Este texto chegou-me via e-mail [não assino jornais que não saibam honrar a identidade linguística portuguesa], com o título OVÓMITO.
Depois de ler o que li, compreendi que O VÓMITO é o título perfeito para algo que não lembraria nem ao mais analfabeto dos analfabetos fazer, ou seja, escrever um chorrilho de ignorâncias sobre um dos maiores símbolos identitários dos Povos: as Línguas Maternas.
Por isso, dou-me a liberdade de pensar como a pessoa que me enviou O VÓMITO, ou seja, o que a Isabela Figueiredo escreveu foram palavras vomitadas, possivelmente a soldo de alguém muito influente que, por sua vez, estará a soldo de outro alguém, ainda mais influente, e que quer acabar de vez com a Língua Portuguesa. E esta é a única certeza.
É que de borla ninguém se atreveria a expor-se, assim tanto, ao ridículo!
Vou servir-me das palavras do jornalista brasileiro, Sérgio Vaz, adequando-as a esta inacreditável circunstância, para dizer que a autora do texto «Eu fazer, tu fazer, ele fazer», para quem, a Língua serve apenas para falar uns com os outros, e a escrita que se lixe, avacalhou a Língua Portuguesa e expô-la ao ridículo, desmoralizou-a, bagunçou-a, desordenou-a, sem ter a mínima noção do burlesco da coisa. Isto é de quem nunca estudou Línguas e nada sabe da formação das Línguas. O estudo do Português não é diferente do estudo do Inglês, do Francês, do Castelhano, enfim, de todas as Línguas Cultas do mundo.
A autora do texto tem toda a liberdade de escrever o que escreveu, mas tem de saber que ao dizer o que disse está sujeita a sofrer consequências, nada abonatórias ao Prémio Urbano Tavares Rodrigues que lhe foi atribuído. O mestre Urbano deve estar a dar voltas no seu túmulo!!!!
Já agora, eu também pagava para ver a cara que fariam as pessoas cultas, se este texto fosse traduzido para várias Línguas e corresse mundo. Portugal havia de ficar de rastos!
«As línguas e os sofás existem para se estragar»?
Será que a Isabela quis gozar com a Cultura Culta Linguística?
Isabel A. Ferreira
***
Eis O VÓMITO:
«OPINIÃO
Eu fazer, tu fazer, ele fazer
Isabela Figueiredo
Escritora, vencedora do Prémio Urbano Tavares Rodrigues [????????]
O último acordo ortográfico gerou indignação, mas parece que não se deu o Apocalipse. Continuamos a entender-nos
14 novembro 2024 22:57
Sejamos honestos: a língua portuguesa não é a mais bonita do mundo. Menos para mim. Com ela cresci e me fiz. Quero mergulhar na minha língua e escarafunchar nela. Não lhe dou descanso.
Afinal, após o último acordo ortográfico que tanta indignação gerou, parece que não se deu o Apocalipse. Continuamos a falar e a entender-nos por escrito, sem grandes dúvidas. São todas naturalmente eliminadas pelo contexto, como com qualquer palavra homónima. Para sabermos se o verbo acreditar significa crer ou credenciar precisamos de estabelecer uma relação de sentido com a frase na qual está inserido. “Acredito no Fernando” é diferente de “acredito o Fernando”, tal como “para já” depende do contexto oracional para exprimir “parar” ou se tratar da preposição “para”, como em “vou para lá”. Usar a língua com medo de a estragar é um erro evitável. As pessoas que compram um sofá de pele, mas nunca lhe retiram o plástico protetor, passam a sentar-se num sofá de plástico. As línguas e os sofás existem para se estragar. Estragar não é necessariamente mau. Se a língua é um organismo vivo, precisa de movimento. Fazer exercício, embora nos possa custar, revigora-nos.
Não podemos partir do ingénuo princípio de que a língua já nos chegou inteira vinda do princípio dos tempos. Em 1924 não se falava nem escrevia o português de hoje. Ousemos projetar-nos em 2124, que está quase aí. O verbo “tar”, devidamente consagrado na fala, estará já consolidado na escrita?
Somos todos donos da nossa língua materna. Usamo-la e modificamo-la diariamente. Proteger a língua de maus-tratos é uma tarefa inglória. Não se pode travar a corrente de um rio.
Quanto mais desconhecemos a forma como uma língua funciona, devido a total iliteracia ou a desconhecimento da gramática, mais ela se altera. Atentemos na forma como articulam as pessoas que não sabem ler e escrever. Replicam exercícios fonéticos. Dizem o que ouvem, como ouvem, o que multiplica novas versões lexicais. Recentemente conheci uma senhora alentejana que me disse chamar-se Catana. É um nome muito invulgar. “Nunca conheci ninguém com esse nome”, disse. Surgiu-me a suspeita de que poderia tratar-se de uma corruptela de Caetana. Pergunteilho. Confirmou. “Sim, é isso, mas toda a gente me chama Catana.” Não é impossível que lhe apareça uma neta Catana em sua honra.
Há lugares do Brasil onde a morfologia e sintaxe do português se alteraram de tal forma pelo uso que os verbos perderam a flexão em género e número e quase se conjugam como em inglês. Uma espécie de “to do, did, done”. No Brasil, a miríade de criações vocabulares e semânticas mostra uma floresta amazónica linguística cheia de cor, som, seiva e pequenos brilhos que se extinguem ou acendem.
As línguas e os sofás existem para se estragar. Estragar não é necessariamente mau. Se a língua é um organismo vivo, precisa de movimento. Fazer exercício, embora nos possa custar, revigora-nos []
As línguas não se alteram por mero decreto. Quando chega o decreto, já elas mudaram há meio século. A Lei de Lavoisier aplica-se à língua que nem ginjas. Nela, nada se perde, e mesmo o que se ganha transforma-se.
Colunistas de jornal e puristas da língua que ainda tomam antiácidos para sobreviver ao acordo ortográfico (AO) de 1990 insurgem-se contra pessoas como eu, que desonram o português escrevendo como querem. Com e sem AO. Uma misturada. Lembram os velhotes obcecados em contar sempre a mesma história. É importante para eles, mas já ninguém os ouve. Não será desprezível lembrar que o uso da língua reflete posições e ambições de poder que ninguém quer perder. A este propósito, há uma história que gosto de contar: há quase década e meia, data da entrada em vigor do AO, os meus alunos, que invariavelmente se esqueciam de usar as consoantes mudas em “redacção” e “epiléptico”, insurgiram-se quando elas caíram. Sobretudo os que davam mais erros. Como era possível que tivessem de deixar de usar uma regra que nunca cumpriram? Diverti-me com isto, em silêncio. Escrevia-lhes no quadro “redacção”. Pedia que lessem. Liam redação. Segundo passo: escrevia “redação”. Liam redação. Qual a diferença, perguntava. “Como reagem quando leem banda desenhada brasileira? Esta alteração prejudica a mensagem?” Silêncio.
Avento uma explicação: a aquisição das regras gráficas de uma língua confere um estatuto social e cultural. Quem escreve de acordo com as regras pertence automaticamente a uma elite bem escrevente, com os privilégios sociais que daí advêm. Nunca lho tinham dito, mas inconscientemente sabiam-no. Absorveram-no informalmente.
Claro que os brasileiros se riem dos nossos pruridos linguísticos. Os brasileiros e todos os africanos e timorenses que usam a língua, que é deles, como lhes serve melhor. Agrada-me que a língua portuguesa pareça uma grande manta de croché que vai crescendo com malhas e desenhos diferentes, partindo de uma mesma técnica.
Deem 100 anos à belíssima língua na qual escrevo estas palavras e voltem cá para a ler e ouvir. Não vão gostar, porque nós, por defeito, não gostamos de mudança. Quem sabe se não nos soará como uma página de Gil Vicente, ou Camões, ou Padre António Vieira? Talvez tenhamos de contratar um tradutor recentemente desencarnado lá no outro mundo.
Este é o APELO de um Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes, descontentes com os atropelos à Constituição da República Portuguesa, no que à Língua Materna dos Portugueses – a Língua Portuguesa – diz respeito.
O APELO foi redigido por um Jurista, que presta apoio a este Grupo Cívico.
Dirigimo-nos a Vossa Excelência apelando à Sua intervenção no sentido da defesa da Língua Portuguesa, tal como esta nos surge definida no n.º 3, do artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa.
Permita-nos, Vossa Excelência, o exercício do nosso dever cívico e obrigação de invocarmos a Lei Fundamental, designadamente no que tange aos deveres e obrigações que dela decorrem para todos os agentes do Estado, e, em especial, para o Presidente da República, enquanto primeiro e máximo representante do Estado. Estado a quem cabe, nos termos da alínea f) do artigo 9.º também da Constituição da República Portuguesa “[a]ssegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da Língua Portuguesa”.
Bem sabemos, Excelência, que, nos últimos anos, em concreto desde que o Estado impôs aos portugueses a aplicação de uma grafia que consideramos inconstitucional, tais deveres não têm sido cumpridos.
Esta não é uma questão de somenos importância. É um imperativo de cidadania. É um dever que nos é imposto pela Constituição da República Portuguesa. Trata-se, na verdade, da defesa do nosso Património Linguístico – a Língua Portuguesa – da nossa Cultura e da nossa História, os quais estão a ser vilmente desprezados.
Apelamos a Vossa Excelência que, nos termos consagrados na Constituição da República Portuguesa e no uso dos poderes conferidos ao Presidente da República, diligencie uma efectiva promoção, defesa, valorização e difusão da Língua Portuguesa.
Apelamos a Vossa Excelência que defenda activa e intransigentemente uma Língua que conta 800 anos de História.
Apelamos a Vossa Excelência que contrarie a imposição aos Portugueses da Variante Brasileira do Português, composta por um léxico que traduz acentuadas diferenças fonológicas, morfológicas, sintácticas, semânticas e ortográficas, e essencialmente baseado no Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943.
Apelamos-lhe, Senhor Presidente da República, que proporcione às nossas crianças a possibilidade de escreverem conforme a grafia da sua Língua Materna – aquela que foi também a Língua Materna de Gil Vicente, Camões, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa, Fernando Campos, Luís Rosas, Altino do Tojal, Luísa Dacosta, Fernando Dacosta, José Saramago e tantos, tantos outros, cujas obras estão a ser acordizadas, num manifesto insulto à Cultura Culta Literária Portuguesa – ao invés de numa grafia desestruturada, incoerente e desenraizada das restantes Línguas europeias, as quais também estão a aprender (Inglês, Castelhano, Francês).
Apelamos a Vossa Excelência, ao Presidente da República Portuguesa, mas também ao académico e cidadão Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que deixe à posteridade, como SEU legado, a reposição da Língua Portuguesa, a nossa Língua, aquela que fixa o Pensamento de um Povo, escrita e falada escorreitamente, com elegância visual, com beleza, com estilo, seguindo o exemplo dos nossos Grandes Clássicos, antigos e modernos, atrás já referidos, para que a nossa Língua, a nossa Cultura e a nossa História, de quase nove séculos, não se percam nas brumas do tempo.
Apelamos, em suma, a Vossa Excelência, que seja reconhecido e revertido o gravíssimo erro cometido e por via do qual o Estado Português adoptou o Acordo Ortográfico, anulando-o, e restituindo a Portugal e aos Portugueses a sua Língua.
Com os nossos melhores cumprimentos
(Nomes dos subscritores)
***
Por que é importante subscrever este APELO?
Porque Língua Portuguesa só há UMA. Nem a verdadeira, nem a falsa. Somente a Língua Portuguesa. A única, e poderá estar em extinção, não, daqui a décadas, mas já amanhã, se se continuar a assobiar para o lado.
Preservá-la é uma tarefa de todos, não pode ser apenas tarefa de alguns.
Para subscrever o APELO ao PRl basta enviar o Nome e a Profissão para o e-mail do Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa»: isabelferreira@net.sapo.pt
Este é o APELO de um Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes, descontentes com os atropelos à Constituição da República Portuguesa, por parte do Senhor Presidente da República Portuguesa, no que à Língua Portuguesa diz respeito.
[Actualização do número de subscritores em 25 de Maio de 2023: 268]
[Actualização do número de subscritores em 05 de Janeiro de 2024: 296]
O exército, abaixo declarado, pode parecer um pequeno exército, aos olhos de quem só olha e não vê, porém, a História diz-nos que, por vezes, pequenos exércitos ganham grandes batalhas. Exemplo: Batalha de Aljubarrota. Basta serem constituídos por pessoas que contam, que fazem a diferença, que estão empenhadas, que sabem usar a arma certeira.
***
O APELO consta do seguinte:
Assunto: APELO cívico de um Grupo de Cidadãos Portugueses
Introdução:
Exmo. Senhor Presidente da República Portuguesa
Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Coube-me enviar a Vossa Excelência este APELO, para o qual esperamos a melhor atenção, uma vez que todos acreditamos que Portugal é um Estado de Direito, uma Democracia Plena, um País Livre e Soberano, onde os seus representantes costumam ouvir os apelos dos cidadãos pensantes, descontentes com o desnorte da sua Nação.
Em anexo segue o APELO a Vossa Excelência, com todos os subscritores identificados.
Aguardando uma resposta de Vossa Excelência, envio os meus mais respeitosos cumprimentos,
Isabel A. Ferreira
PS: Tornarei público, hoje, no meu Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa», o envio deste APELO a Vossa Excelência.
(Apelo redigido por um Jurista que presta apoio ao Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses)
Dirigimo-nos a Vossa Excelência apelando à Sua intervenção no sentido da defesa da Língua Portuguesa, tal como esta nos surge definida no n.º 3, do artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa.
Permita-nos, Vossa Excelência, o exercício do nosso dever cívico e obrigação de invocarmos a Lei Fundamental, designadamente no que tange aos deveres e obrigações que dela decorrem para todos os agentes do Estado, e, em especial, para o Presidente da República, enquanto primeiro e máximo representante do Estado. Estado a quem cabe, nos termos da alínea f) do artigo 9.º também da Constituição da República Portuguesa “[a]ssegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da Língua Portuguesa”.
Bem sabemos, Excelência, que, nos últimos anos, em concreto desde que o Estado impôs aos portugueses a aplicação de uma grafia que consideramos inconstitucional, tais deveres não têm sido cumpridos.
Esta não é uma questão de somenos importância. É um imperativo de cidadania. É um dever que nos é imposto pela Constituição da República Portuguesa. Trata-se, na verdade, da defesa do nosso Património Linguístico – a Língua Portuguesa – da nossa Cultura e da nossa História, os quais estão a ser vilmente desprezados.
Apelamos a Vossa Excelência que, nos termos consagrados na Constituição da República Portuguesa e no uso dos poderes conferidos ao Presidente da República, diligencie uma efectiva promoção, defesa, valorização e difusão da Língua Portuguesa.
Apelamos a Vossa Excelência que defenda activa e intransigentemente uma Língua que conta 800 anos de História.
Apelamos a Vossa Excelência que contrarie a imposição aos Portugueses da Variante Brasileira do Português, composta por um léxico que traduz acentuadas diferenças fonológicas, morfológicas, sintácticas, semânticas e ortográficas, e essencialmente baseado no Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943.
Apelamos-lhe, Senhor Presidente da República, que proporcione às nossas crianças a possibilidade de escreverem conforme a grafia da sua Língua Materna – aquela que foi também a Língua Materna de Gil Vicente, Camões, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa, Fernando Campos, Luís Rosas, Altino do Tojal, Luísa Dacosta, Fernando Dacosta, José Saramago e tantos, tantos outros, cujas obras estão a ser acordizadas, num manifesto insulto à Cultura Culta Literária Portuguesa – ao invés de numa grafia desestruturada, incoerente e desenraizada das restantes Línguas europeias, as quais também estão a aprender (Inglês, Castelhano, Francês).
Apelamos a Vossa Excelência, ao Presidente da República Portuguesa, mas também ao académico e cidadão Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que deixe à posteridade, como SEU legado, a reposição da Língua Portuguesa, a nossa Língua, aquela que fixa o Pensamento de um Povo, escrita e falada escorreitamente, com elegância visual, com beleza, com estilo, seguindo o exemplo dos nossos Grandes Clássicos, antigos e modernos, atrás já referidos, para que a nossa Língua, a nossa Cultura e a nossa História, de quase nove séculos, não se percam nas brumas do tempo.
Apelamos, em suma, a Vossa Excelência, que seja reconhecido e revertido o gravíssimo erro cometido e por via do qual o Estado Português adoptou o Acordo Ortográfico, anulando-o, e restituindo a Portugal e aos Portugueses a sua Língua.
Com os nossos melhores cumprimentos,
1 - Juliana Dias Marques, Estudante de Letras
2 - Maria Vieira Raposo, Técnica Superior Administrativa
3 - Nuno Furet, Agente de Animação Turística
4 - Germano da Silva Ribeiro, Professor do Ensino Secundário (aposentado)
5 - Rui José da Silva Dias Leite, Arquitecto
6 - João Robalo de Carvalho, Jurista
7 - José Silva Neves Dias, Professor Universitário
8 - Jaime de Sousa Oliveira, Professor Aposentado
9 - Maria da Purificação Pinto de Morais, Professora do Ensino Secundário
10 - Isabel A. Ferreira, Jornalista/Escritora, Ex-Professora de Português e História
11 - Alberto Henrique Sousa Miranda Raposo, Engenheiro civil, Aposentado
12 - Albano Pereira, Sócio-Gerente da Firma Táxis Rufimota, lda.
13 - José Manuel do Livramento, Eng.º Electrotécnico
14 - José António Girão, Professor Catedrático (Reformado) da Faculdade de Economia da UNL; ex-Vice-Reitor da UNL
15 - João Paulo Norberto, Desempregado
16 - Maria do Carmo Guerreiro Vieira Sousa Miranda Raposo, Professora Aposentada
89 - Telmo Mateus Pinheiro Carraca, Oficial de Vias Férreas (Construção e Manutenção)
90 - Maria Manuela Gomes Rodrigues, Desempregada
91 - António José Ferreira Simões Vieira, Empresário e Professor do Ensino Secundário Aposentado
92 - Fernando Manuel Dias de Lemos Rodrigues, Bancário Aposentado
93 - Alexandre M. Pereira Figueiredo, Professor do Ensino Superior e Investigador
94 - Maria Elisabete Eusébio Ferreira, Professora Aposentada do Terceiro Ciclo, Educação Tecnológica
95 - Orlando Machado, Escultor FBAUP
96 – Manuel Matos Monteiro, Escritor e Revisor
97 - Fernando Maria Rodrigues Mesquita Guimarães, Reformado
98 - Octávio dos Santos, Jornalista
99 - Maria Fernanda Bacelar, Reformada
100 - José Martins Barata de Castilho, Professor Catedrático Aposentado da Universidade de Lisboa (Iseg, onde é conhecido como Martins Barata), Escritor de Romances, História e Genealogia, tendo vários livros publicados na área da Economia
101 - Cândido Morais Gonçalves, Professor Aposentado
102 - Ana Cláudia Alves Oliveira, Redactora e Gestora de Conteúdos
103 – Albino José da Silva Carneiro, Sacerdote
104 - João Daniel de Andrade Gomes Luís, Técnico Superior
165 - Eduardo Rui Pereira Serafim, Professor de Português e Latim
166 - Aurelino Costa, Poeta e Declamador de Poesia
167 - João Pedro Arez Fernandez Cabrera, Licenciado em Gestão de Empresas
168 - Margarida Maria Lopes Machado, Jornalista
169 - M. Carmen de Frias e Gouveia, Docente (da secção de Português) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
***
Esta lista não se esgota nestes 169 subscritores. A subscrição continuará, e serão enviados, a Vossa Excelência, todos os nomes que vierem depois do envio deste APELO.
Entretanto, deixamos, para consulta de Vossa Excelência, duas publicações, onde constam os nomes dos Cidadãos Portugueses Pensantes, que rejeitam o acordo ortográfico de 1990, os quais, de um modo ou de outro, têm manifestado publicamente a recusa da grafia que nos foi imposta, e que não faz parte da Cultura Linguística Europeia.
Faltam aqui os inúmeros anónimos, instruídos e menos instruídos que, não tendo acesso aos média, murmuram, por aí, o seu imenso desgosto por ver a Língua Materna deles tão despedaçada.
«O que se passa com o AO90 é que se trata de um «organismo» que não surgiu naturalmente, foi induzido artificialmente de uma maneira violenta e brutal, tendo gerado um «ser» abortivo — ou seja, trata-se de uma MUTAÇÃO desfavorável, não de uma EVOLUÇÃO natural, basta observar os erros, as incongruências, os descalabros e as desorientações provocados no Ensinoe em diversas áreas culturais, e auscultar as queixas de professores e alunos sobre ocalamitoso estragocausado pelaimposição do AO90.
Ora, quando um organismo não é viável, como por exemplo um doente terminal em estado vegetativo, a ciência médica pode fazê-lo sobreviver por «tecnologia clínica», ligando-o a uma máquina que lhe prolonga a agonia artificialmente.
No caso da mutação desvantajosa do AO90, verificamos que o seu deplorável estado vegetativo somente se mantém porque foi ligado à máquina por «tecnologia política», e a sua falsa vida, prolongando-se, está a proporcionar uma agonia intolerável aos que lhe sofrem os efeitos.»
António de Macedo, cineasta e escritor
«A violenta desfiguração que o novo Acordo quer impor à língua é um crime grave. Com ele, a língua original do trovador D. Dinis, de Gil Vicente, do Pe. António Vieira… passou a ser um subdialecto do brasileiro, que nem os brasileiros reconhecem, porque eles continuam a escrever aspecto, perspectiva, espectador, excepcional, concepção, recepção… e nós com o novo Acordo passamos a escrever aberrações como aspeto, perspetiva, espetador, excecional, conceção, receção…
O iluminado legislador que produziu a novo AO parece ignorar a tendência fonogrâmica das línguas, a inevitável “colagem” da letra à fonética. Quando vejo escrito, como agora,conceção e receção,por exemplo, a minha tendência é pronunciar como concessão e recessão… A tendência fonogrâmica do português brasileiro é abrir os sons, ao passo que a do português de Portugal é fechá-los. Por issoa grafia constitui uma marca distintiva fundamental. Por exemplo, o novo AO quer que se escreva afetar e adotar, tal como no Brasil, em vez de afectar e adoptar. Com ou sem as letras aparentemente mudas como o “c” ou o “p”, o brasileiro pronunciará sempre àfètár e àdòtár, ao passo que português sem o “c” e sem o “p”, terá a tendência fonogrâmica de pronunciar âf´tár e âdutár. Se passo a escrever correto em vez de correcto, terei tendência, enquanto português, para pronunciar kurrêto, como em carreto ou coreto…»
António de Macedo, cineasta e escritor
Inicia-se o texto de Novembro com duas citações de António de Macedo, ambas “roubadas” ao blogue Apartado 53, que tem tido um notabilíssimo trabalho a desmascarar o AO90. Além da substância nelas contida, digna da mais profunda reflexão, pretende o autor deste escrito chamar a atenção para a quinta edição do Prémio António de Macedo, organizado pela Editorial Divergência, ao qual podem concorrer apenas as obras que respeitem o Acordo Ortográfico de 1945.
Sobre a inutilidade do AO90 e sobre os seus malefícios no que respeita à oralidade, os textos em epígrafe são mais certeiros do que qualquer comentário do autor destas linhas.
Por essa razão, dedicar-nos-emos a demonstrar, mais uma vez, um dos aspectos do caos ortográfico que se foi instalando. Como o leitor, certamente, já reparou, deparamos, de quando em vez, com uma palavra estranhíssima. Sim, caro leitor, estou a falar do contato.
Esta forma resulta do fenómeno de hipercorrecção e tem tido muito sucesso um pouco por todo o lado, a ponto de alguns especialistas acharem que dela já não nos livraremos.
Uma rápida consulta às páginas digitais de alguns órgãos da comunicação social permitiu o seguinte pecúlio: “Todos aqueles que têm contato com o povo francês…” (Expresso, 16-10-22); “Messi não terá nesta altura contatos…” (A Bola, 07-10-22); “… melhorar o contato e aderência…” (AutoFoco, 26-09-22); “Será possível desenvolver contatos…” (A Bola, 15-09-22); “… estamos em contato permanente… (A Bola 05-09-22); “… o contato com a tripulação foi interrompido.” (Expresso, 04-09-22); “… após sofrerem contatos ligeiros…” (Tribuna Expresso, 19-08-22); “Câmara quer dinamizar contatos pela internet…” (RTP Madeira, 25-07-22); “Joan Laporta em contato com os responsáveis máximos…” (A Bola, 09-08-22); “… apesar de tentativas de contato…” (A Bola, 26-07-22); “Estão ainda a ser desenvolvidos contatos com a Câmara Municipal…” (A Bola, 22-07-22); “… entre em contato com a polícia.” (Jornal I, 03-07-22); “Serviços sociais da Câmara estão em contato com pessoas sinalizadas…” (Rádio Hertz, 15-07-22); “… permitindo […] contatos com a menor em condições propícias aos abusos…” (Jornal Sol, 15-07-22).
Se respigarmos no Diário da República, só no mês de Outubro deste ano, encontraremos, usufruindo do labor de Francisco Miguel Valada: “… não dispensa o contato regular do trabalhador…” (24-10-22); “Ponto de Contato da Rede Europeia dos Direitos das Vítimas.” (07-10-22).
Se é assim nestes meios, como será com o cidadão comum?
Trinta e dois anos depois de os coveiros da língua terem produzido o AO90, ainda há tempo para reverter os malefícios de tal instrumento.
Ah, se o leitor publicar, no Brasil, uma obra intitulada “O Contato”, em Portugal, em bom português, o seu título será “O Contacto”. É isto a unidade essencial da língua.
P.S.: As imagens que acompanham este escrito (tal como as citações e imagens dos textos anteriores desta série) foram publicadas nas páginas de Facebook dos grupos Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico de 1990 e Tradutores Contra o Acordo Ortográfico, os quais têm desenvolvido um laudabilíssimo labor, desmascarando o embuste ortográfico.
Curioso,este artigo de Marco Neves. Quem o ler assim de repente pode até pensar algo como “olha, mais um que já pendurou as chuteiras“. Longe vá o agoiro, é claro, de mais a mais porque “isto”, a Língua Portuguesa, que tanto aborrece a alguns, não é exactamente o pontapé na chincha. Não deixa de causar alguma estranheza, porém, futebóis à parte, que tão denodado quanto profuso escriba —tantas vezes aqui citado e transcrito— tenha agora virado a agulha para as coisas da arqueologia linguística, escavando túneis profundos, tão profundos que os não iniciados arriscam-se a sair do outro lado da Terra.
Não será revirando fósseis ou autopsiando múmias que algo de útil ou sequer inteligível poderá ressumar quanto àquilo que realmente interessa… ao povão, digamos. Nem mesmo o espantosamente básico facto que Santayana formula será para aqui chamado, ainda que por excepção, dado que — precisamente — é o passado aquilo que o AO90 pretende reescrever como suporte “ideológico” para eliminar o futuro da Língua Portuguesa.
Além das sucessivas campanhas de intoxicação da opinião pública (ah, e tal, eles são 230 milhões), de estupidificação e de anestesia em massa (novelas,escolas de samba, futebol, canais de TV, “kárrnávau”, importação de “génios” sortidos), no que diz respeito à Literatura em concreto e à escrita em geral são metódicas e persistentes as criminosas acções de reescrita do passado. Ou seja, a política do facto consumadocom efeitos retroactivos: enquanto vão apagando quaisquer vestígios da escrita “de antigamente”, a tal que estava “errada”, segundo eles, sucedem-se asreedições dos nossos clássicos (fora os manuais escolares), enormes colecções são “revisadas” e reeditadas com aniquilação selectiva de tudo aquilo que no Brasil não é pronunciado, articulado ou… dito. Portanto, respectivamente, destrói-se a ortografia (sequências consonânticas, marcas etimológicas), “adota-se” a ortoépia (pronúncia, estrutura frásica) e esmigalha-se o léxico. Vai tudo a eito.
O objectivo primário do “acordo” é, funcionando como disfarce para as negociatas(via CPLP, IILP, IC e AR) “justificar” a “adoção” da língua universau brasileira em Portugal e PALOP. Trata-se de uma complexa manobra de bastidores, insidiosa e mentirosa, levada a cabo por políticos, vendidos, traidores eidiotas úteis, no intuito de expurgar radicalmente a génese e a matriz da Língua Portuguesapara assim impor aos nacionais uma língua estrangeira e, sempre a pretexto da brasileirofonia, servir os interesses geo-político-económicos do Brasil e os interesses nada-mais-do-que-económicos dos vendilhões que por aí rastejam.
Que todas as línguas evoluíram, evoluem e continuarão a evoluir não é grande novidade e ainda menos será uma descoberta de fazer arregalar um olho, quanto mais os dois. Não será isto, aliás, com toda a certeza, nenhuma das “verdades” que toda a gente atribui a Jacques II de Chabanes; deixemos as “lapalissadas” para quem ainda acredita em historinhas; além do mais, em sinal de respeito, pois La Palisse está morto e bem morto, ou como diria o lacaio de Monsieur, se não estivesse morto com certeza estaria tão vivo como estava momentos antes de falecer. Evoluem as línguas, como tudo evolui, e esse “fenómeno” (muito anterior a Camões, note-se, aí uns 28500 anos anterior ao Grande Zarolho) é não apenas uma inevitabilidade como constitui a própria essência das coisas humanas.
O erro será, precisamente, pela sua própria natureza, arrogar-se alguém — bandoleiro solitário ou bandos deles — o direito de sequer tentar perverter, desviar, alterar o percurso inelutável da História.
Portanto, ainda que tal pareça, não pode pretender este (ou qualquer outro) autor “explicar” seja o que for de “natural” na “evolução” da Língua através da repescagem de fragmentos da escrita, do período arcaico ou até recuando à cuneiforme ou à hieroglífica; isso não apenas não explica coisíssima nenhuma — a não ser, evidentemente, o que antes porventura alguém desconhecia ter existido nesse particular — como ainda menos ou absolutamente nada explica, esclarece, justifica uma aberração (o #AO90 não contém aberrações, é todo ele uma aberração) ou serve para atenuar culpas e esbater responsabilidades dos envolvidos.
Exceptuando o facto incontornável de a língua brasileira ter tido origem na matriz da portuguesa, não existe a mais ínfima ou remota relação entre a ortografia de Eça (ou a de Camões ou a de Gil Vicente ou a de D. Afonso II) e aquela coisa que osbrasileiristas pretendem impingir a Portugale PALOP. Não existe relação alguma porque a Língua não é nem relativa nem relativizável — simplesmente é o que é: nós temos a nossa, o Brasil tem a sua.
Hoje, nós, OS Portugueses, distanciamo-nos dos políticos, e celebramos também o Dia de Portugal, o NOSSO Portugal, não, o dos estrangeiros, e também o Dia das Comunidades Portuguesas, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, que os políticos portugueses tanto desprezam, porque, NÃO honrando Portugal, como não honram, como podem honrar os Portugueses, que, na diáspora, vêem a sua Cultura, a sua História e a sua Língua tão DESPREZADAS pelos governantes, que, hipocritamente, descaradamente, andam por aí a mentir-lhes, vendendo-lhesgato por lebre, com a ilusão dos milhões?
A primeira referência conhecida do simbolismo festivo do dia 10 de Junho, dia da morte do Poeta, data do ano de 1880, num decreto real de Dom Luís I, que o proclamou como "Dia de Festa Nacional e de Grande Gala" para comemorar os 300 anos da morte de Luiz Vaz de Camões, em 10 de Junho de 1580.
Porquê “Língua de Camões”? Porque, na verdade, Camões foi considerado um revolucionário em relação à Língua Portuguesa culta da sua geração, trazendo à Língua inovações linguísticas, evidenciadas no Poema Épico «Os Lusíadas».
A este propósito, diz a investigadora Maria Helena Paiva:
«Os Lusíadas constituem um testemunho de primeira importância sobre uma mudança (linguística) em curso na época. Camões não se revela apenas como um homem do seu tempo cuja linguagem reflecte a variedade padrão, sobre a qual o corpus metalinguístico quinhentista fornece uma informação específica ao nível da consciência, da práxis escritural e da dimensão normativa. O aumento da amplitude da variação que o texto acusa não é só inerente à diversificação dos conteúdos, à pluralidade de vozes e à policromia de cambiantes. Camões identifica a tendência que prevalecerá no futuro, e extrai, daquilo que intui na língua, consequências detectáveis no plano da criação estética».
Hoje, celebramos também a Língua de Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Antero de Quental, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eugénio de Andrade, Padre António Vieira, Ferreira de Castro, Florbela Espanca, Natália Correia, Aquilino Ribeiro, Miguel Torga, António Lobo Antunes, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Vitorino Nemésio, Raul Brandão, Altino do Tojal, Luísa Dacosta, Luís Rosa, Fernando Campos, Fernando Namora, Júlio Dinis, Mário de Sá-Carneiro, Luísa Costa Gomes, Gil Vicente, José Saramago, Vergílio Ferreira, Marquesa de Alorna, Teolinda Gersão, Deana Barroqueiro, Dom Dinis, Maria Velho da Costa, Hélia Correia, Ilse Losa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Fernando Dacosta, José Régio, Mário de Andrade, Maria Isabel Barreno, Amadeo de Souza-Cardoso, Santa Rita Pintor, Almada Negreiros, Afonso Lopes Vieira, Maria Gabriela Llansol, Alexandre O’Neill, Maria Judite de Carvalho, Bernardim Ribeiro, Camilo Pessanha, Maria Teresa Horta, Fernão Lopes, Herberto Helder, Garcia de Resende, José Cardoso Pires,Sá de Miranda, Teixeira de Pascoaes, Mariana Alcoforado e tantos, tantos outros, que não me vêm agora à memória.
Todos estes escritores, prosadores e poetas portugueses fizeram da Língua Portuguesa um Monumento à Arte de Bem Escrever a Língua que Dom Dinis, ele próprio um excelente Trovador, nos deixou, e constitui o nosso Património Cultural Linguístico, que os governantes acordistas, de má-fé e ignorantemente, estão a tentar destruir.
É bem verdade que a Língua Portuguesa gerou Variantes/Dialectos/Crioulos, como lhes queiram chamar, que hoje são usados nas ex-colónias portuguesas de África e América do Sul, e noutros territórios dos confins da Ásia.
Nessas Variantes/Dialectos/Crioulos foram escritas obras primorosíssimas, porém, o que hoje celebramos é a GENETRIZ de todas essas Variantes/Dialectos/Crioulos, para que se saiba que a Língua Portuguesa não pode setriturada, à mercê de gostos duvidosos e com base nos milhões, e continuar a ser chamada Portuguesa. Será portuguesa apenas por conveniências políticas, altamente lesivas dos interesses de Portugal.
Para celebrar a “Língua de Camões” escolhi este belíssimo poema musicado por Zeca Afonso (a política, aqui, fica de fora, se fazem favor), porque a nossa Cultura é feita de uns e de outros.
E VIVA a Língua Portuguesa!
Isabel A. Ferreira
Quadro pintado referente a Camões a’prisionado em Goa. Trata-se de uma pintura a guache, de 1556, considerada como retratando co veracidade o maior poeta lusíada.
Endechas a Bárbara Escrava
Endechas a uma cativa, chamada Bárbara, por quem Luiz de Camões andava de amores, na Índia
Um texto magistraldeAntónio de Macedoescritor, cineasta e professor universitário (1931-2017), o qual subscreveu a Iniciativa Legislativa de Cidadãos pela revogação da entrada em vigor do “acordo ortográfico”.
Mais uma voz lúcida, que os ouvidos dos políticos, dos governantes e dos deputados da Nação não estiveram disponíveis para ouvir.
Sobre o AO90, transcrevemos de seguida, com a devida vénia e porque nos parece ser [ainda] de interesse público, um trecho da mensagem do Professor António de Macedo. (ILC)
Origem da imagem: Internet
Por António de Macedo
«É inevitável trazer à lembrança a famosa passagem de Bernardo Soares / Fernando Pessoa no Livro Desassossego, em que diz:
“…Minha pátria é a língua portuguesa. […] Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.”
A violenta desfiguração que o novo Acordo quer impor à língua é um crime grave. Com ele, a língua original do trovador D. Dinis, de Gil Vicente, do Pe. António Vieira… passou a ser um sub-dialecto do brasileiro, que nem os brasileiros reconhecem, porque eles continuam a escrever aspecto, perspectiva, espectador, excepcional, concepção, recepção… e nós com o novo Acordo passamos a escrever aberrações como aspeto, perspetiva, espetador, excecional, conceção, receção…
O iluminado legislador que produziu a novo AO parece ignorar a tendência fonogrâmica das línguas, a inevitável “colagem” da letra à fonética. Quando vejo escrito, como agora, conceção e receção, por exemplo, a minha tendência é pronunciar como concessão e recessão… A tendência fonogrâmica do português brasileiro é abrir os sons, ao passo que a do português de Portugal é fechá-los. Por isso a grafia constitui uma marca distintiva fundamental. Por exemplo, o novo AO quer que se escreva afetar e adotar, tal como no Brasil, em vez de afectar e adoptar. Com ou sem as letras aparentemente mudas como o “c” ou o “p”, o brasileiro pronunciará sempre àfètár e àdòtár, ao passo que português sem o “c” e sem o “p”, terá a tendência fonogrâmica de pronunciar âf´tár e âdutár. Se passo a escrever correto em vez de correcto, terei tendência, enquanto português, para pronunciar kurrêto, como em carreto ou coreto…
Enfim, como o dispositivo legal que promulga o novo AO é uma Resolução da Assembleia da República, e não uma Lei ou um Decreto-Lei, terá sempre o mero valor de recomendação, ao contrário de um Decreto-Lei que é vinculativo.
Chamo a atenção que o Decreto-Lei que promulga o Código do Direito de Autor e Direitos Conexos, na hierarquia legislativa, sobrepõe-se a uma resolução da AR, por isso sugiro aos Autores que se não conformam com a nova ortografia e desejem continuar a escrever como os nossos pais nos ensinaram, que leiam atentamente on.º 1 do Art. 56.ºdo Código do Direito de Autor, em articulação com oArt. 93.ºdo mesmo Código. Nós, Autores, temos sempre a “opção ortográfica de carácter estético” a nosso favor.
O que se lê aqui é inteligente. E tão simples, meu Deus! Como não entendê-lo! Cumpts.
***
Escrito por antonio andrade
Nós somos de facto de brandos costumes; esta dicotomia, este ‘buraco’ legal é bem da traça dos politiqueiros de turno que nos (des)governam; lembro-me, em igual contexto, do decreto-lei produzido pelo governo Guterres em resposta às vociferantes vozes dos autarcas das juntas de freguesia com maior dimensão – ‘as juntas de freguesia passam a ter a capacidade para se endividarem sem depender do beneplácito da respectiva Câmara Municipal, conforme Normas a publicar’; com um laivo maquiavélico tais Normas nunca se publicaram : nunca as Juntas de Freguesia puderam contrair empréstimos fora da alçada das Câmaras … mas esta atitude liquidou a estridência da reivindicação. Até hoje. 2 em 1, como o Vidal Sassoon …
Do mesmo modo, creio ser admissível que em relação ao acordo ortográfico se tenha passado exactamente o mesmo -atitude salomónica : – agradar à maioria parlante do outro lado do Atlântico que impõe a maior parte dos atalhos nos quais assenta a revisão em apreço, – e mantendo uma janela para que façamos o que nos apetecer; ou isso, ou simples erro ou incompetência, qualificativo ao qual o nosso eu colectivo está cada vez mais habituado; prefiro pensar ter sido a primeira opção, por mais inteligente.
Pena é que haja um afã de ‘mostrar serviço’ por parte dos nossos media, demonstrando uma observação das leis, que para muitos, como nós, achamos não passar de observação servil e de obediência canina a um abastardamento da língua matriz;
Grato por se incorporar no número dos que achamos dever manter o recorte da língua tal como a aprendemos, porque, afinal, é isso que permite proferir palavras habitadas; com o que é genuinamente nosso, com aquilo que nos faz perceber instintiva e automaticamente que um texto não foi redigido no sertão brasileiro. Bem haja
***
Escrito por vitor cambra
Portugal está à venda, a retalho ! Vendem-se licenciaturas a políticos incompetentes, aos amigos lugares em conselhos de administração de empresas participadas pelo Estado, a U.G.T. vende-se, alienando direitos dos trabalhadores portugueses, vende-se a língua portuguesa. Ninguém quer, porém e infelizmente, comprar (mesmo a custo zero) estes vendilhões…
***
Escrito por Gonçalo J.S. os Reis Torgal
Uma verdadeira vergonha. Perdemos totalmente a soberania e a Pátria. Não passamos de um país ocupado que perdeu o sentido de Pátria. Andamos ao mando da TROYKA (que porra de nome lhe puseram) e da indignidade de quem (des)governa desde há vinte/trinta anos. Por um prato de lentilhas vendemos a Língua, a Pátria, como lembrava Pessoa. Nada resta,
***
Escrito por José Manuel Moura
Na minha idade, 73, já ninguém me obriga a escrever ou ler com uma ortografia estúpida. Tenho muita pena e apreensão em relação aos meus filhos (4), netos (10) e bisneto (1) que não vão saber ler e entender todo o nosso rico espólio literário.
Tenho 49 anos sou portuguesa não aceito escrever da forma disparatada que nos impuseram. Quando acrescentaram a palavra bué ao nosso dicionário questionei-me porque não deslarga-me? É isso mesmo os nossos iluminados deviam mesmo era deslargarem este pobre povo que tudo aceita com o deslumbre dos idiotas
***
Escrito por Mario Siqueira
AO90 é anti-matemático!
A nova ortografia criou mais diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal do que as que existiam antes!
Mas, o propósito não era aproximarem-se?
Simples perguntas para as quais nenhum acordista tem respostas: “Quando os escritores/leitores brasileiros se queixaram de não entender os livros escritos na ortografia europeia? Quando os escritores/leitores portugueses se queixaram de não entender o que se escreve no Brasil? Desde quando os brasileiros deixaram de ler Saramago? Quem foi que inventou que um português precisa escrever ‘rutura’ ou ‘receção’ para ser entendido por um brasileiro que escreve ‘recePção’ e ‘ruPtura’?
Será que estou louco em achar que nada no AO90 faz sentido? Será culpa de minha idade avançada?
***
Escrito por Linda B.
Arrepiante conclusão: – Quem decide e nos governa dá erros de ortografia; tornando a ortografia informe e anárquica, acabam-se os erros ortográficos; para os detectives da língua, a investigação etimológica fica mais confusa porque perdeu a sua lógica. Assim, o “espectador” aquele que observa, dá agora lugar ao “espetador”, aquele que espeta; também aqui nestas reformulações ortográficas, o nosso governo pratica a anunciada morte dos valores, reflexo do neo-neo-liberalismo e do mercado livre, o paraíso dos especuladores (ainda a doer na carne a consequente crise mundial, mas que longe que isto nos leva!…). Esta será mais uma pequena gota na taça da desestabilização político-social, que só interessa ao mais forte; pergunto eu:- Rapazes, não estamos já no tempo de assumir que enveredámos por um caminho errado? Isto recorda-me aquele quadro de Bruegel o Velho, em que confiadamente, um cego vai a conduzir um grupo de cegos como ele, em direcção ao abismo.
Como desde o princípio, ou talvez ainda com maior convicção, continuo adversário declarado famigerado AO. Assinei a petição que andou pela net há um ou dois anos mas não me recordo se terei aderido à iniciativa legislativa que também por aí circulou. Como é óbvio não tenciono mudar de opinião e continuarei a escrever o melhor que souber o português tal como aprendi ao longo da vida.
É reconfortante verificar que tenho do meu lado da barricada numerosa e honrosa companhia. Entre tantos contam-se conceituados cultores da língua, membros destacados da inteligentzia nacional e figuras respeitadas nos mais variados sectores da cultura nacional. Por isso fiquei muito satisfeito ao tomar conhecimento da recente atitude do Dr. Graça Moura no CCB e ao ler os recentes artigos dos profs. Vilaverde Cabral e António Macedo. Tenho esperança de que a iniciativa legislativa dê os frutos esperados pelos seus promotores para bem da língua, da cultura e da identidade portuguesas. É preciso não desarmar nesta luta. Estou certo de que as futuras gerações agradecerão.
***
Escrito por António Pinheiro Lourenço
Como é que se pode aderir a um movimento que impeça que a Língua Portuguesa seja assim “vandalizada”?
Há anos que venho lutando contra este aborto ortográfico! Infelizmente, na minha profissão, sou OBRIGADO a utilizá-lo, se quiser trabalhar… Mas há concessões que não faço: recuso escrever “pára”, do verbo parar, sem acento, recuso escrever “pêlo” sem acento, e não abdico das consoantes mudas, quando a sua falta possa levar a confusões. Mas que país de medíocres, este…
***
Escrito por Joaquim José das Neves Gonçalves
Os últimos comentários que aqui foram feitos têm dois anos, dando razão a quem apelida os portugueses de gente de brandos costumes… de carneirada. Nada foi feito, pelo menos que se saiba, contra esta aberração que os políticos portugueses nos impõem. A resolução da AR passou a ser aplicada em todo o lado, nos organismos do Estado, na escola e até nas empresas e sector privado, como se de uma lei se tratasse. Portugal impôs a si próprio um acordo que os outros países não assinaram: nenhum PALOP assinou! E, no Brasil, já se fala em “brasileirês”!!! E os nossos intelectuais o que têm feito? Continuam a falar cada um para o seu umbigo! Quando vamos ter o prazer de umas jornadas ou de um congresso para darmos o murro na mesa? Porque esperam intelectuais do meu país?! Podemos pensar que tudo está sob a ditadura das editoras e da Google? …” Se isto é Portugal, prefiro ser espanhol!” A história repete-se!
Um excelente e elucidativo texto escrito em 9/6/2013, por António Macedo. Por ser oportuno e estar actualíssimo, vamos recordá-lo.
Em Portugal é assim… Os anos vão passando… os portugueses cultos vão reclamando… os governantes fazendo orelhas moucas… e tudo continua teimosa e nesciamente na mesma: um atraso de vida! Mas vamos lá atirar mais uma acha para a grande fogueira, onde já está a arder o Acordo Ortográfico de 1990, a maior FRAUDE de todos os tempos.
Este é um texto para ler com atenção e partilhar e enviar aos irresponsáveis «acordistas», com esta observação prenunciadora:
Se houver Justiça (com letra maiúscula) em Portugal, e se Portugal for, de facto, um Estado de Direito, TODOS os responsáveis por esta monumental FRAUDE hão-de sentar-se no banco dos réus, por alta traição à Pátria. Se não houver Justiça, e se Portugal não for, de facto, um Estado de Direito, os traidores até poderão escapar à não-justiça, contudo, não se livrarão do julgamento do Tempo e da História. Tão certo como eu estar aqui a escrever isto. (Isabel A. Ferreira)
«Desliguem a Máquina!
Por ANTÓNIO DE MACEDO
«Os apoiantes do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) acusam frequentemente os opositores de serem «Velhos do Restelo», avessos à «evolução» da língua, saudosistas de se escrever «pharmácia» com ph, e outros doestos do mesmo teor. Equívocos grossos por parte de quem fala de coisas que não conhece ou conhece mal.
Comecemos pela alusão ao «Velho do Restelo» (Canto IV de “Os Lusíadas”, estâncias 94 a 104). A sua identificação com mentalidade retrógrada, conservadorismo, pessimismo e afins resulta do desconhecimento do que realmente se lá encontra, ou então de uma leitura pela rama. Dou a palavra a quem sabia muito mais disto do que eu, o pensador António Telmo, que nos seus livros (p. ex. “Congeminações de um Neopitagórico”) nos explica que «o Velho do Restelo não significa aquilo que vulgarmente se diz significar, e tanto se tem repetido que quase se tornou proverbial», acrescentando mais adiante: «uma espécie de superego do homem, de censor ou de censurador de quanto nele aspira à inovação pelo heroísmo, à criação pelo imprevisível…»
Sendo um velho «venerando», quer dizer, que «deve ser venerado», e «com um saber de experiência feito», na verdade alerta-nos para os perigos a fim de podermos superá-los e vencê-los, não para fugirmos a eles, numa alusão à antiga máxima alquímica de que as provas que defrontamos não são obstáculos, mas desafios — curiosa máxima que até os políticos mais rasteiros já papagueiam quando tentam justificar os apertos orçamentais (e outros…) apregoando que as dificuldades são «oportunidades»…
Por outro lado, e passando ao tópico seguinte, se quisermos ser minuciosos concluiremos que os verdadeiros «saudosistas» do «português antigo» (?) não são os que suspiram pelo regresso à tal «pharmácia» com ph, situação que ocorreu apenas entre o séc. XVII e 1911, em que a grafia da língua portuguesa se caracterizou por um pedantismo renascentista e depois iluminista, de influência francesa, adoptando uma escrita que procurava reproduzir as transliterações latinas de palavras gregas, sobretudo em certos termos eruditos ou mitológicos, como «philosophia», «theologia», «chimera», «symmetria», etc..
O alfabeto do latim clássico não dispunha de letras que equivalessem aos sons de algumas letras gregas, que, com muito boa vontade, se poderiam representar por um “p” aspirado (ph), por um “t” aspirado (th), por um “c” (duro) aspirado (ch) e por um “y” com pronúncia aproximada do “u” francês.
Mas esta foi uma fase intercalar: nos primeiros séculos da língua portuguesa (séc. XII e até mais ou menos sécs. XVI-XVII) a grafia era uma tentativa de compromisso entre a fonética e a etimologia, cheia de erros e de irregularidades quando vista à luz da ciência linguística moderna, mas que ia acompanhando o evoluir da língua falada, em relativo paralelismo com o que sucedia com o castelhano.
Consultando as edições antigas das cantigas trovadorescas medievais, passando pelos autos de Gil Vicente e até à 1.ª edição de “Os Lusíadas”, ou seja, desde aproximadamente 1200 até 1572, praticamente não encontramos termos com ph, th, etc. Na 1.ª edição de “Os Lusíadas” é normal depararmos com grafias como «ninfas», «profeta», «cristalino», «fantasia», «Olimpo», etc., palavras que na posterior fase cultista passaram a escrever-se «nymphas», «propheta», «crystallino», «phantasia», «Olympo», etc. É certo que na epopeia de Camões também aparecem coisas como «triumphante» ou «hemispherio», mas não podemos esquecer que nos finais do século XVI já se esboçava a transição da norma tradicional portuguesa para a norma do cultismo de ascendência renascentista.
A fase cultista acentuou-se sobretudo a partir da revolução de 1640 e correlativo desvincular de Portugal da coroa espanhola. A moda da «orthographia etymológica» deveu-se, como disse, ao fascínio dos eruditos portugueses pelo Renascimento clássico e pelo Iluminismo, mas sobretudo por reacção xenofóbica anticastelhanista, para nos demarcarmos da grafia do antigo dominador, sendo essa uma outra maneira de afirmar a nossa independência e a nossa distância em relação a Espanha.
Com efeito, e apesar da tentativa da Real Academia Española, em 1741, para se utilizar o grupo “ph” em certas palavras de origem grega, essa ideia não foi por diante e os espanhóis mantiveram a simplificação tradicional: onde os portugueses, no séc. XVIII, escreviam «philosophia», os espanhóis continuaram a grafar «filosofía».
Em Portugal a grafia «cultista» manteve-se até à reforma ortográfica de 1911, que, com o pretexto da simplificação para obviar o gritante analfabetismo português, no fundo acabou por regressar, em termos modernos, à nossa real matriz de escrita. Os ajustes de 1931 e 1945 mais não fizeram do que «aperfeiçoar» (enfim, sem ironia e dentro do possível…) o espírito lusitanizante de 1911 — nunca devendo esquecer-nos que uma ortografia «idealmente perfeita» não existe, o máximo que se pode conseguir é um compromisso inteligente entre etimologia e fonética, coisa que, em minha humilde opinião, alcançou um relativo limite, «menos mau», com a convenção de 1945. Ir mais longe em termos de simplificação pró-foneticista é perigoso, veja-se o resultado catastrófico do abortivo AO90, que na salgalhada em que está a enredar-se acaba por ser tudo menos inteligente.
Finalmente a guerrilha da «evolução». Que a língua portuguesa evoluiu, no sentido biológico do termo, desde as suas origens até hoje, não surpreende, porque uma língua é um organismo vivo e vai passando por sucessivas mudanças naturais ao longo do tempo. É normal que a representação gráfica das progressivas alterações fonéticas não se processe com a mesma rapidez destas: a grafia, com o correr dos tempos, tende a ser uma espécie de “signe de reconnaissance”, e com o avançar da cultura, a sua permanência gráfica pode tornar-se um factor importante de identificação visual.
Por sua vez uma «mutação» é uma mudança brusca dos constituintes genéticos de um organismo, podendo dar origem a indivíduos bastante diferentes dos da espécie onde ocorre a mutação. Pedindo desculpa aos especialistas pela maneira simploriamente profana como falo deste complexo assunto, digamos que as mutações podem ser naturais ou induzidas, e ainda benéficas ou desfavoráveis. No caso das mutações desfavoráveis, os organismos resultantes, não sendo viáveis, geralmente acabam por se extinguir, por selecção natural.
O que se passa com o AO90 é que se trata de um «organismo» que não surgiu naturalmente, foi induzido artificialmente de uma maneira violenta e brutal, tendo gerado um «ser» abortivo — ou seja, trata-se de uma MUTAÇÃO desfavorável, não de uma EVOLUÇÃO natural, basta observar os erros, as incongruências, os descalabros e as desorientações provocados no Ensino e em diversas áreas culturais, e auscultar as queixas de professores e alunos sobre o calamitoso estrago causado pela imposição do AO90.
Ora, quando um organismo não é viável, como por exemplo um doente terminal em estado vegetativo, a ciência médica pode fazê-lo sobreviver por «tecnologia clínica», ligando-o a uma máquina que lhe prolonga a agonia artificialmente.
No caso da mutação desvantajosa do AO90, verificamos que o seu deplorável estado vegetativo somente se mantém porque foi ligado à máquina por «tecnologia política», e a sua falsa vida, prolongando-se, está a proporcionar uma agonia intolerável aos que lhe sofrem os efeitos.
Senhores políticos, acabem com o sofrimento do doente e dos próximos que já não aguentam suportar-lhe o fardo. É um destes casos extremos em que a eutanásia se justifica.
Um excelente e elucidativo texto escrito em 9/6/2013 por António de Macedo, porém, actualíssimo.
Em Portugal é assim… Os anos vão passando… os portugueses cultos vão reclamando… os governantes fazendo orelhas moucas… e tudo continua teimosa e nesciamente na mesma: um atraso de vida!
Um texto para ler com atenção e partilhar e enviar aos irresponsáveis «acordistas».
Por António de Macedo
«Os apoiantes do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) acusam frequentemente os opositores de serem «Velhos do Restelo», avessos à «evolução» da língua, saudosistas de se escrever «pharmácia» com ph, e outros doestos do mesmo teor. Equívocos grossos por parte de quem fala de coisas que não conhece ou conhece mal.
Comecemos pela alusão ao «Velho do Restelo» (Canto IV de “Os Lusíadas”, estâncias 94 a 104). A sua identificação com mentalidade retrógrada, conservadorismo, pessimismo e afins resulta do desconhecimento do que realmente se lá encontra, ou então de uma leitura pela rama. Dou a palavra a quem sabia muito mais disto do que eu, o pensador António Telmo, que nos seus livros (p. ex. “Congeminações de um Neopitagórico”) nos explica que «o Velho do Restelo não significa aquilo que vulgarmente se diz significar, e tanto se tem repetido que quase se tornou proverbial», acrescentando mais adiante: «uma espécie de superego do homem, de censor ou de censurador de quanto nele aspira à inovação pelo heroísmo, à criação pelo imprevisível…»
Sendo um velho «venerando», quer dizer, que «deve ser venerado», e «com um saber de experiência feito», na verdade alerta-nos para os perigos a fim de podermos superá-los e vencê-los, não para fugirmos a eles, numa alusão à antiga máxima alquímica de que as provas que defrontamos não são obstáculos, mas desafios — curiosa máxima que até os políticos mais rasteiros já papagueiam quando tentam justificar os apertos orçamentais (e outros…) apregoando que as dificuldades são «oportunidades»…
Por outro lado, e passando ao tópico seguinte, se quisermos ser minuciosos concluiremos que os verdadeiros «saudosistas» do «português antigo» (?) não são os que suspiram pelo regresso à tal «pharmácia» com ph, situação que ocorreu apenas entre o séc. XVII e 1911, em que a grafia da língua portuguesa se caracterizou por um pedantismo renascentista e depois iluminista, de influência francesa, adoptando uma escrita que procurava reproduzir as transliterações latinas de palavras gregas, sobretudo em certos termos eruditos ou mitológicos, como «philosophia», «theologia», «chimera», «symmetria», etc..
O alfabeto do latim clássico não dispunha de letras que equivalessem aos sons de algumas letras gregas, que, com muito boa vontade, se poderiam representar por um “p” aspirado (ph), por um “t” aspirado (th), por um “c” (duro) aspirado (ch) e por um “y” com pronúncia aproximada do “u” francês.
Mas esta foi uma fase intercalar: nos primeiros séculos da língua portuguesa (séc. XII e até mais ou menos sécs. XVI-XVII) a grafia era uma tentativa de compromisso entre a fonética e a etimologia, cheia de erros e de irregularidades quando vista à luz da ciência linguística moderna, mas que ia acompanhando o evoluir da língua falada, em relativo paralelismo com o que sucedia com o castelhano.
Consultando as edições antigas das cantigas trovadorescas medievais, passando pelos autos de Gil Vicente e até à 1.ª edição de “Os Lusíadas”, ou seja, desde aproximadamente 1200 até 1572, praticamente não encontramos termos com ph, th, etc. Na 1.ª edição de “Os Lusíadas” é normal depararmos com grafias como «ninfas», «profeta», «cristalino», «fantasia», «Olimpo», etc., palavras que na posterior fase cultista passaram a escrever-se «nymphas», «propheta», «crystallino», «phantasia», «Olympo», etc. É certo que na epopeia de Camões também aparecem coisas como «triumphante» ou «hemispherio», mas não podemos esquecer que nos finais do século XVI já se esboçava a transição da norma tradicional portuguesa para a norma do cultismo de ascendência renascentista.
A fase cultista acentuou-se sobretudo a partir da revolução de 1640 e correlativo desvincular de Portugal da coroa espanhola. A moda da «orthographia etymológica» deveu-se, como disse, ao fascínio dos eruditos portugueses pelo Renascimento clássico e pelo Iluminismo, mas sobretudo por reacção xenofóbica anticastelhanista, para nos demarcarmos da grafia do antigo dominador, sendo essa uma outra maneira de afirmar a nossa independência e a nossa distância em relação a Espanha.
Com efeito, e apesar da tentativa da Real Academia Española, em 1741, para se utilizar o grupo “ph” em certas palavras de origem grega, essa ideia não foi por diante e os espanhóis mantiveram a simplificação tradicional: onde os portugueses, no séc. XVIII, escreviam «philosophia», os espanhóis continuaram a grafar «filosofía».
Em Portugal a grafia «cultista» manteve-se até à reforma ortográfica de 1911, que, com o pretexto da simplificação para obviar o gritante analfabetismo português, no fundo acabou por regressar, em termos modernos, à nossa real matriz de escrita. Os ajustes de 1931 e 1945 mais não fizeram do que «aperfeiçoar» (enfim, sem ironia e dentro do possível…) o espírito lusitanizante de 1911 — nunca devendo esquecer-nos que uma ortografia «idealmente perfeita» não existe, o máximo que se pode conseguir é um compromisso inteligente entre etimologia e fonética, coisa que, em minha humilde opinião, alcançou um relativo limite, «menos mau», com a convenção de 1945. Ir mais longe em termos de simplificação pró-foneticista é perigoso, veja-se o resultado catastrófico do abortivo AO90, que na salgalhada em que está a enredar-se acaba por ser tudo menos inteligente.
Finalmente a guerrilha da «evolução». Que a língua portuguesa evoluiu, no sentido biológico do termo, desde as suas origens até hoje, não surpreende, porque uma língua é um organismo vivo e vai passando por sucessivas mudanças naturais ao longo do tempo. É normal que a representação gráfica das progressivas alterações fonéticas não se processe com a mesma rapidez destas: a grafia, com o correr dos tempos, tende a ser uma espécie de “signe de reconnaissance”, e com o avançar da cultura, a sua permanência gráfica pode tornar-se um factor importante de identificação visual.
Por sua vez uma «mutação» é uma mudança brusca dos constituintes genéticos de um organismo, podendo dar origem a indivíduos bastante diferentes dos da espécie onde ocorre a mutação. Pedindo desculpa aos especialistas pela maneira simploriamente profana como falo deste complexo assunto, digamos que as mutações podem ser naturais ou induzidas, e ainda benéficas ou desfavoráveis. No caso das mutações desfavoráveis, os organismos resultantes, não sendo viáveis, geralmente acabam por se extinguir, por selecção natural.
O que se passa com o AO90 é que se trata de um «organismo» que não surgiu naturalmente, foi induzido artificialmente de uma maneira violenta e brutal, tendo gerado um «ser» abortivo — ou seja, trata-se de uma MUTAÇÃO desfavorável, não de uma EVOLUÇÃO natural, basta observar os erros, as incongruências, os descalabros e as desorientações provocados no Ensino e em diversas áreas culturais, e auscultar as queixas de professores e alunos sobre o calamitoso estrago causado pela imposição do AO90.
Ora, quando um organismo não é viável, como por exemplo um doente terminal em estado vegetativo, a ciência médica pode fazê-lo sobreviver por «tecnologia clínica», ligando-o a uma máquina que lhe prolonga a agonia artificialmente.
No caso da mutação desvantajosa do AO90, verificamos que o seu deplorável estado vegetativo somente se mantém porque foi ligado à máquina por «tecnologia política», e a sua falsa vida, prolongando-se, está a proporcionar uma agonia intolerável aos que lhe sofrem os efeitos.
Senhores políticos, acabem com o sofrimento do doente e dos próximos que já não aguentam suportar-lhe o fardo. É um destes casos extremos em que a eutanásia se justifica.
A autora deste Blogue não adopta o “Acordo Ortográfico de 1990”, por recusar ser cúmplice de uma fraude comprovada.
. «Português de Facto» - Facebook
Uma página onde podem encontrar sugestões de livros em Português correCto, permanentemente aCtualizada.
https://www.facebook.com/portuguesdefacto
.Contacto
isabelferreira@net.sapo.pt
. Comentários
1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome.
2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas".
3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.
Agradeço a todos os que difundem os meus artigos que indiquem a fonte e os links dos mesmos.
.ACORDO ZERO
ACORDO ZERO é uma iniciativa independente de incentivo à rejeição do Acordo Ortográfico de 1990, alojada no Facebook.
Eu aderi ao ACORDO ZERO.
Sugiro que também adiram.