Domingo, 23 de Abril de 2023

Discurso de Lula em Belém: Brasil quer a “Língua Portuguesa” na ONU. Aplaudo, porque os Portugueses NÃO querem a Variante Brasileira do Português designada como “Português do Brasil”, na ONU

 

E nós sabemos das pretensões brasileiras a este respeito, até porque eles consideram-se o Povo da CPLP que tem mais falantes da Língua Portuguesa. O que NÃO é verdade. Essa supremacia vai para Angola, porque Angola continua a falar e a escrever Português. Não o deturpou, não o mutilou, não lhe mudou a Gramática, e nem se vergou ao AO90, ao contrário do Brasil. Portanto, é verdade que o  Brasil tem mais falantes do que Angola. Certo. Mas NÃO tem mais falantes de Português do que Angola, porque no Brasil NÃO se fala Português. Ponto final.

 

Vejamos: o Brasil é país irmão de Portugal e vice-versa?

 

Evidentemente,tweet, reproduzido na imagem, não foi escrito por Lula da Silva. Será com toda a certeza uma montagem, ou algo que a tal “inteligência artificial” anda a engendrar por aí para enganar o mundo, porém, a verdade é que no conteúdo do tweet está uma VERDADE que os nossos órgãos de informação estão proibidos de divulgar. E se a grande maioria, dos que por aqui andam, se recusa a estar informada, penso que uma minoria estará interessada em saber o que está a passar-se nos bastidores do jogo político Brasil vs. Portugal.


Terão medo de ser acusados de xenofobia ou racismo, por defenderem a Língua Portuguesa? Então é porque desconhecem o significado dessas duas palavras feias.

 

Os fracos ganham força, porque os fortes NÃO existem.

 

Lula - 1.PNG

[Nota: evidentemente, o “tweet” acima inserido programaticamente não contém qualquer conteúdo da autoria do próprio presidente brasileiro. O “avatar” e o texto na imagem representam um “tweet”, de 19 de Abril 2023, do utilizador Twitter https://twitter.com/Lvisaug]

Origem da imagem e nota:  Apartado 53

 

Mas ainda que isto não tenha nada a ver com Lula da Silva, ainda que alguém tenha escrito isto por ele, a verdade é que nestas palavras está toda a VERDADE desta ligação Brasil-Portugal.

A mim, não me parece que Brasil e Portugal, nos tempos que correm, sejam países irmãos, por muitos motivos e mais este: o Brasil USURPOU a Língua Portuguesa que herdou dos Portugueses, logo que se libertou do jugo da colonização, com a vinda do Imperador Dom Pedro para Portugal, (podia ter adoptado o Tupi-Guarani, essa sim, uma das verdadeiras Línguas Brasileiras!). Mas não, decidiram adoptar a Portuguesa, que foi deslusitanizada e mutilada, tendo sido nela introduzidas substanciais diferenças fonológicas, semânticas, ortográficas, lexicais, morfológicas e sintácticas, e depois, o Brasil teve a distinta lata de continuar a chamar “portuguesa” à Língua que deturpou, numa flagrante ingerência na Soberania do País ao qual chama “irmão”.  E com irmãos destes quem precisa de inimigos?

 

Lula - 3 (2).PNG

  Origem da imagem: Apartado 53

(Aproveitem e leiam o texto todo, para que não morram sem saber do que se passa, porque a nossa média, está proibida de informar, sobre estas matérias, urdidas nas caves sombrias, por onde se movimentam os políticos portugueses e brasileiros, pensando que em Portugal NÃO existe quem saiba de tudo).

 

A história vem de longe: numa tentativa de baixarem o índice altíssimo de analfabetismo, os Brasileiros, no Formulário Ortográfico de 1943, Base IV, inventaram SUPRIMIR as consoantes que NÃO pronunciavam: “afeto”, “teto”, “arquiteto”, direção” etc., etc., etc..

 

Contudo as consoantes que pronunciavam, mantiveram-nas: recePção, aspeCto, excePto, perspeCtiva, e umas poucas mais.


E o que saiu desse Formulário foi a Variante Brasileira do Português, à qual, por questões meramente POLÍTICAS, envoltas em secretas tramóias, continuaram a chamar Português do Brasil, uma designação que NÃO corresponde à verdade: a Língua é outra, e as regras gramaticais também são outras.

 

Vejamos o que nos diz uma professora que tem uma página no Facebook, denominada “Brasil Escola”, para ensinar “português” a Brasileiros, e com a qual tive oportunidade de esgrimir:  

Lula - 2.png

 

Origem da imagem:  Facebook
 

A solução, para diminuir a taxa de analfabetismo, NÃO estava na supressão das consoantes não-pronunciadas.

A solução estava em PRONUNCIAR as consoantes mudas, como o fazem TODOS os outros povos de Línguas Românicas.

Tal pormenor faria toda a diferença, e, neste momento, não andávamos aqui a LUTAR pela defesa da LÍNGUA DE PORTUGAL, que NÃO é a mesma da do Brasil, porque a do Brasil é uma Variante da Língua de Portugal.

 

Isto para dizer que quando LULA referiu que o Brasil quer a Língua Portuguesa na ONU, significou muito obviamente que Lula da Silva quer, na ONU, a Variante Brasileira do Português, aquela que o Brasil impingiu a Portugal, disfarçado do fraudulento AO90, engendrado por Antônio Houaiss, que em Português se diz e escreve António. Convém ao Brasil que o vocábulo “portuguesa” esteja no meio disto, porque as Línguas representadas na ONU são as ORIGINAIS, não são as variantes das línguas originais.

 

E um estrangeiro que aprendeu a Língua Portuguesa, de origem greco-latina, sabe que Brásiu é Brasileiro, e Brâsil é Português.  Sabe que em Português se escreve afeCto, e em Brasileiro escreve-se “afeto”, que, pelas regras gramaticais portuguesas se lê “âfêtu”.

A ONU até pode ter como secretário-geral um cidadão português que se prestou a vender a sua Língua Materna ao Brasil, mas a ONU não é o secretário-geral, e se os restantes membros desse organismo ainda não sabem, é preciso fazê-los saber que lhes vão apresentar gato por lebre.

E é como diz a Isabel Coutinho Monteiro:

 

Lula - 3 (1).PNG

Origem da imagem: Facebook

 

Pois é!  Se algum dia o Português tiver de ser uma Língua Oficial da ONU, NÃO será o Português que anda por aí “incorretamente” (TF:  incurrêtâmente) escrito e falado pelos políticos portugueses e seus acólitos, mas aquela que foi levada aos quatro cantos do mundo, pelos nossos navegadores.  


Ah! E se Marcelo Rebelo de Sousa não tiver coragem para defender a SOBERANIA de Portugal, jamais lhe erguerão uma estátua, ainda que horrorosa, como a do secretário-geral da ONU, em Vizela.


Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:34

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Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2022

A ilegalidade do AO90: «Ainda que usado pelo Estado e outros órgãos privados, o AO90 não está - do ponto de vista jurídico - em vigor em Portugal»

 

Língua Portuguesa.jpg

Texto publicado por Para Português Ler

Aqui:

https://www.facebook.com/ParaPortuguesLer/photos/a.661589607209479/4824267814274950/

 

Língua Portuguesa (1).PNG

 

15 de Fevereiro de 1911 – O Governo português cria a Comissão para o Estudo da Reforma Ortográfica de 1911.  

 
Até ao início do século XX, tanto em Portugal como no Brasil, seguia-se uma ortografia que, por regra, se baseava nos étimos latino ou grego para escrever cada palavra — phosphoro (fósforo), lyrio (lírio), orthographia (ortografia), phleugma (fleuma), exhausto (exausto), estylo (estilo), prompto (pronto), diphthongo (ditongo), psalmo (salmo), etc..


Ao longo dos tempos, diversos estudiosos da língua apresentaram sucessivas propostas de simplificação da escrita, sem grande êxito.


Imediatamente depois da Implantação da República em Portugal, o novo governo, empenhado no alargamento da escolaridade e no combate ao analfabetismo, nomeou uma comissão — constituída por Gonçalves Viana, Carolina Michaëlis, Cândido de Figueiredo, Adolfo Coelho, Leite de Vasconcelos, Gonçalves Guimarães, Ribeiro de Vasconcelos, Júlio Gonçalves Moreira, José Joaquim Nunes, Borges Grainha e Augusto Epifânio da Silva Dias — para estabelecer uma ortografia simplificada a usar nas publicações oficiais e no ensino. As bases da Reforma Ortográfica, muito inspiradas nas propostas de 1885, foram oficializadas por portaria de 1 de Setembro de 1911, permitindo-se um período de transição de três anos.


Apesar de já existir há longo tempo no Brasil uma forte corrente foneticista, que se batia pela simplificação ortográfica, o não envolvimento brasileiro na reforma portuguesa teve o efeito contrário, ficando os dois países com ortografias completamente diferentes: Portugal com uma ortografia reformada, o Brasil com a velha ortografia de base etimológica.



Em 1924 a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começaram a procurar uma ortografia comum, firmando-se um acordo preliminar em 1931 que praticamente adoptava a ortografia portuguesa de 1911, iniciando-se um longo processo de convergência das ortografias dos dois países que dura até hoje.


O Acordo Ortográfico de 1945 é uma convenção ortográfica assinada em Lisboa em 6 de Outubro de 1945 entre a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras. Este acordo estabelece as bases da ortografia portuguesa para todos os territórios portugueses (que à data do acordo e até 1975 eram Portugal e as colónias portuguesas - na Ásia e África) e o Brasil, que seguia o Formulário Ortográfico de 1943.


Na tentativa de pôr cobro às profundas diferenças ortográficas entre Portugal e o Brasil, como resultado da adopção em Portugal da Reforma Ortográfica de 1911, tiveram lugar diversos encontros entre as Academias dos dois países, dos quais resultou um acordo preliminar assinado em 1931. No entanto, como os vocabulários que se publicaram, em 1940 (pela Academia das Ciências de Lisboa) e em 1943 (pela Academia Brasileira de Letras), continham ainda algumas divergências, houve necessidade de novas reuniões, em Lisboa, que deram origem ao Acordo Ortográfico de 1945.


O Acordo Ortográfico de 1990 — que propõe uma significativa redução das diferenças de grafia entre o português europeu e o português brasileiro —, tem como objectivo substituir inteiramente o Acordo Ortográfico de 1945. Do ponto de vista legal, em Portugal o Acordo Ortográfico de 1990, apesar de a portaria de 13 de Maio de 2009, onde se estabelece um período de transição de seis anos, durante o qual ambas as ortografias seriam válidas, não entrou em vigor. De acordo com a Constituição da República Portuguesa - artigo 112.º n.1 - só são actos legislativos Leis, Decretos-Lei e Decretos Legislativos Regionais. Ora ainda não foi produzida nenhuma Lei ou Decreto-Lei que vise implementar o AO90. Assim sendo, as Portarias e Resoluções dos Ministérios não têm força jurídica para revogar a ortografia vigente em Portugal que é a que consta do Acordo Ortográfico de 1945, uma vez que este produz efeitos com base num Decreto-Lei. Ainda que usado pelo Estado e outros órgãos privados, o AO90 não está - do ponto de vista jurídico - em vigor em Portugal.

 

AO90 Ilegal (1).PNG

Ao90 ilegal.PNG

DESENRAIZAMENTO DO AO90.PNG

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:01

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Domingo, 28 de Novembro de 2021

«Língua Brasileira e Outras Histórias - Discurso sobre a língua e ensino no Brasil», livro da linguista brasileira Eni P. Orlandi que põe os pontos em todos os "is"

 

O futuro (já presente) da Língua "Portuguesa" no Brasil.

  

Encontrei esta preciosidade na Internet.

Todos sabemos que o AO90 preconiza a grafia brasileira, assente na Base IV do Formulário Ortográfico de 1943, que vigora no Brasil desde então até aos dias de hoje.

 

Tenho andado por aqui a dizer aquilo que sei: mais dia, menos dia, a Língua Portuguesa deixará de existir, se o AO90 vingar, e transformar-se-á em Língua Brasileira, defendida pela linguista brasileira Eni P. Orlandi, no livro cuja capa ilustra este texto.  

 

E querem saber? Concordo plenamente com a Eni P. Orlandi, porque o que se fala e escreve no Brasil distanciou-se de tal modo do Português, que já não pode ser chamado de Português.

 

Uma entrevista conduzida por Manuel Alves Filho, muito interessante, oportuna e muito, muito esclarecedora, e que vem ao encontro de tudo o que tenho andado a escrever por aqui…

 

Isabel A. Ferreira

 

Livro-Eni.jpg

 

Entrevista realizada a Eni P. Orlandi, por Manuel Alves Filho (manuel@reitoria.unicamp.br) ao JORNAL DA UNICAMP, em Agosto de 2009, e escrita conforme a grafia brasileira, exactamente a que o AO90 impõe.  Destaquei a negrito as palavras que as nossas crianças são obrigadas a escrever como “portuguesas”, sendo, afinal, pertenças do Brasil. E isto não se faz! Repare-se igualmente na estrutura das frases. E destaquei igualmente os argumentos racionais apresentados pela linguista.

 

 «Reflexões sobre a história da "Língua Brasileira"»

 

«A língua falada e escrita atualmente no Brasil distanciou-se de tal modo do português, em consequência das mudanças que sofreu através dos tempos, que hoje já é possível falar em uma língua brasileira, que tem forma e características próprias. A hipótese é defendida no livro Língua Brasileira e Outras Histórias – Discurso sobre a língua e ensino no Brasil, de autoria de Eni Orlandi, professora do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. A obra, que resulta das pesquisas realizadas pela docente ao longo dos últimos 20 anos, trata, entre outros aspectos, de como esta língua brasileira e o conhecimento sobre ela foram constituídos historicamente.

 

De acordo com a linguista, o português europeu começou a sofrer mudanças desde que os primeiros colonizadores aportaram por aqui.

 

A partir de então, passou a incorporar elementos das línguas indígenas, africanas, de imigrantes e de fronteira, e a se transformar também em sua materialidade, no embate com a materialidade do novo mundo e de sua história, processo que culminou com a composição de uma língua rica e com suas singularidades.

 

“O que eu trabalho, no campo teórico, é que temos diferenças suficientes tanto na materialidade da língua quanto no âmbito discursivo que já nos permitem falar em uma língua brasileira. Nós produzimos discursos diferentes, com sentidos igualmente distintos. Nossos processos de significação também são diferentes. Ou seja, nossa língua está muito distante daquela que era ou ainda é falada em Portugal. E veja: não se trata de patriotismo. É apenas uma questão de reconhecer as mudanças. Penso que é chegado o momento de produzirmos teorias próprias, atuais, que levem em conta e permitam compreender o processo de colonização e as consequências em relação às línguas, e não mais usar as teorias de países colonizadores que, na maior parte das vezes, estacionam em um sentido de “mudança” próprio para falar da mudança do latim para o português, o francês etc., mas têm pouco a dizer sobre a mudança do português para o brasileiro”, afirma. Na entrevista que segue, Eni Orlandi fornece mais detalhes sobre as reflexões presentes no livro.

 

 Foto: Antoninho Perri

ENI.png

A professora e linguista Eni Orlandi, autora de Língua Brasileira e Outras Histórias – Discurso sobre a língua e ensino no Brasil: “Penso que é chegado o momento de produzirmos teorias próprias

 

Jornal da Unicamp – Como surgiu a ideia do livro?

 

Eni Orlandi – O livro é resultado dos projetos de pesquisas que tenho desenvolvido ao longo dos anos. A produção da obra propriamente dita, porém, remonta aos cinco últimos anos. Ela coincide com o período em que cresceu a discussão em torno da relação da nossa língua com as outras línguas, por conta do fenômeno da mundialização. No texto, eu trato de várias questões, mas creio que o ponto principal é a discussão em torno de como a língua se constitui e como a história do conhecimento sobre essa língua também se constitui. No meu entendimento, esses dois processos ocorrem conjuntamente.

 

JU – O título do seu livro registra “língua brasileira”. Nós já não falamos mais a língua portuguesa?

 

Eni Orlandi – A língua falada actualmente no Brasil é muito diferente da falada em Portugal. O que eu trabalho, no campo teórico, é que temos diferenças suficientes tanto na materialidade da língua quanto no âmbito discursivo que já nos permitem falar em uma língua brasileira. Nós produzimos discursos diferentes, com sentidos igualmente distintos. Nossos processos de significação também são diferentes. Ou seja, nossa língua está muito distante daquela que era ou ainda é falada em Portugal. E veja: não se trata de patriotismo. É apenas uma questão de reconhecer as mudanças. De situar-se diante do quadro de relações internacionais de estados e línguas, ou seja, de saber avaliar as questões postas pelo multilinguismo. Penso que é chegado o momento de produzirmos teorias próprias, e não mais usar as teorias de países colonizadores sem refletir sobre o lugar dessas teorias na história das ciências e na história social.

 

JU – As diferenças são tão profundas assim?

 

Eni Orlandi – São, sim. Mas essas diferenças não têm merecido a devida atenção. Alguns autores até falam dessas distinções, mas as classificam como “variedades”. Penso que não estamos mais no momento de falar em variedades, pois isso não mostra que falamos uma língua própria. Temos que falar em mudanças. Por que admitimos mudanças entre o latim e o português que se constituiu na Europa, mas não fazemos isso em relação ao português e a língua falada no Brasil?

 

JU – A recente reforma ortográfica teria sido uma forma de resistência a essa discussão sobre língua brasileira?

 

Eni Orlandi – De certa forma. Penso que precisamos rediscutir o que é lusofonia. Temos que pensar a lusofonia como um campo heterogéneo de línguas. É preciso tratar das diferenças entre a língua brasileira e o português, assim como das diferenças do português para o latim. Ambas são filiadas ao latim, mas são distintas deste. Mas veja: não se trata de negar a filiação da nossa língua, mas sim de destacar as singularidades dela. Ou seja, lusofonia é um campo heterogêneo de línguas que resultaram do processo de colonização, mas que se “independentizaram” ao longo do tempo. A língua brasileira é filiada ao português, que por sua vez é filiado ao latim. Ocorre, porém, que nossa língua também traz elementos das línguas indígenas, africanas, de imigração e de fronteira. Temos uma língua que se individualizou à sua maneira no processo de sua historicização.

 

JU – Pela sua hipótese, o português começou a sofrer transformações desde que os primeiros colonizadores aportaram em terras brasileiras. É isso?

 

Eni Orlandi – Quando os portugueses aportaram por aqui, eles depararam não apenas com seres diferentes, mas também com uma variedade de línguas faladas pelos índios e com um mundo muito diferente do seu. Esses portugueses precisaram nomear coisas que não conheciam, que não estavam na memória linguística deles. Precisamos lembrar que, naquele momento, nomear era também administrar. Ou seja, o que não era nomeado poderia fugir ao controle. Assim, os primeiros colonizadores perceberam que não poderiam manter a língua portuguesa como ela era, pois precisavam se fazer entender. Havia, enfim, um mundo novo a ser descoberto, a ser conquistado, a ser nomeado. Aí já ocorrem as primeiras transformações da língua. A materialidade do mundo começa a interferir na materialidade da língua e vice-versa.

 

JU – Ou seja, a língua tem uma dimensão política e ideológica importante.

 

Eni Orlandi – Exatamente. É nesse embate político, ideológico e social que a língua vai sendo constituída. Para poder administrar, os portugueses foram obrigados a alterar a própria língua e a dominar a língua dos indígenas. Entretanto, no início da colonização as autoridades portuguesas começaram a perder o controle sobre os próprios patrícios, que passaram a dominar as línguas indígenas localmente e a formar pequenos feudos, nos quais davam as cartas. Para superar essa dificuldade, a corte portuguesa enviou os jesuítas ao Brasil, com a missão de colocar “ordem” e dar visibilidade deste país para a coroa. O que os religiosos fizeram? Eles pegaram uma das línguas indígenas, o tupi, e a adaptaram, mesclando com um pouco do português e do latim. Foi criado, assim, o tupi-jesuítico, língua geral que foi falada no Brasil todo. No entanto esse processo se voltou contra a própria corte, pois os jesuítas passaram a ter um enorme controle sobre a população brasileira e sua língua. Daí sua expulsão dos religiosos e a proibição de se escrever nessa língua. Mas nenhuma língua desaparece sem deixar traço. Como se vê, as mudanças vêm de muito tempo.

 

JU – Essas transformações não foram apontadas anteriormente? Por que só agora está surgindo uma discussão mais ampla sobre a existência de uma língua brasileira?

 

Eni Orlandi – Com a independência do Brasil, eclodiu um movimento, promovido por gramáticos, de organização de um conhecimento sobre a nossa língua que já mostrava essas modificações. Mas o mais importante naquele momento não era tanto destacar descritivamente essas diferenças, e sim reivindicar o reconhecimento à nossa escrita, à nossa literatura, ao conhecimento produzido por brasileiros, nossos gramáticos, sobre a língua no Brasil, à nossa língua nacional, sinal de nossa soberania. Assim, foram produzidas gramáticas e dicionários com o objetivo principal de legitimar uma língua nacional, que obviamente pudesse nos representar no plano internacional. Ocorre que essa língua chamava-se língua portuguesa. Assim, as obras receberam títulos como “Gramática Portuguesa”, “Gramática da Língua Portuguesa” e “Gramática Brasileira da Língua Portuguesa”. Mas no final do século 19 e principalmente no início do século 20 é que gramáticos como João Ribeiro e Said Ali registraram com maior destaque essas transformações da língua. Said Ali, por exemplo, escreveu um livro chamado “As dificuldades da língua portuguesa”. Essas dificuldades nada mais eram do que as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal. É a partir da análise do discurso desses especialistas que eu mostro como temos diferenças, que já vêm sendo registradas por gramáticos, sobretudo desde o século 19, que nos permitem falar em língua brasileira, embora isso quase nunca seja dito.

 

JU – Se a questão quase não tem sido discutida no plano intelectual ou acadêmico, imagino que em sala de aula ela sequer é considerada. É isso mesmo?

 

Eni Orlandi – Um dos objectivos do livro é atingir o ensino. Os linguistas são muito fechados nesse sentido. Eles resistem em chamar a nossa língua de língua brasileira. Ainda em razão da ideologia da colonização, há professor que considera como “língua correta” o português de Portugal. Acham que, no Brasil, a língua é mal falada. Nada disso. Nós temos nosso padrão. Como disse anteriormente, o nosso falar sofreu influências das línguas indígenas, africanas, de imigração e de fronteira. Isso não é defeito, muito pelo contrário. Não só por essas influências, mas porque é próprio de uma língua que ela mude, que nossa língua, como qualquer outra, também mudou. É assim que as línguas se constituem. As línguas estabelecem relações entre si. É isso que confere riqueza e singularidade a cada uma. Ademais, a língua conta a sua própria história. Não podemos ficar parados na época da colonização. Penso que o livro contribui para essas discussões. Nesse sentido, ele é provocativo: propõe, de certo modo, que nos livremos dessa camisa-de-força que já está posta na maneira como nomeamos nossa língua.»

 

Link desta entrevista:

http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2009/ju437pdf/Pag03.pdf

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:03

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Quarta-feira, 14 de Outubro de 2020

Quando a “unificação” ortográfica, promovida pelo AO90, significa “cada um escrever para o seu lado”…

 

Na imagem vemos um exemplo. Mas há alguns poucos mais, no que respeita ao “acordo” ortográfico, simplesmente porque os Brasileiros pronunciam algumas consoantes, que os Portugueses não pronunciam, por exemplo: percePção, recePção, excePto, aspeCto, perspeCtiva, infeCtar (e as suas derivações) e mais umas poucas, que escaparam à mutilação levada a cabo pela Reforma de 1943, no Brasil. Porque era preciso baixar o elevadíssimo índice de analfabetismo e deslusitanizar o Português (cujo maior incentivador foi Antônio Houaiss, o homem dos dicionários e das enciclopédias). O que só por si, não dá direito a nenhum político de deformar um IDIOMA.

 

De resto, nessa mesma reforma, todas as outras palavras com consoantes   que não se pronunciavam, tais como em afeCto, direCto, faCtura, teCto, arquiteCto, baPtizado, entre centenas de outras, foram mutiladas apenas porque sim.

 

E esta filosofia de “o que não se lê, não se escreve”, herdada do Formulário Ortográfico de 1943, é que está na base do AO90.

 

INFEÇÃO.jpg

Fonte da foto:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3487626911283683&set=gm.671650906824288&type=3&theater&ifg=1

 

Se fosse apenas isto!

Mas já se abordou isto milhões de vezes, ao longo destes 30 anos de duração da tal “unificação” que nunca aconteceu.

 

Nunca aconteceu, e jamais acontecerá. Mas eles insistem. Por teimosia? Não. Por ignorância? Também não. Simplesmente porque a intenção do AO90 nunca foi unificar as ortografias, até porque isso seria completamente impossível (e os que o engendraram sabiam disso) dadas as particularidades da Variante Brasileira da Língua Portuguesa em todas as suas vertentes. A intenção era, e continua a ser, acabar com a Língua Portuguesa.

 

Na Internet ela já desapareceu, como é facilmente comprovado. Mas não só.

Eis um exemplo que me deixou completamente passada.

 

CONTATO.png

 

Este é o telemóvel de um menino, que o tem exclusivamente para contaCtar os Pais e os Avós em caso de necessidade, e apenas em caso de necessidade.

 

Sim, é um menino português, que anda na escola básica a aprender os números e a ler e a escrever e a contar, e mais algumas matérias.

O menino sabe falar. E quando fala diz que tem o contaCto dos Pais e dos Avós, para casos de emergência. Anda a aprender a sua Língua Materna, já bastante mutilada. Mas sabe que se lê  e escreve contaCto, com . De repente depara com contato, lê contátu e não sabe o que isto é.

E isto é uma pouca-vergonha. O que pretendem com isto?

A rede do telemóvel é a NOS.

Dizem-me que a NOS é uma operadora portuguesa de televisão a cabo e satélite e fornece serviços de televisão, acesso à Internet, telefones fixo e móvel.

Bem, se é uma operadora portuguesa, não deveria escrever contaCto, até porque em Portugal lemos o ?

 

Aquele “criar contato” o que será? Uma afronta? Uma subserviência? Uma ignorância? Ou faz parte do plano para acabar com a Língua Portuguesa, e, para tal, contam com cúmplices por toda a parte, incluindo a cumplicidade do Chefe de Estado Português, uma vez que, por aí,  “contato” e “fato” são faCtos consumados.

 

E Marcelo Rebelo de Sousa, que deveria ser o garante da nossa IDENTIDADE, cala-se perante esta escalada de subserviência à Variante Brasileira da Língua Portuguesa.

 

Nada contra o Brasil, mas tudo por Portugal.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:12

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Segunda-feira, 28 de Setembro de 2020

A propósito da saga da “ILC-AO”: «Que língua aldrabada é esta [a gerada pelo AO90]?! Os responsáveis políticos e a ‘elite’ são ignorantes e não têm vergonha?!»

 

Exactamente: são ignorantes e não têm vergonha.



O título desta publicação é um excerto do comentário que Maria José Abranches (professora de Português reformada) deixou no Blogue Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, a propósito do texto de Rui Valente, «Um Setembro Sombrio» que pode ser consultado neste link:

https://ilcao.com/2020/09/23/um-setembro-sombrio/

 

que nos dá conta dos atropelos à Lei perpetrados pela Assembleia da República, e que pode ser passível de processo judicial. Por que não? Se um cidadão comum não cumpre a Lei, é penalizado. Se o órgão maior da dita “democracia portuguesa” (?) não cumpre a Lei, quando devia dar o exemplo, faz o que bem entende, desrespeita os Portugueses, fazem-nos a todos de parvos, e não acontece nada?

 

É exactamente como diz Maria José Abranches: «Será que ninguém se apercebe dos erros linguísticos, escritos e orais, cada vez mais abundantes, que vêm infestando a nossa comunicação social? Que língua aldrabada é esta?! Os responsáveis políticos e a ‘elite’ são ignorantes e não têm vergonha?!»

 

Não, poucos são os que se apercebem. E sim, os responsáveis políticos e a “elite” são ignorantes e não têm vergonha, porque para se ter vergonha é preciso ter-se HONRA.    

 

Gandhi - tiranos derrubados.png

Quanto a mim, o que me vale, é ter esta reflexão de Gandhi sempre no meu pensamento.

 

Mas para os tiranos serem derrubados há que derrubá-los. Eles não se derrubam a si mesmos. Daí que deixe aqui um apelo (referido no comentário mais abaixo).



O texto de Rui Valente, pode ser consultado no link, referido mais acima.

 

Destacarei aqui os três comentários de três pessoas que, nas suas diferentes funções, lutam para que a grafia de 1945, a que está em vigor, porque não foi revogada, mas não é aplicada, por ignorância, regresse às escolas e as nossas crianças possam aprender a escrever correCtamente a Língua Materna, que é a Portuguesa, não é a Brasileira.


A propósito, e antes de expor os comentários, deixo aqui este à parte: num artigo, recentemente publicado no Jornal Público, sob o título «Paira um espectro sobre os amigos do acordo ortográfico — o espectro da fonética» e que pode ser consultado neste link:

https://www.publico.pt/2020/09/24/culturaipsilon/opiniao/paira-espectro-amigos-acordo-ortografico-espectro-fonetica-1932580?fbclid=IwAR17F-fMmNv4lMqA3ujYN6gWXt2sl1CBPd2BGWy9h3ZLpzPEtewfeZ32z-E

 

Nuno Pacheco, o autor do texto, diz o seguinte:

 

«O acordo ortográfico, mexendo na escrita, mexeu também na fonética. Isto já foi dito mil vezes, mas nunca é demais repetir. Escrever “fator” e pretender que se leia “fàtôr” (factor) é ilusório. Daqui a uns anos, diremos “âtor”, “dir’ção”, “obj’tivo” e disparates do género. Sim, estamos a mudar a nossa fala por causa de uma escrita aberrante que, sendo diferente da brasileira (e nunca é excessivo insistir nisto), não respeita o nosso sistema vocálico e as suas idiossincrasias.»


Não, Nuno Pacheco, a escrita imposta pelo AO90, é 99% brasileira. Refiro-me aos infinitos vocábulos mutilados, assentes na Base 4 do Formulário Ortográfico (brasileiro) de 1943, que o Brasil “adotou” (lê-se “âdutou”) depois de ter rejeitado a grafia da Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945, que inicialmente assinou. E em que consistiu essa mutilação? Em suprimir TODAS as consoantes ditas mudas, dando preferência à fonética, e não à etimologia. E dessa mutilação, fazem parte um infinito número de vocábulos: ator, direção, fator, objetivosetor, diretor, fatura, adotar, direto, atual, atividade, coleção, seleção etc., etc., etc., à excePção de uns poucos vocábulos (mais os seus derivados), nos quais os Brasileiros pronunciam as consoantes mudas, e nós não: como excePção, recePção, perspeCtiva, ifeCção, infeCtado, excePto, e uns poucos (poucos) mais  que escaparam à mutilação e que os acordistas portugueses, muito parvamente, escrevem exceção, receção, exceto, perspetiva, infeção, infetado, exceto,  gerando uns autênticos abortos ortográficos, muito, muito, muito aberrantes.


Esta escrita é aberrante, sim, em Portugal, porque a NOSSA escrita pertence a uma Língua românica, de raiz greco-latina, Indo-europeia, baseada na etimologia (como todas as restantes escritas europeias), e não na fonética.


No Brasil, as palavras que eles mutilaram, não são aberrantes para eles, porque para eles, que abrem todas as vogais, o som ficou igual. E o que o Brasil faz com a Língua que eles transformaram em outra língua, americanizando-a, castelhanizando-a, italianizando-a, afrancesando-a é problema deles e não nosso, se bem que não deviam chamar-lhe “portuguesa”, porque já se afastaram baste dela.



Em Portugal escrever ator, direção, fator, objetivosetor, diretor, fatura, adotar, direto, atual, atividade, coleção, seleção, etc., é escrever à brasileira, e aqui sim, nunca é excessivo insistir nisto, porque até uma criança, que frequenta a escola primária, e aprende outras línguas, sabe que aquele “direto”, que aparece frequentemente na tela da televisão, está escrito à brasileira, porque em Português, em Francês, em Inglês, em Castelhano, todas línguas europeias, que uns e outros aprendem, “direto” escreve-se com um cê: direCto. Sem é unicamente à brasileira. Não é à angolana, nem à moçambicana...

 

Posto isto, vamos aos comentários que podem ser lidos no original. (Os negritos são da responsabilidade da autora do Blogue)

 

3 comentários

 

    • Maria José Abranches on 24 Setembro, 2020 at 17:05

 

Nunca sequer tinha imaginado que, uma vez instaurada a democracia em Portugal, graças ao 25 de Abril, uma sustentada e criminosa vandalização da mesma democracia fosse possível, levada a cabo pela AR, a instituição mais responsável pelo respeito e defesa da mesma democracia! Eu, portuguesa e democrata, quero que fique aqui registada a minha revolta e a minha indignação!


Que, para muita da dita ‘elite’ nacional, por uma aberração incompreensível, a língua materna dos portugueses seja algo de desprezível, está patente ao longo da nossa História: basta atentar na obsessão permanente em fazer ‘acordos’ ortográficos com o Brasil, em detrimento da preocupação com a qualidade do ensino da língua no nosso sistema educativo, assim como junto das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. E mais: o que temos feito para dar a conhecer e divulgar a nossa língua na União Europeia? O que tem sido feito em termos de investimento no estudo e conhecimento do português europeu, em termos científicos e na produção de estudos linguísticos, gramáticas, dicionários, métodos para aprendizagem da língua, formação de tradutores e intérpretes, tradução automática, etc.? Será que ninguém se apercebe dos erros linguísticos, escritos e orais, cada vez mais abundantes, que vêm infestando a nossa comunicação social? Que língua aldrabada é esta?! Os responsáveis políticos e a ‘elite’ são ignorantes e não têm vergonha?!


Como há, na Europa, quem saiba o que significa a sua língua, dou a palavra a Jean d’Ormesson, da Academia Francesa, defendendo a língua francesa: «Como defenderíamos o francês fora das nossas fronteiras se não o defendemos em casa (“chez nous”)? É aqui que está o problema fundamental. A tarefa mais urgente é salvar a nossa língua do naufrágio. Desculpar-me-ão a ingenuidade da afirmação: ser francês hoje, é saber falar, escrever e compreender o francês.» (in “Saveur du temps”, 2009, Éditions Héloïse d’Ormesson, que traduzi).

 

 

 

Rui Valente, desculpe a minha ignorância, porque nestas matérias sou muito ignorante: mediante o que aqui ficou relatado, não haverá matéria para processar o Estado Português ou o Governo Português, por este atropelo à Democracia, às leis, às regras, e pelo atropelo à Língua Portuguesa? Porque isto ultrapassa todos os limites de tudo.


Eles estão nitidamente a gozar connosco. Estão a fazer-nos de parvos. Estão a desrespeitar-nos. E vamos deixar que façam isso impunemente?


Concordo com tudo o que diz a Maria José Abranches, no seu comentário, e faço minhas as palavras dela.


E é bem verdade que a tarefa mais urgente é salvar a nossa língua do naufrágio iminente, porque ela “navega” numa canoa furada, já meio submersa. Temos de fazer alguma coisa em grande, massivamente, coesamente, no nosso País, antes que se afunde de vez.

 

 

    • Isalinda Schattner on 26 Setembro, 2020 at 15:33

 

Faço minhas as palavras de Maria José Abrantes e associo-me a Isabel A. Ferreira na sua questão quanto a um possível processo contra o Estado Português. Permito-me ainda classificar a forma como este acordo foi imposto aos portugueses, como absolutamente ditatorial, pois apesar da perfeita consciência da sua não aceitação e da criação de grupos que lutam pela sua abolição, recorrendo a formas legais para o efeito, os governos e respectivas AR “chutam a bola” mutuamente de maneira a enganar vergonhosamente os cidadãos, dando-lhes a entender que estão a tratar do assunto mas que, infelizmente, não é possível um retrocesso.


Gostaria de referir que, em 1983 fui eleita presidente de uma “Associação Euro-escolas para uma formação bilingue” – grupo de 11 pais que se juntaram em Berlim para assegurar esse tipo de ensino aos filhos. Para esse fim contactámos igualmente a Vice-cônsul do Brasil – à altura Monika Salski e foram realizados igualmente contactos com Angolanos aí residentes em número muito reduzido. A escola foi inaugurada e mantém-se em actividade até aos dias de hoje com sucesso.

 

Regressada a Portugal em 1996, deixei de saber exactamente qual o português aí ensinado. Pergunto-me hoje, face à luta que tenho travado contra o entretanto imposto AO90, se tal esforço valeu a pena. O nosso propósito na altura com o contacto com o consulado do Brasil, era assegurar o quórum necessário ao ensino do português. Depois da imposição deste maldito AO90, suspeito ter contribuído involuntariamente, para ensino de qualquer coisa difusa, com o nome de português, numa escola da capital alemã. E uma enorme raiva apodera-se de mim.

 

***

Uma enorme raiva apodera-se, sim, de todos nós, Portugueses, que temos consciência de que a NOSSA Língua foi vendida ao desbarato e está a transformar-se numa linguinha que nem os semianalfabetos (os que aprenderam os rudimentos da escrita), do tempo da monarquia e da ditadura, escreviam e falavam.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:37

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Terça-feira, 23 de Junho de 2020

«Abraços do Brasil sem excePtuar ninguém…» vs. «Abraços de Portugal (também) sem “excetuar” ninguém…»

 

Resposta a um comentário que recebi de um brasileiro, que me deu oportunidade de esclarecer o que parece não estar ainda esclarecido: nem lá, nem cá.

 

Brasil Portugal.jpg

Origem da imagem (abram o link e leiam o texto)

https://nacionalidadeportuguesa.com.br/2019/11/08/diferencas-de-morar-em-portugal-e-no-brasil/

 

Comentário no post Eliminação das consoantes mudas é fruto de uma descomunal ignorância da Língua Portuguesa

 

Como brasileiro, sou contra ao AO90 por tantos males que ele tem dado à língua portuguesa. Concordo plenamente que as consoantes mudas devem persistir na língua por direito, coesão e etimologia, porém há um ponto que penso eu, admito, leigo, porém apaixonado em linguagens, sobretudo a lusófona, que seja demasiadamente ab-rupto culpar friamente o Brasil por tanta coisa e implicar a forma como nós outros, brasileiros, usamos a lingua portuguesa gráfica mente, conseqüência isso das incansáveis reformulações ortográficas desde o começo do século XX, as quais foram propostas principalmente por quem? Portugal.... Tantas mesquices, besteiras que foram alteradas inúmeras e inúmeras vezes que só feriram as raizes lusitanas e americanas e ainda não chegaram a lugar nenhum =D. O Brasil já é mais do que cansado de sofrer penas de um velho colonizador, não mais por terras, mas por linguas. Sei bem que as mudanças foram tamanhas nas grafia portuguesa aí para o lado dos lusiadas, mas não vás pensando que para cá as coisas foram fáceis assim. Mudanças aqui que há mais de décadas já haviam se extinguido de Portugal, mas que conservava-se aqui por haver sentido para nós outros, brasileiros. Quedas de acentos, caos nós hifens... Isto afecta sim o Brasil até hoje, inclusive. Adoro os meus amigos portugueses, com eles a lingua é mais que uma união, mas se o rancor for grande demais, sinceramente, grande parte dos Brasileiros também assumem a sua língua, inclusive, quando escutamos um galego falando, é mais famíliar do que um português, mas não quero ofender a ninguém! Abraços do Brasil sem excePtuar ninguém... 😉😉😉

Pedro Braga

 

***

Caro Pedro Braga, começo por agradecer este seu comentário.

 

E agora vamos lá por partes, mas antes devo frisar o seguinte: li algures que quanto mais ignorantes são os povos, de mais acordos ortográficos precisam. E isto não sou eu que digo. E se reparar, apenas o Brasil e Portugal, de todos os países do mundo (e arredores) são os povos que mais fizeram (des)acordos ortográficos. E a palavra certa é desacordos, porque o Brasil nunca cumpriu os acordos que assinou com Portugal, no que à Língua diz respeito.

 

A Língua Portuguesa, como qualquer outra Língua do mundo, não é fácil. Mas nenhuma Língua tem de ser fácil ou tem de ser simplificada para que possa ser aprendida e aplicada com rigor e exactidão pelos seus utilizadores. Isso já é amesquinhar o povo.

 

Posto isto, vamos ao seu comentário:

 

1 -  Ninguém culpa, muito menos, friamente, o Brasil de coisa nenhuma.  O Brasil desde 7 de Setembro de 1822 desvinculou-se do colonizador, e consequentemente poderia ter se desvinculado também da Língua que eles já falavam “agalegadamente”, e não o fez. Depois da independência, nenhum português tinha (tem) mais o direito de dizer o que quer que seja do modo como os Brasileiros usam a Língua que herdaram e simplificaram por  pretenderem diminuir o elevado índice de analfabetismo que então (como aliás ainda hoje) grassa no Brasil.  Até 1911, o Brasil (livre), Portugal e as restantes ainda colónias portuguesas tinham a Língua Portuguesa como Língua comum. Difícil, cheia de consoantes duplas (p. ex.: ella), ou fonemas gregos (p. ex.: PHarmacia): ou ainda caracteres gregos (p. ex.: lyrio) com correspondência no alfabeto LATINO, que era o nosso.

 

Em 1910, com a Implantação da República em Portugal, e para combater o analfabetismo, que também grassava no nosso país, um grupo de estudiosos da Língua (não políticos ou linguistas vendidos à política) estabeleceram uma ortografia mais simplificada, ficando o Brasil com a ortografia antiga, e Portugal com uma ortografia, em que as principais alterações introduzidas foram:

 

- Eliminação de todos os dígrafos de origem grega com substituição por grafemas simples: th (substituído por t), ph (substituído por f), ch (com valor de [k], substituído por c ou qu de acordo com o contexto) e rh (substituído por r ou rr de acordo com o contexto);

- Eliminação de y (substituído por i);

- Redução das consoantes dobradas (ou geminadas) a singelas, com excePção de rr e ss mediais de origem latina, que têm valores específicos em Português;

- Eliminação de algumas consoantes não-pronunciadas em final de sílaba gráfica, QUANDO NÃO AFECTAVAM A PRONUNCIA DA VOGAL QUE AS PRECEDIA (p. ex.: afecto (que sem o cê, se lê “âfêtu”)

- Introdução de numerosa acentuação gráfica, nomeadamente nas palavras proparoxítonas.

 

O Brasil opôs-se inicialmente, mas como o analfabetismo era elevadíssimo no Brasil, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras uniram-se para  encontrar as bases de uma ortografia comum e firmaram o  primeiro Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro, em 30 de Abril de 1931 que praticamente adoPtou a ortografia portuguesa de 1911.



Porém, com todas estas simplificações, o índice de analfabetismo não baixava, no Brasil. Foi então que em 1943 a Academia Brasileira de Letras estabeleceu o Formulário Ortográfico de 1943, com as alterações que são a base do Acordo Ortográfico de 1990, à excePção de alguns acentos e hífenes. De resto a GRAFIA imposta pelo AO90, em Portugal é assente na GRAFIA deste FORMULÁRIO ORTOGRÁFICO BRASILEIRO de 1943.

 

Em 1945, grassava no Brasil e Portugal ainda um elevado índice de analfabetismo, e foi preciso fazer uma outra reforma (repare o Pedro Braga, que na base destes “acordos” ortográficos está o analfabetismo que não havia meio [e ainda  não há] de diminuir.

 

Desta vez, foi assinada em Lisboa em 6 de Outubro de 1945, a Formulário Ortográfico de 1943, pela Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras. Este acordo, ligeiramente alterado pelo decreto-lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro, estabeleceu as bases da ortografia portuguesa para todos os territórios portugueses (que à data do acordo e até 1975 compreendiam o território europeu de Portugal e as províncias ultramarinas portuguesas - na Ásia e África). No Brasil, o Acordo Ortográfico de 1945 foi aprovado pelo decreto-lei 8.286 de 5 de Dezembro de 1945. Entretanto, o texto nunca foi ratificado pelo Congresso Nacional, continuando os brasileiros a regular-se pela ortografia do Formulário Ortográfico de 1943, que é “ipsis verbis” a ortografia do Acordo Ortográfico de 1990, à excePção da retirada do bendito trema, e de alguns acentos como pára/para, e hífenes, como em fim-de-semana para Portugal (no Brasil já era fim de semana), que de um nome masculino que significa período composto pelos dias de sábado e domingo, e que se opõe aos dias úteis, passou a FIM (nome masculino = termo), DE (preposição que une ao nome o seu complemento) SEMANA (que pode ser uma série de sete dias consecutivos a partir do domingo, ou série de sete dias consecutivos. E lá se vai o sentido do período composto pelos dias de sábado e domingo.



Toda esta alucinação de unificar o que jamais poderá ser unificado, até porque ou o Brasil começava a escrever António, ou Portugal começava a escrever Antônio, e isto só para apresentar um pequeníssimo exemplo, porque teria de estar aqui até ao fim do mês, para lhe mostrar as inúmeras diferenças entre a VARIANTE que o Brasil gerou a partir da Língua Portuguesa (e fez muito bem, e que lhe chamem Língua Brasileira, que a será mais dia, menos dia), e a Língua Mãe, a Portuguesa, mas estava eu a dizer, toda esta alucinação começou com Antônio Houaiss, um libanês/brasdileiro que mal sabia Português, o que lhe interessava era o negócio, consulte, por favor, este texto «O Negócio do Acordo Ortográfico de 1990» neste link:


https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-negocio-do-acordo-ortografico-172469

e veja como tudo isto começou. Portugal estava muito bem, com a sua ortografia de 1945. Não pediu nenhum acordo. Porém, políticos esquerdistas brasileiros e políticos portugueses, uns esquerdistas, outros, não, mal informados, mal formados, gananciosos, ignorantes e corruptos uniram-se para destruir o Património Cultural Imaterial de Portugal mais precioso -  a sua Língua, e, com isso, destruir também sua identidade Linguística e Cultural.


 2 – Posto isto, caro Pedro Braga, as mudanças no Brasil, foram mínimas. Em Portugal foram devastadoras, porque não só mexeu com a grafia, como também com a pronúncia, e hoje, os que que se renderam à grafia demasiado simplista, de uma lógica extremamente simples, básica, não só escrevem incorreCtamente, como pronunciam também incorreCtamente as palavras grafadas à brasileira, porque no Brasil abrem as vogais, à moda galega. Os Brasileiros continuaram a pronunciar à galega, quando os Portugueses já tinham a sua própria pronúncia.

 

Portanto, o que se escreve e fala no Brasil, já não é Português, mas sim uma VARIANTE do Português, ou seja, um dialeCto.

 

Meu caro, eu também adoro os meus amigos e a minha família brasileira, que já vai na quarta geração. Com eles partilho, não a Língua, mas a VARIANTE da Língua Portuguesa, porque não falo nem escrevo como eles. Não é a Língua que nos une, mas sim os afeCtos, que eu, como portuguesa, escrevo com CÊ, e eles, como brasileiros, escrevem sem CÊ.



O Pedro Braga usou a palavra RANCOR, uma palavra muito feia, e que eu abomino, porque rancor sentem os desalmados. Não, quem é de bem e do bem. Nenhum português sente rancor pelo Brasil ou pelos Brasileiros. O que talvez sintam, e falo por mim, que aprendi a ler e a escrever no Brasil, segundo a cartilha do AO90, e metade da minha vida foi vivida no Brasil, da minha Cultura também faz parte a riquíssima Cultura Brasileira, o que sinto é uma imensa tristeza por termos uma Língua da família linguística Indo-Europeia reduzida a uma Variante, que será Língua no Brasil, mas não em Portugal. Nós somos europeus. Vocês são sul-americanos e um País livre. Por que haveríamos, nós, um País livre também (agora nem tanto) de trocar a nossa grafia, pela grafia de uma ex-colónia? Porque haveríamos de andar para trás como o caranguejo? Há quem diga que o intuito dos esquerdistas brasileiros é colonizar o ex-colonizador através da Língua, e que o intuito dos esquerdistas portugueses que estão agora no Poder, é rastejar aos pés do Gigante, para se tornarem visíveis no mundo.  E se assim é, estão a conseguir, mas pela negativa.

 

A Língua Portuguesa está, cada vez mais, a perder prestígio no mundo, e acabará por se extinguir. Isso se nós, os que defendemos a nossa Língua (como os Brasileiros defendem a deles) deixarmos.

 

Para terminar, envio igualmente um abraço português, sem também “excetuar” (isto nem é português, nem brasileiro) ninguém, mas escrito na mixórdia em que se transformou a Língua Portuguesa, em Portugal, com a aplicação do AO90, projecto, nascido da cabeça do intelectual esquerdista brasileiro Antônio Houaiss, [que] foi desde o início um empreendimento com fins lucrativos, apoiado por uma poderosa máquina política e comercial com ramificações em Portugal.

 

E esta é a verdade verdadeira sobre um “acordo” que nunca foi e jamais será um acordo.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:32

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Quinta-feira, 2 de Maio de 2019

«O português brasileiro precisa de ser reconhecido como uma nova língua»

 

Quem o afirma é o professor universitário, jornalista e escritor brasileiro Nelson Valente, num artigo publicado no Diário do Poder, sob o título «Acordo Ortográfico: Fracasso linguístico», e que aqui transcrevo.

 

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O texto está escrito segundo a grafia brasileira, preconizada pelo Formulário Ortográfico de 1943, um conjunto de instruções estabelecido pela Academia Brasileira de Letras, para a organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa do mesmo ano. O texto do Formulário Ortográfico de 1943 é composto por duas partes: uma Introdução com 12 artigos que aclara os princípios de fixação para a grafia do português brasileiro; e as Bases do Formulário (17). Ora, a Base IV (a que mais interessa a Portugal) diz o seguinte: consoantes mudas - extinção completa de quaisquer consoantes que não se proferissem, ressalvadas as palavras que tivessem variantes com letras pronunciadas ou não.

 

Qualquer semelhança com a grafia, que o governo português impôs nas escolas portuguesas, a alunos portugueses, não é mera coincidência, é intencional.

 

(Os excertos a negrito e a azul, no texto do Professor Nelson Valente, são da responsabilidade da autora do Blogue, para que fique bem claro que essas palavras não fazem parte da Língua Portuguesa, e são exclusivas do "português" brasileiro, que o professor considera que deve ser reconhecido como uma nova língua, algo com que estou completamente de acordo, pelos motivos mais óbvios.

 

«ACORDO ORTOGRÁFICO: FRACASSO LINGUÍSTICO»

 

 Por Nelson Valente

 

«O Acordo termina com cem anos de guerra linguística entre Brasil e Portugal?

 

O português é a língua oficial em nove países da Europa, América, África e Ásia. A dispersão favorece as diferenças linguísticas. Éramos a única língua com duas ortografias diferentes oficiais.

 

De acordo com o Ministério da Educação, entre 2008 e 2012 foram gastos mais de 2,2 bilhões de reais para atualização de obras didáticas.

 

Quando o acordo foi assinado em 1990, os jornais portugueses se comprometeram a não aplicá-lo. Hoje só o jornal Público mantém a promessa. Que acordo é esse? O português brasileiro precisa ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política.

 

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados do Brasil aprovou um requerimento para “realização de Audiência Pública a fim de discutir a revogação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.” O requerimento, aprovado no dia 25 de Abril, foi apresentado pelo deputado Jaziel Pereira de Sousa e ali subscrito pela deputada Paula Belmonte. Não dá para impor uma língua de uma hora para outra a um povo. O padrão da língua no Brasil deve ser a língua falada pela maioria da população brasileira contemporânea, que é o português brasileiro. Acordo Ortográfico: “aberrações”, “arbitrariedades”, “caos” e “fracasso linguístico”.

 

Um manifesto dos “Cidadãos em Portugal contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990”, que é hoje revelado, afirma que este novo modelo de escrita abriu “uma caixa de Pandora”, criou “um monstro” e “não uniu, não unificou, não simplificou” o uso da língua.

 

O Acordo é um ato lesivo a nosso patrimônio cultural e o Estado não deve regulamentar a ortografia de um povo. A língua é uma força biológica: não se pode modificá-la com uma decisão política. Pode-se, quando muito, influenciar o uso. É uma função dos jornalistas, escritores e da mídia. Um bom uso mostra-se pela flexibilidade com que as palavras são aceitas. A língua é feita pelos povos, e não pelos Governos; mas está claro que, a ortografia, é mais de academias.

 

Qual era a necessidade de unificar? Entendemo-nos perfeitamente, não há problema algum. Deveriam respeitar o português daqui e o do Brasil. O Acordo só dificulta o ensino com seu contexto arbitrário e suas muitas opções facultativas. Não sou contra; sou a favor da revisão do Acordo. Se fizer uma mudança radical da ortografia, estará condenando um material histórico à obsolescência em uma geração.

 

Enquanto mudanças na ortografia derrubam acentos e confundem o sentido das palavras, antigas regras viram bloco de carnaval no Brasil. Enquanto as regras e contradições são discutidas e a nova norma não é obrigatória, as regras gramaticais viram alvo de brincadeira. Enquanto mudanças na ortografia derrubam acentos e confundem o sentido das palavras, antigas regras viram bloco de carnaval no Brasil. A situação atual é de um verdadeiro caos ortográfico.

 

“Saudade” não é exclusividade da língua portuguesa. A palavra “saudade” não é particularidade da língua portuguesa, ao contrário do mito que existe desde o século XVI. Na forma ou no sentido, há correspondentes em outros idiomas.

 

Porque derivada do latim, variantes da palavra existem em outras línguas românicas. O espanhol tem soledad. (*) O catalão soledat. O sentido, no entanto, não é o do português, está mais próximo da “nostalgia de casa”, a vontade de voltar ao lar.

 

A originalidade portuguesa foi a ampliação do termo a situações que não a solidão sentida pela falta do lar: “saudade” é a dor de uma ausência que temos prazer em sentir. Mas mesmo no campo semântico há correspondências. Por exemplo, no romeno, mas em outra palavra: dor (diz-se “durere”). É um sentimento que existe também em árabe, na expressão alistiyáqu ‘ilal watani. O árabe pode, até, ter colaborado para a forma e o sentido do nossa “saudade”, tanto quanto o latim.

 

O que ocorre com o dito Novo Acordo Ortográfico é que na verdade Portugal “colonizador” quer colonizar a língua portuguesa. (**) Veja o exemplo: A antiga Iugoslávia se fragmentou em seis pequenos países e a língua que, então era considerada uma só, o servo-croata, agora se chama bósnio, croata, sérvio, montenegrino… Mas, para esses nomes aparecerem, ocorreu uma guerra horrorosa, com muitas mortes, uma coisa terrível.

 

Nos Bálcãs, os sérvios e os croatas entendem-se. No passado, os que se revoltavam mais ferozmente contra o colonizador haviam estudado na metrópole. Pode-se massacrar uma população conhecendo-se perfeitamente sua língua e sua cultura.

 

A miscigenação no Brasil foi muito mais intensa e, evidentemente, a miscigenação linguística também. O português foi língua minoritária no Brasil durante todo o período colonial. Falava-se como língua geral o tupi e nossa população, até a época da Independência, era 75% mestiça.

 

Com os professores brasileiros nas condições em que estão – mal pagos, mal formados, essa mudança pode gerar alguma dificuldade de adaptação.

 

Este acordo é sobretudo político, fazendo com que os aspectos linguísticos, que deveriam estar à frente das preocupações dos redatores do acordo, quer em Portugal quer no Brasil, tivessem sido ou insuficientemente amadurecidos, ou demasiadamente sujeitos à lógica do acordo, o que implicou cedências, uma uniformização, mas não uma unificação. Não há uma norma absolutamente comum, não poderia haver.

 

Tudo o que tenho lido e ouvido sobre o Acordo Ortográfico revela quase sempre posições extremas, a favor ou, mais frequentemente, contra. É claro que todos têm o direito de se sentirem lesados com estas mudanças, afinal aprenderam a ler e a escrever as palavras da sua língua de uma determinada maneira, e essa maneira de escrever, que se tornou automática, é agora alterada. (***)

 

A ortografia, ou forma correta de escrever, é um esforço para encontrar uma norma, o menos ambígua possível, de registar graficamente os sons da fala; como tal, implica convencionalidade e até um certo grau de arbitrariedade.

 

Não é preciso que se escreva exatamente igual para que haja entendimento mútuo e não é porque se estabeleceu uma regra comum que se falará perfeitamente igual em todos os países. Do ponto de vista político, essa é uma má política linguística. É importante respeitar as diferenças no modo como as pessoas falam.

 

Um aluno do interior perguntou-me se deveríamos condenar a linguagem popular, “pois esse pessoal fala de forma inadequada”. Fo necessário esclarecer a diferença entre linguagem popular e regionalismos. Primeiro, as expressões, apesar de inovadoras, podem vir a figurar em dicionários e vocabulários de transmissão da norma culta ou padrão, sem nenhuma dificuldade. Os regionalismos são sempre aceitos.

 

Em segundo lugar, temos a questão controvertida da chamada popular. O filólogo Antonio Houaiss (in memorian) chegou a popularizar o verbete “mengo”, diminutivo do clube mais popular do Brasil. Mas, ele jamais aceitaria adotar a palavra “probrema” ou “areoporto” – e dar-lhes o status de uma expressão legítima do português contemporâneo.

 

Vê-se, pois, que há uma abissal diferença entre linguagem popular e regionalismos.

 

A prosódia, que é a forma de dizer a palavra, tem total liberdade, não se devendo exigir que um gaúcho fale com a mesma pronúncia do que um paranaense.

 

O que, em virtude do Acordo de Unificação da Língua Portuguesa, que é eminentemente ortográfico, passemos a impor a Portugal ou Angola, por exemplo, o nosso gostoso e incomparável sotaque. (****)

 

Cada povo que cuide das suas peculiaridades prosódicas. Mas escrever de uma forma é medida de inteligência e simplificação, que já vem tarde.

 

Nelson Valente

Fonte:

https://diariodopoder.com.br/acordo-ortografico-fracasso-linguistico/?fbclid=IwAR3P4nxwRyLW0koQU5RDazEsNryRtS2kijBZPJhLg7qRksG0llyGNBTbkgo

 

***

Notas:

(*) Se o Professor Nelson Valente me permite, as palavras “soledad” e “soledat” significam mais “solidão” do que saudade. No Diccionario Cúspide de la Lengua Española lê-se: Soledad 1. Carencia de compañía. 2. Lugar desierto o tierra no habitada. 3. Pesar que se siente por la ausencia, muerte o pérdida de alguna persona o cosa (no sentido de consternação); 4. Tonada andaluza de carácter melancólico; 5. Copla que se canta y danza que se baila con esta música, o que não corresponderá exactamente à nossa saudade, aquele sentimento indizível. Podemos sentir saudade sem solidão. Estarmos melancólicos ou pesarosos sem sentir saudade.

 

(**) O que se passou foi que Antônio Houaiss chamou Portugal para uma aventura ortográfica, em que a sílaba tónica era introduzir a grafia brasileira em Portugal, com a ilusão de unificar o que jamais seria possível unificar, entre outras razões, Houaiss não fez mais do que puxar a brasa para a sardinha do Brasil. E Portugal não fez mais do que deixar a brasa pender para o lado brasileiro. Não chamarei a isto uma pretensão de Portugal “colonizador” colonizar a Língua Portuguesa. Direi antes que é uma patetice de Portugal deixar-se colonizar pela língua brasileira. Não será?

 

(***) Aqui peço desculpa, mas as coisas não podem ser vistas deste modo. Todos, particularmente os Portugueses, os mais prejudicados com este acordo, temos o direito de nos sentirmos lesados pelas substanciais mudanças na grafia portuguesa (os Brasileiros ativeram-se apenas aos acentos e à hifenização. Mais nada) não porque aprendemos a ler e a escrever as palavras da nossa Língua de uma determinada maneira, que se tornou automática, e é agora alterada, mas fundamentalmente porque a Língua Portuguesa foi abrasileirada (refiro-me à supressão das consoantes mudas) o que afastou o Português da sua matriz greco-latina, da sua família Indo-Europeia; desaportuguesou-se a Língua Portuguesa, e tornaram-na abrasileirada. Por que se fosse apenas a questão do aprender, não seria uma questão, porque os seres humanos ou são dotados da capacidade de aprendizagem ou não são. Se são, conseguem aprender e desaprender com a maior facilidade. Se não conseguem, não saem da cepa torta.

 

Eu aprendi a ler e a escrever no Brasil, com a grafia de 1943, e nas minhas vindas para Portugal e idas para o Brasil, na infância, adolescência e juventude, ora escrevia à brasileira, ora escrevia à portuguesa, e isso nunca foi impedimento para seguir os meus estudos com notas razoáveis. Domino a Língua Brasileira tão bem quanto domino a Língua Portuguesa, porque quer queiramos quer não, existem substanciais diferenças entre uma e outra, na fonética, na sintaxe, no léxico, na construção frásica, na ortografia, na morfologia, na semântica.

 

(****) Devo dizer que também considero gostoso o sotaque brasileiro, inconfundível em todo o mundo, tão inconfundível que ninguém diz que estão a falar português, mas sim, a falar brasileiro. Por isso, Professor Nelson Valente, também penso que o "Português" Brasileiro deve ser reconhecido como uma nova língua: a Brasileira, oriunda do Português, tal como o Português é oriundo do Latim. A evolução das Línguas passa por esta metamorfose, não por unificações impossíveis.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:18

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Segunda-feira, 23 de Julho de 2018

«Reflexões sobre a história da "Língua Brasileira"»

 

O futuro (já presente) da Língua "Portuguesa" no Brasil 

Encontrei esta preciosidade na Internet.

Todos sabemos que o AO90 preconiza a grafia brasileira, saída do Formulário Ortográfico de 1943, que vigora, no Brasil, desde então, até aos dias de hoje.

Tenho andado por aqui a dizer aquilo que sei: mais dia, menos dia, a Língua Portuguesa deixará de existir, se o AO90 vingar, e transformar-se-á em Língua Brasileira, defendida neste livro por uma linguista brasileira.

E querem saber? Concordo com a Eni P. Orlandi, porque o que se fala e escreve no Brasil distanciou-se de tal modo do Português, que já não pode ser chamado de Português, muito menos Português do Brasil.

Uma entrevista interessante, oportuna e muito, muito esclarecedora, e que vem ao encontro de tudo o que tenho andado a escrever por aqui…

(Isabel A. Ferreira)

 

Livro-Eni.jpg

 

Entrevista realizada a Eni P. Orlandi, por Manuel Alves Filho (manuel@reitoria.unicamp.br) ao JORNAL DA UNICAMP, em Agosto de 2009, e grafada em grafia brasileira, exactamente a que o AO90 impõe. Sublinhei as palavras que as nossas crianças são obrigadas a escrever como “portuguesas”, sendo afinal, brasileiras. E isto não se faz! Repare-se igualmente na estrutura das frases.

 

«A língua falada e escrita atualmente no Brasil distanciou-se de tal modo do português, em consequência das mudanças que sofreu através dos tempos, que hoje já é possível falar em uma língua brasileira, que tem forma e características próprias. A hipótese é defendida no livro Língua Brasileira e Outras Histórias – Discurso sobre a língua e ensino no Brasil, de autoria de Eni Orlandi, professora do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. A obra, que resulta das pesquisas realizadas pela docente ao longo dos últimos 20 anos, trata, entre outros aspectos, de como esta língua brasileira e o conhecimento sobre ela foram constituídos historicamente.

 

De acordo com a linguista, o português europeu começou a sofrer mudanças desde que os primeiros colonizadores aportaram por aqui.

 

A partir de então, passou a incorporar elementos das línguas indígenas, africanas, de imigrantes e de fronteira, e a se transformar também em sua materialidade, no embate com a materialidade do novo mundo e de sua história, processo que culminou com a composição de uma língua rica e com suas singularidades.

 

“O que eu trabalho, no campo teórico, é que temos diferenças suficientes tanto na materialidade da língua quanto no âmbito discursivo que já nos permitem falar em uma língua brasileira. Nós produzimos discursos diferentes, com sentidos igualmente distintos. Nossos processos de significação também são diferentes. Ou seja, nossa língua está muito distante daquela que era ou ainda é falada em Portugal. E veja: não se trata de patriotismo. É apenas uma questão de reconhecer as mudanças. Penso que é chegado o momento de produzirmos teorias próprias, atuais, que levem em conta e permitam compreender o processo de colonização e as consequências em relação às línguas, e não mais usar as teorias de países colonizadores que, na maior parte das vezes, estacionam em um sentido de “mudança” próprio para falar da mudança do latim para o português, o francês etc., mas têm pouco a dizer sobre a mudança do português para o brasileiro”, afirma. Na entrevista que segue, Eni Orlandi fornece mais detalhes sobre as reflexões presentes no livro.

 

 Foto: Antoninho Perri

ENI.png

A professora e linguista Eni Orlandi, autora de Língua Brasileira e Outras Histórias – Discurso sobre a língua e ensino no Brasil: “Penso que é chegado o momento de produzirmos teorias próprias

 

Jornal da Unicamp – Como surgiu a ideia do livro?

 

Eni Orlandi – O livro é resultado dos projetos de pesquisas que tenho desenvolvido ao longo dos anos. A produção da obra propriamente dita, porém, remonta aos cinco últimos anos. Ela coincide com o período em que cresceu a discussão em torno da relação da nossa língua com as outras línguas, por conta do fenômeno da mundialização. No texto, eu trato de várias questões, mas creio que o ponto principal é a discussão em torno de como a língua se constitui e como a história do conhecimento sobre essa língua também se constitui. No meu entendimento, esses dois processos ocorrem conjuntamente.

 

JU – O título do seu livro registra “língua brasileira”. Nós já não falamos mais a língua portuguesa?

 

Eni Orlandi – A língua falada actualmente no Brasil é muito diferente da falada em Portugal. O que eu trabalho, no campo teórico, é que temos diferenças suficientes tanto na materialidade da língua quanto no âmbito discursivo que já nos permitem falar em uma língua brasileira. Nós produzimos discursos diferentes, com sentidos igualmente distintos. Nossos processos de significação também são diferentes. Ou seja, nossa língua está muito distante daquela que era ou ainda é falada em Portugal. E veja: não se trata de patriotismo. É apenas uma questão de reconhecer as mudanças. De situar-se diante do quadro de relações internacionais de estados e línguas, ou seja, de saber avaliar as questões postas pelo multilinguismo. Penso que é chegado o momento de produzirmos teorias próprias, e não mais usar as teorias de países colonizadores sem refletir sobre o lugar dessas teorias na história das ciências e na história social.

 

JU – As diferenças são tão profundas assim?

 

Eni Orlandi – São, sim. Mas essas diferenças não têm merecido a devida atenção. Alguns autores até falam dessas distinções, mas as classificam como “variedades”. Penso que não estamos mais no momento de falar em variedades, pois isso não mostra que falamos uma língua própria. Temos que falar em mudanças. Por que admitimos mudanças entre o latim e o português que se constituiu na Europa, mas não fazemos isso em relação ao português e a língua falada no Brasil?

 

JU – A recente reforma ortográfica teria sido uma forma de resistência a essa discussão sobre língua brasileira?

 

Eni Orlandi – De certa forma. Penso que precisamos rediscutir o que é lusofonia. Temos que pensar a lusofonia como um campo heterogéneo de línguas. É preciso tratar das diferenças entre a língua brasileira e o português, assim como das diferenças do português para o latim. Ambas são filiadas ao latim, mas são distintas deste. Mas veja: não se trata de negar a filiação da nossa língua, mas sim de destacar as singularidades dela. Ou seja, lusofonia é um campo heterogêneo de línguas que resultaram do processo de colonização, mas que se “independentizaram” ao longo do tempo. A língua brasileira é filiada ao português, que por sua vez é filiado ao latim. Ocorre, porém, que nossa língua também traz elementos das línguas indígenas, africanas, de imigração e de fronteira. Temos uma língua que se individualizou à sua maneira no processo de sua historicização.

 

JU – Pela sua hipótese, o português começou a sofrer transformações desde que os primeiros colonizadores aportaram em terras brasileiras. É isso?

 

Eni Orlandi – Quando os portugueses aportaram por aqui, eles depararam não apenas com seres diferentes, mas também com uma variedade de línguas faladas pelos índios e com um mundo muito diferente do seu. Esses portugueses precisaram nomear coisas que não conheciam, que não estavam na memória linguística deles. Precisamos lembrar que, naquele momento, nomear era também administrar. Ou seja, o que não era nomeado poderia fugir ao controle. Assim, os primeiros colonizadores perceberam que não poderiam manter a língua portuguesa como ela era, pois precisavam se fazer entender. Havia, enfim, um mundo novo a ser descoberto, a ser conquistado, a ser nomeado. Aí já ocorrem as primeiras transformações da língua. A materialidade do mundo começa a interferir na materialidade da língua e vice-versa.

 

JU – Ou seja, a língua tem uma dimensão política e ideológica importante.

 

Eni Orlandi – Exatamente. É nesse embate político, ideológico e social que a língua vai sendo constituída. Para poder administrar, os portugueses foram obrigados a alterar a própria língua e a dominar a língua dos indígenas. Entretanto, no início da colonização as autoridades portuguesas começaram a perder o controle sobre os próprios patrícios, que passaram a dominar as línguas indígenas localmente e a formar pequenos feudos, nos quais davam as cartas. Para superar essa dificuldade, a corte portuguesa enviou os jesuítas ao Brasil, com a missão de colocar “ordem” e dar visibilidade deste país para a coroa. O que os religiosos fizeram? Eles pegaram uma das línguas indígenas, o tupi, e a adaptaram, mesclando com um pouco do português e do latim. Foi criado, assim, o tupi-jesuítico, língua geral que foi falada no Brasil todo. No entanto esse processo se voltou contra a própria corte, pois os jesuítas passaram a ter um enorme controle sobre a população brasileira e sua língua. Daí sua expulsão dos religiosos e a proibição de se escrever nessa língua. Mas nenhuma língua desaparece sem deixar traço. Como se vê, as mudanças vêm de muito tempo.

 

JU – Essas transformações não foram apontadas anteriormente? Por que só agora está surgindo uma discussão mais ampla sobre a existência de uma língua brasileira?

 

Eni Orlandi – Com a independência do Brasil, eclodiu um movimento, promovido por gramáticos, de organização de um conhecimento sobre a nossa língua que já mostrava essas modificações. Mas o mais importante naquele momento não era tanto destacar descritivamente essas diferenças, e sim reivindicar o reconhecimento à nossa escrita, à nossa literatura, ao conhecimento produzido por brasileiros, nossos gramáticos, sobre a língua no Brasil, à nossa língua nacional, sinal de nossa soberania. Assim, foram produzidas gramáticas e dicionários com o objetivo principal de legitimar uma língua nacional, que obviamente pudesse nos representar no plano internacional. Ocorre que essa língua chamava-se língua portuguesa. Assim, as obras receberam títulos como “Gramática Portuguesa”, “Gramática da Língua Portuguesa” e “Gramática Brasileira da Língua Portuguesa”. Mas no final do século 19 e principalmente no início do século 20 é que gramáticos como João Ribeiro e Said Ali registraram com maior destaque essas transformações da língua. Said Ali, por exemplo, escreveu um livro chamado “As dificuldades da língua portuguesa”. Essas dificuldades nada mais eram do que as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal. É a partir da análise do discurso desses especialistas que eu mostro como temos diferenças, que já vêm sendo registradas por gramáticos, sobretudo desde o século 19, que nos permitem falar em língua brasileira, embora isso quase nunca seja dito.

 

JU – Se a questão quase não tem sido discutida no plano intelectual ou acadêmico, imagino que em sala de aula ela sequer é considerada. É isso mesmo?

 

Eni Orlandi – Um dos objectivos do livro é atingir o ensino. Os linguistas são muito fechados nesse sentido. Eles resistem em chamar a nossa língua de língua brasileira. Ainda em razão da ideologia da colonização, há professor que considera como “língua correta” o português de Portugal. Acham que, no Brasil, a língua é mal falada. Nada disso. Nós temos nosso padrão. Como disse anteriormente, o nosso falar sofreu influências das línguas indígenas, africanas, de imigração e de fronteira. Isso não é defeito, muito pelo contrário. Não só por essas influências, mas porque é próprio de uma língua que ela mude, que nossa língua, como qualquer outra, também mudou. É assim que as línguas se constituem. As línguas estabelecem relações entre si. É isso que confere riqueza e singularidade a cada uma. Ademais, a língua conta a sua própria história. Não podemos ficar parados na época da colonização. Penso que o livro contribui para essas discussões. Nesse sentido, ele é provocativo: propõe, de certo modo, que nos livremos dessa camisa-de-força que já está posta na maneira como nomeamos nossa língua.»

 

Link desta entrevista:

http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2009/ju437pdf/Pag03.pdf

 

Ver também da mesma autora:

«A Língua Brasileira»

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:12

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Quarta-feira, 4 de Julho de 2018

A grafia portuguesa que vigora em Portugal vs. a que o governo português nos quer impingir (Parte IX)

 

Para que não reste qualquer dúvida de que o que os acordistas impõem a Portugal e aos restantes países ditos lusófonos é que adoptem a grafia brasileira, aqui ficam as grafias portuguesa e brasileira, lado a lado...

 

Recorde-se que a grafia brasileira mutilada está em vigor no Brasil, desde 1943, quando o Brasil propôs ao Brasileiros o Formulário Ortográfico de 1943, cuja base IV assenta na extinção completa de quaisquer consoantes que não se proferissem…

 

Obviamente que a pronúncia de todas as palavras às quais se suprimiu as consoantes mudas, têm a sua pronúncia alterada: "jôia", "l'cionar", "mânufâturâ", "pârânôiâ", etc..

 

GRAFIA9.png

GRAFIA10.png

GRAFIA11.png

 Ver também:

GRAFIA PORTUGUESA VS. GRAFIA BRASILEIRA

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE I)

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE II)

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE III)

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE IV)

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE V)

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE VI)

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE VII)

 

A GRAFIA PORTUGUESA QUE VIGORA EM PORTUGAL VS. A QUE O GOVERNO PORTUGUÊS NOS QUER IMPINGIR (PARTE VIII)

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:01

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Domingo, 24 de Junho de 2018

QUANDO UMA LINGUISTA CONFUNDE O CONCEITO DE REFORMA ORTOGRÁFICA COM CÓPIA DE GRAFIA ESTRANGEIRADA NÃO FICARÁ TUDO DITO?

 

 

LINGUISTA.jpg

 

Diz-se que Margarita Correia é linguista e especialista em lexicologia, ou seja, estuda as palavras como se as colocasse num microscópio. Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa foi recentemente eleita presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) um organismo da CPLP, e proferiu esta  inacreditável sentença: «As reformas ortográficas não são feitas para os velhos. São feitas para o futuro».

 

A senhora linguista até tem razão. As Reformas Ortográficas são feitas para o futuro. Contudo, a senhora linguista esqueceu-se de especificar que Reformas Ortográficas e para o futuro de quem.

 

Primeiro, o AO90, não é uma reforma ortográfica, mas simplesmente uma cópia (mais acento, menos acento, mais hífen, menos hífen, mais , menos , mais , menos ) da grafia brasileira, saída do Formulário Ortográfico de 1943, efectuado no Brasil, portanto, antes da Convenção Ortográfica Luso-Brasileira 1945, que o Brasil assinou, mas não cumpriu, tendo atirado ao caixote do lixo esse compromisso.

 

Bom, e é a cópia desse Formulário Ortográfico de 1943 (mais acento, menos acento, mais hífen, menos hífen, e meia dúzia de pês e cês que não emudeceram no Brasil) que a senhora linguista considera reforma ortográfica, e, na verdade, ela não foi feita para os velhos, mas também não foi feita para os novos, porque simplesmente não foi feita, nunca existiu como reforma ortográfica.

 

O que se fez foi pegar na actual ortografia brasileira, em vigor desde 1943, modificar-lhe uns acentos e uns hífenes, para disfarçar, e chamar-lhe acordo ortográfico de 1990, engendrado por Malaca Casteleiro (Portugal) e Evanildo Bechara (Brasil), e que apenas os serviçais portugueses aplicam, e que realmente se destina ao futuro, mas ao futuro dos futuros analfabetos.

 

Francamente, senhora linguista! Esperava-se muito mais de quem estuda as palavras como se as colocasse num microscópio… Ao que parece, o microscópio de V. Excelência é cego.

 

Para quando a extinção da CPLP e da IILP, dois organismos completamente dispensáveis, porque absolutamente inúteis?

 

Isabel A. Ferreira

 

Fonte:

https://www.jornaldenegocios.pt/weekend/detalhe/margarita-correia-as-reformas-ortograficas-nao-sao-feitas-para-os-velhos-sao-feitas-para-o-futuro

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:49

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