Por António de Macedo
«Os apoiantes do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) acusam frequentemente os opositores de serem «Velhos do Restelo», avessos à «evolução» da língua, saudosistas de se escrever «pharmácia» com ph, e outros doestos do mesmo teor. Equívocos grossos por parte de quem fala de coisas que não conhece ou conhece mal.
Comecemos pela alusão ao «Velho do Restelo» (Canto IV de “Os Lusíadas”, estâncias 94 a 104). A sua identificação com mentalidade retrógrada, conservadorismo, pessimismo e afins resulta do desconhecimento do que realmente se lá encontra, ou então de uma leitura pela rama. Dou a palavra a quem sabia muito mais disto do que eu, o pensador António Telmo, que nos seus livros (p. ex. “Congeminações de um Neopitagórico”) nos explica que «o Velho do Restelo não significa aquilo que vulgarmente se diz significar, e tanto se tem repetido que quase se tornou proverbial», acrescentando mais adiante: «uma espécie de superego do homem, de censor ou de censurador de quanto nele aspira à inovação pelo heroísmo, à criação pelo imprevisível…»
Sendo um velho «venerando», quer dizer, que «deve ser venerado», e «com um saber de experiência feito», na verdade alerta-nos para os perigos a fim de podermos superá-los e vencê-los, não para fugirmos a eles, numa alusão à antiga máxima alquímica de que as provas que defrontamos não são obstáculos, mas desafios — curiosa máxima que até os políticos mais rasteiros já papagueiam quando tentam justificar os apertos orçamentais (e outros…) apregoando que as dificuldades são «oportunidades»…
Por outro lado, e passando ao tópico seguinte, se quisermos ser minuciosos concluiremos que os verdadeiros «saudosistas» do «português antigo» (?) não são os que suspiram pelo regresso à tal «pharmácia» com ph, situação que ocorreu apenas entre o séc. XVII e 1911, em que a grafia da língua portuguesa se caracterizou por um pedantismo renascentista e depois iluminista, de influência francesa, adoptando uma escrita que procurava reproduzir as transliterações latinas de palavras gregas, sobretudo em certos termos eruditos ou mitológicos, como «philosophia», «theologia», «chimera», «symmetria», etc..
O alfabeto do latim clássico não dispunha de letras que equivalessem aos sons de algumas letras gregas, que, com muito boa vontade, se poderiam representar por um “p” aspirado (ph), por um “t” aspirado (th), por um “c” (duro) aspirado (ch) e por um “y” com pronúncia aproximada do “u” francês.
Mas esta foi uma fase intercalar: nos primeiros séculos da língua portuguesa (séc. XII e até mais ou menos sécs. XVI-XVII) a grafia era uma tentativa de compromisso entre a fonética e a etimologia, cheia de erros e de irregularidades quando vista à luz da ciência linguística moderna, mas que ia acompanhando o evoluir da língua falada, em relativo paralelismo com o que sucedia com o castelhano.
Consultando as edições antigas das cantigas trovadorescas medievais, passando pelos autos de Gil Vicente e até à 1.ª edição de “Os Lusíadas”, ou seja, desde aproximadamente 1200 até 1572, praticamente não encontramos termos com ph, th, etc. Na 1.ª edição de “Os Lusíadas” é normal depararmos com grafias como «ninfas», «profeta», «cristalino», «fantasia», «Olimpo», etc., palavras que na posterior fase cultista passaram a escrever-se «nymphas», «propheta», «crystallino», «phantasia», «Olympo», etc. É certo que na epopeia de Camões também aparecem coisas como «triumphante» ou «hemispherio», mas não podemos esquecer que nos finais do século XVI já se esboçava a transição da norma tradicional portuguesa para a norma do cultismo de ascendência renascentista.
A fase cultista acentuou-se sobretudo a partir da revolução de 1640 e correlativo desvincular de Portugal da coroa espanhola. A moda da «orthographia etymológica» deveu-se, como disse, ao fascínio dos eruditos portugueses pelo Renascimento clássico e pelo Iluminismo, mas sobretudo por reacção xenofóbica anticastelhanista, para nos demarcarmos da grafia do antigo dominador, sendo essa uma outra maneira de afirmar a nossa independência e a nossa distância em relação a Espanha.
Com efeito, e apesar da tentativa da Real Academia Española, em 1741, para se utilizar o grupo “ph” em certas palavras de origem grega, essa ideia não foi por diante e os espanhóis mantiveram a simplificação tradicional: onde os portugueses, no séc. XVIII, escreviam «philosophia», os espanhóis continuaram a grafar «filosofía».
Em Portugal a grafia «cultista» manteve-se até à reforma ortográfica de 1911, que, com o pretexto da simplificação para obviar o gritante analfabetismo português, no fundo acabou por regressar, em termos modernos, à nossa real matriz de escrita. Os ajustes de 1931 e 1945 mais não fizeram do que «aperfeiçoar» (enfim, sem ironia e dentro do possível…) o espírito lusitanizante de 1911 — nunca devendo esquecer-nos que uma ortografia «idealmente perfeita» não existe, o máximo que se pode conseguir é um compromisso inteligente entre etimologia e fonética, coisa que, em minha humilde opinião, alcançou um relativo limite, «menos mau», com a convenção de 1945. Ir mais longe em termos de simplificação pró-foneticista é perigoso, veja-se o resultado catastrófico do abortivo AO90, que na salgalhada em que está a enredar-se acaba por ser tudo menos inteligente.
Finalmente a guerrilha da «evolução». Que a língua portuguesa evoluiu, no sentido biológico do termo, desde as suas origens até hoje, não surpreende, porque uma língua é um organismo vivo e vai passando por sucessivas mudanças naturais ao longo do tempo. É normal que a representação gráfica das progressivas alterações fonéticas não se processe com a mesma rapidez destas: a grafia, com o correr dos tempos, tende a ser uma espécie de “signe de reconnaissance”, e com o avançar da cultura, a sua permanência gráfica pode tornar-se um factor importante de identificação visual.
Por sua vez uma «mutação» é uma mudança brusca dos constituintes genéticos de um organismo, podendo dar origem a indivíduos bastante diferentes dos da espécie onde ocorre a mutação. Pedindo desculpa aos especialistas pela maneira simploriamente profana como falo deste complexo assunto, digamos que as mutações podem ser naturais ou induzidas, e ainda benéficas ou desfavoráveis. No caso das mutações desfavoráveis, os organismos resultantes, não sendo viáveis, geralmente acabam por se extinguir, por selecção natural.
O que se passa com o AO90 é que se trata de um «organismo» que não surgiu naturalmente, foi induzido artificialmente de uma maneira violenta e brutal, tendo gerado um «ser» abortivo — ou seja, trata-se de uma MUTAÇÃO desfavorável, não de uma EVOLUÇÃO natural, basta observar os erros, as incongruências, os descalabros e as desorientações provocados no Ensino e em diversas áreas culturais, e auscultar as queixas de professores e alunos sobre o calamitoso estrago causado pela imposição do AO90.
Ora, quando um organismo não é viável, como por exemplo um doente terminal em estado vegetativo, a ciência médica pode fazê-lo sobreviver por «tecnologia clínica», ligando-o a uma máquina que lhe prolonga a agonia artificialmente.
No caso da mutação desvantajosa do AO90, verificamos que o seu deplorável estado vegetativo somente se mantém porque foi ligado à máquina por «tecnologia política», e a sua falsa vida, prolongando-se, está a proporcionar uma agonia intolerável aos que lhe sofrem os efeitos.
Senhores políticos, acabem com o sofrimento do doente e dos próximos que já não aguentam suportar-lhe o fardo. É um destes casos extremos em que a eutanásia se justifica.
Por favor, desliguem a máquina!»
Ex-cineasta, escritor, professor universitário
Fonte:
https://www.publico.pt/2013/06/11/jornal/por-favor-desliguem-a-maquina-26644963
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